quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10891: (Ex)citações (204): Alpoim Calvão e a Operação Nebulosa: revelações de Jorge Félix, ex-alf mil pil av heli AL III, e comentário de João Meneses, 2º ten fze, RN, DFE 21, 1972

1. Mensagem de Jorge Félix, ex-alf mil pil av, heli, AL III (Bissalanaca, BA12, 1968/70)


Data: 1 de Janeiro de 2013 23:34

Assunto: Alpoím Calvão


Caro Luís,

Grato pelos teus votos de ano novo, e parabéns pelas fotos :))

Estou perdido com as tecnologias pois algo não está bem com o meu PC.

Já respondi ao João Meneses, não conseguindo meter no nosso Blogue (*).

Envio por este meio para fazeres o que achares melhor.

Entretanto já meti no Facebook [,na página da Tabanca Grande,] não sei se bem :))) (**)


___________________

2. Resposta de Jorge Félix ao João Meneses:

Caro João Meneses


Desde já o meu muito obrigado por ter dado um "parecer" ao meu comentário, a uma passagem do livro
"Alpoim Calvão, Honra e Dever".

Neste meu comentário, deveria ter informado, que na Operação Nubelosa, o Senhor Comandante Alpoim Calvão, "e um pequeno grupo de fuzileiros", invadiram o território da Guiné-Conacri e afundaram  a motora 'Patrice Lumunba'. (Informação para quem não leu o livro e possa entender o meu reparo). [, Operação iniciada a 15 de agosto de 1969] (***)

Caro João Meneses, esta operação não foi ir ali ao "tarrafo dar dois tiros e chamar os helis"...Não sei se conhece a região em causa, Foz do rio Cacine (Ali perto, a umas milhas, o PAIGC tinha anti aéreas). Um sitio que se chamava "Quitafine" e,  uns tempos antes, onde também estive, os Paras tiveram que sair sem conseguir avançar no terreno. (Uma outra operação).

Quando falo em "romancear", pretendo dizer que o que está escrito, foi romanceado. Não corresponde à verdade.

Se por um lado , os Fuzileiros fazem uma operação "milimétrica", a FAP, num momento também importante da operação, atuava como relatam: "Os helicópteros andavam a sobrevoar toda a costa da foz do Cacine, não podendo supor que o seu objetivo se encontava naquele baixio tão distante." (linha nº 21, pg 184)

Só não conhecendo a região, pode falar em andarem Helis a sobrevoar "toda a região da foz do Cacine"....

Sim, um "segundo" é muito tempo, e caro João, o Senhor Comandante Alpoím Calvâo [, foto à direita, cortesia do sítio oficial do seu livro,], nesse dia, deve ter esperado 50 minutos desde que pediu a evaquação. (De Al III,mais rápido só com vento de cauda forte).

Faz-me duas perguntas para justificar o que escreveu: "Ademais, para além da sua específica missão, e se foram ouvidos outros  Hélis na zona, não estariam eles noutras missões, desconhecidas do próprio e de outros? Não seria uma realidade? Não seria  legítima uma interpretação empírica?"

Ja percebeu que naquela região os meios aéreos não podiam voar em altitude! Escutar um Heli em baixa altitude, não lhe dá um raio superior a 500 (quinhentos) metros.... as interpretações empíricas podem ser respeitadas por todos, ...

Atendendo a que isto não vai ao conhecimento do sr AG, e para repor a verdade aqui no nosso Blog, vou falar no "tal pormenor" que só poderá ser do conhecimento do Sr Com Alpoim Calvão, e dá credito aquilo que digo.

Ordens do Sr Gen Diogo Neto:  Vai "evacuar" um fuzileiro que torceu um pé. (Ultrapassemos o local). Vai sem mecânico e enfermeira. (Outro pequeno detalhe, as evacuações de heli, terminavam no Heliporto do Hospital Militar). No regresso, aterra no inicio da pista (não na placa, como também podia acontecer) onde, no dizer de Diogo Neto, eu estarei para transportar o "fuzileiro". Não comente esta "operação".... (Isto foi respeitado até este momento). 

Se um dia estiver com o Sr Com Alpoim Calvão, poderá perguntar a verdade desta "história". Não devem ter acontecido , ao Sr Com Alpoim Calvão , muitas evacuações no "meio do mar" e ter à sua espera no inicio da pista de Bissalanca  o Comandante Diogo Neto, que o transportou no Mercedes de vidros "foscos", aqui romanceio eu, para junto de Spínola onde foi contar a  operação.

Sem sentir que foi dada uma imagem negativa da FAP, senti que não foi dita a verdade que eu vivi.

Como aprendi neste "blog"a lutar por ela, vim novamente dar o testemunho da vivência que não deveria ter outra interpretação...

Com amizade e respeito

Jorge Félix

1 de Janeiro de 2013

Abraço e bom Ano Novo

Jorge Félix

Fotos acima reproduzidas, retiradas da página do Facebook do nosso camarada Jorge Félix. Com a devida vénia...

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10877: Notas de leitura (444): Um reparo à descrição da Operação Nebulosa inserta no livro "Alpoim Calvão - Honra e Dever" (Jorge Félix)

(...) Comentário de João Saldanha Meneses [, 2º ten fze, RN, DFE 21, 1972, nosso grã-tabanqueiro nº 591]

Caro Amigo Jorge Felix

Permita-me, com todo o respeito, discordar da sua última afirmação, cito: "Numa próxima edição, este facto romanceado, deveria ser alterado, a fim de dar uma outra imagem da FAP.  As esperas intermináveis dos helis, aconteciam quando não havia meios para 'acudir' a todos ao mesmo tempo."

Deixo-lhe um testemunho simples de que a FAP e o seu nome, NUNCA foram postos em causa, nem interpretei como tal no que está escrito no livro de "Alpoim Calvão". Nem é romance sequer. Ao dar-se a conhecer como o autor daquela operação, dou-lhe os meus cumprimentos. Falar da FAP em geral, já é outra coisa.

Devo a minha vida a evacuação feita pelos Helis, após ferimentos graves em combate.  Compreende aqui a minha gratidão particular e geral pelo que a FAP fez no teatro da Guiné ou qualquer outro.
Compreendo o autor ao dar a entender que demorou tempo a chegada do Heli, É que "UM SEGUNDO" de espera era uma eternidade. 

Todo o processo desde o pedido até este ser realizado, não é instantâneo e todos os que passaram por isso, o sabiam. Mas repito: É que "UM SEGUNDO" de espera era uma eternidade.

Sem responsabilizar a FAP, ou mesmo responsabilizando-a pelo bom comportamento, interpretei o autor, não como um romancista, mas como um tradutor EXACTO do que passa em tais circunstâncias. Ademais, para além da sua específica missão, e se foram ouvidos outros Hélis na zona, não estariam eles noutras missões, desconhecidas do próprio e de outros? Não seria uma realidade? Não seria legítima uma interpretação empírica?

Deixo um pergunta no ar: Alguma vez se colocou em causa ou se tentou criar uma imagem negativa da FAP? Bem pelo contrário, caro Jorge, Muito pelo contrário

Com toda a minha amizade e compreensão
Um Fuzileiro
João Meneses

(**) Último poste da série > 3 de deszembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10757: (Ex)citações (203): O "fado das comparações"... ou o humor sarcástico do Cancioneiro do Niassa(Luís Graça)

(***)  Vd. Fórum Armada, página não oficial da Marinha de Guerra Portuguesa (Excerto, reproduzido  com a devida vénia)

(...) A OPERAÇÃO MAR VERDE > Parte 2 – A decisão e a preparação 

Uma das preocupações de Spínola para enfraquecer o PAIGC era a de estancar o fluxo de abastecimentos, grande parte do qual era feito por via marítima e fluvial. Era importante negar ao PAIGC essa capacidade e para isso, em princípios de 1969, foi feito um vasto trabalho de recolha de informações sobre a frota de embarcações do PAIGC. No decorrer deste trabalho ficou-se a saber que o PAIGC tinha, para além de três pequenos navios e de um número indeterminado de canoas e botes a motor, de duas ou três lanchas rápidas do tipo P6, fornecidas pela União Soviética. Este país tinha igualmente fornecido à Guiné Conakry quatro lanchas rápidas do tipo Komar.

