Mostrar mensagens com a etiqueta Manuel Joaquim dos Prazeres. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Manuel Joaquim dos Prazeres. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14238: Fotos à procura de... uma legenda (51): Manuel Joaquim dos Prazeres, empresário de cinema e caçador, Cabo Verde (1929/1943) e depois Guiné (1943/73)... Fotos da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde, com amigos (Lucinda Aranha)





Fotos nº 1 e 1A



Fotos nº 2 e 2A



Fotos nº 3 e 3A




Fotos nº 4 e 4A

Cabo Verde > Ilha de Santiago > Praia > c. 1929/43 > O empresário Manuel Joaquim dos Prazeres com amigos.


Fotos: © Lucinda Aranha (2015). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Lucinda Aranha (filha do Manuel Joaquim, empresário  e caçador em Cabo Verde (1929/1943) e Guiné (1943/1973), o homem do cinema ambulante; ela está a escrever um livro sobre o pai) (*)


Data: 19 de janeiro de 2015 às 18:47
Assunto: Fotografias da Praia

Caro Carlos,

Este mail dirige-se ao tabanqueiro Luís Graça e não a si mas como já lhe referi, por diversas vezes, sou muito incompetente nestas andanças de Net. Por isso agradeço lhe faça chegar o meu pedido.

Caro Luís.

Li hoje uma sua mensagem em que refere ter estado o seu pai no Mindelo e ter o Luís um particular apreço por Cabo Verde onde tem amigos. Acontece que o livro que eu ando a escrever,conforme já referi no blogue,está praticamente concluído. Só que estou presa por umas fotografias que gostava de inserir no livro mas tenho tido muitas dificuldades em conseguir identificar a maior parte das pessoas.


Sei que foram tiradas entre 1930/40 na cidade da Praia e consigo identificar o meu pai [. foto direita], o mestre Vicente e, penso, o chefe da polícia, o Ramos Pereira. 

O Branco Vicente, mais velho, que vive na Praia,  não os consegue identificar, mandei as fotografias por mail para o Cacá, filho do dr Carlos Almeida, e que vive nos Açores mas em vão.

Tenho esperança que a Lurdinhas, uma filha do sócio do meu pai, consiga identificar os retratados. Só que apesar de ela viver em Lisboa é difícil, por razões diversas que não se prendem com má vontade, conseguir um encontro com ela nos tempos mais próximos. Assim, tomo a liberdade de lhe enviar as fotografias. Pode ser que o milagre aconteça.

Desde já muito obrigada,

Lucinda Aranha



Guiné > s/l > s/d > Manuel Joaquim dos Prazeres, empresário de cinema e caçador, que conhecia a Guiné como poucos

Foto: © Lucinda Aranha (2014). Todos os direitos reservados.


2. Resposta do editor LG:

Lucinda:

Olá. boa, noite. Sim, o meu pai [, Luís Henriques, 1920-2014,]  esteve 26 meses em Cabo Verde, mais exatamente em São Vicente, Mindelo, entre junho de 1941 e setembro de 1943. Era então 1º cabo, e pertencia a uma força expedicionária (c. de 5 mil homens) que guardava aquele ponto estratégico, no Atlântico, por onde passavam os cabos submarimos e os navios que demandavam o hemisfério sul...

Infelizmente, não a posso ajudar, a não ser através das memórias que o meu pai me deixou, dessa época... Ele já não está entre nós. É boa a sua sugestão de se publicar as fotos (, que foram tiradas na Praia e não no Mindelo) e pedir ajuda para as legendar aos nossos camaradas, amigos e leitores de Cabo Verde. Por aí é possível obtermos alguma pista (*).

Há dias fiz uma referência ao seu pai. Ou melhor, o seu pai é referido no filme Bafatá Filme Clube, de Silas Tiny, produção da Real Ficção... O seu pai ia a Bafatá, dava cinema na casa ou no páteo de um comerciante local... Portanto, competia com o Sporting Club de Bafatá que tinha uma sala de cinema... Devem ter corrido com ele... No Sporting estava a elite local... Tem que ver o filme, passou na RTP2, está disponível em DVD (**)...

________________

Notas do editor:

(*) Último poset da série > 30 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14097: Fotos à procura de ... uma legenda (50): Fotos de António Fernandes Abreu, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71 (José Manuel Matos Dinis)

(**) Vd. poste de 5 de janeiro de  2015 >  Guiné 63/74 - P14120: Manuscrito(s) (Luís Graça) (43): Notas à margem do documentário de Silas Tiny, "Bafatá Filme Clube", com direção de fotografia da Marta Pessoa (Portugal e Guiné-Bissau, 2012, 78')

(...) (iii) A talhe de foice, também há uma referência à passagem, por Bafatá, do Manuel Joaquim dos Prazeres, o conhecido empresário de cinema ambulante, pai da nossa leitora e escritora Lucinda Aranha. Chegou a fazer sessões de cinema na casa do comerciantes António Marques da Silva. (..:) 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13307: Notas de leitura (602): "Onde se fala de Bissau", do princípio dos anos 50, da UDIB... Um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde (1929/1943) e Guiné (1943/1973), com data de 20 de Maio de 2014:

Caros amigos:
Envio-lhes para publicação, caso estejam interessados, um texto composto a partir de um excerto do meu próximo livro.

