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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11308: Parabéns a você (551): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Guiné, 1965/67)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quarta-feira, 27 de março de 2013
Guiné 63/74 - P11321: Parabéns a você (552): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70); Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732 (Guiné, 1970/72); Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp da CCS/BCAÇ 4612 (Guiné, 1974) e amiga tertuliana Maria Dulcinea que pisou a terra vermelha de Bissorã
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Guiné 63/74 - P10949: O cruzeiro das nossas vidas (19): A minha viagem de avião da Guiné para o Porto, com escala em Lisboa (Maria Dulcinea)
1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Maria Dulcinea (NI), (esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira) que esteve em Bissorã nos anos de 1973/74, com data de 11 de Janeiro de 2011:
Olá Luís Graça e restantes Camaradas da Guiné:
Esta estória que vou aqui narrar não terá nada de especial, no entanto e como para mim foi mais uma das aventuras vividas aquando da estada na Guiné com o meu marido e filho, mais propriamente em Bissorã, entre setembro de 1973 e Junho de 1974, vou partilhá-la com toda a tertúlia .
A minha viagem de avião da Guiné até ao Porto, com passagem por Lisboa
Quando chegou o dia de regressar à metrópole e após o término da comissão de serviço do Henrique em Bissorã, foi necessário preparar a viagem até ao Porto.
Após todos os preparos lá chegou o dia tão esperado e as expectativas de tudo correr bem eram das melhores, só que, nem sempre as coisas são como nós queremos e então esse dia foi uma espiral de aventuras em que os principais protagonistas foram: eu, o meu filho, três periquitos numa caixa de sapatos e à mistura uma tripulação dos aviões da TAP. Mas eu explico.
No dia 29 de Junho de 1974 o Henrique lá nos acompanhou até Bissalanca para eu embarcar num voo da TAP rumo ao nosso Portugal. A dita aventura começou logo aí porque o avião que chegou de Portugal e que nos haveria de transportar, segundo informações, quando aterrou em Bissau, ao dar a volta na pista, embateu com a asa numa vedação, sendo necessárias longas horas de espera até chegar outro avião.
Quem esteve na Guiné deve lembrar-se de que naquela altura o conforto do aeroporto era nenhum, mas isso não me afetava não fosse o caso de estar cheia de bagagem de mão, mais um filho de três anos completamente irrequieto. O pior foi ter de aguentar os periquitos com saúde dentro da caixa. É que os danados começaram a roer os buracos por onde respiravam e eu passava a vida a tapá-los com pedaços de pão e até lencinhos tive de usar.
Nós tínhamos programado os tempos e não aquele brutal atraso. Finalmente e após várias horas de espera lá embarcamos e o avião seguiu a sua viagem com toda a normalidade. Eu relaxei um pouco, até porque o pessoal assistente era do mais simpático possível, passando quase toda a viagem a levar o Miguel até à cabina de pilotagem. Enfim estava mesmo a ser uma viagem muito agradável, até que...
Vejo um comissário de bordo andando pela coxia de braço no ar com um periquito empoleirado no dedo e a perguntar de quem era aquela ave "rara". Se houvesse um buraco enfiava-me nele, porque eu levava as aves clandestinamente, mas dentro de um avião não há como escapar e lá me acusei do "crime".
O comissário todo sorridente lá me entregou o "passaroco" e eu confessei que tinha mais dois. Só que quando ia devolver o fugitivo à caixa de cartão verificamos que havia outro fugitivo. Bem, foi uma paródia geral pois era ver o comissário, hospedeiras e passageiros andarem pelo avião de "rabo" no ar até apanharem o danado do outro fugitivo.
Eu sou franca, com tanto canseira do embarque tinha-me esquecido de pôr mais tapulhos de pão nos buracos da caixa, mas passada a vergonha, até valeu pela distração de toda a gente. Aterramos em Lisboa todos felizes e contentes .
Novamente com bagagem de mão, Miguel a tiracolo, mais os "bandidos" dos periquitos dirigi-me para a zona de embarque de ligação ao Porto. Sentei-me num daqueles banquinhos com a minha "malta" e lá ia controlando as horas de embarque, sempre de olho nos piras e no Miguel, isto claro está num ambiente desconhecido para mim e de grande movimento e com a atenção a 80% nos meus companheiros de viagem.
Eu lá ia ouvindo pelos altifalantes a ordem de embarque para o Porto, mas olhava o relógio de pulso e achava que ainda não era o meu. Até que no momento disparou um "alarme " na minha cabeça e verifico que não havia mudado a hora da Guiné para Portugal. Então levanto-me que nem uma mola com a "prole" atrás de mim e dirijo-me à porta de embarque onde nesse preciso momento estava um cavalheiro fardado de piloto e eu muito aflita lhe perguntei se era aquele o avião que ia para o Porto . Ele disse :
- Sim minha senhora venha daí que sou eu que vos vou levar no meu avião. E já agora por que é que ainda não estão embarcados? Já lá está toda a gente à nossa espera.
Mais uma vês escapamos de boa e conclui que esta viagem seria para nunca mais esquecer. Mas como dizia o Henrique: "A Sorte Protege os Audazes". Não sei onde foi buscar aquilo mas que resultou lá isso resultou.
Resta-me aqui lembrar que os meus periquitos se chamavam: Papaias, Mangas e Caju.
O Papaias era do tipo papagaio verde e com peito amarelo. O Caju e a Mangas eram todos verdes mas com uma gravata lindíssima preta à volta do pescoço.
O primeiro a morrer foi o Papaias e os últimos foram o Mangas e o Caju que viveram cerca de vinte e cinco anos e eram grandes companheiros, tanto de nós próprios como dos pais do Henrique que se habituaram a eles como se fossem pessoas da família. Valeram bem o sacrifício que passei para os trazer.
Esta foi uma estória que provavelmente só nós daremos a devida importância, mas na realidade eu achei que a devia partilhar com toda a tertúlia pois foi mais uma das aventuras que acaba por nos ligar a todos de algum modo.
Um beijinho a todos os camaradas do "Blogue Luís Graça &Camaradas da Guiné"
Maria Dulcinea Rocha NI para todos os camaradas e amigos.
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Nota de CV.
Vd. último poste da série de 9 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10915: O cruzeiro das nossas vidas (18): O meu batismo de voo, em 28 de março de 1973, num DC 6 da FAP (Abílio Magro)
Olá Luís Graça e restantes Camaradas da Guiné:
Esta estória que vou aqui narrar não terá nada de especial, no entanto e como para mim foi mais uma das aventuras vividas aquando da estada na Guiné com o meu marido e filho, mais propriamente em Bissorã, entre setembro de 1973 e Junho de 1974, vou partilhá-la com toda a tertúlia .
A minha viagem de avião da Guiné até ao Porto, com passagem por Lisboa
Quando chegou o dia de regressar à metrópole e após o término da comissão de serviço do Henrique em Bissorã, foi necessário preparar a viagem até ao Porto.
Após todos os preparos lá chegou o dia tão esperado e as expectativas de tudo correr bem eram das melhores, só que, nem sempre as coisas são como nós queremos e então esse dia foi uma espiral de aventuras em que os principais protagonistas foram: eu, o meu filho, três periquitos numa caixa de sapatos e à mistura uma tripulação dos aviões da TAP. Mas eu explico.
No dia 29 de Junho de 1974 o Henrique lá nos acompanhou até Bissalanca para eu embarcar num voo da TAP rumo ao nosso Portugal. A dita aventura começou logo aí porque o avião que chegou de Portugal e que nos haveria de transportar, segundo informações, quando aterrou em Bissau, ao dar a volta na pista, embateu com a asa numa vedação, sendo necessárias longas horas de espera até chegar outro avião.
Aerogare e Torre de Controle do Aeroporto de Bissalanca, hoje Aeroporto Osvaldo Vieira.
Foto: Américo Dimas em Especialista da Base Aérea 12 - Guiné 65/74, com a devida véniaQuem esteve na Guiné deve lembrar-se de que naquela altura o conforto do aeroporto era nenhum, mas isso não me afetava não fosse o caso de estar cheia de bagagem de mão, mais um filho de três anos completamente irrequieto. O pior foi ter de aguentar os periquitos com saúde dentro da caixa. É que os danados começaram a roer os buracos por onde respiravam e eu passava a vida a tapá-los com pedaços de pão e até lencinhos tive de usar.
