segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13558: O nosso blogue em números (34): 6,3 milhões de visitas até ao final de agosto... Quem nos visita vem de Portugal (51%), EUA (16%), Brasil (9%), França (4%), Alemanha (3%)... mas também da Rússia, Reino Unido, China, Polónia e Canadá (cerca de 1% cada)... Do resto do Mundo são cerca de 12,5%.


Infografia: Blogger e blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. O nosso blogue  atingiu, em finais de agosto último a cifra de 6,3 milhões de visitas, segundo as estatísticas do nosso servidor, o Blogger (4,6 milhões, desde maio de 2010, a que acrescem mais 1,7 milhões desde 23/4/2004, início da I Série, que vai até 30/5/2006). No espaço de um ano (de agosto de 2013 a agosto de 2014) tivemos um aumento de 1,3 milhões de visualizações de páginas.

2. Quem nos visita vem de Portugal (50,6%), EUA (16,1%), Brasil (9,4%), França (4,2%), Alemanha (3,2%)... mas também da  Rússia (1%),  Reino Unido (0,8%), China (0,7%), Polónia (0,7%) e Canadá (0,7% )... 

Do do resto do Mundo são 12,4%.  A China, mas também a Polónia, aparece pela primeira vez no "top ten"... O Brasil é destronado do 2º lugar, agora ocupado pelos EUA. Para além de Portugal e do Brasil, não há mais nenhum país lusófono nos dez primeiros lugares, mas há seguramente importantes comunidades lusófonas (portugueses, guineenses, caboverdianos  e outros) por detrás dos números de país como a França, a Alemanha, o Reino Unido ou o Canadá, ou até a Rússia e a China.

Um em cada quatro dos nossos visitantes pertence a (ou vive em) o Novo Mundo (Américas): EUA, Brasil, Canadá...

3. Por navegador, o Internet Explorer vai à frente (41%), seguido do Chrome (27%) e do Fire Fox (22%). Os restantes juntos somam 10% do total dos visitantes.

Por sistema operativo, o Windows ainda é o rei e o senhor (84%), destacadíssimo da concorrência:  McIntosh (6%), Linux (5%) e outros (5%).

4. No final do ano de 2013, tínhamos 636 membros inscritos na Tabanca Grande. No final de agosto de 2014, eram já 664, ou seja, uma média de 3,5 por mês, sensivelmente a mesma do que em 2013 (3,4/mês).

5. Recorde-se, por fim, os camaradas e os/as amigos/as que nos deixaram, deixando mais pobre a Tabanca Grande, nestes últimos oito mesxes:

António Rebelo (1950-2014)
Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014)
Fernando Brito (1932-2014)
João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014)
Manuel Moreira (1945-2014)
Maria Manuela Pinheiro (1950-2014).

(LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12557: O nosso blogue em números (33): Um em cada cinco dos nossos visitantes vem do Novo Mundo (Brasil, EUA e Canadá)... Cabo Verde é o 10º país do nosso "top ten"... Atingimos os 5,3 milhões de visualizações, 12500 postes, 3500 descritores... e somos 636, os membros da Tabanca Grande... (Luís Graça)

(...) Em 31 de dezembro de 2013, os visitantes do nosso blogue oriundos de Portugal representavam menos de 2/3 do total... Vinham, em segundo lugar, os brasileiros (12,2%), seguidos dos norte-americanos (7,6%) (...)

Se considerarmos o Brasil, os EUA e o Canadá, em conjunto, os visitantes do Novo Mundo representam já 20,5% do total... Desses, seguramente, muitos serão portugueses da diáspora, antigos camaradas de armas a quem saudamos, neste início de ano novo, desejando-lhe força para continuarem a atravessar a ponte que os liga às suas raízes... E o nosso blogue também é (ou pretende ser) uma ponta da e para a lusofonia. (...) 


Guiné 63/74 - P13557: Blogpoesia (389): Da minha janela... (J. L. Mendes Gomes)

da minha janela...


[ ex- alf mil da CCAÇ 728 (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)]


desde manhã,
me apoio no parapeito
da minha janela, aberta.

fico à espreita.
e à espera.

tudo que mexa
eu vejo, remexo e meço.
fico desperto.
meus olhos.
ouvidos
e sentidos escondidos.

melhor que radares,
de último grito.
seu servidor,
embora distante,
está sempre ligado
e atento.
como um farol.
sabe de tudo,
mais que a internet.
nada me cobra.


vejo as cores da natureza.
como elas se enlaçam,
fazendo figuras,
em movimento constante.

vejo as nuvens enormes,
que voam,
parecem dormir.
mudando de forma,
num pronto a servir.

e a bola de fogo
que vem lá do fundo,
uma fornalha esparzindo,
luz e calor,
fogueira de amor,
um rio de lava benigna,
alimentando,
sementeira de vida,
no chão e no ar.

oiço sonidos ocultos,
reais,
que passam correndo,
não sei donde vêm.
consolam-me a mente,
de música constante,
relaxam meus nervos
das cargas pesadas
que trago aos ombros.

e sinto, lá longe,
o cheiro do mar,
num baile sem fim,
baforadas frementes
das algas dançantes,
vestido comprido,
nos braços das ondas
que se espraiam na areia.

minha alma, mais leve,
fica orando e cantando,
voltada para a vida,
cheia de ânimo.
contando segundos e horas,
com outro sabor...

benditas janelas
que me ligam ao mundo
e me fazem viver...

ouvindo a sonata "Moonlight",  de Beethoven, por Tiffany Poon
a noite, vestida de negro...

Mafra, 1 de Setembro de 2014, 
5h47m

Joaquim Luís Mendes Gomes

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Último poste da série > 30 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13548: Blogpoesia (388): O helicóptero (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P13556: Notas de leitura (628): A Tricontinental: Quando Amílcar Cabral se tornou num teórico mundial da revolução (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2014:

Queridos amigos,
A Tricontinental não teve impacto previsto pelo Terceiro Mundo, o processo revolucionário foi encontrando escolhos uns atrás dos outros, desde a morte de Che, o modo como os revolucionários da América Latina foram sendo neutralizados, a própria doutrina da “coexistência pacífica”, os golpes de Estado que assolaram África, a ascensão de ditadores sanguinários como Sékou Touré, por exemplo. Mas Cabral viu reconhecida a sua fórmula teórica, a partir daquele momento o seu prestígio catapultou: os cubanos forneceram materiais, abriram-se as portas junto da social-democracia europeia, os soviéticos foram cedendo armamento de ponta face ao conflito com as tropas portuguesas. Aquele dia 6 de janeiro de 1966 foi fausto para Cabral.

Um abraço do
Mário


A Tricontinental: 
Quando Amílcar Cabral se tornou num teórico mundial da revolução (2)

Beja Santos

Havana, desde as primeiras horas de 1 de janeiro de 1966 está em ebulição, a todo o momento desembarcam os convidados que vêm participar na Tricontinental, vietnamitas, venezuelanos, africanos, as comitivas da Europa de Leste. Aqui e acolá pergunta-se onde está Che Guevara, parece ser o grande ausente. Por todo o lado faixas anunciando o ano da solidariedade e a Tricontinental. Há festa por toda a parte, os participantes enchem todos os andares dos hotéis Habana Libre, Habana Riviera e Capri. A rádio também está eufórica, a cantora mexicana Consuelo Velázquez, entoa com a sensualidade de Joséphine Baker: Bésame, Bésame mucho,/ Como se fuera esta noche la última vez! O presidente Dorticós faz a saudação inaugural. A delegação do PAIGC é constituída por Amílcar Cabral, Pedro Pires, Domingos Ramos e Vasco Cabral. Joaquim Pedro Silva, Barô, que está na escola de guerrilheiros, também é cooptado. Amílcar cedo revela os seus dotes, logo na entrevista que concede à Granma, deixa entender que a sua visita será curta pois o dever de um revolucionário é estar a fazer a revolução e explica a sua posição perante o conflito sino-soviético: “Somos por um não alinhamento ativo. Não seguimos a estratégia de nenhum grupo ou bloco, o nosso movimento não é influenciável por eles. Como disse a Fidel, nós não temos necessidade da cabeça dos outros para pensar”.