Integrado no quartel-general de Spínola estava o Corpo de Operações Especiais que, comandado pelo capitão-tenente Guilherme Alpoim Calvão (dos Fuzileiros) preparou e executou uma série de acções contra os meios navais do PAIGC. Estas consistiram em emboscadas fluviais montadas pelos Fuzileiros, em botes pneumáticos, que tomavam de assalto os navios do PAIGC. Foram assim capturados e destruídos dois navios, o Patrice Lumumba, da Guiné-Conakry mas ao serviço do PAIGC (Operação Nebulosa, em Agosto de 1969) e oBandim (Operação Gata Brava, em Fevereiro de 1970, em território da Guiné-Conakry), este último especialmente importante para o movimento guerrilheiro. Em resultado destas operações, a capacidade de abastecimento do PAIGC foi severamente afectada.

Mas as pequenas lanchas rápidas do PAIGC e da Guiné-Conakry constituíam um sério risco para os navios portugueses, sobretudo se usadas de noite ou tirando partido das condições hidrográficas da Guiné Portuguesa. As P6 eram um modelo soviético dos anos 50, armadas de torpedos e canhões ligeiros. (...).


Sobre a Op Nebulosa, vd. também o nosso poste de 21 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5139: Notas de leitura (30): Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, de Saturnino Monteiro (Beja Santos)

(...) Em 1969, Alpoim Calvão regressa à Guiné e insiste com o brigadeiro Spínola para que se retomassem as operações destinadas a capturar os navios que andavam ao serviço do PAIGC. Spínola acede à realização dessa operação. Alpoim Calvão planeou a operação “Nebulosa”, que se iniciou em 15 de Agosto de 1969: Calvão era acompanhado pelo segundo-tenente Rebordão de Brito, dois sargentos e dez fuzileiros especiais e levavam quatro botes de borracha. 

A 27, quando se aproximou um navio, mais tarde identificado como sendo o Patrice Lumumba, os botes de borracha saíram do esconderijo e foram ao seu encontro. Como tivesse havido reacção, a força comandada por Calvão atacou com granadas lacrimogéneas e tiros de G-3, a que se seguiu um breve combate corpo a corpo. A bordo encontravam-se 24 pessoas, entre as quais 3 elementos do PAIGC (um deles morto durante o assalto), que foram aprisionadas. O Patrice Lumumba, muito danificado, teve de ser abandonado. (...)

Guiné 63/74 - P10890: (In)citações (46): Em louvor das canoas nhomincas... e a propósito da notícia do trágico naufrágio de 28 /12/2012, ao largo de Bissau (Patrício Ribeiro)


Guiné-Bissau > Bolama > s/d > Cais > Uma canoa nhominca, para transporte de passageiros. A sua lotação máxima são 100 passageiros.

Foto: © Patrício Ribeiro (2009). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro [, foto á direita, quando fuzo em Angola](*):


Data: 31 de Dezembro de 2012 18:02

Assunto: Guiné-Bissau de luto nacional por causa de naufrágio de piroga  + Canoas Nhomincas


Luís

Não me apetece comentar [, a notícia do trágico naufrágio ocorrido em 28 de dezembro, ao largo dop porto de Bissau, com um canoa sobrelotada, que vinha de Bolama] (**), mas...

Já viajei nestas canoas nhomincas, algumas centenas de horas (, talvez até milhares),  para todas as Ilhas dos Bijagós.

Para Bolama, viajei muitas dezenas de vezes, em diversas embarcações. Quer nestas canoas, ou pequenos botes, algumas vezes durante a noite. Nos últimos tempos em barcos grandes, que até há pouco tempo faziam a carreira duas vezes por semana, e que agora estão avariados.

Algumas vezes nestas viagens tinha por companhia o Comandante Alpoim Calvão, meu comandante na Escola de Fuzileiros em 68/69, que lá tem, [em Bolama,]  uma fábrica de descasque de caju e dá emprego a mais de 200 pessoas.

Em 2012, viajámos juntos 2 vezes, 5 horas para cada lado. Os barcos tinham que passar por Bolama de Baixo, devido ao calado, não podiam passar pelo canal.

As canoas passam pelo canal de Bolama com a maré cheia, levam 2,5 horas em cada percurso. Nesta época do ano, há marão entre a Ilha das Areias até Bissau, o lugar pior é já perto de Bissau, as ondas são maiores e apanha também as correntes sempre muito fortes das marés, foi o que aconteceu infelizmente, com esta.

As coisas nem sempre correm bem, nesta época do ano entre Dezembro e Janeiro, devido aos ventos que provoca o marão, que são ondas de 1 até 2 metros.

É que devido a estas desgraças, há 3 ou 4 anos o governo decretou, que todas as embarcações tinham que ter: (i) um rádio de comunicação; e (ii) coletes salva vidas para todos os passageiros, e que (iii) cada embarcação só podia levar um determinado número de pessoas.

Já estive algumas horas à espera que a polícia marítima fizesse sair os últimos que entravam contra as ordens dos marinheiros da embarcação... É muito difícil... Ninguém quer sair... Toda a gente se conhece... São todos amigos... Não há respeito pelas autoridades... E a hora da maré não espera... É tudo contra relógio!

A maioria das vezes lá segue viagem com o dobro ou o triplo dos passareiros. Uma vez de Bubaque para Bissau, contei 200 pessoas numa canoa grande, trazia a mais, 100 pessoas, não foi nada fácil chegar ao destino…

Já passei por grandes problemas que davam para contar durante horas, mas como dizem os meus amigos... "chego sempre"... E eu acrescento: até agora, felizmente! Foi numa destas canoas "nhominca", que fiz a viagem para a fragata Vasco da Gama, acompanhado de outros portugueses [, em 1998]…

Por vezes quando todos entram em pânico, é necessário tomar algumas atitudes pouco "recomendáveis" e tomar conta da embarcação, que o digam os meus colaboradores, ou alguns nossos amigos, que brincam com o que às vezes tenho que fazer, para que tudo corra bem. "É necessário que cada um fique no seu lugar, não deixar que corram todos para o mesmo lado".

As canoas nhominca são as melhores embarcações e que se adaptam ao mar desta costa de África. O povo Nhominca foi quem as construiu há séculos, propositadamente para este mar!...

Já mandei construir algumas destas canoas, que depois entrego aos projectos, em pequenos estaleiros em Bissau, ou no grande estaleiro de Zinguichor, no Senegal. A maior concentração destas embarcações que já vi, foi em St. Louis, no norte do Senegal, umas largas centenas! Elas percorrem todo o mar costeiro, nesta costa de África, à pesca.

Boas festas

Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau ,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa
  www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 24 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10715: (In)citações (45): Carlos Guedes e Teco com livro sobre a CCAÇ 726, em preparação (Virgínio Briote)


(**) Excerto de notícia  da Lusa, publicada no JN - Jornal de Notícias, de 2 de janeiro de 2013:

(...) A polícia marítima da Guiné-Bissau confirmou, esta quarta-feira, que subiu para 29 o número de mortos no naufrágio de uma piroga em 28 de dezembro ao largo de Bissau.

Fonte da polícia marítima disse à agência Lusa que até terça-feira foram oficialmente contabilizados 29 mortos, depois de ter sido encontrado o corpo de um homem de 30 anos junto ao cais do porto comercial de Bissau.

O corpo foi levado para a morgue do hospital Simão Mendes, disse a fonte da polícia marítima, que confirmou que nos últimos dias têm sido encontrados corpos de náufragos "em lugares diferentes".

A mesma fonte confirmou também que a Policia Judiciaria (PJ) já tomou conta do caso estando neste momento a ouvir as pessoas diretamente envolvidas no acidente, nomeadamente o capitão do porto da ilha de Bolama, de onde partiu a piroga que naufragou, o dono da embarcação e a tripulação da mesma. (...)

No discurso à Nação por ocasião do fim do ano, o Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo exigiu que as pessoas responsáveis pelo naufrágio sejam encontradas e castigadas para que situações do género não voltem a acontecer no país.

Cinco dias após o naufrágio, a polícia marítima e a capitania dos portos de Bissau continuam sem saber quantas pessoas poderiam estar na piroga uma vez que os números de passageiros oficialmente transportados pela embarcação não coincide com aquele que tem sido referido pelos passageiros sobreviventes do naufrágio.

O delegado da polícia marítima de Bolama alega que a embarcação transportava 97 pessoas e os passageiros afirmam que seriam entre 150 a 200 pessoas. (...)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10889: O nosso blogue em números (32): 1 milhão e 250 mil visitas no ano de 2012 (Carlos Vinhal / Luís Graça)


Figura 1 -  Nº de postes publicados mensalmente durante o ano de 2012: total=1589; máximo=149 (Setembro); mínimo=97 (Agosto); média mensal= 132,4; média diária=4,3.