Nós tínhamos programado os tempos e não aquele brutal atraso. Finalmente e após várias horas de espera lá embarcamos e o avião seguiu a sua viagem com toda a normalidade. Eu relaxei um pouco, até porque o pessoal assistente era do mais simpático possível, passando quase toda a viagem a levar o Miguel até à cabina de pilotagem. Enfim estava mesmo a ser uma viagem muito agradável, até que...
Vejo um comissário de bordo andando pela coxia de braço no ar com um periquito empoleirado no dedo e a perguntar de quem era aquela ave "rara". Se houvesse um buraco enfiava-me nele, porque eu levava as aves clandestinamente, mas dentro de um avião não há como escapar e lá me acusei do "crime".
O comissário todo sorridente lá me entregou o "passaroco" e eu confessei que tinha mais dois. Só que quando ia devolver o fugitivo à caixa de cartão verificamos que havia outro fugitivo. Bem, foi uma paródia geral pois era ver o comissário, hospedeiras e passageiros andarem pelo avião de "rabo" no ar até apanharem o danado do outro fugitivo.
Eu sou franca, com tanto canseira do embarque tinha-me esquecido de pôr mais tapulhos de pão nos buracos da caixa, mas passada a vergonha, até valeu pela distração de toda a gente. Aterramos em Lisboa todos felizes e contentes .
Novamente com bagagem de mão, Miguel a tiracolo, mais os "bandidos" dos periquitos dirigi-me para a zona de embarque de ligação ao Porto. Sentei-me num daqueles banquinhos com a minha "malta" e lá ia controlando as horas de embarque, sempre de olho nos piras e no Miguel, isto claro está num ambiente desconhecido para mim e de grande movimento e com a atenção a 80% nos meus companheiros de viagem.
Eu lá ia ouvindo pelos altifalantes a ordem de embarque para o Porto, mas olhava o relógio de pulso e achava que ainda não era o meu. Até que no momento disparou um "alarme " na minha cabeça e verifico que não havia mudado a hora da Guiné para Portugal. Então levanto-me que nem uma mola com a "prole" atrás de mim e dirijo-me à porta de embarque onde nesse preciso momento estava um cavalheiro fardado de piloto e eu muito aflita lhe perguntei se era aquele o avião que ia para o Porto . Ele disse :
- Sim minha senhora venha daí que sou eu que vos vou levar no meu avião. E já agora por que é que ainda não estão embarcados? Já lá está toda a gente à nossa espera.
Mais uma vês escapamos de boa e conclui que esta viagem seria para nunca mais esquecer. Mas como dizia o Henrique: "A Sorte Protege os Audazes". Não sei onde foi buscar aquilo mas que resultou lá isso resultou.
Resta-me aqui lembrar que os meus periquitos se chamavam: Papaias, Mangas e Caju.
O Papaias era do tipo papagaio verde e com peito amarelo. O Caju e a Mangas eram todos verdes mas com uma gravata lindíssima preta à volta do pescoço.
O primeiro a morrer foi o Papaias e os últimos foram o Mangas e o Caju que viveram cerca de vinte e cinco anos e eram grandes companheiros, tanto de nós próprios como dos pais do Henrique que se habituaram a eles como se fossem pessoas da família. Valeram bem o sacrifício que passei para os trazer.
Esta foi uma estória que provavelmente só nós daremos a devida importância, mas na realidade eu achei que a devia partilhar com toda a tertúlia pois foi mais uma das aventuras que acaba por nos ligar a todos de algum modo.
Um beijinho a todos os camaradas do "Blogue Luís Graça &Camaradas da Guiné"
Maria Dulcinea Rocha NI para todos os camaradas e amigos.
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Nota de CV.
Vd. último poste da série de 9 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10915: O cruzeiro das nossas vidas (18): O meu batismo de voo, em 28 de março de 1973, num DC 6 da FAP (Abílio Magro)
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Guiné 63/74 - P10861: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (9): Mensagens de Natal da Tertúlia (3)
MENSAGENS DA TERTÚLIA (3)
Mensagem do nosso camarada Artur da Conceição, ex-Soldado de Transmissões da CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembem, 1965 a 1967:
Para todos os “Grã Tabanqueiros” e suas famílias, votos de um Feliz Natal e um Novo Ano com muita Paz e Saúde.
Um abraço
Artur Conceição
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Do nosso camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69:
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Do nosso camarada Afonso Sousa, ex-Fur Mil Trms, CART 2412, Bigene, Guidage e Barro, 1968/70
Ilustrado com algumas imagens da paradisíaca Madeira (algumas das quais fazendo lembrar o presépio), envio-vos o meu desejo de Santo Natal, com paz, saúde, harmonia e esperança.
Boas Festas.
Afonso Manuel Sousa
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Mensagem do nosso camarada Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67:
Para a grande família do Blogue composta por camaradas ex-Combatentes da Guiné e outros amigos(as) que se nos juntaram, hoje todos tidos como camarigos, venho expressar o maior desejo de que este Natal o passem com muita felicidade, e que o Novo Ano vos traga muita saúde, bem-estar e paz de espírito.
E, se me permitem, envio-vos o “postal” seguinte, que simboliza também paz e amor e que se trata de um presépio feito em barro por mim (coisas de reformado)
Um abraço para todos.
Rui Silva
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Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74:
Camarada Carlos Vinhal,
Envio em anexo o meu velhinho postal de Natal.
O mesmo já foi publicado no ano passado portanto não tem nada de novo a não ser o facto de termos sobrevivido mais um ano. Daí eu o repetir com votos de Boas Festas e Um Bom Ano Novo, dirigido a todos os Camaradas do blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné” e uma saudação muito especial aos Editores deste blogue, porque mais que nunca provaram que criaram um espaço que no mínimo nos deu a possibilidade de nos comunicarmos e principalmente “Vivermos” neste mundo que ultimamente tem criado uma sociedade que só olha para o próprio “Umbigo” e caminha drasticamente para o isolamento social.
Um Santo Natal para todos.
Henrique Cerqueira e NI
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Mensagem do nosso tertuliano e amigo Carlos Manuel Valentim, Oficial da Marinha, licenciado em História Moderna e Director da Biblioteca da Escola Naval
Boas Festa e um Feliz Ano de 2013
Carlos Manuel Baptista Valentim
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Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67:
Caro Camarada Carlos Vinhal Homem Grande da Tabanca
Com alegria desejo para ti e para os teus
Um bom Natal e
Um Bom Ano novo
Com Muita Alegria
Muita Paz
Muita Saúde
Muito Amor e
Guerra Nunca Mais
Igualmente os meus desejos de Bom Natal a todos os que fazem o grande favor de manterem o blogue de pé a funcionar. Era impensável um espaço a onde os abandonados, ou esquecidos, pudessem pensar em voz alta livremente, encontrar amigos de há 50 anos.
Isto não tem preço, para um antigo militar, foi uma dávida muito grande e generosa.
O generoso tem uma importância muito grande e estou certo tem a gratidão de todos nós.
O serviço que o blogue nos prestou, livre e sem qualquer encargo era impensável.
Mais uma vez obrigado Carlos
Um muito Grande abraço e tudo de bom
Ernesto Duarte
1965 / 1967
BC 1857 CC 1421
Mansabá – Oio – Morés
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Mensagem do nosso camarada Idálio Reis, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69:
Caro Vinhal
Os meus mais veementes desejos de Boas-Festas a todos os membros da Tertúlia, assim como a todos os seus mais queridos.
Um afectivo abraço do
Idálio Reis
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Mensagem do nosso camarada António Vaz, ex-Cap Mil da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69:
Desejo a todos os Tabanqueiros e em especial aos Editores do Blogue, um Feliz Natal com saúde na companhia de quem mais gostarem e uma boa passagem para 2013, apesar do bombardeamento diário das morteiradas que teem vindo a cair no nosso quotidiano.
