sexta-feira, 3 de junho de 2005

Guiné 63/74 - P40: Sinchã Jobel IV, V e VI (Marques Lopes)

Três textos de A. Marques Lopes (mandou uma série de fotos da CART 1690, aquartelada em Geba, que ficarão disponíveis no nosso álbum):


1. Foi a operação que se fez a seguir àquela em que entraram dois grupos de comandos, e que ficou em águas de bacalhau... Esta foi feita com cassanhos, só, e deu o que vão ler.

A operação foi comandada do PCV (Posto de Controlo Volante) pelo Comandante do Agrupamento. O Agostinho Francisco da Câmara (e não Camará), morto na operação, era açoriano e do meu grupo de combate; o Armindo Correia Paulino, aqui referido, também era do meu grupo de combate, o Bigodes, como lhe chamávamos, um minhoto que foi, mais tarde, aprisionado pelo PAIGC em Cantacunda e que acabou por morrer no cativeiro, em Conakry.

Um esclarecimento: os nomes das operações nesta zona começavam todos por "I" ou por "J".

"17. Op Imparável. 15 de 16 de Outubro de 1967:

"Situação particular:

"O IN tem-se revelado no regulado de Mansomine não só durante as operações, como em ataques a tabancas e aquartelamentos. Possui um acampamento na região de Sinchã Jobel que lhe serve de base às suas acções.

"Missão:

-Golpe de mão ao acampamento de Sinchã Jobel seguido de uma batida na região.

"Força executante:

Dest A - C CAV 1748.

Dest B -CCAÇ.1685 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/C MIL 3.

Dest C -CART 1690 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/C MIL 3.

"Desenrolar da acção:

Em 15, às 4H30, o Dest C saiu auto-transportado de Geba, em direcção a Sare Madina, progredindo apeadamente em direcção a Sucuta que atingiu às 08H45. Instalou-se no orla junto à bolanha, tendo mantido essas posições até 16 de Outubro, às 10H30.
"Durante a noite de 15 para 16 fomos flagelados com 4 tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas. Cerca das 03H00 foi avistado um Helicóptero IN que sobrevoou o acampamento IN.

"Quando o Dest A iniciou a travessia da bolanha, a 16, às 9H00, o mesmo foi atacado por tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas, tendo o Dest B e C feito fogo de morteiro às minhas ordens, sobre o IN instalado na margem oposta. Este Dest não conseguiu atravessar a bolanha, o mesmo sucedendo ao Dest B embora, quando este último tentou a travessia, já tivesse apoio aéreo (ATAP). O PCV ordenou então ao Dest C para nomear uma secção e tentar a travessia da bolanha às 11H30. Esta secção atravessou a bolanha sob fogo IN e com apoio aéreo dos T-6 chegando ao outro lado da bolanha às 12H45.

"As 15H00 os Dest A e C tinham atravessado a bolanha e preparavam-se para progredir em direcção ao acampamento IN. Antes de iniciarem a progressão teve de se rebentar uma armadilha A/P, constituída por uma granada do LGF. Os dois Dest A e C atingiram a clareira de Sinchã Jobel pelas l6H40, onde se estabeleceu que o Dest C reforçado por um Gr Comb do Dest A iria fazer o ataque ao acampamento IN.

"Pelas 17H00, caiu-se numa emboscada montada pelo IN. Tentou-se anular a emboscada, que seria conseguido senão fosse a hora tardia, a incapacidade de duas armas pesadas (LGF e MORT 60) e algumas G-3 encravadas do Dest C. Outra razão talvez decisiva e que fez com que as NT não calassem a emboscada foi o facto de o Dest A não ter envolvido o IN devido ao fogo cerrado do morteiro 60 e 82 do IN.

