segunda-feira, 26 de março de 2012

Guiné 63/74 – P9665: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (18): A minha homenagem a Bacar, ao Bacar do Olossato

1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 19 de Março de 2012:

Caros Luís e Vinhal:
Com um grande abraço aqui vai mais uma página “arrancada” do meu caderno da memórias.

Bem hajam!
Rui Silva


Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

Das minhas memórias: “PÁGINAS NEGRAS COM SALPICOS COR-DE-ROSA”

Singela (e singela por ser feita por quem a faz) mas de sentimento profundo (julgo com a mesma dimensão em toda a gente da 816) homenagem a um homem africano e guineense que lutou com bravura inexcedível ao lado das NT: o Bacar, o Bacar do Olossato (1964/66).

Olossato (Olossato, Olossato, onde tudo é muito chato e a vida não dá prazer; Companhia, Companhia, quer de noite quer de dia há sempre muito que fazer…) - refrão da música e letra feita no Olossato pelo meu amigo, também Furriel da 816, Belchior.

O Bacar lutou ao lado (à frente, sempre à frente, como ele queria) das NT porque estava convicto que lutava do lado da verdade, do lado da razão, afinal como muitos nativos. Um “afrituguês”, portanto, como muitos, muitos mesmo.

- Uma opção terrível para todos os nativos, desde as inocentes crianças aos desamparados idosos: De que lado dos beligerantes ficar? Ficar num, significava ter os tiros pela frente, do outro -.

Diga-se de passagem e em abono da verdade que o Capitão Luís Riquito não punha homens nativos à frente da coluna, sempre alternados nativos com os brancos da metrópole. Não havia a mínima discriminação entre brancos e nativos.

O Bacar era dos poucos que tinha uma G3 e usava camuflado tal qual a tropa.

O Bacar, o grande e inesquecível Bacar, que um dia, inexplicavelmente, olhando à sua rara esperteza, é vítima duma cilada inimiga que o fez cair de uma forma infantil. Homens como o Bacar era do que nós precisávamos. Astuto, corajoso e destemido, conhecedor do mato como das suas próprias mãos, deslocava-se neste como um animal felino. Parecia que pelo cheiro ele pressentia o inimigo. O Bacar saía sempre com a tropa e, em muitas das vezes, também como guia, e sempre à frente como ele queria. Quando ele saía connosco parecia que levávamos outra alma. Era um talismã. Tinha já colaborado com a 566 (Companhia que nos antecedeu no Olossato) de maneira decisiva e era já nessa altura que tinha a promessa de vir para a metrópole com aquela Companhia, mas foi-lhe “pedido” para colaborar também com a 816, com a promessa do então Governador Schulz, de que viria finalmente para a metrópole acompanhando a Companhia 816 aquando do regresso desta.

Muito perguntava ele, animado do maior entusiasmo, sobre o que era a vida, os costumes, as estradas, o movimento, etc., daquilo que para ele era um lindo sonho: a Metrópole. Perguntava muito sobre Lisboa onde porventura ele ficaria. Falávamos-lhe dos automóveis, dos carros elétricos, do Tejo, do comboio que anda debaixo da terra, das coristas do Parque Mayer, dos arranha-céus, dos monumentos, etc. Tudo aquilo que há de grandioso e belo numa cidade como Lisboa. Os olhos dele, que naquela altura ainda viam, brilhavam e buliçavam ao ouvir as nossas histórias. O Bacar tinha duas mulheres, à boa maneira mandinga e que até se davam muito bem, para grande admiração nossa. Outras gentes, outros costumes. O mandinga que não bebe vinho nem come carne de porco. A criança mandinga seguia já religiosamente este preceito. Admirável!

O Bacar, o infortunado Bacar, viria sim, para a metrópole mas que nada veria nesta. Que destino tão cruel! Nada ia ver das muitas maravilhas que aquela lhe poderia proporcionar e das quais lhe íamos metendo na cabeça. Nada veria do que muito sonhou e imaginou. O que lhe aconteceu foi mais um motivo de pesar e de consternação em toda a malta. O Bacar veio para a metrópole afinal mais cedo do que julgava, mas… completamente cego e muito inferiorizado. O Bacar todo ele vida e espírito, dera lugar a um farrapo humano que ainda vivia.

Um célebre domingo, pela manhãzinha, quando ainda saboreávamos a cama depois de um sono retemperador, ouvimos um grande rebentamento próximo do quartel. Como sempre, muito do pessoal convergiu para o suposto lugar do estrondo. Quando também para lá nos dirigíamos, alguém que já de lá vinha disse comiserada e laconicamente: - Foi o Bacar. Mas, o quê, o que poderá ter acontecido ao Bacar?. Perguntas como esta, saíram logo das nossas bocas. O Bacar? Acontecer ao Bacar? Logo depois um Unimog deposita dois corpos à porta da Enfermaria. Um deles era o do Bacar, cheio de buracos por todo o corpo originados pelos estilhaços de uma granada (fornilho? bailarina?) armadilhada. Metade de uma perna dependurada, e o pobre do Bacar gemia, perante o olhar triste da malta que o rodeava. O outro também estava ferido, mas pouco.

Receámos logo por a perna do Bacar, mas o que nunca passou por a cabeça de alguém é de que ele viria a perder as duas vistas, como só mais tarde viemos a saber.

Pobre Bacar, tão astuto e corajoso como inteligente, tinha caído infantilmente numa armadilha quando com outro andava a colher mancarra ali a umas escassas centenas de metros do quartel junto ao trilho que nos levava ao Morés. Um cinto, feito de pele de caça, no meio do carreiro, como que perdido; um cinto de préstimo tentador e então o Bacar apanha-o e, ao fazê-lo, ao puxá-lo, accionou a armadilha. O estrondo entoou pelos ares indiciando uma detonação muito forte e potente e então o Bacar foi sacudido e arremessado de forma violenta. O efeito da detonação foi tão forte que pela deslocação do ar, ou por susto, o companheiro de safra do Bacar, que estava empoleirado numa palmeira junto à copa a colher xabéu, caiu desamparadamente no solo o que lhe causa fractura duma perna. Triste epílogo do Bacar na guerra e quiçá na vida. O Capitão Riquito era dos que menos escondia o seu pesar, pois o Bacar, além de um bom conselheiro do Capitão, era um grande e indefectível amigo de toda a Companhia, isto para não destacar as suas façanhas no mato e em combate. E assim o Bacar que tinha a promessa de vir para a metrópole com a 816, afinal viria mais cedo, mas jamais veria os automóveis, a multidão, os autocarros de 2 andares, os eléctricos, os reclames luminosos, o rio Tejo e os seus barcos e todo o mais com que lhe vínhamos enchendo a cabeça. Muito comoveu aquela cena de quando ele ainda estava na enfermaria, logo depois do acidente e onde os três enfermeiros, incansavelmente, lhes prestavam os socorros possíveis antes de ser evacuado para Bissau, ele pediu e apertou entre as suas mãos uma mão do Riquito, o Comandante da CCAÇ 816, dizendo:
- Assim estou melhor.