Os meus cumprimentos,
Lucinda


Onde se fala de Bissau

Ao avistar Bissau, vindo de Bolama, já no estuário de águas lodosas do Geba, Manuel Joaquim, o homem do cinema, pensava em como fizera bem em optar pelo mato ao invés de se ficar por Bissau onde a vida era mais cosmopolita mas onde por isso mesmo a concorrência era maior a começar pela UDIB, ponto de encontro da elite de Bissau, que era preciso ter estatuto social para lá entrar. Tudo o que era político, músico, comerciante de nota, futebolista, senhora respeitável desfilava pelo clube.

Sucediam-se os torneios desportivos, os bailes, os filmes ao fim de semana, até os chás dançantes como o que a mulher do governador organizara, em 52, com fins beneficentes. Apesar dos 25 pesos da entrada fora muito concorrido e animado com verbenas e sorteios no terraço.

É certo que tinha boas relações com o clube e até colaborara, no primeiro de Janeiro de 46, na sessão cinematográfica que a UDIB realizara. Enfim, como o não havia de fazer se se tratava das comemorações dos quinhentos anos da Guiné as quais tinham culminado, no final do ano, na Exposição de Bissau que condensara em 20 salas toda a vida e a história da Guiné? A finalizar essa sessão solene de abertura houvera, ainda retinha com nitidez na memória, desfile das forças militares, corporações, colectividades e numerosos indígenas, com uma marcha luminosa bem pitoresca e surpreendente a que se sucedera um grande batuque no Cupilon.

Guiné-Bissau > Bissau > UDIB  (...Com a devida vénia a Bissau Architecture )


Guiné-Bissau > Bissau > s/d > O emblemático edifício da sede da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau onde jogou à bola o pai do Nelson Herbert, Armando Duarte Lopes, de origem cabo-verdiana, nascido em 1920, e que fez parte da seleção de futebol da Guiné Portuguesa.  Imagem: Cortesia de Nelson Herbert (2009)., jornalista da VOA - Voz da América.

Foto: ©  Nelson Herbert  / Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné (2009). Todos os direitos reservados.


Guiné > Bissau > UDIB  > c. 1962/64,  foto  do nosso camarada açoriano Durval Faria (ex-fur mil da CCAÇ 274, Fulacunda,  jan 1962/ jan 64)

Foto: © Durval Faria / Blogue Luís Graça > Camaradas da Guiné (2011). Todos os direitos reservados.

Lembrava-se dos concertos do 1º e 3º domingos de cada mês que no coreto dos Combatentes da Grande Guerra a Banda da Câmara Municipal animava, nos anos 50, com música.

Recordava os Salões de Arte que as senhoras organizavam, as exposições de bordados e trabalhos manuais das educandas de Bór, as palestras com sessões de poesia e morna e as conferências que os cabo-verdianos e a Casa dos Estudantes do Império dinamizavam.

Muitas eram festas de beneficência que se sucediam ao longo do ano, ora auxiliando o Asilo-Escola de Bór ora os velhos e inválidos da colónia. Mas a beneficência não se ficava por aí que também organizavam rifas a favor da Liga Portuguesa contra o Cancro com prémios chorudos, um carro, uma motocicleta como a que saíra ao irmão de um seu rapaz, o Calabouça que ganhou o 2º prémio em 53.

Voltava atrás, ao ano anterior, e sorria. A loucura que fora o torneio de futebol da África Ocidental. Até o Conselho de Desporto aprovara o fretamento de um avião da Air France para a deslocação a Dacar dos apoiantes da Selecção de Bissau. Só que os 1.100$00 do bilhete inviabilizaram o projecto.


A raiva enfurecia-o quando recordava a barbárie que chegara a Bissau: a festa brava. Tardara mais dez anos a chegar que na Praia mas não havia como fugir-lhe. Em 43, ano da sua ida para Bolama ainda tivera tempo de assistir ao seu triunfo na Praia e agora lá tinha na cidade capital ao mesmo triste espectáculo. Onde estava a festa, perguntava-se. Matar animais com tortura e por simples diversão alguma vez pode ser festa? Pensar que se construiu uma praça, se mandaram vir bandarilheiros e mesmo touros bravos da metrópole e se foram buscar animais bravios às manadas bravas dos Bijagós fazia-lhe crescer instintos justiceiros e simultaneamente assassinos.