Um grande abraço do
Antóvio Vaz
Ex- CMDT da CART 1746
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Mensagem do nosso camarada Victor Garcia, ex-1º Cabo da CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71:
Para vós amigos Luís e Carlos, e para todos os Tabanqueiros.
Victor Garcia e família desejam-vos um Santo Natal cheio de harmonia e felicidade.
Que o próximo ano não seja tão doloroso.
Um abraço
Victor Garcia
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10856: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (8): Mensagens de Natal da Tertúlia (2)
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9243: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (32): Havia lavadeiras e... lavadeiras: o caso das minhas duas irmãs (Cherno Baldé)
1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P9226:
Assunto - Lavadeiras e lavadeiras...
Eu tive duas irmãs, lavadeiras, filhas do meu tio, com carácter e comportamentos bem diferentes.
A mais nova era muito esquisita, secreta, escorregadia, não gostava que ninguém (dos mais pequenos) lhe seguisse os passos e não dava boleia para entrar no quartel com sentinela à porta de armas. Não posso confirmar, mas entre nós, ela era suspeita de andar a fazer maquinações e prestar serviços extras aos seus patrões brancos, do tipo "lava tudo". Felizmente nada aconteceu de pior.
A mais velha e, também, mais bonita era a nossa preferida, pois nunca se aventurava dentro do quartel sem a nossa companhia e, ainda mais, levava sempre consigo, nas costas, uma criança emprestada de propósito para o momento. Quando entrava, nós também entravamos atrás dela, senão nada feito, e as sentinelas já a conheciam de sobra, não gostavam dela mas também não lhe podiam obstruir a entrada.
Seguíamos directamente para a caserna dos Furriéis. Sem cerimónias, e dentro dos quartos, a nossa missão era ficar junto da nossa protegida e gritar caso fosse necessário. Os patrões olhavam para nós com olhos de espantar crianças. As vezes, na vontade de nos afastar um pouco, havia quem nos oferecesse um pedaço de pão ou uma lata de conserva. Mas mesmo um pouco distanciados pelo engodo, ainda ouvíamos a voz inconformada da nossa irmã resistindo às apalpadelas:
- Dixa Furriel, dixa! Djubi mininu tchora!... (Deixa, Furriel, olha a criança a chorar).
Ela era, frequentemente, despedida por um e logo contratada por outro e invariavelmente eram Furriéis.
Era estranho esse comportamento das minhas irmãs, porquanto nas noites de luar, em grupos de idades, cantariam louvando essas aventuras com os Furriéis em ritmos e letras herdadas de outras idades e de outros tempos:
"Capiton-ho Doktor-ho!
Firiel-ho pingarram-me!"
(O Capitão pode ser o chefão
mas é o Furriel que me injecta a agulha/seringa).
E não é que os Furriéis tinham mesmo jeito com as agulhas?! Dos filhos deixados na minha terra, mais da metade seriam de Furriéis.
Muito obrigado à Maria Dulcineia por esta homenagem bem merecida às lavadeiras de todos os tempos e de todos os lugares.
Um abraço natalício a todos,
Cherno Baldé
2. Comentário de Maria Dulcinea (NI) (*)
Amigo Cherno Baldé
Li o seu comentário com muita atenção, aliás li todos os comentários e desde já agradeço as palavras simpáticas que todos escreveram. No entanto queria comentar as palavras do Cherno e lhe dizer que, quando li o seu artigo no P9085 "Memórias do Chico", e em que publica a foto da sua mãe, eu senti uma ternura imensa por ela, pois que aquilo que você descreve é precisamente o modo de vida que admirei nas mulheres da Guiné da altura com todas as dificuldades inerentes de um país em guerra, mas em que as pessoas se adaptaram tanto à presença constante dos militares como à sua constante rotação, pois que os militares ora estavam nas localidades, oram iam embora para a Metópole ou outros locais de serviço.
Em relação às suas irmãs serem "assediadas", eu considero que é uma situação triste, mas sem querer arranjar desculpas para esses actos dos militares, reconheço que era mais uma das situações provocadas pela estúpida situação em que os nossos Homens foram, ao serem mandados para um território desconhecido sem terem tido um mínimo de formação sobre os usos e costumes das Gentes da Guiné.
Sei que os militares que foram para Companhias Africanas tiveram alguma formação de "Acção Psicológica" antes de ingressarem nas CCAÇ Africanas. Como disse e sem querer "branquear" maus comportamentos de alguns Homens, eu tenho a certeza que hoje a maioria carrega as suas "culpas" e que valoriza de certeza todas as mulheres da Guiné tal como tem sido aqui comentado.
Cherno Baldé, não estou aqui a ajuizar qualquer tipo de comportamento, estou isso sim a agradecer as suas palavras e a desejar uma vez mais um Santo Natal, a si, à sua Mãe, às mulheres da Guiné e a todos os tertulianos e TERTULIANAS desta Tabanca que, como me diz o meu marido, são uns tipos ainda "muito malucos" mas que é tão bom ter alguém que escreva, comente, ralhe... Quer queiram ou não, estão todos ligados uns aos outros pelo mesmo "cordão umbilical" que foi a GUINÉ.
Um beijinho para todos e Bom Natal
Maria Dulcineia (Ni)
__________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9226: Memória dos lugares (167): As nossas lavadeiras da Guiné, a nossa Amélia de Bissorã (Maria Dulcinea)
(**) Último poste da série > 23 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9085: Memórias do Chico, menino e moço (31): A minha Mãe Cadi representa a mãe africana em particular e as mães de todos nós em geral (Cherno Baldé)
Assunto - Lavadeiras e lavadeiras...
Eu tive duas irmãs, lavadeiras, filhas do meu tio, com carácter e comportamentos bem diferentes.
A mais nova era muito esquisita, secreta, escorregadia, não gostava que ninguém (dos mais pequenos) lhe seguisse os passos e não dava boleia para entrar no quartel com sentinela à porta de armas. Não posso confirmar, mas entre nós, ela era suspeita de andar a fazer maquinações e prestar serviços extras aos seus patrões brancos, do tipo "lava tudo". Felizmente nada aconteceu de pior.
A mais velha e, também, mais bonita era a nossa preferida, pois nunca se aventurava dentro do quartel sem a nossa companhia e, ainda mais, levava sempre consigo, nas costas, uma criança emprestada de propósito para o momento. Quando entrava, nós também entravamos atrás dela, senão nada feito, e as sentinelas já a conheciam de sobra, não gostavam dela mas também não lhe podiam obstruir a entrada.
Seguíamos directamente para a caserna dos Furriéis. Sem cerimónias, e dentro dos quartos, a nossa missão era ficar junto da nossa protegida e gritar caso fosse necessário. Os patrões olhavam para nós com olhos de espantar crianças. As vezes, na vontade de nos afastar um pouco, havia quem nos oferecesse um pedaço de pão ou uma lata de conserva. Mas mesmo um pouco distanciados pelo engodo, ainda ouvíamos a voz inconformada da nossa irmã resistindo às apalpadelas:
- Dixa Furriel, dixa! Djubi mininu tchora!... (Deixa, Furriel, olha a criança a chorar).
Ela era, frequentemente, despedida por um e logo contratada por outro e invariavelmente eram Furriéis.
Era estranho esse comportamento das minhas irmãs, porquanto nas noites de luar, em grupos de idades, cantariam louvando essas aventuras com os Furriéis em ritmos e letras herdadas de outras idades e de outros tempos:
"Capiton-ho Doktor-ho!
Firiel-ho pingarram-me!"
(O Capitão pode ser o chefão
mas é o Furriel que me injecta a agulha/seringa).
E não é que os Furriéis tinham mesmo jeito com as agulhas?! Dos filhos deixados na minha terra, mais da metade seriam de Furriéis.
Muito obrigado à Maria Dulcineia por esta homenagem bem merecida às lavadeiras de todos os tempos e de todos os lugares.