A malta, como sempre, teve uns largos minutos de tristeza e lamentação, mas a resignação era sempre o melhor e único remédio para as contrariedades e então novo estado de alma se levantaria. Era assim o segundo grande revés da Companhia. O que aconteceu afinal fazia parte do cenário da guerra e esta era o nosso quotidiano…

Assim era e assim teria de ser, e havia que reagir da melhor maneira possível, continuando a encarar a guerra com toda a força física e espiritual, que em face dos factos como o que eu acabo de relatar, paradoxalmente, nos dava mais forças e pundonor para prosseguirmos na tentativa de acabar, destroçar, tudo e todos que faziam ou fomentavam o terrorismo, concomitantemente defendendo a integridade daquilo que era nosso, que era de Portugal e dos… portugueses.

Bacar, onde quer que estejas terás sempre a maior consideração e admiração da 816 e certamente também da 566.

Um bonito recanto do rio Olossato, afluente do Cacheu e que passava perto da povoação e do lado da saída para Farim, que o Bacar seguramente conhecia e melhor que ninguém.

(foto extraída da net com a devida vénia ao seu legítimo autor)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9487: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (17): O Regresso (muita sorte!)

Guiné 63/74 - P9664: Notas de leitura (345): O Boletim Geral do Ultramar (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 23 de Fevereiro de 2012:

Queridos amigos,
Aqui vos deixo notícia dos últimos números do Boletim Geral do Ultramar, ao que parece desapareceu sem deixar herdeiro. A publicação congénere que se veio a impor foi a revista “Ultramar” que se apresentava como “Revista da comunidade portuguesa e da actualidade ultramarina internacional”, editada pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa, com mais conteúdo ideológico e sem aquela carga propagandística do Boletim, sempre pronto para reproduzir na integra os discursos oficiosos dos mais altos magistrados da Nação, prolífico na informação e sempre cuidadoso para não falar das atividades militares, já que não havia guerra, somente ações de policiamento.

Um abraço do
Mário


A guerra da Guiné no Boletim Geral do Ultramar (4)

Beja Santos

O Boletim Geral do Ultramar desapareceu da circulação em 1970. Nesse ano teve dois números, o primeiro correspondente praticamente ao semestre e o segundo apresentado como número especial e inteiramente dedicado à visita de Américo Thomaz a S. Tomé e Príncipe, que interrompeu por motivo do falecimento de Salazar. Temos, pois, para análise conteúdos referentes a 1968, 1969 e 1970.

No número de Maio de 1968 aparece no Boletim um artigo intitulado “Circuitos económicos exteriores do Ultramar, Guiné”, assinado por António F. Mendes Jorge. Há a reter, quando se compulsam as estatísticas das exportações entre 1961 e 1965 que neste período as exportações de amendoim, couros e peles caíram cerca de 50 %, duplicaram as exportações de bagaços e oleaginosas e as madeiras caíram para 21 % em 1965 comparativamente a 1961. No mesmo número do Boletim veio o discurso do ministro do Ultramar na posse do Brigadeiro Spínola, prosa breve e inócua. No número de julho/agosto continua a publicação do trabalho sobre os circuitos económicos exteriores do Ultramar. Ficamos a saber que a metrópole é o grande abastecedor do mercado guineense, contribui com 70 % dos totais importados pela província; houve grande subida das importações, passando de 292 mil contos, em 1961, para 570 mil em 1965, para o que contribuíram nomeadamente a insuficiência da produção local em arroz, registou-se um maior consumo de artigos de vestuário, óleos comestíveis e diversos bens alimentares. O saldo negativo da balança comercial teve um agravamento impressionante nesse período, mais do que quadruplicou.

No número de Agosto dá-se a saber que foi empossado o novo secretário-geral da Província, Tenente-Coronel Pedro Cardoso. O ministro do Ultramar recebeu os cabos da polícia administrativa de Bissorã Marcelino Malam Sanhá e Ansumane Biai, distinguidos com prémio Governador da Guiné. Ainda nesse mês recebeu o alferes de segunda linha Samba Canté, regedor (!) de Bedanda e o chefe de tabanca de Sinonte, em S. Domingos, também galardoados com o prémio Governador da Guiné.

Chegámos a 1969. Em 20 de Março, foi confirmado oficialmente em Lisboa que o Presidente do Conselho visitará a Guiné, Angola e Moçambique na segunda quinzena de abril. Marcello Caetano chega à Guiné em 14 de Abril. Na sessão do Conselho Legislativo, Caetano toma a palavra: “Data de 1935 o meu primeiro contato com a Guiné. E ficou-me dessa rápida visita uma imperecível recordação de beleza e da dignidade da gente (…) Nos primeiros tempos da minha gerência do Ministério do Ultramar pude ter o prazer de criar, em 1945, a Missão de Estudo e Combate da Doença do Sono, mais tarde transformada na utilíssima Missão de Combate às Endemias”. E dirá mais adiante: “As penas, as privações, os sofrimentos, os ferimentos e as mortes dos soldados portugueses não podem ser em vão. A terra adubada pelo sangue há de florescer. Da nossa vontade, da vontade de nós todos, portugueses de todas as etnias para quem a Guiné constitui parcela da Pátria, depende que o milagre se produza”.

No número de maio desse ano, fica-se a saber que Spínola veio em missão de serviço e regressou a Bissau em 30 de Maio e declarou: “Limitar-me-ei a reafirmar que continuo perfeitamente na linha de ação claramente definida pelo Sr. Presidente do Conselho e a informar que se encontram em curso medidas que permitiram acelerar a reconquista da paz e a ordem nas províncias”.

