segunda-feira, 22 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11444: Notas de leitura (474): Um Império de Papel, por Leonor Pires Martins (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2012:

Queridos amigos,
“Um Império Papel” é uma agradável surpresa, tem uma apresentação gráfica irrepreensível, não há leitor que não fique suspenso da seleção de imagens, tudo a propósito e com elevado vigor ilustrativo, fica-se com uma visão abrangente da iconografia imperial que vai desde a redescoberta de África, a partir dos anos 70 do século XIX até ao clímax que foi a Exposição do Mundo Português, em 1940.
A autora é antropóloga e move-se bem nas suas explanações quanto ao valor das publicações, como elas contribuíram para imaginar o Império, revelando exotismo, empreendimentos de progresso, mostrando a ocupação do mato bravio, a “civilização” dos autóctones, etc.
Assim se montou uma ficção que ajudou a produzir novas ficções, onde fomos figurantes, umas décadas atrás.

Um abraço do
Mário


Um império é uma nação em excesso

Beja Santos

“Um Império de Papel, Imagens do Colonialismo Português na Imprensa Periódica Ilustrada (1875-1940)”, por Leonor Pires Martins, Edições 70, 2012, é uma belíssima obra correspondente a um levantamento exemplar das imagens de uma África até então praticamente desconhecida do grande público; os portugueses, por razões de autoestima, também queriam participar na euforia da descoberta ou revelação de África. Esse é o grande significado que encontramos nestas imagens.

Obra de uma antropóloga, ela soube selecionar com esmero e oportunidade representações visuais do Império entre milhentas páginas de jornais e revistas. Claro que este imaginário da novel representação do Império transcende jornais e revistas, dissemina-se também por relatos de exploração e viagem, livros de temática colonial, alguns fotográficos, postais ilustrados, gravuras, pinturas, selos, embalagens de produtos e muito mais. Assim se procurava vincar a relação de Portugal e as parcelas do seu império. A autora explica-nos o âmbito do seu trabalho: “As imagens reunidas incluem reproduções de gravuras, pinturas, fotografias, desenhos, cartunes, caricaturas e alguns anúncios publicitários. Os temas vão desde a representação de paisagens e lugares «exóticos», com as suas populações nativas, ao tratamento humorístico de acontecimentos do foro da política e da diplomacia coloniais. Os retratos de colonos europeus e de outros «agentes do Império» (exploradores, missionários, funcionários da administração colonial, caçadores), assim como as imagens que apontam para uma ideia de progresso associada à construção de novas infraestruturas e edifícios por parte do poder colonial, constituem, também, motivos temáticos na vasta iconografia alusiva ao Império, publicada na imprensa periódica”.

Como é compreensível, as imagens sobre a Guiné têm um carácter residual, importa nunca esquecer que a Constituição liberal nunca fala da Guiné mas de Bissau e Cacheu. As parcelas dominantes nestas ilustrações são sempre Angola e Moçambique, é para aí que se emigra, são estes os territórios a desbravar, é aqui que estão os recursos preciosos que importa explorar, é aqui que se impõe suster os apetites britânicos e alemães. No entanto vamos encontrar imagens muito representativas sobre a Guiné. A revista O Ocidente publica em Novembro de 1909, a propósito da rebelião do Cuor para a qual se mobilizaram largos recursos que irão, através do Geba, destituir Infali Soncó e intimidar outros régulos rebeldes, imagens de Bissau como seja uma vista do porto, o edifício da Alfândega, a rua da Praia (a futura Avenida Marginal) e uma vista de Bissau, correspondente ao que conhecemos pelo Bissau velho virada para o Pidjiquiti. Os guinéus fizeram furor na Exposição Colonial de 1934, o pintor Eduardo Malta retratou alguns dos participantes, como o régulo Mamadu Sissé, amigo devoto de Teixeira Pinto, aparece a Rosinha, uma bonita Fula de peito à mostra a segurar a bandeira portuguesa junto do monumento “Ao esforço colonizador”, a fotografia surge acompanhada pela seguinte legenda: “Negra muito embora, portuguesa de lei – ei-la empunhando a bandeira verde-rubra que domina todo o Império”. No número da revista O Ocidente de 1891, aparece o forte de Cacheu com caçadores e artilheiros da guarnição, trata-se de um desenho de Domingos Cazellas a partir de uma fotografia. A revista Ilustração Portuguesa, num seu número de Junho de 1908, mostra as operações militares no Cuor, tropas a cavalo e soldados guineenses a pé com arma a tiracolo.

A Grande Exposição Industrial Portuguesa, que se realizou no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, em 1932 trazia com grande novidade um grupo de guineenses que fiou instalado numa “aldeia indígena” construída no Parque Eduardo VII. A revista Ilustração, número de Outubro de 1932, mostra o ministro das Colónias Armindo Monteiro rodeado da sua comitiva, fotografado com vários régulos, vêem-se cobatas ao fundo, aparecem outras fotografias com mulheres e homens Fulas, foram um verdadeiro chamariz para os muitos curiosos que vieram ver gente seminua. Armindo Monteiro irá admoestar Henrique Calvão a propósito da Exposição Colonial de 1934, recebera inúmeras críticas para as “poucas-vergonhas” daqueles Bijagós bem desnudados que se passeavam calmamente à volta do Palácio de Cristal, no Porto. Segundo a autora, a I Exposição Colonial Portuguesa foi a primeira grande iniciativa do Estado Novo apostada na massificação da consciência imperial. Não era a primeira vez que se fazia a exposição de mostras das produções coloniais e populações, o que agora se ensaiava era a representação etnográfica das províncias da metrópole dentro da exposição colonial: o cortejo colonial que marcou o encerramento da exposição procurava mostrar a grandeza histórica e territorial da nação, o que permitiu a mistura do Vinho do Porto com Bijagós e Balantas e o desfile de búfalos, pacaças, bois da Guiné e um camelo. A Exposição do Mundo Português acabará por se constituir como uma mostra das diferentes parcelas do Império e, bem entendido, a Guiné compareceu com as suas aldeias indígenas que suscitaram imensa curiosidade.

Voltando ao miolo do livro “Um Império de Papel”, o ponto de partida, 1875, não foi escolhido ao acaso, foi o ano da criação da Sociedade de Geografia de Lisboa, tal como o da chegada, 1940, em Lisboa ocorreu um grandioso evento do regime, a “Exposição do Mundo Português”, nele se fez farta referência às parcelas do Império, aparecia como uma apoteose de um pequeno país derramado por vários continentes, era o palco escolhido, em plena II Guerra Mundial, para se mostrar ao mundo o Portugal imperial.

A autora procede ao enquadramento histórico das imagens, tudo começa pela necessidade premente de ocupar fisicamente o território, a Conferência de Berlim tornou essa ocupação categórica, e enquanto se descobre África mostram-se as imagens correspondentes, os seus protagonistas principais são Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Henrique Dias de Carvalho, procura-se determinar uma rota comercial que ligasse Angola a Moçambique; a missão de Dias de Carvalho é igualmente fundamental, ele vai até ao império Lunda, território úbere em matérias-primas como o marfim, a cera e a borracha, isto no exato momento em que as grandes potências coloniais europeias começavam a atribuir menos importância às vias comerciais terrestres e mais ao estabelecimento da navegação a vapor dos rios das regiões centrais africanas e na construção de linhas férreas. Serão sobretudo as viagens e os exploradores Capelo, Ivens e Serpa Pinto a merecer grande publicitação.