Há encontros de delegações por toda a parte, os jornalistas de todo o mundo andam febris, nunca tiveram tão à mão a parada de estrelas revolucionárias. Já foram cumpridas as cerimónias protocolares, a conferência tem o seu discurso inaugural feito por Raúl Roa, o ministro cubano dos Negócios Estrangeiros. Os vietnamitas falam a seguir sobre a sua luta, intelectuais proeminentes como Morávia, Vargas Llosa, Régis Debray fazem alocuções aos trabalhadores. Depois do Vietname, depõem o Laos, a República Dominicana, o Congo Léopoldville, os chineses sempre insinuantes e recalcitrantes. É um desfile de declarações por vezes aplaudidas apoteoticamente. Será assim até ao final do dia 5. E no dealbar de 6, o auditório rende-se a um teórico inesperado, há gente que se mexe e remexe nas cadeiras, estão a ouvir coisas inacreditáveis, à revelia dos dogmas.


Cabral dispõe de muito tempo, tal como os vietnamitas, ele vem falar em nome de todos aqueles que estão a combater o colonialismo português. Presta homenagem ao povo cubano, considera corajosa a política de “porta aberta para a saída dos inimigos da revolução”. E o seu discurso teórico começa por um provérbio africano: “Quando a tua casa está a arder não serve de nada o tam-tam”. Isto para dizer que não é a proferir injúrias contra o imperialismo que se chega à sua liquidação, é a combater, é a estudar a solução dos problemas vitais de cada um dos nossos países e da luta em comum. Lança-se numa autocrítica, ao reconhecimento das próprias fraquezas: “A nossa luta é a expressão das contradições internas da realidade económica, social e cultural em cada um dos nossos países. Estamos convencidos que toda a revolução nacional ou social que não possui como base fundamental o conhecimento desta realidade arrisca-se ao insucesso”. O auditório está preso, sabem que aquele dirigente político é um agrónomo que preparou passo a passo o início da luta armada. “A libertação nacional e a revolução social não são mercadorias de exportação, são o produto de uma elaboração local, nacional, mais ou menos influenciada por fatores externos, mas essencialmente determinada e condicionada pela realidade histórica de cada povo. Devemos reconhecer que não temos sabido dar toda a tenção necessária a este problema importante da nossa luta comum. O defeito ideológico, para não dizer a falta total de ideologia, no seio dos movimentos de libertação nacional, constitui uma das maiores, se não a maior fraqueza da nossa luta contra o imperialismo”. E surge uma declaração que vai agitar os soviéticos e companheiros de estrada: “Aqueles que afirmam que a força motriz da História é a luta de classes estarão certamente de acordo em rever esta asserção a fim de lhe dar um campo de aplicação ainda mais vasto, caso eles conheçam as caraterísticas essenciais de certos países colonizados. De facto, na evolução geral da humanidade, as classes não aparecem nem como fenómeno generalizado e simultaneamente na totalidade destes grupos nem como um todo acabado, perfeito, uniforme e espontâneo”.

A sala segue-o atentamente, o inesperado já aconteceu, Cabral pergunta se a história começa somente a partir do momento em que se desenvolve o fenómeno “classe” e por consequência a luta de classes. Se assim fosse, muitos grupos humanos de África, da Ásia e da América Latina, viviam fora da história no momento em que foram submetidos ao jugo do imperialismo. E diz que há história nos Balantas da Guiné e nos Maconde de Moçambique, por exemplo. A libertação nacional é a reconquista da personalidade histórica. A seguir, tece considerações sobre a situação neocolonial de um grande número de países que acederam à independência política e procura a justificação para concluir que os compromissos com o imperialismo são inoperantes. E dirige-se ao auditório: “Não queremos escandalizar esta assembleia afirmando que a via única e eficaz para a realização definitiva das aspirações dos povos é a luta armada”.

Enunciando a sua conceção de luta de classes, Cabral releva o papel da pequena burguesia a quem compete um papel revolucionário mas que consomada a revolução deverá fundir-se com o povo libertado, “deve ser capaz de se suicidar como classe”. Praticamente em terminar a sua intervenção, Cabral comete em confidência de anunciar que o PAIGC se está a preparar para lançar operações em Cabo Verde. Insiste que está a falar em nome de todos aqueles que lutam contra o colonialismo português, apela à luta com as armas na mão, termina dizendo: “Nós venceremos”.

Não é por acaso que em “Tricontinentale”, Roger Faligot, Éditions La Découverte, Pais, 2013, esmiúça inusitadamente o discurso de Cabral, a peça dará volta ao mundo e tornar-se-á um texto sagrada do Terceiro Mundo Militante, um pouco à semelhança do discurso que Guevara proferira em Argel, meses antes. Mais adiante Osmany Cienfuegos dará uma declaração em nome da delegação cubana insistindo para que se construa uma organização tricontinental permanente. A seguir a Cabral falou o orador que iria também ser muito ovacionado, Turcios Lima, explicou, em nome das FAR guatemaltecas, a situação no seu país. É nesta altura que Cabral questiona o guatemalteco, assim: “Estou intrigado camarada, porque é que não há índios no teu exército, como, aliás em quase nenhum exército de libertação latino-americano?”. Turcios Lima respondeu impassível, “Guardo-os de reserva!”, sem saber se se tratava ou não de um dito espirituoso. Falando para outros guineenses, Cabral comentou: “É esta a fraqueza deles, há cinco séculos que os índios são colonizados, continuam na mesma depois dos espanhóis terem partido”. Porque esta era a força que Cabral exibia junto de todo e qualquer interlocutor, a de querer fazer convergir para a luta toda as etnias, muçulmanos ou animistas, todos os chamados assimilados cabo-verdianos.

Este surpreendente thriller de Roger Faligot é agora a obra incontornável sobre a Tricontinental, a despeito de pequenos dislates, alguns deles que têm a ver com a questão guineense, dizendo que a mãe de Cabral era guineense, que as tropas portuguesas tinham sido expulsas da Ilha do Como, etc. A conferência teve o seu fecho oratório no dia 11, com uma resolução sobre Ben Barka e a constituição de um comité de solidariedade, seguiu-se a pompa do encerramento. Cabral vai ficar mais uns dias, conseguirá de Fidel uma ajuda militar significativa e o envio de técnicos, Oscar Oramas será, a pedido de Cabral, nomeado embaixador cubano na Guiné-Conacri e Victor Dreke, que tinha acompanhado Guevara no Congo, será enviado para junto do PAIGC como o elemento de ligação cubano.

As conclusões de Faligot quanto à Tricontinental merecem leitura atenta. Tudo jogou a desfavor destes eventos de Havana: o alinhamento de Fidel com Moscovo; o refluxo do movimento revolucionário na América Latina e a morte do Che na Bolívia; a consagração da doutrina da “coexistência pacífica” que obrigou os soviéticos a permanentes jogos de cintura com os acontecimentos africanos e asiáticos; a ascensão de ditaduras ao longo das décadas seguintes, envolvendo figuras sinistras como Sékou Touré e Robert Mugabe. Resta a Organização de solidariedade com os povos da Ásia, de África e da América Latina (OSPAAAL), criado em janeiro de 1966, continua a existir, é uma pequena ONG reconhecida pela ONU que pode organizar um colóquio à memória de Che, um seminário sobre a revolução sandinista ou apelar à ajuda quando há um tremor de terra no Haiti.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13543: Notas de leitura (627): A Tricontinental: Quando Amílcar Cabral se tornou num teórico mundial da revolução (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13555: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (3) (José Martins)

1. Fim da publicação de mais um trabalho de pesquisa do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), desta feita dedicado às Directivas de 1968 do COM-CHEFE do CTIG, Brigadeiro António de Spínola.


Directivas do CTIG emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola, no ano de 1968



Directiva 43/68 
Reordenamento de populações e organização em autodefesa

1. O reordenamento das populações e a sequente organização das tabancas em autodefesa é um problema complexo e que requer técnica especializada.

2. Com efeito, o problema do reordenamento das populações não pode ser encarado com a superficialidade com que o tem sido, antes requer meditação e estudo profundo em íntima ligação com os serviços do Governo da Província, no sentido de se definirem as áreas economicamente ricas que, num reordenamento bem planeado, se deverão transformar em pólos de desenvolvimento económico-social. Para além do aspecto episódico da defesa da população, problema de reordenamento das populações surge-nos como um imperativo de progresso dos povos, e como deverá ser encarado, por forma a que as áreas reordenadas se transformem simultaneamente em «pólos de atracção das populações e de irradiação de progresso». Ao equacionar-se o problema do reordenamento, não se pode deixar de atender à compartimentação étnica da Província, a qual não só deverá ser respeitada como até fomentada.