Estamos agora no derradeiro ano de publicação do Boletim. O ministro do Ultramar, Silva Cunha, efetuou uma visita de trabalho à Guiné entre 10 e 19 de Março. Assinou diplomas legislativos ministeriais, como são exemplo: elevação de Bula a concelho; atribuição de escudo de armas ao município da nova cidade de Bafatá. Ficamos a saber, ao longo da reportagem, que o ministro viajou sem parança. Depois das visitas da praxe em Bissau, embarcou para Bafatá, onde, de acordo com o repórter, foi recebido em delírio. Daqui tomou lugar num helicóptero que o levou a Sare Bacar e Cambaju. No dia seguinte, também de avião, seguia para Nova Lamego. À tarde, acompanhado de Spínola, percorreu de helicóptero e de automóvel, o interior do concelho do Gabu, tendo estado em Beli e Madina do Boé (recorde-se ao leitor menos atento que Madina do Boé fora abandonada em fevereiro de 1969 e Beli muito antes). No dia seguinte, visitou Guilege, Gadamael e Cacine, as ilhas de Melo e do Como, Cabedu e Catió. Aliás, no final da sua viagem dirá num agradecimento a uma manifestação popular: “Corri a Guiné desde Bissau ao Boé, desde a fronteira do Senegal até ao Sul, até às ilha de Melo e do Como. Por toda a parte encontrei a mesma fidelidade à Pátria”. À chegada a Lisboa, em 19 de Março, enfatiza na sua declaração esse mesmo aspeto: “Merece especial relevo o facto de me ter sido possível fazer longas deslocações por estrada, sem escolta militar, e de ter visitado todas as regiões da Província e as localidades mais afastadas, nas fronteiras com o Senegal e República da Guiné, demonstrando assim a falsidade da propaganda do adversário que pretende fazer crer que domina todo o território”.

Em 24 de setembro de 1970, Spínola antes de regressar à Guiné é entrevistado pela RTP e esclarece: “Caminhamos para a vitória final”.

E assim morreu a publicação da Agência-Geral do Ultramar. Importa registar que a temática ultramarina não ficou órfã, ao nível editorial. Existira nos anos 50 a Revista do Gabinete de Estudos Ultramarinos, que veio dar lugar à “Ultramar”, editada pelo Comissariado da Mocidade Portuguesa e que terá características culturais mais acentuadas comparativamente ao noticioso e propagandístico Boletim Geral do Ultramar.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9643: Notas de leitura (344): A descolonização da África Portuguesa, por Norrie MacQueen (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9663: Nós da memória (Torcato Mendonça) (16): Cultura e desporto em Mansambo Resort - Fotos falantes IVTorcato

Mansambo Resort





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 16
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

12 – Cultura e Desporto em “Mansambo Resort” 

Vivia-se bem em Mansambo e arredores.
Assim sendo os militares estavam felizes e contentes.
Viviam rodeados de arame marca Protector & Dentro e desgastavam o tempo numa futebolada, uma olhadela à TV, aqui na foto em reportagem, à Rádio do aquartelamento, qual PIFAS qual quê, ou outro divertimento qualquer.
É só ver as fotos, das placas indicativas das práticas de lazer, que atestavam isso e ajudavam quem nos visitava - Turismo Jovem – ou quem nos rendeu.

A rádio existiu mesmo e era bem ouvida nos abrigos. Não só e foi além destes. A “escuta militar” sintonizou-a e deu bronca. Tudo passou. Talvez questão de alvará… que nunca foi tirado. Acabou e foi silenciada.

Não há bem que sempre dure. Um dia deram-nos ordem de saída. Nem protestamos. As ordens cumprem-se e lá saímos como tínhamos entrado. Um grupo e depois mais outro para, finalmente, ficar só a secretaria e comando, para entrega de testemunho e o meu grupo para serenar algum IN atrevido.

A transmissão deu-se sem problemas e as benfeitorias, por nós deixadas, certamente foram bem aproveitadas pelos vindouros.

Basta ver as fotos.

Mansambo > Rádio e Televisão

Mansambo > Craques ou cromos da bola

Mansambo > Piscina ou poço de lama

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9640: Nós da memória (Torcato Mendonça) (15): Corpo di Bó? - Fotos falantes IV

domingo, 25 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9662: Guidaje, Maio de 1973: 2ª coluna a 4 companhias, a caminho de Guidage - 29/05/1973 (Amílcar Mendes/João Ogando)



1. O nosso Camarada Amílcar Mendes, que foi 1º Cabo Comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) - Brá, 1972/74 -, em colaboração com o Furriel Miliciano COMANDO João Ogando, enviaram algumas das suas memórias para publicação na revista MAMA SUME da delegação de Almada - Associação de Comandos, num interessante e esclarecedor artigo, que aqui reproduzimos com a sua autorização pessoal.



Introdução 

Em Maio de 1973, a 38ª CCmds estava sediada em Mansoa, na região central da Guiné, tendo a NW a região do Morés, e a SW, o Sara – Saruol. Na altura, devido à abertura de uma estrada entre Mansoa e Porto Gole (nas margens do Geba) a companhia fazia operações de reconhecimento ofensivo nas zonas por onde, no futuro, iria passar essa via, no sentido de impedir que quaisquer incidentes atrasassem os trabalhos. 

Em certo dia dos princípios de Maio, quando me encontrava numa destas missões fui informado, via rádio, pelo meu adjunto, na altura Alferes Agostinho B. Saraiva da Rocha, de que fora solicitado à companhia uma escolta entre Bissau e Farim, para transportar reabastecimentos para Guidage. Então já se começavam a sentir os problemas operacionais acima mencionados, mas ainda não se tinha realizado a missão a Cumbamori. 

Respondi-lhe que accionasse os meios no sentido do cumprimento da missão, apesar das limitações em material anteriormente referidas. Realizou-se a acção até Farim e, à chegada, o Alferes Rocha, foi confrontado com a ordem/pedido de integrar uma coluna para tentar chegar a Guidage, já que as anteriores tentativas de reabastecer aquela posição tinham falhado. 

Sobre esta missão, quem estará melhor habilitado para falar é o Coronel na Reserva Saraiva da Rocha. No entanto quero, desde já, salientar os seguintes factos: durante o trajecto foi accionado uma mina/armadilha que atingiu gravemente o 1.º Cabo “Comando” Filipe Tavares, sofrendo amputação da parte anterior de um dos pés e do indicador da mão direita. Este militar deu provas de uma inexcedível coragem, pois, por falta de evacuações aéreas e de cuidados médicos apropriados no local, os ferimentos gangrenaram. Nunca se deixou ir abaixo, chegando, inclusive, a animar outros feridos em estado relativo melhor que o dele. Dado o atraso no recebimento de socorros, o 1.º Cabo Tavares teve necessidade de sofrer corte da perna a nível do joelho e não apenas da parte do pé, como teria acontecido se tivesse sido evacuado atempadamente. Esteve nesta situação de espera durante vários dias até que foi evacuado para Bissau. 