"Além destas armas, o IN possuía armas automáticas individuais, 3 MP [metralhadoras pesadas] e alguns lança rocketes ou LGF (Não sei precisar). Uma das MP foi calada pelo nosso LGF [bazuca]. Vários contras para nos surgiram durante a emboscada: O nosso bazuqueiro (passe o termo) Soldado Agostinho Camará que estava a fazer um fogo certeiro, foi atingido mortalmente (note-se que este LGF era o único que estava a fazer fogo). Foi o Soldado enfermeiro Alípio Parreira que se encontrava próximo e que estava a fazer fogo com a ML metralhadora ligeira] MG-42 (para a qual o referido soldado se oferecera como voluntário) pegar no LGF e continuar a fazer fogo com ele. Nesta altura tive que pegar na MG-42 e fazer fogo com ela. Logo a seguir tive que me dirigir à rectaguarda a fim de falar com o PCV que me chamava.

"Quando regressei à frente verifiquei que o já referido soldado enfermeiro recomeçara a fazer fogo com a ML MG-42 e que passado mais alguns momentos ficou impossibilitado de fazer fogo devido a uma avaria, ao mesmo tempo que o soldado enfermeiro e o municiador eram feridos por estilhaços. Mesmo assim este soldado enfermeiro veio para a rectaguarda, onde agarrou no morteiro 60 e continuou a fazer fogo com o mesmo.

"Foi-me impossível continuar o ataque ao acampamento IN, em virtude de se terem esgotado as munições que levava, as armas pesadas não funcionarem, a noite já ter caído por completo e desconhecermos o terreno. Deve notar-se, contudo, que nesta altura já o IN dava sinais de fraqueza e, segundo alguns soldados nativos que se encontram juntamente comigo na frente, estarem a gritar que tinham que fugir.

"Para retirar, pedi auxilio ao Dest A que foi à frente, permitindo que o Dest C retirasse para fora da zona de morte, donde protegeu a retirada do Dest A. Já fora da zona de morte, verifiquei que não se tinham trazido os mortos, pelo que enviei novamente à zona de morte alguns soldados para os trazerem. Tal não foi possível, visto estarem armas automáticas do IN apontadas para o local onde se encontravam os corpos. Ainda foram abatidos a tiro de G-3 dois elementos IN, um destes pretendia agarrar o Soldado Armindo Correia Paulino, quando este estava a arrastar um dos nossos mortos para a rectaguarda e que se salvou devido ao aviso oportuno do soldado Saliu Baldé e que permitiu ao primeiro soldado citado abater esse elemento IN, ao mesmo tempo que o soldado citado abatia um segundo elemento IN, que se encontrava armado e estava a proteger o outro elemento IN abatido.

"Seguidamente efectuou-se a retirada (e friso mais uma vez que esta teve de ser feita devido ao Dest C ter esgotado as munições e as armas avariadas), tendo o IN vindo em nossa perseguição até à bolanha onde os últimos elementos a atravessá-la (o Dest C) foram alvejados por rajadas de armas automáticas.

"Após a travessia da bolanha verifiquei que o Dest B já não se encontrava em Sucuta. Os Dest A e C atingiram Sare Madina pelas 02H00 de 17 [de Outubro de 1967], onde aguardaram viaturas do Dest C que os transportaram para Geba, tendo uma viatura do Dest C seguido para Bafatá com os feridos mais graves.

"Resultados obtidos:

-Baixas sofridas pelo IN: - Mortos confirmados 8 e baixas prováveis numerosas.

-Foi destruída uma armadilha A/P e destruída ou danificada uma MP.

"Comentários:

"O plano de acção inicial não foi cumprido. Se tivesse sido, o acampamento IN teria sido destruído porque o Dest A conseguiu chegar a 50 metros do acampamento IN sem ser detectado.

"Nota:

"Em 27 de Agosto de 1967 foi recebida uma noticia C2 em que referia que o IN tinha sofrido 54 mortos e muitos feridos ainda não controlados.

"As NT tiveram tarefa bastante penosa no regresso devido a terem que transportar 12 feridos graves e 22 ligeiros por as evacuações não poderem ser feitas de Helicóptero durante a noite.»