A autora refere a existência de revistas que tiveram um grande desempenho divulgativo, caso da revista O Ocidente e do jornal À Volta do Mundo. Com exuberância, vemos avenidas na cidade da Beira, pontes sobre o rio local ou no distrito de Benguela, ilustrações dos grandes exploradores e suas comitivas, o lustre das suas conferências e jantares de homenagem ou até mesmo receções apoteóticas aos exploradores. E neste contexto emerge o exotismo, reis africanos sentados nos seus tronos, os perigos que comportam as florestas, perfis dos diferentes povos, imagens de rara beleza e em contraste, a seguir ao Ultimato Britânico (1890) mostra-se a atitude torcionária das autoridades britânicas, pondo povos à fome ou fazendo execuções sumárias. Também aparecem desenhos de Bordalo Pinheiro a caricaturar a subserviência dos governantes portugueses face ao poder britânico. O António Maria tem desenhos magistrais, inesquecíveis. O conflito luso-britânico motivado pelo Mapa Cor-de-rosa desencadeia protestos, a começar pela cobertura da estátua de Camões com crepes, seguindo-se a agitação popular e a resposta ditada pela ocupação militar que tem o seu ponto alto pela prisão de Gungunhana, o senhor dos Vátuas, por Mouzinho de Albuquerque. Dentro da diatribe política, um grande desenhador que teve vida efémera, Celso Hermínio, para caricaturar João Franco mostrou-o como “O Gungunhana de cá”.

A ocupação efetiva vem profusamente ilustrada, chegou a hora das visitas de Estado; em 1907, o príncipe D. Luís Filipe faz uma visita a parcelas do Império, todas elas reproduzidas nas revistas e jornais da época. Mas a África pitoresca vai merecendo cada vez mais destaque na imprensa. Como a autora observa, se é verdade que até ao final da I República não existiram projetos políticos e culturais mais ou menos concertados com vista à produção de iconografia alusiva aos domínios portugueses no continente africano, não se pode iludir que a divulgação de iniciativas avulsas já aparecia enquadrada no esforço de vulgarizar a África portuguesa: fauna e flora, recursos hídricos, crescimento ou fundação de lugares, as ilustrações vão revelando o casario e as populações autóctones. A este propósito, a autora fala-nos de um caso singular, o fotógrafo Cunha Moraes, um homem dos sete ofícios que se irá instalar em Luanda e ganhará notoriedade pela sua atividade fotográfica sobretudo em Angola e S. Tomé. Ele foi um fotógrafo andarilho, por vezes integrava-se em caravanas de exploradores e sertanejos, é o exemplo acabado do fotógrafo-viajante, intrépido e solitário. Em meados da década de 1880, Cunha Moraes já tinha realizado mais de 800 fotografias de África: imagens de paisagens, rios, vistas e espaços urbanos, “tipos indígenas”, chefes nativos, fazendas agrícolas, missões religiosas, colonos, caçadas, etc.

E temos também as ideias de progresso, que acabavam por contrariar as de decadentismo, tão propaladas pela Geração de 70, era um nunca mais acabar de imagens de construção e da “civilização” dos nativos, estes em escolas ou à frente das bandas de música, por exemplo, ilustrações de comboios, de igrejas, de monumentos. A “África branca” é já uma projeção do regime do Estado Novo, as colónias de África eram “um Portugal ultramarino onde a população portuguesa se iria fixar para viver, era esta a sua missão histórica”. O povoamento branco e os seus estabelecimentos seriam o modelo a adotar para as possessões africanas. Com uma certa regularidade, essa ocupação colonial tem que ser feita a ferro e fogo, são as chamadas operações de pacificação, tanto nos tempos da monarquia como a da I República. O herói Teixeira Pinto não consta desta imagens de “Um Império de Papel”.

O Estado Novo cria um punhado de publicações difundidas pela Agência Geral das Colónias, assim se entendia a propaganda do nosso património colonial, contribuía-se para o engrandecimento da imagem imperial mas também se incentivava ao estudo da suas riquezas exaltando a capacidade colonizadora dos portugueses, este espírito acompanha a participação de Portugal em exposições e no fomento da presença africana nas exposições coloniais que ocorreram em Portugal nos anos 30 e depois nesse pico alto que foi a Exposição do Mundo Português.

Um livro de elevada qualidade gráfica que sintetiza o império de papel por onde se difundiu a mística e o mito imperiais.
Documento obrigatório para o estudo do colonialismo português.
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Nota do editor:

Último poste da série de 19 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11424: Notas de leitura (473): O Sistema Colonial Português em África (meados do século XX), por Armando Castro (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11443: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (22): Respostas (nºs 40/41/42): António J. Pereira da Costa (Cacine, 1968/69; Xime, Mansambo e Mansabá, 1972/74); António Melo (Catió e Bissau, 1972/74); e José Teixeira (Buba, Quebo, Mampata e Empada, 1968/70)

Resposta nº 39  (*) > António José Pereira da Costa
[, Cor Art Ref, ex-Alferes de Art,  CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69;  e ex-Cap Art  e Cmdt CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74; vive em Mem Martins. Sintra]


(1/2) Quando é que descobriste o blogue ? Como ou através de quem ?

Por acaso. Ao procurar, pelo meu nome a minha posição na net.


(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Não me recordo. Talvez desde 2008.

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
Quase diariamente.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Tenho mandado, sempre que tenho algo para dizer. Participo nos "comentários" com a minha opinião.

(6/7) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Não uso o Facebook

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
A troca de opiniões e a possibilidade de se comentar o sucedido.
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook  ?

Ver a resposta à questão 6.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Acedo com facilidade.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
Representa um elemento de ligação a alguém que passou pela mesma experiência histórica que eu. Considero o blogue um elemento de investigação histórica para os vindouros.  Creio que as divergências entre os participantes raramente são profundas.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Participei em quatro.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Irei (iremos) a menos que surja um imprevisto.


(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Tem força anímica. Deve ser devidamente "espicaçado" através da apresentação de novos temas. Mesmo que sejam "fracturantes". 

Por mim propunha que se abrisse uma frente de "Artesanato". O artesanato que encontrámos e o que praticámos: mobiliário, (de bar, quarto e outros) utilizando restos de armamento (munições, caixas de cartucho, etc.).

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Sei que vamos sendo, cada vez, menos. Por outro lado, a dado momento, forçosamente cada um de nós esgotará as suas histórias e experiências (no fundo, só lá estivemos dois anos e numa fase inicial da nossa vida activa). Por isso acho que deveremos procurar temas e, mesmo que pareçam secundários, fazem parte da nossa vivência. E até pode ser que surjam novos temas. Poderão aparecer novos camaradas, pois ainda somos bastantes (os combatentes) e alguns não conhecem o blog. É necessário divulgar...


Resposta nº 40 > António Melo [, ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, 1972/74; vive em Espanha]
(1) No ano 2009.

(2) Pesquisando, no Google,  temas sobre a Guiné e sobre o BCaç 2930.

(3) Sim,  desde 1 de abril de 2012.

(4) Diariamente,  faz parte do meu alimento literário.

(5)  Algo não tanto como gustaria mas o tempo é escasso.

(6/7)  Sim, conheço o facebook,  mas no o visito muito.

(8) Gosto mais  do blogue,  sem dúvida.

(9) [Do que gosto menos ?... De coisas que não dizem muito respeito ao que aqui se trata, que é a Guine ou os ex-miitares

(10) Nunca tive difilculdades de acesso.
(11) Para mim, é  parte da minha leitura e aprendizagem diárias,  de tudo o que eu fiz parte na minha juventude

(12)  Nunca,  mas não queria morrer sem um dia poder confratenizar com os meus camaradas do nosso blogue.

(13) "Me gustaria".. mas está tudo dependente do meu trabalho
(14)  Tem e muito,  como não poderia ser de outra maneira pois é um jovem.

(15) Que continue como até agora sempre atento a tudo que nos diga respeito,  aos ex militarese, ex-combatentes da Guiné

E agora, para ti, querido amigo blogue, "en hora buena, por tu noveno aniversario", são os desejos deste teu servidor. Que continues a elucidar-nos do que se passou naquelas terras longínquuas, e que me tornas mais jovem quando te leio. Pois tu não és só um blogue, tu és parte da cultura de todos nós, camaradas, e da história de Portugal mais profundo e ocuri. Sem ti, eu e alguns de nós viveríamos sempre n escuro do que foi a guerra de independência, principamente da Guiné. Por tudo, aqui vai os meus parabéns.

