segunda-feira, 15 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11841: Notas de leitura (500): "As Ilhas Afortunadas, um estudo sobre a África em transformação", de Basil Davidson (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Março de 2013:

Queridos amigos,
Basil Davidson foi alguém no jornalismo internacional, nunca escondeu a sua rasgada admiração por Amílcar Cabral que ele qualifica como o mais importante dos líderes revolucionários africanos.
O que ele descreve neste livro é uma história de Cabo Verde, nalguns pontos polémica, e o trabalho clandestino que foi desenvolvido pelos jovens cabo-verdianos que se entusiasmaram com o PAIGC.
Sempre crítico, Davidson revela-se omisso quanto às teses da unidade Guiné-Cabo Verde, aparecem como uma necessidade vital, um indesvendável tabu. E dá aos leitores a possibilidade de verificarem o que esses jovens cabo-verdianos fizeram durante a luta armada, tanto na Guiné como em Cabo Verde.

Um abraço do
Mário


As ilhas afortunadas: O PAIGC, Amílcar Cabral e Cabo Verde

Beja Santos

Em 1960, Amílcar Cabral chega a Londres disfarçado de Abel Djassi. Vem para entabular relações com partidos políticos britânicos, expor os pontos de vista do PAIGC sobre a descolonização na Guiné e em Cabo Verde. Elabora um documento onde analisa os factos dessa colonização e onde revela a fragilidade do processo civilizacional português. Quem traduz esse documento do francês para o inglês é Basil Davidson, nasceu aí uma amizade que não terminou com o assassinato de Amílcar Cabral. “As Ilhas Afortunadas, um estudo sobre a África em transformação” de Basil Davidson, Editorial Caminho, 1988, é sobretudo um livro que reflete sobre a história de Cabo Verde, o pensamento de Cabral e que culmina com a análise das transformações operadas no arquipélago sob a liderança do PAICV.

Davidson começa a sua viagem a partir do povoamento do arquipélago, descreve as misturas de sangue graças às injeções maciças de nativos da extensa área da Senegâmbia; um povoamento de brancos, mestiços e pretos onde se desenhou uma cultura própria que se exprime pelo crioulo, pela música, pela literatura e pela gastronomia; um povo permanentemente em diáspora devido às fomes e à aridez dos solos; e com momentos em que a região é uma verdadeira encruzilhada, como foi exemplo o início do século XIX em que os cabo-verdianos eram muito úteis aos baleiros norte-americanos, tempo em que firmas da Escócia e da Inglaterra, ligadas ao negócio do carvão, enviaram representantes de Cardiff e Newcastle para assegurar que no porto de Mindelo houvesse carvão armazenado para alimentar as caldeiras da navegação a vapor. No passado, há o registo do comércio negreiro praticado por várias potências, bem como a presença de donatários que se lançaram na plantação de açúcar, milhos e outros cereais. Cultos, empreendedores e resistentes às secas, os cabo-verdianos lançaram-se desde cedo no comércio e na administração. O problema racial em Cabo Verde é distinto do que veio a acontecer no continente africano. São variadas as diferentes colorações de pele, o que não obstou a permanência de uma divisão em função da cor, mas sentindo-se portugueses, era assim que se exprimia a sua cultura onde abundavam os crioulos mestiços, com orgulho na sua sociedade homogénea, uma sociedade cujos membros não eram europeus nem totalmente africanos, mas sentindo-se como civilizados úteis a mandar nos trópicos. Davidson descreve a emigração e modo como os cabo-verdianos alfabetizados deram diligentes funcionários, por vezes administradores coloniais; e depois passa em revista as velhas aspirações do tipo nacionalista, referindo um dado histórico raramente invocado, a propósito da II Guerra Mundial, e que tem a ver com o plano aprovado por Churchill da ocupação de Cabo Verde caso a Alemanha se tivesse aliado a Espanha, com a consequente perda de Gibraltar.

Amílcar Cabral entra em cena, adolescente, estudante e poeta, partindo para Lisboa onde se licenciou no Instituto Superior de Agronomia. Trata-se de uma narrativa para a qual já existe muita prosa consolidada. O que importa é a teia de relações que se estabeleceram nessa juventude e depois em Bissau, são referidos nomes como Abílio Duarte, Fernando Fortes, Inácio Soares, Honório Chantre, entre outros. E a narrativa passa para os jovens estudantes cabo-verdianos que irão aderir ao PAIGC, destinados a ter papéis importantes em toda a guerra de libertação. Davidson vai colhendo depoimentos como o de Silvino da Luz que se mostram coincidentes quanto à motivação dos seus ideais: era importante uma vitória colonial para se alcançarem outras independências, a Guiné era o ponto de partida. E demora-se sobre a conceção estratégica de Cabral: empurrar os portugueses para aquartelamentos, retirando-lhes a mobilidade, intimidando-os com flagelações e itinerários minados; a par disso, criar em território sob controlo experiências de poder popular e de democracia de base; vender na cena internacional a ideia de que a unidade Guiné-Cabo Verde era um dos motores da luta.

Como é evidente, Cabral distinguia os dois processos de independência. Diferenciava na sociedade cabo-verdiana a cidade das zonas rurais, era nestas últimas que havia um número reduzido de grandes proprietários; a propaganda devia chegar aos pequenos proprietários, em muitos casos não tinham mais de três hectares, em meio rural os assalariados agrícolas não constituíam uma força significativa; analisando a sociedade urbana, Cabral apontava para os empregados mal remunerados, uma espécie de pequena burguesia envergonhada. Tudo se revelou na prática de mobilização muito difícil. Os cabo-verdianos foram treinados em Cuba mas nunca foi possível criar condições quer para o desembarque quer para a subversão continuada, de tempos a tempos os elementos subversivos eram denunciados ou descobertos pela polícia política. Cabral será seriamente confrontado pela impaciência destes jovens cabo-verdianos, haverá mesmo polémica entre ele e Abílio Duarte. Todo o trabalho político preparatório era extremamente áspero, chegar-se-á ao 25 de Abril com muito trabalho clandestino mas com uma minoria de população apoiante às teses do PAIGC, Davidson descreve a formação de novos partidos e como estes tiveram curta duração. O PAIGC durante muito tempo será a força política monopolista até aos processos eleitorais pluralistas. Convém não esquecer que os principais militantes do PAIGC, aquando do 25 de Abril ou estavam presos ou em cargos no PAIGC. Voltando um pouco atrás, a 1973 e ao II Congresso do PAIGC, Davidson refere uma proposta apresentada por Abílio Duarte e secundada por Aristides Pereira, ela previa a criação de uma Comissão Nacional de Cabo Verde. Abílio Duarte dirá a Davidson: “A existência de uma Comissão Nacional obrigou todo o PAIGC a continuar a luta pela independência das ilhas. Reforçou a proposta, feita um ano mais tarde, no sentido de obter o acordo dos portugueses para o reconhecimento do nosso direito à independência”. E Davidson conclui: “Em 1973, esta Comissão Nacional era apenas um nome e um compromisso. Alguns dos seus membros encontravam-se em missões diplomáticas ou militares, como Abílio Duarte e Silvino da Luz. Outros, como Júlio de Carvalho e Osvaldo da Silva, destruíram os aquartelamentos de Spínola. Mas em Abril de 1974, depois de derrubada a ditadura portuguesa, começaram a acontecer coisas extraordinárias. Com a trégua na Guiné-Bissau, depois de Junho de 1974, e evacuadas as tropas portuguesas, os membros da Comissão Nacional puderam ser enviados para as ilhas”. Eram novos desafios de militância, Davidson pormenoriza todas estas diligências até à independência de facto. O último capítulo da obra intitula-se “Continuar Cabral”, é a história desses primeiros anos tão difíceis em que a ajuda externa, a cooperação internacional e a ajuda humanitária foram determinantes. E a partir de 1980, Cabo Verde foi confrontada com a secessão da Guiné-Bissau, o país interiorizou a sua identidade.