Um abraço natalício a todos,
Cherno Baldé
2. Comentário de Maria Dulcinea (NI) (*)
Amigo Cherno Baldé
Li o seu comentário com muita atenção, aliás li todos os comentários e desde já agradeço as palavras simpáticas que todos escreveram. No entanto queria comentar as palavras do Cherno e lhe dizer que, quando li o seu artigo no P9085 "Memórias do Chico", e em que publica a foto da sua mãe, eu senti uma ternura imensa por ela, pois que aquilo que você descreve é precisamente o modo de vida que admirei nas mulheres da Guiné da altura com todas as dificuldades inerentes de um país em guerra, mas em que as pessoas se adaptaram tanto à presença constante dos militares como à sua constante rotação, pois que os militares ora estavam nas localidades, oram iam embora para a Metópole ou outros locais de serviço.
Em relação às suas irmãs serem "assediadas", eu considero que é uma situação triste, mas sem querer arranjar desculpas para esses actos dos militares, reconheço que era mais uma das situações provocadas pela estúpida situação em que os nossos Homens foram, ao serem mandados para um território desconhecido sem terem tido um mínimo de formação sobre os usos e costumes das Gentes da Guiné.
Sei que os militares que foram para Companhias Africanas tiveram alguma formação de "Acção Psicológica" antes de ingressarem nas CCAÇ Africanas. Como disse e sem querer "branquear" maus comportamentos de alguns Homens, eu tenho a certeza que hoje a maioria carrega as suas "culpas" e que valoriza de certeza todas as mulheres da Guiné tal como tem sido aqui comentado.
Cherno Baldé, não estou aqui a ajuizar qualquer tipo de comportamento, estou isso sim a agradecer as suas palavras e a desejar uma vez mais um Santo Natal, a si, à sua Mãe, às mulheres da Guiné e a todos os tertulianos e TERTULIANAS desta Tabanca que, como me diz o meu marido, são uns tipos ainda "muito malucos" mas que é tão bom ter alguém que escreva, comente, ralhe... Quer queiram ou não, estão todos ligados uns aos outros pelo mesmo "cordão umbilical" que foi a GUINÉ.
Um beijinho para todos e Bom Natal
Maria Dulcineia (Ni)
__________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9226: Memória dos lugares (167): As nossas lavadeiras da Guiné, a nossa Amélia de Bissorã (Maria Dulcinea)
(**) Último poste da série > 23 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9085: Memórias do Chico, menino e moço (31): A minha Mãe Cadi representa a mãe africana em particular e as mães de todos nós em geral (Cherno Baldé)
domingo, 18 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9226: Memória dos lugares (167): As nossas lavadeiras da Guiné, a nossa Amélia de Bissorã (Maria Dulcinea)
1. Mensagem da nossa tertuliana Maria Dulcinea (NI)*, esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira) que esteve em Bissorã nos anos de 1973/74, com data de15 de Dezembro de 2011:
Olá Carlos Vinhal
Hoje, motivada pelo despertar de lembranças, e após uma visita ao Hospital de S. João em que conhecemos um menino da Guiné que está internado em Pediatria e que segundo ele a sua Avó é de Bissorã, resolvi escrever sobre as Mulheres da Guiné e muito especialmente as "Lavadeiras dos Militares", mas ainda mais especialmente sobre a "Nossa Lavadeira" de seu nome Amélia). Assim, escrevi um pequeno texto que envio em anexo, e se por acaso o Carlos achar que é publicável, publica, caso contrario há sempre um arquivo à mão...
Resta-me desde já desejar a todos os Tertulianos sem qualquer excepção um Muito Feliz Natal e que o próximo Ano seja muito melhor que este.
Para o Carlos e Dina um abraço especial da tertuliana
Dulcinea
As nossas lavadeiras da Guiné
A nossa Amélia
Hoje resolvi escrever um pequeno texto em homenagem às “Lavadeiras” da Guiné e muito especialmente à “nossa” Lavadeira de seu nome AMÉLIA.
Creio que na generalidade todos os militares na Guiné “tiveram“ ao seu serviço essas valorosas Mulheres que conseguiam um meio de subsistência lavando as roupas dos militares em serviço na Guiné, e como não fugia à regra, o meu marido tinha a “sua” Lavadeira.
Olá Carlos Vinhal
Hoje, motivada pelo despertar de lembranças, e após uma visita ao Hospital de S. João em que conhecemos um menino da Guiné que está internado em Pediatria e que segundo ele a sua Avó é de Bissorã, resolvi escrever sobre as Mulheres da Guiné e muito especialmente as "Lavadeiras dos Militares", mas ainda mais especialmente sobre a "Nossa Lavadeira" de seu nome Amélia). Assim, escrevi um pequeno texto que envio em anexo, e se por acaso o Carlos achar que é publicável, publica, caso contrario há sempre um arquivo à mão...
Resta-me desde já desejar a todos os Tertulianos sem qualquer excepção um Muito Feliz Natal e que o próximo Ano seja muito melhor que este.
Para o Carlos e Dina um abraço especial da tertuliana
Dulcinea
As nossas lavadeiras da Guiné
A nossa Amélia
Hoje resolvi escrever um pequeno texto em homenagem às “Lavadeiras” da Guiné e muito especialmente à “nossa” Lavadeira de seu nome AMÉLIA.
Creio que na generalidade todos os militares na Guiné “tiveram“ ao seu serviço essas valorosas Mulheres que conseguiam um meio de subsistência lavando as roupas dos militares em serviço na Guiné, e como não fugia à regra, o meu marido tinha a “sua” Lavadeira.
Quando cheguei a Bissorã e após a nossa instalação de acomodamento aos usos e costumes da nossa “Tabanca”, o Henrique disse-me que iríamos continuar com a Amélia. De pronto foi-me apresentada a “Famosa“ e desde logo se criou uma grande empatia entre nós, pois que a Amélia era uma senhora muito bem esclarecida, muito divertida e como a foto documenta era muito bonita.
Na realidade o que eu pretendo é fazer uma singela homenagem a todas as “Amélias” que de uma forma ou de outra acabaram por fazer parte da vivência dos militares que permaneciam longe dos seus familiares, sendo muitas vezes as suas Lavadeiras suas confidentes e quiçá terem que aturar os devaneios de jovens “desgarrados” e ausentes do convívio de suas mulheres ou namoradas.
Quero ainda salientar o quanto eram importantes aquelas horinhas certas, no final da tarde, quando as “Lavadeiras” com as suas trouxas de roupa lavada percorriam os locais dos militares a entregar as suas roupas e recolhendo outras. Que giro era vê-las em “bandos”, entrando pelo quartel, falando muito alto e rindo como se aquele momento também fosse de alegria para elas porque sentiam que o seu trabalho era útil e ajudava à sua subsistência .
Jamais esquecerei a Amélia e alguns momentos de cumplicidade que existiram entre nós, assim como jamais esquecerei tudo o que passei e aprendi com as Mulheres da Guiné. Daí o meu sincero reconhecimento a todas elas.
Fui de certo modo despertada para esta lembrança quando esta semana visitei um menino internado no Hospital de S. João, que é da Guiné, de seu nome TIGNÁ e que segundo ele, a sua avó é de Bissorã e assim todas as lembranças despertaram.
Não incomodo mais até porque não tenho muito jeito para a escrita e só escrevi este texto porque fui incentivada pelo Henrique. No entanto se virem que não tem pés nem cabeça podem enviar para o “arquivo”.
Um beijinho para todos os Tertulianos e um especial para as mulheres da Guiné.
NI (Maria Dulcinea Rocha)
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)
Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9166: Memória dos lugares (166): a paliçada de troncos de palmeira do Cachil (José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)
Na realidade o que eu pretendo é fazer uma singela homenagem a todas as “Amélias” que de uma forma ou de outra acabaram por fazer parte da vivência dos militares que permaneciam longe dos seus familiares, sendo muitas vezes as suas Lavadeiras suas confidentes e quiçá terem que aturar os devaneios de jovens “desgarrados” e ausentes do convívio de suas mulheres ou namoradas.
