domingo, 25 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6247: (Ex)citações (68): Pai, és o meu orgulho, te amo muito, muito, muito (Ana Djaló, Londres)

1. Comentário da filha do Amadu, que vive em Londres, tal como o irmão (na foto, do lado esquerdo, temos a outra filha, e o neto, o resto da família que vive com ele, em Portugal, na Amadora):



De: YouTube Service <service@youtube.com>
Data: 20 de Abril de 2010 23:54
Assunto: Comment posted on "Amadu Bailo Djaló, lançamento do livro (2)"
Para: Nhabijoes <luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com>





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cyntick has made a comment on Amadu Bailo Djaló, lançamento do livro (2):
Olá, pai, parabéns pelo lancamento do livro. Eu gostaria muito de estar aí pra te apoiar como sempre fiz mais não dava,  estou aqui na Inglaterra....Mas,  de qualquer maneira,  PARABÉNS, és o meu orgulho,  pai, te amo muito, muito, muito.....Ana

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Guiné 63/74 - P6246: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (6): Em Empada, primeiras impressões e morte de um camarada por electrocussão

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 14 de Abril de 2010:

Camarada amigo Carlos Vinhal e Tabanqueiros, envio uma mão cheia de mantenhas.

Desta feita irei escrever por partes algumas das “estórias” e apresentando fotos, sobre a minha estada em Empada (incluindo o gamanço do borrego) no período que foi de 01 de Maio de 1969 a 15 de Janeiro de 1970.

Dado tratar-se de uma crónica muito extensa e pertinente, sugeria que fosse subdividida aquando da sua colocação no Blogue.


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte 1

Primeiras impressões e morte de um camarada


Quando cheguei a Empada, a mesma era considerada um lugar calmo e dizia-se por ser a Tabanca do guerrilheiro Nino, vínhamos para recuperar do stress e das várias formas de mazelas.

A situação militar que encontrei, fez-me muita confusão na cabeça e “areia de mais para a minha camioneta”. Qual o motivo que levara a retirar a Unidade deste Aquartelamento a fim de ir descansar para Quinhamel e não foi concedido à CCaç 2381, que estava numa zona bastante complicada do eixo de Buba - Inhala -Mampatá - Aldeia Formosa – Gandembel, encontrando-se toda estoirada?

Depois, o que vimos era notório a qualquer militar mais atento, o In estava instalado nas Penínsulas de Cubisseco e da Pobreza “parecia que havia uma paz podre,” a minha Companhia começou a executar acções de reconhecimento e de combate na zona, aproximando-se da colmeia das vespas (abelhas) assanharam-nas e de retorno no Quartel de Empada viemos a sofrer ao todo 15 ataques.

- Da História da Unidade, retirei um resumo do estudo sobre o Subsector de Empada.

"O qual dependendo operacionalmente do COP 4 e administrativamente BCAÇ 2834, passou a pertencer para todos os efeitos ao B CAÇ 2892 a partir de 10/Nov./69. Dentro do Sector S-2, tem como limites das zonas de acção: Orla marítima – Rio Grande de Buba – Rio Jassonca – Rio Banga – Rio Perárona – Rio Gandosara – Rio Galendogo – Rio Suante –Rio Mandisse – Rio Tombali. O In mostrava-se activo actuando em diversas flagelações a Empada, mas tendo-se sempre furtado ao contacto com as N/T. Sempre que pressentiam ou suspeitavam de tropa fora, preferiam retirar-se e tentar sempre sem êxito, flagelar as N/T em progressão ou emboscadas".

Em 16/Junho/69, quando era noite e estando na camarata deitado, escrevendo assim como outros camaradas o faziam, sempre com máxima atenção de ao primeiro sinal suspeito e procurar um lugar mais seguro.

Eis os sons (saídas) e o grito de guerra “ai estão eles!”, corremos para protegermo-nos como era normal, há um que se atrasa e logo que chegou ao exterior da caserna na mesma (foto 1) explodira uma granada de canhão s/r.
Quando cinco de nós já estávamos acoitados ali ao lado e ao monte numa cova, que fora aberta para colocação de uma antena de rádio, cada um que ali entrava magoava os que já lá estavam e havia os vocabulários vernáculos de ocasião (foto2).


Foto 1 > Região de Quinara > Empada> 1969 > A Caserna > O Soldado Martins, saiu pela porta da direita e para sua sorte seguiu para o lado oposto.

Foto 2 > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, mostrando a cova, que esteve na mira de seis militares e ainda dava para mais um.

Passado o ataque, formamos um grupo para ir ver os estragos das granadas que caíram dentro do Quartel, e uma caiu no telhado da caserna, mesmo ali ao lado, espalhando estilhaços por todo o compartimento e ficando uma mala toda cravejada, a qual era pertença daquele que se atrasara, o Soldado Condutor Manuel Mateus Martins, que a usava como escrivaninha e na altura estava escrevendo. De seguida fomos para a zona do comando e ai havia dois feridos, o Soldado Acácio Marques “O Gazela” (S. João do Monte - Nelas) e o Soldado Francisco Maria (Estói – Faro).

Na noite do meu aniversário a 09/Julho/69, deu-se uma morte estúpida e que poderia ter-me saído na rifa. Estando num abrigo mais outros camaradas (foto 3), deu-se um corte de luz, efectuando-se a troca da lâmpada e nada resultara, quando já era dia fora solicitada a reparação ao pretenso electricista, o qual desmontou o suporte da lâmpada, ficando as pontas do cabo junto da minha cama e à vista, pensando eu que ele iria desligar a extensão.

Foto 3 > Região de Quinara > Empada> 1969 > Local do acidente, um dos sete abrigos tipo e instalados no perímetro da Povoação.

Ao anoitecer, o gerador foi posto a funcionar, havia muito calor e humidade do ar, antes de se deitar o Soldado Albino Oliveira foi tomar um banho “tipo à fula” (foto 4) e molhado dirigiu-se para o abrigo. Ai devido a algo deslocou o dito cabo eléctrico, em que a ponta da linha de fase estava em carga, por isso era o fio do neutro que estava partido, tudo propício a uma forte descarga eléctrica. Por conseguinte, para segurança, o electricista deveria ter desligado a extensão o que por esquecimento não fez.