Lucinda
____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13120: Notas de leitura (588): "Julinha", um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13234: Fotos à procura... de uma legenda (28): Será que algum me saberá dizer de que cerimónias/festas se tratam? Qual a etnia e região? Será que algum dos militares retratados faz parte da Tabanca Grande? (Lucinda Aranha)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde (1929/1943) e Guiné (1943/1973), com data de 22 de Abril de 2014:

Caro Carlos:

1. Gostei muito dos mails que me mandou sobre as memórias de uma adolescente e sobre o Kumba Ialá.

Na minha investigação, tenho testemunhos sobre o Kumba Ialá ter sido ajudante do meu pai. Segundo me disseram, admirava-o tanto que queria ser chamado por Manuel Joaquim;

2. Envio-lhe várias fotografias acompanhadas do seguinte texto:

Camaradas tabanqueiros:

Será que algum me saberá dizer de que cerimónias/festas se tratam? Qual a etnia e região? Será que algum dos militares retratados faz parte da Tabanca Grande?

Se for o caso ou se eventualmente alguém os reconhecer, será que me saberá dizer quando e em que circunstâncias a fotografia foi tirada? Será que me podem confirmar se a fotografia que mostra a carrinha terá sido tirada no Senegal, em Ginigishor?

3. Caro Valdemar Silva:

Se eventualmente quiser usar, no meu novo livro, a sua fotografia com o cartaz do filme Rififi põe algum obstáculo?

Cumprimentos,

Lucinda Aranha

Foto nº.1

Foto n.º 2

Foto n.º 3

Foto n.º 4

Foto n.º 5

Foto n.º 6

 Foto n.º 7
____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13134: Fotos à procura... de uma legenda (27): Alguns de nós, poucos, passaram por lá... Foi centro de instrução militar...

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13120: Notas de leitura (588): "Julinha", um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Lucinda Aranha, com data de 22 de Abril de 2014:

Caros «camaradas»,
Agradeço a simpatia com que me receberam. Creio, no entanto, que têm uma espectativa demasiado alta da minha hipotética contribuição.
O meu pai teve 7 filhos, todos eles nascidos na Praia, excepto a sexta nascida em Bolama e eu que vim a nascer em Portugal. Viveu na Praia entre 1929 e 43 e desde essa data até 1972 na Guiné portuguesa, vindo à metrópole para junto da família, que residia em Portugal desde 1946, na época das chuvas.
Assim, nem eu nem os meus irmãos estudámos em África.

Como o Carlos calculou, fui professora, leccionando História no ensino secundário.
As estórias sobre África que conto no Reino das Orelhas não foram vivenciadas por mim mas são recordações dos meus pais, da minha ama Sampadjuda e dos amigos cabo-verdianos e guineenses que enxameavam a nossa casa de Lisboa.
O meu pai praticava uma política de casa aberta aos amigos. Por lá passavam administradores, chefes de posto, comerciantes e as suas famílias, alguns deles chegaram mesmo a ser residentes temporários. 

Envio-lhes um excerto do livro que estou a escrever sobre Manuel Joaquim onde a sua mulher discreteia sobre essas «invasões» e que, penso, lhes permitirá perceberem melhor as minhas relações com a Guiné.

O Carlos pediu-me fotografias. Já lhe enviei 4 no anexo do mail Apelo.
Agradecia, pela importância de que se revestem para mim, que as publicasse.

Os meus agradecimentos,
Lucinda Aranha

************

Manuel Joaquim dos Prazeres, empresário e caçador, que conhecia a Guiné como poucos

Foto: © Lucinda Aranha (2014). Todos os direitos reservados.


"JULINHA"

A Guiné era outra loiça. A sua casa estava sempre cheia, de estadia ou simples visita, dessa gente mas a maior parte dela não lhe deixava saudades. Uns atrevidos, abusadores que chegavam a telefonar-lhe, perguntando: É da Pensão da avenida de Roma? Havia excepções. A Chica, da idade da sua mais nova, que durante anos foi ficando lá por casa, criada como filha, vinda para se tratar de uma poliomielite e que parecia ter bicho carapinteiro não parando descansada, acrescentando à doença uma perna partida que teve artes de se atirar de uma varanda. Uma preocupação com os pais ausentes na Guiné e ela a entrar e a sair a toda a hora do Hospital do Ultramar. A Maria Domingas e os pequenos, a Maria Garcia com a Luisita costumavam passar pequenas temporadas em sua casa. Todos amigos ligados ao funcionalismo da Guiné. O compadre Esteves que adorava a cachupa e o pudim de pão da Maria, de estalo, trazendo a reboque a Constança, o Fialho, procurador dos dois compadres, o filho com a mulher dada à poesia e muito da intimidade da Tina e as filhas, todas impecáveis, e os respectivos maridos eram visitas muito do seu agrado.