É de lamentar que por vezes Davidson não consiga controlar os seus pontos de vista fundamentalistas a ponto de maltratar figuras de oposição como Leitão da Graça, que ele seguramente não sabe quem foi.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11832: Notas de leitura (499): A "Guiné" na literatura portuguesa de viagens (séc. XV-XVII), por Julião Soares Sousa (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11840: Filhos do vento (14): Nha fidju i fidju de soldado. I lebal pa Lisboa. I na cuida del. I na manda dinheru um bokadu…(Paulo Salgado)


Guiné > Região do Oio >  Olossato > 1970 > O alf mil cav Paulo Salgado, dando uma mãozinha ao pessoal dos serviços de saúde da CCAV 2721(, comandada pelo então cap cav Tomé, Olossato e Nhacra, 1970/72)..

Este professor primário, transmontano de Moncorvop, haveria mais tarde de  fazer o curso de especialização em administração hospitalar, na Escola Nacional de Saúde Pública, e seguir uma carreira nesta área, com trabalho feito em Portugal, na Guiné-Bissau e em Angola, que é para ele um motivo de orgulho e para nós, seus amigos, um exemplo. Recorde-se que, para além de antigo alf mil cav, m o curso de operações especiais, o Paulo era então (à data em que escreveu este poste) um cooperante activo, solidário e empenhado, na Guiné-Bissau, estando à frente do Hospital Nacional Simão Mendes.

Espero  poder abraçá-lo na próxima 4ª feira, dia 17, na Ilha de Luanda, e trabalhar com ele esta semana. É um camarada e a um amigo, de valor e de valores (Recorde-se que é nosso tabanqueiro da primeira hora, ele, a esposa, Conceição, economista, e a filha, Paula, aluna do ensino secundário em Bissau, doutorada e investigadora em biologia na Grã-Bretanha; para estas nossas amigas, vai um afetuoso kandando, abraço, em angolês).

Foto: © Paulo Salgado (2005). Todos os direitos reservados.

1. Reprodução de uma história que o Paulo Salgado já aqui nos contou, há 7 anos atrás, na I Série do nosso blogue (que já ninguém consulta e que muitos dos nossos camaradas mais recentes não conhecem) (*)

Camaradas e Amigos:

Quero contar-vos uma estória. Em 1991, corria um Fiat Uno vermelho na picada, então muito boa, de Varela para S. Domingos [na região do Cacheu]. Lá dentro um casal. Seriam quatro da tarde. O sol ainda aquecia e o carrinho não tinha ar condicionado, apenas o ventinho quente aligeirava a modorra dentro da viatura, entrecortada pelos monossílabos que o casal ia trocando.

De repente, após uma curva, sob o peso de um jigo de verga de palmeira bem carregado de nadas (suponho), uma mulher gritava:
─ Bolea, bolea!

O condutor parou adiante, ajudou a colocar o cesto na bagageira, a arrumar a mulher no banco de trás. A mulher do condutor:
─  Boa tarde, boa tarde; tome estas bolachas... para onde vai?
─ Pa São Domingos... ─  respondeu a convidada. O condutor:
─ Manga de calor!  ─ E ela:
─ Calor, tchiu!─ O condutor:
─ A nôs,  portuguesis... ─E ela:
Ah, nha fidju i fidju de soldado. I lebal pa Lisboa. I na cuida del. I na manda dinheru um bokadu… [O meu filho é filho de um soldado. Ele levou-o para Lisboa. E toma conta dele. E manda-me algum dinheiro].

O condutor e a mulher ficaram estarrecidos. Aquele soldado... Lá de Portugal... grande exemplo de grandeza!... 

Verdadeira, esta história. Comovente. Rememoro-a, a propósito do que ultimamente se tem falado no nosso blogue.

E queria acrescentar algo, se me permitis, camaradas. Um aquartelamento. Arame farpado à volta. Saídas para emboscadas, patrulhamentos, golpes de mão; ou sofrer ataques, alguns bem perto, direi mesmo ao arame, ou de longe com mísseis…E, pelo menos 150 tipos entre os 20 e 25 anos (no caso de uma companhia sediada em tabanca). O quê de isolamento, o quê solidão, o quê de sexo...  como aguentar tal sofrimento, tal ansiedade?!

Já reparastes como é sofrida uma guerra neste particular aspecto? Tanta coisa aconteceu, camaradas. Algumas estórias não nos dignificam, camaradas. Ainda que nada seja tabu, demos ter algum recato quando falamos de terceiros, de outras pessoas que estão vivas, que deverão ser respeitadas. E a dignidade passa por nós próprios. Nada é tabu. Mas tudo deve ser (re)contado com muita dignidade.(**)

Paulo Salgado
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Notas do editor:

(*) I Série > poste de 18 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLX: Nha fidju i fidju de soldado (Paulo Salgado)

(**) Último poste da série > 14 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11838: Os filhos do vento (13): Em busca do pai tuga: um reportagem, 3 vídeos, 19 histórias, 19 rostos, 19 nomes à procura do apelido paterno... Hoje no "Público", domingo, dia 14. A não perder.

domingo, 14 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11839: Memória dos lugares (237): Bafatá, o seu velho cinema, a sua história, as suas gentes, os seus fantasmas... Bafatá Filme Clube, documentário (78') de Silas Tiny, produção da Real Ficção, brevemente em DVD (Fernando Gouveia)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de Dezembro de 2009 > 18h06 > "O velho cinema de Bafatá, encerrado há muitos anos.. Dizem que há um homem que toma conta do velho cinema, abandonado"... Um habitante local, surdo-mudo, fotografado com o João e o Antero, motorista da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento"... Sabemos agora que essa tutelar da velha sala de espetáculos (que alguns de n´so conheceram no tempo da guerra colonial) se chama Canjajá Mané e entra no filme do Silas Tiny, " Bafatá Filme Clube"...

A produção do documentário é a Real Ficção, a mesma que produziu filmes já aqui falados como "Kolá San Jon, é Festa di Kau Berdi", de Rui Simões,  e "Cartas de Angola", de Dulce Fernandes, que estuveram presentes, em maio passado, na IV Bienal de Culturas Lusófonas, juntamente com o filme do Silas Tiny.

Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L:G.]

1. Mensagem do nosso camarada e amigo Fernando Gouveia :[ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; foto à esquerda, na LDG que o levou, desde o Xime até a Bissau, de regresso a casa,  no final da comissão]

Data: 12 de Julho de 2013 às 23:19

Assunto: Filme sobre Bafatá

Luís:

Lembras-te que em tempos encaminhaste para mim um jovem cineasta, Silas Tiny, que pretendia informações sobre o Cinema de Bafata? 

Pois bem, ele realizou-o e que acaba por ser um belo filme sobre toda a Bafatá. Tendo-lhe perguntado sobre a sua divulgação, disse-me que ainda não havia ordem da produção para isso mas que se podia ter acesso a um resumo no link do Google:

http://www.realficcao.com/php/producao_2011.php
Pessoalmente o Silas mandou-me um DVD e acho o filme muito bom.

