segunda-feira, 25 de março de 2013

Guiné 63/74 – P11313: Guiné 63/74 – P11313: Memórias de Gabú (José Saúde) (26): Sexo em tempo de guerra. Tabu?


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.



Sexo em tempo de guerra



Tabu?



Indolente, obesa e com um falar melodioso a mulher grande impunha respeito à plebe que por norma a rodeava. A sua tabanca, simples e despida de preconceitos, situava-se entre o Quartel onde estava instalada a CCS do BART 6523 e Nova Lamego. Um passeio noturno da rapaziada levava o pessoal a uma visita espontânea a casa da mulher grande. 

Noites que procediam ao recebimento do fresco pré eram, normalmente, sinais evidentes para uma emboscada dos soldados à porta da idosa senhora. 

É do conhecimento geral, e não vamos escamotear a inequívoca verdade porque se sabe que o contraditório de opiniões existentes obedece a uma vénia e profunda reflexão, que o sexo foi sempre uma evidente prática comum entre os seres viventes. Desde os primórdios da humanidade que o ato se pratica em toda a sua extensão. Refere a Bíblia, património universal da Religião Cristã, que já Adão e Eva assumiram o sexo, ainda que virtualmente escondido, mas que no momento de calor e compaixão uniram os seus órgãos genitais e consumaram uma relação sexual. 

Neste contexto, importa assumir o ato com frontalidade e não optar pela surdez, procurando o eventual pecador (?) espontâneo imitar a velha avestruz num austero deserto Australiano: esconder a cabeça na areia para passar como um ser imaculado! 

Os tempos de guerra, prova-se cientificamente, são propícios a encontros amorosos. A guerra do ex Ultramar não passou incólume a desvarios praticados e não assumidos. 

A Guiné não foi um caso à parte. Em Nova Lamego, independentemente de encontros amorosos sob um silêncio colossal, havia quem fizesse render as aventuras de jovens em plena ascensão sexual a troco de patacão. Os pesos (escudos) na Guiné eram bênçãos divinas. Na minha conceção, embora discutível, admito que o ato sexual praticado pela mulher não passava exclusivamente por uma mera venda do corpo mas pela maneira mais prática em realizar uns magros pesos para sustentar inadiáveis compromissos familiares. 

Negócio? Isso era compromissos de gentes feitas com o sistema. A mulher grande que eu conheci em Gabu tratava o assunto com uma ligeireza perversa. “Arranjava” bajudas e a malta despejava os seus espermatozóides em vaginas dilaceradas pelos muitos serviços prestados. Consequências? Tudo era tabu! Há quem se refugie numa mítica opção tentando a todo o custo tapar o sol como uma peneira. 

Tímidos e envergonhados afirmavam que voltaram virgens. As mãos arrogaram-se às brincadeiras de putos. Parafraseando um velho político, já falecido, num momento áureo da Revolução de Abril, dizia ele para o camarada ao lado: “olhe que não!”… 

Não constringiremos cenas passadas. Verídicas! Assumo que não fui imaculado. Hoje, tal como sempre, dou a cara. Deixo em prosa uma etapa da vida que não me passou ao lado. Pratiquei atos sexuais, sim senhor, como tantos outros camaradas de armas em terras guineenses. 

Afirmo, com segurança, que numa noite quente eu e outro camarada, furriel miliciano da minha Companhia, ousámos desafiar a escuridão da tabanca e fomos parar junto a um casal de idosos que gentilmente nos recebeu propondo-nos, de seguida, uma visita à casa do lado, onde uma bajuda feita a favores sexuais nos recebeu. Aceitámos. 

Discutimos o valor, acertámos o custo e, isoladamente, lá fomos fazer o respectivo serviço. Depois de pagarmos e no meio de uma franca cavaqueira apareceu-nos a bajuda, aquela que tinha saciado os nossos eternos anseios carnais, com uma deficiência descomunal numa das pernas. Infelizmente era coxa. 

Ressalve-se, porém, que a rapariga era de facto bonita mas as contingências da vida carimbou-a com um enorme defeito físico. Olhámos um para o outro e em mansinho comentámos: “a nossa amante foi mesmo esta bajuda? Muito bem, o serviço está feito e nada a comentar”, ficou a experiência. 

Chegados ao Quartel, como era hábito, tomámos um delicioso banho com água barrenta e introduzimos na uretra do pénis uma milagrosa pomada que, ao que tudo indicava, queimava o mais atrevido intruso verme que, ocasionalmente, procurava poiso numa outra superfície humana desconhecida. 

Numa outra noite e com a luz ténue de um candeeiro já à meia haste, fui ter com a mulher grande e perguntei-lhe se por acaso havia bajuda nova: a mulher já experiente nestas andanças e com um olhar vazio, olhou-me de alto a baixo e atirou-me com esta: “ei furrie você é comando… manga di mau”. 

Sinceramente não me apercebi da sua ligeireza ao detetar no camuflado os dísticos que sempre transportava na farda. Acalmei-a e disse que era na verdade ranger, não comando, mas mau… nunca. Coloquei em solene a minha forma de ser e a cordialidade que sempre marcou a minha amizade para com o próximo. A conversa prolongou-se e às tantas, e num repente, a mulher grande brindou-me com o meu anseio. Ficou a certeza que outros desejos se seguiram. 

De outros encontros pseudo amorosos ressalta também uma visita ao bairro do Pilão, em Bissau. Vagueando entre a imprevisibilidade de ruelas de tabancas nada iluminadas, algumas completamente às escuras, acompanhado de um velho amigo, desafiei o imprevisto e fui ao encontro dos eternos desejos sexuais. Confesso que cheguei a temer a aventura. Passaram por nós homens negros, altos, de túnicas compridas, enfim, silhuetas que a determinada altura nos levaram a duvidar da fartura. Cumprimentávamos e eles, simpaticamente, respondiam. Tudo ok, comentámos. 

O Pilão era um bairro dos subúrbios de Bissau onde a malta da metrópole por norma não passeava. A noite tinha um cunho arrojado. A palavra passava e os tropas arrepiavam caminho. 

Porém, ousei desafiar essa perigosidade e encontrei uma jovem mulher de corpo descomunal, a quem me entreguei por alguns momentos de delírio sexual. Paguei e aventura terminou aí. Nunca mais a vi! 

Concluindo: Porquê escamotear verdades de jovens entregues a elementares gostos sexuais procurando, nalguns casos, tentar passar isento a constrangimentos entretanto criados? Tabu? Ou consequências lógicas dos nossos verdes anos? 

Resenha final: ASSUMAMOS! Deus fez o homem e a mulher e projetou os dois seres com um fim comum: AMAR E… PROCRIAR.




Um abraço deste alentejano de gema,

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523


Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P11312: Tabanca Grande (391): António Baldé, fula, natural de Contuboel, português, apicultor, pai do Umaro e da Alicinha, ex-1º cabo, CIM, Bolama (1966/69), Pel Caç Nat 56 (São João, 1969/70) e CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71), grã-tabanqueiro nº 610

1. António Baldé, fula, nasceu em Contuboel em 1944.  [Foto à esquerda, Alfragide, 27/7/2012]

Foi educado, até aos 12 anos, pelo chefe de posto local, o português José Pereira da Silva, ainda hoje vivo. (Mora em Oeiras, é vizinho da decana do nosso blogue, a dra. Clara Schwarz, mãe do nosso amigo Pepito.)

Fez a 4ª classe e isso abriu-lhe outras portas que outros miúdos da sua tabanca não puderam abrir. Lembra-se bem da serração do Albano, que ainda existia no meu tempo (junho/julho de 1969, quando Contuboel foi Centro de Instrução Militar, donde saíram, de entre outras, as futuras CART 11 e a CCAÇ 12).

Em 1966, foi chamado para a tropa. Fez a recruta e a especialidade no CIM de Bolama. Ficou lá dois anos. Promovido a 1º cabo, de artilharia, foi instrutor. Lá se formaram diversos Pel Caç Nat. Em 1969 é transferido para o Pel Caç Nat 56, sediado em S. João, frente a Bolama.

Em 1969 casou-se. Será o primeiro de quatro casamentos. Teve ou tem 15 filhos, o último dos quais a Alicinha do Cantanhez, filha da nalu Cadi Indjai (1985-2013).

Desse tempo, e do tempo do Pel Caç Nat 56 e 67, lembra-se com saudade dos furriéis Gil e Nuno, que gostaria de voltar a encontrar. Não faz ideia do seu paradeiro. Em São João esteve em 1969/70. 

Será depois transferido para a CART 11, que estava em Paunca. Esteve por lá em 1970/71. O comandante do seu pelotão era o alf mil Matos, que é de Ovar, e com quem ainda hoje convive e fala ao telefone. Já foi a um (ou mais) dos convívios da companhia. Esteve no destacamento de Sinchã Queuto [que eu só localizo a norte de Bafatá, e a sul de Contuboel, no mapa de Bafatá].