No período de permanência em Guidage, o aquartelamento foi continuamente atacado pelos mais diversos meios. Os abrigos existentes eram insuficientes para os efectivos concentrados, havendo, ao longo do perímetro, uma trincheira que não devia chegar ao metro de altura e a um de largura. Numa dessas valas o Soldado “Comando” Raimundo foi atingido por estilhaços de morteiro, vindo a falecer. Como atrás referi, esta primeira escolta da 38ª  CCmds a Guidage, não poderá ser pormenorizada, pois não estive lá. 

No entanto o meu Adjunto, se for contactado, poderá esclarecer aspectos desta acção, nomeadamente das forças integradoras da coluna, quem a comandava etc. (3) Convém ressaltar que, ao contrário de escoltas/colunas anteriores, o reabastecimento chegou ao seu destino e não foi abandonado no campo de batalha. A companhia sofreu pelo menos um morto e um ferido grave e nada mais acrescento pois não possuo documentos que mo permitam fazer.

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Nota de MR:

(*) Vd. também sobre esta matéria o poste do mesmo autor em:

4 DE ABRIL DE 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)

Guiné 63/74 – P9661: Convívios (407): XIX Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 2912, dia 26 de Maio de 2012 no RI 14 de Viseu (Vasco Joaquim)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Joaquim (ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro 1970/72), com data de 20 de Março de 2012:

Caro amigo Carlos Vinhal,
a pedido de André Simões Rodrigues, pertencente ao BCaç 2912, me foi solicitado a informação que junto em anexo.

Como o mesmo não tem PC e eu pouco entendo também, recorro a ti, pedindo o favor, se achares bem, colocar no blog para que os interessados possam ter conhecimento deste convívio.

Bem hajas pelo interesse (e trabalho) que tens demonstrado pelo brio com que tens servido de uma valiosa ajuda no blog, pois sem ti e outros competentes, os antigos combatentes da Guiné estariam mais sós, já que a Pátria e quem a governa os esqueceu.

Grato pela tua disponibilidade
Um grande abraço do
Vasco Joaquim


XIX CONVÍVIO DA CCS/BCAÇ 2912, DIA 26 DE MAIO DE 2012 NO RI 14 DE VISEU

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Março de 2012 > Guiné 63/74 – P9656: Convívios (327): Encontro da CCAÇ 1801, no próximo dia 14 de Abril de 2012, Fátima (Carlos Sousa)

Guiné 63/74 - P9660: Álbum fotográfico de João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) (3): As comemorações, em Bissau, do 10 de junho de 1968


Foto nº 44/199


Fotro nº 40/199

Foto nº 44/199


 Foto nº 41/199 

Foto nº 43/199 

Foto nº 35/199 ("Cerimónia do dia 10 de Junho. O Governador e as altas entidades ao fundo e a população associando-se para assistir ao desfile").


Foto nº 46/199 ("Régulos, representando a generalidade dos guineenses e reafirmando o seu orgulho de serem portugueses.")

Foto nº 34/199 ("Portuguesas naturais da Guiné")

Foto nº 33/199 ("10 de Junho, dia de festa para todos os portugueses")


Foto nº 36/199 ("O Governador e as altas individualidades, incluindo régulos")


Foto nº 35/199 ("Homenagem ao 'Esforço da Raça', com o palácio do Governador ao fundo, num dia de comemorações do 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades")


Guiné > Bissau > Palácio do Governador > 10 de junho de 1968 > Comemorações oficiais, presididas já pelo nosso Governador, António de Spínola, que chegaria ao território da Guiné a 10 de Maio desse ano > Seleção de fotos do álbum do João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) .



Fotos e legendas: © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. (Fotos editadas por L.G.)


1. Primeira parte da mensagem que nos enviou o João Martins, com data de 11 do corrente

 Luís Graça


É com muito prazer que recordo o tempo que passei na Guiné; lá, encontrei a alma e a coragem dos nossos antepassados, e toda uma obra de colonização que, ao contrário do que muitos pensam, nos deve orgulhar. Portugueses, era-mos todos, incluindo Amílcar Cabral, e por ter afirmado isto, no Ministério da Defesa Nacional, um major que me interrogava informou-me que se mantivesse o que afirmava teria que me mandar prender.

Este e muitos outros factos descreverei, espero que brevemente, nas minhas memórias. Como qualquer narrativa, será subjectiva, mas, para não ferir susceptibilidades, procurarei transmitir o que os meus olhos viram. Até nos jogos de futebol e com os lances ao "ralanti", as leituras podem ser bem divergentes. Sei que é um risco que corro, mas será apenas mais um risco que espero não me venha trazer dissabores, já que, muito provavelmente, o que escreverei não será politicamente correto.

Como já o afirmastes, nós, os de Artilharia, tivemos uma experiência muito peculiar. De facto, comandei largas dezenas de africanos porque saltávamos de pelotão para pelotão; em Bissau, dei instrução a muitos africanos que depois distribuí pelos pelotões que se encontravam destacados. Tanto em Bissau como em Bedanda, cheguei a ser o oficial mais antigo que se encontrava presente, e portanto, acabei por comandar algumas centenas de africanos, numa relação de grande compreensão, camaradagem e amizade que não me cansarei de realçar.

Nos africanos, que lutavam por Portugal, encontrei o portuguesismo que não encontrei em muitos dos soldados idos da Metrópole, e o que me deixa mais triste, muito menos em muitos dos nossos políticos... E não estou a falar de política, estou a falar de economia e de finanças que são a minha formação, e de que fui professor no ISLA. (...).

2. O João José Alves Martins, ex-Alf Mil Art do BAC 1 (Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69), entrou para a Tabanca Grande em 12 de Fevereiro de 2012.