Um abraço. Fernando Gouveia

2. Bafatá Filme Clube

documentário | 78' [Estará em breve em DVD]
Silas Tiny 

Técnica Técnica

realização | Silas Tiny
direcção de fotografia | marta pessoa
som | Paulo Abelho
montagem | Márcia Costa
marketing | Fátima Santos Filipe
direcção de produção | Jacinta Barros
produtores | Rui Simões (portugal) e Carlos Vaz (Guiné Bissau)
produção | Real Ficção

Sinopse > Em Bafatá na Guiné-Bissau, Canjajá Mané antigo operador de cinema e guarda do clube da cidade, repete os mesmos gestos há cinquenta anos. Mas actualmente o cinema está fechado e não existem espectadores. Dos seus tempos como trabalhador do clube até aos nossos dias, restam apenas recordações. Na cidade, somente as pedras, árvores e o rio resistiram à erosão do tempo. E com eles, algumas pessoas, que ficaram para perpetuar na memória do mundo e dos homens, que ali já viveu gente. São essas pessoas por quem Canjajá procura e espera pacientemente até hoje. (Fonte: Real Ficção).

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de junho de 2013 >  Guiné 63/74 - P11751: Memória dos lugares (236): Gadamael, 1970-1971 (Vasco Pires)

Guiné 63/74 - P11838: Os filhos do vento (13): Em busca do pai tuga: um reportagem, 3 vídeos, 19 histórias, 19 rostos, 19 nomes à procura do apelido paterno... Hoje no "Público", domingo, dia 14. A não perder.


Capa da página do Público 'on lin', de hoje  > "Filhos do vento: guerra colonial; as histórias dos filhos que os portugueses deixaram para trás". Vale a pena compar a  edição a papel (1€60), ler, comentar e guardar a resportagem "Em busca do pai tuga" (Revista 2, pp. 10-19)  e depois ver os três vídeos disponíveis. (Motivo adicional para comprar a edição em papel: o nosso Jorge Cabral queixa-se de que é vítima de "idadismo"... Vd. Revista 2 > "Velhos ? Não. Somos todos contemporâneos", reportagem de Catarina Fernandes Martins, pp.26-27. De facto, este país já não é para velhos) (LG)


1. Como já fora  anunciado (*), saiu no jornal "Público", de hoje, domingo dia 14, na Revista 2, a reportagem dos enviados especiais à Guiné Bissau Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende sobre os "filhos do vento"... 19 histórias, 19 nomes, 19 dramas...de "restos de tugas"...

 "No tempo da guerra colonial havia quem lhes chamasse 'portugueses suaves', agora, há entre os ex-combatentes quem prefira 'filhos do vento'. A maioria dos filhos de ex-militares portugueses com mulheres guineenses guarda pedaços de história incompletos, com a ambição de que um dia esses poucos dados os venham a reunir aos pais.  A expressão que dá título a esta página foi usada pela primeira vez, para se referir aos filhos de ex-militares portugueses com mulheres guineenses, pelo ex-furriel José Saúde, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné".

Três vídeos (cada um com cerca de 10 minutos casa) contam estas histórias dos "filhos de vento"...

Restos de tugas (11' 52'')


TESTEMUNHOS ( a recolher pelo Público)

"Este é um espaço de debate. Qualquer testemunho que inclua dados pessoais não será publicado. A identidade dos pais não é divulgada por motivos de reserva da vida privada. O envio de informações que julgue relevantes para a busca destes filhos de ex-militares portugueses deverá ser feito para o email filhosdovento@publico.pt"

sábado, 13 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)



Guiné > Zona leste > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). > A travessia, em jangada, do Cheche (que ficava do outro lado, na margem direita).


Guiné > Zona leste > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). > Uma coluna logística: Madina do Boé-Cheche-Canjadude-Nova Lamego (1)


Guiné > Zona leste > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). > Uma coluna logística: Madina do Boé-Cheche-Canjadude-Nova Lamego (2)


Guiné > Zona leste > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). > Finalmente a rendição !



Guiné > Zona leste > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). >  O interior do aquartelamento e da tabanca



Guiné > Zona leste > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). >  Um cemitério de vitaturas



Guiné > Zona leste > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). >  Discreta mas orgulhosa, a bandeira nacional.




Guiné > Zona leste > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). >  A mascote da conpanhia.


Seleção de algumas fotos, notáveis, do álbum do Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms,  CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).


Fotos (e legendas): © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar]


1. A Op Mabecos Bravios, destinada a cobrir a retirada das forças estacionadas em Madina do Boé, que teve  um desfecho trágico para 46 camaradas nossos, da CCAÇ 2405 (Galomaro) e da CCAÇ 1790 (Madina do Boé), mais um civil guineense.

Aconteceu há 44 anos, quase meio século. A efeméride passou quase despercebida, em 6 de fevereiro de 2013.

 Na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca,19768/70) há uma versão parcial do relatório dessa  operação de triste memória, relativa á participação da CCAÇ 2405 (Galomaro e Dulombi, 1968/70) que formava o Destacamento F. Vale a pena reproduzir esse documento (Cap II, pp. 36-38).

 Em Fevereiro de 1969, a CCAÇ 2405 estava sediada em Galomaro, com um pelotão em Samba Juli, outro em Dulombi e um terceiro em Samba Cumbera. Voltamos a transcrever o post de 2 de Agosto de 2005, com o relatório da Op Mabecos Bravios, o que se justifica pela efeméride (o 44º  aniversário desse dia trágico de 6 de Fevereiro de 1969).

É também um pretexto para a nossa Tabanca Grande  prestar a sua sentida homenagem aos camaradas desaparecidos para sempre nas águas do temível Rio Corubal, quer os da CCAÇ 2405, comandada pe.lo cap mil inf Novais Jerónimo, quer os da unidade de quadrícula de Madina do Boé, a CCAÇ 1790, comamdada pelo cap inf José Aparício (que conheci pessoalmente há uns tempos, em Lisboa,  juntatmente com o cap mil António Vaz).

A evocação desse dia negro na história da guerra colonial da Guiné e a homenagem aos nossos mortos já aqui foram feitas, ainda na I Série do nosso blogue, por camaradas como o  José Martins (ex-furriel miliciano de transmissões da CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70): vd., por exemplo,  poste de 4 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins), bem pelo Rui Felício, um dos três alf mil da CCAÇ 2405 que participaram na Op Mabecos Bravios (poste de 12 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405).

E ainda recentemente puiblicámos fotos, tiradas opelo Xico Allen, na sua viagem de 1998, mostrando restos do cemitério de viaturas em que se transformou a picaca Canjadude - Cheche - Madina do Boé - Beli (*). Mas sobre esta operação ea  trágica travessia do Rio Corubal, em Cheche, no regresso a Nova Lamego,  ainda nem tudo estará dito e escrito. Nomeadamente, há falta de documentação fotográfica. Paer os membros da Tabanca Grande mais recentes, julga.se oportuno voltar a mexer neste doloroso dossiê das nossas memórias.


2. Extractos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Classificação: Reservado. Cap. II. 36-38.
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Iniciada a Op Mabecos Bravios, em 1 [de Fevereiro de 1969], com a duração de 8 dias, para retirar as nossas tropas de Madina do Boé. Entre vários destacamentos, tomou parte no Destacamento F a CCAÇ 2405 [ .Comandante: Cap. Mil. José Miguel Novais Jerónimo; 1º Grupo de Combate – Alf Mil Jorge Lopes Maia Rijo; 3º Grupo de Combate – Alf Mil Rui Manuel da Silva Felício; 4º Grupo de Combate – Alf Mil Paulo Enes Lage Raposo].