Foto 4 > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, tomando banho à fula, na Fonte Frondosa, principal zona de banhos e de lavadouro.

Os enfermeiros Furriel Chico e os 1.ºs Cabos Jorge Catarino, José Teixeira e o Lemos, foram em seu socorro, mas foram gorados os seus esforços embora prestassem todos os cuidados adequados. O Soldado Albino Oliveira era um amigo e brincalhão, leia-se o nome de guerra “O Cantiflas.” Já tinha viagem marcada para ir de férias à Metrópole, ao encontro da sua mulher, filha e restantes familiares. Alguém da Companhia se propusera a enviar-lhes a notícia, com a narração do acidente e da morte do inditoso.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6238: Efemérides (44): Dia do Combatente. Comemorações do 9 de Abril em Lagoa (Arménio Estorninho)

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6114: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (5): As colunas auto de Aldeia Formosa-Gandembel

Guiné 63/74 – P6245: Estórias avulsas (33): O lírico, ou com a ditadura não se brinca (Mário Migueis)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Migueis(1) (ex-Fur Mil de Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72) com data de 17 de Abril de 2010:

Carlos
Para te compensar dos textos que te enviei em cima do acontecimento, ajudando à confusão, remeto-te agora um bastante mais pequeno e com vários dias de antecedência, já que tenho a ousadia de te solicitar que o publiques a 25 de Abril. É que esta data ainda é, pelo menos para mim, o Dia da Liberdade, pese embora a cáfila de oportunistas que nele se dependuraram para nos sorverem até à medula. Haja fé em Deus e nos restantes (nos honestos, óbviamente)!...

Um abraço,
Mário Migueis

PS: Antes de fechar para férias, gostaria de encontrar disposição para, aproveitando a maré, escrever algo sobre o Spínola. Sabes bem que o meu forte é falar mal (interpreta o "falar mal" como quiseres que, em qualquer dos casos, estarás a interpretar bem), mas, neste caso, para não destoar do resto da malta, até sou capaz de falar bem (interpreta o "bem" no sentido de positivamente, embora eu possa mudar de ideias entretanto - quem sabe?...).


O Lírico

Tendo regressado definitivamente das guerras da Guiné em finais de Outubro do ano anterior, deparou, naquela manhã de Agosto de 1973, com o anúncio, no jornal, da realização de uns jogos florais - poesia/tema livre - integrados no programa das Festas em Honra da Senhora do Bom Regresso, na cidade de Vale de Lágrimas, próxima do seu torrão natal. Da composição do júri, apensa ao regulamento do concurso, faziam parte - como era tradição de antanho, independentemente do respectivo grau escolar -, um representante da comissão de festas e outro da presidência da câmara, para além de três elementos ligados ao ensino – esses, sim senhor! -, com formação académica superior na área das letras, dois dos quais doutorados e com obra literária publicada e de reconhecidos méritos e notoriedade a nível nacional.

Impressionado com o currículo da generalidade dos juízes, que, sem dúvida nenhuma, ofereciam todas as garantias de sapiência e isenção que o acto requeria, entusiasmou-se a sério e fez-se a pergunta que, logo à partida, não implicava qualquer resposta: “Porque não concorrer com algum dos meus poemazitos da Guiné?!...” E, pronto, da interrogação à não resposta - o mesmo é dizer-se, do pensar ao executar -, foi obra de um piscar de olhos.

Cônscio da força moral que o seu estatuto de cumpridor do venerável serviço militar em terras do ultramar português lhe conferia, resolveu concorrer com um poema que começava assim:

“Este é o grito lancinante dos mortos
Na revolta de uma morte cruel e impiedosa
Aos olhos de um mundo podre de vis actos
………………………………………………………………... “


Oito dias depois, em carta registada, devolveram-lhe o poema com uma grande cruz a lápis por cima e sem qualquer observação (a cruz era por demais elucidativa, convenhamos…). Ficou furioso e vociferou alguns impropérios, mas logo serenou, quando uma voz feminina – as mulheres sempre tiveram mais tacto que os homens! - o chamou à realidade:

- Cala-te, cala-te, que muita sorte tiveste tu, meu grande palerma!...


Esposende, 14 de Abril de 2010
Mário Migueis Ferreira da Silva
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Nota de CV:

(*) Vd. poste 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6215: In memoriam (41): O Sem Sentido das Guerras - Relembrando António Ferreira (Mário Migueis)

Vd. último poste da série de 10 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6139: Estórias avulsas (83): Emboscada em Lamel (Fernando C. G. Araújo, ex-Fur Mil OpEsp / RANGER da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4512)

sábado, 24 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6244: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (14): Cap Figueiredo: Capiton Lelö dahdè ou capitão cabeça inclinada

1. Mensagem do Cherno Baldé

Data: 17 de Abril de 2010 01:36
Assunto: O Capitão Figueiredo em Fajonquito

Caro amigo Luis Graça,

A resposta a tua pergunta [, se conheço o Pepito,] é sim. A Guiné é um pais muito pequeno e, quase, tudo gira a volta da capital Bissau, uma cidade de menos de 500 mil almas. Eu devo ter conhecido o Sr. Eng. Pepito (*) desde finais dos anos 70, pois, para além de pertencer ao grupo dos primeiros quadros regressados a Guiné apos a independência, ele dirigiu o DEPA (departamento experiemental de produção de arroz) de Contuboel durante muito tempo. E, sendo eu de Fajonquito, fica tudo dito.

Mas, não é só isso, de 1999 a 2000, ele foi Ministro das obras públicas no Governo da unidade nacional (GUN), liderado por Francisco José Fadul. Nessa altura eu exercia a função de Director Executivo do fundo rodoviário nesse mesmo Ministério de modo que, como poderás deduzir, fazia parte do seu staff. Mas se fizeres esta mesma pergunta ao Eng. Pepito, certamente que a resposta sera NÃO. Nada mais lógico.Eu ainda tenho a sorte de pertencer ao grupo dos anónimos que, no contexto da Guiné, é um grande privilégio. Posso andar a pé na rua e saborear um sorvete sem escandalizar ninguém. 