Na sua página, no Facebook, o João Martins tem um notável álbum fotográfico, com 199 imagens, obtidas a partir de diapositivos, relativas à sua comissão de serviço no TO da Guiné. Parecem estar ordenadas cronologicamente e uma boa parte delas estão legendadas. Para o 3º poste desta  série, selecionámos fotos das comemorações do 10 de junho de 1968 [, presumo ou deduzo] , o primeiro do brig António de Spínola, acabado de chegar à província.  
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de março de 2012  >  Guiné 63/74 - P9600: Álbum fotográfico de João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) (2): Ainda a viagem, de LDG, em setembro de 1968, de Bissau a Bambadinca, com o meu Pel Art a caminho de Piche

Guiné 63/74 - P9659: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (10): Alguns dados biográficos sobre o último CEM do CTIG, Coronel do Corpo do Estado Maior, Henrique Manuel Gonçalves VAZ (Luís Gonçalves Vaz)




1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 21 de Março de 2012: 


Alguns dados biográficos sobre o último CEM do CTIG, Coronel do Corpo do Estado Maior, Henrique Manuel Gonçalves VAZ 

Coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz, em 1972, quando desempenhava as funções de CEM (Chefe do Estado-Maior) da Região Militar do Porto. É visível o símbolo da Região Militar do PORTO, no seu braço esquerdo, a cruz azul no escudo branco. 
HABILITAÇÕES PROFISSIONAIS MILITARES 

- CURSO DE CAVALARIA DA ESCOLA DO EXÉRCITO ( 1944 / Com 14 VALORES). 

- CURSO GERAL DO ESTADO MAIOR ( 1955 ). 

- CURSO COMPLEMENTAR DO ESTADO MAIOR ( 1958/59 “Aprovado” no C. C. E.M./ O.E. nº15 - 2ªSérie de 1 de Setembro de 1960). 
  • Em 1959 termina o Curso Complementar do Estado Maior e é considerado “Idóneo”, pela Comissão Técnica do Serviço do Estado Maior, para o ingresso no Corpo do Estado Maior. 
Em 1958, o então Capitão Vaz, realizou um estágio na Alemanha, numa unidade Americana, no âmbito do Curso Complementar do Estado Maior (fotografia do capitão Henrique Gonçalves Vaz)
  • Ingressou no Quadro do Corpo do Estado Maior, por portaria de 8 de Janeiro de 1960. 
  • Em 1963 é nomeado para servir em comissão militar na Região Militar de Angola, embarcando em Lisboa em 20 de Novembro. Nesta província irá desempenhar, nos anos de 1963/64, as funções de Adjunto da 4ª Repartição e de Chefe da Secção de Planeamento e Controle da 4º Repartição do Q. G. da Região Militar de Angola. No ano de 1965 desempenhou as funções de Chefe da 1ª Repartição do Quartel General da Região Militar de Angola. 
  • Entre 1966 e 1972 desempenha no Q. G. do Porto as funções, primeiro de subchefe e nos últimos três anos a de Chefe do Estado Maior da Região 
  • Militar do Porto. Os serviços prestados no Q. G. do Porto foram largamente reconhecidos superiormente pelas altas entidades de então, nomeadamente o Comandante da Região Militar do Porto e pelo Ministro do Exército, traduzindo-se estes reconhecimentos em louvores ao Coronel Henrique Vaz pelas mesmas entidades 
  • Entre 1972 e 1973 Comanda o Regimento de Cavalaria Nº6, no Porto. Devido ao notável Comando desta unidade pelo Coronel Henrique Vaz, uma vez mais será Louvado pelo Comandante da Região Militar do Porto, “pela maneira altamente distinta e plena de dignidade como comandou o Regimento de Cavalaria Nº6 .... que revelaram um oficial distinto que valorizou a sua unidade e prestigiou a Região e as Instituições Militares ...”. 
  • Em 1973 é nomeado para servir novamente no Ultramar e embarca em Lisboa, em 7 de Julho, com destino desta vez para o C.T.I.G. (Comando territorial independente da Guiné), onde é colocado como Chefe do Estado Maior, e sob o comando do General Spínola, posteriormente do General Bethencourt Rodrigues. Esta missão, numa altura de grandes ofensivas do inimigo de então, o P.A.I.G.C., é levada até ao 25 de Abril, com alguns incidentes, sempre ultrapassados com muito “Mérito Profissional”, nomeadamente a “estadas forçadas” em aquartelamentos no teatro de operações, devido a ataques do inimigo (flagelações) a essas pequenas unidades militares na altura em que o Coronel Vaz as visitava como Chefe do Estado Maior, bem como a sobrevivência à explosão de uma bomba (22/02/1974) que colocaram no Q.G. (Quartel General), tendo-lhe causado apenas pequenas escoriações. 
  • A partir desta data (25 de Abril), e como militar que “aderiu ao MFA”, mas com grandes responsabilidades a nível de comando1, no Exército Português, neste teatro de operações, leva outra missão até ao seu términos, a de em colaboração com as restantes autoridades civis e militares, entregar paulatinamente, os territórios até então sob a administração portuguesa, ao P.A.I.G.C. . Também terá simultaneamente de acantonar e desmobilizar algumas das tropas portuguesas africanas e de implementar o regresso de milhares de soldados portugueses ao Continente. Só regressará a Lisboa no dia 14 de Outubro de 1974, cerca de seis meses após a Revolução de 25 de Abril. Esta missão só será terminada na Comissão Liquidatária em Lisboa., onde permanecerá até Dez. de 1976. 

1 - O Comodoro Almeida Brandão desempenhou as funções de comandante-chefe interino e o tenente-coronel Carlos Fabião as de delegado da Junta de Salvação Nacional e de representante do Governo Português na Província da Guiné. 

Algumas das suas condecorações: 
  • Condecorado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos Com Palma (OE. Nº18 2º série – 1965). 
  • Condecorado com a Medalha de Mérito Militar de 2ª Classe. (O. E. Nº 12 – 2ªSérie, de 15/6/1966). 
  • Agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (O. E. nº 20-2ª Série, de 15/11/1971). 
  • Concedido o uso da nova passadeira da Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas, com a legenda «GUINÉ 1973-1974», Por despacho de 20 de Dezembro de 1974 do Comandante Militar e por delegação do General Chefe do Estado Maior do Exército (OS. nº 47 de 26 de Dezembro de 1974 da Comissão Liquidatária dos Q. G. /C C F A G – C T I G). 