3. O problema da defesa das áreas reordenadas (conjuntos de tabancas em autodefesa) também requer aprofundado estudo, com vista a estabelecerem-se «esquemas de dispositivo» suficientemente flexíveis para permitirem a escolha e adaptação daquele que, para cada caso, melhor se ajuste às condições locais. Independentemente do trabalho de planeamento, haverá ainda que dar assistência técnica nas diferentes fases de execução, até que o conceito de «autodefesa» se transforme numa realidade efectiva e não num conceito simbólico sem qualquer significado prático. Não se deve perder de vista que a organização de uma tabanca em autodefesa envolve responsabilidade da nossa parte perante a respectiva população, a qual perderá totalmente a confiança em nós se a defesa não se revelar eficaz em relação às reacções do IN.

4. Porque os problemas enumerados em 2 e 3 se revestem de alta importância, e têm necessariamente que ser equacionados à escala provincial, o seu estudo foi centralizado num os departamentos do gabinete militar do Comando-Chefe, a que competirá: estabelecer ligação com os serviços da Província com interferência directa ou indirecta na resolução do problema; centralizar o estudo, controlo e fiscalização de todos os problemas de reordenamento e autodefesa da Província; elaborar «normas gerais para o reordenamento das populações e organização em autodefesa»; colaborar CTIG (Comando de Agrupamento e Batalhões Independentes) e com as autoridades administrativas locais no reordenamento das populações, e dar a necessária assistência técnica no desenvolvimento do planeamento traçado.

5. A execução dos planos de reordenamento e de autodefesa é da responsabilidade dos respectivos comandantes, em colaboração com as autoridades administrativas locais.

6. Deve ser dado conhecimento desta directiva até escalão companhia, ficando interdito aos comandos e autoridades administrativas tomar decisões em matéria de reordenamento e autodefesa sem prévia consulta ao gabinete militar do Comando-Chefe.

Bissau, 30 de Setembro de 1968.
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro.

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Directiva 48/68 
Operações psicológicas Alfa 

Generalidades
1. Os temas que se apresentam deverão ser adequadamente desenvolvidos e «personalizados» com elementos respeitantes a cada área, recorrendo, especialmente, a factos actuais. No Apêndice I a este anexo apresenta-se um exemplo elucidativo.

2. O CTIG deverá remeter ao GABMIL todos os elementos que possam auxiliar o desenvolvimento dos temas constantes deste anexo, a fim de serem utilizados na informação e propaganda radiofónica a conduzir.

3. Os temas difundidos na Directiva Propaganda N.° 1, do COMCHEFEGUINÉ, de 30SET68, deverão continuar a utilizar-se nas Op. Psic. Alfa. II. Temas a utilizar.

1. Visando preservar as populações sob nosso controlo
a) A tropa portuguesa luta por uma Guiné melhor, onde todos tenham paz, progresso e bem-estar.
b) A tropa branca veio da Metrópole à Guiné ajudar os seus irmãos pretos a defender o seu chão contra os terroristas. Os pretos estão a combater juntamente com os dos brancos, contra os terroristas.
c) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão destruir os terroristas.
d) Os terroristas raptam as populações e obrigam-nas a trabalhar eles.
e) No chão da Guiné, portugueses pretos e brancos vão construir uma vida melhor.
f) Os terroristas trouxeram a guerra e querem a desgraça dos povos da Guiné.

2. Visando dissociar o binário Pop/In
a) Os terroristas protegem-se com a população. Não se importam que a população sofra com os tiros e as bombas lançadas por causa deles.
b) Os terroristas enganam o povo com promessas que não são capazes de cumprir (concretizar no desenvolvimento do tema).
c) Os chefes terroristas estão vendidos aos estrangeiros que lhes fornecem armas. Querem vender a Guiné.
d) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.
e) Os chefes terroristas vivem bem, no estrangeiro, gastando o dinheiro do povo, enquanto que o povo sofre, na mata, com doenças e fome.
f) Os terroristas levam o arroz e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.
g) A tropa vai acabar com os bandidos para ganhar a paz e o bem-estar para o povo da Guiné.
h) Quem não quiser sofrer com as bombas dos aviões, com os tiros da artilharia e com a guerra, deve separar-se dos bandidos.
i) O pessoal que vive na mata tem muita doença; quando se apresenta, é tratado pelas autoridades, passando a viver melhor.
j) Quem quiser continuar a sofrer, fica com os terroristas na mata; quem preferir viver em paz, apresenta-se às autoridades.

3. Visando captar as populações sob duplo controlo
a) Os terroristas estão a perder a guerra e, para esconder a sua derrota, prometem coisas que não podem dar. Nunca cumpriram o que prometeram.
b) O terrorista explora o povo. Rouba e nunca paga.
c) Os terroristas querem a confusão, para poderem roubar à vontade a terra, os bens e as mulheres de cada um.
d) Os terroristas só querem a guerra e a desgraça do povo da Guiné.
e) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.
f) Aqueles que vivem na mata, com os terroristas, têm má casa, más culturas e muita doença.
g) Os terroristas levam o arroz, as mulheres, os filhos e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.

Bissau, 29 de Outubro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

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Directiva 60/68 
Campanha psicológica de recuperação

1. Como vimos afirmando, o aspecto de fundo de um «plano de contra-subversão» não se projecta no campo imediato da força das armas, mas sim no campo da promoção social e cultural das populações. Por outras palavras, a guerra da Guiné não se ganha pela força das armas, mas sim pela força da razão. E a razão conquista-se na medida em que a Província atinja um nível de bem-estar social que satisfaça os anseios imediatos das populações, anseios que lhes foram instigados pelo inimigo e que estão na base da sua propaganda, constituindo a sua principal força.

2. O nosso «plano de contra-subversão» visa a rápida consecução desse nível de bem-estar, que se traduz no slogan: UMA GUINÉ MELHOR. Se atingirmos esse nível de bem-estar em tempo útil, furtaremos ao IN a força da razão, e com esta as populações - objectivo final de «um plano de contra-subversão».

3. Dentro desta linha de pensamen¬to, que está na base da orientação do Governo da Província - e que constitui a nossa principal «ideia-força» - é natural que o inimigo combatente e as populações da Guiné, presentemente desorientadas, se desequilibrem para o lado da razão, isto é, para o lado da nossa causa.

4. Neste pressuposto, torna-se absolutamente necessário rever o nosso procedimento à luz de nova conduta, agindo em conformidade com os princípios morais e civilizadores que estão na essência da nação portuguesa e informam a sua estrutura jurídica. Há que esquecer aspectos tristes do passado - para os quais, temos de reconhecer, também contribuímos - e restabelecer um clima de recíproca confiança entre portugueses metropolitanos e portugueses guineenses (autóctones), condição absolutamente necessária à recuperação da Província para a vida normal e pacífica. Há que saber perdoar, sendo generoso para com aqueles que, respondendo ao nosso grito de UMA GUINÉ MELHOR, desejem trocar o caminho da subversão pelo da paz e da ordem. Neste sentido, impõe-se lançar uma campanha de mentalização das Forças Armadas, autoridades administrativas e policiais, campanha que vai ser iniciada na presente época do Natal com a libertação de vários elementos inimigos presos na ilha das Galinhas, depois de devidamente integrados na actual linha de rumo. Torna-se necessário que as Forças Armadas, autoridades administrativas e policiais, e em especial a Divisão de Acção Psicológica do Comando-Chefe e a PIDE, orientem, desde já, o seu esforço de acção psicológica na linha de acção expressa na presente directiva.