Resposta nº 41 > José Teixeira [, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/79; uve  em São Mamede de Infesta, Matosinhos]

(1) Descobri o blogue em julho de 2005.

(2) Através do Xico Allen, meu companheiro de viagem numa romagem em Abril desse ano à Guiné-Bissau.

(3) Em Novembro de 2005 entrei para a Tertúlia. Logo em Dezembro pelo Natal o Luís Graça recebeu-me em casa de familiares na Madalena em Gaia,  juntamente com vários elementos da tabanca de Matosinhos, nascida em fins de Abril de 2005. Logo se firmou entre nós uma amizade profunda que perdurará até aos confins do nosso tempo.

(4) Tomo a Tabanca Grande ao pequeno almoço e volto a espreitar ao fim do dia, no mínimo.

(5) Estão registados 155 postes sem contar grande parte dos que escrevi na primeira série ( O Luís teve a graça de estar a repor o "meu diário",  um pobre conjuto de escritos que fui registando a quente durante a minha permanência no teatro de guerra), Obrigado,  Luís,  pela tua persistência.

(6) Conheço o Facebook mas não sou muito adepto.

(7) Vou mais vezes ao blogue, claro está.

(8) O que gosto mais do Blogue ?... Das estórias de acontecimentos reais vividos pelos combatentes – estamos a escrever a nossa história.

(9) Apenas me aborrece quando alguém em defesa da sua dama, leia-se conceitos e preconceitos, ou pontos de vista, provoca discussões estéreis,  por vezes numa toada agressiva.

(10) Está lento, mas compreende-se.

(11) Para mim, o blogue possibilitou o desabafo a redescoberta de "fantasmas no sotão" que se forma dissipando, ou seja,  uma espécie de catarse que só me fez bem. A descoberta de muitos amigos de hoje, que ontem nem sabia que existiam. A sensibilização para a realidade do sofrimento de tantos camaradas, que afinal viveram uma guerra muito mais difícil que a minha. Eu,  ao lado de alguns camaradas, considero que afinal passei umas "férias" na Guiné entre 1968 e 1970.

(12/13) Sim, fui a Monte Real em 2011. Este ano, ainda não me decidi. Parto para a Guiné-Bissau no próximo dia 29. Quando regressar decido.

(14)  Nota-se algum cansaço (é a velhice) por parte dos escrivas e talvez alguma redução na procura. Quanto ao cansaço, creio que temos de incentivar os novos (velhos) guerreiros que vão aparecendo a escrever, escrever, escrever. Quanto á redução de procura se é que a há pode ser interpretada positivamente. Para mim é sinal de que algo se acalmou na mente e já não há tanta necessidade de ler e reler a guerra que vivenciamos e nos marcou para sempre.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários... Força, força companheiros que a viagem ainda não terminou.


Creio que o blogue tem sido o motor de toda uma relação entre os combatentes do principio ao fim da guerra, gerador de amizades, convívios, encontros, debates, desabafos,choros, etc. talvez curas.

Não pode deixar-se morrer. Confesso que já não me sinto tanto motivado a escrever. As minhas estórias já estão a passar segunda vez, graças ao Luís Graça, que viu nos meus escritos durante a guerra algo que nem tinha pensado.

Para mim eram o resultado de um esforço de me encontrar comigo mesmo e não me perder na "barafunda" de uma guerra que não queria, num meio hostil em vários aspetos, com uma população maravilhosa vítima tanto quanto eu da guerra, onde eu era um estranho na cor, na mentalidade e forma de ser e estar na vida, mas que tinha uma arma ( por acaso não tinha porque a entreguei ao cabo quarteleiro ao fim de dois meses de guerra), mas tinha as armas do meu lado e quem tem as armas é que manda, bem ou mal, mas quase sempre mal.

Gosto de ler e continuo a ler todos os dias os postes que vocês amavelmente e com que sacrifício lá colocam. Bem hajam.

Estou muito grato a todos vós os editores pelo trabalho coletivo que desenvolveram e que tanto tem ajudado os combatentes a reencontrar-se.

A amizade que me une a cada um, nomeadamente ao Luís e família, ao Carlos e à Dina e ao Pira de Mansoa [, o MR,] é gratificante. Abraço fraterno do Zé Teixeira

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Nota do editor:

(*) Vd último poste da série > 22 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11443: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (21): Resposta (nº 36/37/38): José Marques Ferreira (ex-sold apontador armas pesadas inf, Ingoré, 1963/65), António Eduardo Carvalho (, ex-Cap Mil, CCAÇ 3, Bigene, e CCAÇ 19, Guidaje (1974) , António Sampaio (, ex-Alf Mil, CCAÇ 15 e Cap Mil, CCAÇ 4942/72, Barro, 1973/74)

Guiné 63/74 - P11442: Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (2): Op Pedra Rija (Poindom / Ponta Varela, 19-20 de maio de 1969): Há aí algum graduado do Pel Caç Nat 63 que tenha estado comigo quando fomos violentamente emboscados por um bigrupo IN, durante 40 m ?

1. Mensagem, com data de 16 do corrente, enviada pelo do António Vaz, ex-cap mil, cmdt da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69) [, foto à esquerda]


Assunto: Pedido de informação


Olá, Camaradas: Primeiro que tudo os meus parabens com a promoção do inquérito, que pelo que tenho lido,tem sido um sucesso. A malta responde e corresponde. Parabens!

Agora vem o pedido, socorrendo-me da verdadeira Torre do Tombo que tambem a Tabanca é:É cnhecido algum graduado do Pel CaçNat 63 que tenha acompanhado a Cart 1746 na Operação "Pedra Rija" realizada em 19 de Maio de 1969 ? Se sim, gostava de saber se está lembrado pois gostava ter contacto com ele.

Um abraço para todos do

António Vaz


2. Comentário de L.G.

António [, foto atual, à direita]: 

 Aqui tens o "relatório" da Op Pedra Rija... (Fonte: História do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)...

Deve ter sido a última ou uma das últimas operações que vocês fizeram no subseto do Xime, antes da vossa rendição pela CART 2520 (1969/1970)...Dois meses depois da Op Lança Afiada e 10 dias antes do ataque a Bambadinca, a 28 de maio de 1979... (O PAIGC devia estar a preparar a "vingança"...).

Como sabes, eu passei pelo Xime a 2 de junho de 1969, a caminho de Contuboel... Foram vocês que fizeram a segurança na estrada Xime-Bambadinca,,, E depois fiquei (ficámos, a nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12) no setor L1, a partir de finais de julho. já voc~es tinham regressado ao doce lar...

Não me lembro do antecessor do Jorge Cabral no comando do Pel Caç Nat 63. Mas ele sabe quem é... O António Branquinho, furriel, não sei se estava lá nessa altura... Para já, são estes os dois homens do Pel Caç Nat 63, meus contemporâneos, "afliados" na Tabanca Grande. 

Aproveito o teu pedido para fazermos um poste sobre esta operação, a pensar na tua nova série...  Boa continuação das tuas melhoras. Treinar a memória faz-te bem... Um abraço. Luis



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > o "alfero Cabral", ao meio, de pé... O 1º Cabo Rocha é o primerio da esquerda, na primeira fila. Jorge Cabral veio substituir o alf mil Almeida, em junho de 1969,  no comando do Pel Caç Nat 63. O que será feito do Almeida ?

Foto: © Jorge Cabral (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


3. Esclarecimento prestdo pelo Jorge Cabral, cmdt do pel Caç nat 63 enter 1969 e 1971:

Cheguei 20 dias depois. Naquela altura os Alferes e os Furriéis dos Pelotões Nativos só faziam um ano de mato, indo depois para Bolama ou Bissau.