2. Poder-se-ia pensar que, agora, com a 5ª Companhia de Comandos é que vai ser!... Mas não foi. Este é o relatório da CART 1690, o dos comandos não o conheço e não sei o que disse. Fizeram a batida e não viram nada, com as coordenadas tão bem definidas... o que me parece é que não era ali exactamente. Além de que o IN não terá visto vantagem em confrontar-se com os comandos, também admito. Mas veja-se como a 5ª Companhia de Comandos se põe a andar, deixando para trás dois grupos de combate de cassanhos... A operação foi comandada do PCV pelo Comandante do Agrupamento.


"18. Op Insistir. 27 de Outiubro de 1967

"Situação particular:

"Desde Abril de 1967 que o IN se tem revelado nos regulados de Mansomine e Joladu. Durante a Op Imparável foi finalmente localizado de forma segura o acampamento de Sinchã Jobel que se situa em: 1455 1210 E9-76 [são as coordenadas topográficas].

"Missão:

- Ataca e destrói o acampamento IN de Sinchã Jobel.

"Força executante:


Dest A - 5ª Companhia de Comandos

DEst B - CART l690 ( a2 Gr Comb) + 1 PEL MIL 109/C MIL 3

"Desenrolar da acção:

"Em D pelas 05H00 o Dest B saiu autotransportado de Geba em direcção a Sare Madina, progredindo depois até em direcção a Sucuta que atingiu às 08H15. Instalou-se na orla da bolanha não conseguindo qualquer comunicação através do rádio com Geba ou Baftá para informar a nossa posição. Cerca das 09H45 foi feito fogo de morteiro de amas ligeiras afim de atrair a atenção do IN naquela direcção.

"Após o bombardeamento da FA [Força Aérea] e por ordem do PCV, um grupo de combate iniciou a travessia da bolanha onde permaneceu até que o Dest A fez a batida ao objectivo regressando em direcção ao Dest B.

"Gorando-se o encontro do Dest A com o Dest B, por ordem do PCV o Dest B retirou da bolanha vindo juntar-se ao Dest A que já regressava a Sare Madina.

"Em Sare Madina, o Dest B seguiu em viaturas para Geba onde chegou cerca das l6H30.»


3. Esta nunca entendi. Como continuo a não entender qual foi o "sucesso” da Op Insistir. Foi comandada do PCV.

«19. Op Instar. 28 de Outubro de 1967.

"Situação particular: a do planeamento operacional da Op Insistir.

"Missão: explorar o sucesso da Op Insistir; bater a região de Sinchã Jobel

"Força executante:

Dest A - CCAÇ 1790
Dest B - CART. 1690 (a 2 Gr Comb ref. c/PEL MIL 109/C MIL 3

"Desenrolar da acção:

"Pelas 06H15 iniciou a progressão para Sucuta que atingiu cerca das 08H00. Após instalado o pessoal junto à bolanha, um Gr Comb por ordem do PCV cambou a bolanha instalando-se do outro lado, onde emboscado aguardou a chegada do Dest A. Na passagem da bolanha, após a junção dos 2 Dest. em Sucuta fez-se a progressão para Sare Madina onde o Dest B logo seguiu
de viaturas para Geba aonde chegou cerca das 16H00.»

Guiné 63/74 - P39: Sinchã Jobel II e III (Marques Lopes)

Mais dois textos de A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba), actualmente coronel (DFA) na situação de reforma:

1. Depois da minha "descoberta involuntária", mas sem surpresa para alguns, iniciaram-se algumas operações mais elaboradas com o objectivo da destruição da base de Sinchã Jobel.