Bissau, 17 de Dezembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

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Directiva 62/68 
Fiscalização e controlo do cumprimento das missões operacionais 

1. Na Directiva n.º 44/68 de 01OUT68, definiram-se genericamente as atribuições dos vários escalões de comando no processamento da acção operacional no TO da Guiné. Posteriormente, a prática revelou-nos a necessidade de esclarecer melhor as referidas atribuições em matéria de planeamento, execução, controlo e fiscalização da actividade operacional, para que fiquem claramente definidas as esferas de responsabilidade dos diversos escalões de comando do TO, que seguidamente se definem:
a) Comando-Chefe. Define o conceito de manobra à escala do TO (reunião mensal de comandos/directiva mensal); providencia para que a manobra se concretize num adequado dispositivo terrestre (directivas executórias); conduz o desenvolvimento da manobra, coordenando a acção dos três ramos das Forças Armadas (reunião diária de comandos); exerce a fiscalização superior da actividade operacional no TO (reunião semanal no CTIG e contacto directo com as unidades.
b) Comando Territorial Independente da Guiné Concretiza, em trabalho conjunto com os comandos subordinados, a manobra do comando-chefe articulando convenientemente as forças (dispositivo); fixando zonas de acção; fixando missões; garante a execução da conduta da manobra fixada diariamente pelo comando -chefe; alerta, em tempo útil, as unidades das FT sempre que nas respectivas ZA se realizem operações das forças de intervenção ou acções de fogo independentes da FA; fiscaliza a actividade operacional das unidades sob a sua dependência, em ordem a assegurar o cumprimento das missões atribuídas a todos os escalões do comando; garante assistência técnica aos comandos de agrupamento e batalhões independentes, bem como aos escalões inferiores de comando quando lhes for solicitado pela via hierárquica; resolve, em tempo útil, os problemas operacionais que lhe forem apresentados pelos comandos subordinados, e quando a sua resolução exceda o quadro das suas possibilidades providencia junto do comando--chefe.
c) Comando de agrupamento Propõe superiormente o reajustamento do dispositivo, em conformidade com a missão recebida; fixa as missões, de carácter permanente aos batalhões de acordo com a manobra, submetendo-as à aprovação do CTIG; submete à aprovação do CTIG as missões de carácter permanente atribuídas às companhias, depois de corrigidas ou sancionadas fiscaliza a actividade operacional das unidades sob a sua dependência, ordem a assegurar o cumprimento das missões atribuídas a todos os escalões de comando; dá a necessária assistência técnica aos comandos subordinados, por iniciativa própria ou sempre que lhe seja solicitado; planeia e coordena operações ao nível agrupamento, quando necessário; resolve, em tempo útil os problemas operacionais que lhe apresentados, e quando a sua solução exceda o quadro das suas possibilidades providencia junte do CTIG.
d) Comando de batalhão Propõe superiormente o reajustamento do dispositivo, em conformidade com a missão recebida; fixa as missões às companhias, em conformidade com o seu conceito de operação, submetendo-as à aprovação superior; fiscaliza a actividade operacional das companhias, em ordem a assegurar o cumprimento das respectivas missões: garante a necessária assistência técnica às companhias, em especial quando comandadas por oficiais menos capacitados (equipas itinerantes - Directiva N.° 23/68); planeia e coordena operações no quadro do conceito operacional do batalhão; garante às companhias os meios necessários à sua actividade operacional normal, reforçando a acção na respectiva área quando necessário.
e) Comando de companhia Garante, em continuidade, a actividade operacional na respectiva zona de acção, no quadro da missão recebida, por cujo cumprimento é totalmente responsável; providencia junto do comando superior, no sentido de lhe serem atribuídos os meios de reforço julgados indispensáveis para o cumprimento da missão.

2. Definidas as atribuições e as inerentes esferas de responsabilidade dos vários escalões de comando, o comandante-chefe, sempre que notar que o rendimento operacional das companhias não é compatível com a missão atribuída e os meios disponíveis, responsabilizará solidariamente pelo incompleto cumprimento da missão o respectivo comandante de companhia, e os escalões superiores de comando, responsáveis pela fiscalização da actividade operacional.

3. Para a fiscalização da actividade operacional ao nível CTIG, o CZACVG reservará diariamente para o efeito um avião DO-27, cuja capacidade de transporte deverá ser totalmente aproveitada. Os comandos de batalhão deslocar-se-ão normalmente por via terrestre, só utilizando o transporte aéreo nos casos de reconhecida impossibilidade de utilização do transporte terrestre ou fluvial.

4. O comandante-chefe inicia em Janeiro próximo a sua visita de inspecção operacional às unidades, com o objectivo de se esclarecer acerca da evolução da situação no quadro da missão atribuída ao respectivo escalão de comando. A inspecção processar-se-á da seguinte forma: leitura da missão atribuída à unidade ou subunidade; implantação da missão na carta 1/50 000; exposição sobre a situação do IN na área; conceito operacional do respectivo comando; exposição da actividade operacional no quadro do cumprimento da missão; resultados práticos obtidos.

5. Para controlo da actividade operacional das FT no TO da Guiné, passa a realizar-se todas as quintas-feiras, pelas 08H00, uma reunião no CTIG, com a assistência do comandante-chefe. Além dos elementos do CTIG, assistem à reunião o chefe do gabinete militar do comando-chefe e os adjuntos para as informações e operações especiais. Esta reunião deve desenvolver-se na seguinte base: implantação na carta da situação (1/50 000), de toda a actividade operacional do último período (uma semana); implantação, na mesma carta, da actividade operacional dos últimos seis meses, o que obviamente implica o levantamento semanal da sinalização referente ao da semana excelente; descrição sumária da semana; crítica ao rendimento operacional obtido; resultados práticos obtidos; implantação da actividade operacional, numa carta à escala 1/1.000.000, a arquivar em pasta própria; análise da actividade anterior das NT por consulta da pasta anteriormente referida.

6. Diariamente, pelas 18H00, dever-me-á ser presente no comando-chefe, o SITREP diário do CTIG com a actividade operacional implantada numa carta de escala 1/500 000.

Bissau, 23 de Dezembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

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Directiva 63/68 
Procedimento para com os informadores secretos da PIDE 

1. Sempre que se apresente a autoridades administrativas ou militares qualquer elemento autóctone que declare desejar prestar informações exclusivamente à PIDE, deve ser considerado como um informador secreto daquela polícia, adoptando-se o seguinte procedimento: aceitar a apresentação; mantê-lo preso ou sob vigilância; avisar o agente da PIDE, agindo seguidamente em conformidade com a sua indicação, comunicando a ocorrência ao escalão hierárquico imediatamente superior, nomeadamente comandos militares ou autoridades administrativas; quando não houver agente local da PIDE, providenciar, por iniciativa própria, junto: do escalão hierárquico imediatamente superior; o CTIG providenciará, junto do CZACVG, no sentido do referido informador ser urgentemente transportado para Bissau e entregue à PIDE, a administração civil providenciará de igual forma através da via comando-chefe; é expressamente proibido fazer interrogatórios a elementos que declarem só desejarem prestar informações à PIDE não devendo, em qualquer caso, ser exercida pressão sobre os mesmos; as autoridades locais administrativas e militares devem explorar imediatamente qualquer informação de carácter urgente e interesse local que lhes seja fornecida.

2. Os informadores secretos da PIDE são merecedores do nosso mais vivo reconhecimento pelos relevantes serviços que vêm prestando à causa nacional, devendo obviamente ser tratados em conformidade.

Bissau, 28 de Dezembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

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BIBLIOGRAFIA
A Guerra de África (1961-1974)
José Freire Antunes - Circulo dos Leitores . VOL. I

(Fim)
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Nota do editor

Postes anteriores da série de:

30 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13550: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (1) (José Martins)
e
31 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13552: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (2) (José Martins)

Guiné 63/74 - P13554: Parabéns a você (781): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13539: Parabéns a você (780): António Barbosa, ex-Fur Mil Cav do Pel Rec Panhard 1106 (Guiné, 1966/68) e José Corceiro, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1969/71)

domingo, 31 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13553: Convívios (619): Almoço do pessoal e comemoração do 40.º aniversário do regresso da Guiné das CCAV 8350 (Guileje) e 8352 (Caboxanque-Cantanhez), dia 30 de Agosto de 2014 em Estremoz (José Casimiro Carvalho)

 

1. O nosso Camarada José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER da CCAV 8350 “Piratas de Guileje”, (1972/74), enviou-nos algumas fotos da festa que juntou duas companhias de cavalaria. 

Almoço comemorativo dos 40 anos do regresso das CCav 8350 e CCav 8352

Estremoz e Cabeço de Vide, 30-08-2014

CCav 8350 - Guilege + CCav 8352 – Caboxanque - 1972/74 


Camaradas. Regressamos em 30 de agosto de 1974, há 40 anos… lindo! 

Este convívio de irmãos foi maravilhoso, uns do Porto, outros do Algarve, outros de… sei lá! 

Uma coisa é certa, estamos aqui a relembrar os bons e maus momentos, os camaradas que tombaram, os que entretanto foram partindo e os que por este ou outro motivo não puderam comparecer, mas que sempre estarão presentes. 

Houve um pequeno “quid pro quo” acerca dos emblemas no bolo que eu considero de somenos importância, mas todos temos direito à nossa opinião…claro! 