Fui substituir o Alf Almeida, que era transmontano e amigo do Beja Santos. Os Furriéis só estiveram comigo dois ou três meses...O primeiro Furriel substituto foi precisamente o Branquinho, que deve ter chegado em Setembro.

Mantenho contacto com o 1º Cabo Rocha, que acaba de passar um mau bocado no Hospital de Coimbra. Ele participou de certeza nessa operação. Não tem correio electrónico.

Abraço.

J.Cabral

4. Relatório da Op Pedra Rija:


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > Carta do Xime (1961) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa do Xime, Pon ta Varela, Poindom, Gundagué Beafada, Gidemo e Chacali.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné






Fonte: Excertos de História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), cap II, pp. 82-84.



5. Comentário final do António Vaz:


Olá,  Luís Graça.  Muito obrigado palas informações prestadas. Esta foi efectivamente a ultima operação que fizemos e para a qual eu dei. para futura mensagem, o título "Quem engana quem". O meu interesse de falar com alguém do Pel Caç Nat  63 prende-se com o que se passou ANTES,  no Xime. Os meus camaradas que me acompanharam nesta situação no Xime já morreram ou não estão disponíveis.

Na mensagem que enviei sobre e nossa emboscada em Ponta Coli (foi uma entre oito, embora a mais grave) em Novembro de 68 gostava de ter incluido, como curiosidade, que a 29 de Maio de 69, dia do ataque a Bambadinca, foi a nossa coluna alvejada com um roquete que passou sob um Unimog sem causar danos. Mais terde atribui isto a um tiro inopinado dum elemento IN que já estava a caminho do eaquema de ataque a Bambadinca.

Não foi ainda publicada a mensagem respeitante este acontecimento mas espero que a tenham recebido.
Um abraço do António Vaz.

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11429: Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (1): os meus picadores e guias, Seco Camará e Mancaman Biai

Guiné 63/74 - P11441: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (21): Resposta (nº 37/38/39): José Marques Ferreira (ex-sold apontador armas pesadas inf, Ingoré, 1963/65), António Eduardo Carvalho (, ex-Cap Mil, CCAÇ 3, Bigene, e CCAÇ 19, Guidaje (1974) , António Sampaio (, ex-Alf Mil, CCAÇ 15 e Cap Mil, CCAÇ 4942/72, Barro, 1973/74)


Resposta nº 36  (*) José Marques Ferreira [ex-sold apontador armas pesadas inf, Ingoré (1963/65)]



(1) Quando é que descobriste o blogue ? Como ou através de quem ? Já não me lembro.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?  Sim, há uma data de anos (alguns).

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...? Agora, pelo menos, semanalmente.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? 
Onde os vou descobrir?

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?  
Gosto pouco de facebook.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?  Ao blogue.


(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?  Blogue.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?  De saber que somos cada vez menos. A lei inexorável…

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)  Por estas bandas, ainda está tudo normal.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?  Nostalgia.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?  Não, não posso.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?  Talvez não,  pela resposta anterior.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?  Tem fôlego, até ao último que deixe de o ter.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.  Só critica quem não faz nada!
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Resposta nº 37 > António Eduardo [Gouveia] Carvalho [, ex-Cap Mil da CCAÇ 3, Bigene e CCAÇ 19, Guidaje (1974)

(1) Descobri o blogue há 5 anos

(2) Pesquisa

(3) Sou membro da nossa Tabanca Grande há três anos [, desde 24 de dezembro de 2011]

(4) [Visito o blogue] semanalmente

(5) Deveria mandar mais material para o blogue.

(6)  Sim, conheço a nossa página do Facebook.

(7) Não.

(8/9) Gosto de tudo em geral.

(10) Não, não tenho dificuldade no acesso ao blogue.

(11)  É muito importante para troca de opiniões e conhecimento de factos desconhecidos.

(12/13) Não, nunca participei em encontros anteriores. Este ano talvez vá.

(14) Sim, tem condições para continuar.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários...

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Resposta nº 38 > António Sampaio [, ex-alf mil na CCAÇ 15 e cap mil na CCAÇ 4942/72, Barro, 1973/74]:

(1) Em 2009, por volta de Março, descobri o nome do Mexia Alves que conheci lá e encontrei o blogue.

(2) Estava a pesquisar Barro para mostrar à minha mulher para onde ela escrevia e deparei com o nome do Mexia.

(3)  Eventualmente logo a seguir. Mandei a minha primeira contribuição ainda antes do Encontro da Ortigosa (o meu 1º).
(4)  Visito o blogue de tempos a tempos. Confesso a minha preguiça. Comodamente confio no amigo e vizinho Vinhal que me alerta para tudo o que é importante. Nessas alturas tento dar uma vista de olhos ao atrasado.
(5) A preguiça e alguma falta de tempo impedem que tenha uma colaboração mais assídua. Ainda há alguma coisas mais para contar, vamos lá ver quando….

(6) Não, não conheoa a página da Tabanca Grande no Facebook.

(7)  Vou mais vezes ao blogue, confesso alguma aversão ao facebook.

(8) O que gostas mais do Blogue ?... Poder recordar, pelas histórias contadas, a nossa vida desses tempos.

(9) O que gostas menos do Blogue ?... As “ guerrazinhas” que de vez em quando estalam. Deixe-se cada um ter a sua visão das coisas. Nem todos veem e sentem as coisas da mesma maneira.

(10) Não tenho sentido nenhuma dificuldade no acesso ao blogue.

11) O blogue representa o ponto de encontro de camaradas que não se tendo encontrado lá, encontram aqui o seu local de convivência.

(12) Sempre desde Ortigosa (2009).

(13) Este ano, estou inscrito [, para o VIII Encontro Nacional, em 8 de junho, em Monte Real, ]com a minha mulher, logo desde os primeiros dias da abertura das inscrições.

(14) Penso que sim. Não pode morrer pois continua a ser um ponto de encontro “grande” de todas as outras ocorrências mais ou menos mais localizadas geograficamente. O Encontro Nacional demonstra que a Grande Família tem necessidade de manter um elo aglutinador que agregue os do Centro, os de Matosinhos e todos os outros [das outras Tabancas] que andam ainda mais ou menos perdidos.

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Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série > 21 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11437: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (20): Resposta (nº 35): António Matos, ex-alf mil minas e armadilhas, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72

domingo, 21 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11440: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (3): Rio Mansoa




Foto nº 42 > Mansoa > 1973 > A antiga ponte sobre o rio Mansoa, destruída.



Foto nº 65 > Mansoa >  1973 > A antiga ponte vista da nova


Foto nº 13 > Mansoa > 1973 >  Rio Mansoa > Canoa nativa



Foto nº 14 > Mansoa > 1973 > As barcaças (ou lá como se chamavam) que faziam a travessia do rio para irmos para Bula. Fomos numa delas. [À distância podem parecer LDM, mas não são].




Foto nº 35 > Mansoa > 1973 > Posto de sentinela junto ao rio




 Foto nº 7 > Mansoa > 1973 > O embarque para Bula. De costas em 1º plano o Cap Salgado Martins, comandante da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72.


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1.  Continuação da publicação do álbum fotográfico do Carlos Fraga, o mais recente membro da nossa Tabanca Grande (nº 611).

Ele esteve em Mansoa, nos últimos meses de 1973, como alf mil,  indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Estas fotos, com a devida legendagem fornecida pelo Carlos Fraga, constam de um CD que chegou ao nosso conhecimento através de dois camaradas da mesma companhia, a 3ª C CAÇ/4612/72, o Agostinho Gaspar e o Jorge Canhão.

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Guiné 63/74 - P11439: Efemérides (123): O Núcleo de Lagoa da Liga dos Combatentes levou a efeito no passado dia 9 de Abril a Comemoração do Dia do Combatente (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2012:

Lagoa, 14 de Abril de 2013.
Como já vem sendo habitual, o Núcleo de Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Lagoa-Algarve, no passado dia 09 de Abril, levou a efeito a Comemoração do Dia do Combatente e em memória da batalha de La Lys, 09/04/1918, foi o dia em que mais Portugueses morreram em menos tempo numa qualquer batalha.