Quero ainda salientar o quanto eram importantes aquelas horinhas certas, no final da tarde, quando as “Lavadeiras” com as suas trouxas de roupa lavada percorriam os locais dos militares a entregar as suas roupas e recolhendo outras. Que giro era vê-las em “bandos”, entrando pelo quartel, falando muito alto e rindo como se aquele momento também fosse de alegria para elas porque sentiam que o seu trabalho era útil e ajudava à sua subsistência .
Jamais esquecerei a Amélia e alguns momentos de cumplicidade que existiram entre nós, assim como jamais esquecerei tudo o que passei e aprendi com as Mulheres da Guiné. Daí o meu sincero reconhecimento a todas elas.
Fui de certo modo despertada para esta lembrança quando esta semana visitei um menino internado no Hospital de S. João, que é da Guiné, de seu nome TIGNÁ e que segundo ele, a sua avó é de Bissorã e assim todas as lembranças despertaram.
Não incomodo mais até porque não tenho muito jeito para a escrita e só escrevi este texto porque fui incentivada pelo Henrique. No entanto se virem que não tem pés nem cabeça podem enviar para o “arquivo”.
Um beijinho para todos os Tertulianos e um especial para as mulheres da Guiné.
NI (Maria Dulcinea Rocha)
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)
Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9166: Memória dos lugares (166): a paliçada de troncos de palmeira do Cachil (José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)
1. Mensagem da nossa tertuliana Maria Dulcinea (NI)*, esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira) que esteve em Bissorã nos anos de 1973/74, com data de 24 de Maio de 2011:
Olá Carlos Vinhal
No seguimento do tema "As nossas Mulheres de Guerra", vou tentar o mais sintetizado possível descrever como fui parar à Guiné para me juntar ao meu marido.
NI
COMO FUI PARAR À GUINÉ
Tudo começou em 25 de Agosto de 1968, dia de Festa do São Bartolomeu na Foz do Douro.
Aí conheci o Henrique e jamais nos separamos. Casamo-nos em 1970 e em 1971 o Henrique foi para a tropa.
Quando ele estava nas Caldas da Rainha em Setembro desse ano nasceu o nosso Miguel Nuno.
Logo depois o Henrique foi para Tavira de seguida para Elvas e antes da Guiné foi para Évora.
Em Junho de 1972 e vésperas do seu aniversário, recebo um telefonema do meu marido para passar o fim de semana em Évora (já o nosso filho tinha 10 meses) .
Lá fui para Évora saltando de comboio em comboio, isto porque antigamente ir do Porto a Évora era uma autêntica odisseia.
Em Évora lá estava o Henrique e até aí tudo bem. O pior foi no Domingo, quando juntamos alguns camaradas para um almoço a festejar o aniversário do meu marido, embora com uma antecipação de um dia, pois que ele embarcaria no dia seguinte, dia do seu aniversário, o que eu não sabia.
Durante o almoço um dos camaradas disse:
- Então amanhã a esta hora já estamos longe.
Olhamos uns para os outros em silêncio e foi aí que percebi que embarcavam com destino à Guiné no dia seguinte.
Fiquei sem fala porque já sabia que ele iria para a Guiné, só que não sabia quando, mas não chorei.
No dia seguinte (19/06/1972) pela manhã e aproveitando uma boleia dum alferes nosso amigo e que era de Lisboa, fomos todos de automóvel até ao aeroporto e o resto da malta foi toda em viaturas do Exército. E assim, após a partida do avião, fiquei de novo só.
Fui para Santa Apolónia onde apanhei o comboio para o Porto e, deixando transvasar a minha tristeza, chorei toda a viagem.
Passou um ano e o Henrique ainda veio gozar férias em Junho do ano seguinte. Voltou à Guiné e passado uns tempos convida-me para ir ter com ele. Eu nem hesitei.
Entretanto o nosso amigo Alferes Santos veio a Portugal casar com a Zinha. Combinamos fazer a viagem para a Guiné juntos, levando o nosso Miguel que tinha feito já dois anos em Setembro. Embarcamos em Outubro de 1973.
Quando o avião sobrevoava a Guiné, achei aquela terra linda me parecendo "Um Jardim rodeado de Rios".
Quando desembarcamos o calor sufocante, a terra seca e poeirenta foi uma desilusão. Para agravar, o Henrique estava irreconhecível de tão magro, fumava, coisa que eu desconhecia, mas passado essas impressões menos felizes e após a alegria do reencontro, fizemos uma ida a Bissau para embarcarmos no transporte que o meu marido arranjou, que foi viajarmos todos dentro de uma Ambulância Militar que ia nesse dia para Mansoa. Vieram depois de Bissorã nos buscar pois que já era quase noite quando chegamos a Bissorã. Pelo vistos foi um pouco complicado arranjarem coluna de protecção, mas os amigos ajudaram.
Quando chegamos a Bissorã e entro na nossa "CASA" fiquei espantada pois estava decorada com assentos dum carocha, as camas eram da tropa, tínhamos um frigorifico a petróleo, a casa de banho eram dois bidões de chapa. Tínhamos chuveiro pois o Henrique conseguiu ir buscar água bem longe (daí a explicação do seu estado de magreza pois que arranjou casa, fez uma abrigo, decorou a casa e sempre fazendo a sua actividade militar, porque na CCAÇ 13 não se mandriava.
Quanto à nossa alimentação, foi organizada do seguinte modo: as refeições dos adultos vinham duma espécie de restaurante (O LABINAS) que tinha um acordo com a tropa, mas as refeições do nosso Miguel era eu que as confeccionava com artigos comprados na messe e outros sempre que possível na população.
Entretanto eu e o Henrique tiramos a Carta de Condução no mesmo dia em Bissau. Não pensem que nos facilitaram a vida, não, pelo contrário, foram bem exigentes no exame em Bissau.
Para além de ter tido um Natal muito especial em 1973, com pinheirinho (uma folha de palmeira enfeitada), rabanadas e aletria, tudo isto foi enviado pela família da metrópole. Mas o que mais gostei foi ter partilhado esse Natal com outros soldados que invadiram a nossa casa que até se esqueceram que havia algures por ali uma Guerra.
Entretanto veio o 25 de Abril, e tive a oportunidade de ir cumprimentar o pessoal do PAIGC ainda no seu estado de combatentes inimigos. Uns dias antes os "patifes" tinham-nos bombardeado com foguetões, porque pareciam não estarem satisfeitos com o susto que me pregaram em Dezembro, ao infligirem-nos um bruto ataque que foi o meu baptismo de fogo. Logo lhes perdoei, até porque depois eram todos simpatia. Enfim eram contingências de uma situação que a nada nos dizia em termos de futuro, mas isso são outros "Quinhentos".
Em Junho regresso a Portugal com o Miguel, e em Julho regressa o Henrique, e uma vez mais fui ter com ele a Lisboa ao RALIS onde foi (fomos) definitivamente desmobilizado.
Depois disto tudo, continuamos juntos, com mais um filho e um neto que é filho do Miguel.
Pronto, terminei. Foi longo eu sei, mas é assim, as recordações são muitas e há sempre tanto para escrever.
Antes de acabar, lembro que em Bissorã viviam mais senhoras, esposas de militares, ou seja dum soldado, dum furriel e de um capitão que tinha uma menina linda de quem vou tomar a liberdade de publicar a foto, junta com o meu Miguelito.
Um beijinho para todos os tertulianos e em especial para algum que tenha estado em Bissorã nessa altura e tenha sido nosso amigo.
Maria Dulcinea (NI)
Ni com fato Mandinga em pose nos aposentos da nossa casa. Tínhamos camas, secretária, mosquiteiro para o Miguel e quintal. Além da cozinha (não tenho fotos), abrigo à porta, cavado no chão e protegido com troncos.
[Fotos e texto de Maria Dulcinea]
[Edição de fotos, revisão e fixação do texto de Carlos Vinhal]
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8291: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (7): Agradecimento pelas palavras simpáticas que me foram dirigidas (NI)
Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8324: As mulheres que, afinal, foram à guerra (10): O pungente testemunho da irmã do nosso malogrado camarada Martinho Gramunha Marques, morto em Madina do Boé, em 30 de Janeiro de 1965
Olá Carlos Vinhal
No seguimento do tema "As nossas Mulheres de Guerra", vou tentar o mais sintetizado possível descrever como fui parar à Guiné para me juntar ao meu marido.