No mês de Janeiro do corrente ano, estive em missão na região de Tombali, tendo passado por Guiledje a caminho de Bedanda. Vi e apreciei o trabalho que foi feito no antigo aquartelamento. Aconteceu alguns dias antes da sua inauguração pelo Presidente e o Primeiro Ministro, que acompanhei via rádio. Facto curioso, houve muitos discursos (as vezes contraditórios) mas do Eng. Pepito não ouvi nada.

Relativamente ao meu comentário sobre a tragédia de Fajonquito (**), como que para redimir-se do meu erro por ter chamado o Almeida de "nosso amigo" como se os outros o não fossem, o que não corresponde à verdade, quero hoje falar do saudoso Cap Figueiredo e dizer que foi para todos nós uma perda inestimável. 

O que vou dizer pode parecer paradoxal se não incongruente. O Sr. Carlos Borges de Figueiredo, ao contrário de muitos outros, foi um Capitão pacifista pois ele tinha-se distinguido, sobretudo, pela promoção da educação entre as criancas nativas (o número de alunos na escola local tinha aumentado significativamente facto que poderia estar ligado ao ambiente de paz criado e uma grande sensibilidade pelos problemas sociais da população) e organização de eventos sócio-culturais que, não só afastavam, por algumas horas,  o espectro da guerra e da morte entre a tropa mas eram também muito úteis e importantes na construção de relações de aproximação e de confiança com a populaçã local, tão prezada por General Spínola.

Foi nessa altura que, pela primeira vez, recebemos a visita de grupos musicais vindos da metrópole. Numa dessas visitas, lembro-me da presença de uma ou mais mulheres  cantavam o Fado. A música era muito morna, lenta demais para o nosso gosto temperado na ritmada, quase violenta dança de tambor mandinga. No meio de tudo isso, não nos escapou um detalhe importante. Notamos a deferençaa e o extremo respeito com que todos a(s) tratavam. O respeito dado àquela(s) mulher(res) contrastava de forma flagrante com a maneira como habitualmente lidavam com as nossas mulheres, fossem elas grandes ou pequenas. E não estou a referir-me, claro esta, à esposa do Capitão que, também, deve ter visitado Fajonquito.

Ele ficou conhecido no meio da populacao local com o nome de Capiton Lelö dahdè o que na lingua fula significa o Capitão cabeça inclinada. Talvez aqueles que o conheceram de perto me possam corrigir, parece que ele tinha o hábito de inclinar ligeiramente a cabeça para um dos lados, daí o nome com que o baptizaram e que fica para a historia.

Com muita amizade e saudades,

Cherno (Chico de fajonquito)

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Notas de L.G.:


Guiné 63/74 - P6243: O 6º aniversário do nosso blogue (29): Aqui vamos adquirindo conhecimentos sobre outras culturas e tradições (Filomena Sampaio)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio com data de 22 de Abril de 2010 com a sua contribuição para a comemoração do 6.º aniversário do nosso Blogue:

Amigo Carlos,
Motivos não me faltam para deixar uma mensagem de parabéns pelo 6º aniversário do Blogue.

Como leitora do Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, que leio quase diariamente, quero dar os parabéns ao comandante Luís Graça e aos seus co-editores, pelo sucesso deste distinto espaço de leitura e informação. Para além de ficarmos com uma ideia do que foi a vida dos Nossos Militares em Guerra no Ultramar, também vamos adquirindo conhecimento sobre outras culturas e tradições, algumas que nos levam a reflectir e a querer saber mais.

Frequento o Clube de “Cidadania é Cultura” e decidi levar para discussão do grupo o tema “Mutilação Genital Feminina”. Foi através deste Blogue que tomei conhecimento desta tradição, e com base no que li e pesquisei escrevi um texto e fiz uma apresentação em Power Point.
Foi interessante, levantou muitas questões.
Obrigada a todos.

O livro que li – “Pami Na Dondo, A Guerrilheira” que me foi oferecido pelo autor Mário Fitas, (ex-Furriel Miliciano Operações Especiais, Guiné 1965/1966), um homem de palavra sentida, com uma vivência fortemente marcada pela guerra geradora de brutalidade e simultaneamente de forte amizade entre camaradas.

Esta obra varia entre a ficção e a realidade, somos transportados desde a vivência dos militantes do P.A.I.G.C. (Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde) até à acção e forma de viver dos soldados que compõem a companhia, uma Unidade do Exército Português, onde o autor esteve integrado, numa comissão de serviço militar na Guiné.
Nesta obra, o autor retrata a vida duma jovem guerreira que luta pela Independência do seu país, a Guiné.

É uma história interessante, pois relata a vida de Pami em várias fases, fazendo referência entre muitos outros aspectos, ao facto de Pami não ter sido sujeita à mutilação genital feminina, o que na comunidade guineense muçulmana à qual pertencia, era prática tradicional.
Conta a maneira como Pami se transformou numa guerrilheira do P.A.I.G.C. que para ela seguia a prossecução dos objectivos que ela também visava.

Alistada nas hostes da guerrilha, sofre um acidente que lhe incapacita um dos braços e acaba professora do P.A.I.G.C., devido à sua formação escolar, (quarta classe de alfabetização) e pelo facto de falar correctamente o português.
Muito do que sabe, aprendeu sozinha lendo e interpretando um dicionário que um padre lhe ofereceu.

É na escola que ela mentaliza e doutrina os futuros guerrilheiros.
Numa emboscada das N.T. (Nossas Tropas), à tabanca (povoação) Pami e outros guerrilheiros são feitos prisioneiros, são interrogados pelas N.T., uns são mortos outros são libertados, mas Pami, continua prisioneira das N.T. pois não conta a verdade sobre a sua condição, afirma que só responde em balanta, (dialecto da tribo com o mesmo nome, uma etnia muçulmana existentes na Guiné), fazendo-se ignorante a qualquer outra língua.