1. Mensagem do nosso coeditor Carlos Vinhal:

Caro Luís

Tu que gostas de números e estatísticas, aqui tens a situação de 2012 quanto a postes publicados entre 1/1 e 31/12/2012.


N.º de Postes publicados - 1589 (Figura 1).

Assim distribuídos (por editor) (Figura 2)



Figura 2 - Percentagem de postes publicados em 2012, pro editor (N=1589)

Carlos Vinhal (CV)= 914 (57,5%)
Melhor mês - Dezembro = 95
Pior mês - Agosto = 61

Luís Graça (LG)= 565 (35,6%)
Melhor mês - Novembro = 62
Pior mês - Janeiro = 32

Eduardo Magalhães Ribeiro (EMR)= 110 (6,9%)
Melhor mês - Maio = 22
Pior mês - Agosto = 0


Postes publicados por mês (Figura 1):

Média mensal de postes publicados = 132,4
Média semanal de postes publicados = 30,5
Média dia de postes publicados = 4,3
Mês em que se publicaram mais postes - Setembro = 149
Mês em que se publicaram menos postes - Agosto = 97

Abraço e votos de bom ano 2013 para ambos.

Carlos

2. Já agora acrescento mais alguns dados relativos ao ano transato (LG):

Convirá lembrar que só começámos a publicar estatísticas sobre o nosso blogue em novembro de 2009.

No fim do ano de 2012, contabilizávamos um total de 4407672 visualizações de páginas (visitas), ou seja, mais 1249272 do que em 31/12/2011. O nosso melhor mês foi o de março (com um total de 120 mil visitas) e o pior foi o julho (86 mil) (Figura 3).

Janeiro: 110 mil
Fevereiro: 100 mil
Março: 120 mil
Abril: 117 mil
Maio: 115 mil
Junho: 96 mil
Julho: 86 mil
Agosto: 91 mil
Setembro - 87 mil
Outubro - 115 mil
Novembro - 116 mil
Dezembro - 90 mil


Figura 3 - Nº de visualizações de páginas (oui visitas) em 2012, por mês (N=1250 mil). Média mensal=104 mil; média diária=3400.

Recorde-se que começámos a "blogar" em abril de 2004 (início da I Série, até maio de 2006) e o primeiro milhão de visitas só foi atingido em fevereiro de 2009. Os  2 milhões de visitas  foram atingidos em meados de setembro de 2010; os 3 milhões de visitas na 1ª quinzena de novembro de 2011; e os 4 milhões em setembro de 2012.

É de referir que a evolução deste indicador tem sido favorável, com um crescimento sustentado ao longo do tempo: partimos de uma escassas dezenas de milhares de visitas... em finais de Maio de 2006 (fim da I Série, e abertura do actual blogue), para atingir as 400 mil em Outubro de 2007, as 800 mil em Outubro de 2008, o milhão em Fevereiro de 2009, o 1,4 milhões em Dezembro de 2009 e os 1,7 milhões em  maio de 2010.

A média mensal de visitas em 2012 (c. 104 mil) é de longe superior à do período anterior (de julho de 2010 a maio de 2011), que não chegava aos 79 mil.

Por outro lado, chegámos a 31 de dezembro de 2012, com 595 membros registados na nossa Tabanca Grande, muito próximo dos 600 grã-tabanqueiros que apontámos como meta na nossa campanha de angariação de "periquitos", campanha essa que  decorreu no segundo semestre de 2012.

Recorde-se que começamos a II Série do blogue, em junho de 2006, com 111 inscritos... Eis a evolução das "entradas" na nossa Tabanca Grande desde então até ao final do ano de 2012 (Figura 4).

Dez-12 595
Mar-12 542
Out-11 511
Abr-11 500
Set-10 450
Mai-10 410
Dez-09 390
Mai-06 111




Figura 4 - Evolução do nº de membros da Tabanca Grande desde finais de maio de 2006 (n=111) a finais de dezembro de 2012 (n=595). Média anual= 62,5; média mensal: 5,2.


Temos além disso uma página no Facebook, chamada Tabanca Grande, com mil amigos (muitos dos quais combatentes da guerra colonial, mas nem todos membros do blogue, longe disso). Temos, além disso, 256 seguidores do nosso blogue...

Atingimos também, no fim do ano, a cifra dos 38 300 comentários, o que é obra!... Comparemos estes dados com os de ínicio do mês de novembro de 2011, em que acabávamos de ultrapassar os 9 mil postes e estávamos a chegar aos 3 milhões de visitas e a ultrapassar  os 27 100 comentários (desde maio de 2010). A média mensal dos últimos 14 meses (de novembro de 2011 a dezembro de 2012) é de 800 comentários (26,7 por dia).

Um abraço de amizade e camaradagem para todos os nossos editores (que são, além de mim, o Carlos Vinhal, o Eduardo Magalhães Ribeiro; o Virgínio Briote, por razões de saúde, deixar de estar ativo, sendo por isso um editor "jubilado"),  colaboradores permanentes (Hélder Sousa, Jorge Cabral, José Martins e Torcato Mendonça),, autores, comentadores e leitores.

Uma saudação especial a todos os "periquitos" de 2012 que passaram a honrar-nos com a sua presença sob o poilão da Tabanca Grande. Não esquecemos também os camaradas e amigos que nos deixaram neste ano que agora terminou:

Augusto Lenine Gonçalves Abreu (1933-2012)
Carlos Geraldes (1941-2012)
Francisco Parreira (1948-2012)
Luís Henriques (1920-2012)

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10327: O nosso blogue em números (31): Jorge Teixeira da CART 2412, o nosso visitante 4 milhões !!!

Guiné 63/74 - P10888: Parabéns a você (518): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10874: Parabéns a você (517): Luís F. Moreira, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2789 (Guiné, 1970/72)

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10887: Do Ninho D'Águia até África (40): O arame farpado (Tony Borié)

1. Quadragésimo episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177.


Do Ninho D'Águia até África (40)
 

 O tempo ia passando, as obras no aquartelamento tinham algum progresso, havia restos de tudo, e por todo o lado era a barafunda do costume, já havia alguns postes de cimento, colocados na parte sul, com uma certa distância uns dos outros, alinhados, e continuavam a abrir buracos no chão, derrubando algumas árvores, os veículos militares começavam a chegar com rolos de arame farpado, feios, cheios de espetos, intimidativos e arrogantes.


Estava a começar a colocação do arame farpado nessa área, a verdade estava a vir ao de cima, estavam a começar a demarcar fronteiras, para lá do arame farpado era terreno proibido, talvez dos guerrilheiros, portanto do inimigo, para cá do arame farpado, era terreno conquistado, portanto, era nosso.


Era esta a verdade que o Cifra compreendia, não porque tivesse tido escola superior ou alguém o tivesse instruído nesse sentido, mas era a natureza das coisas, que o fazia compreender, e também se recordava dos livros com histórias aos quadradinhos, que o Carlos, filho do Santos dos Correios, que tinha vindo dos lados de Leiria, trazia e lhe dava, a troco de uma conta de multiplicar ou dividir, em que o Cifra, nessa altura o To d’Agar, lhe resolvia, e onde vinham histórias do Oeste americano, nas quais os rancheiros no Arizona, no Texas ou em Montana, demarcavam fronteiras com o maldito arame farpado, e já nesse tempo andavam aos tiros para resolver as questões de fronteira.

Ora nós, os militares, estávamos a demarcar fronteiras, esta era a realidade das coisas, sem talvez nos apercebermos de que estávamos a dar todo o terreno ao inimigo e a isolarmo-nos numa área cercada de arame farpado.
O Cifra também compreendia que não era bem este tipo de protecção que precisávamos, mas porquê então este isolamento? E logo com arame farpado?
Era sinal de que não estávamos num cenário livre. Enfim, neste caso, o arame farpado até foi útil, talvez só pela sua presença e intimidação, deverá ter evitado muitos confrontos, portanto, salvou muitas vidas, tanto nos guerrilheiros, como nos militares, oxalá que sim.