Desenrolar da acção:

O Dest F com o efectivo de 112 homens (4 oficiais, 10 sargentos e 98 praças - estão incluídos 1 secção de sapadores e 8 condutores auto), saiu de Galomaro em 1 de Fevereiro de 1969, pelas 9.30h, e chegou a Nova Lamego por volta das 13.00h do mesmo dia, sem qualquer novidade.

Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. 

Abro [o autor do relatório] um parêntesis para discordar do pormenor da organização da coluna:

Os meus condutores e mecânicos tiveram que conduzir e dar assistência técnica a viaturas que não lhe pertenciam e das quais desconheciam as mazelas. Daqui resultaram perdas de tempo inúteis e uma tremenda confusão resultante do facto de os atiradores terem guardado parte dos seus haveres e utensílios militares em viaturas que supunham pertencer às unidades e que, sem que se saiba porquê, foram trabalhar para unidades diferentes.

A coluna saiu de Nova Lamego para Canjadude com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema. A partir de Canjadude a coluna progrediu com guardas de flancos tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.

Atingiu-se o Cheche [entre Canjadude e Madina do Boé] por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente).

 Imediatamente os Dest D e F fizeram a transposição do [Rio] Corubal e foram ocupar as posições estratégicas previstas. Já escurecia e o Dest D levava 1 minuto de avanço sobre o Dest F. Subitamente o 1º Pel[otão] revelou achar estranho algo que se passava à nossa direita, parecendo-lhes ter visto elementos estranhos. Por outro lado o guia assegurou tratar-se de turras pelo que a Companhia tomou posições de combate, lançando-se ao solo e imobilizando-se. Seguiram-se dois disparos rápidos de morteiro (os clarões foram facilmente visíveis quando as granadas saíram à boca da arma). Foram tiros curtos na direcção sudoeste, e os rebentamentos deram-se próximo do local que o Dest F iria ocupar daí a momentos.

O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h.  Às 20.00h ouviram-se na direcção oeste dois tiros que me pareceram de arma nossa, fazendo fogo de reconhecimento.

 Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu devia levar até Madina.

Pelas 6.30h dirigi-me à zona do Dest E onde se organizou a coluna com o Dest F à frente e uma guarda de flanco avançada e o Dest D atrás igualmente com guarda de flanco. Iniciei o movimento guiado com carta e bússola porque a marcha foi feita a cerca de 200 metros (mínimo) da estrada. O meu objectivo era surpreender o IN pela rectaguarda tanto mais que os aviões me anunciaram haver possibilidade de sermos emboscados.

Cerca [ das 10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo. Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação.

As evacuações fizeram-se para Nova Lamego dos 1ºs cabos Carlos G. Machado, Agostinho R. Sousa, e dos soldados José A. M. S. Ferreira, Manuel N. Parracho,  Benjamim D. Lopes,  Fernando A. Tavares,  Cândido F. S. Abreu,  António S. Moreira e, para Bissau, O 1º Cabo Adérito S. Loureiro. [Omitem-se os nºos mecanográficos. L.G.]

 O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.

 Reiniciada a marcha, sofremos segundo ataque de abelhas que inutilizaram mais uma praça para quem teve de ser pedida mova evacuação. Entretanto, eram 14.30h, e mais 2 soldados, esgotada a sua provisão de água, apresentavam sintomas de insolação. Foram evacuados conjuntamente com 2 praças do Dest D que apresentavam sintomas semelhantes (vómitos, intensa palidez, olhos dilatados, respiração frenética).

O Dest D passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O Det D foi reabastecido de água. Atingimos Madina  [do Boé] por volta das 19.00h  [do dia 3] desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando F teve que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).

Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente. 

No dia 4 (D + 2) o Dest F dirigiu-se para [ Felo Quemberá,  ilegível] ocupando a posição 3 que se  atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.

Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate].

Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade.

Entretanto, o final da coluna pôs-se em movimento acelerado para apanhar as viaturas da frente e deixaram a guarda da rectaguarda isolada no mato, num momento particularmente difícil em que precisávamos evacuar 2 soldados vencidos pelo esgotamento físico e nervoso (2 noites seguidas sem dormir, ataque de abelhas em D +1, intenso calor).

O Comandante da coluna ordenou que se fizesse a evacuação e o reabastecimento de água. Feitos estes, iniciou-se a marcha e a breve trecho tomámos contacto com a coluna e tudo correu normalmente até ao Cheche. A cobertura aérea pareceu-me impecável.

Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação [, cor inf Hélio Felgas,] entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos. Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h.

O IN continua sem se manifestar (ou sem se poder manifestar). Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido.

 Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Canjadude que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado.

Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe [, brig António Spínola,]  que se deslocou propositadamente para a fazer.

Permaneci em Nova Lamego para organizar a coluna do dia seguinte. Às primeiras horas de D + 6 [8 de Fevereiro] iniciei o movimento para Galomaro onde cheguei cerca das 10.30h.
[Revisão de texto: L.G.l

Nota de L.G. - Sabemos que a 10 de fevereiro de 1969, o 2º cmdt do BCAÇ 2852 (1968/70), o maj inf Manuel Domingues Duarte Bispo, deslocou-se de Bambadinca a Galomaro "onde assistiu a missa celebrada pelo capelão do BCAÇ 2856, por intenção dos desaparecidos na Op Mabecos Bravios" (HU, Cap II, p. 46). O nº (e a identificação) dos mortos (17) da CCAÇ 2405 não constam do relatório da Op Mabecos Bravios que acima se transcreve. Falta-nos o(s) relatório(s) de outras forças que participaram, na Op Mabecos Bravios, nomeadamente da CCAÇ 1790 (que sofreu 29 mortos). Na realidade, na época esse tipo de baixas era contabilizada sob a categoria do "desaparecido".

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 10d e julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11822: Álbum fotográfico do Xico Allen: região do Boé, 1998: trágicos vestígios 'arqueológicos' da guerra colonial, entretanto já destruídos ou desaparecidos...

Guiné 63/74 - P11836: Humor de caserna (37): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (10): Morangos azuis

1. Em mensagem do dia 1 de Julho de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador... 





Seguindo o ditado que diz:
- Vale mais uma boa foto, do que mil palavras, o Cifra hoje vai dirigir-se, não só aos amigos antigos combatentes, mas também à juventude, alegre, que gosta de convívios, festas, namorar e sobretudo de morangos com açúcar, e porque não, também aos que gostam de boa mesa.
E como se explicou no princípio, vale mais uma boa foto do que mil palavras, portanto vamos primeiro “falar a tal mentira”, que é todo aquele blá, blá, blá, onde diz que, para os que vivem no mundo onde se fala inglês, vão dizer, com toda a certeza:
- There can be such a thing possible!

No mundo onde se fala francês, dizem:
- Il peut y avoir une telle chose possible!

Onde se fala germânico, friamente dizem:
- Es kann so etwas möglich sein!

No mundo que se fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- No puede haber tal cosa es posible!

Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:


Perceberam? Não?
Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu, pois tem alguma dificuldade em pronunciar, os pontos e as vírgulas.

E nós portugueses, dizemos:
- Não pode ser possível uma coisa dessas!


Sim é verdade, o Cifra também não acredita, mas depois de ver a foto que está em cima já não pode dizer mais nada, só talvez acrescentar que estes morangos azuis com açúcar, para sobremesa, depois de um bom bife azul, acompanhado de batatas fritas azuis, já agora com um bom copo de vinho azul, e porque não para final um bom café azul, e uma boa aguardente também azul.