Era, como vos disse, uma antiga tabanca, já destruída, sendo agora uma clareira de cerca de 2.000m2, cercada por uma mata densa, tendo a sul o Rio Gambiel, com água pelo peito e uma "ponte" submersa, isto é, dois troncos de palmeira debaixo de água, (quando fui para lá o meu guia indicou-ma, quando regressei, sem guia, tive de a descobrir); a Oeste e a Este tem várias bolanhas, uma delas mesmo perto da clareira (a tal onde durante a noite toda a minha vida me passou pelo pensamento); a Norte, até Banjara, tem uma floresta muito densa e dezenas de poilões (há lá, na Guiné-Bissau de agora, uma serração).

Nas margens do rio Gambiel e das bolanhas os guerrilheiros tinham sentinelas; pelo lado de Banjara, a floresta impenetrável tornava o acesso impossível. É claro que a base de guerrilha não estava na clareira de Sinchã Jobel (nem antes dela, pois não a encontrei quando ia para lá) mas em algum local deste contexto que vos descrevo, para Norte, muito bem situada e com óptimas condições de defesa.

Nesta fase, certamente ainda em início de implantação, é natural que os guerrilheiros só se manifestassem quando lhes parecesse conveniente (foi o que lhes pareceu quando viram trinta mecos a ir para lá...), por isso não se manifestaram nesta Operação Jigajoga 2. Além de que o seu principal objectivo era montar minas e emboscadas no itinerário Geba-Banjara e atacar os destacamentos. Mais tarde, quando fortalecidos e bem guarnecidos, creio que alargaram a sua acção até Mansabá e para o Xime e Xitole. Este enquadramento da base de Sinchã Jobel expliquei-o ao comandante do Agrupamento 1980, em Bafatá, mas, pelo que vão ver nos "próximos capítulos", não valeu de muito.


"15. OP Jigajoga 2. 31 de Agosto de 1967.

"Situação particular:

O IN tem-se revelado a sul de BBanjara, com mais intensidade nos regulados de Mansomine e Joladu. Em Sinchã Jobel possui uma base forte, que serve de apoio às suas acções.

"Missão:

-Assegura a ocupação do Sector, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

-Detecta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no sector, impedindo que a subversão alastre.

-Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afectadas.

-Armadilha os itinerários utilizados pelo IN.

"Força executante:

DEST A - CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); CCVA 1693 (1 Gr Comb); 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções); 1 PEL 109/CAÇ MIL 3

DEST B - CCS 1877 (1 Gr Comb) /CCS 1877 (1 Gr COmb); 1 PEL REC/EREC 1578.

"Desenrolar da acção:


"Em 31 de Agosto de 1967, pelas 4.30h., iniciou-se a progressão a partir de Darsalame. Durante a progressão foi batida toda a zona do itinerário, procurando vestígios e/ou trilhos que indicassem a existência do IN.

"Pelas 09H00 aproximação de Sare Tamba, os cuidados de pesquisa redobraram no sentido de localizar e assaltar o possível acampamento IN. Batida toda a mata durante 2 horas onde se supunha existir o referido acampamento, não foi possível localizá-lo nem o IN se revelou.

"No deslocamento para o objectivo pelas 11H00 foi ouvido um disparo de espingarda tipo Muaser ao longe, não sendo possível determinar a sua direcção. Continuada a batida foram encontrados restos de um camuflado IN não sendo possível, porém, encontrar mais nada. Pelas 11H50 foram ouvidos muito ao longe alguns rebentamentos fora da zona de acção.

"Por parecer mais fácil passou-se a bolanha junto a Sinchã Bolo e a seguir o Rio Jago na direcção de Sucuta (Madina Fali) onde se chegou pelas 15H00. Fez-se uma paragem para se conferir pessoal e material, porque as bolanhas foram de difícil travessia e foi a coluna atacada por um enxame de abelhas durante a transposição da primeira bolanha.

"Reiniciada a progressão em direcção a Sare Budi foi detectada pelas l6H00, em 1445 121.07H, 100 metros após a entrar na mata uma armadilha A/P a qual foi destruída pela Secção do PEL SAP/1877. Em Sare Budi no itinerário para Sare Madina foram montadas 2 armadilhas A/P cujo croqui será elaborado pelo Cmdt SAP/BCAÇ 1877.