O Cifra nunca se sentiu seguro dentro do arame farpado, se tinha medo continuou a tê-lo, tentava não pensar no perigo, tentava sobreviver, arranjando sempre algo que lhe mantivesse a mente ocupada, por isso fumava, também bebia e andava pela aldeia com casas cobertas de colmo que existia perto do aquartelamento, onde não havia arame farpado. Havia pessoas que, embora vivessem numa profunda miséria, gostavam dele, o acarinhavam, o abraçavam, entre outras coisas, e que eram suas amigas, e lhe acariciavam as mãos, dizendo “ca bai”, quando se despedia.

(Texto, ilustrações e fotos: © Tony Borié (2012). Direitos reservados)   
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10876: Do Ninho D'Águia até África (39): Passa por mim em Mansoa (Tony Borié)

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10886: Tabanca Grande (377): José Lino Padrão de Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José Lino Padrão de Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 1974, com data de 30 de Dezembro de 2012:

Boa tarde
Gostava de pertencer à tertúlia da Tabanca Grande.

Envio as minhas fotos, uma de 1973 e outra de 2012.

Sou o José Lino Padrão de Oliveira, ex-Furriel Miliciano Amanuense que esteve na Guiné de 12-07-1974 a 15-10-1974.

O nosso Batalhão era o 4612/74.
Fomos num dos Boeing 707-300 dos TAM (vendidos para a Força Aérea italiana em 1975) e regressámos no Uíge.

Na Guiné estive no Cumeré - Mansoa e Brá (Engenharia).
Fomos os últimos a sair da Guiné. Quando chegamos ao Uíge já lá estava o pessoal da Amura, Marinha e Força Aérea.

Envio hoje fotos do arrear da bandeira na Engenharia, o último suponho eu.
Em Mansoa também tirei fotos mas essa história fica para outro dia.

Nestas fotos da Engenharia, suponho que é o Magalhães Ribeiro que faz a última cerimónia.
Dali fomos directos para o navio e chegámos a Lisboa a 21-10-1974.

Um abraço
José Lino Oliveira


Guiné > Brá > Engenharia > Cerimónia do arrear da Bandeira Portuguesa


2. Comentário de CV:

Caro camarada José Lino,
Bem-vindo.

Muito obrigado por quereres fazer parte da família do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
És um dos últimos dos últimos, aqueles que tiveram a felicidade de fechar a porta da guerra e transferir a soberania da Guiné para aqueles que durante mais de 10 anos lutaram contra nós, contra o colonialismo português, como gostava de dizer Amílcar Cabral. O problema era que os Antónios, os Josés, os Silvas e os Costas que eram mobilizados para a guerra, não eram os colonialistas propriamente dito, mas os que morriam e ficavam estropiados nos campos de Batalha em nome de uma ideologia ultrapassada.

Se o vosso tempo de comissão foi curtíssimo, chegaram à Guiné, estava a guerra praticamente terminada, viveram mesmo assim tempos intensos, cheios de incerteza. Sabemos da desorganização política cá na metrópole e daquilo que vos chegaria aos ouvidos que muito contribuiria para o vosso desassosego. Vir o mais cedo possível seria o vosso anseio.

Espero(amos) que nos fales desses tempos, nos contes como os viveste e a impressão que tiveste da população de Bissau, que ao que se sabe, a determinada altura se tornou hostil para as Forças Armadas Portuguesas.

Recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia em geral e dos editores em particular.
Cá te esperamos.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10880: Tabanca Grande (376): Manuel Salada, Sargento-Ajudante da Marinha, na Reserva, ex-Cabo Manobra da LDM 304 (Guiné, 1966/68)

Guiné 63/74 - P10885: Em busca de ... (211): O ex-Alf Mil Médico João Calheiros Lobo, procura camaradas do HM 241 do ano de 1970

1. Mensagem de João Calheiros Lobo, médico pediatra, ex-Alf Mil Médico do HM 241 de Bissau (1970), com data de 23 de Dezembro de 2012:

João Calheiros Lobo, médico pediatra.
Na altura (1970) médico do pavilhão B, medicina interna.

Na fotografia em anexo a contar da esquerda. O primeiro e segundo não me recordo do nome, o terceiro sgt. Santos enfermeiros (de Leiria julgo eu), o quinto o cabo enfermeiro Inácio e o sexto o cabo enfermeiro Alves (julgo ser da proximidade de Esmoriz).

Gostaria de ser contactado e saber se encontram anualmente ou quando se encontram e sabem de reuniões de médicos do HM241 dessa altura. 

Cumprimentos,
João Calheiros Lobo
joao.calheiros.lobo@gmail.com


 HM 241 de Bissau, 1970 > Cabo Enf.º Inácio e Alf Mil Médico João Calheiros Lobo

HM 241 de Bissau, 1970 > (?), (?), Sarg. Enf.º Santos, Alf Mil Médico João Lobo, 1.º Cabo Enf.º Inácio e 1.º Cabo Enf.º Alves


2. Comentário de CV:

Caro camarada João Lobo, aqui fica o seu pedido de contacto com ex-camaradas/colegas do HM 241.
Esperamos que através do nosso Blogue os encontre e reviva bons, e menos bons, momentos daqueles tempos da nossa juventude.

Gostaríamos que fizesse parte desta enorme família, quase 600 membros, de ex-combatentes da Guiné, e quando dizemos ex-combatentes, partimos do princípio que cada um a seu modo, no seu local de intervenção, posto e função, travou a sua luta, logo foi combatente.

Se se quiser juntar a nós, por favor envie uma foto actual, diga-nos qual a data de ida e regresso da Guiné, locais onde exerceu a sua nobre função além do HM, se for o caso, e outros elementos que achar necessário fornecer para que o possamos conhecer melhor como camarada. Será bem recebido e juntar-se-á ao já razoável grupo de médicos e enfermeiros que fazem parte da nossa Tabanca Grande.

Em nome da tertúlia e editores, deixo-lhe um abraço e os melhores votos de um bom 2013.

Ao seu dispor
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10718: Em busca de ... (210): Ex-Tenente Esteves da CCS/BCAÇ 2834 que esteve em Buba, Aldeia Formosa e Gadamael nos anos de 1968/69 (Francisco Gomes)

Guiné 63/74 - P10884: Blogpoesia (313): Mensagem / massagem de fim de ano (Luís Graça)



Mundo > Velho Mundo > Portugal > Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > Uma Cedezeira... Não confundir com Cerdeira...


Vídeo (1' 11'): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados

O que dizer
Neste último dia do ano,
O 366º dia do ano, bissexto,
Que não tenha já sido dito, antes,

Ao longo dos últimos 365 dias ?

Ruído.
Muito ruído.
Vozes. 

Murmúrios.
Sussurros.
Silêncio.
Silêncios vários.
Ranger de dentes.
Choros.
Coros.
Bater de portas. 
E batentes.
E palmas.
Lamentações.
Muros.
Manifestações.
Protestos.
Vozearia.
Perjúrios.
Fuzilamentos.
Matraquear de metralhadoras.
Browning.
Zombaria.
O arco de triunfo do morteiro.
Oitenta e um.
Coaxar de rãs.
Uivar de lobos.
Latido de chacais.
Tsunamis.
Terramotos.
Vulcões.
O apito supersónico do sinaleiro.
O estertor da morte.
Eclipes.
Elipses.
Sinais. 
Marginais-secantes.
Estrelas candentes.
A estrela do norte.
Palavras, para quê ?
Paroles. Paroles.
Buzzwords. 
Rebentamentos.
Flagelações.
Espasmos.
Orgasmos.
(Res)sentimentos de um ocidental.
Exclamações. 

Incitações.
Excitações.
Interjeições.
Insinuações.
Aclamações.
Reclamações. 

Eura...ções.
Cura... ções.
Prov(oc)ações.
Rações vitais de combate.
Cruzes de guerra com palma.
Ruído de fundo.
Vozes celestiais.
Vozes do outro mundo.
Soluços. 
Gemidos,
Ais.
Vozes de burro que não chegam aos céus.
O esticar da corda do enforcado.
A dança dos quatro (pontos) cardeais.
O TGV que um dia há-de chegar ao Porto.
Cascatas.
Miragens.
Parábolas.
A sinfonia do novo mundo.
O RPG.
Sete.
Outra vez o silêncio.
De Deus.
Crenças e descrenças.
Gemido de recém-nascido. 
Mensagens. 
Massagens.
Adão. Eva
Dão-se alvíssaras a quem achar o paraíso (perdido).
Inalações.
Violações.
Passagem aérea para peões.
O silêncio dos órgãos. 
Sangrias e purgas.
O trabalho subterrâneo de mineiro do cancro
Minando o corpo.
As vozes que se apagam.
Que se abafam.
Que se calam.
O envelhecimento.
Afonia.
Apneia do sono.
A voz da classe operária.
Quem disse que ninguém a cala ? 