Este ano não houve a pompa e circunstância, como acontecera em anos anteriores e sob o meu ponto de vista, deveu-se a que a Cerimónia fora antecipada para as 9.30h, dado que o Pelotão do RI 1 Tavira também estava escalado para uma outra Cerimónia e a dar-se pelas 11.00, na Cidade de Lagos.

Foto 1 – Aguardando o início da efeméride estão o Porta-estandarte José Júlio Nascimento, Cart 2520, Xime e Quinhamel, Guiné-1969/70; Salvador Matias, CCS do BCaç 2836, Mecula e Tete, Moçambique 1968/70; José David Boto, CCaç 2319, Nantuego, Candulo e Tete e por fim o promotor.

Outros motivos, que podem eventualmente ter influenciado, passam pela realização de outras actividades, nomeadamente, em Portimão, onde foi inaugurada a Delegação do Núcleo Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes; e, também ainda nessa cidade, estando previsto, para breve, ser erigido um Monumento em Homenagem aos Combatentes, naturais desse Concelho.

Foto 2 - Placa colocada na Alameda da Praça da República, em Portimão, assinalando o local onde irá ser erigido o Monumento aos Combatentes naturais desta cidade.

Assim, comparecera em Parada, para prestação de Honras Militares aos Mortos em combate, um Pelotão do Regimento de Infantaria 1 – RI 1 Tavira. Tendo o Comandante sido representado pelo Sr. Major Oliveira.

Foto 3 - Pelotão do RI 1 Tavira, em formatura e no manuseamento de armas na posição de sentido, sob o Comando do 1º Sargento Osório Santos.

Uma Seção da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão, sob a orientação do Chefe Silva, executara os toques de Ordem Militar inerentes ao decorrer da efeméride. Também marcou presença o Agrupamento 511 de Lagoa, do Corpo Nacional de Escutas, sob orientação do Chefe de Grupo Miguel Conduto.

Foto 4 - Colocação de coroas de flores na base do Monumento aos Mortos do Ultramar; em primeiro plano o Presidente do Núcleo Jaime Marreiros, Major Oliveira do RI 1 Tavira e o Presidente da C. M. Lagoa, José Inácio.

Foto 5 - Aquando dos toques a sentido e a silêncio, em honra dos Militares Mortos em Combate; em primeiro plano o Presidente do Núcleo Jaime Marreiros, Major Oliveira do RI 1 Tavira e Presidente da C. M. de Lagoa, José Inácio.

O Presidente do Núcleo de Lagoa-Portimão da Liga dos Combatentes, Jaime Marreiros, tendo dissertado perante as entidades Militares e Civis, ex-Combatentes e os seus Familiares, de onde foi captado o seguinte excerto:

“ (…) Estamos hoje aqui para honrar e louvar não só aqueles que pereceram em La Lys, mas também os filhos desta terra e que têm os seus nomes inscritos neste Monumento em sua homenagem. Algumas das suas famílias estão aqui presentes e a eles eu curvo-me humildemente, prestando-lhes os mais elevados e sinceros cumprimentos. É por eles, também, que estamos aqui, agora.

No momento actual de crise em que o País vive onde os vários e sucessivos governos têm mostrado o mais vil ostracismo aos Combatentes vivos, muitos deles vivendo em precárias condições de vida, não só em dificuldades económicas, mas sobretudo de abandono e abismo social e psicológico.

Podemos afirmar, com algum orgulho, que a Liga dos Combatentes, Associação de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, vem desenvolvendo ações humanitárias de partilha e apoio aos seus sócios mais desfavorecidos. O Núcleo de Lagoa-Portimão com a abertura de uma Delegação em Portimão, encontra-se também agora mais rico no apoio psicológico e social com a abertura de um gabinete médico naquela cidade, onde todos os sócios de qualquer concelho se podem socorrer. Este Núcleo dispõe de protocolos vantajosos para os seus sócios nomeadamente em farmácias, seguros, lazer, saúde, etc.

Esta é a nossa atual missão, não esquecendo o passado que nos honra, viver o presente com partilha e solidariedade, apesar de todas as suas vicissitudes e preparar o futuro dos nossos filhos e netos. Viva os Combatentes…! Viva Portugal…! ”

Para cumprimento do protocolo seguiu-se a deslocação ao Cemitério de Lagoa, tendo a finalidade de aí homenagiar os Combatentes Mortos em Combate e também os que vieram a falecer. Nas suas campas foram colocadas flores para memória futura.

Foto 6 - Momento de observância e sentimento, quando da colocação de flores na campa de um Combatente da Grande Guerra de 1914/18.

Foto 7 – Campa de Firmino Marques, Combatente na Grande Guerra de 1914/18.

Foto 8 – O Vereador da C. M. Lagoa Jaime Botelho, colocando uma flor na campa de Jorge Manuel Andrez, que foi Soldado Pára-quedista.

Foto 9 - A Srª D.ª Maria Santinhos, colocando flores na catacumba do seu irmão Francisco da C. Nunes, foi 2º Sargento, faleceu em combate, Vila Cabral, Moçambique-1971; dando-lhe apoio e em 1º plano Araújo Marcos, CCaç 111, Ambrizete, Angola-1961/63.

Foto 10 – Silva Nunes, Ccaç 2527, Bigene, Guidage, Barro e Ganturé, Guiné 1969/71, colocando uma flor na catatumba de Fernando R. Maló, que foi Soldado Condutor Auto e tendo prestado serviço no BENG 447, Bissau - 1968/69.

Cordiais cumprimentos,
Com um abraço
Arménio Estorninho
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Nota do editor:

Último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11343: Efemérides (122): Cerimónia comemorativa do Dia do Combatente e do 4.º Aniversário do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, dia 13 de Abril em Matosinhos (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P11438: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (9): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XVII / XVIII / Fim): Final da comissão em Empada (set 69 / jan 70)



Guiné-Bissau > Viagem de abril de 2005 > Aklgures em Marrocos, a caminho da Guiné-Bissau. O jipe é do António Camilo.



Guiné-Bissau > 2005 > O Zé Teixeira regressa à sua segunda terra... Um homem é também as suas memórias, a memórias dos lugares e do tempo onde viveu, sofreu, amou... O Zé deixou amigos que ele reencontrou trinta e cinco anos depois... Na foto vê-se o António Camilo e o José Teixeira. A foto deve ter sido tirada Xico Allen.


Guiné-Bissau > Região de Quínara >  Empada > 2005 > Antigo abrigo de morteiro construído pela CCAÇ 2381, na fase final da sua comissão (1969/70)

 Fotos: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados


1. Publicamos hoje o resto de O Meu Diário, de José Teixeira (1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/709 (*) [Originalmente publicado, em 18 postes,  na I Série, em 2006]


Empada, 19 de Setembro de 1969

Preciso de desabafar, de me abrir com alguém. Dentro de mim existe uma tremenda confusão. Quero fugir deste ambiente bélico, em que só se pensa na sobrevivência. Em que se mata para não morrer. Em que não se faz nada a não ser estar atento para ouvir uma possível saída de morteiro, que pode ser a nossa desgraça. Em que se parte ao desconhecido numa terra vermelha, estranha, inóspita, que esconde armadilhas fatais.

Sou inocente, nesta guerra que me recuso a fazer. Procuro na solidão e no estudo, melhor na simples leitura, pois não consigo concentrar-me, as forças que me faltam, já que ninguém consegue compreender o meu estado de espírito. Também não encontro ninguém com quem possa conversar estas coisas. Ninharias, dirão.

Em cada dia que passa a confiança em mim mesmo vai-se abaixo enquanto sinto crescer dentro de mim um estado de espírito de revolta contra todos os homens que fomentam as guerras. Queria ir a Bissau fazer história mas não sou capaz.