Não lhe falassem daqueles dois horríveis casais, os Pascoais e o Urso Pardo e a Bela Adormecida, alcunhas dadas pelas filhas. Os dois últimos de arcaboiços de mais de cem quilos, ela com uma cabeleira negra de azeviche e escorrida, a bater-lhe pelas ancas e que cofiava languidamente, uma Ursulina do Brejo como também diziam as miúdas, lidas no Pato Donald e no Mickey. Gente detestável e mal formada que o Nequinhas lhe enfiava pela casa dentro com o argumento de que lhes devia retribuição da hospitalidade recebida em terras africanas, tudo imaginações que todos sabiam que recusava dormir debaixo de tecto na Guiné, salvo quando em Bissau e aí só aceitava o abrigo do compadre. As visitas da Maria Virgínia e família faziam as delícias das filhas com as suas estórias picarescas. Era casada com um administrador, por sinal bastante mulherengo. Ela morria de ciúmes do marido. Na Guiné houvera aquela escandaleira de se vestir de homem para espiar os passos do marido. Toda a Bissau, maldosamente, a murmurar nos seus preparos. Cá para mim, pensava muitas vezes, nada como o calor para empolar os pequenos percalços de cada um. Agiganta tudo a uma escala que Deus me livre. As filhas adoravam ouvi-la, desbocada, xingando o marido que não se lhe dava nada de arriar a jiga onde quer que estivesse. Então não fora que em sua casa, onde tinham sido convidados para almoçar, a Maria Virgínia, desvairada de ciúmes, mal levantada da mesa, larga os amigos, o marido, os filhos, desconchava e desanda porta fora, atirando em resposta ao atónito marido que queria saber o motivo da saída intempestiva: Vou à baixa levar na caixa! Se havia boa mulher estava ali, mas os malditos ciúmes faziam-lhe perder a tramontana, esquecendo-se das conveniências. A pena que tinha de a ver em semelhantes destemperos. Virgínia, deixe-se dessas cenas que não a levam a lado nenhum. Só se arrelia inutilmente. Pense nos seus filhos. Olhe o exemplo que dá às crianças com estes destrambelhamentos e discussões constantes, e acrescentava penalizada, desculpe-me a sinceridade com que lhe falo. Bem lho dizia mas qual o quê que se havia mulher teimosa estava ali.

E a Pãozinho? Uma viúva de um funcionário ultramarino de Angola cuja filha, mulher apoderada, era casada com um funcionário da Casa Esteves, um lingrinhas que se escondia, à cautela, por detrás da mulher quando as coisas lhe pareciam negras. A Pãozinho assim chamada porque muito se temia de que o pãozinho que o marido lhe deixara, a sua pensão de viuvez lhe fosse roubada pelos terroristas, não percebendo ou não querendo perceber, na sua sanha antiterrorista que dependia do estado português. Mal sabia ela que tempos haviam de chegar em que os pensionistas e reformados portugueses seriam vistos pelo governo do seu país como uma excrescência, um cancro que convinha extirpar, fazendo-os morrer o mais rápido possível, e enquanto o genocídio não ocorria, convinha espoliá-los de parte substancial dos descontos obrigatórios de toda uma vida de trabalho em nome da austeridade. As suas estórias encantavam as miúdas, enfim não tanto miúdas, que algumas já andavam na faculdade. Todas se maravilhavam com a estória da mezinha feita por curandeiros angolanos, no maior secretismo, com o pó das unhas de crocodilo que a tornou resistente a um cancro, o que admirou os médicos do IPO, que espantados com a sua de todo inexpectável resistência, lhe pediam para revelar o segredo mas ela, temerosa e obstinada, nunca lhes explicou a alquimia. A Antónia, dada a elucubrações, perguntava-se então e tem-no feito pela vida fora, se não estaria ali a cura para uma doença tão mortífera com foros de uma peste da modernidade.

Calhava passar lá por casa um outro casal, dos conhecimentos anteriores aos tempos de África, cuja presença a Julinha detestava porque era sinónimo de arrelias. O Luís, magriço, empertigado com o rosto emoldurado por uma piaçaba branca no alto do toutiço e a Aida, envaidecida pela sua origem anglófona, uma cara de cavalo direita com se tivesse engolido um varapau. Chegavam e era vê-los, sem qualquer rebuço como se estivessem em casa própria, meterem-se em tudo, arrebanhando o Nequinhas para o escrutínio das despensas. E aí começava o sarilho. Ó Manuel, dizia o famigerado avarento, você é muito desprevenido. Não verifica os mantimentos? A mulher, feita sacristã, ajudava à missa: A Julinha dá muita liberdade à Maria. Tome cautela que ela deve encher a família de queijos, presuntos, paios, chouriços que aquilo é terra de fome, o Manuel bem sabe. O Manuel pouco se importava mas ia dizendo: Sim, sim, a Julinha sabe bem o que tem em casa. Só dislates, pensava a Julinha, gente pobre mas honrada, honesta, cheia de morabeza e a sua Maria uma empregada como não havia outra, de inteira confiança, mesmo um membro da família que tudo sacrificara por eles. Só que a Maria enchia-se, e com toda a razão, de brios. Els comê, els bébi e mí qui ê ladron, repetia furibunda. Bem tinha de a mandar calar mas custava-lhe que a razão estava do lado dela. Uma vida que a enfermidade do marido fizera terminar. Afinal eram poucos os amigos, o Esteves e família, os Vicentes, o Raul, o Zeca que os outros, os que a vida não fora afastando ou não matara entretanto, todos debandaram.