Espero que não seja isso que nos vai dividir, já temos idade para colocar essas “ninharias” para trás, nas costas… 

Aqui vão umas fotos do convívio das duas companhias… FRATERNIDADE! 










Um abraço camaradas e até 2015, 
José Casimiro Carvalho
Fur Mil Op Esp / RANGER da CCAV 8350 “Piratas de Guileje”

Mini-guiões de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Notas de M.R.: 

Ver também o seguinte poste:
Vd. último poste desta série em:





Guiné 63/74 - P13552: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (2) (José Martins)

1. Segunda parte da publicação de mais um trabalho de pesquisa do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), desta feita dedicado às Directivas de 1968 do COM-CHEFE do CTIG, Brigadeiro António de Spínola.


Directivas do CTIG emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola, no ano de 1968


Directiva 20/68 
Estudo da remodelação do dispositivo da Guiné 

I. Generalidades
Dispositivo é a articulação dos meios para o cumprimento de uma missão, segundo uma ideia de manobra. E, como a ideia de manobra evolui, no espaço e no tempo, com as reacções do IN, o dispositivo tem necessariamente de ser flexível por forma a acompanhar a evolução da conduta da manobra ou alteração da própria ideia de manobra. O dispositivo deve obedecer aos seguintes requisitos: materializar a ideia de manobra; respeitar os princípios básicos da doutrina.

II. Esboço da manobra

1. Ideia geral
É minha intenção: cortar os eixos dos reabastecimentos do IN; subtrair-lhe a população e as áreas economicamente mais ricas; e tornar-lhe a vida insustentável no território nacional, até que perca a vontade de combater. Para tanto, impõe-se dividir o Teatro de Operações (TO) em áreas bem definidas, nomeadamente: áreas com população sob o nosso controlo (área azul); áreas com população sob duplo controlo (área amarela) que em função da reacção futura da população se transformarão em áreas azuis ou em áreas vermelhas: áreas para aniquilar o binário «população-IN» (área vermelha).

2. Esquema da manobra
Exercer o esforço de contra-penetração nas zonas fronteiriças, sobre os corredores de Sambuá, Sitató, Canja, Guilege. Exercer o esforço de defesa das populações no «chão» dos fulas, dos manjacos e dos felupes (reordenamento, auto-defesa, socorro por intervenção das NT, etc.). Exercer o esforço de acção psicológica sobre os manjacos, balantas, e mandingas do «chão» fula, com prioridade para os primeiros. Exercer o esforço de aniquilamento, inicialmente, na área de Bianga-Mata-Pecau-Casciana-Churo-Jol-Có, adensando desde já o dispositivo nesta região, a fim de aliviar a pressão do IN sobre a região dos manjacos; e, ulteriormente, na área a leste da primeira, entre os rios Cacheu e Mansoa, englobando a região do Oio. Economizar meios nas regiões a sul dos rios Geba e Corubal, com excepção da região de Quinara, tomando naquelas regiões uma atitude defensiva. Exercer uma acção dinâmica e permanente de contraguerrilha nas restantes regiões a atribuir às forças terrestres. Reservar as áreas que ultrapassem as possibilidades dos meios terrestres, para acções de intervenção ao nível do Comando-Chefe. Reorganizar os comandos das forças terrestres, mantendo um comando de agrupamento (tipo normal) no Sector Leste, com sede temporária em Nova Lamego; criando um comando de agrupamento para o Sector de Bissau; ficando os sectores Oeste e Sul na dependência directa do CTIG.

3. Confirmação e completamente de determinações anteriores 
Independentemente dos reajustamentos a efectuar com base no esboço da manobra expresso na alínea anterior, confirmam-se e completam-se as determinações anteriores, escritas ou verbais, relacionadas com a remodelação do dispositivo, nomeadamente: Transferir o estacionamento de Madina do Boé para a região de Cheche Norte a norte do rio Corubal, garantindo a passagem do rio. Remodelar o dispositivo na região de Aldeia Formosa, dentro do princípio da economia de meios. Desocupar as áreas de Sangonhá e Cacoca, transferindo a companhia ali estacionada para o Sector Leste. Remodelar o dispositivo na região de Empada, abandonando os estacionamentos do Gubia e Ualada. Desocupar a ilha do Como, transferindo a companhia ali estacionada para o Sector Leste. Reajustar o dispositivo na área de Cabedú, hipotecando àquele estacionamento o mínimo de forças necessárias para a sua defesa, recuperando uma companhia. Reduzir a zona de acção da companhia estacionada em Jolmete e recolher à sede daquela companhia o pelotão destacado em Pelundo, passando esta localidade a depender de Teixeira Pinto. Reajustar o dispositivo da companhia de Xime, dentro do princípio da concentração de meios, reagrupando as forças estacionadas em Ponta do Inglês e Samba Silate. Rever a localização da companhia com sede em Mansambo, e ocupar Galomaro com efectivo de valor que permita exercer uma acção dinâmica. Remodelar o dispositivo da companhia com sede em Geba, dentro do princípio da concentração de meios. Reajustar os limites entre as companhias de Xime (destacamento de Finete) e de Porto Gole (destacamento de Enxalé). Reajustar o dispositivo da companhia com sede em Quelifá, recolhendo aquela companhia e pelotão destacado em Ponate, e rectificar o limite das zonas de acção das companhias de Canquelifá e Piche. Reajustar o dispositivo do batalhão de Nova Lamego, em ordem a possibilitar uma acção dinâmica permanente na área de Chanha. Transferir, em fase ulterior, os estacionamentos das NT de Gandembel e Guilege, para Salancaur e Nhacobá, devendo proceder-se, desde já, ao estudo da localização e das vias de comunicação.

III. Missão genérica das forças em sector
As forças em sector podem competir, no todo ou em parte, entre outras, as seguintes missões genéricas: Exercer o controlo da população, estabelecendo contactos, permanentes e activos, por forma a realizar uma acção psicológica dinâmica e eficiente. Efectuar acções permanentes de contraguerrilha em toda a zona de acção que lhe for atribuída, contra o IN referenciado e suas instalações, por forma a aniquilá-lo ou a tornar-lhe a vida impossível. Opor-se em permanência, à infiltração do IN através das zonas de fronteira, vigiando continuamente as prováveis linhas de trânsito clandestino. Efectuar acções de reconhecimento em toda a zona e acção atribuída. Apoiar as autoridades administrativas e os serviços oficiais da Província, em todas as acções que visem a contra-subversão. Assegurar a autodefesa das povoações (tabancas), socorrendo-as quando atacadas. Exercer uma campanha psicológica sobre o IN. Assegurar a posse e garantir a segurança de áreas de interesse económico. Defender pontos sensíveis. Proteger as vias de comunicação, assegurando a liberdade de movimentos. Pesquisar notícias sobre o IN e dados sobre o terreno e populações.

IV. Princípio doutrinários a respeitar
O TO da Guiné deve, tanto quanto possível, ser compartimentado em função da fase de subversão em que se encontram as diversas regiões da Província, sem todavia deixar de se atender a condicionamentos de natureza física, económica e militar. Assim, os diversos compartimentos apresentarão necessariamente características diferenciadas. A cada um deles - sectores e zonas de acção de companhia - deve ser atribuída uma força de valor ajustado à missão específica que lhe for atribuída, e por cujo integral cumprimento é responsável o respectivo comandante. Reconhece-se que o estudo do problema não é fácil, porquanto no seu equacionamento interferem diversos factores de valor variável, os quais por sua vez reagem entre si também com valores variáveis e, por vezes, em sentidos contrários. Enumeram-se alguns aspectos que condicionam a implantação de um dispositivo de contra-subversão:

1. Na guerra subversiva o objectivo principal dos dois partidos em presença é a conquista das populações, o terreno vale pela população que nela está implantada. Assim, a ocupação das áreas sem população não tem significado prático imediato. À luz desses princípios doutrinários, essas áreas deveriam ser abandonadas em benefício das áreas ocupadas pelas populações, ficando as primeiras entregues à Força Aérea, não se excluindo todavia a hipótese de nelas se realizarem acções de tipo «golpe de mão» sempre que surjam oportunidades remuneradoras. Dentro desta orientação, deve apenas hipotecar-se estas zonas o mínimo possível de meios, a que devem ser atribuídas missões estáticas (missão de soberania).