Sem qualquer ofensa, e com a maior humildade, a avó do Cifra dizia um velho ditado, que era mais ou menos assim:  "Aquela pessoa tem um nome comprido, com muitas palavras, os pais eram os donos, e ele foi o herdeiro de toda aquela aldeia, deve ser de sangue azul."

O Cifra nunca acreditou, mas afinal era verdade, naquele tempo havia mesmo sangue azul.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11778: Humor de caserna (36): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (9): Aquecimento Global

Guiné 63/74 - P11835: Tabanca Grande (404): Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf.ª da CCAÇ 3476 - "Os Bebés de Canjambari" - Guiné, 1971/73 (Tertuliano n.º 623)

1. Vamos receber hoje na nossa Tabanca um camarada que não é de todo desconhecido pois participou nos últimos quatro Encontros anuais da tertúlia (2010 a 2013), sempre acompanhado de sua esposa Maria de Fátima, também ela já uma veterana entre as senhoras que normalmente acompanham os maridos.

Manuel Lima Santos, tertuliano n.º 623, foi Fur Mil Inf.ª na açoriana CCAÇ 3476 - "Os Bebés de Canjambari", Canjambari e Dugal, 1971/73.

Reside na bonita cidade de Viseu e é licenciado em Engenharia Civil pelo ISEC.
Foi professor no Ensino Secundário e está já na situação de aposentado.

Nesta foto referente ao VII Encontro Nacional da Tertúlia de 2012, em Monte Real, Manuel Lima Santos, que tem à sua esquerda a esposa Maria de Fátima, conversa com José Manuel Cunté, afilhado do nosso camarada Manuel Joaquim.
Foto do CMDT Manuel Lema Santos (2012)

Talvez a minha qualidade de "relações públicas" do blogue tenha proporcionado ficar a conhecer relativamente bem o nosso novo tertuliano Manuel Santos, pois, em todos os Convívios em que ele participou, tivemos oportunidade para conversar um pouco, principalmente sobre a Guiné, como não podia deixar de ser.
No seguimento dessas conversas, há muito que o tinha desafiado a enfileirar o nosso Blogue, tanto mais que ele faz questão de uma vez por ano fazer parte da tertúlia.
Este ano acabou por aceitar o meu convite e entregou-me um CD com algumas fotos de Canjambari, a publicar brevemente, assim como alguns dos seus dados pessoais para o conhecermos minimamente.

Canjambari > Homenagem da açoriana CCAÇ 3476 às Unidades que a antecederam

E porque o camarada Manuel Lima Santos conhece o nosso Blogue, os nossos objectivos e a forma de colaborar, resta-me deixar-lhe um abraço de boas-vindas e o desejo de que a sua actividade na tertúlia seja profícua, já que estamos a necessitar de gente nova a escrever.

Ficamos por aqui ao seu dispor.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11806: Tabanca Grande (403): Fernando de Pinho Valente Magro, ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72), tertuliano n.º 622

Guiné 63/74 - P11834: Parabéns a você (602): António Tavares, ex- Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11828: Parabéns a você (601): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista das CCP 122 e 123/BCP 12 (Guiné)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11833: Convívios (521): Factos e imagens do XXIII Encontro da CART 3494 – 2008 (Jorge Araújo / Sousa de Castro)



1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos uma interessante reportagem da autoria do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da mesma unidade militar), sobre o seu 33º convívio: 

Factos e imagens do XXIII Encontro da CART 3494 (2008)



Camaradas,

Para além do valor intrínseco que ela encerra, pretendo com esta narrativa específica relacionada com os nossos Encontros Anuais (almoço/convívio) já instituídos, homenagear os pioneiros da ideia de juntar, pelo menos uma vez em cada ano, toda a família de ex-combatentes da CART 3494.

Segundo julgo saber, tudo começou em Junho de 1986 por iniciativa de um quarteto constituído por: João Machado (cozinheiro), Júlio Peixoto (condutor), Alcides Castro (cantineiro) e Lúcio Monteiro (1.º cabo atirador). O 1.º almoço/convívio, que contou com uma reduzida participação, decorreu no Restaurante “O Frangueiro”, em Aver-o-Mar – Póvoa de Varzim, pertença do João Machado, no dia 14 de Junho de 1986.

Os Pioneiros: Da esquerda  para direita: João Machado, Júlio Peixoto, Alcídes Castro e Lúcio Silva

Nos dois anos seguintes (1987 e 1988), também no mesmo mês e local, e sob a responsabilidade do sobredito quarteto, o evento foi repetido.

A partir desta informação, seria interessante reconstituir-se o quadro completo dos nossos Encontros, fazendo chegar as datas, os locais e organizadores de cada edição.

Aguardo notícias.

MEMÓRIAS DO XXIII ENCONTRO DA CART 3494

07 DE JUNHO DE 2008

Com cinco anos de atraso, mas como diz o provérbio que se utiliza nestas ocasiões,  “mais vale tarde do que nunca” ou “antes tarde do que nunca”, eis que tomei a iniciativa de vos dar conta, para que conste no nosso baú de memórias, do processo relacionado com a organização do XXIII ENCONTRO/CONVÍVIO DA COMPANHIA DE ARTILHARIA 3494, realizado em Almada (Costa da Caparica), no dia 07.Jun.2008, divulgando factos e imagens originais visando a sua perpetuação.

I – A DECISÃO DE ORGANIZAR O ENCONTRO

Quando em 09.Jun.2007, no Restaurante Grelha, em Telões (Amarante), os camaradas da CART 3494, companhia também conhecida por «Fantasmas do Xime», acompanhados pelos seus familiares (esposas, filhos, noras, genros e netos) participavam em fraterna e sã camaradagem no já tradicional convívio anual (o XXII), este organizado pelo camarada ex-Furriel Mendes Pinto, surgiu o convite/proposta para assumir um novo desafio: o de organizar o Encontro do ano seguinte, tendo a resposta saído pronta e afirmativa.

II – O PRIMEIRO CONTACTO – NATAL DE 2007 

Em função do que se tornou habitual, a comissão organizadora (se for mais de um elemento) ou o organizador (quando se trata de um só elemento) assume a responsabilidade de enviar votos de BOAS FESTAS, na quadra natalícia, a todos os seus pares recenciados na lista actualizada da Companhia.

No nosso caso, e com esse propósito, elaborámos um cartão alusivo com o seguinte teor:

Antes de mais, recebam os meus melhores cumprimentos.

Mantendo a tradição de juntar anualmente todos aqueles que, num período importante das nossas vidas e num contexto adverso, soubemos construir laços de amizade e de solidariedade que certamente nos acompanharão ao longo dos anos. 

Com efeito, e por decisão tomada no decorrer do último convívio realizado em Amarante, fui de novo indigitado para organizar o Encontro de 2008, o que farei com todo o prazer. Este terá lugar a sul do rio Tejo, em data a indicar oportunamente. 

Agora, porque estamos na época festiva de forte componente familiar, aproveito esta oportunidade para vos desejar um BOM NATAL e que o próximo ano seja, de facto, um BOM ANO.

Felicidades para vós e restantes familiares, particularmente (agora) param os netos.

Um grande abraço. J.A.

III – PROJECTO EDITORIAL - COLECTIVO 

Aproveitando este contacto de Natal, passei a escrito a ideia avançada durante o convívio anterior, ainda que de forma informal e superficial, visando a elaboração de um livro colectivo da CART 3494, explicando então, com maior detalhe, a sua metodologia e objectivos gerais, a saber:

Caros amigos:

No último encontro realizado em Amarante, e após ter sido indigitado para realizar o Convívio de 2008, lancei a ideia de editar um livro denominado:

«Memórias dos Fantasmas do Xime» – CART 3494 – Guiné: 1971/74

Este projecto editorial seria organizado nos seguintes termos:

– Cada um de vós escreveria um texto de uma página A4 (mínimo) sobre o tema.