"Continuando a progressão em direcção a Sinchã Fero Demori, não foi possível montar mais armadilhas em virtude do adiantamento da hora e não ser possível determinar o itinerário de acesso ao interior do sector desta CART.

"A chegada a Sare Banda verificou-se às 19H30, seguindo em meios auto até Geba, o que se registou às 20H30, tendo regressado às suas unidades o Gr Comb/CCAÇ 1685 e o 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções)".


2. Nesta altura, as cabeças pensantes do Agrupamento [sedeado em Bafatá] já teriam concluído, e tinham provavelmente informações, que a base se situava a seguir à clareira de Sinchã Jobel, para Norte. Daí a presença de dois grupos da 5ª Companhia de Comandos para o eventual golpe de mão ao acampamento. Só que a guerrilha já se tinha também prevenido com minas A/P (já vistas na Op Jigajoga 2) e A/C como mais uma limitação no acesso à base e, ao mesmo tempo, um factor de alerta. Um dos feridos com o rebentamento de mina nesta operação foi o meu amigo Eng. Domingos Maçarico, então alferes miliciano da CART 1690, que acabou por ser evacuado para o Hospital Militar Principal da Estrela, e anda agora com uma placa de platina na cabeça.


"15. OP Jacaré. 16 de Setembro de 1967

"Situação particular:

"O IN tem-se revelado em operações realizadas nos regulados de Mansomine. Possui um acampamento forte em Sinchã Jobel que serve de base para as suas acções.

"Missão:

- Assegura a ocupação do sector, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

- Detecta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no sector, impedindo que a subversão alastre.

- Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afectadas.

"Força executante:

DEST A - CCAV 1650 (-); CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); PEL MIL 111/C MIL 3

DEST. B - 01 PEL REC/EREC 1578.

DEST C - 2 Gr. COMANDOS.

DEST D - 1 Gr. Comb /CCS/BCAÇ 1877.

DEST E - 1 Secção / AML 1143.

DEST F - 1 Secção / AML 1143.

"Desenrolar da acção:

"Em 16 de Setembro de 1967, pelas 6H30, o Dest A menos o PEL MIL /C MIL 5 deslocou-se em meios auto em direcção a Cheüel. Após a saída de Geba uma viatura avariou, sendo o pessoal distribuído pelas outras viaturas que constituíam a coluna.

"Cerca das 08H00, uma mina anti-carro destruiu a terceira viatura da coluna a 100 metros de Chüel, projectando os ocupantes, dos quais 8 foram evacuados por Heli para o Hospital Militar 241, tendo os restantes ficado em condições de não prosseguir a operação, o mesmo acontecendo, com outros que ao saltar das viaturas se haviam magoado.

"Montada a segurança aos feridos e viaturas, procedeu-se a escolha e preparação do campo de aterragem para o Heli que imediatamente fora pedido pelo PCV [posto de controlo volante] que na altura nos sobrevoava. Posta a situação ao PCV, quanto a baixas, foi ordenado ao Dest A para regressar ao quartel depois de evacuar as viaturas, e onde chegou pelas 17H00.

"Devido à quebra do segredo foi ordenado pelo CMDT AGRUP 1980 o cancelamento da operação.»

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Guiné 63/74 - P38: Afinal, onde ficava Geba? (2) (Marques Lopes)

Texto de A. Marques Lopes, ex-alferes milciano da CART 1690 (Geba, 1967/1969), actualmente coronel (DAF) na situação de reforma:

Geba existe e está, de facto, quase completamente abandonada. Estive lá em 1998. Mas não deu para tirar fotografias (só uma ou duas). Mas ainda tem habitantes, embora poucos.