2. Ao compartimentar o TO deve ter-se em consideração o grau de evolução da subversão nas diversas regiões da Província, que, em última análise, se objectiva do de reacção do binário população-IN. Neste aspecto, as áreas do TO podem apresentar-se com as seguintes características:
a) Com população controlada pelas Nossas Forças (NF): sem reacções favoráveis (fulas, felupes e bijagós); com reacções sob reserva (manjacos); com reacções suspeitas (ilhas de Bissau e de Bolama).
b) Com população sob duplo controlo: com o IN presente na área; com o IN itinerante.
c) Com população controlada pelo IN; sujeita a coacção (recuperável); totalmente identificada com o IN (irrecuperável).
d) Sem população: e sem actividade do IN; e com actividade do IN.

3. As missões visam a consecução duma finalidade a atingir e esta varia de zona para zona consoante as reacções do binário população-IN.

4. Diferenciar bem as missões de natureza estática das missões de natureza dinâmica. Às primeiras deve corresponder forças de fraco efectivo, cujo potencial defensivo é aumentado com a organização do terreno (é uma troca de homens por «cimento» e armamento adequado à defesa). Às segundas devem corresponder forças de valor mínimo de companhia, a fim de possibilitar a permanência de acção dinâmica na respectiva área.

5. Ter sempre presente que concentrar meios aumenta possibilidade da acção dinâmica e que a dispersão é um hipotecar de forças ao estatismo. A existência de forças de pequeno efectivo só se justifica se lhe for atribuída uma missão estática de defesa de pontos sensíveis, ou de pequenos núcleos populacionais com o fim de os moralizar ou reforçar a sua autodefesa.

6. Adensar o dispositivo nas zonas de esforço, com forças em missão dinâmica, em detrimento das zonas consideradas de interesse secundário. Estas últimas devem ser guarnecidas com forças em missão estática.

7. O valor da força (efectivo/meios de fogo) deve ser fixado em função dos seguintes factores principais: características da missão (dinâmica ou estática); tipo de reacção do IN na área (reacção em força ou reacção fugindo ao combate); extensão da área de responsabilidade e natureza do terreno; valor da população e seu comportamento.

8. As ZA das unidades devem ser fixadas em função da possibilidade do comando responsável cumprir integralmente a sua missão. Admite-se que determinadas áreas não sejam atribuídas às forças sem sector, ficando reservadas para zonas de intervenção do comando-chefe.

9. Respeitar, em princípio, a divisão administrativa nas áreas onde há população e autoridade administrativa; e evitar a divisão de etnias, e em especial de regulados.

10. Respeitar os laços orgânicos das unidades, não sendo de admitir a divisão dos grupos de combate, a não ser em casos excepcionais (reforço temporário da auto-defesa de tabancas). 

11. As áreas de actividade normal, ou previsível, do IN devem ficar a cargo das forças que tenham maior facilidade de acesso, em tempo, a essas áreas. É de admitir que alguns limites sejam alterados no período das chuvas.

12. Os estacionamentos das NT nunca devem estar localizados nas proximidades de um limite de ZA, a fim de se tirar completo rendimento das possibilidades operacionais das NT em todas as direcções.

13. Evitar a localização de estacionamentos das NT nas proximidades da fronteira, dado que as coloca em manifesta desigualdade de reacção em relação ao IN. Entre o local de estacionamento das NT e a fronteira deve existir o espaço da manobra necessária à sua reacção, e à intervenção da Força Aérea - em tempo oportuno - sobre os possíveis itinerários de retirada do IN.

14. Dada a exiguidade de meios, todas as subunidades do CTIG devem ter uma ZA a seu cargo, isto é, devem entrar em sector. Estas subunidades, embora em sector, são «pedras de manobra» dos comandos de batalhão para a realização de operações na sua zona de acção. Não se exclui, todavia, a hipótese de poderem ser atribuídas forças de intervenção aos comandos do sector para execução de operações nas suas áreas, em cumprimento de missões normais ou das que especificamente lhes forem determinadas. Na presente fase de disponibilidade de meios, o conceito puro de forças de intervenção só tem aplicação ao nível Comando-Chefe, que centralizará todos os meios de intervenção da Guiné, nomeadamente: potencial de fogo da FA (ZILIFA e ATIP); batalhão pára-quedista; fuzileiros especiais; comandos; batalhões e companhias independentes, a nomear.

15. Respeitar o princípio da massa no emprego da Artilharia, evitando dividir as suas subunidades, e nunca, em qualquer caso, fraccionar os pelotões.

16. As subunidades blindadas de Cavalaria destinam-se fundamentalmente a cumprir missões de: abertura e vigilância de itinerários, reforço temporário de pontos sensíveis ameaçados, escoltas e colunas de reabastecimento ou transporte de forças operacionais. Assim, estas unidades não devem ser hipotecadas a missões que não permitam tirar pleno rendimento das suas características; em qualquer caso, nunca devem ser fraccionadas abaixo do escalão pelotão.

V. Execução da presente directiva
1. Compete ao CTIG estudar a remodelação do dispositivo com base nas seguintes hipóteses.
Hipótese A. Com meios actualmente atribuídos, excluindo o batalhão de Bissau, o batalhão de Brá, e as companhias de comandos que passam a reserva do Comando-Chefe.
Hipótese B. Com os meios da “Hipótese A”, reforçados com os que julgue deverem ser propostos ao SDN. Em ambas as hipóteses, excluem-se as forças de intervenção do comando-chefe.

2. O estudo deve ser completado com a atribuição de missões às unidades e a preparação em tempo de remodelação proposta.

3. O CTIG consultará o CZACVG e o CDMG sobre todos os aspectos que careçam da coordenação, competindo àqueles comandos dar toda a colaboração pedida pelo CTIG na fase de estudo da remodelação do dispositivo.

4. Integrado no presente estudo de remodelação do dispositivo do TO, o CDMG actualizará o estudo do problema fluvial da Província, apresentando uma proposta sobre as condições de utilização de rede fluvial por parte dos nativos, e o a procedimento a adoptar em cada uma das zonas do TO em matéria de fiscalização e disciplina do tráfego de canoas.

5. O CZACVG colaborará com o CTIG, em especial, nas áreas referidas em IV 2 e áreas a reservar para acções de intervenção do Comando-Chefe.

6. Este estudo deverá estar terminado em 11 de Agosto de 1968.

Bissau, 25 de Julho de 1968,
O Comandante-Chefe
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

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Directiva 30/68 
Espírito de missão

1. A grande maioria das operações realizadas no TO da Guiné não obtém êxito, nem do ponto de vista da acção directa sobre o IN, nem tão-pouco indirectamente através dum eficiente reconhecimento das áreas percorridas pelas NT. Entre os inúmeros motivos que estão na origem do baixo rendimento das operações, o principal é a falta de espírito de missão.

2. Uma tropa empenhada numa operação tem uma missão a cumprir, que em última análise se traduz, ou numa missão específica de combate perante um IN com reacções imprevisíveis ou numa missão de reconhecimento de determinada área que também reage imprevisivelmente em função dos inúmeros «trilhos» que o IN nela implantou. Desta forma, não é possível fixar a priori o prazo de duração de uma operação, dado que este depende, directa ou indirectamente, de factores imprevisíveis.

3. É evidente que a realização de operações «a horário» não permite que uma tropa, internada no mato, explore devidamente todas as possibilidades que lhe surjam no quadro do integral cumprimento da missão que lhe compete desempenhar. Há que substituir a rigidez do «espírito de horário» pela flexibilidade do «espírito de nomadização», que neste tipo de guerra está na base do verdadeiro espírito de missão.

4. Nestas condições determino:
a) As operações no TO da Guiné nunca terão duração inferior a dois dias, devendo as forças transportar no mínimo dois dias de ração de reserva.
b) Para o transporte de equipamento e rações poderão ser utilizados carregadores nativos.
c) Se em face do desenvolvimento da acção se tornar necessário aumentar o prazo de duração da operação, as forças serão reabastecidas por via aérea, no caso de impossibilidade da via terrestre.
d) Em qualquer caso, fica interdito a fixação a priori do prazo de duração das operações, o que evidentemente não implica que no planeamento não se considere, em previsão, determinado prazo.

5. Todas as acções com duração inferior a dois dias não são classificadas como operações, mas apenas acções de patrulhamento ou de reconhecimento.

6. As acções de escolta a colunas não devem também ser classificadas de operações, passando a designar-se por escoltas.

Bissau, 11 de Setembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

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Directiva 33/68 
Exercício do comando na conduta de acções de combate 

1. Dos vários relatórios de acção que tenho lido, de relatos verbais feitos por comandantes de subunidades e por praças feridas em combate, concluí que na generalidade as NT cometem erros graves frente ao IN, de que resulta: não se cumprirem integralmente as missões; um gasto exagerado de munições; um aumento desnecessário de baixas; e, em consequência, um muito sensível abaixamento moral das NT que, na generalidade, se encontram complexadas perante um IN melhor armado e manobrador.