– No início de cada texto, identificar-se-ia o seu autor com uma foto tipo passe, ou uma foto relacionada com a história (memória) contada.

– Escrito o texto, este seria remetido por correio ou enviado por e-mail, para o meu endereço, até ao princípio do mês de Março p.f., a fim de poder organizar a sua publicação, de modo a ser distribuída durante o almoço/2008.

O que acham deste projecto? 

Dêem notícias e/ou sugestões para o meu endereço electrónico.

Obrigado!

IV – O XXIII ENCONTRO/CONVÍVIO DA CART 3494 – 07.JUN.2008 

Respeitando a tradição, o Convívio de 2008 foi agendado para o primeiro sábado de Junho, ou seja, dia 07. Como local da sua realização foi seleccionado o Complexo Turístico do Hotel Orion, sito em Fernão Ferro (Quinta das Laranjeiras), na Estrada 378, Km 19, Seixal/Sesimbra, com quem tratámos pessoalmente, e em tempo útil, todos os pormenores relacionados com o evento, dando lugar à troca de correspondência em 14.Fev.08 e 09.Abr.08.

Porém, um mês depois do acordado entre as duas partes, a administração do Hotel Orion decidiu renunciar o contrato de forma unilateral, afirmando já não estar interessada em prestar este serviço de restauração aos ex-militares, por razões económicas.

Perante esta decisão estranha e inqualificável fomos forçados, naturalmente, a mudar de rumo, recaindo a alternativa no Hotel Costa da Caparica, local já conhecido da maioria dos camaradas, por aí termos realizado o nosso primeiro Convívio, em 1998.

Esta alteração de última hora, de que fomos totalmente alheios e que nos deixou incrédulos, obrigou-nos a elaborar um comunicado, enviado a todo o colectivo, e com conhecimento à proprietária do Hotel Orion, com o seguinte conteúdo:

Comunicado:

De vez em quando (mais vezes do que seria espectável) somos confrontados com situações que nos suscitam muitas interrogações: - afinal onde estão os valores éticos e morais da actual sociedade?

E o presente exemplo prende-se com o processo relacionado com a realização do nosso almoço-convívio anual.

Como sabeis, o mesmo estava acordado realizar no Hotel Orion. Contudo, ontem, fomos confrontados pelo telefone na pessoa da sua proprietária que nos disse que a marcação do mesmo ficara sem efeito, em virtude de ter aceitado uma outra proposta mais favorável economicamente por parte de outro grupo. 

Depois de ter estabelecido com ela uma acesa discussão, fazendo apelo aos compromissos já assumidos connosco e de a ter ameaçado com um processo judicial (certamente muito moroso), esta reafirmou que a decisão estava tomada.

No sentido de resolver esta situação nada agradável para nós, decidimos avançar para o Hotel Costa da Caparica (local onde já realizámos um encontro), estando, assim, garantida e salvaguardada a realização do nosso almoço-convívio.

Para além da alteração de local, o custo unitário teve de ser ajustado ao novo contexto, passando agora a ser de 27,50€, mantendo-se em vigor o programa indicado na circular.

Lamentamos o sucedido, e esperamos a vossa concordância.

Até lá, um grande abraço do J.A. 

V – O PROGRAMA SOCIAL 

Garantido o local do convívio e definido o competente repasto, reflectimos sobre o que se poderia fazer de diferente, como mais-valia de uma deslocação a Lisboa que não acontece todos dias, em particular por parte de um número significativo de elementos constituintes da CART 3494, por terem a sua residência e/ou a sua actividade profissional em cidades do Centro e Norte do País.

Nesse sentido, e como meio de facilitar a logística relacionada com o transporte, o ex-Furriel Mendes Pinto liderou o processo de organização da deslocação colectiva nortenha, em autocarro, o que permitiu, por um lado, realizar uma viagem mais tranquila e mais económica e, por outro, ampliar os tempos de partilha e de convívio entre os elementos desse grupo. Como local de concentração, decidimos que o ponto de encontro mais favorável e acessível, no mapa dos diferentes itinerários a utilizar, seria o Santuário Nacional de Cristo Rei, vulgo Cristo Rei, ao qual se associavam três outras razões:

1.ª - Porque o santuário e monumento a Cristo Rei, este inaugurado em 17.05.1959 da autoria do madeirense (Mestre) Francisco Franco de Sousa (1885-1955), é a maior atracção turística do Município, exceptuando as praias da Costa.

2.ª - Porque este monumento, ex-libris da cidade de Almada, está situado a uma altitude de cento e treze metros acima do nível do Tejo, sendo por isso o melhor miradouro com vista para a cidade de Lisboa e zonas envolventes, incluindo o espelho de água do rio e a Ponte 25 de Abril.

3.ª – Porque foi exactamente em frente ao Cristo Rei, mas na margem direita do rio, no Cais de Alcântara, que zarpou em 22 de Dezembro de 1971, (+/-) trinta e sete anos antes, o N/M Niassa, rumo à Guiné (Bissau), transportando o contingente constituinte do Batalhão de Artilharia 3873, formado no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 (RASP 2), em Vila Nova de Gaia (Serra do Pilar), com a sua CCS e mais as suas três companhias operacionais: 3872; 3873 e 3874 (a nossa, com destino ao Xime).



Foto de família,  37 anos depois do embarque para o CTIGuiné


No sentido de concretizar a intenção expressa no ponto II do programa, que previa uma visita guiada ao Museu da Cidade, onde estava patente uma exposição relacionada com a história sobre as origens e o processo de construção do monumento a Cristo Rei (1949-1959), da responsabilidade da Câmara Municipal de Almada, tomámos a iniciativa de escrever uma carta ao Vereador do Pelouro de Desenvolvimento Social, solicitando apoio, nos seguintes termos:

Ofício remetido à C.M.A.

Caríssimo Vereador Eng.º António Matos,

Os meus melhores cumprimentos.

Os ex-combatentes da Companhia de Artilharia 3494 que serviram na Guiné, entre 1971/1974, têm por tradição organizarem um almoço-convívio anual, a realizar em distintas localidades do Norte e Centro do País.

Para a confraternização de 2008 - a XXIII - foi escolhida a Cidade de Almada e delegada a responsabilidade da sua organização no ex-militar residente nessa localidade.

Em conformidade com essa decisão, coube-me a tarefa de conceber um pequeno programa social de modo a ocupar um pouco do seu tempo livre dando a conhecer algo do património histórico da Cidade.

Considerando que o Cristo Rei foi o local escolhido para a concentração da comitiva, pela facilidade de acesso e pelo seu enquadramento paisagístico sobre a capital, e uma vez que está patente uma exposição, no Museu da Cidade, sobre o tema «Almada e o Cristo Rei – 1949/1959», faz todo o sentido, dizemos nós, completar o nosso programa com a visita guiada a esse testemunho histórico.

Face ao exposto, serve o presente para solicitar os bons ofícios da Autarquia, autorizando a realização da visita, assim como do enquadramento teórico por parte dos competentes técnicos dos Serviços do Museu.

Uma vez que só hoje ficou concluído o processo de inscrição no almoço, o número de elementos presentes cifra-se em 83 (oitenta e três), aos quais poderia ser interessante a oferta de alguns materiais de representação.