Pami fica retida no Interior do Aquartelamento, é vigiada e interrogada várias vezes, mas não confessa a sua condição de guerrilheira.
Quando é descoberta, pensa que o comandante das N.T., a vai matar da mesma forma que matou os seus companheiros de luta, mas contrariamente ao que aconteceu com os seus companheiros, foi libertada e deixada livre para seguir o seu caminho.

Não sendo a mutilação genital feminina o tema de maior relevo na história contada neste livro, despertou-me uma certa curiosidade e talvez pelo facto de ser mulher me tenha levado a pesquisar sobre o assunto.

O que li não é de forma alguma agradável, muito pelo contrário.

A mutilação genital feminina praticada em certas partes da África, na Península Arábica e em zonas da Ásia, tem uma origem de ordem cultural.

É rejeitada pela civilização ocidental, considerada um dos grandes horrores do continente africano que pensa que a forma de mudar esta mentalidade é educar as mulheres mais velhas que perpetuam este costume, bem como os homens mostrando os danos físicos e psicológicos causados nas meninas que têm de se sujeitar a esta prática.

Não fundamentada religiosamente, acredita-se que esta prática seja muçulmana e que a mutilação genital feminina está certa. Os pais, mais propriamente a mãe e a avó têm voto na matéria, eles acreditam que se a jovem não for "cortada" nunca irá arranjar um marido, isso é a pior coisa que pode acontecer a uma jovem. Se a jovem se sujeitar à MGF (Mutilação Genital Feminina) é uma condição prévia do casamento. Se uma mulher não for mutilada pensa-se que ela não é pura sendo vista como prostituta e excluída da sua própria sociedade.

Algumas razões apontadas para a realização da MGF são assegurar a castidade da mulher, a preservação da virgindade até ao casamento e a fertilidade da mulher. Por razões de higiene, estéticas ou de saúde, também se pensa que uma mulher não circuncidada não será capaz de dar à luz, ou que o contacto com o clítoris é fatal ao bebe.

A mutilação genital feminina elimina o prazer sexual. A sua prática está cercada de silêncios e é vivida em segredo, acarreta sérios riscos de saúde para a mulher, é muito dolorosa, por vezes de forma permanente, causa danos físicos e psicológicos irreversíveis sendo responsável pela morte de muitas meninas.

A remoção do órgão genital pode ser feito com instrumentos de corte impróprios (faca, caco de vidro ou navalha) não esterilizados e raramente com anestesia.

Um dos motivos para a continuidade deste ritual é a fonte de rendimento para os que a realizam. Mesmo para os médicos que a realizam em algumas clínicas, na tentativa de evitar que as meninas sofram os riscos e traumas resultantes de ablações anti-higiénicas e sem anestesia.

Normalmente é o pai que paga a “cirurgia”, para poder casar as filhas com homens que não aceitam mulheres não circuncidadas.

Têm-se promulgado leis para ilegalizar e criminalizar este costume. Embora muitos códigos penais não mencionem directamente os termos Circuncisão Feminina ou Mutilação Genital Feminina, é perfeitamente enquadrado como uma forma de "abuso grave de criança e de lesão corporal qualificada".

Vários organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), tem envidado esforços para desencorajar a prática da mutilação genital feminina. A ''Convenção sobre os Direitos da Criança'', assinada em Setembro de 1990, considera-a um acto de tortura e abuso sexual.

Em 2003 o Comité Inter-Africano de Práticas Tradicionais que Afectam Mulheres e Crianças, uma rede não-governamental, já levou à adopção de legislação contra as excisões em alguns países, iniciativa patrocinada pela ONU.


Reflexão:

Reconheço que em algumas situações devem ser mantidos os usos, costumes e tradições. Não se deve pôr em causa os valores nem as tradições dos povos. São símbolos de identidade, dentro ou fora do país. No entanto, considero que manter a tradição duma prática que causa um enorme sofrimento, é um atentado à saúde das mulheres e jovens, que as leva frequentemente à morte. É um desrespeito inaceitável pelos direitos humano.

Todos os países deviam adoptar uma legislação contra a mutilação genital.

Bibliografia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mutilação
http://www.acidi.gov.pt
Blogue de: Luís Graça & Camaradas da Guiné (marcadores: Mutilação Genital)

Filomena







Clicar nas imagens para as ampliar
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Nota de CV:

Vd. poste de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6242: O 6º aniversário do nosso blogue (28): O meu bem haja com o vozeirão maior que se possa conceber (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P6242: O 6º aniversário do nosso blogue (28): O meu bem haja com o vozeirão maior que se possa conceber (Manuel Maia)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), enviada hoje mesmo ao nosso Blogue:

Camaradas
Sendo impossível deixar de cair em lugares comuns quando se pretende expressar o nosso regozijo e especialmente agradecimento, ao comandante e seus "cabos d`ordens", limitar-me-ei a dar o meu bem haja com o vozeirão maior que se possa conceber .

Hoje é também dia de aniversário de um irmão meu e por isso mesmo tenho estado noutras guerras...

Se a capacidade criativa do Luís é por demais conhecida e merecedora dos maiores encómios, a quem saúdo daqui com um abraço forte de parabéns pela ideia e pela máquina tão bem oleada que gerou, os mosqueteiros de que se fez acompanhar, têm, eles também, uma enorme responsabilidade, nesta coisa fantástica de falarmos, tu cá tu lá, evidenciando um espírito de abertura extremamente saudável e sobretudo prenhe de amizade, pese embora o surgimento aqui ou ali de pequenos atritos motivados pela poeira que uma vez por outra se cola à engrenagem...

Esta vivência que já vai no sexto ano de existência, ( "malheureusement" só a descobri o ano passado...) será provavelmente, um "caso sério" a este nível, quer pela quantidade de "atabancados" quer ainda pelos posts e comentários em número verdadeiramente estrondoso...

Estou certo que cimentado que está, já só tem um caminho a seguir... crescer, crescer exponencialmente por forma a transformar as quatro centenas de "escribas" que somos em meio milhar já neste 2010, e ir por aí fora...