Lucinda Aranha
____________

Nota do editor

Vd. postes de:

15 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12991: Tabanca Grande (433): Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim dos Prazeres que viveu em Cabo Verde e na Guiné entre os anos 30 e 1972, e que era empresário de cinema ambulante
e
23 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13022: Em busca de... (241): Fotos e histórias do cinema ao ar livre e do empresário Manuel Joaquim dos Prazeres, que deambulou pelo território entre 1943 e 1972 (Lucinda Aranha, filha e escritora)

Último poste da série de 9 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13119: Notas de leitura (587): "Um Sorriso para a Democracia na Guiné-Bissau", por Onofre dos Santos (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13022: Em busca de... (241): Fotos e histórias do cinema ao ar livre e do empresário Manuel Joaquim dos Prazeres, que deambulou pelo território entre 1943 e 1972 (Lucinda Aranha, filha e escritora)

Foto n.º 2

Foto n.º 3

Foto n.º 4

Fotos: © Lucinda Aranha (2014). Todos os direitos reservados.

1. Mensagens de 2 e 8 do corrente, de Lucinda Aranha, membro mais recente da nossa Tabanca Grande,  nº 654 (*):

(i) Em tempos, encontrei no vosso site umas crónicas escritas pelo Carlos Geraldes, uma das quais se intitula O Dia de S. Cinema.
Entrei então em contacto com o Diamantino Pereira Monteiro que pôs o meu cunhado José Filipe Soares, que fez o serviço militar na Guiné, em contacto com o Geraldes. O caso é que sou filha do Manuel Joaquim, o personagem dessa crónica que tinha um cinema ambulante com o qual percorreu toda a Guiné entre 1943/70.
Era minha intenção escrever uma biografia do meu pai, projecto que então abandonei porque tinha entre mãos um outro livro que entretanto foi editado pela Colibri. Finalmente, a biografia do meu pai está praticamente acabada, mas não consigo resposta do Carlos Geraldes e também não o encontro como vosso seguidor. Faço-lhe, no entanto, referência no livro assim como ao vosso site. Espero não haver problema.
Também gostaria de poder contar com o vosso apoio, quaisquer informações, divulgação.

Muito obrigada,
Lucinda Aranha Antunes

(2) Caro Carlos Vinhal
Junto envio o texto de apelo que gostaria de ver publicado no blogue.
Em anexo seguem as fotografias de meu pai que podem ajudar à sua identificação. (**)
Atenciosamente
Lucinda


"Caros amigos,
Estou a escrever uma biografia ficcionada sobre Manuel Joaquim dos Prazeres, meu pai, que andou, entre 1943/72, pela Guiné com um cinema ambulante, dedicando-se também à caça grossa e dando apoio aos administradores e chefes de posto quando havia problemas com os geradores. Por isso, agradeço todas as informações que eventualmente tenham sobre ele, assim como fotografias, particularmente alguma relacionada com o cinema ao ar livre. "

Lucinda
_____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de abril de 2014 >Guiné 63/74 - P12991: Tabanca Grande (433): Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim dos Prazeres que viveu em Cabo Verde e na Guiné entre os anos 30 e 1972, e que era empresário de cinema ambulante

(...) um cinema ambulante com o qual correu desde os anos 40 aos anos 70 do século passado a Guiné e, quando a guerra colonial começou, entreteve civis, militares e guerrilheiros, oficialmente terroristas para o Estado português, convivendo com todos eles, admirando por igual Salazar e Amílcar Cabral com quem chegou a privar e de quem a Julinha se orgulhava de dizer que conhecera ainda rapazinho de calções. 

O próprio Zezinho Araújo, ministro de Luís Cabral e um dos assinantes do Acordo de Argel, foi durante os seus tempos de estudante em Lisboa visita assídua, com a irmã Noémia, de nossa casa. Até uma vez por lá apareceu o Agostinho Neto, quem sabe se levado pelo Manelito, angolano embarcadiço casado com a Maninha, afilhada de casamento do Nequinhas e da Juju, que apadrinharam também o casamento da Cecília e do Fidelis, célebre por ter vivido nos EUA, onde quase dera o nó com uma americana. Só a Nené escapou a esta onda de enlaces que es cusa di relaxo não era com ela, como dizia numa misturangada de português e crioulo da Praia, exemplo acabado de aculturação.