Saiu da tropa em finais de 1970 ou princípios de 1971. A mulher tinha ficado em Bolama. Assistiu depois à independência. Não tem boas memórias de Bambadinca desse tempo (teve de assistir a julgamentos populares selvagens e a execuções sumárias, bárbaras, pelo menos de um polícia admimistratibo e de um régulo, "inimigos púbicos nº 1 do PAIGC).  Mas não teve, felizmente para ele,  quaisquer problemas com os novos senhores da Guiné-Bissau. 

Ainda antes da independência tinha começado a trabalhar nos serviços agrícolas da província. Fez formação em floricultura, se não me engano. Foi ele e outros estagiários quem fez o jardim do Bairro da Ajuda, em Bissau, no tempo do administrador Guerra Ribeiro. Depois da independência começou a trabalhar com o engº agr Carlos Scwharz, no DEPA, na região de Tombali. Tem uma grande admiração pelo Pepito e pelo trabalho dele em prol do desenvolvimento da sua terra. (É cofundador, se não erro, e cooperante da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento).

No princípio deste século, veio a Portugal fazer um curso de apicultura, que é hoje a sua grande paixão. Acabou por ficar. Trabalhou como segurança numa empresa de construção, no concelho de Cascais. Entretanto, obteve a nacionalidade portuguesa. Tem um filho, de 13 anos, o Umaro Baldé, que vive com ele e que está a frequentar o 7º ano de escolaridade obrigatória, em Alfragide, e que ser informático.

De momento está desempregado. O seu sonho é voltar a Caboxanque onde tem casa, junto ao rio Cumbijã,  e desenvolver o seu projeto de apicultura no Cantanhez. Mas tem dois filhos pequenos para criar. Muçulmano, vai todas as sextas feiras à mesquita de Lisboa. É um bom crente. É uma homem afável, conhece meio mundo, e pediu-me para ingressar na Tabanca Grande. Está interessado sobretudo em partilhar os seus conhecimentos e a sua paixão como apicultor.


2. Comentário de L.G.:

[Foto à direita: Luís Graça e António Baldé, Alfragide, 27/7/2012]

Conheci o António Baldé, o verão passado, através da Alice Carneiro, minha mulher e nossa grã-tabanqueiro. Na altura escrevi o seguinte, em comentário ao poste P10213:

"A Alice, minha mulher, e nossa grã-tabanqueira, tem uma "afilhada" nalu, a Alicinha do Cantanhez. Aliás, temos. Assumo o meu papel de "padrinho". É amorosa, a filha da Cadi, que ela conheceu no sul da Guiné, em março de 2008. A Cadi é uma rapariga linda, um torrão de açúcar. Já teve um filho que lhe morreu, de paludismo, aos 4 meses. O Nuninho. Escrevi-lhe um poema. Era afilhado da Júlio e do Nuno Rubim.

[[Foto à esquerda: António Baldé e Alice Carneiro, Alfragide, 27/7/2012]

"A Alicinha tem sobrevivido. Conheci há dias o pai, António Baldé, fula, e nosso antigo camarada. Fez a tropa na CCAÇ 11, em Paunca. É natural de Contuboel. Tem 67 anos. Só conhece a filha de fotografia e vídeo. É um pai babado. Vive em Portugal há cerca de 10 anos. Somos nós que lhe damos notícias da mãe e da filha. 

"Tem casa em Caboxanque na margem esquerda do Rio Cumbijã. Um dia prometo ir lá passar umas férias. É apicultor, e quer votar à sua terra. Espantoso, como o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Ele vivia na zona de Cascais, onde era segurança. A empresa fechou, o Baldé está no desemprego. Um advogado, seu amigo, arranjou-lhe casa em Alfragide. Somos, pois, vizinhos de 'tabanca'. Vou vê-lo mais vezes. Só há dias é que o conhecemos. Um homem tranquilo e sábio, que trabalhou com o Pepito muitos anos em projetos agrícolas. Foi assim que esse foi parar ao sul.

"Ajudou-nos agora a fazer sumos com os frutos secos que a Cadi nos mandou, através do nosso amigo Pepito: veludo, cabaceira, alfarroba... Os sumos são uma delícia... Mãe e filha estiveram muito doentes, no princípio do ano. Valeu-lhes a ajuda dos nossos amigos Pepito, Zé Teixeira e Tiago Teixeira a quem deixamos aqui a manifestação pública do nosso agradecimento. Muito em particular, ao Dr. Tiago Teixeira, que tem uma relação especial com o hospital de Cumura, gerido pelos franciscanos. (...)"

Este fim de semana o António Baldé veio cá casa, com o filho,  almoçar. (O Umaro está com o pai desde os 6 anos.) Conversámos longamente. O seu sonho é poder legalizar os papéis do seu casamento (tradicional) com a Cadi e trazer para Portugal a sua filhota, a Alicinha, de 3 anos, agora órfã de mãe.  Não é fácil,  quando se está longe e é preciso vencer uma dupla barreira burocrática, a do seu  país de origem (a Guiné-Bissau) e a do seu país de adoção (Portugal).

Pois, bem, António, passas a ser o grã-tabanqueiro (quer dizer,  membro da nossa Tabanca Grande) nº 610. Vais ter oportunidade de me contar mais histórias o teu tempo de Guiné e de tropa. Espero que Alá te ajude a concretizar os teus sonhos, de pai e de apicultor. Da nossa parte, já sabes, tens aqui uma Tabanca Grande, cheia de amigos e camaradas... Sê bem vindo!
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11249: Tabanca Grande (390): Ismael Augusto (ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), novo grã-tabanqueiro, nº 609

Guiné 63/74 - P11311: Convívios (506): III Almoço mensal da Tabanca Ajuda Amiga, dia 28 de Março próximo na Cantina da Associação de Comandos, em Oeiras (Carlos Fortunato)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Fortunato (ex-Fur Mil da CCAÇ 13), dirigente da ONGD Ajuda Amiga, com data de 24 de Março de 2013:

Camaradas
Junto envio a noticia sobre o almoço da Tabanca Ajuda Amiga, e a campanha da ONGD Ajuda Amiga em curso para recolha de cobertores e bolas. Os cobertores serão distribuidos em Portugal e na Guiné-Bissau, e as bolas serão todas distribuidas na Guiné-Bissau, os bens seguirão nos nossos contentores um com chegada prevista em Novembro deste ano, e outro em Março de 2014.
Decorre ainda outra campanha, a da angariação da consignação de 0,5% do IRS, a componente financeira é fundamental para se conseguir realizar qualquer projecto, mesmo com trabalho exclusivamente voluntário, e os membros da Ajuda Amiga a suportarem as suas deslocações, e acontribuirem para os projectos..

Em 2013 recebemos 2.020,49 euros, relativos ao ano de 2011, e aproveitamos para agradecer a todos os que contribuiram de algum modo para a mesma.

Fazer uma declaração de IRS solidária, que irá ajudarmos a apoiar os mais desfavorecidos e não tem quaisquer custos para quem a faz, mas que permitirá à Ajuda Amiga, a consignação de 0,5% do IRS que liquidar, assim na declaração de IRS, no modelo 3, anexo H, campo 9 (campo reservado à consignação fiscal), basta indicar o NIPC 508 617 910, e marcar um “X” assinalando que se trata de uma Pessoa Colectiva de Utilidade Pública.

IRS SOLIDÁRIO

Mais uma vez obrigado pela colaboração, que tem sido preciosa.
Um alfa bravo
Carlos Fortunato

 Simbor


ALMOÇO MENSAL DA TABANCA AMIGA

A "Tabanca Ajuda Amiga", vai realizar como habitualmente o seu almoço mensal na ultima 5ª feira de Março, dia 28/3, entre as 12h45 e as 13h00.

O último almoço contou com 20 presenças. Neste almoço quem se quiser associar à campanha de recolha de cobertores e de bolas para as crianças, pode aproveitar para as entregar neste convívio. Os cobertores serão distribuídos em Portugal e na Guiné-Bissau, e as bolas serão todas distribuídas na Guiné-Bissau.

O almoço é realizado sempre na última 5ª feira do mês na cantina da Associação de Comandos, sediada no Regimento de Artilharia de Costa, 3ª Bataria, na Laje, em Oeiras, o prato é a famosa Cachupa ou Carapauzinhos Fritos com Arroz de Grelos.

O caminho para a mesma é por Paço de Arcos, pela Avenida Engº Bonneville Franco (junto à Marginal perto da Escola Naval), no fim da avenida segue-se por uma estrada de terra batida, que termina na referida antiga unidade.