Amigo, avisa amigo, amigo traz outro amigo...

Parabéns, uma vez mais, ao Luís, e "sus muchachos", mas também a todos os que com as suas histórias vão enriquecendo e solidificando esta amizade que tem como base de sustentação, a vivência naquela terra que amamos mau grado os sacrificios lá passados...

Abraço a todos os tabanqueiros
Manuel Maia
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5798: Agenda cultural (57): Apresentação da História de Portugal Em Sextilhas, dia 26 de Fevereiro em Moreira da Maia (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6240: O 6º aniversário do nosso blogue (27): Parabéns

Guiné 63/74 - P6241: Tabanca Grande (215): Luís F. Camolas, Sold Mec Auto da CCS do BART 733 - Bissau/Farim -, 1964/66

1. No poste P6186 havíamos publicado um apelo do nosso Camarada Luis F. Camolas, Sold Mec Auto da CCS do BART 733 - Bissau/Farim, 1964/66, à procura de notícias dos seus Camaradas da Companhia.

Convidamos então o Camolas a aderir à tertúlia tabanquense, solicitando-lhe as fotos e o texto da praxe. Recebemos de imediato a sua resposta afirmativa, em 19 de Abril de 2010, e assim passamos apresentá-lo:




Camaradas,
Sou o Luís F. Camolas, fui Soldado Mecânico Auto da CCS do Batalhão de Artilharia 733 - Bissau/Farim, 1964/66.

Vivo em Setúbal, trabalhei como engenheiro nos EUA, 43 anos, e encontro-me actualmente na situação de reforma.

Terão de desculpar o meu Português, pois estive ausente muito tempo e esqueci muito o nosso vocabulário.
No entanto farei o possível para reaprender a comunicar na nossa língua, em especial com a boa causa, a de tentar reencontrar os amigos e camaradas dos tempos antigos, quando nas Forcas Armadas, particularmente os da Guiné.
Saudades, muitas!
Fiquei feliz de saber que existe esta organização, para assim poder reviver os momentos, bons e maus, com os amigos e camaradas, dos quais não mais soube mais nada deles.

Parti para a Guiné em 08OUT1964, com o posto militar mais baixo possível - soldado raso Nº 625, mas como dizia o nosso Comandante Glória Alves: "Um bom Soldado é o que tem castigos e louvores, etc."
Foi assim, não quis ter responsabilidades e fui sempre feliz como Soldado Raso.
A minha Companhia, a CCS, foi destacada para Farim, e sempre ficamos lá, até ao fim da comissão.
A minha especialidade era mecânico de manutenção de viaturas e do que fosse preciso.
Também tive algumas saídas nas colunas e outras rotinas habituais numa CCS.

Seria um grande prazer poder reencontrar alguns camaradas e muito amigos, dos quais somente lembro alguns nomes, como os 1º Cabos 689 - José Fernando Moço, 597 Fernando Rodrigues Duarte, 596 Aníbal Pereira Santos, 518 Carlos Araújo (Setúbal), Fur Mil Fernando Gonçalves Carvalho de Oliveira, José Jorge Macedo e… enfim uma lista imensa.

Estou deveras ansioso por participar no almoço do batalhão, dia 15 de Maio, juntamente com a minha esposa.

Vou encontrar alguns camaradas e já sei que vai ser super emocionante.

Já recebi por correio o convite enviado pelo António José, com quem vou entrar em contacto no próximo domingo.

Aproveito para repetir o meu apelo de desejo de encontrar Camaradas e Amigos da minha CCS, que podem contactar-me para:
Telemóvel: 912641039
Telefone: 265 404 143

Além das fotos que agora envio, tenho outras, que enviarei oportunamente.

Um abraco,
Luís Camolas
Sold Mec Auto da CCS do BART 733
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Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

19 de Abril de 2010 >
Guiné 63/74 - P6189: Tabanca Grande (214): Sílvio Fagundes de Abrantes, de alcunha o Hoss, CCP 121 / BCP 12, 1970

Guiné 63/74 - P6240: O 6º aniversário do nosso blogue (27): Parabéns

Neste poste vamos publicar algumas curtas mensagens enviadas por Camaradas nossos, a propósito do 6º Aniversário do blogue:

1. Mensagem do Carlos Coutinho:

Então 6 anos - Bué de mata-bicho!

6 anos é mesmo bué de mata-bicho.
De alguém das sanzalas p’rá malta das tabancas um grande MOIO, MUATAS.
Que o ZAMBI vos continue a dar saúde e inspiração para continuar até ao Zaire.
A votre santé.
CC

2. Mensagem do Mário Fitas:

Guião da CCAÇ 763

Que o 6º aniversário seja apenas uma etapa de uma longa caminhada desejada como o tamanho do Cumbijã!
Guião CCAÇ 763
"OS LASSAS" de CUFAR

3. Mensagem do Pedro Neves:

6º Aniversário da Tabanca Grande

Caros Editores da Tabanca Grande, Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e Magalhães Ribeiro;

Bom dia, Caros Camaradas e Amigos (Camarigos).

Passa um dia do aniversário do Blogue, mas mesmo assim (e vale mais tarde que nunca), gostaria de vos agradecer, as horas que me proporcionam, com a leitura dos postes e comentários aos mesmos, só possível graças à iniciativa do Luís Graça e "sus muchachos", (com a devida vénia) e sem esquecer o "mecenas" Humberto Reis, que deram origem a este fenómeno de adesão, desde o Soldado ao General (ao tempo, porque no Blogue não existem patentes) e que dá pelo nome de "blogueforanadaevaotres".

Em meu nome e estou convencido que dos restantes Tertulianos, os meus Parabéns pelo Aniversário do Blogue e que para o ano possamos todos, estar a festejar o 7º aniversário.