"Notícias sobre alguns militares a condecorar nas cerimónias do 10 de Junho de 1966, na cidade do Porto. Jornal Comércio do Porto, 4-6-1966" 

Alguns dos seus muitos Louvores: 

Em 1965, o Ministro Joaquim da Luz Cunha , Louvou este oficial (na altura Major do CEM, "...devendo os serviços prestados à Região Militar de Angola serem considerados extraordinários, relevantes e DISTINTOS..." - (Ordem do Exército nº18 2ª Série de 1965). Mais tarde, já na Metrópole, e devidos às funções desempenhadas na Região Militar do Porto, como Sub-chefe e como Chefe do Estado-Maior, foi novamente Louvado por outro Ministro do Exército, o ministro Horácio de Sá Viana Rebelo, pois segundo este, "...,evidenciou excelentes qualidades que o cotam como colaborador do Comando digno do maior apreço. Oficial muito Distinto, dotado de elevadas qualidades de trabalho ... este oficial cujos serviços muito honraram as Instituições Militares que com tanta dignidade vem servindo (Ordem do Exército nº80, de 5 de Abril de 1972). Além destes Louvores de Ministros, o coronel Henrique Gonçalves Vaz, foi Louvado por todos os Comandantes das Regiões Militares onde serviu, apenas no CTIG, na Guiné não o foi, talvez pelo facto do General Comandante Chefe e o Comandante do CTIG terem sido "Destituídos" dos seus cargos devido ao Golpe Militar do 25 de Abril, como tal, tenho dado visibilidade neste nosso Blog, a essa parte da sua carreira militar, para Honrar a sua Memória. 
Ø Faleceu em 26 de Agosto de 2001 na freguesia de S. José de S. Lázaro, Concelho de Braga, alguns dias após uma crise cardíaca ocorrida em sua casa de Levandeiras. 
Ø Foi sepultado no Cemitério de Barcelos com Honras Militares prestadas por um pelotão de cavalaria do Regimento de Cavalaria de Braga (R. C. Nº6), unidade que comandou entre 1972 e 1973. 

No rio Chiloango em Cabinda, 1964. Deslocação no TO na ZN em Angola .O Major Henrique Vaz , na altura Adjunto da Secção de Planeamento e controle da 4º Rep. no Q. G. da Região Militar de Angola, em Julho de 1964 

Major Henrique Vaz, preparado para mais uma, das muitas missões de reconhecimento, realizadas no noroeste de Angola. 

Major Henrique Vaz em visita ao aquartelamento do Esquadrão de Cavalaria 681, comandado pelo Capitão de Cavalaria, Carlos de Azeredo (na fotografia, ao lado direito do Major Vaz) 

BRAGA, 21 de Março de 2012 
Luís Gonçalves Vaz 
(Tabanqueiro 530) 
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Nota de MR: 

(*) Vd. também sobre esta matéria o poste do mesmo autor em: 


Guiné 63/74 - P9658: Agenda Cultural (190): A banda portuguesa Melech Mechaya em Lisboa, Cinema São Jorge, sábado, 31 de Março, 21h30... Convidada especial: Mísia...Ganda ronco! (João Graça)


1. Mensagem que nos chegou do nosso tabanqueiro João Graça, com data de hoje:



Assunto - Melech Mechaya, Lisboa, Cinema São Jorge, Sala Manoel Oliveira, 31 de Março, 21h30




Amigos e camaradas da Guiné, leitores do blogue da Tabanca Grande:

Depois de uma tournée pelo país, os Melech Mechaya regressam a Lisboa já no próximo dia 31 de Março, às 21h30, no Cinema São Jorge em Lisboa. E eu gostaria muito que alguns de vós, nomeadamente os da área da Grande Lisboa, pudessem partilhar connosco este espetáculo que vai ser, para utilizar um termo do vosso calão da guerra, um "ganda ronco"...


Esta banda portuguesa de música klezmer, a que eu pertenço,  irá apresentar o seu novo álbum "Aqui Em Baixo Tudo É Simples", que conta com as participações especiais do trompetista norte-americano Frank London, dos Klezmatics (vencedores de um Grammy em 2006), e da fadista portuguesa Mísia.


A cantora será ainda convidada especial para o concerto no Cinema São Jorge, onde irá interpretar "Gare No Oriente".

Os bilhetes (10 "roquetadas') estão à venda na Ticketline e locais habituais.


Um grande abraço para todos os amigos e camaradas da Guiné. Até breve!

João Graça, em nome dos Melech Mechaya


Contactos: +351 968 947 230 | +351 964 389 756

Sítio: http://www.melechmechaya.com/


2. Quem são os Melech Mechaya ?


(i) Melech Mechaya é uma banda portuguesa de música klezmer, sediada em Lisboa e Almada:

(ii) O klezmer é um género de música,  não-litúrgica,  judaica, festiva, desenvolvido a partir do século XV pelos asquenazes (judeus do leste europeu, que falavam o idish; os judeus da península ibérica eram os sefarditas, falavam o ladino);


(iii) São geralmente considerados como a primeira e mais proeminente banda do género em Portugal;


(iv) Atingiram alguma notoriedade devido aos seus festivos concertos e contagiante sonoridade Klezmer, inspirada ainda pelas músicas cigana, árabe e balcânica, bem como Fado e Tango;


(v) As suas actuações ao vivo são muito interactivas, e Rodrigo Nogueira da revista Time Out referiu-se a eles como "uma banda incrível ao vivo";


(vi) O grupo formou-se nos finais de 2006 com João Graça no violino, Miguel Veríssimo no clarinete, André Santos na guitarra, João Sovina no contra-baixo e Francisco Caiado na percussão;


(vii) Em 2008 lançaram o EP "Melech Mechaya" (ed autor);


(viii) Em 2009 foi lançado o seu disco de estreia "Budja Ba" (Ovação). Eelco Schilder, da revista FolkWorld, considerou-os "cinco músicos notáveis" e a sua abordagem ao Klezmer "muito diferente".


(ix) Em Outubro de 2011 lançaram o segundo álbum "Aqui Em Baixo Tudo É Simples", que conta com a participação de um dos mais prestigiados músicos de klezmer a nível mundial,  o trompetista norte-americano Frank London, dos Klezmaticsm bem como a fadista Mísia.