Nestas suas andanças lá ia com a sua velha Ford, gerador, projector, ecrã, filmes os mais inócuos possíveis (capa e espada, cowboys, musicais, comédias, dramas), os seus ajudantes nativos, os seus acompanhantes de quatro patas, os amigos cães que alimentava, afagava, acudia na doença, com quem convivia tu cá tu lá, que era médico e veterinário autodidacta. 

Veja bem, insistia o Nequinhas, que esses amigos são compadres, grandes comerciantes, sírios e libaneses, chefes de posto, administradores, governador, até um deputado e que seria do meu cinema – o cinco pesos e leva cadeira – sem o apoio deles? Era a pergunta com que sempre punha fim ao arrazoado da sua Julinha, farta de aturar gente que só dava trabalho. Já agora não se esqueça daqueles régulos que trouxe cá a casa, em 63, aquando da comemoração do dia da raça, acrescentava minuciosa, lembrando os “homens grandes” que arrebanhavam à força o grosso dos espectadores, que pateavam e ululavam quando o Nequinhas censurava os beijos dos actores tapando-os com a mão. (...)

(**) Último poste da série > 8 de abril de 2014 >Guiné 63/74 - P12949: Em busca de... (240): À procura dos Artilheiros de 1969 em Gadamael (Manuel Vaz)

terça-feira, 15 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12991: Tabanca Grande (433): Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim dos Prazeres que viveu em Cabo Verde e na Guiné entre os anos 30 e 1972, e que era empresário de cinema ambulante

1. Vamos receber hoje na Tabanca Grande a nossa nova amiga tertuliana Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim dos Prazeres que viveu na Guiné e em Cabo Verde desde os anos 30 até 1972 e se dedicava à projecção de cinema ambulante, assim como à caça grossa. Como era conhecido por toda a Guiné, ajudava a resolver muitos dos problemas com que se deparavam os Administradores e Chefes de Posto locais.

Lucinda Aranha publicou um livro com o título No Reino das Orelhas de Burro*, recheado de histórias e memórias dos tempos em que o seu pai viveu naqueles ex-territórios portugueses. 

É com um trecho desse livro que se vai apresentar à tertúlia.


2. A mensagem que se segue é sequência de uma troca de correspondência a propósito de um pedido que a nossa nova amiga fez ao Blogue para tentar encontrar alguém que se lembre de seu pai na Guiné.

Por que Lucinda Aranha está ligada àquele território tão nosso conhecido, fiz-lhe o convite para se juntar à nossa tertúlia, ao que anuiu.

Caro Carlos Vinhal,

Escolhi para me registar um capítulo de "No Reino das Orelhas de Burro", da minha autoria, que conta estórias do tempo dos meus pais em Cabo Verde e na Guiné.

Seguem em anexo os 2 ficheiros, a foto e o texto.

Envio num próximo mail, as fotos de meu pai e o texto em que solicito a quem o possa ter conhecido eventuais informações e imagens.

Cumprimentos
Lucinda Aranha


No que diz propriamente respeito à Animalia, vulgo seres irracionais, confesso que o meu interesse por eles só despertou pelos meus vinte e picos. E isto apesar dos constantes bate bocas (quando o meu pai vinha da Guiné durante a época das chuvas, de férias para Lisboa) entre os meus pais, o Nequinhas e a Julinha petit-noms com que se mimoseavam mutuamente, para grande gozo nosso – os numerosos filhos, numa escala de sete, três de um primeiro casamento falhado do Nequinhas, mas que a Julinha criava como se suas crias fossem, que foram gradualmente desaparecendo à medida que se iam casando, ficando o grosso reduzido a quatro donzelas. 

Pruridos dos anos 50/60 levavam o pai, moralista ferrenho e seguidor dos preceitos de António Ferro, a acautelar constantemente a sua Julinha para os malefícios da literatura, cinema, teatro, bailes, enfim de todos os lazeres e, de uma forma mais abrangente, de toda a cultura na corrupção dos princípios Deus, Pátria, Família, pondo sempre a sua amada e muito recatada Julinha num estado de grande ansiedade com a expectativa das terríveis desgraças que poderiam ocorrer, na ausência do seu mais que tudo, tipo histórias da machadinha – não aconteceu, mas pode vir a acontecer.