Com um GRANDE a todos e até ao dia 26-06-10, em Monte Real, sou:

Pedro Neves
Ex-Furriel Mil. Op. Especiais
C.Caç. 4745 - Águias de Binta
Guiné 73/74

4. Mensagem do Amílcar Ventura:
PARABÉNS,
Quero dar os parabéns ao blogue e em especial ao Luís Graça, por ter criado este ponto de encontro.
Claro que também apresento os meus parabéns aos Editores que nos aturam com os nossos e-mails.
Quero dizer que tenho pena de não ter descoberto este espaço de amizade mais cedo, pois permitiu que a minha vida desse uma volta de cento e oitenta graus.
Desde que entrei em contacto com o blogue:
- Fui obrigado a aprender a mexer num computador (foi fácil porque tenho um especialista em casa);
- E me apresentei à tabanca tenho feito grandes amigos e, engraçado, não conheço nenhum pessoalmente, a não ser alguns pelas fotos e por vários e-mails que tenho trocado todos os dias com eles.
Vejo nas suas palavras que são de grande sinceridade e pura amizade.
Quero aqui, pessoalmente, agradecer a todos eles.
Alguns houve em que a minha primeira avaliação foi negativa, talvez pela minha ajuda, em tempos, ao PAIGC e a diversos comentários proferidos por outros.
Logo percebi que as opiniões dos outros, mesmo não nos agradando, têm que ser respeitadas, para que as minhas o possam ser também.
Tudo passou e hoje nutro uma grande amizade por todos eles, pois trocamos e-mails quase todos os dias, alguns com pps que até servem para me levantar o moral quando estou em baixo.
E é tudo!
Mais uma vez quero agradecer ao Luís Graça pela criação deste blogue, e aos seus co-Editores.
Parabéns para todos vocês.
Um abraço do tamanho da Guiné para toda a Tabanca Grande!

5. Mensagem do Carlos Marques Santos:

6º Aniversário
Vinhal:
Não queria deixar de parte esta data de 23 de Abril, por isso através de ti, insuspeito amigo, um ABRAÇO para toda a TERTÚLIA.
Tenho andado às voltas com o convívio da minha CART.
Já falta menos de um mês!!!!!!!!!
Até breve,
CMSantos
Fá Mandinga/ Mansambo 68-69
CART 2339
6. Mensagem do Rogério Cardoso
6º ANIVERSÁRIO DA TABANCA GRANDE
Amigos,
Só há 5 meses conheci o blogue e que pena eu andar de cabeça no ar estes anos passados.
Não tenho desculpa, por ser dos mais velhos camaradas de armas, mas nunca é tarde para receber ou transmitir a amizade que nos une, mesmo sem haver conhecimento directo em alguns casos.
Estou feliz, neste curto espaço de tempo voltei à Guiné.
Obrigado Luis Graça, Carlos Vinhal e restante companhia, desejo muitos e muitos anos de vida para todos.
Rogério Cardoso
Fur Mil
CART 643 / BART 645 "Aguias Negras"
Mansoa, Bissorã, Mansabá
1964/1965
7. Mensagem José Nunes:

Comandante Graça,
A Engenharia apresenta os parabéns pelo Aniversário da Tabanca, e já sabem sempre disponíveis prás engenhocas e dar-vos luz onde e sempre que seja necessário.
Foi bom ter encontrado por acaso este espaço de fraterna e sã camaradagem,
Todos os dias por aqui dou as minhas voltas, lendo e relendo os textos dos camaradas operacionais que verteram sangue, suor e lágrimas pelas bolanhas e picadas da Guiné. Apesar de estar grande parte da Comissão em Bissau, no tempo em que fiz assistências ao mato, aprendi a respeitar e a ter admiração por aquela "malta". Eu tive mais sorte.
Grato para sempre.
Aos Camaradas Editores vai também o meu agradecimento.
José Nunes
1º Cabo Mec Elect Centrais do BENG 447
Brá-68/70

8. Mensagem do Torcato Mendonça:

Caros Editores e Camaradas,

Dizem-me ser o sexto aniversário do Blogue, Luís Graça e Camaradas da Guiné, e eu folgo com isso. Mas questiono-me o que é o blogue? Quem faz anos?
O blogue de sexto aniversário é o do Luís.
Então faz ele anos e mando-lhe um abraço e uns eteceteras; se o blogue é este espaço, espaço com quatro centenas de pessoas, milhares de escritos onde, porque fica gravado, vêm ler e saber de assuntos ou novas centenas de milhar de visitantes.
Ainda por este espaço ser global e as gentes, quer as que a ele pertencem quer as que o visitam, espalham-se mundo fora. Espaço de afectos, espaço de discussão plural, espaço de controvérsia ou só espaço de terapia colectiva de uns quantos.
Ou todos?
Penso que é isso tudo. Mais, penso ser um espaço a contribuir para o tratamento futuro da nossa memória colectiva. Da memória de outros Povos que connosco conviveram por séculos.
Os de bilege? Também porque só prova a necessidade de nos conhecermos melhor como Povo.
Trabalho para historiadores, não para cronistas do reino...

Mas então para quem são os parabéns? Eu escrevi uma ou outra vez, comentei aqui e acolá... e vou dar parabéns a mim? Eu, além disso só para aqui vim em Maio de 2006 e fiquei.

Penso que os parabéns são para o fundador, para os editores, para todos os que pertencem e se identificam e acreditam na validade deste projecto.

Mas, se me o permitem envio os meus PARABÉNS e os meus agradecimentos aos Editores pelo excelente trabalho. São muitas horas roubadas sabe-se lá a quê e a quem...