(x) Com produção da própria banda, o disco "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" inclui 6 temas tradicionais judaicos e 7 temas originais, cujas partituras serão disponibilizadas gratuitamente na página oficial do grupo;

(xi) O título do novo disco é inspirado pela peça "Ivanov", de Anton Tchekhov, cuja encenação em 2010 pela companhia de teatro A Truta teve a direcção musical dos Melech Mechaya;

(xii) Os Melech Mechaya andaram em digressão quase ininterrupta desde 2007, e tocaram em mais de 120 concertos em Portugal, Espanha e Croácia; os seus espectáculos, que João Bonifácio do Público classificou de "pura e simplesmente electrizantes", fizeram parte de importantes festivais de músicas do mundo, tais como ‘CCB Fora de Si’ em Lisboa, 'Festival De Músicas Do Mundo’ em Sines, 'Spancirfest' na Croácia ou 'Evoluciona Musica' em Espanha, e fizeram ainda a primeira parte do concerto de 'Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra' no Coliseu de Lisboa em 2010;

(xiii) Têm trabalhado frequentemente em teatro e cinema; a sua música aparece em bandas sonoras de inúmeras curtas-metragens, participaram e fizeram a direcção musical da peça de Antón Tchekhov "Ivanov", com a companhia de teatro A Truta, e foram ainda convidados da peça "Bennie Hall" pela companhia Esticalimógama.


Fonte: Sítio oficial da banda > Myspace > Melech Mechaya
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9644: Agenda Cultural (189): Apresentação do livro A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné: Gandembel / Ponte Balana, de Idálio Reis, dia 21 de Abril de 2012 no Palace Hotel de Monte Real (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P9657: Meu pai, meu velho, meu camarada (26): Porfírio Dias (1919-1988), ex-sold aux enf, Cabo Verde, São Vicente, Mindelo (de 18 de julho de 1941 a 7 de maio de 1944) (Luís Dias)


1. Mensagem, com data de 24 do corrente, do nosso camarada Luís Dias  [ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872,´Dulombi e Galomaro, 1971/74, ],


Caro Luís Graça




Em conformidade com o solicitado junto te envio um texto contendo diversas fotos do meu pai (as que encontrei) e que foi publicado no blogue da minha companhia, por ocasião do dia do pai de 2009.


Dispõe delas para publicação, se o entenderes, relacionado com os pais que estiveram em África, por ocasião da 2ª Guerra Mundial.


Um abraço.


Luís Dias

2. AO PORFÍRIO DIAS, QUE TAMBÉM FOI SOLDADO EM ÁFRICA
por Luís Dias


Em memória de Porfírio António Dias, natural dos Anjos, Lisboa, nascido em 30 de Julho de 1919, Conferente Marítimo Reformado, falecido em Lisboa a 8 de Março de 1988. Era casado com Venina Antunes Fernandes Dias, nascida em 1927, natural de S. João da Praça, Lisboa. (Viria a falecer em 12 de Outubro de 2011, com 84 anos).


Recebeu em Fevereiro de 1943, no Mindelo, Cabo Verde,  do Comandante de Batalhão,  o louvor militar seguinte: "Louvo pelo muito zelo com que tem desempenhado as suas funções no Posto de Socorros na Enfermaria do Batalhão, muitas vezes com o prejuízo da sua própria saúde, dando com a sua actividade, excelente exemplo de dedicação pelo serviço e pela saúde dos seus camaradas e manifestando-se assim um óptimo auxiliar do Senhor Oficial Médico". Foto nº 6 > Foto tirada em Cabo Verde, depois do incidente que o obrigou a usar óculos para sempre.

Fotos:  © Luís Dias (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



Foto nº 1 > Caderneta Militar do Porfírio Dias



Foto nº 2 > Porfírio Dias - Especialidade: Enfermagem... Ainda na metrópole (1940)

Foto nº 3 > Porfírio Dias em Cabo Verde, com a braçadeira de enfermagem e com pistola à cintura.

Foto nº 4 >    À porta da enfermaria, no Mindelo, na Ilha de S.Vicente, com outros camaradas enfermeiros e com o Alferes médico (o que não tem bata branca).



Foto nº 5 > Em Mindelo, com outros camaradas do batalhão (O sold aux enf, Porfírio Dias, está de bata branca)
Foto nº 6 > Tirada em Cabo Verde, depois do acidente que o obrigou a usar óculos para sempre

Fotos: (e legendas):  © Luís Dias (2009). Todos os direitos reservados

2. O Porfírio Dias, que também foi soldado em África
por Luís Dias


Querido pai,

Hoje é dia 19 de Março [ de 2009], dia de S. José, dia do pai. O teu neto telefonou-me de manhã a combinar almoçar comigo. O Daniel não se esqueceu aqui do “velho”, do “cota” como agora eles dizem. Vamos estar juntos. Também gostaria que pudesses estar aqui connosco, a vida levou-te há já alguns anos, mas continuas bem presente no nosso coração.

Mas neste dia queria lembrar que também tu foste mobilizado e enviado para Cabo Verde, no tempo da 2ª Guerra Mundial, que cumpriste também um dever que te foi imposto pelo teu/nosso país. Sei que a tua comissão não teve os riscos de combate, de guerra, como eu tive na Guiné, embora se falasse da possibilidade de um ataque alemão ou mesmo inglês, conforme o governo de Salazar se fosse inclinando para um lado ou para o outro, mas houve outros perigos: muita fome, doenças e as desgraças que assististe por força da tua especialidade.


Foste também vítima da habitual falta de material para cumprir com o necessário cuidado as tarefas de que eras incumbido, como Soldado Auxiliar-Enfermagem. E foi por teres utilizado umas luvas já deterioradas numa intervenção cirúrgica, em que apoiavas o médico, que depois ao tocares com os dedos num dos teus olhos, arranjaste o problema que te obrigou a usar óculos desde então.

Aqueles tempos de 18/7/941 a 7/5/44 (2 anos e 10 meses!!!!), em terras de Cabo Verde, não terão sido pera doce e lembro-me da história que tu contaste do submarino alemão que atracou e que,  depois de instado a sair de águas portuguesas, os alemães mantiveram-se calmamente no local e só se foram embora quando lhes apeteceu. Mas também das mornas que tu ficaste a adorar, como adoravas o fado. E a porrada que apanhaste e que está na tua caderneta, por estares no refeitório a atirar bolinhas de pão aos teus camaradas. É mesmo para rir…!!! Não havia mais nada para os teus superiores se entreterem? E um dos louvores por teres agarrado o cavalo do comandante que tinha tomado o freio nos dentes…. e que tu dizias que só o agarraste porque não sabias que o cavalo estava enlouquecido...porque se soubesses deixava-lo fugir! Ah!AhAh!