NI
COMO FUI PARAR À GUINÉ
Tudo começou em 25 de Agosto de 1968, dia de Festa do São Bartolomeu na Foz do Douro.
Aí conheci o Henrique e jamais nos separamos. Casamo-nos em 1970 e em 1971 o Henrique foi para a tropa.
Quando ele estava nas Caldas da Rainha em Setembro desse ano nasceu o nosso Miguel Nuno.
Logo depois o Henrique foi para Tavira de seguida para Elvas e antes da Guiné foi para Évora.
Em Junho de 1972 e vésperas do seu aniversário, recebo um telefonema do meu marido para passar o fim de semana em Évora (já o nosso filho tinha 10 meses) .
Lá fui para Évora saltando de comboio em comboio, isto porque antigamente ir do Porto a Évora era uma autêntica odisseia.
Em Évora lá estava o Henrique e até aí tudo bem. O pior foi no Domingo, quando juntamos alguns camaradas para um almoço a festejar o aniversário do meu marido, embora com uma antecipação de um dia, pois que ele embarcaria no dia seguinte, dia do seu aniversário, o que eu não sabia.
Durante o almoço um dos camaradas disse:
- Então amanhã a esta hora já estamos longe.
Olhamos uns para os outros em silêncio e foi aí que percebi que embarcavam com destino à Guiné no dia seguinte.
Fiquei sem fala porque já sabia que ele iria para a Guiné, só que não sabia quando, mas não chorei.
No dia seguinte (19/06/1972) pela manhã e aproveitando uma boleia dum alferes nosso amigo e que era de Lisboa, fomos todos de automóvel até ao aeroporto e o resto da malta foi toda em viaturas do Exército. E assim, após a partida do avião, fiquei de novo só.
Fui para Santa Apolónia onde apanhei o comboio para o Porto e, deixando transvasar a minha tristeza, chorei toda a viagem.
Passou um ano e o Henrique ainda veio gozar férias em Junho do ano seguinte. Voltou à Guiné e passado uns tempos convida-me para ir ter com ele. Eu nem hesitei.
Entretanto o nosso amigo Alferes Santos veio a Portugal casar com a Zinha. Combinamos fazer a viagem para a Guiné juntos, levando o nosso Miguel que tinha feito já dois anos em Setembro. Embarcamos em Outubro de 1973.
Quando o avião sobrevoava a Guiné, achei aquela terra linda me parecendo "Um Jardim rodeado de Rios".
Quando desembarcamos o calor sufocante, a terra seca e poeirenta foi uma desilusão. Para agravar, o Henrique estava irreconhecível de tão magro, fumava, coisa que eu desconhecia, mas passado essas impressões menos felizes e após a alegria do reencontro, fizemos uma ida a Bissau para embarcarmos no transporte que o meu marido arranjou, que foi viajarmos todos dentro de uma Ambulância Militar que ia nesse dia para Mansoa. Vieram depois de Bissorã nos buscar pois que já era quase noite quando chegamos a Bissorã. Pelo vistos foi um pouco complicado arranjarem coluna de protecção, mas os amigos ajudaram.
Quando chegamos a Bissorã e entro na nossa "CASA" fiquei espantada pois estava decorada com assentos dum carocha, as camas eram da tropa, tínhamos um frigorifico a petróleo, a casa de banho eram dois bidões de chapa. Tínhamos chuveiro pois o Henrique conseguiu ir buscar água bem longe (daí a explicação do seu estado de magreza pois que arranjou casa, fez uma abrigo, decorou a casa e sempre fazendo a sua actividade militar, porque na CCAÇ 13 não se mandriava.
Quanto à nossa alimentação, foi organizada do seguinte modo: as refeições dos adultos vinham duma espécie de restaurante (O LABINAS) que tinha um acordo com a tropa, mas as refeições do nosso Miguel era eu que as confeccionava com artigos comprados na messe e outros sempre que possível na população.
Entretanto eu e o Henrique tiramos a Carta de Condução no mesmo dia em Bissau. Não pensem que nos facilitaram a vida, não, pelo contrário, foram bem exigentes no exame em Bissau.
Para além de ter tido um Natal muito especial em 1973, com pinheirinho (uma folha de palmeira enfeitada), rabanadas e aletria, tudo isto foi enviado pela família da metrópole. Mas o que mais gostei foi ter partilhado esse Natal com outros soldados que invadiram a nossa casa que até se esqueceram que havia algures por ali uma Guerra.
Entretanto veio o 25 de Abril, e tive a oportunidade de ir cumprimentar o pessoal do PAIGC ainda no seu estado de combatentes inimigos. Uns dias antes os "patifes" tinham-nos bombardeado com foguetões, porque pareciam não estarem satisfeitos com o susto que me pregaram em Dezembro, ao infligirem-nos um bruto ataque que foi o meu baptismo de fogo. Logo lhes perdoei, até porque depois eram todos simpatia. Enfim eram contingências de uma situação que a nada nos dizia em termos de futuro, mas isso são outros "Quinhentos".
Em Junho regresso a Portugal com o Miguel, e em Julho regressa o Henrique, e uma vez mais fui ter com ele a Lisboa ao RALIS onde foi (fomos) definitivamente desmobilizado.
Depois disto tudo, continuamos juntos, com mais um filho e um neto que é filho do Miguel.
Pronto, terminei. Foi longo eu sei, mas é assim, as recordações são muitas e há sempre tanto para escrever.
Antes de acabar, lembro que em Bissorã viviam mais senhoras, esposas de militares, ou seja dum soldado, dum furriel e de um capitão que tinha uma menina linda de quem vou tomar a liberdade de publicar a foto, junta com o meu Miguelito.
Um beijinho para todos os tertulianos e em especial para algum que tenha estado em Bissorã nessa altura e tenha sido nosso amigo.
Maria Dulcinea (NI)
Ni com fato Mandinga em pose nos aposentos da nossa casa. Tínhamos camas, secretária, mosquiteiro para o Miguel e quintal. Além da cozinha (não tenho fotos), abrigo à porta, cavado no chão e protegido com troncos.
Ni de costas com o Miguel e outra esposa de soldado numa visita a Mansoa
Ni e Miguel no centro de Bissorã
O Miguel com amizades na população masculina de Bissorã
Miguel no nosso quintal com linda filha de um Capitão da CCS
Miguel a brincar com a nossa macaca "Gasolina", de seu nome
Ni e Miguel ao pequeno almoço
Ni e Miguel na Pensão Central de Bissau
[Fotos e texto de Maria Dulcinea]
[Edição de fotos, revisão e fixação do texto de Carlos Vinhal]
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8291: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (7): Agradecimento pelas palavras simpáticas que me foram dirigidas (NI)
Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8324: As mulheres que, afinal, foram à guerra (10): O pungente testemunho da irmã do nosso malogrado camarada Martinho Gramunha Marques, morto em Madina do Boé, em 30 de Janeiro de 1965
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Guiné 63/74 - P8291: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (7): Agradecimento pelas palavras simpáticas que me foram dirigidas (Maria Dulcinea)
1. Mensagem da nossa tertuliana Maria Dulcinea (NI)*, esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira) que esteve em Bissorã nos anos de 1973/74, com data de 17 de Maio de 2011:
Desde já dirijo-me a todos os Camaradas e amigos da Guiné da nossa Tabanca Grande para manifestar a Honra em ter sido convidada para pertencer a tão distinto Grupo de Homens e Mulheres que de uma forma ou de outra, obrigados ou voluntários fizeram parte de uma era que ficará para sempre na História de Portugal.
Agradeço ainda os comentários saudáveis feitos no blogue à minha incursão por terras da Guiné.
Na verdade têm razão, pois que houve uma boa dose de irresponsabilidade nossa em eu ter ido para Bissorã com o meu filho Miguel de dois anos, e ainda porque, se calhar alguns se lembrarão, já nessa altura andava a ser gizada a invasão pelo PAIGC à Guiné.