É um almoço de convívio entre associados da ONGD Ajuda Amiga, associação muito ligada à Guiné, antigos combatentes e amigos da Guiné, imbuído do espírito de solidariedade que tem caracterizado estas Tabancas.

O almoço tem o custo de 9 euros. Devem ser feitas reservas o mais tardar até 4ª feira às 12h00, para o 917 248 557 Sra. Marília ou 934 125 679 Sra. Sónia, indicando o prato pretendido (para o mesmo poder estar assegurado).

Outras noticias sobre estes almoços podem também ser consultadas em:

http://pt-pt.facebook.com/pages/Tabanca-Ajuda-Amiga/156733857807547
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/03/guine-6374-p11198-convivios-496.html
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/02/guine-6374-p11152-convivios-494-ii.html
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/02/guine-6374-p11056-convivios-490.html
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/01/guine-6374-p11019-ser-solidario-140.html
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11295: Convívios (505): Almoço de confraternização do pessoal da CCS/BCAÇ 4612/72, dia 27 de Abril de 2013 em Faro (Jorge Canhão)

Guiné 63/74 - P11310: Memória dos lugares (227): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Parte II)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Alouette III, a descolar do heliporto local. O piloto era o Coelho, diz a legenda do fotógrafo, o Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp, meu camarada da CCAÇ 12... As fotos que se seguem do seu riquíssimo álbum fotográfico: diapositivos digitalizados.



Guiné > Zona leste > Estrada (alcatroada) Bambadinca - Bafatá > Em meados de 1969, era o único troço de estrada alcatroada em todo o leste...


Guiné > Zona leste > Estrada Bambadinca - Bafatá >  1969 > Coluna da CCAÇ 12, a caminho de Bafatá, vendo-se ao fundo uma AM (autometralhadora) Daimler, do Pel Rec Daimler 2046, instalado em Bambadinca, e que era comandado nesse tempo pelo Alf Mil Cav Jaime Machado. Em primeiro plano, o 1º cabo Alves, do 2º Gr Comb da CCAÇ 12, o "Alfredo", alcunha que lhe foi posta pelo Humberto Reis.


 Guiné > Zona leste > Estrada Bambadinca - Bafatá > uiné >  1969 > As voltinhas do Rio Geba Estreito (ou Xaianga), entre Bambadinca e Bafatá, vistas de heli... [Veja-se aqui o mapa de Bambadinca, 1955, escala 1/50 mil]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > 1969: A bela ponte, em cimento armado, sobre o rio Geba na estrada Bafatá-Geba, a noroeste de Bafatá...Sobre esta ponte escreveu Jose Manuel Fernandes: "De dimensão grandiosa no seu contexto, constitui uma significativa obra pública, anterior a 1966. Com uma tipologia estrutural de algum modo análoga à do Viaduto Duarte Pacheco em Lisboa e à da ponte sobre o Rio Tua, dos anos de 1940 (embora estas com arco único), apresenta uma estrutura em betão armado, com sucessivos arcos suportando pilares retos, que por sua vez sustentam o tabuleiro superior".



Guiné > Zona leste > Bafatá > Vista aérea > Foto nº 3 > > Tabanca dos arredores de Bafatá, junto ao rio Geba...

[Esclarecimento do nosso amigo e grã-tabanqueiro Cherno Baldé, que viveu em Bafatá emquanto estudante, a seguir à independência: "Tudo indica que a foto n. 3 apresenta uma vista parcial do Bairro da Ponta Nova (Ponta Nobo, em crioulo) e a aproximação à baixa da cidade (Mercado Central e cais de acostagem no rio) faz-se do ângulo Noroeste, do lado da Ponte sobre o Geba cuja estrada leva para Camamudo, vila de Geba e Banjara. O Bairro da Rocha, como o nome indica, está situado um pouco mais acima, no planalto, na saída para Gabu (Nova Lamego]."



Guiné > Zona leste >  Bafatá > Vista aérea > Foto nº 7 - A >  O núcleo central de Bafatá, vista de noroeste para sudeste...Ao fundo o rio Colufe, afluente do Rio Geba, e a respetiva ponte, em betão... Vê-se também ao fundo a rua do mercado, o cinema,  bem como a rua principal que ia desembocar na zona ribeirinha, ajardinada, onde ficava a piscina (*)...


Guiné > Zona leste > Bafatá > Vista aérea > Foto nº 7- B > O Rio Geba à direita, navegável, e o seu afluente, o Rio Colufe, à esquerda... Ao meio, o porto fluvial.


Guiné > Zona leste > Bafatá > Vista aérea > Foto nº 4-A > Aproximação a Bafatá,  vindo do oeste, e ao longo do rio Geba...


Guiné > Zona leste > Bafatá > Vista aérea > Foto nº 4- B > Bafatá e o Rio Geba, vistos de oeste.

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]

1. Mais vistas áreas de Bafatá e do percurso Bambadinca-Bafatá, tiradas pelo fotógrafo  Humberto Reis,  meu amigo, vizinho e camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). O Reis tinha vários amigos e conhecidos na FAP (como era o caso do Coelho, que pilotava aquele magnífico heli AL III, acima reproduzido) e, de vez em quando, apanhava uma boleia de helicóptero ou de DO 27. Estas fotos foram tiradas de heli. E tem uma excelente resolução (mais de 2 MG), o que permitiu o seu recorte em várias imagens parciais.

Continuo a pedir ao próprio e aos demais grã-tabanqueiros que conheceram bem Bafatá, como o Fernando Gouveia, antigo alf mil em Bafatá, no Comando de Agrupamento nº 2957 (1968/70), autor do livro "Na Kontra Ka Kontra" , e arquiteto de profissão, para as comentar e completar a legendagem.

Amigos e camaradas, são imagens notáveis, raras e únicas, que nos ajudam a matar saudades da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba.  Quem, do leste, nunca passou por (ou esteve uma horas em) Bafatá ? Vários tiraram lá a carta de condução!... Bafatá era sede de concelho, e a partir de março de 1970, a segunda maior cidade da Guiné. A malta de Bambadinca ia com frequência a Bafatá,  para mudar de ares, sempre que a intensa atividade operacional o permitia (, no caso por exemplo da malta da CCAÇ 12). Ia-se de manhazinha e voltava-se à tarde. Em geral, ia sempre a acompanhar-nos uma velhinha autometralhadora Daimler para impressionar a fauna e a flora... A viagem era segura, no meu tempo (1969/71). se bem que houvesse acidentes por excesso de velocidade... Também era em Bafatá que se apanhava o Dakota para Bissau. Nunca fiz a viagem de barco, de Bambadinca a Bafatá, em barcos civis, mas hoje tenho pena... Levava não sei quantas horas, com aquelas voltinhas todas do Rio Geba Estreito... (LG).



Guiné > Mapa de Bafatá (1955) (Escala 1/ 50 mil) >  Pormenor da localização de Bafatá.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)



Guiné > Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor da zona leste (região de Bafatá) >  A estrada que ia de Xime para Bambadina e Bafatá e que depois seguia, ora para norte (Contuboel), ora para leste (Gabu) mas também para o sul (Bambadinca, Mansambo, Xitole e Saltinho) ou sudoeste (Galomaro, Dulombi, Quirafo e Saltinho).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)

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Nota do editor:

(*) Vd poste anterior da série > 22 de março de 2013 >  Guiné 63/74 - P11293: Memória dos lugares (226): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Parte I)

Comentários [Seleção]

Fernando Gouveia 

Humberto Reis e Luís Graça:

Magnífico poste. Porém como passei dois anos em Bafata (quando em 2010 estive lá numa escola os profes ensinavam a escrever Bafata sem acento), permito-me fazer algumas correcções:
1 – Em nenhuma foto se chegam a ver as estradas para Bambadinca e Xime, bem como para Nova Lamego, porque elas partiam de uma rotunda junto ao “Sr. Teófilo” que ficava lá para cima e fora da foto.
2 – Na foto 5-E não se chega a ver o cinema que é mais para a direita, na rua perpendicular à Av. Principal. O restaurante Transmontano vê-se, mas mal, por trás de umas árvores, um pouco antes da igreja mas à direita quem sobe.
3 – Na foto 5-F não se vê a mesquita pois ficava longe, lá para a tabanca da Rocha, para lá do “Sr. Teófilo”.
4 – Acrescento da minha lavra que na 1ª foto se vê a velha ponte sobre o rio Colufe, afluente do Geba, e que quando fui lá em 2010 já tinha caído.
Sobre este assunto mandem sempre, pois Bafata ficou no meu coração.
Um grande abraço. Fernando Gouveia
Sexta-feira, Março 22, 2013 8:25:00 PM

Torcat Mendonca [CART 2339, Mansambo, 1968/69]

Cidade bonita e óptimas fotos. Difícil localizar edifícios, para mim claro, mais de quarenta anos depois. Ia pouco lá. Era um prémio depois dum ronco, uma ida ao correio etc. Depois eram passagens pelo comércio, mercado, Transmontana, piscina uma vez e bêbado, cinema em noite de problemas. Passei mais que uma vez pelo ourives. Sempre que podia passava pela Tabanca para apresentar cumprimentos especiais. Era gente que conheci do tempo em que estive em Fá.
Obrigado pelo momento - a foto é sempre o momento, em instante captado ou recordado -, ao Humberto e ao Luís. Ainda ao Gouveia que pôs pontos nos iis.Ab T.