Slogans.
Palavras de ordem.
As procissões.
As promessas.
Os 1000agres.
A fé.
A esperança, que é sempre a última a morrer. 

A caridade.
A caridadezinha.
Os pecados.
Todos: os mortais e os veniais.
O dito e o não dito. 
Um alfa bravo.
O feito e o-por-fazer. 
Os subterfúgios.
O sobrescrito.
O silvo da serpente.
O irã-cego. 

O postal ilustrado de Bissau colonial.
A pitonisa.
A pitão.
A sibila.

O aerograma do SPM tal e tal.
As doces tentações da carne. 
A chula.
O forró.
A mortificação da carne.
A abstinência.
O jejum.
A fome.
A sede.
Os prazeres que se compram.
Os favores que se pagam.
A cor suja do vil metal.
O tilintar das trintas moedas.
A traição de Judas.
O perfume do capital.
O sangue, o suor e as lágrimas do trabalho.
A clépsidra.
A ampulheta.
A pedra de Roseta. 

O Senhor da Pedra.
Amizade.
Camaradagem.
Camarigagem.

Desculpem-me
Se omiti.
Se esqueci. 

Se branqueei.
Se embelezei. 

Se inventei
Ou até se falsifiquei
Qualquer coisinha.

Em nome da liberdade poética.

O ano de 2012 ?

Foi isto. 
Tudo isto.
O de 2013
Não será diferente.
A menos que mudes de planeta.
Ou escrevas a última mensagem do ano
A tinta preta.


Luís Graça

Porto, Rua da Alegria, 30 de dezembro de 2012


PS1 - Um beijinho com muita ternura para a Laura Fonseca que me emprestou a secretária e a janela do seu andar na rua da Alegria. E a cuja tese de doutoramento fui buscar três palavras-chave: vozes, silêncios, ruídos [Fonseca, Laura (2006). Vozes, silêncios e ruídos na educação escolar das raparigas.Tese de Doutoramento. FPCEUP, Porto, Portugal].

PS2 - Um Alfa Bravo muito especial para o meu camarada Jorge Félix, devoto do Senhor da Pedra.











Vila Nova de Gaia > Gulpilhares > Praia do Senhor da Pedra > 30 de dezembro de 2012 > Imagens (prometidas ao Jorge Féliz e demais grã-tabanqueiros) da capela do Senhor da Pedra (construída em finais do séc. XVII) e da casa da respetiva confraraia que há  quase meio século também organiza o 1º banho do ano, à meia noite do dia 31 de dezembro...

Fotos: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10883: Blogpoesia (312): Escolhas (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P10883: Blogpoesia (312): Escolhas (Juvenal Amado)

Bajuda da Guiné - Pintura de Juvenal Amado (2011)
© Reprodução proibida


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 29 de Dezembro de 2012:

Luís, Carlos, Virgínio, Magalhães e restantes camaradas da Tabanca Grande, desejo a todos um bom ano de 2013.

Um grande abraço
Juvenal Amado


ESCOLHAS 

Marchei a compasso 
Na minha cabeça um, dois 
Esquerdo, direito 
Tão certo como o destino 
Lixado e mal pago 
Aceitei-o sem revolta útil 
Arrependimentos não trazem sossego 
Talvez insónias 
Há minha volta vi meninos de barriga grande 
Mulheres amputadas com o peito cansado de amamentar 
A terra pintada de vermelho com lágrimas de sangue 
Na sua indescritível beleza 
Percorri caminhos já percorridos 
Em piso seco ou escorregadio 
Nunca consegui evitar as curvas da vida 
Às tantas na Primavera 
Substitui o odor tropical 
Adormeci inebriado com cheiro a cravo 
Durante o sonho tive pesadelos 
Desencantos mórbidos 
Riso e escárnio de dentes podres 
Vagueei curvado entre escombros 
Sou espetro do que poderia ter sido 
Recebo a chuva gelada no rosto 
Marco passo na própria insatisfação 
Insuportável o fel que me sobe das entranhas 
Que me deixa branco nos cantos da boca 
Não me cansei de olhar o passado 
Acabei a tropeçar no Futuro adiado 
Mais uma vez encolho os ombros 
É a puta da vida mais curta que comprida 
É a que temos e é só uma 
Haverá sonhos que resistam aos pesadelos? 

Juvenal Amado
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10860: Blogpoesia (311): Natal, Bambadinca, 24/25 de dezembro de 1969 (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10882: Notas de leitura (445): "Diário da Guerra Colonial - Guiné 1966-1968", por Luís de Matos (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Outubro de 2012:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo a uma viagem à volta do diário de Luís de Matos, que pertenceu à CCAÇ 1590, uma unidade que andou pela intervenção sobretudo na região norte, Ingoré, Suzana, S. Domingos, Sedengal, daí as inúmeras referências aos patrulhamentos, batidas e operações junto da fronteira.
São apontamentos a olhar o humano, a registar as lágrimas de partidas, trata-se de um combatente que se sente com a obrigação de abraçar todos os cometimentos da sua companhia, e daí o cuidado pelo registo das operações, os usos e costumes e o peso da solidão.

Foi graças ao nosso confrade Carlos Pedreño Ferreira que tive acesso a esta peça tão estimável de alguém que não se sentiu predestinado para escrever para a história mas para juntar os feitos de todos os seus camaradas.

Um abraço do
Mário


Diário da guerra colonial, por Luís de Matos (2)

Beja Santos

Luís de Matos vai finalmente de férias, em Março de 1967. Quando regressar, incluirá nas suas notas o que se passou na sua ausência: emboscada do seu pelotão entre S. Domingos e Sonco, em 10 de Abril; houve levantamento de rancho em S. Domingos, as refeições iriam melhorar um pouco. Chega de férias em 3 de Maio e tira uma fotografia com o Furriel Ratinho, natural de Cunheira, concelho de Alter do Chão, Segundo Sargento Ramalho, natural de Montoito, ele, natural de Terena, conselho de Alandroal, e o Furriel Zorro, natural de Santo André, concelho de Estremoz. E escreve: “Trouxe comigo na bagagem uns paios caseiros alentejanos, para entregar ao Florimundo Garcia, que a tia Bernarda me pediu para levar ao seu futuro genro”. Em 7 de Maio, S. Domingos “embrulha”. Em 10 de Maio parte para uma batida, não houve contacto. Aqui e acolá há sinais do IN, assaltos a tabancas, minas anticarro, emboscadas. Em 10 de Junho escreve que há uma base guerrilheira que dá pelo nome de S. Domingos, localizada a cerca de 2 quilómetros da fronteira com o Senegal. Parte uma operação para tentar localizar e destruir tal base. Fala em mortes do IN, mas não ficaremos a saber se a base foi destruída. Em 20 de Junho, regista o insólito: “O Mário Silva é do 3º Pelotão que está em Susana. Disse-me que o seu pelotão com mais de 50 Felupes, foi fazer uma operação junto à fronteira do Senegal. O meu grupo de combate ficou instalado do lado de cá, mas os Felupes, armados com espingardas Mauser e catanas, não sei onde foram nem por onde andaram, o que sei é que passado pouco tempo apareceram carregados de frigoríficos, máquinas de costura e algumas cabeças espetadas em paus. Só podem ter ido a uma qualquer aldeia do Senegal, ali mesmo junto à fronteira”. Em 25 de Junho, participa na operação destinada a destruir a base de Campada, junto à fronteira do Senegal. Descreve minuciosamente a progressão. A um quilómetro de Barraca Poilão, o IN embosca mas a reação foi de tal ordem que se pôs em fuga. Encontraram casas de mato há muito tempo abandonadas. Continua a progressão até Cutene Pesse, aqui descobrem 17 casas, mas o IN desaparecera. O IN, sempre que pode, molesta as tabancas da região. Os sobressaltos na região de Susana são constantes. Quando chegam as nossas tropas, as tabancas dão sinais de abandono, é preciso ir buscar as populações ao mato.