Para os devidos efeitos, junta-se um exemplar do programa do evento, que encerrará no Hotel da Costa da Caparica com a realização do almoço/convívio, para o qual está desde já convidado.

Na qualidade de organizador e representante da CART 3494, cumpre-me agradecer, antecipadamente, toda a atenção e apoios prestados.

Atentamente, J.A.

VI – AS IMAGENS

As imagens que seguidamente se apresentam são registos captados nos diferentes contextos do convívio: Cristo Rei, Museu da Cidade de Almada e Hotel Costa da Caparica.

– CRISTO REI

As imagens recolhidas no Complexo do Santuário Nacional do Cristo Rei dão conta das diferentes emoções e afectos partilhados durante aproximadamente uma hora, por efeito da objectiva ter disparado em várias direcções e de forma aleatória. Desde pequenos grupos organizados ad hoc, passando por fotos familiares mais ou menos românticas, até camaradas em amena cavaqueira ou em marcha descontraída, temos de tudo um pouco, não fazendo, então, qualquer sentido adjectivar.

Em cada uma delas os sinais são, inquestionavelmente, esclarecedores. 





– MUSEU DA CIDADE


Chegados ao Museu da Cidade de Almada, fomos recebidos pelo Senhor Vereador do Pelouro de Desenvolvimento Social, Eng.º António Matos, que, em seu nome e em nome do executivo autárquico, dirigiu uma saudação amiga de boas vindas aos ex-militares e a seus familiares.

Numa curta intervenção, porque não viveu a experiência ultramarina, questionou-se sobre o modo como cada um dos seus compatriotas ali presentes viveu o seu dia-a-dia no contexto da guerra de guerrilha, das superações que obrigatoriamente tiveram de ocorrer, das privações contabilizadas e experienciadas e da ausência física dos seus familiares mais próximos, compensada apenas com a leitura de algumas linhas que lhes chegavam de forma mais ou menos regular, sendo a escrita o principal canal de comunicação então existente.

De seguida, apresentou os diferentes projectos autárquicos no âmbito da cultura, da educação e do desporto, em particular das actividades do Museu e do seu papel na área educativa, por via da organização de diferentes exposições temáticas relacionadas com o importante espólio histórico existente na área do Município, mobilizando a comunidade escolar através de visitas guiadas, na qual se incluía, justamente, a exposição sobre «Almada e o Cristo Rei – 1949/1959».

Concluída a sua intervenção, aproveitamos a oportunidade que agradecer a forma hospitaleira como fomos recebidos, referindo-lhe, em síntese, um pouco da história colectiva da CART 3494.

Antes do início da visita guiada a cargo dos técnicos do Museu, organizada em exclusivo para nós, fomos convidados a tomar um café reforçado com buffet de pastelaria.




– HOTEL COSTA DA CAPARICA


Depois do “aquecimento” no Cristo Rei e do “banho” de História no Museu da Cidade, eis que a comitiva chega completa ao Hotel da Costa da Caparica para cumprir o último acto do programa: o sempre tão desejado Almoço /Convívio, concretizando-se, deste modo, a promessa do ano anterior, ou seja, tentar avançar um pouco mais sobre o que não houve tempo para dizer, o que ainda não se contou ou dar-se início à narrativa de outras (novas) histórias que ainda não são do domínio colectivo.




Porque almoço/convívio não é almoço sem música… no final do banquete o nosso Grupo Musical Privativo (Jesus, Correia, Dias & Cª.) fez a sua aparição/ actuação e, com a competência que se lhe reconhece, deu mais vida à vida, fazendo-nos recordar outros tempos, também eles muito difíceis… .


Agora que cheguei ao fim de mais uma história, para mais tarde recordar, espero que tenham gostado de saber outros factos e imagens do Encontro de 2008.

Boas Férias e um forte abraço para todos, com muita saúde e energia.

Um forte abraço para todos os Fantasmas do Xime.

Os meus melhores cumprimentos.

Jorge Alves Araújo, 
ex-Furriel Mil Op Esp/ Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974)
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:



Guiné 63/74 - P11832: Notas de leitura (499): A "Guiné" na literatura portuguesa de viagens (séc. XV-XVII), por Julião Soares Sousa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Março de 2013:

Queridos amigos,
Felizmente que fui bafejado pela solicitude do historiador Julião Soares Sousa, teve a gentileza de me enviar uma cópia da sua dissertação de mestrado, trabalho muito sério e rigoroso, ele espera em breve dá-lo à estampa, como merece.
Fica-nos a incógnita das teses de mestrado e doutoramento que jazem nas estantes da bibliotecas de instituições universitárias de toda a sorte, qualquer dia alguém lembra-se de fazer uma tese de doutoramento sobre este riquíssimo acervo que acumula pó em tais estantes…
Quem sabe se não estarão reservadas grandes surpresas…

Um abraço do
Mário


A «Guiné» na literatura portuguesa de viagens (séc. XV-XVII)

Beja Santos

Julião Soares Sousa, nome cimeiro da historiografia luso-guineense, teve a amabilidade de me oferecer cópia da sua dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Logo me alertou para o facto de se tratar de documento que ele está interessado em rever e beneficiar e dá-lo à estampa como livro, convindo pois encarar este documento à luz da sua provisoriedade.

Pegando nos clássicos da literatura de viagens como André Álvares d’Almada, Luís de Cadamosto, Francisco de Lemos Coelho, André Donelha, André de Faro, Valentim Fernandes, Diogo Gomes, Fernão Guerreiro, Duarte Pacheco Pereira, Gomes Eanes de Azurara, isto sem esquecer o Padre Manuel Álvares, a Monumenta Missionária Africana do Padre António Brásio, entre outros, dá-nos imagens vivacíssimas do espaço e dos homens, interpela o sagrado e o espetáculo no poder real, de acordo com relatos por vezes de uma rara beleza, detalha os diferentes instrumentos do Governo (aparelhos administrativo, militar e judicial) com tal pormenor que o leitor se entristece, tal a curiosidade em querer saber mais…

A literatura de viagens de Quatrocentos assenta na necessidade de obter informações: quem controlava comercialmente as ricas regiões auríferas do Sudão, qual a natureza do poderio mouro, já que a Coroa pretendia impedir a expansão dos mouros na “terra dos negros”, o mesmo é dizer que se apostava num esforço de missionação que travasse a islamização; acresce que a Coroa tinha em mente estabelecer relações com os reinos do interior de África, não havia condições para instalar assentamentos de grande porte, não havia população suficiente para tal, desejavam-se relações pacíficas para que o comércio não ficasse turbulento ou sujeito a razias para as quais não havia resposta.

Continua sem se saber a origem do topónimo “Guiné” e qual o seu verdadeiro âmbito geográfico, se bem que exista hoje entendimento que o termo designava um vasto espaço geográfico que ia do Cabo Não aos confins de África, com o tempo fixou-se no limite superior do rio Senegal. Sendo o significado de Guiné “terra dos negros”, o autor escolhe como âmbito geográfico a região entre o Senegal e os baixos de Santa Ana, em plena Serra Leoa. E recorda que, segundo João de Barros, o termo deriva de guinauhá, expressão berbere para designar negros ou terra calcinante. Conhecido o significado do termo Guiné, os portugueses em contacto com gente de cor negra alteraram o âmbito geográfico do topónimo, fixando novo limite. Cita Duarte Pacheco Pereira: “aquy [rio Senegal] he o principio dos ethiopios & homens negros…”, portanto Guiné ou Etiópia inferior ou ocidental.