Contava-me o Henrique que tinha recebido directrizes no sentido de adaptar a "Dreyse” com mira anti-aérea, e alguma informação sobre os Mig 21, o que na realidade lhe dava um gozo muito grande, porque era ridícula a situação, ele até dizia: - Tenho Dreyse, tenho balas, só não tenho é miras. Eu sinceramente aprendi a dar uns tiritos com a G3 mas não fiquei fã dela, usando-a só para a fotografia.
Após esta divagação passemos então à aventura e digo "aventura" porque se não existir alguma na nossa vida, esta torna-se muito insossa, mas também se tratou no essencial de Amor e Companheirismo e assim sendo, "pés ao caminho" que é como quem diz avião e Bissorã. Mais tarde conto a odisseia com praga de gafanhotos e tudo em Bissau.
Aprendi muito com o povo de Bissorã assim como com a camaradagem "possível" entre militares no Natal de 1973 com o meu marido a festejar o Natal e a provável porrada aplicada ao Henrique (já narrada no poste P2356** deste blogue referente ao Natal da Guiné) com aletria, rabanadas e tudo que foi possível arranjar na época.
Aprendi também a gostar de mangas, papaias, mancarra, figo de cajus, etc.
Apanhei uns sustos com os ataques a Bissorã. Lembro-me com saudade de um amigo nosso, o Cabo Mecânico da CCAÇ13 de nome AZEVEDO que era da região de Lisboa que num desses ataques a Bissorã, ao correr junto com o Henrique para a nossa tabanca, caiu numa vala e abriu o maxilar com alguma gravidade.
Tenho muita saudades do nosso amigo INHATNA BIOFA que era um rapazinho de 16 anos que acompanhava sempre o Henrique desde o Biambe. Era um jovem de grande carácter e aqui faço um parêntesis para contar uma história muito simples do Inhatna.
Certo dia estávamos todos à mesa a almoçar com o Inhatna como sempre e poisaram duas moscas na mesa. Ora o Henrique pega num utensílio para matar as moscas. De imediato o Inhatna diz: - Furiel... Furiel não mata, elas (as moscas) só estão a falar e já vão embora...
Nós ficamos parados a pensar no forte sentimento humano e a força de carácter do Inhatna pois que ele o fazia com todos os animais incómodos, nunca matava, só enxotava. E é nestas coisas tão simples que se aprende a ver as importantes. Esta história é muito simples mas eu jamais a esqueci assim como ao nosso amigo INHATANA BIOFA.
Bom. Já chega por agora e já vai longa a escrita, mas são vocês os culpados que pediram. Mais tarde narrarei outras histórias mas só de acontecimentos agradáveis e engraçados só foi possível viver naquela altura, naquela situação e no país que foi, a Guiné.
Um beijo para todos os Tertulianos e Camaradas da Guiné e uma saudação muito especial para todos e todas que já não estão fisicamente entre nós.
NI (Maria Dulcinea Rocha)
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8281: Tabanca Grande (283): NI (Maria Dulcinea Rocha), esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira, que com o filhote de ambos se pôs a caminho de Bissorã onde fez companhia ao marido nos anos de 1973 e 1974
(**) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2356: O meu Natal no mato (2): Bissorã, 1973: O Milagre (Henrique Cerqueira, CCAÇ 13)
Desde já dirijo-me a todos os Camaradas e amigos da Guiné da nossa Tabanca Grande para manifestar a Honra em ter sido convidada para pertencer a tão distinto Grupo de Homens e Mulheres que de uma forma ou de outra, obrigados ou voluntários fizeram parte de uma era que ficará para sempre na História de Portugal.
Agradeço ainda os comentários saudáveis feitos no blogue à minha incursão por terras da Guiné.
Na verdade têm razão, pois que houve uma boa dose de irresponsabilidade nossa em eu ter ido para Bissorã com o meu filho Miguel de dois anos, e ainda porque, se calhar alguns se lembrarão, já nessa altura andava a ser gizada a invasão pelo PAIGC à Guiné.
Contava-me o Henrique que tinha recebido directrizes no sentido de adaptar a "Dreyse” com mira anti-aérea, e alguma informação sobre os Mig 21, o que na realidade lhe dava um gozo muito grande, porque era ridícula a situação, ele até dizia: - Tenho Dreyse, tenho balas, só não tenho é miras. Eu sinceramente aprendi a dar uns tiritos com a G3 mas não fiquei fã dela, usando-a só para a fotografia.
Após esta divagação passemos então à aventura e digo "aventura" porque se não existir alguma na nossa vida, esta torna-se muito insossa, mas também se tratou no essencial de Amor e Companheirismo e assim sendo, "pés ao caminho" que é como quem diz avião e Bissorã. Mais tarde conto a odisseia com praga de gafanhotos e tudo em Bissau.
Aprendi muito com o povo de Bissorã assim como com a camaradagem "possível" entre militares no Natal de 1973 com o meu marido a festejar o Natal e a provável porrada aplicada ao Henrique (já narrada no poste P2356** deste blogue referente ao Natal da Guiné) com aletria, rabanadas e tudo que foi possível arranjar na época.
Aprendi também a gostar de mangas, papaias, mancarra, figo de cajus, etc.
Apanhei uns sustos com os ataques a Bissorã. Lembro-me com saudade de um amigo nosso, o Cabo Mecânico da CCAÇ13 de nome AZEVEDO que era da região de Lisboa que num desses ataques a Bissorã, ao correr junto com o Henrique para a nossa tabanca, caiu numa vala e abriu o maxilar com alguma gravidade.
Nesta foto: Sanhã, Zinha, Ni com a G3, fiel amigo Inhatna Biofa e o Miguel Nuno com um amiguinho
Tenho muita saudades do nosso amigo INHATNA BIOFA que era um rapazinho de 16 anos que acompanhava sempre o Henrique desde o Biambe. Era um jovem de grande carácter e aqui faço um parêntesis para contar uma história muito simples do Inhatna.
Certo dia estávamos todos à mesa a almoçar com o Inhatna como sempre e poisaram duas moscas na mesa. Ora o Henrique pega num utensílio para matar as moscas. De imediato o Inhatna diz: - Furiel... Furiel não mata, elas (as moscas) só estão a falar e já vão embora...
Nós ficamos parados a pensar no forte sentimento humano e a força de carácter do Inhatna pois que ele o fazia com todos os animais incómodos, nunca matava, só enxotava. E é nestas coisas tão simples que se aprende a ver as importantes. Esta história é muito simples mas eu jamais a esqueci assim como ao nosso amigo INHATANA BIOFA.
Bom. Já chega por agora e já vai longa a escrita, mas são vocês os culpados que pediram. Mais tarde narrarei outras histórias mas só de acontecimentos agradáveis e engraçados só foi possível viver naquela altura, naquela situação e no país que foi, a Guiné.
NI e Henrique Cerqueira na actualidade
Um beijo para todos os Tertulianos e Camaradas da Guiné e uma saudação muito especial para todos e todas que já não estão fisicamente entre nós.