Numa coisa, no entanto, eles não estavam de acordo e isso metia sempre imbróglios ligados ao bestial. Entenda-se, nada que tivesse a ver com o bué de bom actual, mas sim com os ditos irracionais. O Nequinhas, desde que se conhecia como adulto responsável, sempre apreciara cães e gatos, enquanto a Julinha os via como empecilhos que só traziam trabalhos, aborrecimentos, perda de tempo livre, prisão. Não me venha com coisas que para trabalhos já bastam esses seus amigos vindos das Guinés que, a toda a hora, entram, saem, comem, dormem, fazem da nossa casa pensão, dizia. As suas diatribes deixavam sempre de fora os compadres Branco Vicente com os quais tinham compadrio mútuo, tendo a Juju júnior e o Manuel, rebentos dos respectivos casais, nascido na Praia, Cabo Verde (como gostava de acrescentar) com o intervalo de um dia, e o compadre Esteves, transmontano que vira a sua vida medrar em Bissau e apadrinhara os casamentos de três das donzelas que ela pastoreava e das quais era pegureira zelosa não fossem uma raposa matreira ou um lobo faminto atreverem-se a assaltar-lhe o redil. Para eles e suas respectivas proles guardava um canto à parte nos seus afectos. Entenda, Julinha, retorquia-lhe, nesses momentos o marido, eles são importantes para o meu ganha-pão; não se esqueça que corro toda a Guiné levando a civilização a brancos e indígenas.

É preciso dizer que numa contradição, em que aliás ele era fértil, tinha um cinema ambulante com o qual correu desde os anos 40 aos anos 70 do século passado a Guiné e, quando a guerra colonial começou, entreteve civis, militares e guerrilheiros, oficialmente terroristas para o Estado português, convivendo com todos eles, admirando por igual Salazar e Amílcar Cabral com quem chegou a privar e de quem a Julinha se orgulhava de dizer que conhecera ainda rapazinho de calções. 

O próprio Zezinho Araújo, ministro de Luís Cabral e um dos assinantes do Acordo de Argel, foi durante os seus tempos de estudante em Lisboa visita assídua, com a irmã Noémia, de nossa casa. Até uma vez por lá apareceu o Agostinho Neto, quem sabe se levado pelo Manelito, angolano embarcadiço casado com a Maninha, afilhada de casamento do Nequinhas e da Juju, que apadrinharam também o casamento da Cecília e do Fidelis, célebre por ter vivido nos EUA, onde quase dera o nó com uma americana. Só a Nené escapou a esta onda de enlaces que es cusa di relaxo não era com ela, como dizia numa misturangada de português e crioulo da Praia, exemplo acabado de aculturação.

Nestas suas andanças lá ia com a sua velha Ford, gerador, projector, ecrã, filmes os mais inócuos possíveis (capa e espada, cowboys, musicais, comédias, dramas), os seus ajudantes nativos, os seus acompanhantes de quatro patas, os amigos cães que alimentava, afagava, acudia na doença, com quem convivia tu cá tu lá, que era médico e veterinário autodidacta. Veja bem, insistia o Nequinhas, que esses amigos são compadres, grandes comerciantes, sírios e libaneses, chefes de posto, administradores, governador, até um deputado e que seria do meu cinema – o cinco pesos e leva cadeira – sem o apoio deles? Era a pergunta com que sempre punha fim ao arrazoado da sua Julinha, farta de aturar gente que só dava trabalho. Já agora não se esqueça daqueles régulos que trouxe cá a casa, em 63, aquando da comemoração do dia da raça, acrescentava minuciosa, lembrando os “homens grandes” que arrebanhavam à força o grosso dos espectadores, que pateavam e ululavam quando o Nequinhas censurava os beijos dos actores tapando-os com a mão.

Coitada da Nené, ama e posteriormente cozinheira, que estava sempre ao fogão nas cachupas, no feijão pedra, na galinha à cafreal, na caldeirada de cabrito, nos pudins de pão, de queijo e de chá, no café leve e aromático que combinava o Fogo com S. Tomé; da Cecília, criada de dentro acolitada pela Maninha engomadeira e pela Belmira mulher a dias, todas elas caboverdianas, à excepção da última. Porque o Nequinhas começara a sua saga pelas Áfricas nos anos 30, em Cabo Verde, donde partira para a Guiné, seguindo o movimento migratório habitual, gerador de sentimentos de inferioridade que envenenaram as relações entre a Guiné e Cabo Verde, originando conflitos tempestuosos e sangrentos de que todos conservamos memória.