Sexta-feira, Março 22, 2013 9:32:00 PM

Abílio Duarte [CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/71]

Gratas recordações que estas fotos trazem, conforme já publiquei anteriormente, estive lá muitas vezes. Piscina e Transmontano. No entanto, não quero deixar de referir, que foi nesta Av Principal, que em 1970, fiz o chamado Ponto de Embriagem, no meu exame de condução, do qual vim com a devida carta.Há uns meses atrás no programa da RTP1,"Portugueses Pelo Mundo", mostraram aquela avenioda toda destruída, e as sua casas abandonadas.Porquê? Que tristeza!Obrigado pelas recordações.

Sexta-feira, Março 22, 2013 10:31:00 PM

Hélder Valério 

Caros camaradas: Gostei de ver estas fotos. Dá para ver (ainda que parcialmente) como era Bafata, e como era relativamente grande e organizada, para a época e local. Passei por lá duas vezes mas não cheguei a parar, pelo que as imagens que tenho são as das fotos que aqui e ali vão aparecendo. Hélder S.

Sexta-feira, Março 22, 2013 11:54:00 PM

Fernando Gouveia

Luís:  Mais uma correcção. A ponte sobre o Colufe era de betão. Quanto ao administrador Guerra Ribeiro que conheci muito bem, lembro-me que quando precisava de pessoal para capinar ou outra coisa qualquer ia com uma camioneta às tabancas e, quase que à força, trazia o pessoal que necessitava, pagando-lhes o salário normal que, naquela época eram 15 escudos por dia.

Sábado, Março 23, 2013 12:36:00 AM

José Botelho Colaço 

Humberto.  merecias ser louvado pelas espectaculares fotos. Ttodos os locais são ou foram do meu conhecimento pois no ano de 1965 passei cerca de oito meses em Bafatá. Quanto ao cinema de facto ficava numa das ruas perpendiculares ao caminho para "Nova Lamego" (Gabu), mas o cinema que eu conheci era uma esplanada,  lembro-me de rever lá o filme "A noiva" com António Prieto e Elsa Daniel). Ficava um pouco ao lado na parte detrás do quartel da Ccaç 557. Nós na parada conseguíamos ver as últimas bancadas da plateia e a música ouvia-se perfeitamente.Colaço.

Sábado, Março 23, 2013 1:24:00 AM

 
José Júlio Nascimento [CART 2520, Xime, 1969/70]

Linda Bafatá, à época fazia inveja a muitas vilas da Metrópole. Por várias vezes lá estivemos, idos do Xime e quando o nosso Furriel Vague mestre ia comprar vacas (verdade!) e nós aproveitámos para passar um dia diferente como almoçar à maneira e comprar algumas recordações. Já vi algumas fotos recentes que mostram que Bafatá está muito degradada o que é uma pena.
José Júlio Nascimento - Cart 2520

Sábado, Março 23, 2013 6:56:00 PM

Fernando Gouveia 

Para todos: Julgo que a casa das libanesas nem era na rua principal nem numa perpendicular, mas sim na rua da sede do Batalhão que, conjuntamente com as ruas principal e a do cinema formavam um triângulo.
Um abraço a todos.

Domingo, Março 24, 2013 11:12:00 PM

Guiné 63/74 - P11309: Notas de leitura (468): Catarse, por Abel Gonçalves (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Novembro de 2012:

Queridos amigos,
Aqui temos um livro escrito por um Padre Capelão, quase inteiramente dedicado às suas duas comissões na Guiné.
Percebe-se rapidamente porque escolheu o título para a sua obra "Catarse": Não esconde os comportamentos mandões, a falta de apoio que sentiu, em diferentes situações, de outros padres e seus superiores.
Teve manifesto orgulho pela sua missão em Bafatá, transcreve o louvor que lhe foi dado pelo BCAV 1905. Ali se diz claramente que tomou a iniciativa de percorrer toda a ação do batalhão para que a assistência religiosa não faltasse às tropas.
É um homem de coragem, confessa a sua admiração por Spínola e Amílcar Cabral. E pede humildemente desculpa por não ter feito livro mais claro e detalhado, conforta-se com a compreensão dos seus leitores.

Um abraço do
Mário


Catarse: As duas comissões na Guiné do Padre Abel Gonçalves

Beja Santos

Vem nos dicionários que a palavra catarse provém do grego, foi utilizada por Aristóteles para designar o processo de purgação ou eliminação das paixões que se produz no espectador quando, no teatro, assiste à representação de uma tragédia. Com a escola psicanalista o método catártico corresponde ao procedimento terapêutico pelo qual uma pessoa consegue eliminar os afetos patológicos revivendo os acontecimentos traumáticos a que estão ligados. Segundo esta última definição, uma parte substancial da literatura da guerra tem tal finalidade.

O Padre Abel Gonçalves foi nomeado pároco de Valença do Douro em 1958, a seguir passou por várias dioceses até que em Março de 1967 foi incorporado no BÇAC 1911, com destino à Guiné. Revive as suas memórias quase como se tivesse um bloco de notas onde registou impressões e estados de alma (“Catarse”, por Abel Gonçalves, edição de autor, 2007). Foi praxado pelo chefe da secretaria, fez-lhe tirar fotografias por quatro vezes. Vêm de Tomar para a Rocha do Conde de Óbidos e embarcam no Uíge em 26 de Abril de 1967. Regista que as praças iam nos porões, em condições desumanas.

Celebrava missa no convés, notou grande afluência e respeito. Filho único, o seu principal cuidado foi tranquilizar os pais, quando pôs os pés em terra. Seguem para o Quartel de Adidos, aí começa o treino para operações no mato. Morre um soldado atirador e ele escreve: “Transido de medo, não sei se da teimosa trovoada, da guerra devorada, do morto inofensivo e sereno ou da obrigação odiosa e cruel de comunicar à família aquela trágica e injusta perda… Parecia que me sentia criminoso por ter de anunciar que já estava morto aquele que vivia ainda num entendimento dos que o amavam. A pior coisa que confiavam aos capelães era esta de anunciar aos familiares a morte de um ente querido”. Nunca se ambientou a Bissau, às conversas com ataques, mortos e mutilados. Descobre, na sucessão dos dias, que um bom punhado de militares tem problemas de saúde, desde a epilepsia à tuberculose.

E rumam para Teixeira Pinto, fica numa pequena residência com chão e cimento junto de uma pequena igreja, era visível o aspeto de abandono. Guarda-lhe a casa e acolita-o nos deveres religiosos um menino chamado Albino. É chamado ao batalhão onde lhe comunicam que vai ser nomeado gerente de messe, recusa, alega que o serviço de assistência religiosa é o seu dever e nada mais. E vai para Jolmete, descreve o aquartelamento com as suas torres feitas de cibes, os abrigos, a falta de gerador elétrico, a iluminação era dada por garrafas de cerveja com uma torcida de pano; a casa de banho é constituída por um bidão, ele vinha com pudores entranhados por 12 anos de seminário, ali tinha mesmo que se expor e vencer o acanhamento, resistiu a frases irreverentes e maliciosas. Celebra regularmente missa no Jolmete, num local rodeado por bidões cheios de terra, comparecem crentes e descrentes. Ali perdia-se a noção do tempo, sofria-se pela falta de correio, pela péssima alimentação, pelo silêncio confrangedor, as noites em expetativa. Volta ao Jolmete, é iniciado em emboscadas e em minas. Um dia, dão-lhe ordem para regressar a Bissau, aproveita para vir de férias, sofre pelo alheamento da sua diocese. No regresso, apresenta-se ao chefe dos capelães, indicam-lhe que vai para Bafatá, tem um enorme setor para prestar assistência, estende-se mesmo ao sector de Bambadinca, inclui o Xime e o Xitole, sente-se em missão de paz, a sua arma era o terço do Rosário.

Descreve Bafatá, está contente com o bom ambiente militar, faz amizade com o 2º comandante do BCAV 1905, Andrade e Silva, e regista com satisfação: “No BCAV 1905 até me agradeciam uma colaboração franca e amiga. Compreenderam e respeitaram sempre os limites da minha, por vezes, melindrosa missão de capelão na guerra. Nunca me exigiram que fosse informador pidesco. Dava gosto trabalhar aqui”.