Meus Camaradas Amigos para vocês o meu bem haja e, através de vós felicito toda esta Tertúlia de homens e mulheres de cá, do nosso País, ou da Guiné e os da Diáspora mundo fora como é sina nossa... partilhando o Mundo... não dando novos... já lá estava...
Abraços
TM
9. Mensagem do José Martins:
Camaradas,
Não foi há 6 anos, porque ainda não conhecia o blogue.
Mas há cerca de 5 anos, descobri-o por acaso, e tratando do tema que me é mais caro da Guiné: o desastre do Cheche.
Nessa altura trabalhava já na história dos GATOS PRETOS, tentando fazer a catarse. Inflecti um pouco o rumo e aderi à tertúlia, hoje Tabanca Grande. Não me dei mal.
Criaram-se novos laços (é preciso criar laços - Saint Exupéry) e foi possível manter dois caminhos, concorrentes mas não incompatíveis: manter a busca sobre a companhia e aumentar os conhecimentos sobre a Guiné e, sobretudo partilhá-los.
Afinal, parece, que a prenda do aniversário foi para mim: já aconteceu o encontro dos Gatos Pretos e, como já referi noutro local, todos "miavam de saudades".
Foi uma festa bonita! A nossa, a da Tabanca, também vai ser bonita. Onde há amizade, há beleza.
Bem hajam aqueles que começaram e os outros que se lhe juntaram.
José Martins
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
23 de Abril de 2010 >
Guiné 63/74 - P6231: O 6º aniversário do nosso blogue (26): Parabéns Luís Graça por este Espaço de Memória Futura (Luís Faria)

Guiné 63/74 - P6239: Banco do Afecto contra a Solidão (8): Victor Tavares internado nos HUC, Coimbra, para uma delicada operação à coluna (Sílvio Abrantes / Paulo Santiago)

1.  Do nosso camarada Sílvio Fagundes de Abrantes (noutra, incarnação,o Hoss, Sold Enf Pára, CCP 121 / BCÇP 12, BA 12, Bissalanca, 1969/71), recebemos a seguinte mensagem (cujo teor também me foi confirmado pelo Paulo Santiago):


Data: 23 de Abril de 2010 20:29
Assunto: Vitor Tavares


Acabei de receber uma mensagem por telemóvel do nosso amigo Victor Tavares quer diz o seguinte:

Dei hoje entrada nos Hospitais da Universidade de Coimbra, serviço de neurocirurgia, para uma operação à coluna. Cama 32. Já estou a fazer os exames necessários. Se tudo correr bem vou ser operado na segunda-feira
dia 26.

Vamos todos torcer para que corra tudo bem ao nosso amigo Victor. Que Deus esteja contigo, amigo Victor neste momento tão difícil e que recuperes rapidamente.

Um abraço, Hoss

2. Comentário de L.G.:

Grande Victor: Fiquei triste por saber que estás a passar um mau bocado, nomeadamente na sequência dos teus problemas de coluna que muito provavelmente já vêm da Guiné...  Já pagaste a tua dívida à Pátria, é altura de, no Serviço Nacional de Saúde, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, te tratarem à altura, como cidadão e  grande português que foste e continuas a ser. Ficamos todos a torcer por ti. Acreditamos nas tuas rápidas melhoras. 410 Alfas Bravos para ti (com muito jeitinho, que é para não dar cabo do resto da tua pobre coluna). Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Guiné 63/74 – P6238: Efemérides (44): Dia do Combatente. Comemorações do 9 de Abril em Lagoa (Arménio Estorninho)

1. O nosso Camarada Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 15 de Abril de 2010:

Dia do Combatente
Comemorações do 9 de Abril em Lagoa
Camaradas,

Desta feita trata-se de vos dar notícias do Núcleo de Lagoa/Portimão, da Liga do Combatentes, que assinalou mais uma passagem do 9 de Abril.
As cerimónias foram levadas a efeito frente ao Memorial erigido à Memória dos Camaradas falecidos na Guerra do Ultramar e oriundos do Concelho de Lagoa.

Por conseguinte foi dada uma imagem, tanto quanto possível, das comemorações do dia do Combatente e concretizado pelo Núcleo de Lagoa/Portimão:

Lagoa > Algarve > 09ABR2010 > Memorial aos Combatentes falecidos na Guerra do Ultramar

A comemoração teve a presença das entidades Civis e Militares, a seguir indicadas:

- Em representação do Presidente da Câmara Municipal de Lagoa esteve o Vereador Senhor Jaime Botelho;

- O Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara, Dr. Joaquim José Cabrita;

- Capitão da GNR, (Aposentado) Domingos Garcia;

- Capitão da Força Aérea – TOCC, (Aposentado) Domingos Ramos;

- Capitão do Exército, (Aposentado) Paulo Neto.

Lagoa > Algarve > 09ABR2010 > As Entidades Oficiais nas Comemorações do dia do Combatente.

O Presidente do Núcleo, Cap. Paulo Neto, e perante a assistência dirigiu uma palestra dedicada ao combatente português.

Agradecendo e saudando a presença de todos, lembrando que a origem da data de 9 de Abril, refere-se a La Lys, na Flandres, a Norte de França e que houve a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial.

Lagoa > Algarve > 09ABR2010 > Chefe de Gabinete do Presidente da C.M. Lagoa, Dr. Joaquim José Cabrita, Vereador da AML, Senhor Francisco Ramos, Senhores Reis e Luís Tito, Soldados prisioneiros na Índia e Capitão da FA – TOCC Aposentado, Domingos Ramos.

Tendo o exército Alemão com oito divisões, pelas primeiras horas do dia efectuado forte bombardeamento centrado contra as N/T e bem como o lançamento de gases.

Que ao fim de cerca de seis horas lançaram vagas de assalto sobre as tropas aliadas, que não conseguiram resistir e num só dia levando as Tropas Portuguesas a mais de sete mil homens mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros.

Contudo salientou a história do Soldado “O Milhões,”quando apercebeu-se que estava sozinho nas trincheiras, porque os seus Camaradas tinham-se retirado para posições mais recuadas, descarregou por várias vezes a sua metralhadora e enfrentando heroicamente o inimigo.

Sendo a maior Batalha que os Portugueses tiveram envolvidos.

Lagoa > Algarve > 09ABR2010 > o Presidente do Núcleo e Palestrante, Capitão Aposentado, Paulo Neto. Da esq. ex – Fur. José Júlio Nascimento, da Cart. 2520, Xime e Quinhamel, ex- Fur. Silva Nunes, da C.cav 2539, São Domingos, Representante do Presidente da C.M.L, Porta-bandeira Sargento da GNR Deodato Pais (Combatente em Angola) e o Fuzileiro Jacinto Guerreiro (Combatente em Angola e Moçambique), Capitão da GNR Aposentado, Domingues Garcia e o último (não identificado).