Sempre que vinha à baila Cabo Verde, a Julinha desvairava, lembrando-se da célebre gata parideira que roubava, para desespero da Nené e da senhora e grande orgulho do patrão, bicudas, pedações de atum e bons lombos, muitas vezes ainda ao lume para dar de comer às suas ninhadas que ciclicamente se sucediam. Então com o Totó, o rafeiro, ia ao rubro. Sempre a escagaçar por todo o lado, fazendo gato sapato das mulheres da casa, só obedecendo ao dono. Nem queria lembrar a vergonha que a fizera passar com o Toneca, visita de todos os dias, que adorava a Juju júnior, então uma boneca de palmo e meio. Abre a boca, abre e fecha os olhos, que eu dou-te um bombom, disse-lhe a boneca, e enfiou na boca do lambareiro um cocó do porqueiro. O Toneca ia tendo um semidesmilinguamento; por mais que lavasse a boca, só lhe sabia a merdimbuca. Trastes, levasse-os a todos o demónio, à parideira, ao Totó e a todos os que o seu Nequinhas apadrinhava.

Então só defende cães e gatos? - Atirava-lhe em momentos de maior fúria, quando a teimosia do marido excedia toda a razoabilidade. Mas que grande advogado têm os animais. Que me diz aos belos sapatos e malas de crocodilo e de cobra que tenho feito com as peles que caça? Às peles que vende para o David Kit? À sua basófia de caçador de tiro certeiro a que não escapavam até os búfalos, as pobres das galinholas e os javalis, se é que não eram porcos selvagens abandonados pelos colonos quando regressavam de Cabo Verde? Ora, ora, não me venha com falsas moralidades sobre os amigos de quatro patas desprotegidos. Era o golpe de morte com que emudecia o Nequinhas.

Quando nos finais da Segunda Guerra Mundial assentou arraiais em Lisboa, uma coisa tornou-se clara: a Julinha não toleraria mais seres bestiais em sua casa. Não, que viviam em Lisboa, cidade capital, e animais eram para o campo, a província, áfricas e vivendas. Se bem que a Juju júnior ao casar tratou logo de arranjar um gato, o Zé Trinca, que a mãe despachou a grande velocidade, quando a filha se mudou de armas e bagagens para Angola.

************

3. Comentário do editor

Cara amiga Lucinda, muito obrigado por se juntar a esta família de ex-combatentes da Guiné, onde como lhe disse antes, são bem-vindos todos aqueles que de algum modo se sentem ligados àquela terra com chão vermelho e paisagens fabulosas de longas bolanhas, palmeirais e capim a perder de vista.

Muito obrigado pelo seu texto de apresentação que nos leva a quase ver o que descreve.
Acho que jogou muito alto pois deixou-nos expectantes quanto à sua colaboração futura neste blogue.
Se a nós cabe deixar aqui as memórias de guerra, aos civis que, como a Lucinda, conhecem histórias dos tempos maravilhosos de não-guerra, de um país quase virgem, do ponto de vista europeu, pelo menos no chamado "mato", onde existia uma civilização ancestral muito estranha para o comum dos militares que para lá iam em missão de combate, o que desviava a atenção do que de mais belo havia.

Não se esqueça de nos mandar fotos que eventualmente tenha que irão certamente enriquecer o nosso espólio fotográfico, já que a esmagadora maioria das publicadas retrata a época da guerra.

Gostaríamos que pormenorizasse se e quanto tempo viveu com os pais na Guiné, eventualmente também em Cabo Verde, nomeadamente se fez a instrução primária e secundária por lá ou se a fez na metrópole onde supostamente teria melhores condições. Percebi que foi professora, suponho que só em Portugal.

Não me alongo mais porque acho que já está sensibilizada para a importância que poderá ter ao partilhar connosco as vivências do senhor seu pai. Isto sem prejuízo do livro que está a escrever sobre as suas memórias.

É da praxe deixar aqui um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores Luís Graça, Eduardo Magalhães e eu próprio.

Carlos Vinhal
____________

Notas do editor

No Reino das Orelhas de Burro
Autoria: Lucinda Aranha Antunes
Temas: Literatura Portuguesa e Ficção
Colecção: Tribuna Livre - Poesia e Prosa
Preço: 7,50 €

Detalhes:
Ano: 2012
Capa: capa mole
Tipo: Livro
N. páginas: 106
Formato: 21x15
ISBN: 987-989-689-260-9

(*) Sinopse

Glosando as histórias que preencheram o imaginário da sua infância, a narradora de No Reino dos Orelhas de Burro entrelaça e vai cerzindo, num estilo enxuto e directo, as suas memórias com as de familiares, de amigos ou simples conhecidos, dos velhos tempos de Cabo Verde e da Guiné, da sua vivência como professora do ensino secundário.
Uma após outra, as histórias que nos conta surpreendem e deixam-nos perplexos pela ténue diferença que separa humanos e animais. E, nesse sentido, constitui um vigoroso manifesto em defesa dos animais que, numa forma algo ingénua mas certeira, questiona a suposta superioridade desse predador que é o Homem.

Com a devida vénia a Edições Colibri

************

Último poste da série de 2 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12924: Tabanca Grande (432): João Alberto Coelho (Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª CART do BART 6522 – S. Domingos -, 1972/74), grã-tabanqueiro nº 653