Estamos em Julho, o pelotão de Luís de Matos parte para o “paraíso”, de Sedengal. Mais uma vez ele descreve o ambiente. Lançam-se ao trabalho, cortam palmeiras, refazem os abrigos. E escreve: “No Sedengal, praticamente assumi os trabalhos de remodelação do sistema defensivo como se fosse coisa minha. Nós temos de ter um bom sistema de abrigos. A par deste trabalho, também construímos pequenas pontes, pois basta colocar vários troncos de palmeira ao lado uns dos outros, são pequenas melhorias mais favoráveis no dia-a-dia das populações". Percorre a tabanca, vai atento, pretende saber a maneira como eles se sentam, os utensílios que utilizam para cozinhar, como comem e o quê, etc. Visitam as tabancas das redondezas, ele sente-se feliz pelo facto de a sua companhia ter assentado arraiais. Anda a ler obras de Leon Uris e de Jean Lartéguy. Começa-se a fazer uma horta junto à bolanha. Chegou entretanto uma máquina de calcular FACIT, a contabilidade foi revolucionada. Vê-se que há gosto registar as pequenas coisas: "o 1º cabo atirador António Sousa foi promovido a cozinheiro; ao alferes e aos furriéis servem-nos de vez em quando uns bifinhos de gazela como nunca tínhamos comido, acompanhados com puré de batata e salada; os soldados no norte continuam a meter vinho tinto na sopa". E descreve o Sedengal: "é um pequeno aquartelamento, feito à base de abrigos construídos com troncos de palmeira, reforçados com bidões cheios de terra, tudo está vedado com troncos de palmeira e valas. Pelo norte, existe a tabanca com cerca de uma centena de habitantes". Chove torrencialmente e escreve no diário a 29 de Julho: “As chuvadas têm a sua beleza. O cheiro da terra, chilrear da passarada, de que não sei o nome da maior parte deles, a verdura da mata e das ervas são muito diferentes daquelas da metrópole que estou habituado a ver no meu Alentejo”. No Ingoré, não param os patrulhamentos, o IN está cada vez mais destemido, intensifica-se, do lado das nossas forças armadas, a montagem de emboscadas. Continua bem informado do que se passa no Ingoré. Um sargento do quadro explicou ao vagomestre Zorro as vigarices que são possíveis para desviar géneros: "desvio de vinhos, de latas de salsichas, azeite, de volumes de tabaco, sacas de arroz". E filosofa: “Como em todas as guerras, há sempre gente pronta a tirar proveito para si, à custa da desgraça alheia".

Em Agosto realiza-se a operação “Desmamar”, vão duas companhias, um pelotão de milícias e um pelotão de caçadores nativos, progride-se de Ingoré a Canchungo, procurar uma base do IN, nada foi encontrado. Nesse mês, Luís de Matos não ganhou para o susto, houve um grande rebentamento, foi projetado, recompôs-se depressa. Nunca larga o filão das operações em que outros pelotões da sua companhia são envolvidos, fala na ação psicossocial a tabancas como Antotinha, Blanzar e Gunal, os comandantes dos grupos de combate levam folhas de tabaco para oferecer aos homens, o enfermeiro distribui medicamentos e trata os ferimentos. E não esquece datas: “Faz hoje precisamente um ano que na estrada entre Bissorã e Barro, durante uma emboscada de que fui alvo, morreu o condutor Matos, não há vez nenhuma que veja as fotografias das viaturas acidentadas, que não as imagine todas as fumegar, e veja ali o pobre do soldado Matos, cortado ao meio”.

No Sedengal, ele parece o cronista da companhia, para o melhor e para o pior. Viera para o Senegal o alferes Tavares de Almeida, e três furriéis, ele, o Ratinho e o Valeiras. Em Novembro, o Valeiras fazia serviço de sargento de dia e o alferes participou ao capitão que o Valeiras não agira oportunamente numa ameaça de levantamento de rancho. Sucederam-se as punições, o Valeiras foi transferido para o Pel Caç Nat 58, passou 25 meses na Guiné. E dá o seu ponto de vista sobre a situação do Valeiras: “Veio da Casa Pia, onde aprendeu vários ofícios. Não é propriamente um operacional, visto que a sua especialidade é de armas pesadas. É um moço calmo e descontraído, não faz mal a uma mosca. Logo havia de apanhar pela frente um alferes que não lhe perdoou aquela pequena falha. Que diabo, estamos todos no mesmo barco. E quem é que não comete erros?”.

Em finais de Novembro, o seu pelotão regressão ao Ingoré, o leitor volta a ter descrições detalhadas das flagelações a Ingoré e mesmo ao Ingorezinho. Sempre dado aos pormenores, desenha aspetos pitorescos, a começar pelos soldados do seu pelotão. Alguns exemplos: “O Gomes é um moço que mais parece um gigante. Com o seu metro e noventa e cento e vinte quilos de peso, tem força que nem um leão. Paciente e calmo, encara toda esta vida com um sorriso estampado no rosto. Gosta de beber o seu copo e quanto mais melhor. O Soeiro é bom rapaz, franzino, anda sempre com um sorriso miudinho como que a querer espantar o medo por onde quer que ande, ou a querer ser simpático para toda a gente. Parece-me que mal pode com a G3”. Em finais de Abril, partem do Ingoré para Bissau. E escreve a 10 de Maio: “É sexta-feira. Embarquei de regresso à metrópole, a bordo do paquete Niassa. Abraços e mais abraços”.

E assim termina um relato singelo e sincero, tudo adubado com fotografias, a lista da CCAÇ 1590, a lembrança dos que já partiram, o hino de “As Gazelas”, da autoria do 1º Cabo Escriturário José Manuel Pereira Ciblote, as ementas a bordo, tudo minudências de quem quer homenagear toda a CCAÇ 1590.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10872: Notas de leitura (443): "Diário da Guerra Colonial - Guiné 1966-1968", por Luís de Matos (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10877: Notas de leitura (444): Um reparo à descrição da Operação Nebulosa inserta no livro "Alpoim Calvão - Honra e Dever" (Jorge Félix)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10881: O nosso livro de visitas (154): Joaquim Nunes Sequeira, ex-combatente da Guiné

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Nunes Sequeira, ex-combatente da Guiné, com data de 26 de Dezembro de 2012:

Boa tarde Luís,
Sou o camarada Sintra da Guiné. Gostava de fazer parte do blogue, em breve envio uma história com fotos e mais conversas da Guiné.
Ando a praticar no PC!
Segue em anexo uma grande recordação do Natal de 1965.

Obrigado e um abraço do Sintra para todos os Camarigos,
Joaquim Nunes Sequeira
o “Sintra” da Guiné.






2. Comentário de CV:

Caro camarada  Joaquim Sequeira,
Bem-vindo à nossa Tabanca Grande.

Estou a responder-te em nome do nosso Editor Luís Graça.
Para seres devidamente apresentado à tertúlia, precisamos de saber o teu antigo posto militar (foste Cabo?), Especialidade, Unidade (Companhia e Batatalhão), datas de ida e regresso da Guiné e locais onde cumpriste a tua comissão. Podes ainda fornecer outros elementos que achares convenientes.

Manda também as tuas fotos da praxe para os nossos arquivos e encimarem os teus postes.
Quando mandares fotografias para publicar, manda em anexo as respectivas legendas, que devem indicar, pelo menos: data, local e fotografados.
No caso da foto que mandaste hoje, suponho que és o porta-estandarte do Núcleo de Sintra da Liga dos Combatentes. Estou certo? Como vês, aqui a legenda fazia jeito.

Fico à espera dos elementos em falta para seres apresentado definitivamente.

Faço votos para que a tua adaptação à informática decorra com normalidade. Em pouco tempo estarás um apto até porque isto nem é muito complicado, só parece.
Para qualquer esclarecimento, podes contactar-me para o meu endereço.

Recebe um abraço em nome da tertúlia e dos editores, e os votos de um excelente 2013.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10728: O nosso livro de visitas (153): Mário Oliveira, bravo marinheiro da Armada, cabo CM reformado, que esteve na Guiné, em 1961/63, ainda antes do início oficial da guerra, a bordo do NRP Sal, navio patrulha da classe Príncipe

Guiné 63/74 - P10880: Tabanca Grande (376): Manuel Salada, Sargento-Ajudante da Marinha, na Reserva, ex-Cabo Manobra da LDM 304 (Guiné, 1966/68)

1. Mensagem do nosso amigo Rui Silva, filho do nosso camarada e novo tertuliano Manuel Salada, Sargento-Ajudante da Marinha de Guerra na Reserva, que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné, nos anos de 1966 a 1968, como Cabo Manobra na LDM 304:

Boa tarde
Estou a escrever-vos por interposta pessoa.
O meu pai esteve na Guine em 67 e 68 tendo sido patrão da LDM 304 que patrulhava a zona do Rio Grande de Buba e Tombali (peço desculpa não sei se os nomes se escrevem assim estive agora ao telefone com ele a pedir estes dados, pois só agora descobri este blog). Era Cabo Manobra e conhecido por Salada (Manuel).