Percorre os destacamentos de lés a lés, faz amizade com os padres missionários e mesmo com a Missão da Sagrada Família de Bafatá, que estava a cargo das Irmãs Hospitaleiras Franciscanas Portuguesas, o seu auxiliar era o 1º Cabo Marques, assim apresentado: “Bondoso, paciente, humilde, simples, sincero, prestável. Só que tinha medo de ir comigo para o mato”.

Visita Bambadinca, o Xime e o Xitole. A viagem para o Xitole foi um calvário, nunca esqueceu o alferes médico, o Dr. Sílvio, seria ele quem comandava o destacamento já que o capitão miliciano, um notário, não queria saber de nada. É o Dr. Sílvio quem lhe receita para o pequeno-almoço umas sopas de vinho fresco, ali estavam os dois, um de cada lado de um bidão de gasolina a beber um vinho muito cristão, teria sido muitas vezes “batizado” pelos lugares onde tinha passado.

Visita sem desfalecimento Camamudu, Catacunda, Fajonquito, Cambajú, Jabicunda, Contuboel, Sare-Cacar, Sara-Banda, Banjara, Sinchã-Jobel, Geba, Sinchã-Dembel, Sinchã-Sulu, Furacunda, Udicunda e Banchi. Comunica com os chefes de tabanca, os régulos e os chefes religiosos. Faz amizade com o capitão miliciano Pires, de Contuboel. Por vezes, regista o pícaro entremeado pelo sofrimento: “A companhia que estava em Geba, era uma companhia distorçada. O capitão tinha morrido a levantar uma mina. Dos quatro alferes primitivos só restava um, o Fernandes. O capitão atual parecia transtornado quando vinha a Bafatá, num jipe de escape livre, com o barulho que fazia logo todos exclamavam: é o capitão de Geba!”.

Nunca esqueceu o presépio montado pelos militares de Banjara, com a imaginação e arte transformaram bugalhos, paus, latas de coca-cola, pequenas garrafas, gaze, algodão hidrófilo em imagens da Virgem, de S. José, do Menino, vaca, burro e anjos colocados numa fruta improvisada num barril de madeira. Finda a missão do BCAV 1905, o Padre Abel Gonçalves foi colocado no hospital militar, habituou-se a ver sangue por todos os lados.

Regressa no Niassa a Lisboa em Maio de 1969. É colocado na Base Aérea 7, em S. Jacinto, para além da assistência religiosa foi designado professor de deontologia militar e psicologia do voo. Entregam-lhe a sempre espinhosa missão de ir comunicar às famílias a morte deste ou aquele militar. Ao fim de 3 anos e meio de uma vida calma, parte novamente para a Guiné, é colocado na Base Aérea 12, em Bissalanca; fica igualmente encarregado de dar assistência a muitas unidades do Exército, enfim, todos os destacamentos a norte de Bissau até ao Biombo e, para o interior, todos os destacamentos até Mansoa. A Base tinha boa e espaçosa capela, o capelão dispunha de quarto e de um salão para aulas, leitura e estudo.

A tessitura das suas memórias revela que o trabalho é árduo, variegado, sente-se muito bem no relacionamento social. Refere a morte da paraquedista Celeste, acidentes de viação que levavam o capelão procurar dar apoio aos familiares dos sinistrados, nunca esqueceu o Padre Marcos, um simples e bondoso capuchinho italiano que vivia pobremente em Brá, vivia de esmolas, era de uma ingenuidade e franqueza que desarmava toda a gente. O seu passatempo era cuidar de uma horta onde plantou pedaços de tronco de mandioca, caroços de mangueiros, bananeiras e uma figueira.

Gostava de visitar Salgueiro Maia em Pete, e depois refere o agravamento da situação a partir de 1973. Assiste aos comícios do PAIGC em Bissau e os militares transformados em revolucionários. Impressionou-se com a saída dos últimos militares portugueses: os nossos soldados estavam na fortaleza de Amura, perto do cais de embarque e deitavam pelas muralhas abaixo parte das rações de combate que os nativos apanhavam e agradeciam de lágrimas nos olhos.

Assistiram ao embarque com manifesta tristeza. Sem sequer um insulto. Eles sabem que nós, ainda hoje, os temos no coração.

Em 15 de Agosto de 1974, regressa e é novamente colocado em S. Jacinto. Termina, rendendo homenagem a todos os capelães que prestaram serviço na Guiné, confessa que gostaria de ter feito melhor, mas aceita tranquilo a responsabilidade das suas limitações.
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11292: Notas de leitura (467): A palavra aos desertores portugueses (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11308: Parabéns a você (551): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11303: Parabéns a você (550): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)

domingo, 24 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11307: In Memoriam (146): D. Maria Hermínia Jesus Machado (Guifões, 1924-2013), mãe do nosso camarada Albano Costa, que faleceu hoje, dia 24 de Março (Editores)

Mais uma funesta notícia, desta vez a do falecimento da senhora D. Maria Hermínia Jesus Machado, mãe do nosso camarada Albano Costa na foto à direita.

Doente já há alguns anos, estava a ser cuidada pela nora Eduarda, a esposa do Albano, que por isso mesmo irá sentir esta perda especialmente. Na verdade os nossos velhos, quando ainda por cima doentes, criam laços especiais com os cuidadores, e a sua partida causa uma sensação de vazio difícil de preencher. 

O editor de serviço foi muitas vezes testemunha da dedicação daqueles filho e nora à D. Maria Hermínia, quando recusavam alguns convites ou quando deixavam apressadamente algumas confraternizações com a alegação de que tinham de prestar assistência à doente antes que adormecesse. Dar-lhe o jantar a horas e deitá-la, era tarefa diária prestada com desvelo.

Ao Albano, à Eduarda, aos seus filhos e aos demais familiares da D. Maria Hermínia, em nome desta tertúlia, deixamos os nossos sentidos pêsames e a nossa solidariedade nesta hora de dor pela partida da sua matriarca.

O corpo da inditosa senhora está em câmara ardente na Capela sita junto à Igreja Paroquial de Guifões, realizando-se amanhã, segunda-feira, 25 de Março, pelas 15 horas, o seu funeral.

Para quem conheça mal esta área metropolitana, Guifões é uma freguesia do Concelho de Matosinhos e a sua Igreja Paroquial [foto à esquerda] fica situada no Largo Padre José Joaquim Pereira Santos (no fim da Rua Passos Manuel). 

Chega-se a Guifões a partir da A4, abandonando a autoestrada na saída 2. 
Outros acessos são possíveis a partir de Matosinhos, Senhora da Hora e Custóias, pelas estradas nacionais.


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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 11 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11236: In Memoriam (145): Domingos de Sousa Torres, sold cond Berliet, CCAÇ 3549 (Fajonquito, 1972/74)...Funeral, hoje, às 10h30, Capela do Senhor dos Aflitos, Canelas, Vila Nova de Gaia... Até sempre, camarada! (José Cortes)

Guiné 63/74 - P11306: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (30): 31.º episódio: Memórias avulsas (12): Acção psico-social

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 18 de Março de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS

12 - PSICO-SOCIAL

Turismo de guerra foi o que fiz por quase todo o Norte da Guiné, particularmente na zona do Oio e pelas matas que rodeavam Morés, que acabei por não visitar, dado que me mandaram regressar à Metrópole. Poderiam ter tido a hombridade de perguntar: "Queres ir ou ficar?"

Demais a mais até porque só ainda ali estava há 20 meses e agora já me tornara um verdadeiro profissional especialista na arte do atacas ou te defendes.

Teria assim oportunidade de visitar tal local, onde constava existirem grandes árvores queimadas por cima, por via dos T6, que de quando em vez largavam por ali, umas bombitas inofensivas e que apenas serviam para acordar quem ali procurava refúgio depois de ter aterrorizado e fugido das nossa tropas, para além de também destruírem as casas dos passarinhos que ali nidificavam.

O motivo por me não quererem mais, julgo dever-se ao facto de pensarem que eu era açoriano.
Dizia-se que onde estes estavam, acabava a guerra, sendo vulgar ouvirem-se os gritos do inimigo:
- Fujam, fujam, não embosquem esses gajos... são dos Açores.

Passeei por Mansabá, Manhau, Bissorã, Pelundo, Jolmete, K3 e QG com visitas de pacificação acidentais, por Teixeira Pinto, Cacheu, Bula, Binar, Mansoa e Quinhamel.

Conheci tanta gente boa, de várias etnias, com quem partilhei, solidariedade, ajuda, estima ao próximo, amor à próxima, respeito e consideração, "coisas" que eu já tivera recebido e que por isso mesmo sabia agora praticar.

Equipamento básico para um bom desempenho de turismo de guerra

Nascera eu, em 1942, época da II Grande Guerra e jovenzito conheci "a maldita" (vulgo fome), mas cedo nos ensinaram a dar a volta.

Faltando o melhor, sempre haviam umas frutas que comprávamos sem falar com os donos... uma túberas que colhíamos nos pinhais... uns coelhitos bravos que caíam nos "ferros" e que assávamos em brasas de lume... uns peixinhos do rio que tadínhos, invadiam o interior das garrafas a que havíamos cortado o fundo para que entrassem e que depois como não conseguiam sair, devorávamos quais jaquinzinhos fossem... uns ovos que sacávamos dos ninhos... uns pardalitos que levavam com uma pedra arredondada e disparada pelas nossas fisgas... enfim, não faltando o engenho, lá nos íamos amanhando.

Relembro também a Intendência. Era uma loja para onde íamos fazer turnos de duas horas e a partir das sete da tarde até às nove da manhã do dia seguinte, hora a que então começavam a distribuir senhas que davam direito aos pobres poderem adquirir, ou um quilo de arroz... d'açucar... farinha... pão.
Mas do que eu mais gostava, (a partir de 1946 e seguintes) era de quando a minha avó, me mandava comprar cinco tostões de capilé, para adoçar um "café" que ela fazia com boletas (da azinheira) e grão rebuscado.
Tudo torrado, esmagado e fervido, constituía o meu pequeno almoço, antes da escola.

E gostava de ir, porque para lá levava um púcaro de esmalte até à taberna do senhor Firme e com ele deveria regressar com, pretensamente o equivalente aos 50 centavos antes referidos, lá dentro, só que como eu ia sorvendo umas pinguitas, chegado que era, só lá restavam três tostões.

No fundo, sempre eram cem os metros entre a tasca e a nossa moradia de soalho de terra (o que nos obrigava a limpar os pés quando entrávamos na rua). Ali vivíamos sete pessoas em vinte metros quadrados e quartos separados com mantas. A luz era a do candeeiro a petróleo ou das velas. O telhado deixava passar a chuva para alguidares de barro.

Alonguei-me, dispersei-me?

Quis apenas que compreendessem que ser solidário implica algumas vezes, que nos debrucemos pelo que passámos e pelo que nos fizeram, o que não quer dizer, que tais dificuldades sejam condição para praticar o bem, mas como se costuma dizer "quem sabe da poda é o podador".

Recebi mais do que dei, senão reparem, neste tão comovente convite:
- "Nôsso Furié" deixa que si for minino seja Veríssimo?

Vinha tal pedido, da esposa grávida, dum dos meus camaradas, soldado futa-fula.
Pensei recusar... vi que triste seria para aquela moçoila e acedi vaidoso e foi assim que lá ficou em Farim um... minino de apelido, Veríssimo.

(continua)
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 17 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11269: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (29): 30.º episódio: Memórias avulsas (11): O porquê do abandono do K3

Guiné 63/74 - P11305: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (42): Desporto no COA - Outras modalidades

1. Em mensagem do dia 25 de Fevereiro de 2013, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, QuinhamelBinta e Farim, 1964/66), enviou-nos mais uma memória do seu tempo de estudante.


HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES

42 - Desporto no COA

Outras modalidades

Há poucas semanas, vários ex-alunos recordaram e transmitiram o de que se lembravam sobre o desporto no COA, citando os nomes mais representativos no futebol, basquetebol e voleibol; mas praticaram-se ainda outras modalidades.

Recordo que na sala por cima do velho laboratório do Dr. Vide - mais tarde era da Dª Maria? Odete - foram colocadas umas mesas de pingue-pongue, creio que emprestadas pelos bombeiros, e ali foram disputados uns tantos jogos. Era a mesma sala onde o Zé Alberto nos presenteou com a exibição de um vídeo muito bem elaborado aquando do almoço de 2012.
Não recordo o nome de nenhum jogador dessa modalidade mas talvez alguém se lembre.

A partir daqueles jogos, no salão de estudo, fazíamos uma “réplica” do ténis de mesa; a carteira dupla dos alunos internos tinha um tampo horizontal e servia de mesa, um livro ou um caderno servia de raqueta; a bola era normal.

Além dos desportos citados praticou-se também, e em larga escala, um outro desporto característico do Norte do país – joga-se também no sul, mas não com a mesma intensidade. Exige dura preparação física, muita concentração e também boa memória, inteligência acima da média; é um desporto de equipa (2 de cada lado) e exige, também treino assíduo. Refiro-me, claro, à “sueca”.

Iniciei-me neste duro desporto no COA. No meu 2º ano, noite após norte, jogávamos na camarata, à luz da vela, até alta madrugada; não recordo se alguma noite fizemos uma “directa” mas, certamente andámos lá perto. Logo que o velho Correia (não é ofensa) se deitava “armávamos a tenda” no canto da camarata, à entrada à esquerda; prendíamos um lençol na janela, na parede e no bloco de cacifos, servindo de quebra-luz; acendíamos uma vela e iniciávamos a jogatina. A nossa camarata ficava ao fundo do corredor, à direita, frente à do prefeito.

Jogávamos a dinheiro vivo! – Ai de mim se o meu pai soubesse! Não me recordo quanto se perdia em cada partida; ganhava quem completasse quatro vitórias.

Recordo que uma noite eu perdi 1$60 (o Valdemar Coutinho conta que só perdi 1$20); o que interessa é que perdi! Na noite seguinte, triste que nem um peru em véspera de Natal, transmiti aos restantes jogadores que desistia de jogar porque, na noite anterior, havia perdido quase uma fortuna.

Lembro que estávamos no início dos anos 50, do século XX e nessa altura o dinheiro não abundava nas nossas magras algibeiras.

Outro membro da minha equipa, o Valdemar Coutinho, e os adversários, ficaram desolados, furibundos; insistiram que eu voltasse à lide. Mantive a minha posição em não jogar. Eles conferenciaram e apresentaram-me a seguinte proposta:
- Nós devolvemos-te o dinheiro que perdeste e tu vens ”trabalhar” connosco. Certo?

Perante tanta insistência e tendo em conta que recuperava o meu dinheiro, dei o dito pelo não dito e voltei às lides. Pode depreender-se que a malta… já estava viciada, ou para lá caminhava.

Os meus adversários arrependeram-se profundamente da sua atitude pois, naquela noite, a “vaca” andava à solta e estava do meu lado. Ganhei, nessa noite 2 ou 3$00; quase ficava rico naquela madrugada.

O Valdemar e eu jogávamos sempre juntos; éramos companheiros inseparáveis… na sueca e não só.

Quando frequentava o 3º ano, entraram no COA vários alunos provenientes da região de Espinho/Vila da Feira; entre eles veio o Hec Sá Rosas (acompanhado pelo irmão mais novo, o “Rositas”) e o Pais Loureiro; estes dois frequentavam o 5º ano. Tomaram conhecimento da nossa nomeada na batota e decidiram desfiar-nos para uma “suecada”; de bom grado aceitámos o repto. Era uma situação nova e complicada para nós; eles eram mais velhos e jogavam juntos (equipe entrosada e batida) havia uns tempos. Medo não tínhamos! E como dizem lá na santa terrinha: - quem nasce bom… é sempre bom.

Iniciado o jogo, logo verificámos que havia equilíbrio de forças. Pouco depois, após a distribuição das cartas, olhei para o meu jogo e só “via duques”; não tinha na mão qualquer carta de valor; apercebi-me que o meu companheiro – sinalética própria da batota – estava também na penúria. Nisto, o Américo, que até tinha bom jogo, cometeu um erro crasso que foi a nossa salvação. Num inglês macarrónico, dando às palavras um tom profundamente gutural, perguntou ao Rosas:
- How many “trunfs” have you?
- I have four! - Replicou o Sá Rosas
- I have six! - Foi a resposta concludente do Américo

Como eu frequentava o 3 ano e portanto já sabia umas tretas de Inglês, coloquei “as cartas na mesa”, alegando:
- Tu perguntaste ao teu companheiro quantos trunfos ele tinha; ele respondeu que tinha 4 e tu acrescentaste que tinhas 6. Isso até é verdade pois nós não temos nenhum. A sueca foi inventada por quatro mudos! Vocês falaram… perderam o jogo! Vitória nossa!

Nos jogos seguintes a “sorte” passou definitivamente para o nosso lado e ganhámos por larga margem. Escreveu-se direito... por linhas tortas. Mas a sorte não era tudo!

Algum tempo depois o Sá Rosas (mano velho) apercebeu-se que o Valdemar e eu éramos companheiros inseparáveis, perguntou:
- Vocês são irmãos? É que nunca vos vi um longe do outro!

Eu respondi:
- Nós somos apenas “meio-irmãos”!

Perante a sua estupefação eu esclareci:
- Somos meio-irmãos porque o meu pai namorou com a mãe dele e o pai dele namorou com a minha mãe; entretanto mudaram de campo; eis a razão porque somos apenas meio-irmãos.

A nossa dupla desfez-se já lá vão uns bons anos!

Na Guiné, nos intervalos da Guerra, joguei bastante, com outro parceiro, claro! Para não haver confusão de galões e divisas, eu jogava com um dos meus furriéis e a outra dupla era também formada por um alferes e um furriel; o prémio era uma cerveja para cada um; uma cerveja “à melhor de três”. Para quem não está familiarizado com a linguagem, eu troco por miúdos: a equipa que ganhasse duas partidas seguidas ou alternadas, recebia duas cervejas, uma para cada jogador.
Acontece que eu não bebia cerveja. Quando perdia pagava ao “cantineiro”; se ganhava ficava crédito da minha conta-corrente. O cantineiro controlava.

Quem bebia o que eu ganhava, eram os meus soldados que não recebiam o suficiente para beber uma cerveja por dia. Para que não haja dúvidas, é bom esclarecer que cada um de nós recebia apenas 1/3 do salário; 2/3 ficavam cá. Mas mesmo assim era uma miséria!

O Valdemar, ainda hoje, é um acérrimo”suequista”. Todos os sábados e domingos, ele desloca-se (1Km) até à taberna do irmão (Mário) e ali passa uma tarde/noite bem passada à volta de uma mesa com as cartas na mão. Ali, a sueca é rainha! Não há por lá um café onde se não pratique este desporto, extremamente exigente, física e intelectualmente. Só não sabe isto quem não joga!

Saudações colegiais!
Fevereiro 2013
BT
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 17 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11268: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (41): O Chissóia e tantos outros que fomos obrigados a abandonar

Guiné 63/74 - P11304: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (5): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes IX / X): Buba, fevereiro / maio 1969



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > Tabanca Lisboa > 2005 > O José Teixeira com o chefe da tabanca e a sua lindíssima filha. "Um feliz reencontro. Regresso às origens em 2005. Encontro com um Português da Guiné, antigo paraquedista,  que tem uma linda história para ser contada, pelo que sofreu e como consegui iludir o PAIGC para sobreviver à chacina de antigos combatentes portugueses".

Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação de O Meu Diário, de José Teixeira (1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70):


[ Foto à direita: José Teixeira, em Farosadjuma, Cantanhez, Região de Tombali, 2001]


Buba, 20 de Fevereiro de 1968

Estou em Buba desde 7 de Fevereiro e as perspectivas não são muito boas. Gandembel foi abandonada [, em 28 de janeiro de 1969,]  e o IN entretinha-se por lá. Agora, talvez porque se está a construir uma estrada nova para ligar Buba a Aldeia Formosa, esta linda terra está a ser a preferida pelo IN para as suas brincadeiras.

A estrada nova já causou um morto, o primeiro da minha Companhia quando eu ainda estava em Chamarra. O IN estava emboscado com dois fornilhos montados e, ao fazer rebentar a emboscada, provocou a explosão das armadilhas e um homem, o velho, foi pelos ares. Mais uma vida roubada...

Buba foi atacada no dia 9 às 22.15 h. Valeu-se como sempre da surpresa e causou-nos um bom susto. Feridos graves só houve um embora houvesse muitos feridos ligeiros, pés cortados, unhas arrancadas, cabeças partidas, tal foi a confusão que se instalou nas duas Companhias operacionais, nos Comandos e nos Fuzileiros que aqui estão aquartelados.

 Voltaram novamente a 14 pelas 5 horas da matina. Desta vez era para arrasar Buba se quisessem, ou então foram nabos, o que não me parece.

Treze canhões sem recuo chineses, 4 morteiros, LGFog, armas pesadas e ligeiras e sobretudo a uma hora que ninguém contava. Meteram bastante chocolate cá dentro mas só feriram um soldado. A Tabanca foi bastante atingida. Nove casas foram destruídas pelo fogo e com a precipitação da fuga para os abrigos ficou abandonada na Tabanca uma criancinha que morreu queimada.


Uma granada,
Vinda não sei de onde,
Lançada não sei por que,
Rebentou...
E aquela criança,
Que brincava além,
A morte, a levou...

Na areia brincava...
E sua mãe,
Que seus paninhos lavava,
Estremeceu.
Num triste pressentimento
Seu olhar volveu...

Um grito ! ( desmaiou)
No preciso momento
Que seu filho morreu...



Tive muito que fazer na Enfermaria. Um dos feridos da população mais graves foi a mãe da menina que morreu. Tinha o corpo cheio de estilhaços, felizmente não foi atingida nos orgãos vitais e deve recuperar.



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 2005 > "A minha antiga caserna"...

Foto: © José Teixeira (2005): Todos os direitos reservados



O seu sofrimento interior impressionou-me. É seu hábito dormir com a criança amarrada às costas para poder levá-la para o abrigo subterrâneo quando o IN ataca. Como já era de manhã desamarrou-a pouco antes do ataque se dar. Quando ouviu o fogo correu para o abrigo e só nessa altura é que se apercebeu que a bebé estava a dormir na tabanca. Saíu a correr, mas foi atirada ao chão pelo rebentamento da granada de canhão que caiu em cima da sua casa e lhe matou a menina.


Samba Sabali, 9 de Março de 1968


Depois de uns dias em Buba, segui para Nhala onde estive quatro dias e fixei-me em Samba Sabali, em tendas de campanha.

Ontem saí para o mato a dar protecção ao pessoal de Engenharia que está a abrir uma passagem de ligação à estrada nova. Dentro de dias volto para Buba e espero que se acabe para mim a protecção aos homens de Engenharia que estão a construir a estrada.


Buba, 18 de Março de 1968

Segundo me informaram na Secretaria da Companhia, o Comandante não autorizou a minha ida de férias à Metrópole. A Companhia está com muitas baixas por feridos e doenças pelo que as licenças foram cortadas. Custa-me imenso esta situação. Depois de um ano de guerra estou saturado, os nervos não obedecem e o cansaço é grande, e que saudades ...

Como a minha Companhia está saturada e com muitas baixas, talvez mude para uma zona melhor a curto prazo. É esta a minha esperança.


Buba, 26 de Março de 1969


Mais uma grande aventura na Guiné. A maior até hoje. Integrei um Pelotão que partiu de manhã para um patrulhamento e emboscámos ao fim da tarde num sítio propício para descansar um pouco, longe do lugar onde devíamos estar emboscados, ou seja, perto da Bolanha dos Passarinhos, local de passagem do IN e por tal razão perigoso.




Guiné > Carta de Xitole (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Buba, Nhala e Samba Sabali.  

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Anoitecia, quando o IN atacou a Companhia que nos foi substituir a Samba Sábali e com tal fúria que provocou nuns escassos minutos um morto e nove feridos graves. Como não havia condições para o héli aterrar, quer por o local não se propiciar, quer por ser noite e perigoso e porque o estado dos feridos era grave, foi necessário ir buscá-los para Buba.

A bolanha dos Passarinhos, local onde devíamos estar emboscados, fica entre Buba e Samba Sabali e o Comandante, convencido que estávamos perto, solicitou via rádio que fossemos reconhecer o terreno e montar segurança às viaturas que iam recolher os feridos. Como estávamos longe e porque os camaradas precisavam de apoio partimos a correr pela estrada fora sem nos preocuparmos com a segurança.

Que medo, andar de noite pela mata cerrada, em zona de contacto com o IN, com este por perto, com colegas a pedir socorro. Emboscámos a montar segurança na Bolanha e as viaturas passaram, sem perigo. Sentimos movimentos atrás de nós, supomos que era o IN, a tentar ocupar o local para atacar a coluna no regresso, mas deve-nos ter pressentido e retirou. Ainda ouvimos alguns tiros perto, mas como não reagimos, tudo se manteve calmo e eu no regresso apanhei uma viatura que trazia três feridos a quem dei apoio.

Eu tinha abandonado Samba Sabali dois dias antes. O Enfermeiro que me substituiu foi ocupar o lugar que eu deveria ocupar na defesa do acampamento. Teve azar. Uma bala perfurou-lhe a cabeça e não resistiu aos ferimentos. Um outro foi para a Metrópole inutilizado.

No dia 14 houve um ataque a Buba. Um estilhaço de granada alojou-se no pericárdio de um colega meu, que também não resistiu aos ferimentos.