2. A primeira condição de êxito de uma operação reside no seu eficiente planeamento que, necessariamente, se baseia: num perfeito conhecimento do IN, em ordem a permitir a formulação de uma hipótese realista sobre a sua localização, potencial e previsível reacção; num perfeito «conceito de operação» ajustado à hipótese formulada sobre o IN e às reais possibilidades das NT; na articulação dos meios (forças terrestres e fogos aéreos) no espaço e no tempo, em conformidade com o «conceito da operação», o que necessariamente impõe a adopção de medidas prévias de coordenação, que, em última análise, estão na base de um bom planeamento. Porém, mesmo admitindo-se que a operação se encontra tecnicamente bem planeada, esta nunca poderá ter êxito se a acção não for devidamente conduzida. Na presente directiva focam-se os erros de conduta mais correntemente cometidos em acções de combate no TO da Guiné.

3. Antes de tudo, um comandante operacional, seja em que escalão for, deve ter um profundo conhecimento das reacções do IN que tem de enfrentar. Qual a sua doutrina e técnica de combate? Está moralizado? Está animado de espírito ofensivo? É agressivo? Que armas tem? Como as emprega? «É manobrador? Ou, reage estaticamente pelo fogo retirando em seguida (táctica do bate e foge)? É flexível, isco é alerta rapidamente o seu dispositivo de combate? etc., etc. Dos últimos contactos havidos com o IN podemos concluir que este vem aperfeiçoando, de dia para dia. a sua técnica de combate, e que se revela presentemente com elevada capacidade manobradora. Estamos em presença de um IN que cultiva da acção, que tira amplo rendimento do factor surpresa da manobra, e que raramente se deixa fixar. Explora habilmente o efeito da surpresa, conjugando a acção fixante do fogo com uma falsa acção de retirada, para seguidamente voltar a emboscar as NT no seu eixo de progressão ou de retira. Ultimamente tem tentado envolver as NT com vista a aniquilá-las. É esta a panorâmica geral das reacções do IN na presente fase de guerra no TO da Guiné.

4. Na marcha de aproximação. A marcha de aproximação reveste-se da maior importância, dado que a maioria dos insucessos das NT resulta de uma posição de inferioridade, que tem a sua origem em erros cometidos durante o deslocamento. Na maioria dos casos as NT entram escusadamente nas zonas de morte do IN. Na marcha de aproximação registam-se, como mais frequentes, as seguintes deficiências: deficiente escolha e estudo do itinerário de marcha; não se executam medidas de decepção; não se tira partido da noite para deslocar as NT com maior segurança; as forças deslocam-se em coluna cerrada (fila indiana) não se articulando em unidades de manobra devidamente distanciadas; não se evitam as zonas descobertas (bolanhas e lalas); não se respeita a técnica de progressão em zonas descobertas (bolanhas e lalas); não se evita o terreno que não permite o deslocamento silencioso; não se evitam os obstáculos, e não se respeita a técnica da sua transposição; as forças deslocam-se pelos vales (bolanhas e Talas) não aproveitando as linhas de crista (matas); não se utilizam as faixas densamente arborizadas junto às linhas de água; não se adaptam as formações de combate ao terreno, de que resulta as NT deslocarem-se em permanente ambiente de insegurança; não se estabelece uma conveniente ligação entre as forças intervenientes na acção; o pessoal não se mantém em alerta permanente, pronto a reagir rapidamente a qualquer acção do IN; as tropas não observam, não escutam, e não reconhecem os trilhos que se encontraram no itinerário de marcha; o pessoal não transporta as armas em condições de pronta utilização; o pessoal fuma, fala, come e bebe durante o movimento, não cumprindo o princípio da economia de esforço, do que resulta esgotar-se prematuramente; rigidez no cumprimento de um horário pré-estabelecido, de que resulta a tropa deslocar-se com uma velocidade exagerada, esgotando-se prematuramente; não se escolhem devidamente os locais para os pequenos ou grandes «altos»; quando se pára não se monta a segurança próxima; não se marcam os sectores de tiro e de vigilância; utiliza-se no regresso o itinerário utilizado na aproximação.

5. No contacto com o IN. A primeira preocupação de um comandante de forças que foram surpreendidas pelo fogo do IN, é a de fazer uma rápida análise da situação, em ordem a decidir a sua manobra; esta visa libertar as forças fixadas por envolvimento do IN, que se pode obter pela conjugação da acção dinâmica das NT com a acção dos fogos de apoio (fogos de aviação, de artilharia e de morteiro). No contacto com o IN registam-se, como mais frequentes, as seguintes deficiências: as NT manobram deixando-se fixar pelo IN; falta de disciplina no fogo, de que resulta um consumo exagerado de munições. Atiram sem ver os alvos, e se os vêem não acertam por falta de calma; não se articulam as forças para a limpeza do objectivo; não se explora o sucesso perseguindo o IN até à exaustão; não se estabelece uma segurança eficiente imediatamente após a conquista dos objectivos, reconhecendo os vários itinerários de acesso e montando emboscadas ou vigias sobre esses itinerários (500/1000 metros); não se reconhecem minuciosamente os objectivos, em especial a área circunvizinha (500 metros em redor); não se exploram eficientemente os prisioneiros, raramente se levando intérpretes preparados para o efeito; não se sabem referenciar as armas do IN (SOM E LUZ).

6. Esta directiva deve ser difundida até ao escalão companhia.

7. O gabinete militar do Comando-Chefe deve providenciar no sentido de se difundir, com a máxima urgência, os apontamentos elaborados pelo Major de Infantaria Soares Fabião sobre conduta de operação na Guiné.

Bissau. 12 de Setembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

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(Continua)
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 Nota do editor

Primeiro poste da série de 30 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13550: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (1) (José Martins)

Guiné 63/74 - P13551: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Anexo I: Depois de finda a comissão no TO da Guiné, em dezembro de 1969, ainda foi capelão da marinha mercante até abandonar a vida sacerdotal, em 1972, e casar-se na igreja de Cedofeita, Porto...



Capa da tese de dissertação de mestrado do Horácio Neto Fernandes, "Francisco Caboz: do angélico ao trânsfuga, uma autobiografia. Porto:  Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. 1995, 147 pp. (A tese de dissertação, orientada pelo Prof Doutor Stephen R. Stoer, já falecido, está aqui disponível em formato pdf).



1. Publicámos, com autorização do autor, cerca de 35 páginas do livro  "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009) (*). [Vd. aqui página da Editora no Facebook]

O autor é o nosso camarada e grã-tabanqueiro Horácio [Neto] Fernandes eos excertos publicados são relativos à sua experiência como alf mil capelão no CTIG, de setembro de 1967 a dezembro de 1969. De rendição individual, o capelão Horácio Fernandes esteve a maior partte do sua comissão de serviço na CSS/ BART 1913,(Catió, 1967/69).

[ Horácio Fernandes: foto à direita, da autoria do nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mecânico de armamento, CCS/BART 1913].


Os 8 poste publicados correspondem às pp. 127-162 do livro que  já anteriormente tinha sido objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos (Poste P9439, de 3 de fevereiro de 2012)

Trata-se de um livrro autobiográfico, Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O Horácio Fernandes vive há 4 décadas no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio em 1972.. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.

Horácio Fernandes. Foto: cortesia da
Papiro Editora, Porto
 O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, (1995): "Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia (147 pp.) (A tese de dissertação, orientada pelo Prof Doutor Stephen R. Stoer, já falecido, está aqui disponível em formato pdf).

Alguns dos nossos leitores poderão ter curiosidade em saber o que aconteceu ao capelão Horácio Fernandes depois do seu regresso da Guiné em dezembro de 1969. Já aqui aconselhámos a leitura integral do livro. Fomos, entretanto, "repescar" a versão (muito mais sucinta) da sua história de vida, constante da tese de dissertação de mestrado em ciências da educação. Com a devida vénia, reproduzimos aqui as pp. 133-136 desse trabalaho académico. (LG)

Como j+a dissemis, o Horácio Fernandes abandonou o sacerdócio em 1972, dois anos e tal depois de regressar da Guiné. Não querendo voltar opara o concento, ainda se ofereceu , em vão, para prolongar a condição de capelão militar. Como alternativa, foi capelão na marinha mercante: leia-se a parte III, cap 4, do livro ("Capelão do Clube Stella Maris", pp. 163-174).

 Como ele explicou na sua tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, Horácio Fernandes "é o sujeito e objecto da autobiografia, coberto por um pseudónimo que pretende esconder o que revela. Francisco, modelo de pessoa e de vocação que nasceu em Assis; Caboz, de peixe tímido, que não se aventura ao alto mar, mas cresce humildemente nas rochas, que a maré baixa põe a descoberto. Morde a isca com muita facilidade, quando tem fome, mas se desconfia, mais ninguém o consegue apanhar" (p.95)-


Anexo I - Depois da comissão no TO da Guiné, Horácio Fernandes ainda foi capelão da marinha mercante  até abandonar a vida de padre, em 1972,  e casar-se na igreja de Cedofeita, Porto...


(...) As férias, de Capelão Militar, duas vezes por ano, eram passadas em casa de meus pais. Celebrava na minha terra e era muito solicitado pelas famílias da redondezas, para saberem notícias dos filhos. Não tinha tempo para ir visitar a instituição, nem sentia necessidade disso. Aliás, com o meu dinheiro, custeava as despesas dos estudos de minha irmã, que frequentava já o Instituto Comercial e consegui, com as economias liquidar as restantes dívidas de meu pai. Vivia, portanto, praticamente à margem da minha instituição.

Ainda cheguei a escrever algumas cartas, mas nunca obtive resposta. Talvez, por isso, quando acabou a tropa, escrevi aos Superiores a dizer que não estava disposto a voltar imediatamente para o Convento. Responderam-me, acenando-me com um lugar de Superior, numa residência da instituição. . Recusei e sem saber para onde ir, pedi para flcar mais um ano no serviço militar.

Como me disseram que não havia lugar, fiquei bastante ofendido, pois sabia que outros conseguiram ficar. Frustrada uma ida para Angola, para dar aulas no Liceu de Nova Lisboa, ofereci-me ao Clube Stella Maris para ir para Capelão do Mar, a ver como as coisas evoluíam, pois achava que não era capaz de voltar para a Instituição.

Tinha de tomar uma decisão, mas era muito penoso. A pressão social da minha família e das gentes que em mim tinham confiado continuava a ser um grande obstáculo, cada vez mais difícil de transpor. Preferi, pois, adiar mais algum tempo. Nascia também em mim o Trânsfuga.

O Apostolado da Mar, organização católica que fornecia capelães para os navios da Marinha Mercante, foi a solução provisória encontrada. Ganhava, assim, mais algum tempo, fora da jurisdição da Instituição, podia continuar a ajudar a família e entretanto tinha tempo para ponderar melhor a minha decisão-

Este adiamento nada resolveu. A decisão tinha de ser minha. O clima relacional nos navios da Marinha Mercante, fretados ao exército para transporte de tropas, era duplamente penalizador. Após as emoções da partida, os soldados iam como animais para o matadouro, em camaratas improvisadas nos porões. Alguns enjoavam e outros bebiam demais e nem para as refeições se levantavam. Revoltados, vingavam-se nos colchões de espuma que, no fim da viagem eram mandados ao mar. Por sua vez, a tripulação do navio, sob a jurisdição do comando militar, vivia num contínuo stress. A tripulação era constituída na sua grande maioria por jovens oficiais, a cumprir deste modo o serviço militar. Afogavam, pois, em garrafas de uísque a sua desdita.

Nos navios petroleiros a situação não era melhor. Passavam cerca de 25 dias a sonhar com o porto de Lisboa ou Leixões, mas aí chegados, passadas 48 horas, o navio zarpava novamente.

Eu percorria, durante o dia, todo o navio, quando o mar era calmo, mas só era solicitado para ouvir desabafos. Por isso, sentia-me inútil como padre; não obstante todos me tratarem com correcção, sentia-me como uma ave rara, com quem todos, levados pela curiosidade, queriam discutir assuntos de religião. Tirava algumas dúvidas, mas não resolvia as minhas.



Entretanto, ia-me preparando para o exame de admissão à Faculdade de Letras. Esta admissão constava da
matéria de História do 5º ao 7º ano e Filosofia do 6º e 7º.

Nas últimas viagens ao Golfo Pérsico, estava mesmo disposto a mudar de profissão, pedindo a redução ao estado laical. O isolamento de cerca de 25 dias de viagens, só com 30 a 40 homens a bordo, tentando esquecer o tempo, bebendo, ou criando situações conflituais, desenraizados socialmente, trouxe-me a noção do meu próprio isolamento. Nada me faltava a bordo. Contudo, achava inútil a minha presença ali.

Na minha indecisão ia-os ouvindo mas também desabafando os meus problemas. Esta situação não lhes passou despercebido e, na hora do desembarque, ofereceram-me um saco confeccionado a bordo e uma caneta, num estojo, onde se lia: «para o capelão. Prenda de casamento».

Nesta indecisão, bem dolorosa para mim e toda a minha família, novamente, uma pessoa teve grande influência: o padre da minha freguesia, um belga, assistente da Universidade de Lovaina em Físico-Químicas, que veio, já vocação tardia, para o Patriarcado. Ousadamente, tentou sacudir a religiosidade tradicional do povo da Freguesia, preocupando-se, sobretudo, em reconciliar as muitas famílias desavindas, o que para ele era essencial. Deixou de celebrar missa semanal na igeja paroquial, preferindo antes as casas das pessoas. Aí reunia toda a família, e outros que quisessem participar. No meio da refeição normal, constituída por aquilo que cada um levava, lia alguns extractos do Evangelho apropriados. Consagrava, depois, o pão e o vinho e dava a Comunhão que era o momento alto da reconciliação das pessoas, umas com as outras, porque,  dizia, ninguém pode estar de bem com Deus, sem estar de bem com os outros.

Nos dias de semana trabalhava como camarada de um barco e recebia o seu quinhão de peixe. Disso vivia e das aulas no Instituto dos Invisuais em Lisboa, sem levar dinheiro pelos outros serviços, prestados aos fregueses. [Há aqui um hiato no texto, o sujeito da frase ´deve ser um professor do Instituto dos Invisuais de Lisboa...] Toda a gente o estimava e admirava peia sua dedicação e desprendimento que contrastava com a normalidade. Foi incompreendido pelas hierarquias do Patriarcado, acabando por sair e casar com uma professora cega, com mais três irmãos cegos que continuou a amparar.

Foi ele que me orientou. Ia para sua casa e falávamos, demoradamente. Os seus conselhos e a sua corajosa atitude ajudaram a libertar-me da indecisão.

Depois de mais uma vez regressar à Guiné, com tropas, fiz a última viagem a Cabinda. Desembarquei e fui hospedar-me, como de costume, numa residência da Instituição. Pedi a redução ao estado laical e fiquei a aguardar. Embora continuasse a celebrar, recebia a visita de minha irmã, então a trabalhar no Porto e de outras raparigas, entre elas a minha futura mulher [, Milita].

Esta situação deve ter chegado aos ouvidos dos Superiores Maiores, que se ofereceram para me pagar determinada quantia mensal, para alugar um quarto na cidade, se eu abandonasse, de vez, a residência.

Mal abandonei a residência, esqueceram-se da promessa e fui morar com mas três colegas, num quarto alugado. Para sobreviver, dava explicações e oito horas semanais de aulas. Em contrapartida, leguei aos meus ex-confrades as alfaias litúrgicas do Apostolado do Mar e à Igreja de Arribas do Mar [, Ribamar, Lourinhã] os cálices que me tinham oferecido na Missa Nova ], em 15 de agosto de 1959].

Casei na capela românica da Cedofeita [, Porto], com a assistência apenas dos padrinhos, tal como me impôs o Bispo do Porto, em 1972 [, D. António Ferreira Gomes, regressado do exílio em 1969]. Tudo em conformidade com o habitus da obediência e subordinação. A paixão é que foi transferida do simbólico para o real. (...)

[Fonte: Horácio Neto Fernandes, "Francisco Caboz: do angélico ao trânsfuga, uma autobiografia. Porto:  Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. 1995, pp. 133-136. (Disponível em formato pdf)... Com a devida vénia ao autor e à biblioteca da FPCE/UP.]

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de agosto de  2014 > Guiné 63/74 - P13545: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte VIII (e última): (i) o fim da comissão e o regressa a casa; ... (ii) a angústia em relação ao futuro