Prosseguindo nos seus considerandos disse, que nós estamos na Liga dos Combatentes da Guerra do Ultramar de 61/74, e, aqui reunidos pela nossa memória colectiva, porque ao tempo defendemos o que era considerado nosso e cumprindo o que nos era exigido.

Lagoa > Algarve > 09ABR2010 > Luís Tito, Capitão Aposentado Domingos Ramos, eu tomando anotações, ex-Fur Silva Nunes e em zona posterior o Soldado Miguel Silva, da CCS do Bcaç 1894, Ingoré 69/71.


Pelo representante do Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, o Vereador Sr. Jaime Botelho e o Presidente do Núcleo, Capitão Paulo Neto, foram colocadas duas coroas de flores no Memorial aos Combatentes.

Por um grupo da Fanfarra do Bombeiros de Portimão foi tocado a sentido, deu-se um minuto de silêncio em memória dos mortos e seguiu-se o toque a finados.

Lagoa > Algarve > 09ABR2010 > Colocação de coroas de flores no Memorial, pelo Representante do Presidente da C.M. de Lagoa e do Presidente do Núcleo.

Lagoa > Algarve > 09ABR2010 > Placa do Memorial e com nomes de militares falecidos na Guerra do Ultramar.

Lagoa > Algarve > 09ABR2010 > Placa do Memorial, com indicação de nomes dos militares falecidos no Ultramar.


Seguiu-se a romagem ao cemitério de Lagoa, com colocação de flores nas campas dos militares falecidos na Guerra do Ultramar e que eram oriundos desta Paróquia.

Por conseguinte foi dada uma imagem de tanto quanto possível, das comemorações do dia do Combatente e levado a efeito pelo Núcleo de Lagoa/Portimão.

Com os melhores cumprimentos deste Maioral,
Arménio Estorninho
1º Cabo Mec Auto Rodas da CCAÇ 2381

Fotos: © Arménio Estorninho (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5768: Efemérides (43): 4 de Fevereiro de 1961, O princípio da Guerra Colonial (José Marques Ferreira)

Guiné 63/74 - P6237: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (18): Estados de alma, aerograma de 20 de Abril de 1971

1. Mensagem de José Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 15 de Abril de 2010:

Caro e amigo Carlos,
Junto encontrarás mais um pedacinho da minha história por terras da Guiné. Neste caso nem tive que rebuscar na memória; limitei-me a transcrever o aerograma que então mandei à minha madrinha de guerra.

Para este bate-estradas foi a sua última missão, e vai regressar ao baú das recordações de minha esposa.

Muita saúde para ti e para todos os nossos camaradas, com um abraço imenso do
José Câmara


Memórias e histórias minhas (18)

Estados de alma


Caros camaradas
Numa das trocas de correspondência que tive com o Carlos Vinhal, este ofereceu-me a possibilidade de abrir uma página para a correspondência que mantive com a minha madrinha de guerra. Declinei o convite, por me parecer que isso não traria nada de novo. Fui sempre muito comedido na minha correspondência, e nunca esqueci que me dirigia a uma jovem com apenas 16 anos de idade.

Estados de Alma é um exemplo do que escrevia e como escrevia. Caso raro, o aerograma que transcrevo é todo dedicado à Guiné. Para além disso, refiro um acontecimento da CCaç 3327 na Mata dos Madeiros. A primeira Missa que lá tivemos aconteceu no dia 17 de Abril de 1971. Para muitos de nós também era a primeira desde que deixáramos Santa Margarida em Janeiro desse ano. Para a religiosidade do soldado açoriano, e não só, esse acto de fé constituíu um dia de festa.


Aerograma de 20 de Abril de 1971

"Isabel,
Noite cálida e serena; convidativa ao devaneio do espírito e à conversa amena e sadia.

É, sem dúvida, uma excelente noite para escrever, e para me inteirar da tua saúde, o melhor dom que podemos ter, e que espero seja tua assídua companheira.

Isto por aqui vai óptimo, melhor mesmo do que aquilo que esperávamos. Para além do trabalho que é muito, diga-se de passagem, aqui sempre temos outra liberdade; claro que essa liberdade não é em todos os sentidos, mas estamos à vontade para comer, dormir, trabalhar e ainda temos tempo para pensar e sonhar. O que não há são notícias fresquinhas. E, sinceramente, é melhor não haver.

Nesta mata, vil e cruel assasssina, em que cada árvore pode esconder um turra e cada trilho mil e uma minas, quase tudo nos tem corrido da melhor forma. Não sabemos o que são as adversidades do tiroteio. Até já estamos admirados. Imploramos a Deus que possamos continuar admirados por muito tempo.




Por falar em Deus, não sei se algum dia te disse que os soldados da minha companhia tinham comprado uma imagem do Sagrado Coração de Maria... e, no último Sábado, tivemos a nossa primeira missa no mato.

Fizemos uma capelinha com folhas de palmeira; o altar, feito à pressa, era de caixas de cerveja. Os crentes vestiram a fatiota de gala: botas de lona, camuflado e espingarda às costas para o que desse e viesse.

Foi uma missa com um sabor especial... diferente... de muita fé, em todos os sentidos. Foi, por assim dizer, a inauguração da nossa Igreja... a Missa Nova do nosso muito amado Sagrado Coração de Maria

Foi um recordar de outros tempos, mas com a alegria própria de quem é jovem e sabe sê-lo.


Acampamento e localização da capela (seta amarela). Como nota a salientar, a cuidada vedação à volta da capela

E é tudo. Cumprimentos...".


A imagem do Sagrado Coração de Maria acompanhou sempre a CCaç 3327. Sem o poder confirmar, foi-me dito que a imagem está depositada na Igreja de São João Baptista, fazendo companhia a muitas outras imagens que acompanharam as companhias açorianas do BII17.

A majestosa Igreja de São João Baptista está ao centro do castelo que ostenta o mesmo nome, e que ao tempo era a sede do BII17, na cidade de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira.

José Câmara
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6127: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (17): Quem marca o destino é Deus