Buba, 10 de Abril de 1969

Há coisas na guerra que parecem impossíveis. Os Comandos saíram de Buba, andaram cerca de 15 Km em patrulhamento e depararam de frente com o IN. Meteram-se rapidamente na mata, deixaram que o bigrupo IN se aproximasse e atacaram, provocando 11 mortos, apreendendo 21 armas e ficando apenas com dois feridos ligeiros.

Pedida a evacuação, marcham para o regresso a Buba e caem num campo de minas, tendo rebentado uma bailarina que rouba a vida a um furriel. Foi cortado pela cintura. Outra arranca um pé de um soldado. Sai-se de uma, para se cair noutra...


Buba, 19 de Abril de 1969

Pela primeira vez, num ano de guerra com diversos casos graves e mortais, vi camaradas meus serem varados por balas de armas manejadas por companheiros só porque já não se ouve a voz da razão.




Guiné > Buba > Maio de 1969 > Entrada principal da povoação e do aquartelamento

Foto: © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados


Um pequeno incidente de palavras entre um soldado da minha Companhia [CCAÇ 2381] e um Comando Africano, quando tomavam banho, originou uma luta entre Fuzileiros e Comandos com consequências graves. Parece estar tudo louco.

Um Comando branco defendeu o Africano e alguns Fuzos intrometeram-se. A coisa azedou e surgiu uma cena de pancadaria de que resultou, algumas cabeças partidas e olhos negros. Aparece uma G 3 a vomitar uma rajada e quatro meros espectadores ficam gravemente feridos. Uma perna desfeita, um braço cortado e o mais grave veio a falecer com uma bala na cabeça. Foi este o resultado de uma simples discussão.

Eu estava de saída para o mato e mal vi os feridos. Pela primeira vez na minha vida de guerra, chorei. Lágrimas de raiva ... e de sangue.


Buba, 21 de Abril de 1969

Mais um encontro com o IN para o meu palmarés. Pelas 21 h do dia 19 e quando tomava um cafezinho, os nossos amigos apareceram por Buba e lá de longe enviaram-nos 45 canhoadas, utilizando cinco canhões e três morteiros. Acertaram numa tabanca e mataram um civil. Outra granada de grande potência e perfurante rebentou na parede da caserna a dois metros da minha cama, onde felizmente não estava. Dois colegas que se meteram debaixo da cama ainda sentiram, embora ligeiramente, os efeitos da sua estúpida decisão. Uma outra caíu na Enfermaria, no sítio onde costumo escrever à noite para a Metrópole. Um colega meu, enfermeiro de outra Companhia, estava nesse lugar quando rebentou o ataque.

No dia seguinte fomos fazer o reconhecimento e pude verificar a excelente pontaria dos nossos homens. Meteram uma granada do 81 a dois metros de um dos canhões provocando pelo menos feridos graves e notava-se que muitas outras granadas cairam perto.

Hoje fui ao médico. Apareceu-me um hematoma num testículo que parece ser um hidrocelo. É natural que tenha de baixar ao Hospital para ser operado.

Buba, 5 de Maio 1969


Outro domingo inesquecível. Foi o Miguel como poderia ter sido outro. Pisou uma antipessoal e ficou sem o pé esquerdo e com a perna toda esfacelada.

Saíram de madrugada, com destio a Nhala, levar mantimentos. Depois da curva do Vilaça detectaram três minas A/P. Os nossos homens puseram-se em posição de defesa e o Sapador preparou-se para as levantar, quando o Miguel se decide avançar um pouco e pisa uma terceira que estava dissimulada junto a um tronco de palmeira. O IN que estava emboscado no local a assistir ao levantamento abriu fogo de imediato, mas nada mais aconteceu de grave.

Rapidamente assistido pelo Catarino debaixo de fogo, o Miguel foi transportado em seguida para Buba, de onde o heli o levou até Bissau, enquanto a coluna seguia o seu destino, detectando-se mais duas minas e uma armadilha de tropeçar e um cemitério (em cenário) com pedidos para voltarmos para a Metrópole, deixando o povo da Guiné gerir o seu destino e ameaças de morte em que o falso cemitério era o exemplo do que nos esperava se continuássemos a fazer guerra. A CCAÇ 2317 ficou no local a levantar um campo de 38 minas antipessoais.


Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 2005 > Depósito de água e antigas casernas da tropa...

 Foto: © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados


No dia sete contava partir para a Metrópole em gozo de férias, pois tinha arranjado maneira de ludibriar o Comandante com a ajuda do Alferes Barbosa e também não era a minha vez de sair, pois tinha regressado no dia anterior à noite de uma patrulha de um dia, pela área onde se deu a emboscada.

Como o Catarino ia ficar sozinho no Destacamento, ofereci-me para fazer esta coluna. Preparei-me, mas à última da hora lembrei-me que "voluntário na tropa, só para comer ". Pedi desculpa ao Catarino e ele teve de avançar, compreendendo como sempre a minha posição.

Uma hora depois da sua partida sentimos o chocolate a cair e pensei: Escapei de boa! Acompanhámos via rádio a situação e pouco depois chega a viatura com o ferido que assisti, até chegar o heli.

A situação do Miguel e a sua reacção chocou-me muito. Parece que não tinha dores, apesar de estar sem um pé e garrotado abaixo do joelho. Só gritava agarrado à fotografia da namorada:
– Já não posso casar – pegou numa estampa de Nossa Senhora e disse:
–  Nem Tu me salvaste.

No regresso da coluna os colegas contaram que quando se detectaram as minas, houve ordem, como de costume para se baixarem e ficarem em posição de fogo. O Miguel levantou-se e disse que ia ver o que se passava, começando a caminhar em cima do tronco de palmeira. Quando chegou ao topo e pôs o pé em terra, tinha a mina à sua espera. Um descuido que ficou caro.

O Catarino portou-se como um herói, secundado pelo Valente, pois arrancaram debaixo de fogo para junto do Miguel, correndo o risco duplo de serem atingidos pelas balas inimigas ou por alguma mina que pudesse lá estar. Foram encontradas no local 41 minas.

Disseram os meus colegas que o IN formou., com terra, campas de mortos, no local da armadilha para os intimidar com frases do género Branco vai para a tua terra.

(Continua)

Guiné 63/74 - P11303: Parabéns a você (550): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11291: Parabéns a você (549): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)

sábado, 23 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11302: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (9): INGORÉ... ou os inusitados caminhos da memória

1. Em mensagem do dia 20 de Março de 2013, o nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), dá-nos conta dos resultados da investigação que lhe deu a certeza de não ter passado os seus últimos tempo de comissão em S. Domingos, como pensava, mas em Ingoré.
Colaboraram nesta pesquisa os camaradas Delfim Rodrigues e Carlos Nóvoa.

Caro Carlos,
Encerrando o assunto "SÃO DOMINGOS?"...

Em primeiro lugar quero agradecer a tua ajuda nesta busca, para encontrar o local dos últimos meses da minha comissão.

No P10525, fiz um resumo desses três meses, e sempre que via as os fotos desse tempo, o nome que vinha à minha memória era SÃO DOMINGOS, contudo, li mais tarde neste blogue, que São Dominngos não era sede de Batalhão.

No P11262 coloquei a dúvida, apesar de ser São Domingos o nome que assomava à minha memória. No dia em que publicaste a minha dúvida, coincidentemente, foi publicado o Convívio do BCAV 3846; o camarada Delfim Rodrigues, organizador do Convívio a quem recorreste, não pôde ajudar na confirmação de que os oficiais da foto eram desse BCAV, pois a sua CCAV esteve estacionada em Suzana e Varela. Forneceu o e-mail do Carlos Nóvoa, que tinha servido na sede do BCAV, e que levou a foto para o almoço em Estremoz.

E realmente o Mundo é Pequeno ...e a nossa Tabanca é Grande..

O Major Sampaio, presente no almoço, se identificou e a quase todos os Oficiais da foto.

Na foto, a partir da esquerda: Capitão Saraiva, Comandante da CCAV 3364 (a Companhia do Carlos Nóvoa) e presente no almoço; Major Sampaio, Oficial de Operações; Major (Tenente-Coronel?) Mateus; com barba, Alf Mil Ribeiro da CCAV 3364; de frente, Alf Mil de Transmissões Almeida; com o copo na mão, Alf Mil Agostinho Miranda; o Oficial de óculos não foi identificado; Alf Mil Vasco Pires; o último à direita é o Tenente Nobre da CCS; de costas, Alf Mil Teixeira (?) da CCAV 3364.

Sim, os últimos meses da minha comissão foram em INGORÉ, todavia, essa palavra continua "adormecida' no meu inconsciente... Vai saber...!!!

Forte abraço
Vasco Pires
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 16 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11262: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (8): Terei estado no "bem-bom de São Domingos"?