As instalações militares do tempo da guerra colonial, essas, estão em completa derrocada. Situam-se no morro existente a um quilómetro do lado direito (de quem está virado para o rio Geba) da povoação. Tinham acabado de ser construídas quando a CART 1690 lá chegou, em Abril de 1967. Mas o comando da companhia situava-se mesmo na povoação.

Na Bíblia, Geba era uma cidade da antiga Palestina, situada a 8 km de Jerusalém, local onde Jonatan derrotou os filisteus. Ainda hoje existe esse local e está na zona da Autoridade Palestiniana. Será que o nome vem daí? Não me admira, dado que, quando os portugueses chegaram à Guiné no séc. XVI, já essa terra estava islamisada. Geba, juntamente com Cacheu e Ziguinchor, foi o berço do crioulo falado na Guiné. Procurem neste link http://www.unb.br/ics/dan/Serie154empdf.pdf o que foi Geba nos séculos passados.

A jornalista Diana Andringa esteve há anos em Geba e fez um filme que me ofereceu. Emprestei-o a um ex-camarada de armas e ainda estou à espera da devolução... Mas vou insistir com ele e pode ser que consiga tirar desse filme algumas imagens relativamente recentes sobre Geba.

Abraços.
A. Marques Lopes

terça-feira, 31 de maio de 2005

Guiné 63/74 - P37: Afinal, onde ficava Geba? (1) (Marques Lopes)

1. Segundo uma oportuna mensagem enviada por Fernando Rodrigues Junqueiro, Geba ficava a oeste de Bafatá, a 12 km de distância. Em Abril de 1997, quando o nosso amigo Fred por lá passou, Geba, o antigo entreposto comercial português, era um monte de ruínas.

E as instalações militares ? Será que estamos a falar da mesma Geba, a tal povoação que supostamente não vem nos mapas e que era a sede da CART 1690, a companhia do Alferes Lopes e de outros camaradas que conheceram o inferno de Cantacunda, Banjara, Sare Gana, Sare Banda, Sinchã Jobel e outros sítios de má memória do subsector de Geba (que no meu tempo pertencia ao Sector L2 / Zona Leste, e que incluía Contuboel, um paraíso, pelo menos no tempo que lá estive: Junho/Julho de 1969)?

Viagem à Guiné-Bissau > Abril de 1977 > Bafatá & Interior:


"Bafatá é a segunda maior cidade da Guiné-Bissau com 10.000 habitantes. Fica no interior do país na margem do Rio Geba, 150 kms a leste de Bissau. Bafatá é uma cidade surpreendentemente tranquila, caracterizada por uma predominância de edifícios e casas coloniais, infelizmente num estado avançado de degradação. O herói nacional, Amílcar Cabral, nasceu em Bafatá e esse facto está assinalado num pequeno monumento com o seu busto e na casa onde nasceu, perto do Mercado Central. A cidade fica numa colina sobre o Rio Geba. 12 kms a oeste ficam as ruínas de Geba, um antigo entreposto português".

2. Como se pode ver pelo mapa da Guiné Portugesa, carta de Bambadinca (Escala 1/50.000), dos Serviços Cartográficos do Exército (1955),a povoaço e entreposto comercial de Geba fica a norte do Rio Geba (ou Geba Estreito), antes de Bafatá.

Agradeço ao meu amigo e ex-camarada de armas Humberto Reis a gentileza da oferta de fotocópias de diversas cartas da Zona Leste da antiga Guiné Portuguesa (Xime, Xitole, Contabane, Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Duas Fontes), além da Carta da Província (1961). Foram estas famosas cartas, para além dos guias locais, que nos ajudaram a encontrar o caminho... de regresso a casa!

Fica aqui também a minha modesta homenagem a portugueses ilustres como Avelino Teixeira da Mota (1920-1982) que dedicou uma parte da sua vida à etnografia e à cartografia da Guiné.

Em mapas actuais da Guiné-Bissau, como o que consta por exemplo no sítio da OMS, Geba figura ainda, claramente, como localidade, devido em parte à sua importância histórica, cultural e económica, no passado.