Este âmbito geográfico foi conhecendo alterações entre os séculos XV e XVII, mercê de vários fatores, como sejam: o falhanço das tentativas de penetração pelo rio Senegal, o que dificultou a aproximação ao país do ouro, principalmente de Bambuk; a inexistência de rios suficientemente navegáveis muitas léguas no espaço entre o Senegal e o Gâmbia; a incapacidade em manter o monopólio devido à concorrência dos holandeses, franceses e ingleses, cujas naus frequentavam com alguma assiduidade toda a região do Senegal. A despeito destas dificuldades, há dados fiáveis sobre a presença portuguesa no comércio da região, aqui se resgatavam escravos, 10 ou 12 por um cavalo, como relatou Duarte Pacheco Pereira no princípio do século XVI; André de Donelha registará o mesmo panorama quanto ao comércio do rio da Gâmbia e S. Domingos, resgatavam-se escravos mas também cera e marfim por vinho, panos, algodão ou cavalos. Com a intensificação do comércio negreiro, os portugueses passaram a comercializar os seus produtos entre o rio Casamansa e o rio Camponi, âmbito geográfico que virá a ser designado por rios da Guiné.

E vêm as descrições à volta desta multidão de povos, uma enormidade de reinos e nações, alvo preferencial desta literatura de viagens. Logo na segunda metade do século XIV, Diogo Gomes escrevia que a Guiné era povoada por uma multidão de povos que custa a acreditar. Segue-se a descrição minuciosa destes reinos, o seu regime alimentar, a indumentária, as tatuagens, as indústrias, o mercadejar, a natureza da habitação, as práticas religiosas, a disposição espacial destes povos, incluindo os Bijagós. A sucessão e simbologia do poder real é também objeto da atenção destes escritores de viagens. Por exemplo, a propósito do regime de sucessão foram identificados pelo menos três sistemas: o sistema matrilinear, em que entravam na sucessão sobrinhos, filhos da irmã mais velha; sucessão por eleição, e regime rotativo.

Esta Guiné encontrava-se, no período em análise, politicamente organiza em numerosos reinos e senhorios. André Álvares de Almada escrevia, nos finais do século XVI, que pelo menos no reino da Gâmbia em “cada 20 léguas havia um rei sujeito a outro denominado Farões/Farins, título de maior dignidade que rei”. Nos reinos da Senegâmbia havia o costume de contratar djidius ou judeus para com as suas canções animarem as guerras como todo o efeito psicológico que isso podia causar nas hostes. E também os exércitos são descritos, bem como os mercenários e os comerciantes, estes reinos irão conhecer uma profunda desintegração no século XVII, o que vai levar à diminuição substancial dos efetivos militares. Os escritores referem uma arma temível, as flechas envenenadas com veneno de origem vegetal (provavelmente o acónico), eram as flechas “ervadas”. A guerra não se fazia só com armas e em terra, o mar e o leito dos rios foram palco de reencontros militares, frotas de embarcações feitas a partir de troncos de grandes árvores (poilões) estas embarcações ficaram conhecidas na literatura de viagens por almadias, algumas havia que tinham capacidade para transportar de 100 a 120 homens de guerra.

Julião Soares Sousa [foto à direita] observa que esta diversidade de povos constituía uma unidade civilizacional que se refletia a vários níveis: na alimentação feita à base de milho, arroz, leguminosas e carne de diferentes animais a que se juntava o vinho de palma, a bebida preferida; o vestuário contribuía para marcar a profunda diferenciação social entre a classe dirigente e os de baixa condição; é no domínio do poder que melhor se espelha a unidade civilizacional, aqui se incluindo a sacralidade e o espetáculo. Os exércitos destes povos começaram por utilizar armas de madeira, mas nos finais do século XVI já há notícia de armas de fogo, o que significa que se fez comércio com portugueses e os seus concorrentes. O uso da cavalaria na região da Senegâmbia também ficou registado. Os reis assumiam um papel de juízos supremos, o aparelho judiciário vergava-se à sua vontade.

Como conclusão maior, escreve o autor, “do ponto de vista sincrónico e diacrónico, pode-se concluir que não há alterações dignas de registo no espaço estudado, séculos XV a XVII”.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11814: Notas de leitura (498): Guineidade e Africanidade, por Leopoldo Amado (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11831: Efemérides (134): Comemorações do 205º aniversário da Batalha do Vimeiro (Eduardo Ferreira)


1- O nosso Camarada Eduardo Jorge Ferreira, ex-Alf Mil da Polícia Aérea (BA12, 1973/74) enviou-nos a seguinte mensagem.

 Comemorações do 205º aniversário da Batalha do Vimeiro


Caro Luís,

Envio o programa das Comemorações deste ano que vão ter lugar no último fim-de-semana deste mês de julho. 



Um belo pretexto para uma visita ao Vimeiro que a par do programa possui outros encantos nomeadamente a paisagem, com o mar tão perto, e a boa gastronomia da região.



Para aguçar o apetite seguem umas fotos da última recriação da batalha realizada em 2008. Nunca será demais relembrar que a Batalha do Vimeiro constituiu a primeira derrota em terra do exército de Napoleão e pôs fim à primeira invasão francesa do nosso Portugal.



Farás com esta notícia e os seus anexos o que entenderes nomeadamente dar dela conhecimento aos nossos camarigos a quem saúdo.


Para ti uma boa viagem a Luanda e boas férias.

Abraço
Eduardo Jorge Ferreira

Guiné 63/74 - P11830: Agenda cultural (279): O grande Kimi Djabaté, músico de Tabatô e do Mundo, dia 26 de julho, 6ª feira, às 22h30, na Casa da Música, Porto... A não perder, cambada!... O nosso blogue apoia a música da Guiné-Bissau!


Página na Net da Casa da Música, Porto. amunciando o concerto do grande Kimi Djabaté, no dia 26 de julho, às 22h30, no Palco Super Bock. A não perder, malta do Grande Porto & Arredores!... Ver aqui uma atuação ao vivo,  no B.Leza, em Lisboa, em 2/9/2011 (Vídeo de 3' 44'',  carregado pelo Teatro do Bairro)...

Recorde-se que o Kimi Djabé é um músico nascido e crescido nesse grande viveiro de talentos que é a tabanca de Tabató. A nossa Tabanca Grande apoia os músicos da Guiné-Bissau. Por favor, divulguem. E obrigado ao "passa-palavra" da minha jovem amiga Inês Salselas, do Porto, recém doutorada, por uma universidade catalã, com a tese  "Explorando as interações entre música e linguagem durante o início do desenvolvimento da cognição musical. Uma abordagem de modelagem computacional"... (LG)


Capa do álbum Karam [Educação, em mandinga], de Kimi Djabaté. Julho de 2009. Editora: Cumbancha. Cortesia de Cumbancha


Kimi Djabaté é um músico ligado à tradição mandinga da Guiné Bissau. Na voz, na guitarra e no balafon, canta a realidade social do seu povo e deixa-se influenciar por géneros como o gumbé, o afro-beat e a morna, além do jazz e blues. 

Após Teriké (2005), o seu segundo álbum Karam (2009) alcançou o 2º lugar na World Music Charts Europe. (Fonte: Casa da Música).
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de jukho de 2013 >  Guiné 63/74 - P11826: Agenda cultural (278): Estreia hoje, nos cinemas, em Lisboa (Nimas) e Porto (Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo Alegre), o filme "A batalha de Tabatô", de João Viana. Os Super Camarimba, banda afromandinga do nosso amigo Mamadu Baio, atuam hoje no Espaço Nimas, em Lisboa