NI (Maria Dulcinea Rocha)
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8281: Tabanca Grande (283): NI (Maria Dulcinea Rocha), esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira, que com o filhote de ambos se pôs a caminho de Bissorã onde fez companhia ao marido nos anos de 1973 e 1974
(**) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2356: O meu Natal no mato (2): Bissorã, 1973: O Milagre (Henrique Cerqueira, CCAÇ 13)
terça-feira, 17 de maio de 2011
Guiné 63/74 - P8287: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (5): Filme "Quem Vai à Guerra", de Marta Pessoa, no circuito comercial, em Lisboa, Porto e Aveiro, a partir de 16 de Junho
Rosa Serra, ex-enfermeira pára-quedista e membro da nossa Tabanca Grande
Giselda Pessoa, ex-enfermeira pára-quedista e membro da nossa Tabanca Grande
Cristina Silva, ex-enfermeira pára-quedista (ferida em combate emm Moçambique)
Anabela Oliveira, casada com um ex-militar vítima de stresse pós-traumático de guerra e hoje viúva (se a memória me não falha)
Isilda Alves, professora, casada com um ex-militar vítima de stresse pós-traumático de guerra, e hoje viúva
Lucília Costa, casada com um ex-militar vítima de stresse pós-traumático de guerra, ainda vivo (segundo informação do nosso camarigo Silvério Lobo, de Matosinhos, que é amigo do casal)
Manuela Castelo, viúva de um oficial pilav, morto em combate (Julgo tratar-se do Cap Pilav Fernando José dos Santos Castelo, piloto do AL III, morto em M oçambique, em 7 de Março de 1974, segundo informação recolhida pelos nossos camaradas do Portal Ultramar Terraweb, relativos ao militares da FAP, mortos em serviço entre 12 de Abril de 1959 e 14 de Novembro de 1975)
Manuela Mendes, esposa que acompanhou o marido, médico (miliciano, se não me engano)
Maria Lurdes Costa, casada, que acompanhou o marido em África (Angola, se não me engano; é irmã do nosso camarada José Martins)
Maria Alice Carneiro, irmã de 2 militares em África (Moçambique e Angola), e correspondente de outros militares nos três TO
Estas são algumas das 21 mulheres que entram no filme, e que ficam aqui listadas por ordem alfabética (na próxima publicaremos mais fotos):
Ana Maria Gomes, Anabela Oliveira, Aura Teles, Beatriz Neto, Clementina Rebanda, Conceição Cristino, Conceição Silva, Cristina Silva, Ercília Pedro, Fernanda Cota, Giselda Pessoa, Isilda Alves, Júlia Lemos, Lucília Costa, Manuela Castelo, Manuela Mendes, Margarida Simão, Maria Alice Carneiro, Maria Arminda Santos, Maria Augusta Filipe, Maria De Lourdes Costa
Fotos da rodagem do filme Quem Vai à Guerra, disponíveis no mural da respectiva página no Facebook (Aqui reproduzidas com a devida vénia...)
Uma das mulheres da nossa Tabanca Grande que também foi à guerra é a Maria Dulcineia Rocha, esposa do Henrique Cerqueira... Fica aqui lançado, não o repto, mas o convite, para ela partilhar connosco, em primeira mão, as suas recordações de Bissorã... Já conhecemos a versão do Henrique, mas não a da Ni (seu "nickname" ou nome de guerra)...
3. E, já agora, fica aqui a notícia para todos os nossos leitores: não percam o filme (documentário) da Marta Pessoa, Quem Vai à Guerra, que vai entrar no circuito comercial, no dia 16 de Junho próximo:
Lisboa, Cinema Cirty Classic Alvalade
Porto, Zone Lusomundo Mar Shoping
Aveiro, Zon Lusomundo Fórum Aveiro
FICHA TÉCNICA
Realização > Marta Pessoa
Direcção de Fotografia > Inês Carvalho
Cenografia > Rui Francisco
Montagem > Rita Palma
Direcção de Som > Paulo Abelho, João Eleutério e Rodolfo Correia
Maquilhagem > Eva Silva Graça
Marketing e Comunicação > Fátima Santos Filipe
Direcção de Produção > Jacinta Barros
Produtor > Rui Simões
Produção > Real Ficção
Recorde-se aqui a sinopse do filme, que tem duas horas e 10 minutos de duração:
« Entre 1961 e 1974, milhares de homens foram mobilizados e enviados para Angola, Moçambique e Guiné-Bissau para combater numa longa e mal assumida guerra colonial. Passados 50 anos desde o seu início a guerra é, ainda hoje, um assunto delicado e hermético, apoiado por um discurso exclusivamente masculino, como se a guerra só aos ex-combatentes pertencesse e só a eles afectasse. No entanto, quando um país está em guerra, será que fica alguém de fora? 'Quem vai à Guerra' é um filme de guerra de uma geração, contada por quem ficou à espera, por quem quis voluntariamente ir ao lado e por quem foi socorrer os soldados às frentes de batalha. Um discurso feminino sobre a guerra.»
Fica também aqui um excerto da nota do crítico de cinema o Semanário Expresso / Suplemento Atual, Jorge Leitão Ramos (com a devida vénia...)
(...) "As mulheres dos soldados portugueses estiveram na guerra, viveram-na, em forma de receios e palavras escritas em aerogramas censurados, ou na descoberta de terras e modos de vida diferentes, com a urgência e o medo a marcar-lhes o quotidiano.
"Para o grupo de 46 enfermeiras pára-quedistas, únicas mulheres militares, a realidade era a da experiência directa da guerra, dos ataques, das evacuações, das mutilações e mortes dos soldados que ao longo desses 13 anos de guerra socorreram.Há nestas mulheres uma história da guerra colonial portuguesa. Quem Vai à Guerra recria em estúdio, a partir dos objectos, fotografias e ambientes mais marcantes destas memórias femininas, um espaço de apresentação de testemunhos, onde as mulheres partilham as suas histórias de guerra. Em cenários de assumida teatralidade, vão sendo construídas as imagens femininas da guerra, onde os universos doméstico e bélico se cruzam. Cenário feito também de violência e da desolação de uma guerra, contrariando um olhar romântico, que tão rapidamente se pode tornar nostálgico.Se há algo que sobressai do discurso feminino sobre a guerra é a ideia de que esta é sempre iníqua e devastadora. Afinal, é de guerra que se fala.
“A guerra colonial é olhada aqui pelo lado feminino: esposas, noivas, correspondentes, enfermeiras de guerra, companheiras na retaguarda... Experimentam a dor de ver morrer combatentes ou de suportar as sequelas longos anos, testemunhando uma vívida e diferente perspectiva” (,,,)
Jorge Leitão Ramos in ATUAL / Jornal EXPRESSO
Reproduzido, com a devida vénia, do blogue da Real Ficção, o produtor do filme, que também reproduziu algumas das nossas fotos da ante-estreia, no Grande Auditório da Culturgest
4. Conforme peça da Lusa, de 13 do corrente, reproduzido no portal Sapo Notícias, "as mulheres, Marta Pessoa descobriu-as em todo o lado. E achou que havia uma história de guerra para ser contada. Na internet, há 'uma espiral que nunca mais acaba' de coisas sobre a guerra, mas tudo 'muito cerrado no ponto de vista masculino (...) 'As mulheres portuguesas não falam. Não há registos femininos. O Estado Novo pior ainda, não houve pior momento para a mulher do que o período da ditadura', afirmou a realizadora em entrevista à Lusa.
"Marta Pessoa criou um teatro de guerra - com o cenógrafo Rui Francisco e a fotógrafa Inês Carvalho - e cada uma das mulheres conta a sua história no cenário que lhe corresponde. Foi tudo filmado no espaço A Capital, onde antes estavam os Artistas Unidos. A ideia foi 'fazê-las sair da casa, deslocá-las da zona de conforto, tirá-las das distracções domésticas', explicou a realizadora. 'Tinha curiosidade em ver como é que o discurso, sendo deslocado do espaço habitual, seria transmitido', reconheceu Marta Pessoa que com este filme quis 'espelhar um bocado a realidade da guerra - os soldados iam para a guerra de todo o lado, não era só no Interior, não era só no Litoral, não era só no Norte, não era só no Sul.
"A realizadora não esconde a ligação pessoal. Nascida em 1974, é filha de um militar de carreira, que esteve na Guerra Colonial, na Guiné-Bissau, e estudou num colégio interno, onde tinha amigas órfãs de guerra. 'Se a minha mãe não tivesse ficado à espera [do meu pai] eu teria feito este filme? Não sei, mas também é muito difícil encontrar pessoas da minha geração que não tenham alguém na família que não tenha tido alguma relação com a guerra. A guerra não afectou só as pessoas que foram, afetou os que decidiram não ir', mulheres e homens' "(...)
Vd. também o nosso blogue
9 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8249: Agenda cultural (122): Sexta feira, 13, estreia, em Lisboa, do documentário Quem vai à guerra, de Marta Pessoa: as histórias do heroísmo (invisível, no feminino) que ficaram por contar
11 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8259: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (3): O(s) discurso(s) feminino(s) (Luís Graça)
14 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8274: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (4): As primeiras fotos da estreia do filme "Quem Vai à Guerra", de Marta Pessoa (Luís Graça)
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