Frequentou o Curso de Sargentos, tendo passado à reserva como Sargento-Ajudante.

Além da comissão efectuada na Guiné esteve em mais 2 comissões, uma em Luanda que terminou aquando do 25 de abril de 74, tendo ainda efectuado uma outra a bordo de um navio hidrográfico, sendo que nesta, o objectivo era cartografar as espécies de peixes existentes em diversas zonas das então nossas colónias.

Como já está com 80 anos, computadores e afins nem lhes chega perto mas irei escrever uma ou várias das inúmeras historias dele para vos enviar. Não escrevo agora nenhuma para evitar algum erro ou incorrecção pois estaria a contar a história na 3.ª pessoa.

Quanto a foto actual envio já com a promessa de em breve enviar a antiga juntamente com algumas histórias.

Atentamente
Rui Silva


A LDM 302 navegando no Cacheu, junto ao tarrafo da margem. 
Legenda;
A – Poço (resguardado com chapa balística);  B – Peça Oerlinkon; C – Tarrafo; D – Casa do leme; E – Bote de borracha; F – Porta de abater; G – WC. Foto da Revista da Armada, reproduzida com a devida vénia. 

Foto: © Manuel Lema Santos (2008). Todos os direitos reservados.

Rio Grande de Buba - Recorte da Carta da Província da Guiné


2. Comentário de CV:

Caro amigo Rui Silva,
Muito obrigado por trazer até à nossa Tabanca Grande o senhor seu pai, o nosso camarada Manuel Salada, mais um militar da nossa briosa Marinha de Guerra, que vai ocupar um lugar muito especial pois é o elemento menos jovem nesta família de ex-combatentes.

Uma vez que se propõe a ser o interlocutor de seu pai junto no nosso Blogue, esperamos que consiga dele algumas histórias vividas nos rios da Guiné, assim como fotos que ele terá no seu espólio de recordações.
Não se preocupe se acontecer vir um ou outro nome de rio ou localidade escrito com erro, porque cá estamos nós para proceder à devida correcção. Nós que somos mais novos, tantas vezes nos enganamos, que fará que já atingiu a bonita idade dos oitenta e esteve naquele Teatro de Operações vai para 45 anos.

Feita esta singela apresentação, resta-nos enviar ao nosso camarada Manuel Salada um abraço de boas-vindas em nome dos editores e de toda a tertúlia deste Blogue.

Votos de um 2013 com saúde para toda a família.

Ao seu dispor
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10843: Tabanca Grande (375): José da Luz Rosário, ex-Fur Mil do Pel Canh S/R 2298 (Cabuca e Buruntuma, 1971/72)

Guiné 63/74 - P10879: O meu Natal no mato (40): O Presépio da CCAÇ 2444 em 1968 em Bissorã (João Rebola)

1. Mensagem do nosso camarada João Rebola* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), com data de 29 de Dezembro de 2012:

Olá Luís Graça / Carlos Vinhal
Envio-vos estas fotos que foram tiradas na Outra Banda, em Bissorã, para serem publicadas na Tabanca Grande.

Foi o segundo Natal passado longe da família de sangue, mas com uma outra família: os meus soldados.

A saudade dos seus entes queridos, o odor da sua terra, a distância do pátrio-lar, tudo isto aliado à grande religiosidade, bem característica do povo açoriano, motivaram um pedido:  
- Furriel, faça-nos um presépio com o menino Jesus, com a Nossa Senhora, com os Reis Magos, etc, etc.

E onde é que iria encontrar aqueles personagens?
Ora, em Bissorã, havia um estabelecimento de um simpático libanês, o Alfredo Kalil, onde nada faltava. Seria lá que poderia encontrar aqueles objectos?
Já não me lembro o que comprei para pôr no presépio. Mas que tinha figuras adequadas a este, lá isso tinha!!

E assim, aconteceu Natal, na outra Banda.

A continuação de Boas Festas e um 2013 com "manga "de saúde para todos os ex-combatentes e seus familiares.
João Rebola


Nesta foto, da esquerda para a direita: Madeira, João Rebola, Pimentel e Gualter

Nesta foto: Os Fur Mil  Manuel Sá e João Rebola
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10821: Tabanca Grande (373): João Manuel Pereira Rebola, ex-Fur Mil da CCAÇ 2444 (Guiné, 1968/70)

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9246: O meu Natal no mato (39): Mejo, 1- Guileje, 0 (José Brás)

Guiné 63/74 - P10878: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (20): 21.º episódio: Memórias avulsas (2): Uma banhoca em Bissorã

1. Mensagem do nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422/BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), com data de 29 de Dezembro de 2012:

Caros amigos editores
Aí vai mais um pedaço de lembranças. Se acharem que não se encaixa, rasguem.

Abraços para vocês amigos e Bom 2013, cheio de felicidades e saúde para nós todos e também para os nossos familiares.
Veríssimo Ferreira


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA (21)

GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS (2)

UMA BANHOCA EM BISSORÃ

Não passam sem mim? Bora lá...
Acompanhámos um pelotão dos ali residentes, ainda e também com fatiota amarela, e quase no fim da comissão.

A operação foi tremenda e ainda não percebi como findou sem que ninguém se aleijasse, pois que até no paintball acontecem acidentes. Isto do "pintarcombólinhas" é um jogo com que e também alguns matulões brincam à guerras, morrem e matam de mentira, atiram bolinhas de várias cores como o próprio nome dá a entender, assim do género: agora borro-te de verde e depois borras-me tu de vermelho. (cruzes canhoto... t'arrenego... digo eu).

"pintarcombólinhas", ou brincar às guerras

 Fiquei pensando quantos destes aperaltados com camuflado passado a ferro, não se tornariam objectores de consciência se lhes pusesse uma verdadeira canhota na mão, em vez daquela bem imitada e em plástico espingardinha de "sniper" ou quantos não desertariam se colocados perante a dolorosa realidade duma mobilização.

A dois, expus este meu pensamento e no fim fingi-me de convencido, (pois que se me acabou a pachorra para os aturar), que afinal eles é que sabem. Explicaram-me que fazem guerras no playstation e ganham e que o tempo aqui passado, nestes terrenos que deveriam ser apenas para a reprodução das lebres, lhes desenvolve o raciocínio, a coragem, a tenacidade... a resistência.

Na Guiné - A guerra a doer
Foto de © Amílcar Ventura (2006)

E lá me pus eu de novo a pensar e disse-lhes: Pois é, no meu tempo íamos para a tropa terminar a nossa formação como HOMENS. Último olhar para ver se já tinham barba, mas mirando aquelas cútis bem tratadas apenas vi que estavam cheias de cremes embelezantes, esparralhadas de cores, mas nem pelos, nem acne se topava por ali.

E mais pensei e percebi porque é que cada vez se passam menos certidões de nascimento.

Lá que senti saudades dos tempos de escola onde até as pedras e as fisgas eram a sério... lá isso senti.

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Já me perdi... onde é qu'eu ia? "Ainda não percebi como findou, sem que ninguém se aleijasse"...era aqui.

Estivemos debaixo de intenso fogo, pr'ái mais d'uma hora e sem sabermos bem como dar a volta à critiquérrima situação. Dum lado o IN e do outro o rio que atravessáramos quase seco mas que aliado à maré, subira... subira... e a raivosa corrente parecia até querer morder.

Não havendo melhor hipótese, porque os emboscadores eram bem mais do que deviam ser, decidiu o Senhor Oficial, distinto comandante da força em presença, cavar dali em passo de corrida e tacticamente em retirada estratégica, forçando a que investíssemos contra o impetuoso aguaçal.

Um amigo Fur Mil do meu pelotão, indigitado e treinado para chefiar a Secção de metralhadoras Dreyse, que não tínhamos, pede-me ajuda para atravessar, porque não sabia nadar.

Peguei na coronha da sua G3 e aconselhei-o a que pegasse no cano e lá fomos. Quase a salvo, escorregou e foi uma carga de trabalhos para lhe deitar a mão, mas lá o coloquei em lugar seguro.

Fosse dos nervos... ou...  do que fosse, sussurrou-me:
- Já sei nadar... aprendi hoje pá..."