Empada, 24 de Setembro de 1969

O IN ainda não decidiu deixar-me em paz. No dia 20 à noite apareceram por esta terra. Aliás, no dia dezoito também cá estiveram, mas foi de muito longe. Só notei porque o 81 funcionou, para que não se entusiasmassem. O ataque do dia 20 foi fraco, talvez o mais fraco ataque que sofri até à data e me fez correr para o abrigo. Poucas granadas rebentaram e caíram todas fora do arame. Também utilizaram a costureirinha, mas sem quaisquer efeitos. Também fizeram duas visitas a Buba. Apenas assustaram.

Empada, 16 de Outubro de 1969

Do pelotão que está em Buba chegam novidades. Há dias houve por lá um terrível ataque com tentativa de assalto. Atacaram do sítio habitual do lado do rio com 10 Canhões s/r, enquanto do lado da pista fazia o desenvolvimento do assalto, procurando apanhar a tropa desprevenida.

Segundo dizem os meus colegas eram mais de duzentos, a avançarem em arco para que se as nossas forças saíssem as envolverem. Felizmente estava emboscado um Pelotão que os detectou. Parece que foi um tremendo fogachal, enquanto os Fuzas perseguiam os que atacaram do lado do rio que pretendiam reforçar as forças de assalto.

Ao fazer-se o reconhecimento, foi encontrado um rádio, sinal de que o ataque foi bem comandado e o fogo controlado por sentinelas avançadas. Foram descobertas e desenterradas 180 granadas de canhão s/recuo. Foi também ouvido ruído de viaturas.




Guiné-Bissau > Região de Quínara  > Empada > 2005 > Restos de abrigos construídos nos antigos quartos dos furréis da CCAÇ 2381, aqui aquartelados em 1969.

 Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados


Quando os Fuzas voltaram ao quartel, foram seguidos pelo IN que os atacou muito perto de Buba. Assim caíram entre dois fogos, o do IN e o de Buba que reagiu a um possível ataque sem saber que o fogo era destinado ao grupo de fuzas..

No dia anterior tinha havido uma coluna a Nhala ,onde apenas foi encontrada uma A/P com dispositivo anti-levantamento eléctrico que felizmente não funcionou por ter as pilhas gastas.

Nesta mina havia uma mensagem escrita: "Esta é para Alferes Gonçalves". Infelizmente este furriel (e não alferes) já está em Lisboa devido a um estilhaço que apanhou noutro ataque a Buba.

Há tempos apareceu aqui por Empada um turra. Deu várias informações e foi para Buba integrado no Grupo de fuzas, para fazer de guia. Parece que conseguiu fugir levando uma G3 (1).

Empada, 26 de Outubro de 1969

Vejo-te, nesta manhã radiosa, em que o sol parece sorrir enamorado. A brisa bate de leve no teu rosto, ciumenta do teu olhar. Os pássaros, nos seus chilreios cantam hinos de louvor à tua beleza. Até as pedras da rua se sentem orgulhosas por te servirem de trono.

Eu vejo-te passar através do meu espírito, do meu coração enamorado. Sinto ciúmes de tudo o que te rodeia, de tudo o que amas, pois é amor que me roubas. Quem me dera ter-te a meu lado e de mãos dadas, cabeça erguida, altivos, felizes e confiantes, palmilharmos o caminho da vida . . .

Ontem procedeu-se à rendição do Pelotão estacionado em Buba. Parece que Sector está em brasa. Durante um mês foram atacados sete vezes. Num ataque de tiro ao alvo, meteram nove canhoadas numa parede de caserna . . sem ninguém. Que sorte.

Empada, 16 Novembro de 1969

O Marinho Caixeiro Conceição morreu (2). Era querido e estimado por todos. Passava o dia a cantar a cantar a morte o surpreendeu, quando no ataque do dia 14 estava na retrete. Talvez porque estivesse a cantar, não ouviu as saídas nem os gritos de avisos dos colegas que iam tomar banho. Quando sentiu o primeiro rebentamento junto à caserna tentou fugir, mas já era tarde, uma das primeiras granadas rebentou no telhado e meteu-lhe alguns estilhaços no corpo - o que lhe perfurou a nuca foi fatal -, e ainda foi projectado contra a parede, aumentando os estragos.

Eram vinte e uma e trinta, quando começou. Utilizaram seis morteiros 82, treze lança roquetes, bazucas, morteiro 60 e, claro, a costureirinhas, algumas com balas tracejantes. Tiveram sorte na pontaria e conseguiram metê-las quase todas dentro do quartel e povoação. Só junto às casernas rebentaram oito granadas. Junto ao arame caíram manga delas.

Além do Conceição,que morreu, ficaram feridos o Açoreano e quatro nativos. Na morança da Fátima (prostituta) caíram duas, mas não houve azar, pois os camaradas que lá estavam já se tinham escapulido.

Foram perseguidos até ao fundo da pista, mas às duas da manhã voltaram, aproximaram-se mesmo do arame junto à pista. Felizmente, desta vez não causaram danos. Se desta vez a pontaria fosse idêntica à do primeiro ataque, teria sido uma catástrofe.

Empada, 21 de Novembro de 1969

É uma família muito simpática. Ela, Bijagó, e ele, Cabo Verdeano. Têm quatro filhos: Marcos, Lucas, Júlia e Victória. Muito trabalhadores, aproveitam o terreno cultivável, na impossibilidade de se dedicarem à pesca, a sua profissão, por medo da guerra.

A Júlia está muito marcada pelo ambiente militar que a rodeia, tem até um filho de branco e creio que foi prostituta, em tempos, em Bissau. Tem três filhos todos de tenra idade e é uma tentação cá para a malta. A sua liberdade de linguagem é um dos factores para que qualquer homem se sinta tentado a persegui-la e receber as suas benesses, por troca de umas moedas. A Victória, essa tem porte digno, alguns de nós já se lançaram ao engate, mas ela troca-lhe as voltas.

Até há pouco tempo, toda esta gente - três homens, três mulheres e cinco crianças - dormiam no mesmo compartimento da morança. Com os ataques seguidos de há dias, o medo aumentou, o que se compreende, pois na mesma noite tiveram de pegar por duas vezes nas crianças e fugir para o abrigo rasgado na terra e coberto com cibes, tendo caído duas granadas muito perto da sua casa.

Na luta pela sobrevivência, decidiram passar a dormir no minúsculo abrigo, pondo lá dois pequenos colchões, tendo como companheiros lagartos, formigas, cobras, etc. Os dois velhos da família, por falta de lugar no abrigo, continuam a dormir na morança.

Um clima muito quente e húmido, a terra muito húmida, uma pequena abertura para entrar, a enorme quantidade de bichos, a urina das crianças, o suor dos corpos... são estas as condições desta família. Quantas famílias, quantas Júlias haverá por esta terra !?



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Emapada > 2005 > O reencontro do Zé Teixeira com o Keba (à esquerda)... À direita, o Xico Allen, com quem o Zé Teixeira viajou em 2005, e que também tinha estado em Empada, embora noutra época (1972/74). De óculos, e vestido de azul, o Braima, que foi ajudante de enfermeiro do Zé Teixeira.

Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados.


Empada, 20 de Novembro de 1969

O Kebá (3) aparecia todos os dias na Enfermaria. É o nosso ajudante no tratamentos da população. Trata as pequenas feridas. Elas já sabem:
- Kebá põe mercuro ! - e ele põe.
- Kebá, parte quinino! - e ele vai buscar LM. Vão-se embora todos contentes.

Ao Almoço lá lhe trazemos uma cantina cheia de comida. É a nossa paga. Há dias deixou de aparecer. Estranho, mas como tem duas mulheres e vários filhos no mato, admiti que tivesse ido embora.

Ontem vi-o a carregar barricas de água, da fonte para o jardim do chefe de posto. Perguntei-lhe porque deixou de aparecer e fiquei horrorizado. Estava preso por não pagar o Imposto de Pé Descalço (4).