Lembro-me da alegria que tiveste quando fui promovido a Aspirante a Oficial Miliciano e,  se a mãe chorava, quase diariamente, como tu me contaste, quando eu estava na Guiné, ela também me contou das tuas lágrimas quando aos fins-de-semana me ajudavas a levar a mala até às camionetas, que me levavam a Mafra e depois a Abrantes de regresso ao quartel.

Sempre te fizeste de forte, mas eu sei o quanto também sofreste, enquanto eu por África andava. Imaginavas os horrores que devíamos estar a enfrentar, pensando no que tu também passaras.


Foste tu que me encaminhaste para a minha profissão quando me trouxeste o anúncio do concurso para investigadores da Polícia Judiciária, em 1975,  e ficaste todo orgulhoso de eu ter entrado. Deus não te deu o tempo de assistires enquanto eu fui progredindo na carreira e nomeado Director do Departamento de Armamento e Segurança, pelo Ministro da Justiça, 25 anos mais tarde.

O Daniel teve a sorte da liberdade conquistada pelo 25 de Abril lhe proporcionar ser o que ele quer. Sabes que ele tocou durante alguns anos, como guitarrista, numa banda rock – os Aside, que era, como tu te lembras, um dos meus sonhos. A banda fez 2 CD e diversos Tours por Portugal, pela Europa e pelo Canadá. Tocou no Festival de Vilar de Mouros, em 2005.

O socialismo que tu, a mãe e eu tanto apoiámos, é que já não mora aqui. Tem estado a morrer às mãos de uns tantos governantes tecnocratas que enfadam e corroem este nosso país.

A tua mulher (a minha mãe) tem sido sempre um apoio presente na minha vida e na do neto e pese embora a sua doença, as diversas passagens pelo hospital, continua a ter força para viver e conviver connosco. Como escreveu um camarada do meu batalhão num texto muito bonito sobre a mãe – para todas as mães – reconheço que algumas das rugas que ela tem, possam ter sido causadas por mim, pelo tempo que estive na guerra, mas olha que outras devem-se a ti, por teres partido tão cedo e sabes que tiveste alguma culpa nisso (maldito tabaquinho).

A nossa Lisboa continua linda e o Tejo, com o qual tanto conviveste, em virtude da tua profissão (Conferente Marítimo), está hoje mais perto da cidade, numa aliança muito importante para os lisboetas.

Preocupação tem-nos dado o nosso Benfica, que está um pouco longe do que era no teu tempo, mas eu e o Daniel mantemo-nos fiéis ao clube que, aos Domingos, indo contigo ao antigo Estádio da Luz, aprendi a amar. Sabes que o teu neto é Mestre em artes marciais (Taekwondo Do) e dá aulas, especialmente a miúdos, tendo começado também no SLB e já conseguiu alcançar alguns títulos com eles.

Pai, estou a invocar-te aqui no blogue da minha companhia, porque tu também foste um mobilizado para África. Um, entre os muitos milhares que a Pátria foi lançando para as terras bravas e quentes daquele Continente. Foste um soldado português, como nós fomos. O país, como aos combatentes da 1ª Grande Guerra, onde o meu avô também esteve, aos do teu tempo, aos da Índia e a nós combatentes da guerra colonial, nunca nos agradeceu, porque é ingrato ou, se calhar, também não mereceu tanta brava gente.

Um abraço saudoso de teu filho. Um dia, quando Deus quiser, iremos voltar a abraçar-nos.
Luís Dias

3. Comentário de L.G.:


Como o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande! Os nossos dois velhotes foram contemporâneos no Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde... Não sei se foram no mesmo navio, não devem ter ido... Nem deviam pertencer ao mesmo batalhão... O meu velhote chegou ao Mindelo a 23 de julho de 1941 e o teu cinco dias antes: 18 de julho... Era 1º cabo inf, nº 188/41 (1º Pelotão, 3º Companhia, 1º Batalhão, RI 5 - Caldas da Rainha)... Passou os últimos quatro meses, hospitalizado, no Lazareto, e regressou à metrópole em setembro de 1943... O teu ainda lá penou mais 7 meses! Vê, entretanto, se descobres, na caderneta, a que batalhão é que ele pertenceu...


Luís, parabéns pelo texto que escreveste e que eu não conhecia! É de uma grande ternura e cumplicidade!... Infelizmente, o teu velho já partiu mas as tuas memórias dele não se perderão. Temos um dever de memória em relação a esta geração, a dos nossos pais,  que também defendeu a pátria até aos confins do império... Um grande Alfa Bravo. LG


PS - Há mais expedicionários em Cabo Verde, durante a II Guerra Mundial: além do teu pai e do meu, o pai do Nelson Herbert, o pai do Hélder Sousa e ainda o pai do Augusto S. Santos (poste a publicar em breve).
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Nota do editor:


Último poste da série > 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9628: Meu pai, meu velho, meu camarada (25): Bo vida ta na balança... (Luís Graça)

Guiné 63/74 – P9656: Convívios (406): Encontro da CCAÇ 1801, no próximo dia 14 de Abril de 2012, Fátima (Carlos Sousa)



1. O nosso Camarada Carlos Sousa, ex-Alf Mil de Operações Especiais/RANGER da CCAÇ 1801 - Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69.

ALMOÇO/CONVÍVIO DOS VETERANOS DA CCAÇ 1801 

Camaradas,

Vau decorrer o Encontro (almoço/convívio) dos Veteranos da CCAÇ 1801 - Ingoré -, 1967-1969 no próximo dia 14 de Abril de 2012, com o seguinte programa:

10h00 – Concentração junto à casa do Manuel M. Oliveira (organizador), Travessa Santo António, 8, Fátima (a 50 m do Santuário).

11h00 – Missa pelas nossas intenções e em memória de colegas falecidos, na Igreja da Santíssima Trindade.

13h00 – Almoço no restaurante D. Nuno.

A confirmação deve ser feita até 10 de Abril para 249531588 ou 919519567 (Manuel M. Oliveira).

O preço é de 27 € e crianças 15 €.

De notar que este encontro é já prática de muitos anos (mais de 30), sempre no mesmo local! Alguns filhos de camaradas conheceram-se nestes encontros e casaram! Quer isto dizer que há camaradas que são avós do mesmo neto, o que faz com que sejam aquilo a que eu chamo "parentes inversos"!

Um abraço do camarada,
Carlos Sousa
Alf Mil OpEsp/RANGER da CCAÇ 1801
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: