segunda-feira, 26 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6788: Patronos e Padroeiros (José Martins) (13): Avós - Santa Ana e S. Joaquim

1. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 24 de Julho de 2010:

Caros Camaradas
Como se aproxima o «Dia dos Avós» que se comemora em 26 de Julho - segunda-feira - , nos quais a maioria de nós se inclui ou espera a hora de entrar neste clube, envio mais um texto sobre Patronos e Protectores,

Fraterno abraço
José Martins


PATRONOS E PADROEIROS XIII

DEDICADO ESPECIALMENTE AOS AVÓS DO NOSSO BLOGUE

São Joaquim e Santa Ana com Nossa Senhora, imagens da Colecção de Maria Manuela Martins
© Foto de José Martins

Santa Ana e São Joaquim, não sendo Padroeiros ou Patronos Militares, não deixam de estar ligados a um sector, com algum peso, nas Forças Armadas e, especialmente nos Antigos Combatentes.

Santa Ana, que pertencia à família do Sacerdote Aarão e, São Joaquim, homem rico da família do Rei David, sendo familiar próximo de São José, havendo teorias que seriam mesmos irmãos, eram casados, mas não tinham filhos.

Alguns factos chegam ao nosso conhecimento pelo chamado “Livro de Tiago”, atribuído Tiago Menor, filho de Zebedeu, e escrito cerca do ano de 150, tendo sido publicado nos finais do século XVI, sob a designação de “Proto-Evangelho de Tiago”.

À época, era norma os casais terem vários filhos, já que a ausência destes era considerada na cultura judaica, como um castigo de Deus. Além da tristeza que esta situação provocava em Joaquim, o Sacerdote Ruben censurou-o por não ter filhos, mas a mulher era estéril. Homem pio e crente, retirou-se para o deserto, a fim de meditar, rezar e fazer penitência, durante quarenta dias e quarenta noites. Foi nessa altura que Ana recebeu a visita de um Anjo, que lhe disse: "Conceberás e darás à luz, e de tua prole se falará em todo o mundo." Era o prémio para a resignação com que haviam sofrido a esterilidade da Ana. Em Jerusalém, localidade em que residiam, a 8 de Setembro do ano 20 a.C., nasceu uma filha ao casal a quem puseram o nome de Miriam, que significa “Senhora da Luz” (em hebraico) ou Maria (em latim).

Já que Maria tinha sido dedicada pelos pais a Deus, aos três anos de idade Maria foi para a escola do Templo de Jerusalém, onde ficou até aos doze anos. Foi nesta altura que São Joaquim morreu, contando cerca de oitenta anos.

A devoção a Santa Ana e a São Joaquim já é muito antiga no Oriente e, quando as relíquias de Santa Ana foram trasladadas da Terra Santa para Constantinopla, cerca do ano de 710, o seu culto foi desenvolvido no ocidente. O Papa Urbano IV oficializou, em 1378, o culto a Santa Ana, tendo sido fixada a data da sua festa, pelo Papa Gregório XIII, a 26 de Julho.

O culto de São Joaquim que vinha, desde os primeiros tempos da era cristã, estendeu-se ao ocidente no século XV. A sua festa litúrgica era comemorada a 20 de Março, associando a data à festa de São José, a 19 desse mês, vindo a ser transferida para o dia 16 de Agosto, associando, assim, a sua festa à celebração da Ascensão de Nossa Senhora, sua filha. O Papa Leão XIII, de seu nome de baptismo Goiacchino (Joaquim na versão italiana), estendeu a sua festividade a toda a Igreja.

O Papa Paulo VI associou as festividades de Santa Ana e de São Joaquim num único dia, a 26 de Julho, passando a comemorar-se, nesta data, o dia dos avós. Por serem os pais de Maria e avós de Jesus, Santa Ana e São Joaquim são os santos protectores dos avós, entre os quais se encontra a maioria dos antigos combatentes.

24 de Julho de 2010
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6674: O Nosso Livro de Visitas (91): Hélio Matias, ex-Alf Mil Cav, comandante do Pel Rec Daimler 805 (Nova Lamego, 1964/66), que conheceu o Triângulo do Boé (José Martins)

Vd. último poste da série de 29 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6657: Patronos e Padroeiros (José Martins) (12): Escola de Sargentos do Exército - Nossa Senhora do Mundo

Guiné 63/74 - P6787: Estórias cabralianas (62): À Tesão, Pelotão!... Este é o Alfero Souza, meu amigo (Jorge Cabral)


1. Estórias cabralianas (*),
por Jorge Cabral

À TESÃO,  PELOTÃO! 

Com o Pelotão [, o Pel Caç Nat 63,] em Bambadinca, preparando-me para arrancar para o Xime, eis que deparo, com um Gandhi,  de camuflado, que avança para mim com os braços abertos. É o Souza, com "z", meu amigo e camarada de Vendas Novas.

Indiano de Damão, logo em 1961, partira para a Inglaterra, onde se doutorara em Física. Não conhecia Portugal, mas em Fevereiro de 1968 teve que vir ao funeral da Tia. Foi quanto bastou, foi incorporado. Já tinha 34 anos, era casado, Professor Universitário, pai de 3 filhos, quase não falava português. Pois bem, atirador de artilharia, meu companheiro de Pelotão [, em Vendas Novas]. Magríssimo, usava uns oculinhos redondos e nunca se queixava.

Fazia parte da nossa instrução, dar voz de comando, apresentando o Pelotão.  Começava, " Atenção Pelotão…", mas quando calhou ao Souza, ele clamou:
- À Tesão,  Pelotão! -  (Não me lembro se nós respondemos afirmativamente…).

De passagem por Bambadinca em trânsito, para o Leste do Leste, o Souza estava ainda mais magro, conservava os pequeninos óculos e aquele ar de suprema resignação. De partida, sem tempo para conversas, quis que conhecesse os meus Soldados. Reuni o Pelotão e disse:
– À Tesão,  Pelotão! Este é o Alfero Souza, meu Amigo!

Muitos anos passaram. Mas ainda hoje, quase como uma divisa, em momentos de chatice, desânimo ou tristeza… eu penso "À Tesão Pelotão!" …e as coisas melhoram…

Jorge Cabral

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 21 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6769: Estórias cabralianas (61): Os Poderes do Professor Wanatú... (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P6786: Tabanca Grande (233): João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/66), e grande português da diáspora

1. Mensagem de 8 de Junho passado, enviada pelo nosso camarada Beja Santos:

Data: 8 de Junho de 2010 11:08. 

Assunto: Notícias de João Crisóstomo: Só para vocês saberem qual a militância deste nosso camarada!



2.  Mensagem enviada pelo João Crisóstomo [, foto à esquerda,], ex-Alf Mil, a viver em Nova Iorque, e que passa doravante a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande (*), sob o nº 432, com uma saudação muito especial do Luís Graça e demais editores e membros do nosso blogue:

Meu caríssimo Beja Santos:

Envio de novo, pois parece que parte do e mail não chegou a sair.  Isto de comunicações digitais... Deus me ajude!!!!....

Tentei telefonar, (que para mim o som duma voz humana do lado de lá da linha vale mais que mil emails (que são úteis e necessários para outras coisas, eu sei...), mas não apanhaste o telefone... Frustrado tenho mesmo de me pôr ao teclado...

Mas não quero de jeito nenhum deixar de te enviar um grande abraço. Aliás, embora ninguém me tenha encarregado de o fazer, eu tenho a certeza de que muitos dos teus amigos no exterior, especialmente aqueles que como nós tivemos as mesmas experiências e o mesmo viver na Guiné, para os que por acaso leiam este email e não me conheçam: eu fui o percursor imediato (juntamente,  com o Freitas, Sousa, [Luís] Zagallo, Henrique Matos e outros da CCaç 1439), do nosso Beja Santos em Xime, Bambadinca, Missirá, Enxalé, Porto Gole... Se soubessem que hoje era o dia dos teus anos iam rebentar com as linhas telefónicas ou pôr sobrecarga na Internet.... Portanto por estes todos que te queremos muito e que estão espalhados por esse mundo fora....o meu grande abraço e um grande abraço deles também.

Tenho pena de até ao momento não ter podido dedicar mais um pouco de tempo para me corresponder mais contigo e com [o blogue] Luís Graça & Camaradas da Guiné: acreditem que... não tem mesmo dado jeito. E já que estou ao teclado - sempre é alguma comunicação - eu permito-me esclarecer o porquê, na esperança de que compreendam, ao mesmo tempo que me permito dar alguma informação que, como portugueses,  creio relevante para todos nós.

Desde que voltei de Portugal eu tenho andado 'sobrecarregado'. A idade - quase 66 anos  - começa a impor condições e limitações a que não estou habituado e me custa aceitar: e o resultado foi há bem pouco tempo ter apanhado um susto pois estive dois dias com dores de cabeça horríveis e alta temperatura (chegou a 42º C) sem o médico saber porque nem o que fazer. Até que, ao preparar-me para fazer test scans e não sei que mais, eu perguntei ao médico se o cansaço e a falta de sono podiam ter algo a ver com essa minha situação: que desde que voltara de Portugal estava a dormir uma média de 2 a 4 horas por noite (com algumas excepções, pois havia noites que eu não chegara a ver a cama). Ele não me disse o que pensou, mas creio que de estúpido para cima no faltou nada. Depois de medicado, mandou-me para casa descansar....

E isto porque, ao contrário de 2004 em que coordenei o 50º aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes [ 1885-1954,] em 22 países, as comemorações que me decidi organizar, embora em menor escala este ano - 125º  aniversário do seu nascimento e o 70º  aniversário do 'Dia da Consciência' -  as comemorações têm sido muito difíceis de concretizar. Mas algo está acontecendo (e, como portugueses, que somos, espero não levem a mal aproveitar-me deste meio para a divulgação do que acho relevante): Sei de acontecimentos que são programados por esse mundo fora, especialmente em França pelo Sr. Manuel Dias e nos quais eu eu não estou envolvido. Outros, em cuja realização eu tenho prestado o meu maior ou menor contributo incluem:

Dias 17 e 20 de Junho [de 2010]: Missas de Acção de Graças (junto algumas cartas -resposta relacionadas com algumas delas ) no Vaticano, França, Portugal, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Argentina.

Além destas há outros acontecimentos relevantes: a vinda por empréstimo do MNE [, Ministério dos Negócios Estrangeiros,] do livro de registo de Bordéus para Nova Iorque, como sucedeu há cinco anos e que teve tal ressonância que o próprio New York Times dedicou um artigo editorial ao acontecimento; a adesão de muitas sinagogas pelo mundo fora que confirmaram com maior ou menor destaque participar nestas comemorações; a apresentação (neste caso embora "esteja por dentro" a minha participação tem sido muito muito pequena, podendo dizer que se limita a apoio moral da minha parte) do filme "O cônsul de Bordéus", uma co-produção belga, espanhola e portuguesa (maioritariamente portuguesa) dirigido por Francisco Manso e João Coreia, música pela Orquestra de Viana de Castelo e voz de Lina Rodrigues... tudo fabuloso... etc., etc.

Quanto a Portugal permitam-me mencionar a Missa na Sé Catedral de Lisboa, dia 17 de Junho, às 19h00. O Sr. Cardeal Patriarca disse-me da sua impossibilidade de presidir este ano, mas delegou num dos seus bispos auxiliares: A Missa será [ foi,] celebrada pelo Sr. Bispo D. Tomás da Silva Nunes.

Familiares, Amigos de Sousa Mendes  e outras individualidades estão envolvidas e a todos convido a estarem presentes neste acontecimento muito significativo e relevante.

Bom, agora tenho de ir para Nova Iorque.... trabalhar. Antes porém, aqui vão as tais cartas (**)

Um braço grande para todos vocês também
João Crisóstomo




Blogue Amigos de Aristides e Angelina Sousa Mendes:

"A missão deste blog é de celebrar, divulgar e homenagear o ACTO de CONSCIÊNCIA de Aristides de Sousa Mendes em Junho de 1940 em Bordeaux, salvando milhares de refugiados sob a ameaça imediata dos invasores e da Segunda Guerra Mundial. / The mission of the blog amigos desousamendes.blogspot.com is to celebrate, disseminate and honor the Act of Conscience of Aristides de Sousa Mendes, the Portuguese diplomat who saved thousands of refugees in June 1940 in Bordeaux".

Poste de 18 de Março de 2010 sob o título "João Crisóstomo works for the Sousa Mendes cause" [João Crisóstomo trabalha para a causa de Sousa Mendes]
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Março de 2010 > Guiné 63/74: P6013: Camaradas na diáspora (1): João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), militante de causas nobres, a viver em Nova Iorque

(**)  Cópias de documentos enviados pelo João Crisóstomo que servem para ilustrar a sua actividade como "militante de causas nobres":


[Carta, em francês,  com data de 19 de Fevereiro de 2010, assinada pelo Cardeal Ricard, arcebipo de Bordéus, endereçada para o nosso camarada João Crisóstomo, coordenador e vice-presidente do Comité Internacional Angelo Roncalli] (LG)




[Carta, em inglês, com data de 25  de Abril de 2010,  assinada pelo nosso camarada João Crisóstomo, coordenador do Projecto "O Dia da Consciência" e vice-presidente do Comité Internacional Angelo Roncalli, e dirigida ao Secretário de Estado do Varticano, Cardeal Bertone] (LG)

E AINDA ESTA MISSIVA QUE ACHO MUITO INTERESSANTE PELO ENTUSIASMO T
TÃO O EVIDENTE .( Assim vale a pena trabalhar....) (JL)

Dear friends,

Thanks so much for all your support with this idea to honor this great man.

Here's the status as of today, May 28, 2010:

NEW ACTIONS:

- Tim received confirmation from the Israeli Consulate that the Consul General will attend on June 17

- João Crisóstomo sent me the text (Portuguese and English) to be shared with any priests for special intention masses

- João de Brito is contacting Nathan Oliveira, John Mattos, and Maxine Olson to provide artwork that may relate to the theme (Sousa Mendes, freedom, hope, despair, etc.) to be exhibited at the Consulate

- João de Brito is contacting the Contemporary Jewish Museum of San Francisco to potentially provide some space to exhibit the works of these prominent artists (João, Nathan, John, Maxine) at one of the museum's galleries

- João de Brito and/or John Mattos will be designing a large banner to display on the façade of the Consulate

- I requested that Diane Madruga ask the Pastor at St. Clare's Church in Santa Clara to say a mass in Sousa Mendes' honor on June 13, 17, and/or 20

- I invited the Consul General of Brazil

- Sebastian Mendes and Sheila Abranches (grandchildren of Sousa Mendes) are contacting their relatives who live in the Bay Area to attend the events; they are also contacting their aunt Teresinha (Sousa Mendes' surviving daughter) who lives in Manteca, CA to see if she would be able to attend

- Tim is preparing an invitation list

- Tim is coordinating the hors d'oeuvres (kosher) and flower wreath - donated by PFSA

- I asked Sharon Xavier de Sousa, choir director, who will be performing at the Dia de Portugal concert at Five Wounds Church in San José on June 13 (2:30 PM), to consider dedicating one of the concert pieces to Sousa Mendes and his family

- I have asked João Crisóstomo about posters, banners, brochures, etc. that may have been prepared previously that could be used again

- I contacted the San Francisco Police Department to inquire about potential permits or requirements that need to be addressed

COMPLETED ACTIONS:

- Portuguese Consulate is reserved for the event on June 17 starting at 10 AM (thanks to the Consul General); PFSA will coordinate and donate the kosher hors d'oeuvres (thanks to Tim and PFSA)

- Email invitations sent to Mayors Gavin Newsom of San Francisco, Tony Santos of San Leandro, Al PInheiro of Gilroy, Consul General of France, Honorary Consuls of Austria and Belgium (Tim previously contacted the Consul of Israel), Senators Boxer and Feinstein, Congressmen Nunes, Cardoza, and Costa, Fr. Don Morgan of Five Wounds Portuguese National Church; Tim is inviting Newark Councilman Luis Freitas and is preparing a list of additional invitees

- Five Wounds Portuguese National Church will have a special intention mass on Sunday, June 13 at 11 AM (thanks to Fr. Don Morgan); Fr. Morgan has asked for a text in Portuguese to be read during mass about Sousa Mendes (I will be preparing it)

- Press releases sent to the following media outlets: San Francisco Chronicle, San Jose Mercury News, KGO 810 AM Radio, KGO 7 TV, NBC 11 TV, KRON 4 TV, KCBS 770 AM Radio, CBS 5 TV, KQED Radio, KQED 9 TV, KTVU 2 TV, Portuguese Tribune (Facebook)

Um grande abraço,
Miguel

domingo, 25 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6785: Bibliografia (33): Lugares de Passagem, a minha próxima ficção (José Brás)

1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, autor do romance "Vindimas no Capim"*, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura ), com data de hoje, 25 de Julho de 2010:

Os camaradas que estiveram a 26 de Junho em Monte Real assistiram ao triste episódio de, quando quisemos oferecer ao Luís em nome do auto-intitulado "Grupo do Cadaval", uma prova de gratidão no objecto concreto do que será o meu próximo livro, escolhido porque imagem chapada das virtualidades do blogue e do convívio que nele se desenvolve.
Afinal mais parecemos, então, jogar uma cena de Quixote, sem lança e cavalgando Rocinante imaginário.

Ficou a intenção e no dia seguinte, por correio, lá seguiu o pacotinho de palavras juntas em quase 200 páginas sob o título "Lugares de Passagem".
Na altura, houve camaradas que me abordaram de ar brincalhão e sugerindo que aquilo era apenas um faz de conta e, outros, no sentido de terem acesso também a um exemplar igual, argumentando que tal coisa, datada e autografada, assim, teria um valor simbólico para todos, uma vez que, como se afirmava e confirmo, foi a Tabanca Grande, no seu conjunto que me entusiasmou a voltar à escrita.

Agora, passados estes dias e em contacto com os elementos do grupo, resolvi aceder ao pedido e disponibilizar algumas cópias para entrega aos camaradas que se manifestarem interessados.

O trabalho tem cerca de 200 páginas e compreende:

1 - o texto em si com o título "Lugares de Passagem"
2 - capa e contracapa da autoria de minha filha Cátia Brás
3 - sinopse da trama entregue na editora
4 - prefácio da autoria de António Loja, meu capitão na Guiné, professor, investigador, escritor
5 - cópia do texto/dedicatória que acompanhou a unidade oferecida ao Luís.

O preço deste pacote é de 17,50€ com correio já incluindo e faríamos o mesmo que fizemos com o Vindimas no Capim, se tu estiveres de acordo.

A fim de terem todos uma primeira abordagem ao livro, junto o texto/sinopse e o prefácio, referidos em 3 e 4.

Deste modo coloco-te a questão da oportunidade da colocação de notícia no blogue com a informação do meu próprio endereço electrónico, jasbras1@sapo.pt.

Forte abraço
José Brás


"LUGARES DE PASSAGEM"

SINOPSE

Filipe Bento é o ficcionado narrador de "Vindimas No Capim", livro que deu a José Brás, em 1987, o Prémio Revelação da APE na modalidade de ficção narrativa, editado por Publicações Europa-América em 1988.

Em "Lugares de Passagem", Filipe Bento pretende sair do seu estado ficcional e tornar-se autor de uma série de estórias que terá guardado e amadurecido nos anos que decorreram desde a publicação de "Vindimas".

No sentido de passar ao papel tais estórias, e tendo consciência das suas dificuldades com escrevente narrador, busca a quem lhe possa ajudar na tarefa, e nada mais natural que o fizesse junto de José Brás a quem havia prestado o favor de se assumir como narrador das peripécias no livro anterior.

Porém, Filipe Bento resolve pôr a limpo um facto mal contado então, dando a público a informação de que o verdadeiro autor de "Vindimas no Capim" havia sido um tal Arnaldo, neto de um personagem anterior e ainda presente de memória, José da Bonança, ou José da Venância, ou José de Matos Luís ou Luís de Matos, confusão de nomes que não chegou nunca a apurar-se com certeza certa, nem em "Vindimas no Capim", nem, agora, em "Lugares de Passagem", fenómeno muito presente no convívio quotidiano entre gente de aldeia, inclinando-se mais o narrador para José Luís de Matos, de onde parece vir o sobrenome do Arnaldo, de Matos, seu amigo real desde os bancos da escola primária.

"Lugares de passagem" começou por chamar-se em projecto "Lisboa, lugar de passagem", porque Lisboa sempre o foi para mim, para o Filipe e parece que para o Arnaldo, primeiro, lugar de ir e voltar no comboio de Vila Franca de Xira ou na carreira da Bucelence, depois, caminho da guerra colonial aonde se ia sempre com hipóteses de não voltar, e, mais tarde ainda, nos aviões entre aeroportos do mundo.

Contudo, porque aeroportos sempre foram para nós, cidades, gente, vida para além de lugares de ausência que são quase sempre, apenas partidas e chegadas, no decorrer da escrita apareceu como melhor o actual título.

"Lugares de Passagem" é, assim, uma tentativa de viajar por dentro de gente que habita as cidades dos aeroportos, uma tentativa de visão sobre o comum e global desejo de felicidade das pessoas, através dos anseios individuais e a conflitualidade permanente nesse jogo de aproximar e afastar.

Subitamente, Filipe Bento, o ficcionado narrador de "Vindimas no Capim", resolve também contar histórias e exige trocar de lugar, isto é, que lhas escreva, alguém que descobrirá que tais histórias são restos alterados de outras que lhe teria, em tempos recuados, contado eu, Arnaldo ou José Brás, porque destrinçar entre os dois não tem qualquer interesse.

Não é um livro de contos, não é um romance, não sei se é o que quero que seja, a tal viagem de partidas e chegadas aparentemente desligadas umas das outras mas que o leitor ligará por invisível fio paralelo e exterior, segundo a leitura de cada um, como se insinua nas apresentações iniciais.

Na minha terra os pequenos agricultores, acabada a sementeira, olhavam-na com alguma ansiedade e murmurando "benza-te Deus".

Em princípio, porque agnóstico, não é "politicamente correcto" dizê-lo eu.

Contudo, e ainda assim, digo-o como o dizia o avô José da Bonança, não pelo lucro material que possa ou não vir a dar-me, mas, vindo tempo a feição, pelo lucro espiritual que possa trazer, a mim, semeador, e a outra gente que o colher.

Benza-te Deus!

José Brás

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Prefácio

...ou Carta de um capitão* da Guiné a um furriel da companhia


Com quantas mãos se constrói uma casa? Quantas personalidades deverá assumir o homem que elabora o projecto? E o que rasga os caboucos? E o que lança as fundações? E o que afeiçoa a pedra a mistura o cimento e a areia? E o que abre portas e janelas deixando nela entrar a luz e o calor? E o que a cobre com um telhado, protegendo-a de chuvas e do vento agreste? E o que finalmente a povoa com seres humanos igualmente possuidores de várias personalidades que convivem no mesmo corpo como as notas contrastantes de um concerto de Vivaldi reunidas na perfeita harmonia de uma inquietação tornada unidade?

Com quantas mãos se escreve uma história? Duas personalidades assume o homem que decide fazer aos outros o relato da sua experiência de vida, em seu nome e em nome de outro, neste caso outros, que são também ele próprio, num saudável desdobramento que permite a José Brás, e aos seus amigos Arnaldo e Filipe Bento escreverem "Lugares de Passagem", numa cumplicidade criativa que faz reviver neles os companheiros mortos na guerra em que os três participaram na Guiné e outros com quem se cruzaram em "lugares de passagem", multiplicando assim a sobreposição enriquecedora de experiências vividas e de personalidades directa ou indirectamente envolvidas na dinâmica criativa: o Xico que "sabia muito pouco das leis da física que justificam o voo", mas que podíamos dizer "foi um pioneiro da aviação", Helena, sentada em Copacabana, frente ao mar, o soldado Lixa que fita nos olhos o guerrilheiro do PAIGC, ambos protegidos no mesmo "lugar de passagem" que é o bagabaga, e Rose, e Mominato, e Maura, e Anamaria, e o cabo Calçada, apanhado por uma rajada que lhe arranca um pulmão, e o enfermeiro homossexual que para salvar vidas circula entre as balas como anjo imune ao perigo, e o avô José da Bonança, aliás, José de Matos Luís, e o soldado Dias que deixou de viver nos escassos segundos em que eu mesmo o deixei agarrado ao rádio enquanto para junto dele regressava vindo de outro recanto do mato que estoirava em fogo, e o meu telegrama recebido pelo José Brás durante a festa na aldeia, e o cabo Oliveira, a esvair-se em sangue em Ximxim-Dari mas depois a salvo no hospital da Estrela.

E que há-de fazer, quarenta anos depois de tudo isso, um homem como eu, capitão por acaso de uma companhia de atiradores onde havia um furriel de transmissões chamado José Brás, que tem recordações semelhantes às minhas mas que as guarda como eu porque escreve como eu mesmo tentei escrever quando me encontrava no que pensei ser um "lugar de passagem" entre a vida e a morte? Que há-de fazer um homem acordado do seu meio viver pelo fluxo das suas recordações, José Brás, escriba de si mesmo e dos seus amigos Filipe Bento e Arnaldo, senão caminhar a seu lado, tentando recordar também, sem ter a pretensão de distinguir entre verdades e mentiras, difíceis por vezes de separar na neblina dos anos que separam a realidade vivida do que dela resta como resíduo.

Mas você o diz, José Brás, "verdades e mentiras são sempre / meias verdades e meias mentiras / quem com loas perde tempo / mentiras lhe parecem verdade / e verdades lhe parecem mentira".

Repito a minha pergunta inicial, agora com outras palavras. Como se constrói uma casa? Se eu entregar a quarenta homens um punhado de tijolos e lhes disser "construam uma casa" é mais que certo que surgirão quarenta casas diferentes, ao modo das necessidades e das aptidões de cada construtor. E nunca poderei dizer que uns constroem verdade e que outros constroem mentira. Do mesmo modo as nossas comuns experiências são necessariamente vividas de modo diverso, mesmo que outros possam querer chamar-lhes verdades e mentiras (ou meias verdades e meias mentiras).

Mas é com essas verdades que vivem em nós que conseguimos ser fiéis a nós mesmos e fiéis à memória que guardamos dos amigos mortos que encontrámos nesses "lugares de passagem" chamados Aldeia Formosa, aliás, Quebo, e Medjo e Guiledje e Cumbijã e Missirã e Ximxi-Dari e Darsalame e Nhala e Buba e Contabane. E todos esses lugares se confundem por vezes com o Rio de Janeiro e com São Salvador da Baía e com Montreal, porque uma curva de estrada faz recordar outra curva de estrada onde homens emboscados tentavam derrubar-nos e onde emboscados nós tentávamos derrubar outros combatentes, homens como nós que por uma acaso da vida se cruzavam nos mesmos lugares de passagem e que por isso ganharam um lugar tão indelével nas nossas memórias. Essas recordações não são mentiras, nem mesmo meias mentiras. São as nossas verdades, com que temos vivido desde a guerra, que passou por nós com a força de uma tempestade e que em nós deixou marcas que não queremos que desapareçam, porque sem elas as nossas vidas seriam menores e nós não seríamos nós mas outros.

Mas somos nós e, deixe-me agora transcrevê-lo de novo "outros e os mesmos porque todos nascemos de ventre de mãe, todos sonhámos outros eus, todos lutámos, todos matámos de bala ou de imaginação, e matando nos matámos a nós próprios antes que a morte morte nos venha buscar".

António Loja

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António Loja
Funchal - Madeira
Professor de história e filosofia e investigador
Escritor - "As Ausências de Deus" (Notícias); "A Luta do poder contra a maçonaria" (Imprensa Nacional-Casa da Moeda); "como um rio invisível" (Notícias).
Candidato pela Oposição nas eleições de 1969
Presidente da Junta Geral do Funchal entre Abril de 74 e as primeiras eleições democráticas
Deputado à Assembleia da República entre 1976 e 1979
Deputado à Assembleia Regional da Madeira entre 1980 e 1984
Capitão Miliciano na Guiné, Quebo, Mejo e Jolmete de 1966/68

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2. Comentário de CV:

Os camaradas que participaram no último Encontro de Monte Real compreenderão melhor esta iniciativa do José Brás, no entanto quem já teve a oportunidade de ler o "Vindimas no Capim" não irão perder este "Lugares de Passagem" (benza-o Deus).

Os interessados deverão, preferencialmente, pedir o seu exemplar ao José Brás, mail: jasbras1@sapo.pt.

Já agora aproveito este tempo de antena para dizer que estou a ler o "Vindimas no Capim", e apesar de não ter arte para crítico literário, aconselho-o vivamente. É um livro onde se misturam, o humor, a ironia, o drama, e a realidade que nós vivemos na guerra colonial. José Brás caracteriza com muita clareza a vida do campo no Alentejo profundo dos anos sessenta, quando muitos tinham tão pouco e poucos tinham demais. A não perder.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6678: Controvérsias (91): Mário Cláudio e o debate, Açordas! (José Brás)

Guiné 63/74 - P6784: Tabanca Grande (232): Fernandino Leite, Soldado de Transmissões da CAÇ1499/BCAÇ 1877 – Pelundo, Bolama, Pirada e Piche -, 1966/67

Mais um Camarada se apresenta nesta Tabanca Grande, o Fernandino Leite (ex-Soldado de Transmissões da CAÇ1499 / BCAÇ 1877 – Pelundo, Bolama, Teixeira Pinto, Pirada e Piche -, 1966/67, que é um cliente habitual da Tabanca de Matosinhos e grande amigo pessoal do Casimiro Carvalho (CCAV 8350 - Piratas de Guileje), nesta sua primeira mensagem apenas enviou uma reportagem fotográfica do seu álbum de memórias, mas deixando a promessa de que, brevemente, voltará com a descrição da evolução operacional da sua Companhia por terras da Guiné:



Um aspecto da tabanca de Pirada


Eu no meu posto de "trabalho"

Eu, os júbis e, ao fundo, uma
dornier

Eu posando na
Sofia

Aqui posando numa
Vespa


Aqui com um pequeno júbi


Helicóptero capturado ao P.A.I.G.C.


Eu "bem acompanhado"

Um abraço,
Fernandino Leite
Sold Trms da CAÇ1499/BCAÇ 1877


2. O Fernandino Leite é o primeiro elemento, quer da CCAÇ 1499, quer do BCAÇ 1877 a dizer presente nesta nossa tertúlia, ficando a aguardar que outros seus camaradas da Unidade lhe sigam aqui o exemplo.



3. Amigo e Camarada Fernandino Leite, é da praxe que em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, te diga aqui que é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.
Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados em postes no blogue, todos aqueles que constituíram a geração dos “Últimos Guerreiros do Império”, têm alguma coisa a contar da sua passagem da Guerra do Ultramar, que permaneça para memória futura e colectiva, deste violento e sangrento período da História de Portugal.
Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico (cerca de 500 anos de permanência), à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sangue, sofrimento, morte… que envolveu a movimentação de mais de meio milhão de portugueses em armas.
Como se não tivesse bastado, continuamos a sofrer, pelo menos psicologicamente, nos últimos 36 anos com o modo ostracista e laxista como os políticos portugueses nos tratam.
Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos, construídos no lodo, embebidos em pó, lama, suor, mosquitos, etc., completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.) e as nossas naturais angústias e temores, próprios das nossas tenras idades.
Nós até nem temos pedido muito, além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente, e o tratamento e acompanhamento dos mais carenciados e abandonados pela desgraçada “sorte” da vida.
Oferecendo-te então aqui as nossas melhores boas-vindas e ficamos a aguardar que nos contes episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.Recebe pois, para já, o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
Fotos: © Fernandino Leite (2010). Direitos reservados._____________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

18 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL

Guiné 63/74 - P6783: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (31): De volta à natureza

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 24 de Julho de 2010:

Mais um troço de “Viagem…” que fecha um pequeno ciclo inesperado e nos leva a um recomeço.

A “Velhice” está mais próxima!

Um abraço e boas férias
Luís Faria



Viagem à volta das minhas memórias (31)

De volta à Natureza


“O que é bom depressa acaba” e assim, a 19 Agosto de 1971 após vinte dias de “férias”, recolhidas as trouxas e montados nas viaturas, os 2.º e 4.º GCOMB da “FORÇA” metem-se à estrada de regresso a Teixeira Pinto, de onde tínhamos saído para ajudar numa “guerra“ na Cidade, que me apercebi não aconteceu e ainda bem. O 1.º GCOMB tem sorte e ficará por aquelas bandas por mais uns dias em férias, até final do mês.

A fita de asfalto que se estendia até João Landim vai ficando para trás, abrindo acesso às pontas das já saudades de Bissau e daqueles dias diferentes que passamos, aproximando-nos da travessia do Mansoa na jangada, o que me levava sempre a uma certa sensação de apreensão, não só pela travessia em si como pela noção adquirida de que, para além do rio… recomeçava de novo a guerra.

No entretanto de embarcar e não embarcar para a travessia, uma cervejola na “barraca de apoio ao sedento” era bem vinda enquanto se apreciavam mais ou menos distraidamente as manobras de acostagem, de descarga e de carga ou se mirava aquele africano idoso ali costumeiro (das poucas vezes que por lá passei) que teria sido guia, com o peito cravejado de caricas e pequenas chapas como se medalhas fossem. Talvez… medalhas da turbulência menos feliz da sua vida?!

Por lá e à altura, paravam elementos da “Pica na Burra” não recordo se em serviço ou não, com quem trocava dois dedos de conversa. Mais tarde tive como companheiro de trabalho um dos que “Picavam a Burra”, o Carlos Ramalho, grande amigo, da Amareleja (terra mais quente e de melhor e mais forte “pinga” cá do nosso Jardim) com quem há já uns anos não contacto e que me traz à lembrança uma cena por que passei num almoço em casa de seus Pais, nessa terra de canícula e que passo a contar, como intervalo na narrativa do nosso regresso a Teixeira Pinto!!

João Landim > Elementos da CCAÇ 2791

João Landim > População aguarga travessia

Pica na Burra

Família e “convidado” (eu) sentam-se nos lugares destinados em redor da mesa . Na frente de cada um e para além dos talheres e pratos estão dois copos de igual desenho mas de diferentes alturas, julguei eu para vinho e o pequenito para licor ou digestivo. Começam a servir o vinho pelo ”convidado” e o néctar jorra para o copo pequeno. Fico “espantado” (minha Mãe, quando ouvia os filhos empregar este termo dizia-nos: ”os cavalos é que se espantam “!!!), quero então dizer surpreso e pergunto se estão a “caçoar” comigo, já que sabem que sou nortenho, bom rapaz e com a tropa feita!!! Riem-se, acham piada e explicam-me ser esse o costume, para que não se consiga beber de “golada”, já que aquele vinho tinha alto teor de álcool, devendo ser bebido gole a gole e assim intervalado com a comida ou água, pelo menos enquanto o copito ficava de novo cheio. Caso contrário seria fácil não nos conseguirmos levantar da cadeira no final da refeição!!! Era bem verdade!!!

Acabado o intervalo (que espero vos tenha sido profícuo (?!) e montado de novo nas asas de memórias mais antigas, regresso à coluna auto da 2791 que parceladamente atravessa o Mansoa na jangada cordada e reagrupa na outra banda, reiniciando depois a corrida que nos leva novamente a Teixeira Pinto, sem qualquer problema.

“Filhos pródigos(?!) a casa tornam” e por lá ficamos retomando logo de seguida, a 22 de Agosto, as nossas andanças pelas matas do Balanguerês e do Burné já vezes sem conta calcorreadas e bem, retomando o “estilo de vida” a que a estadia na grande cidade não deu tempo a nos desabituar!

Assim a vida regressa ao seu ritmo “normal e natural“ e os dias volto-os a viver um a um até à altura em que marchamos para Capó, onde a 25Out71 começa a ser construído um acampamento no meio de nenhures, feito de terra, paus e folhas de palmeira (palmeidur!?) que irá servir de base aos 3 GCOMB da “FORÇA” reforçada com um da CCaç 3308 (que não recordo, mas consta dos apontamentos) e a cerca de cinco centenas de trabalhadores nativos.

Nesse “cú de judas” no meio de nenhures e onde só podíamos contar connosco, iríamos passar cerca de mês e meio em condições mais que precárias e de perigo, obrigando-nos a uma actuação preventiva muito séria e intensa onde o facilitismo podia ser fatal.

Até lá, fizemos dezasseis operações ofensivas, intervaladas como era normal por descansos de trinta e seis ou quarenta e oito horas, por vezes vinte e quatro ou nem tanto. Intervenções problemáticas e muitas vezes difíceis, em que algumas provocaram dor, sangue e morte, frustração e até desejos de vingança (por que não dizê-lo?) que se combatiam com frieza, calma, persuasão e se necessário com autoridade!

“Por uma Guiné melhor” > Teixeira Pinto

Foram anos complicados e difíceis esses, em que dezenas de milhar de Camaradas de Armas vivemos a nossa juventude em defesa do que à altura era ainda “Pedaço de uma Pátria” onde a Bandeira Portuguesa flamejava, ondulando ao sabor dos ventos da História que, sem a grande maioria de nós saber ou aperceber, se encontrariam já em subtil mudança.

Pedaços de vidas guardados bem fundo nos nossos seres, que só a morte irá libertar.

Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6700: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (30): Bissau, Paraíso na guerra

Guiné 63/74 - P6782: Notas de leitura (134): Invenção e Construção da Guiné-Bissau, de António Duarte Silva (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
É uma obra de grande importância, é um trabalho científico, onde o nosso blogue é regularmente citado na bibliografia.
Para se entender o aflitivo presente da Guiné-Bissau, é extremamente útil embarcar nesta viagem, até mesmo conhecer as normas constitucionais do país.


Um abraço do
Mário


A Guiné entre o século XIX e a actualidade:
Para entender melhor estes mais de 2 séculos de esperança adiada


por Beja Santos

Não hesito em dizer que o estudo Invenção e Construção da Guiné-Bissau (por António Duarte Silva, Edições Almedina, 2010) é de leitura obrigatória, mais não seja para os que quiserem perceber quais as raízes e a estrutura do mal-estar da identidade de um país permanentemente desencontrado (e desencantado consigo próprio).

António Duarte Silva é um especialista com créditos firmados. Em 1997, publicou o livro A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, centrado no período que vai dos primórdios do processo de declaração unilateral de independência até à entrada formal da direcção do PAIGC em Bissau, a 19 de Outubro de 1974.

O presente livro problematiza a fundação e a identificação da Guiné-Bissau. Pegando na bússola do autor, parte-se da instalação da colónia, no princípio do século XX, acompanha-se a mudança da capital para a Bissau e refere-se a nova “escola colonial” promovida por Marcello Caetano e Sarmento Rodrigues, durante a década de 1940. Depois, aprecia-se o alcance da conversão da Guiné em província ultramarina, passam-se em revista as primeiras manifestações nacionalistas bem como as medidas portuguesas para impedir a “subversão” na Guiné, procurando medir as consequências do “massacre do Pindjiquiti” (o autor justifica por que é que se deve dizer Pindjiquiti e não Pidjiquiti, como habitualmente dizemos). É aqui que começa uma nova fase da luta política que irá concluir com o processo da independência.

António Duarte Silva é técnico superior do Tribunal Constitucional e ex-professor da Faculdade de Direito de Bissau. Daí o estudo aprofundado que faz das diferentes Constituições bissau-guineenses desde a Constituição originária (de 24 de Setembro de 1973 ou do Boé) à actual terceira vigência da Constituição dita de “1993”. Vejamos, em síntese, o que nos propõe este admirável estudo.

Primeiro, a herança do século XIX, quando a presença portuguesa na Guiné, embora antiga, se mantinha muito reduzida, circunscrita à Praça de Bissau, aos presídios de Cacheu, Geba, Farim e Ziguinchor, ao posto de Bolor e à ilha de Bolama. O território nem sequer tinha nome próprio (era indiferenciadamente tratado por Costa da Guiné, rios da Guiné do Cabo Verde, Senegâmbia…). A “ocupação efectiva” decorre dos ditames da Conferência de Berlim (1885) e na sua sequência delinearam-se as fronteiras pela Convenção relativa à delimitação das possessões portuguesas e francesas na África Ocidental, assinado em Paris a 12 de Maio de 1886. Portugal perdeu o “chão” do Casamansa incluindo Ziguinchor.

Em 1879, a Guiné passou a província independente, cessando a sua subordinação administrativa e militar relativamente a Cabo Verde. A sede do governo instalou-se em Bolama. O autor dá-nos um quadro da governação da Guiné após o advento da República e os principais traços da organização político-administrativa e a composição da hierarquia colonial. Como é sabido, as “campanhas de pacificação” foram dadas como concluídas na década de 1930. O século XX vê emergir um surto de vida intelectual centrado em Bolama.

Nessas décadas, surgem obras de grande importância para a literatura colonial como Mariazinha em África de Fernanda de Castro e Auá de Fausto Duarte.

A mudança da capital para Bissau, em 1941, imprimirá um novo rumo aos acontecimentos. A cidade de Bissau irá ganhar uma fisionomia ”europeia”, passa a ser sede política, de negócios, será aqui que Sarmento Rodrigues lançará as bases da Guiné como “colónia modelo”. Esta viragem e a obra de Sarmento Rodrigues são analisadas com detalhe pelo autor. O Marcello Caetano ao tempo ministro das Colónias era um africanista convicto, inequivocamente a favor da promoção de autonomia administrativa e do desenvolvimento económico-social das colónias, recomendando aos seus quadros atenção à ascensão das forças anti-colonialistas, especialmente norte-americanas.

Sarmento Rodrigues estará no centro desta grande mudança do sistema colonial. O seu nome aparece associado a dois actos emblemáticos na legitimação da colonização, a saber: o combate à doença do sono na Guiné e às Comemorações do V Centenário da Descoberta da Guiné. Irá crescer o número de “civilizados” face à categoria dos indígenas. No campo cultural, assiste-se à criação do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, organiza-se o museu da Guiné e surge a publicação Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, a mais importante publicação existente até ao fim do período colonial. Sarmento Rodrigues desenvolveu o aparelho administrativo recorrendo a uma elite metropolitana e a uma administração de cabo-verdianos e mestiços.

Em 1947, Caetano é substituído no Ministério das Colónias e operam-se importantes mudanças na Guiné. António Duarte Silva aborda com meridiana clareza a perda de equilíbrios instalados pela política de Caetano e a inflexão para um tipo de colonialismo mais vocacionado para a gestão e para o comércio. Acerca desta matéria, o autor chama a atenção para a importante reunião extraordinária do Conselho Ultramarino que se realizou em Outubro de 1962, na altura em que Sarmento Rodrigues era governador de Moçambique. O que estava em causa era uma reestruturação político-administrativa que abria as portas ao federalismo. Escusado é dizer que a linha integracionista da política colonial foi quem ganhou.

Por essa época começa a falar-se muito nas teses do luso-tropicalismo, da responsabilidade de Gilberto Freyre. Este ilustre estudioso brasileiro formulara o conceito de luso-tropicalismo a partir de características particulares da colonização portuguesa do Brasil. É Sarmento Rodrigues quem vai convidar Gilberto Freyre a percorrer todo o Império. Parecia que o pensamento deste mestre brasileiro se prestava a ser o pano de fundo da acção reformista empreendida por Adriano Moreira enquanto ministro do Ultramar.

Freyre irá mostrar-se desiludido com debilidade dos estudos portugueses sobre o tropicalismo. Por seu turno, Teixeira da Mota irá dizer que não considerava o luso-tropicalismo adequado ao caso da Guiné já que a população civilizada era mínima (cerca de 0,3 % do total e apenas um quarto dela era constituída por brancos.

Com a chegada da guerra, em 1961, a “política de defesa” levou ao abandono das teses luso-tropicalistas no discurso oficial português. No fundo, segundo Freyre havia uma maneira dos portugueses se comportarem em todo o mundo, adaptando-se, assimilando-se, pondo a cultura e a civilização ao serviço dos outros. Sem descurar do interesse que tais teses podiam ter para a compreensão do colonialismo português, o que se passara na Guiné estava frontalmente em oposição às teses preconizadas luso-tropicalistas quanto à presença portuguesa e o seu intercâmbio com as populações locais.

O nosso blogue tem razões para se sentir orgulhoso com este trabalho: o investigador António Duarte Silva   releva-se profundo conhecedor do que aqui se escreve, cita-nos abundantemente na bibliografia. Somos um blogue que os investigadores acompanham e invocam, tal a originalidade de depoimentos, o ineditismo de fontes e a sinceridade dos testemunhos. Para que conste.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6776: Notas de leitura (133): Desertor ou Patriota, de David Costa (Mário Beja Santos)

sábado, 24 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6781: Controvérsias (98): Quem não se sente... não é filho de boa gente (Carlos Nery)

Mensagem de Carlos Nery (ex-Cap Mil, Comandante da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), com data de 21 de Julho de 2010:

Caros Camaradas e Amigos,
A propósito da publicação do conto do Mário Cláudio "Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez" desencadeou-se viva polémica no nosso blogue. Em si próprio o fenómeno terá que ser considerado bastante positivo. Contudo, acabaram por sobrar alguns comentários que considero infelizes, roçando a deselegância e, por vezes, ofensivos. Fico a pensar no que terá sido dito naqueles que, julgo, foram eliminados pelos editores.

Peço, portanto, a publicação, no blogue, de um Poste com o texto que segue em anexo, bem como as fotos e legendas para as mesmas que junto também.

Um grande abraço e bom convívio na Tabanca de Matosinhos.
Carlos Nery



CCaç 2382 em patrulha, foto do Comandante da Companhia, ex-Cap Gomes de Araújo

Quem não se sente... não é filho de boa gente

1. Literatura e opinião política, leio-a noutro lado...

Quando divulguei no Poste 6479 o meu “Noite Longa em Contabane” contei 11 comentários à minha descrição. Atendendo a que dois eram de minha autoria, afinal houvera 9 camaradas que se tinham dado ao trabalho de ler e dizer alguma coisa sobre o meu texto. Fiquei contente.

Imagine-se a reacção de Mário Cláudio aos 6 Postes e aos 51 comentários (se me não enganei a contar) a propósito do Poste 6672, onde foi publicado o seu conto “Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez”. É obra!

Os camaradas e amigos “aquecem” rapidamente com um bom debate! (Conclusão de José Belo no Poste 6691 parecendo querer encerrar o assunto).

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Olá, Belo! Afinal lembro-me de ti perfeitamente, embora, quando falei pela primeira vez com o Luís Graça, pelo telefone, eu tivesse feito uma pequena confusão... Tinha a ideia de que o tal Alferes Belo, que num lance de audácia havia libertado alguns civis levados pela guerrilha, merecendo referências elogiosas do então Major Carlos Azeredo, pertencia a uma companhia mais antiga no Forreá. Mas, quando vi a tua foto logo se desvaneceram as minhas dúvidas. Afinal pertenceras à 2381! Não me recordava de que a tua companhia estivesse em Aldeia quando nós estávamos em Mampatá, após o abandono de Contabane. Passados 40 anos a memória nem sempre é pronta... Recordei-me, então, de uma viagem que fizemos juntos, de Abrantes para Lisboa, não sei se no meu, se no teu carro, quando me descreveste a tua experiência em Israel. De como tinham feito renascer uma língua quase morta, dos dispositivos de aquecimento solar (na altura desconhecidos entre nós), dos sistemas de rega gota-a-gota... Tem graça como essa conversa, afinal, permaneceu na minha memória. Haveria de me recordar dela, cerca de trinta anos depois, quando visitei Israel, justamente em 2000, ano do Jubileu.

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Mas voltemos ao que diz o Belo. Em seu entender, as palavras sensatas de Vasco da Gama no seu Poste 6675 recolocam o debate dentro de perspectivas... do "viável".

Cheio de esperança de que se fizesse luz lá fui, com mais atenção, reler essas palavras...

Fiquei a saber de que VG “gostou do texto são e escorreito” mas que “o texto é um panfleto contra a presença da tropa na Guiné e é apenas e só pura literatura”. (Sem descortinar o que o texto “são e escorreito” tem que ver com a presença da tropa na Guiné, fiquei sem saber se isto de ser “pura literatura” é qualidade ou defeito)...

E, por fim, que “no meu Blogue interessam-me os escritos dos camaradas da Guiné e as suas experiências dolorosas, contadas por gente com estatuto de escritor, ou por outros que mal sabem escrever”.

E, para acabar, que “literatura e opinião política, leio-a noutro lado”.

Ó Belo, desculpa lá mas não descortino onde está a sensatez deste discurso...

Ó Vasco da Gama, tento entender a lógica destas palavras... Mas... Não chego lá...
Para já um reparo: isso de procurar a política noutro lado é, também, uma outra forma de fazer política, ou não é?...

2. Nem eu nem ninguém, felizmente...

Camaradas, um debate faz-se na diversidade de opiniões. Eu, por mim, a escolher, dentro da intensa troca de ideias que o conto do Mário Cláudio suscitou, algo com que concordasse plenamente, optaria então pelo comentário do Luís Graça ao Poste 6677 do Belarmino Sardinha. Permito-me mesmo destacar esta passagem:

De qualquer modo, nem eu nem ninguém, felizmente, pode impedir que o Rui Barbot Costa, aliás Mário Cláudio, ou o Armor Pires Mota, ou o Álvaro Guerra, ou o Mário Beja Santos, ou o Barão da Cunha, ou o José Brás, ou o António Graça de Abreu, ou o Zé Teixeira, ou o Jorge Cabral, ou o J. Mexia Alves ou qualquer ex-camarada que tenha passado pelo TO da Guiné, escreva sobre a guerra, em prosa ou em verso, em registo heróico, dramático, humorístico ou burlesco... Aliás, essa é uma das funções essenciais do nosso blogue...
Não me interessa se o escritor (ou o escriba...) esteve na frente ou rectaguarda, no "front office" ou no "back office", na Amura ou em Buruntuma, se foi operacional ou contabilista, transmissões ou informações, capelão ou caixeiro, enfermeiro ou padeiro... Todos pertencemos ao mesmo exército, independentemente do "curriculo militar" ou até do "chumbo" que levámos no corpo”...

Felizmente! Amigo e camarada, Luís Graça, permito-me sublinhar a palavra!

3. Incluam-me no grupo dos iletrados!

Nos meus tempos de adolescente e de juventude, para nós, o objecto mais precioso existente em nossas casas, era o livro que se andava a ler... Líamos tudo. Desde o Mark Twain ao Eça, ao Júlio Dinis, ao Júlio Verne, ou aos romances históricos do Alexandre Herculano e do Walter Scott, passando por tudo o que era livro policial ou de aventuras. Durante uma estada passada no Funchal, em casa de família, li toda a biblioteca de livros policiais de um tio meu, para desespero de meu pai que me escrevia de Lisboa, incitando-me a visitar o interior da Ilha... Essas visitas fá-las-ia bastantes anos depois... Na altura, devorei umas centenas de livros que, depois, organizei por colecções e por autores...
Numa entrevista do Saramago, o escritor contou que, com essa idade, lia à noite, escondido por baixo dos cobertores, usando uma pequena lanterna de pilhas para o poder fazer.
Efectivamente, os adultos tentavam contrariar essa nossa actividade. Se me surpreendia a ler, meu pai repreendia-me chamando-me a atenção para a necessidade de estudar em vez de “perder o meu tempo com leituras”...

Mas o ser humano tem a misteriosa necessidade de ouvir uma história e, nesse tempo, era o livro quem lha contava. Também se ia ao cinema. Mas ir ao cinema era um ritual complicado e dispendioso que só acontecia de vez em quando.

Porém, actualmente, quando os meus netos entram em minha casa não é o livro que procuram.
Correm para a televisão ou para o meu computador. A casa, aliás, passou a estar organizada em função do televisor e o antigo leitor compulsivo acaba por não encontrar muitas vezes um local e um ambiente adequados à leitura. Lê-se menos, portanto. Mas os escritores referenciados como de mais qualidade não parecem querer fazer qualquer esforço para produzir uma literatura mais absorvente, mais acessível. Um dia, regressado da Guiné, portanto há cerca de quarenta anos, num debate realizado no Clube de Teatro 1.º Acto, em Algés, perguntei a Mário Sottomayor Cardia porque não utilizava ele uma forma de escrever mais fácil, mais atractiva para o leitor. Ouvi uma resposta breve e definitiva: “Escrevo como sei escrever”.

Entendi. A minha pergunta tinha sido descabida. É que ao leitor cabe também algum esforço.

Se leram com alguma atenção o Poste 6675 do Vasco da Gama, (desculpa lá, pá, estás na berlinda!) hão-de ter reparado que, logo no início, ele afirma possuir, com sua mulher, alguns livros do Mário Cláudio. Mas, poucas linhas adiante, confessa a sua iliteracia “Claudiana”. Poderei concluir que o nosso camarada tem livros em casa que nunca leu?

Se assim é, confesso de imediato que o mesmo se passa comigo. Vão longe os tempos em que “derrubava” bibliotecas... Hoje, são vários os livros que comprei e que ainda não li. Por exemplo do Lobo Antunes, da Augustina, do Saramago e até... do Mário Cláudio. (Confesso-te o meu pecado, amigo Barbot)...

Incluo-me, portanto, entre aqueles camaradas que, nem sempre estão dispostos, ou não encontram ambiente, ou tempo, para fazer o esforço de atenção que um bom livro nos exige.
Não pretendia dizer mais do que isto no email que enviei ao Rui Barbot e que transcrevi como comentário ao Poste 6672 e que mereceu tanta animosidade.

Meu caro Luís Graça, se porventura aquilo que disse é um atestado de iliteracia aos nossos amigos, incluam-me, então, no grupo dos iletrados...

4. Entra bem, pela tua mão...

Parece ter provocado entre alguns camaradas alguma estranheza o facto de ter sido eu a apresentar o texto do Mário Cláudio. Embora não entendendo qual a relevância desse pormenor, com a devida vénia, caro Luís Graça, passo a transcrever o teu e-mail de 08JUN10, que recebi após ter-te informado que o Barbot conhecia o blogue (que considera “muito saudável”, posso agora acrescentar) e que estava disposto a disponibilizar-lhe dois textos de sua autoria.

Carlos,
Obrigado pelas tuas diligências. Diz-lhe que é também uma honra para nós ter no nosso blogue um dos maiores escritores vivos da língua portuguesa!... De qualquer modo, o nosso blogue é também uma razoável montra... No espaço de um mês e pouco tivemos 100 mil visitas. Ontem por exemplo, andámos nas 3 mil... O Mário que nos mande 2 "chapas" (uma do tempo da tropa e outra actual) mais um pequeno texto de apresentação... Tu podes compor o resto... E entra bem, pela tua mão, na nossa Tabanca Grande... Um abraço, e até a um dia destes... em Alfragide. Luís


Contactei novamente o Rui Barbot que me enviou o material solicitado bem como os referidos dois contos:

“Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez”, que sei agora não ser um inédito, tendo sido publicado em O Prazer da Leitura, Teorema/FNAC, 2008. Edição comemorativa do 10.º aniversário da FNAC. (O produto da venda reverteu, na totalidade, para a AMI).

“Espólio de Lama”, conto publicado no livro “Itinerários”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1993.

O resto é consabido, não é verdade?

Falta publicar, no blogue, “Espólio de Lama”. Quem adivinha o número de Postes e de comentários que essa publicação pode vir a suscitar?

5. A minha outra face...
(Foi realmente muito bom este nosso reencontro mais de 40 anos depois (Poste 6670), não menos cantores mas um pouco mais calvos, claro. Disse o João Barge)


Páginas centrais do programa com fotografias tiradas durante os ensaios

Os Actores: João Barge, Ana Maria, Lisa Nunes, Maia Alexandre, Maria Guilhermina e Rui Barbot

Dou agora a palavra ao João Barge, alferes da C.Caç 2317 de Gandembel, onde foi colocado em 1968, por rendição individual:

Em Novembro de 1969, a CCaç 2382 do Cap. Gomes de Araújo deixa Buba e vai para Bissau onde a guerra acaba e a paz começa, onde o tempo agora se conta sempre a descer, com os olhos finalmente a acreditar que em breve se voltariam a ver terras de Espanha, areias de Portugal.
Ora um belo dia, o Cap. Araújo, cristianissimamente e sem que tivesse havido qualquer ofensa prévia, presumo eu, resolveu dar a outra face, a sua outra face, e surge o encenador Carlos Nery mais o projecto de criar de raiz um grupo de teatro. E assim do nada, na base de um amigo que traz outro amigo também, o grupo foi nascendo, e fez o seu caminho descobrindo e formando actores, inventando técnicos, confiando o guarda-roupa a senhoras sábias e generosas, improvisando palco e materiais de cena, propondo, discutindo, até se chegar à primeira peça (afastados o Auto da Índia e a Gota de Mel para evitar melindres maiores) - um texto de Eugène Ionesco - La Cantatrice chauve (A Cantora careca), publicado em 1950, um clássico do chamado Teatro do Absurdo.

Reparaste, caro Vasco da Gama? A Gota de Mel, referida por ti no Poste 6675... Coincidências, não é?

Pedi, na altura, a minha mulher, em casa dos pais, no Porto, que me conseguisse junto do poeta Egipto Gonçalves a sua tradução do belíssimo poema de Léon Chancerel. Passados alguns dias, ou semanas, lá a recebi. Como sabes contém uma clara censura à guerra e à violência. Quanto ao Auto da India, de Gil Vicente, também o sabes, evoca alguns aspectos negativos da nossa expansão marítima. Fidelidades e infidelidades de um casal separado pela ausência do marido na India, marido esse que, no seu regresso, se assume sem rebuços como um émulo, no sec. XVI, do mais recente Capitão Garcez...

Adivinhas o que se seguiu? O Barge já o deu a entender... Pediram-nos delicadamente que encontrássemos outro texto... Certos pruridos actuais já se manifestavam nesse tempo... Mas, naquele contexto, insistir iria certamente levar-nos a um beco sem saída. Procurámos outra peça, que remédio!

Pela minha parte, confesso, que sentia uma enorme necessidade de fazer algo de diferente daquilo que me ocupara intensamente durante cerca de ano e meio em Bula, Contabane, Mampatá, Aldeia Formosa, Nhala e Buba. Usar a minha imaginação de outra forma. Esquecer os incidentes das operações, dos patrulhamentos, das colunas de reabastecimentos ou da protecção a colunas. Das emboscadas a colunas inimigas, da reacção às emboscadas do inimigo. Das flagelações e dos ataques aos nossos aquartelamentos... Da picagem das estradas e do levantamento das minas detectadas. Da colocação de minas nossas... Do empenhamento posto na abertura da tal Estrada Nova que nunca serviu para nada... Esquecer a tensão constante em que tínhamos vivido durante esses quase dezoito meses. Como muito bem diz o João Barge no seu texto a incluir no Poste que estamos a preparar sobre a experiência da Cantora Careca:

Creio, a esta distância, que o entusiasmo posto por todos nós foi uma forma de derrotarmos aquela guerra que nos consumia. De nos dizermos: estamos vivos, somos capazes de pensar, de sentir e de transmitir emoções”.

Foi isto, Vasco da Gama, camarada de armas, colega de teatro. Foi isto. Não dá para torceres o nariz.

6. “AS CUNHAS QUE OS SISTEMAS POLÍTICOS SEMPRE PROPICIAM A QUEM GOSTA DE CHAFURDAR EM TAIS MANJEDOURAS” ou “ENTRE DUAS GARRAFAS DE WHISKY VELHO ENTREMEADOS COM UNS GIN TÓNICOS GORDON`S OU SIMILAR, ENCENAVAM-SE TAMBÉM, AO QUE PARECE, OBRAS DE IONESCU...
GENTE FINA É OUTRA COISA COMO DIRIA O OUTRO... (frases de um comentário ao Poste 6675)


Comentário do João Barge: Foto minha em Gandembel (Ponte Balana), de Dezembro de 1968, à entrada do abrigo onde dormia com a minha gente. Como diz o Manuel Maia, em maiúsculas, logo aos berros: Sem boas cunhas, como é que eu iria para Gandembel? E depois para Buba? E depois para o Gabu?

Quinze meses depois, de novo João Barge, finalmente em Bissau, aguardando a hora do ensaio.

João Barge e Rui Barbot. Comentário do João: E o nosso Rui Barbot, licenciado em direito, só com altíssimas cunhas iria para uma secção de Justiça em Bissau... Como se sabe hoje, ser mobilizado para a Guiné, só com padrinhos de ministro para cima!

Ao Manuel Maia só quero felicitar pela sua capacidade de brilhante ficcionista.
Só que ele tem uma visão redutora do ambiente vivido numa Bissau que não conheceu, nem no tempo nem no lugar. É que entre 1970 e 1974 muita água correu pelos rios da Guiné...
Camarada, a realidade da Messe de Oficiais era bem mais complexa daquela que te deitas a adivinhar. Se é verdade que havia alguns frequentadores habituais, a grande maioria de quem por ali passava não pertencia a esse grupo. Gente de unidades do mato, em Bissau por baixa médica ou para tratar de algum assunto da sua unidade, ou ainda de férias, aguardando o transporte para Lisboa ou, terminadas estas, esperando transporte para a sua unidade. Gente da Força Aérea ou da Marinha... Oficiais das unidades especiais (comandos, pára-quedistas ou fuzileiros)... Oficiais das recentemente criadas unidades africanas. Oficiais “periquitos” ou veteranos prestes a abalar... Médicos em serviço no hospital, oficiais do QG, que sei eu... E as famílias de alguns... Recordo-me, por exemplo de ali encontrar, poucos dias antes de ser assassinado, o Major Passos Ramos e sua família bem como uma criança africana que ele tinha a intenção de adoptar.

Não, caro camarada, nunca fui de puxar por galões nem quando mos puseram sobre os ombros obrigando-me a cumprir cerca de cinco anos de serviço militar obrigatório.

Como comandante de uma companhia em teatro de operações evoco o testemunho de quem me conheceu e observou o meu comportamento.
Aqui, na Tabanca Grande há gente que esteve comigo em Buba ou no Forreá:

Da minha companhia, C.Caç. 2382, os furriéis Manuel Traquina e Joaquim Vieira Lopes e o soldado José Manuel Cancela.
(Cancela, camarada combatente e soldado amigo, diz lá qual era a alcunha que revelaste ser a minha, no encontro de Monte Real, dada pelos homens sob o meu comando, em Buba... E o porquê, dessa alcunha?)

Da C.Caç 2381 podem falar de mim o Zé Teixeira (que, aliás já o fez num comentário ao Poste 6479), o Belo, que foi um dos seus alferes, e o Eduardo Moutinho, alferes graduado em capitão, que substituíu o então Capitão Aidos no comando da companhia. Os dois últimos, não sei o que pensam de mim, sujeito-me ao seu testemunho.

Da C.Caç. 2317, a companhia de Gandembel, evoco o testemunho do camarada Idálio Reis e, como não podia deixar de ser, do João Barge.

Conheceram-me, observaram como me comportava e podem, se concordarem, testemunhar se, de facto, eu fui oficial para ter de puxar dos meus galões para assumir o comando dos homens sob minha responsabilidade.

Quanto à tal outra face, a de homem de teatro, faço lembrar aquilo que a meu respeito eu disse no Poste 6183:

(…) sou um amador (no sentido em que amo) de Teatro. Aliás, em Bissau, no fim da comissão, ainda encontrei disposição para encenar "A Cantora Careca", de Ionesco... Teatro do absurdo em teatro de guerra... Um dos meus actores foi o Alferes Barbot, da Secção de Justiça do QG, hoje escritor Mário Cláudio. No programa do espectáculo escreveu um texto muito a propósito da situação dos muitos absurdos em que estávamos mergulhados...
Bem... Passaram-se quarenta anos, não é? Pois acontece que, neste momento, participo numa empolgante experiência no Centro Cultural de Belém. Dir-lhe-ei que foram convidadas pessoas com experiência teatral com idade superior a sessenta anos. Tiago Rodrigues (actor, dramaturgo e encenador) é o responsável pelo projecto que aponta para a formação da Companhia Maior do CCB. O texto ainda não existe. Ou melhor vai sendo construído por nós. Numa primeira apresentação pública eu "fui" um soldado que conta um episódio baseado em algo que aconteceu realmente (...)


Sobre teatro foi isto que disse a meu respeito. Nunca me afirmei um encenador. Fazer uma encenação (ou duas, ou três) não é bem a mesma coisa do que ser um encenador... Há que saber ler, caro Manuel Maia e não ser precipitado nem injusto. Aqui no blogue existe suficiente informação sobre o assunto que trataste tão leviana e incorrectamente. Não é próprio de um licenciado em História, como julgo que és! É que o teu arrazoado, além de ofensivo, não tem pés nem cabeça meu caro. Não foste só tu que estiveste em guerra, desculpa lá!

Mas, para acabar só uma pergunta: antes de embarcar, de regresso a Portugal, terminada a comissão da vossa unidade, quanto tempo estiveram vocês a aguardar embarque? E, durante esses dias, ou semanas, ou meses, em que ocupavam os vossos tempos livres? Por onde andavam? Que faziam?

No que nos toca, aos “filhos da Cantora Careca”, como nos baptizou o Barbot, (eu preferiria, os avós...), aproveitámos para levantar do nada uma peça de teatro. O que não adivinhávamos é que, quarenta anos depois, essa nossa actuação ia ser escrutinada desta forma, obrigando-me a adiantar esta justificação...

Julgo que algo vai mal no “Reino da Dinamarca”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6759: Controvérsias (97): Ainda... muito a tempo (José Belo)

Guiné 63/74 - P6780: Os nossos seres, saberes e lazeres (23): O Grupo de Bombos 4 Estações, na Tabanca de Candoz (Luís Graça)

 

 Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz > Festa de Nossa Senhora do Socorro, 24 de Julho de 2010. Actuação do Grupo de Bombos 4 Estações que acompanham o mordomo da festa, casa a casa, na recolha de donativos.

 Da Tabanca de Candoz, em festa, envio votos de boas férias (ou simples bom fim de semana) a todos os amigos e camaradas da Guiné, membros da Tabanca Grande e aos demais leitores do nosso blogue. Mesmo aqui é difícil esquecer a guerra (ou não falar da guerra), e muito menos o blogue...

 Cá na Tabanca de Candoz, além de mim, há mais dois antigos combatentes, dois cunhados meus, um que esteve em Angola (Camabatela, 1969/72), José Ferreira Carneiro, 1º Cabo Trms Inf; e outro em Moçambique, onde foi gravemente ferido, por acidente com arma de fogo (uma pistola metralhadora Uzi), que o levou às portas da morte.

O António Ferreira Carneiro, na altura conhecido como o "Brasileiro", é hoje deficiente das Forças Armadas: foi atingido em sete órgãos. Pertencia ao Destacamento 664, da Companhia de Intendência (Tete, 1964/66), sendo comandante o Alf Mil Patrício. O 1º Sargento era o Anmtónio Teles Touguinha, já falecido, que se veio a revelar grande amigo da família. Era natural de Vila do Conde. Havia ainda dois furriéis açorianos, de que o António já não se lembra o nome.  Ao todo, eram cerca de 25 militares, viviam numa vivenda em Tete, em plena cidade. Os graduados eram apenas 2 cabos, 2 furriéis e 1 alferes.

O "Brasileiro" (alcunha por que era conhecido) foi ferido em Julho de 1964 e transferido para o HMP, em Lisboa, em Dezembro desse ano. No HMP passou cerca de oito meses.  Regressou à vida civil em Agosto de 1965. Era refractário, tendo estado no Brasil entre os 18 e os 24 anos. Foi "caçado", quando regressou à Pátria... Nasceu em 25 de Fevereiro de 1939, na Ribeira, Paredes de Viadores.

Em Tete, foi 1º cabo magarefe... Ainda hoje procura malta da sua subunidade bem como o médico que o operou em Tete ("Era a maior alegria que me podiam dar, saber do paradeiro dos meus camaradas de Intendência bem como do médico que me salvou"). Ele vive em Custóias, Matosinhos.

Um primo deles, e da minha mulher, Maria Alice Ferreira Carneiro,  antigo presidente da Junta de Freguesia de Paredes de Viadores, o comerciante José Ferreira, esteve por sua vez na Guiné, na CCS do BART 2866 (Bissau, Pelundo, 1969/70). Era 1º cabo sapador. Passou 15 meses em Bissau e sete no Pelundo. Actuavam em todo o CTIG, colocando minas ("algumas de vinte quilos"). Não temos ninguém da sua unidade, aqui no nosso blogue

Vídeo (2' ''02):  Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes

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 Nota de L.G.: 24 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6641: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (22): José Corceiro, um bom filho, um melhor pai, um avô babado