Vim para o Quartel e a minha revolta fez-me agir. Um quarto de hora depois estava a casa do Chefe de Posto cercada por militares armados de G3 a exigirem a libertação do Kebá.

Safou a situação o nosso capitão que, apercebendo-se dos acontecimentos, dirigiu-se ao local e conseguiu a libertação do homem. Como não desarmámos, pois queríamos que o bandido fosse castigado, foi-nos prometido pela capitão que ia fazer uma exposição a Bissau para que fosse retirado de Empada (5).

Acalmada a situação fiquei à espera do castigo, mas parece que me foi dada razão.


Empada, 26 de Novembro de 1969

Na semana passada os Paras fizeram ronco em Gandembel, no “carreiro da morte” , matando 10 e aprisionando um capitão cubano, ferido com uma rajada no braço.

Este confessou ser de origem cubana e estar na Guiné há cinco anos, mobilizado por Fidel Castro (6). Dirigia-se a Conakry para uma reunião com o comando turra. Cerca de duas horas antes tinha passado no mesmo local o Nino com as rampas de lançamento de mísseis.

Já no Hospital em Bissau, foi visitado e reconhecido pelas senhoras do MNF – Movimento Nacional Feminino. Vivia no Bairro da Ajuda, quase em frente do hospital, com a esposa e três filhos. Foi apanhado na sexta feira e tinha no bolso um bilhete do UDIB da terça feira anterior.

A febre e o fim da Comissão atingiu completamente toda a malta da companhia... Nota-se um grande nervosismo, por sentirem que ainda faltam dois meses (7).

Dizem que é costume o IN atacarem nos últimos tempos de comissão. A nós já nos deram recentemente um morto. Por isso a preocupação é enorme.


Empada, 24 de Dezembro de 1969


É Natal. No ar uma camada de cacimbo que nos dificulta a visão. Ao longe o troar das armas, o ribombar dos canhões, lembram os sinos da paz e, pela sua insistência, recordam-nos que é Natal.

Então, o espírito, o coração, todo o nosso ser, sente o Natal. Não o Natal que vivemos na hora presente, preocupados com a morte que nos espreita pela boca de um canhão, atentos ao menos sinal de perigo, para de arma em posição de rajada fazermos frente ao Inimigo.

Sente-se o Natal de nossas casas, a paz dos nossos lares e sofre-se não propriamente por estarmos em guerra, mas porque nos lembramos dos nossos. O seu Natal, não é Natal, porque falta alguém querido, alguém que sente e vive o Natal e outra maneira, em circunstâncias muito difíceis. Eles nem sonham !


Empada, Ano Novo de 1970


A felicidade é o supremo desejo de todos os homens. A História não é mais que uma longa e louca aventura dos homens à busca da felicidade.

O homem, na ânsia de atingir a felicidade, esmaga o seu irmão. A moral diz-nos que a felicidade se constrói com a vida na medida em que nos mentalizamos da nossa missão como seres humanos, viver a vida em comunidade e agir em conformidade. No entanto esquecem-se rapidamente estes princípios morais. Os governantes, responsáveis pelo bem estar do seu povo, guerreiam, ensanguentam, matam. Destroem para atingiram os seus fins. Alegam que buscam a felicidade para o povo, que é preciso sacrificar uns para que outros vivam felizes, enquanto eles vivem nos seus palácios de egoísmo.

Ah ! esses que se arvoram em condutores do povo, que conduzem as guerras dos seus palácios de vidro, se vivessem no seu sangue, no seu corpo, no seu espírito o que se passa nas frentes de batalha !

Se sentissem o sofrimento de tantos que, num último esforço, se tentam agarrar à vida, no meio de atrozes dores. Se sentissem a dor dos que têm de abandonar tudo o que é seu e fugir, na esperança de escaparem à morte.

Se sentissem a dor daqueles que vêm os seus entes queridos, os seus amigos, ali à sua frente, mortos por uma granada traiçoeira, quando ainda há escassos segundos viviam felizes.

Se sentissem o que é ficar sem uma perna, um braço, ficar inutilizado para a vida e quantas vezes rejeitado pelos seus, como quem deita fora o que já não presta.

Se sentissem o que sente o jovem a quem lhe roubaram os melhores anos da sua vida, a quem atrasaram a sua construção como homem.

O ingrato de tudo isto, é que alegam que se trata de uma causa justa. O Inimigo também afirma que luta por uma causa justa e que esta justifica ao vida e o esforço de todos. De que lado estará Deus, se ambas as frentes lutam por uma causa justa ?

Dizem que estão dentro da razão e mandam os outros para a frente. Eles não vão. Lá longe traçam os planos, jogam com as vidas, indiferentes ao sofrimento. . .

A eterna busca da felicidade . . . Pobre homem cego, que procuras a felicidade e julgas que a consegues, esmagando os outros, servindo-te do teu poder. Esqueces-te que a felicidade, não é mais que a construção de ti mesmo, procurando atingir o HOMEM perfeito.

O Grande drama do homem, é o ser limitado nos seus meios naturais e infinitos nos seus desejos. Procura então, por meios anti-humanos, conseguir os seus desejos. Pobre bocado de terra que esqueceu a sua origem e o final que o espera . . .

Empada, 11 de Janeiro de 1970

Ainda cá estamos e eles continuam por perto. No dia 9 nove, as 22.30 h. vieram dar-nos as boas festas. Roquetes, bazucas e costureirinhas e um quarto de hora debaixo de fogo. Só atingiram a tabanca, queimando algumas moranças. Além do susto houve um ferido nativo que teve de ser evacuado.

[Foi a minha despedida da guerra. Poucos dias depois dei baixa ao hospital e fiquei em Bissau a aguardar o embarque que se concretizou em fins de Abril ].

Brá, 20 de Março de 1970

Continuo em Bissau a aguardar o transporte para junto dos meus. Desde Dezembro que o embarque em sido adiado sucessivamente. Agora dizem-nos, mais uma vez ,que está por dias. Será o retorno à sociedade, o retorno a vida: dentro de mim continua a revolta pelo que vi e vivi, mas também há uma grande vontade de reagir.

  



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 1970 > Um militar da CCAÇ 2381, Os Maiorais,  na fase final da sua comissão.

Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados.


Leça do Balio, 17 de Fevereiro de 2006

Ao reler o Meu Dário (que não era diário) onde apontei algumas das situações mais marcantes da minha guerra, apetecia-me queimar tudo e recomeçar de novo. Tudo o que escrevi, não foram historinhas para depois (agora) de velho, contar aos netinhos. São factos verdadeiros escritos a quente, para não perderem o “sal” da realidade que o tempo teima em dissolver

Hoje, com as feridas saradas, talvez romanceasse um pouco. Talvez lhe juntasse outros pormenores, que com o calor dos acontecimentos foram posto em secundário. Talvez lhe juntasse outras situações que vivi e não escrevi, umas por desleixo, falta de motivação de momento, ou até por não encontra razões de história. Outras por medos “pidescos” de poder ser apanhado.

Com o tempo e com a ajuda provocatória do Luís Graça e dos camaradas tertulianos as estórias irão surgindo. Mas eu, na Guiné, não vivi e presenciei só e apenas cenas de guerra. Vivi bons e felizes momentos com os camaradas. O termo camarada reflecte amizade criada em tempos de luta, em tempos difíceis, daí o seu valor e a sua aplicação que devemos usar. Geramos amizades inesquecíveis.

Vivi bons e felizes momentos, em sadio convívio com as populações locais e muito aprendi com elas. Costumo dizer que aprendi ali, na Guiné, as primeiras noções do que é viver em democracia.