Fora o seu primeiro baptismo debaixo de fogo e d'água, tal como acontecera com alguns de nós, mas para ele não houve repetições devido a ter sido requisitado para a locução da Rádio em Bissau.

Prenunciando desgraças, andavam por ali na margem, dezenas de abutres, que como sabem se trata duma espécie de pardal de telhado mas muito maior e a quem chamam jagudis, passarões proibidos de apanhar (o que só soube depois de já ter aparafusado o pescoço a um), dada a profiláctica actividade que desenvolvem na limpeza de tudo o que é carne e não mexe.

Um Jagudi
Foto de © João Santiago com a devida vénia


No solo deslocam-se aos saltinhos e foi muito triste para mim não os poder caçar, dada que esta gulodice alimentar (passarinhos fritos) era e continua a ser, uma das minhas dietas preferidas.

Lá no K3 e com a pressão d'ar, muitos me passaram pelo estreito, caídos dos cajueiros que frequentavam e onde faziam os ninhos. Da cor do respectivo fruto, cabecinha verde e peitaça assaz gorda com'á dos piscos, que lá no meu burgo metropolitano apanhava com as costelas, debaixo das figueiras em Outubro, com os figuitos já meio-passados e usando o tradicional isco, as agúdias.

No quartel para que esquecêssemos o mau bocado passado, ofertaram-nos uma especial mistela, que eu já conhecia dos filmes de cow-boys mas que nunca houvera provado e tomei um trago, depois outro e outro.

Aquilo provoca habituação... ninguém me avisou e o resultado foi, que nunca mais e desde então até hoje e ainda porque foi também o xarope que me foi receitado pelo meu veterinário de família, "nunca mais e desde então até hoje..." consegui deixar o desbragado vício, sendo a dose diária feita em três tomas, ao almoço, ao jantar e... ao jantar.

Recentes pesquisas médicas, concluíram ser um produto natural, biológico e com propriedades vaso-dilatadoras e deve ser ministrado diariamente sem águas nem gelos. Responde pelo nome de Whisky, se o chamarem.

Claro que também nos homenagearam com um opíparo jantar: bifinhos de cebolada com batatinhas fritinhas e cortadinhas às rodelinhas, molhança à parte e feita de mostarda e cola e estando tão apetitoso... até repeti.

É que quando me enervo e mesmo quando não, fico com uma fomeca de todo o tamanho.

As bebidas estiveram consentâneas com a ocasião, a quantidade qb (qb significa: quanto mais melhor) e os digestivos também não estiveram mal, não senhor.

Veio depois o toque de silêncio e três horas depois fui-me à deita. Havia que descansar pois já tinha ordem de marcha para o regresso a Mansabá, pela matina, onde me aguardaria o TGV para Manhau.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10870: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (19): 20.º episódio: Memórias avulsas (1): Eu, turista em Mansabá

Guiné 63/74 - P10877: Notas de leitura (444): Um reparo à descrição da Operação Nebulosa inserta no livro "Alpoim Calvão - Honra e Dever" (Jorge Félix)



1. Mensagem do nosso camarada Jorge Félix (ex-Alf Mil Pilav, AL III - BA 12 - ESQ 122, Guiné, 1968/70), com data de 28 de Dezembro de 2012:

Meu caro Luís,
Vou aproveitar o "nosso" espaço para fazer um reparo, a uma passagem do livro do Sr Comandante Alpoim Calvão, pessoa por quem tenho o maior respeito e admiração.

Na pág. 184 do livro, "Alpoim Galvão, Honra e Dever", acerca da operação "Nebulosa", na foz do rio Inxanche (Inxanxe no livro), limite sul da fronteira com a Guiné-Conakri, em determinado momento pode ler-se o seguinte: ... "as obrigações que ligavam o comandante Calvão à TG3 e às operações especiais do Comando-Chefe obrigavam-no a um regresso imediato a Bissau, não se podendo dar ao luxo de perder tempo no naturalmente moroso trajecto marítimo da LFG. Tinha ficado, por isso, acertado que no final da operação o deixariam na Marca Samba, de onde a Força Aérea o recolheria de helicóptero. (Marca Samba era um pequeno farolim que a Marinha instalara havia dois ou três anos numa restinga areenta e pedregosa, a umas milhas na foz do rio Cacine, assinalando um baixio que constituía um perigo para a navegação e afirmando-se como ponto de referência para quem, vindo por mar, demandava a barra daquele rio. (Nota nª 188).

É pois naquele ponto perdido no meio do mar que foi deixado o comandante Calvão, sem ter necessidade de qualquer armamento já que se encontrava muito longe de terra. Sucede porém, que aquela era uma posição recentemente cartografada, pelo que apenas se encontrava assinalada nas cartas naúticas. Nas da Força Aérea nada constava e para as aeronaves aquele ponto nada mais era do que o mar imenso.Assim os helicópteros andavam a sobrevoar toda a costa da foz do rio Cacine, não podendo supor que o seu objetivo se encontrava naquele baixio tão distante.Entretanto, como o resgate demorava, a maré que inicialmente se encontrava na baixa-mar começa a subir e a restinga a ficar submersa, pelo que o comandante se ia aproximando cada vez mais do farolim. A certa altura, e já com os pés molhados, nada mais lhe resta senão começar a subir pela estrutura, mas quando olha para cima, percebe que não está sozinho: uma enorme jibóia encontrara no farolim um refugio seguro e enroscada no seu topo observava atentamente o recém-chegado. A um e a outro resta apenas a partilha do espaço, cada vez mais exíguo devido à subida das águas. Uma espera que teria sido interminável não fosse a iniciativa do piloto de um dos helicópteros, que alargara o raio da busca."

Observações minhas:
Se tinham acertado que, no final da operação iriam deixar o Senhor Comandante AC na "Marca Samba", aqueles que o iriam buscar, deveriam saber onde o encontrar. Andar a "sobrevoar toda a costa da foz do rio Cacine, não podendo supor que o seu objetivo se encontrava naquele baixio tão distante", é algo que me surpreende. Já escrevi e apaguei "ENE" vezes o que me vai na alma... Estou crente que esta situação foi "romanceada" e escapou ao Senhor Comandante AC.

No dia 27 de Agosto de 1969, o meu saudoso Comandante Diogo Neto, abeirou-me e disse que eu iria fazer uma evacuação, de um oficial fuzileiro, que tinha torcido um pé. (Não se faziam evacuações sem levar levar o "mecânico" e a enfermeira, mas naquela, teria que ir só. E foi o que aconteceu). A Sul da Ilha Melo, no meio do mar, iria encontrar o "oficial dos fuzileiros".

Tive a honra de ser eu, a "procurar" o Senhor Cmt AC para lá da ilha Melo, facto que não foi difícil.

Num "deserto" de água, encontra-se facilmente uma Lancha de Fiscalização Grande (LFG "Sagitário"). Dei duas voltas, baixas sobre a LDG. Apontavam-me para onde se encontrava o Senhor Comandante.

Um areal a uns trezentos metros da LDG.

Vai encontrá-lo "numa ilhota", disse-me o meu Comandante Diogo Neto.

Lá estava, o Senhor Comandante Alpoim Calvão. Reconheci-o logo. Cumprimentamo-nos, perguntei pelo estado do seu pé, não deu importância ao caso. ...

Há um facto neste "transporte", uma ordem do Gen Diogo Neto, que só pode ser do conhecimento do Senhor Comt AC e meu .

Nada de grave, mas comprova aquilo que digo. Num futuro próximo poderemos "desvendar" este facto.

Só foi utilizado um heli e na procura não houve tempo perdido, nem podia haver. Na minha caderneta, pode ler-se: no dia 27 de Agosto 69, um TEVS para " Cassumba S" com o tempo de 1 hora e 50 minutos, duas aterragens, a "operação" que corresponde ao facto narrado em cima.

Numa próxima edição, este facto romanceado, deveria ser alterado, a fim de dar uma outra imagem da FAP.

As esperas intermináveis dos helis, aconteciam quando não havia meios para "acudir" a todos ao mesmo tempo.

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Luís, envio isto para o teu/nosso Blog, a fim de dar cumprimento à verdade que aspiramos.

Se me permites, envio os meus cordiais cumprimentos com todo o respeito e admiração ao Senhor Comandante Alpoim Calvão.

Abraço do tamanho do Geba
Jorge Félix
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10872: Notas de leitura (443): "Diário da Guerra Colonial - Guiné 1966-1968", por Luís de Matos (Mário Beja Santos)