Mas... As injustiças por essa Guiné que presenciei foram imensas:

(i) Vi Chefes de Posto, a fazerem justiça pelas suas próprias mãos, julgando e condenando ao chicote homens sem direito a defesa, sem processo, sem inquirição, sem confronto;

(ii) Vi Africanos a serem empurrados pela força da baioneta, obrigados a irem viver para sítios que não queriam ( Antotinha), alegando que ali nasceram, ali queriam morrer, sobretudo os mais velhos; quantos fugiram para o IN !?;

(iii) Vi Africanos a serem condenados a prisão por não terem dinheiro para pagar o Imposto do Pé Descalço;

(iv) Vi Gente carregada de frutos que iam vender à loja do branco e saíam desta bêbados e sem tostão, graças à estratégia montada, para deixar lá os miseráveis pesos que lhe davam pelo sacos de coconote;

(v) Vi gente a vender o saco de mancarra a um peso e depois o homem branco da loja vender o mesmo saco por 15 moedas, tendo ainda o desgraçado do produtor de o carregar até ao barco; ele que teve de rasgar a terra, semear, tirar as ervas daninhas, proteger dos animais selvagens e dos pássaros, proteger das investidas do Inimigo;

(vi) Vi e senti quão tão grande era o desprezo que a Mãe Pátria votava aqueles que dizia serem seus filhos iguais aos que do Minho ao Algarve se orgulhavam de serem Portugueses; onde estavam as escolas, a assistência mínima à saúde, o desenvolvimento ?

(vii) Vivi uma guerra que em consciência não queria.

Mas estou aquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

Zé Teixeira

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 Notas do autor:

(1) A história foi muito mal contada na altura pelos Fuzas. No meu regresso em fim de Comissão vinha também no Niassa um fuza que tinha sofrido um castigo e foi expulso da Guiné. Contou-me este, que o tal Turra não fugiu. Um dos Fuzas tinha perdido a G3 e era preciso justificá-la. Por outro lado as suas informações eram a causa para eventuais futuras acções de combate, com assaltos a bases do IN, o que era sempre arriscado. A solução foi amarrar o gajo e atirá-lo ao rio fazendo-o desaparecer e passando a informação que tinha conseguido fugir.

(2) Vd I Série, poste de 11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIV: Estórias do Zé Teixeira (2): o Conceição ou o morrer de morte macaca

(3) O Kebá passava o dia na Enfermaria. Não quis ser milícia, o que suponho se devia ao facto de ter 2 mulheres e vários filhos com o IN.

Conversámos várias vezes sobre este assunto. Disse-me que em tempos tinha deixado Empada e ido para o mato, localizou as mulheres e tentou convencê-las a virem com ele, mas estas não quiseram ou não as deixaram vir. Vivia este drama. Quando éramos atacados, ele mesmo dizia que não sabia se as suas mulheres estavam do outro lado.

Quando em 2005 tive o prazer de voltar a Empada, senti uma mão nas costas e alguém a perguntar-me se me lembrava dele. Olhei, o rosto dizia-me alguma coisa, mas o nome, esse, fora-se.
- Sou o Kebá.
Quantas histórias ali foram revividas. Imaginem o resto.

(4) Pelo que vim a saber era um pequeno (grande) imposto que toda a gente tinha de pagar, quer trabalhasse quer não, por isso lhe puseram o nome do Imposto do Pé Descalço.

(5) Tal veio a acontecer uns dias depois, ficando o Capitão na função de Chefe de Posto até à substituição.

(6) Esta não será, com certeza, a verdade (verdadeira) dos factos, mas foi assim que ma contaram. Estou apenas a transcrever o que escrevi na altura. Isso permitirá ajuizar como as mensagens eram passadas e eventualmente os factos deturpados por conveniência ou não.

(7) Na realidade, tivemos que esperar mais cinco meses...
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11398: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (8): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XV/ XVI): Setembro de 1969... (i) Tragédia (para a 15ª CCmds)... (ii) Condição feminina ('Fermero, ká na tem patacão pra paga, fica ku minha mudjer')

Guiné 63/74 - P11437: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (20): Resposta (nº 36): António Matos, ex-alf mil minas e armadilhas, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72

1. Resposa do António [Garcia de] Matos,  ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72,


Assunto: 9º aniversário do blogue + prova de vida + questionário ao leitor

Caríssimo Luís Graça,

Bons olhos te vejam, bons ouvidos te ouçam e bons postes te bloguem !

Tenho imenso prazer em te dizer que continuo vivo e como tal aqui venho dar a minha prova de vida respondendo ao inquérito (*). Lá vai :


(1/2)  Quando descobri o blogue ? A data ? Não sei responder a essa tão prosaica questão mas, calcula, foi na festa de casamento da filha do camarada Luís Faria ! Nessa altura ele falou-me da existência do blogue e quando regressei a Lisboa tive a curiosidade de ver do que se tratava.... Gostei e fiz a minha "apresentação"...

(3) Foi um período que recordo de grande dinamismo do blogue onde eu tive ocasião de participar activamente durante uma catrefada de tempo com as minhas intervenções. Depois ...

(4)... depois a coisa foi esmorecendo (é usual com o passar dos anos ... ) , foram aparecendo questiúnculas e outras interessantes participações noutros foruns em desfavor do MEU blogue sobre os tempos de guerra

(5) Hoje visito-o muito esporadicamente ... Por isso não tenho participado como gostaria

(6) Conheço o espaço facebookiano.

(7) Pelas razões já abordadas, é tão esporádico ir ao facebook como ao próprio blogue.

(8/9) Sou um grande utilizador do facebook mas acho que o blogue torna-se mais "friendly" [amigável] do que ele.

(10) Não tenho notado [ dificuldades no acesso] ...

(11) Refiro-me ao blogue ( a minha opinião é sustentada na experiência que tive e admito que esteja ultrapassada ); este blogue teve um impacto imenso em mim. Fui dos que vim da Guiné com os meus problemas TODOS resolvidos,  daí que não precisei de catarse para restabelecer os meus índices de integridade, felizmente.

Porém, a constatação do abandono que os combatentes portugueses tiveram face ao carinho, admiração, elogio, gratidão, etc. com que os nossos pares são tratados no estrangeiro, revoltou-me particularmente.  As homenagens, por exemplo, aos americanos, mortos ou vivos, envolvidos no Vietname, continuam a ter aquele efeito demolidor de me pôr o beiço a tremer e as lágrimas a saltarem num sentimento de total solidariedade com eles !

Cá, e porque pertenci ao oficialato do exército português, sou agraciado com 0,40 € por dia !! Sujeito a descontos !! E ainda tenho que ser solidário com uma governança que, numa grande maioria, ainda andava de fraldas naquela altura ...

(12) Não [, nunca participei em encontros anteriores].

(13 )  Não estou a pensar [participar neste].

(14 ) Desculpa, Luís Graça, mas eu acho que o blogue sofre do que tudo na vida sofre : cansaço. Sou
de opinião que deveria ser reinventado pois as potencialidades do acervo que já adquiriu o merece ! O trabalho dos colaboradores mais activos será sempre de elogiar mas, parece-me, com conteúdos esgotados. Digo isto com todo o respeito por quem participa mas se neste momento eu abrir o blogue, não vou ser surpreendido com temas fora dos aniversários, das mortes, das notícias de que vai haver um encontro e ... e ... pouco ou nada mais.

Pedir-me-às alternativas e eu respondo que a tanto não me permite o engenho e a arte ... Isto não pode ser impeditivo de se estudar um voltar de página ! Porque não as histórias de vida de cada um nos 40 anos subsequentes aos da nossa guerra ? Como se processou a reintegração individual ? Como vivem ? De que forma se amarfanham com as recordações do tempo de armas ? Que traumas carregamos ? Não só os físicos mas também os psíquicos !

Que estórias contámos aos nossos filhos ? E aos nossos netos ? E às nossas companheiras ? E aos nossos pais ? Que sabemos nós dos seus sofrimentos por nós ?

Luís Graça, o que acabo de escrever não foi sujeito a qualquer re-leitura. Foi ao correr da pena com o coração nas mãos !

Um abração! António
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Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? Se não, porquê ?
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

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Nota do editor: