quinta-feira, 11 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11374: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (2): Respostas de José Ferraz (EUA), Tony Borié (EUA), Eduardo Estrela e Manuel Reis

1. Continuação da publicação das respostas ao "questionário aos leitores" do blogue (*),l no âmbito das comemorações do nosso 9º aniversário. Aqui fica, a seguir,  o guião com as "15 perguntinhas ao leitor" que foram enviadas a todo o pessoal que se senta debaixo do poilão da Tabanca Grande.  A mensagem, por nós enviada, sempre em BCC (como manda as boas regras de segurança na Net), foi devolvida nos seguintes (por desatualização do endereço de email): Henrique Castro, Joaquim Fernandes, José Belo, Nuno Rubim, Ricardo Figueiredo, Rogério Ferreira e Sérgio Pereira.


(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como e através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando ?

(4) Com que regularidade vês/lês o blogue ? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)

(6) Conheces também a nossa página no Facebook ? (Tabanca Grande Luís Graça)

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ?

(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer

Obrigado pela tua resposta, que será publicada, com direito a foto. O editor, Luís Graça.






Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Meninos no banho... Foto do álbum do Arlindo T. Roda ex-fur mil at inf, 3º Gr Comb da CCAÇ 12.

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados.



2.4. José Ferraz  [de Carvalho]ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746 (Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70)]

(1/2) Se bem me lembro descobri o "nosso" blogue por acidente quando, navegando a Internet sobre assuntos relacionados com a guerra colonial, acabei convosco, desde ai visito-o diariamente porque me ajuda a desenferrujar as armadilhas da minha mente.

(3) Sou a membro 527 (salvo erro), tendo "assentado praça" na Tabanca Grande em Novembro de 2011.
(4) Visito o blogue diariamente.

(5) Infelizmente através de todos estes anos, nas minhas andanças pelos "States",  perdi todas as recordações que tinha do meu tempo na Guiné.

(6) Conheço a página no Facebook mas não a utilizo.

(7) Blogue,  maiormente.

(8/9) Nã posso responder por falta de opinião sobre a página no Facebook. No blogue o que gosto mais e ler as impressõees dos demais camaradas quer concorde ou discorde delas, porque como me dizia um professor de filosofia: "A troca de impressões entre pessoas de diversas idades e diversos pontos de vista eé intelectualmente um estimulante". O que lamento no blogue é a pontificação de alguns dos autores nos seus postes que o utilizam para dissertar em assuntos que não têm nada que ver com o espírito e palavra do blogue. Por vezes não posso evitar pensar que alguns participantes aparentemente esgotaram as suas memórias sobre o que é pertinente para o espirito deste e escrevem postes que a meu ver são supérfulos e como tal perdem valor nesta tribuna.

(10) Até hoje nunca tive dificuldade em entrar no blogue.

(11) O blogue representa para mim essencialmente uma viagem espiritual através da minha vida e como certos efeitos impactarão o que me considero ser hoje, bem ou mal e uma conclusão muito pessoal.

(12/13) Infelizmente com com muita pena pessoal nunca tive a oportunidade de assistir a nenhum dos encontros da Tabanca.

(14) Como tudo na vida eventualmente o blogue perderá a sua, por mil e uma justificações, mas até lá, força e para a frente. Com certa audácia,  se me é permitido comentar nesta pergunta o mero facto que é proposta,  poderá ser um sinal do inevitável princípio do fim. O que me dará muitíssima pena.

(15) Sugestões serão como fazer ver a audiência do blogue a importância de relacionarem os seus postes com o tema da nossa presença na Guiné e não em outros temas, de modo a que as novas geraçõees deixem de cometer os mesmos erros da nossa. Como diz George Santyanna, " aqueles que se esquecem dos erros cometidas no passado serão obrigados a repeti-los no futuro"

2.5. Tony Borié [ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66),

(1) Quando é que descobri o blogue ? Talvez há ano e meio.

(2) Como e através de quem ?  Pesquisando no Google sobre coisas da Guiné.

(3) Sou membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) há talvez um ano.

(4)  Visito o blogue  diriamente, mesmo em viagem.

(5)  Tenho mandado material para o blogue , e está tudo OK comigo.

(6/7) Não, não conheço a nossa página no Facebook.

 (8) O que gosto mais do Blogue...são as istórias passadas por antigos combatentes, contando a vida que levaram em zona de guerra.

(9) O que gosto menos do Blogue... Fotos mostrando guerrilheiros ou militares feridos ou mortos em combate.

(10) Não tenho dificuldades em aceder ao blogue.

(11) Para mim, o blogue representa preciosa informação, lembrando factos verdadeiros.

(12/13)  Nunca participei em anteriores encontros, e como estou um pouco distante, talvez não seja possível ir, mas continuo na expectativa.

(14)  Com certeza que sim, por muitos e longos anos, os meus netos, ainda vão escrever no blogue.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários: Delegações do blogue nos cinco continentes, mostrando histórias e factos de descendentes de antigos combatentes da Guiné, que agora servem as forças armadas de outros países, e em outros continentes.


2.6. Eduardo Estrela [ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

Amigo, companheiro e camarada Luís Graça!

Há alguns anos atrás sentei-me ao computador e coloquei CCaç 14 no Google. Foi dessa forma que descobri o Blogue.

Sou efectivamente membro da Tabanca Grande desde o início de 2012.

Duas a três vezes por mês vou ao Blogue e, verdade se diga, gostava de participar com mais frequência. Não o faço porque o computador é de secretária, está em Faro e nos últimos tempos tenho estado entretido a conviver com a natureza, em Cacela, onde a minha mulher tem uma casa velha que herdou da avó. 
Não tenho Facebook, pelo que é no Blogue que contacto com os textos dos meus camaradas de infortúnio.

Claro que o Blogue tem garra e força anímica para continuar, até porque há,  pela certa, [ainda]muitas histórias para serem contadas.

Ultimamente tenho notado alguma lentidão no acesso ao Blogue.

Em ti personifico o abraço a todos os companheiros da luta que travámos e que continuamos a travar, nesta sociedade cada vez mais esquecida das palavras que são ou deveriam ser a essência da convivência humana. Solidariedade, Amizade, Respeito, Fraternidade e Amor.


2.7. Manuel [Augusto] Reis  [, ex-Alf Mil Cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974]

Julgo ter descoberto o Blogue em 2006 ou 2008, não consigo precisar.Tive conhecimento através do Coronel Coutinho e Lima que referiu que ele e a CCAV 8350 estavam a ser alvo de críticas contundentes, sem correspondência com a realidade ocorrida.

Sou membro da Tabanca Grande desde o momento em que tive conhecimento da sua existência.

Procuro visitar a página diariamente, muitas vezes só para verificar se é dia de aniversário de algum camarada e felicitá-lo pelo evento. O tempo nem sempre dá para mais.

A ida ao Facebook é idêntica à ida ao Blogue, em termos de tempo de intervenção/ocupação.

Gostaria de ser mais interveniente no Blogue, mas neste momento evito a controvérsia e a abordagem de assuntos melindrosos,  estão fora de hipótese. Em dois anos de guerra, no contexto em que foi vivida, obrigaram-me a ter contactos com imensos camaradas, em diversos locais, enriquecendo-me em termos de conhecimento sobre o evoluir, quase diário, da guerra na Guiné. Agora limito-me a emitir alguns comentários.

As vivências dos camaradas, quer em situação de guerra, quer em ocorrências de diversão e o aparecimento de vários camaradas, cuja localização desconhecia, prendem a minha curiosidade. No Facebook limito-me a emitir a minha opinião sobre algum assunto que considere interessante e oportuno.

Não sinto qualquer dificuldade em aceder ao Blogue, neste portátil, mas já me apercebi que em alguns portáteis isso não é fácil.

O que mais me desagrada no Blogue são as discussões estéreis, por vezes insultuosas, sem argumentação consistente, utilizando uma linguagem agressiva, sem respeito por camaradas que também vivenciaram a guerra. A discussão podia fazer-se a outro nível, sem perda de qualidade. Nem sempre fui um exemplo daquilo que refiro, também ia na onda, principalmente nas minhas primeiras intervenções. Aprendi com o tempo a gerir este tipo de situações e a moderar as minhas intervenções.

Só por impossibilidade, como vai suceder este ano, é que não estive presente no convívio da Tabanca Grande. Lamento o facto, porque é uma boa oportunidade para encontrarmos camaradas que só de ano a ano vemos.

A nossa página no Facebook é uma óptima divulgação da existência de uma guerra, que muitas gerações desconhecem, em muitos países. Ocorre-me a intervenção de um cidadão brasileiro, escandalizado pelo seu desconhecimento da guerra colonial.

O Blogue, com o esgotar de muitos temas, perdeu um pouco de fôlego, mas continua com pernas para andar, enquanto a equipa editorial se mostrar empenhada.

Um abraço para toda a equipa do Blogue de modo especial para o Luís e o Carlos.

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Guiné 63/74 - P11373: Blogpoesia (332): Guiné... Voltarei lá um dia? (Magalhães Ribeiro)




Guiné-Bissau > Cumeré > Antigo quartel > Parada > 11/1/2012 > "Visita relâmpago, com uns amigos, da parte da manhã, ao quartel do Cumeré com passagem por Nhacra, onde fomos muito bem recebidos pelo senhor comandante que nos mostrou a unidade e que me autorizou a tirar algumas fotografias. O Cumeré é um local conhecido de muitos camaradas nossos, porque era ali que geralmente o senhor general Spínola dava as boas vindas às tropas que chegavam à Guiné e fazia as suas habituais exortações patrióticas! Da parte da tarde foram feitas as despedidas, arrumar a mala, descansar um pouco, porque o voo de regresso saiu de Bissau pelas 02h30 da madrugada, aterrando em Lisboa cerca das 06h30 do dia 12 de Janeiro". Foto (e legenda) do nosso camarada José Francisco Robalo Borrego, ten cor ref que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 (BAC 7) de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72),

Foto (e legenda): © José Francisco Robalo Borrego (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

Cancioneiro de Mansoa: Guiné, do Cumeré a Brá (*)


por Eduardo Magalhães Ribeiro,
fur mil op esp, 
CCS/BCAÇ  4612/74
(Mansoa, 1974)


Cartoon: © Mário Miguéis da Silva (2010). 

Todos os direitos reservados







Os perigos eram muitos mas… lá os íamos dobrando…
O maior inimigo era o tempo... interminável...
Cada dia parecia-nos um longo ano bissexto…
Mas o pior, eram as saudades, algo inenarrável .



O avião aterra lentamente,
Lá fora vejo... uma tabanca?
Não!, aquilo, ali, era Bissau,
O aeroporto de Bissalanca!

Desci os degraus e olhei em volta,
Terra estranha de tom encarnado,
Paisagem monótona e agreste,
Céu cinzento, todo enevoado.

O ar quente e muito húmido
Estava sereno e agradável,
Era julho de setenta e quatro,
O ambiente turvo, insondável.

Embarcamos rumo ao Cumeré
Numa coluna de viaturas,
E, pelo caminho, tudo igual!
Diferentes, só as criaturas…

Pretos e pretas com o peito ao léu,
Trouxas à cabeça e filhos em redor;
Aqui, e além, malta fardada
Ao longe, o rufar de um tambor.

Encravado na ruidosa Berliet,
Observei curioso aquela terra
E imaginei os sacrifícios
Daqueles onze anos de guerra.

Os múltiplos cursos de água,
A vegetação densa e rasteira,
E a bolanha, negra e insalubre!
Qual deles a maior ratoeira?

Futa-fulas, balantas, mandingas…
Como diferenciar o inimigo?
Papéis, futas, manjacos, bijagós…
Serão os fulas, o maior perigo?


Mas se confusas eram as etnias,
Maior era a divisão com as religiões
E, assim, uns milhares de negros
Pareciam-me demasiados milhões.

Animistas, muçulmanos e cristãos,
Dos quais alguns eram senegaleses;
Pelo meio, muitos cabo-verdianos,
Além de sírios e libaneses!

Os abutres a esvoaçar por cima,
Os mosquitos na pele a picar, e…
Os répteis por ali à nossa volta,
Não aliviavam o mal-estar.

As temíveis doenças tropicais,
O paludismo tão debilitante,
As disenterias e as hepatites,
Qual delas a mais fulminante?

Enfim, surge um aglomerado
De pavilhões pré-fabricados,
Cumeré, dizia uma placa,
Havia mato por todos os lados.

Após alojado e alimentado,
Acerquei-me da cerca de arame
E, pelo que vi, constatei arrepiado:
Isto aqui era o nosso Vietname.

Dei umas voltas pelas tabancas
Naqueles dias de aclimatação,
Os velhinhos gozavam e diziam:
- Viv’à liberdade de circulação!

E, continuavam com as bocas:
- Ó periquitos, que por aí andais.
Aí fora, há umas semanas atrás,
O turra comia-vos, tal com’estais!


Aqueles velhinhos enrugados,
Tez enegrecida e voz de bagaço,
De idade, vinte e poucos anos,
Pareciam talhados de puro aço.

Um dia, novo destino: Mansoa!
Era a hora de rendermos o Batalhão.
Depois... entregar tudo ao PAIGC,
Foi a nossa derradeira missão!

Sacos às costas, novo local: Brá!
Pr’ó Batalhão de Engenharia,
Lá se passaram mais uns dias, e…
O regresso, breve,  acontecia.

Já a bordo do Uíge medito:

África atrai de modo anormal.
Aventura?... Novos horizontes?…
Julguei que, saudades, só de Portugal!


O povo, os seus costumes, a terra ?
A mística atracção africana?
Tanto se fala dela, ninguém a vê!
Descrevê-la? Talvez p’ra semana!

Caramba! Mas se era assim tão mau!

Para quê, falar tanto, naquela Guiné?
Porquê saudades?... Voltarei ali um dia?!
Doença, tara... ou que raio isto é?!


[Fixação de texto: L.G.: O autor, MR, escreve segundo a ortografia antiga]

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Notas do editor:

(*) Capa dos Cadernos do Magalhães Ribeiro, o "ranger" mais conhecido da Guiné... O nosso querido "pira de Mansoa"... E nosso coeditor...

Pode ler-se: (i): Em Lamego... ser ranger; (ii) Em Tomar... participar no 25 de Abril; (iii) Em Mansoa, Guiné... arriar a última Bandeira.

Foto: © Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados.


Nestes cadernos, de 47 páginas, onde o Eduardo conta, em verso, as peripécias da sua atribulada vida militar. Foram já publicados na I Série do nosso Blogue, sob a série Cancioneiro de Mansoa, por analogia com o Cancioneiro do Niassa.  

Destes versos singelos, em jeito de romance popular, se pode dizer, em traços breves, que estão  imbuídos da ideologia ou da mística ranger, não são uma obra colectiva, são escritos por um dos últimos guerreiros do Império e, para mais, ao longo dos anos que se sucederam ao 25 de Abril de 1974 em que o autor também participou...  

Enfim, são versos ditados pela nostalgia do império perdido e pela afirmação do valor e do patriotismo do soldado português,  mas também exaltam os valores da camaradagem que cultivámos no TO da Guiné e que procuramos cultivar no nosso blogue. Daí também fazer sentido reeditar alguns destes versos, já esquecidos,  no contexto das comemorações do 9º aniversário do nosso blogue.  O Eduardo, de resto, merece. E é de lembrar que ele ainda está no ativo, na EDP, calcorreando as barragens deste país, de norte a sul...

(**) Último poste da série > 31 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11332: Blogpoesia (332): Santa Páscoa (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P11372: Parabéns a você (561): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav da BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil do BCAÇ 2885 e CAOP 1 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo do BCAÇ 4512/72 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor:

Último poste da série de 9 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11362: Parabéns a você (560): Jorge Canhão, ex-Fur Mil do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74) e Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref, ex-Ten Pilav (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11371: Convívios (512): XXVI Encontro do pessoal da CCAÇ 2382, dia 4 de Maio de 2013 em Vila de Rei e XX Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 2912, dia 1 de Junho de 2013 em Esposende (José Manuel Cancela / António Tavares)



A pedido do nosso camarada José Manuel Cancela (ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) estamos a dar conhecimento do XXVI Encontro/Convívio do pessoal da sua Unidade no dia 4 de Maio de 2013 em Vila de Rei, conforme programa abaixo:





************

 

2. A pedido do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), estamos a dar notícia do XX Convívio da sua Unidade, a levar a efeito no dia 1 de Junho de 2013 em Esposende conforme Convite abaixo.





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Nota do editor:

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11354: Convívios (511): Divulgação do Almoço/Convívio da CCAV 1483, 1965/1967, dia 25 de Maio de 2013, em Palmela (Albino Santos)

Guiné 63/74 - P11370: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (1): As primeiras respostas: José Colaço, Jorge Teixeira (Portojo) e Mário Pinto



Crachá da nossa Tabanca Grande... Infografia: © Miguel Pessoa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2013)


1. Dirigimos anteontem, dia 9, através do correio interno da Tabanca Grande, um pedido que é também desafio aos nossos amigos e camaradas: a resposta a algumas questões sobre o nosso blogue, que vai fazer 9 anos de existência, em 23 deste mês. Responder é uma forma (bonita e motivadora, para nós, editores e colaboradores) de associar os nossos grã-tabanqueiros às... "comemorações". Aqui vão as perguntinhas... (O questionário também pode ser respondido pelos  amigos e camaradas que nos leem mas que não estão formalmente registados na Tabanca Grande.

15 perguntinhas ao leitor:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como e através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando ?

(4) Com que regularidade vês/lês o blogue ? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)

(6) Conheces também a nossa página no Facebook ? (Tabanca Grande Luís Graça)

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ?

(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer

Obrigado pela tua resposta,. que será publicada, com direito a foto. O editor, Luís Graça


2. Publicamos as primeiras respostas que nos chegaram


2.1. José Colaço [, ex-Soldado Trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65]

Caro amigo Luís Graça.

Modéstia à parte vou tentar dar o meu contributo porque tu, o Carlos e agora o Eduardo sem esquecer o nosso (jubilado) Briote merecem tudo o que lhes possa dispensar em atenção e posto isto passamos ao questionário.

(i) Em 2008.

(2) Como a Guiné tem sido fértil em noticias desde os anos em que nós saímos de lá,  primeiro devido à guerra,  depois com os assassínios sem culpa formada, a seguir os golpes de estado e como há sempre qualquer coisa que fica e vai daí o meu interesse comecei a pesquisar no Google frases com a palavra Guiné e quando dei por mim estava a ler o blogueforanadaevaotres do Luís Graça.

 (3) Desde 1 de Junho de 2008.

 (4) Quando não estou impedido por motivos de força maior,  diariamente e por vezes mais que uma vez.

(5) Ultimamente tenho ficado mais pelo pequeno comentário e assim comunico que vou teimando em estar vivo.

(6) Sim [, também conheço a página do Facebook].

(7) Não. Vou muito mais vezes ao blogue.

(8) Do blogue,  as histórias vividas que os camaradas contam por exemplo a tragédia no rio Corubal, a retirada de Guileje e tantas mais que se não fosse o que os nossos camaradas escreveram e o blogue publicou nunca fariam parte dos nossos conhecimentos porque seriam enterradas, cremadas com o seu narrador. Do Facebook,  visito-o porque é um espaço onde o pessoal dá largas à sua imaginação mas para mim quanto a crédito fica a milhas do blogue.

(9) No blogue: Dos ataques verbais por vezes um pouco agressivos, no que ultimamente se tem notado uma grande sensibilidade para melhor em toda a tertúlia. No facebook é mais público e como nunca fui de me exibir (passe a expressão) daí a razão da minha simpatia pelo blogue.

 (10) Não, [não tenho sentido dificuldades d aceder ao blogue]

 (11) O blogue para mim foi aquela lufada de ar fresco sobre aqueles anos desde 1963 até aos dias de hoje. A página do Facebook é mais um espaço de diversão.

(12/13)  A resposta a esta questão,  uma vez que me é difícil responder,  fica para encerrar o questionário.

(14)  Acho. Sei que enquanto esses dois timoneiros,  tu e o Carlos,  se mantiverem ao leme da piroga o blogue continuará por tempo indeterminado.

(15) Outras criticas, sugestões, comentários:

Se já participei ? Não. Se estou a pensar ir ? Não. Com estes dois nãos,  que razão me assiste para fazer criticas, sugestões ou comentários?!

2.2. Jorge Teixeira (Portojo)  [ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70]
(1) Nan Net, já não me lembro onde enconteri a referência

(2) Não me responderam na primeira inscriç~
ao. Talvez um ano depois, o amigo Victor Condeço falçou-me dele e contei-lhe a história. A partir daí ele meteu a cunha e entrei de serviço.

(3) Não me lem,bro. Talvez há uns 6 anos.

(4) [Visito o blogue] de tempos a tempos.

(5) Ultimamente não tenho mandado nada a não ser uns comentários de vez em quando.

(6) [A nossa página no Facebook] descobri-a há dias.

 (7) [Vou mais vezes ao] blogue

(8) [O que gosto mais do Blogue:] De histórias bem contadas. Isto é, pdoem ser romanceadas, tipo Zé Ferreira, mas não com mentiras como algumas que li.  E do Facebook ?

(9) [O que gosto menos do Blogue:] Mentiras e histórias mal contadas.

(10) [Dificuldades no acesso:] DE vez em quando.

(11)  O blogue representou coisas boas, até reencontrar amigos e conhecer outros. Isso foi o mais importante.

(12/13) Não. E não penso ir a esse [o VIII Encontro nacuional].

(14) Claro [, que o blogue ainda têm fôlego... para continuar]

(15) Outras críticas, sugestões, comentários:  Nenhumas.

2.3. Mário [Gualter Rodrigues]  Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519,  "Os Morcegos de Mampatá"(Buba, Aldeia Formosa eMampatá - 1969/71)]

Caro Luís Graça

Dentro das possibilidades vou tentar responder o mais correcto possível ao teu questionário.


(1)  Descobri o Blogue há cerca de 3 anos e picos......

(2) Através de pesquisa, aquando das declarações controversas do General Almeida Bruno, escrevi um comentário e ainda não era membro depois fui convidado pelo nosso editor Magalhães Ribeiro.

(3)  Creio que desde Outubro de 2009.

(4) Já houve tempos que via diariamente e ás vezes que uma vez, agora vejo dia sim dia não.......

(5) Atualmente creio ter esgotado todo o material que tinha para postar no Blogue pois já lá vão 40 e tal histórias.

(6) Conheço bem [o Facebook,]  vou lá regularmente.

(7) Exacto, estou muitas horas ligado á Net e como tenho várias páginas no Facebook é natural que vá lá mais vezes do que à  página da Tabanca Grande........

(8)  Creio ser comum a todos, são as histórias e fotos do nosso tempo na Guiné e [é bom] recordá-las,  ás vezes com saudade.

(9) Comentários despropositados, artigos sem interesse objectivo que nada tem a ver com a Guiné e que ultimamente tem sido muito comum no Blogue.

(10) [Acesso:] Não, tem sido tudo dentro da normalidade

(11) Representa a amizade e a irmandade que só quem esteve na Guiné conhece.

(12) Já, participei em 2011 no VI encontro em Monte Real.

(13) Ainda não decidi,  está pendente do calendário de eventos que tenho para fazer que só sai no fim de Abril, princípios de Maio.

(14) Na minha modesta opinião, tem necessidade de novos camaradas que tragam novas histórias e temas de modo a despertar o pessoal da apatia existente.

(15) Caro Luís, quem sou eu para criticar o Blogue!...

Guiné 63/74 - P11369: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (11): Poema

1. Em mensagem do dia 23 de Março de 2013, o nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a sua décima primeira "Carta de Amor e Guerra". 


CARTAS DE AMOR E GUERRA

11 - POEMA

Não tenho a mínima ideia de ter feito este “NÓS”, a que chamei poema livre, até porque vejo nele alguma qualidade e beleza.
É que a minha expressão poética nunca passou da “cepa torta”. Adoro poesia mas não sou poeta no sentido de a criar.

Na carta para a namorada, ter-me-ia “armado ao pingarelho” escrevendo “Sou eu o autor”?
Não sei, talvez me tivesse expressado mal, talvez quisesse dizer que era o autor, sim, mas daquela compilação de diversas expressões literárias e da sua ordenação em jeito de poema. Vou mais por aqui.

Já naquela altura conhecia bem o método de fazer este tipo de composições “poéticas”, tinha tido formação nesse sentido e já me tinha servido dela, com algum sucesso, na iniciação à expressão poética dos meus alunos. E tenho uma vaga ideia de experimentar fazer o mesmo com os camaradas de quarto, em Bissorã.

É um método simples. Escolhe-se um tema e pede-se a cada aluno da turma que crie, livremente, uma curta frase ou expressão sobre esse tema. Depois analisam-se as diversas frases/expressões, retiram-se palavras supérfluas, escolhem-se e ordenam-se as ideias expressas transformadas em versos e faz-se assim um “poema”. É, neste caso, um trabalho colectivo de composição escrita e do qual não é raro saírem coisas lindas. Creio mesmo que em muitos dos meus alunos se instalou, assim, o bichinho do gosto pela poesia.


Bissorã, 7DEZ65

Um quarto de militares tem uma decoração “sui generis”: [fotos de] mulheres mais ou menos despidas, quadros pictóricos, frases célebres ou com um sentido mais ou menos relacionado com as actividades dos ocupantes. A decoração do meu quarto (meu e de mais três moços) tem um cunho intelectual que o torna um pouco diferente. No desejo de te dar a conhecer o ambiente em que vivo, vou transcrever-te o que, em grande plano, domina a decoração das paredes do quarto. Sou eu o autor. Aqui está, minha querida, o poema livre “NÓS”:

Igual pobreza duma vida limitada
Onde as palavras são o reflexo
E as lágrimas também
Da força perdida
Da força sonhada
O medo e a coragem de viver e de morrer
A morte tão difícil e tão fácil
Homens para quem a vida foi cantada
Homens para quem a vida foi negada
Homens reais para quem o desespero
Alimenta o fogo devorador da esperança.

Saudosamente, o abraço de sempre com todo o Amor do teu
M.

Cipriano Oquiniame: “Caos em Guiné-Bissau” 
Retirado, com a devida vénia, de “Artistas plásticos, pintores e escultores da Guiné-Bissau” em www.didinho.org
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Nota do editor:

Último poste da série de 20 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11282: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (10): À volta de uma fotografia

Guiné 63/74 - P11368: Blogoterapia (226): Aos 60 regressam em força as amizades, principalmente entre combatentes (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), com data de 8 de Abril de 2013 a propósito do seu aniversário festejado no passado dia 6:

Pois, não estamos a ficar mais novos!

Ontem, passada a “ressaca” do aniversário, pensava cá comigo que a vida tem coisas engraçadas.
Quando somos novos, assim no tempo de crianças e adolescentes, valorizamos muito os amigos, é até o tempo da afirmação dos “melhores amigos”, confidentes, com quem trocamos as nossas confidências mais intimas, sobretudo no campo das namoradas, etc., etc.

Depois vivemos um tempo em que os amigos são importantes mas já não ocupam tanto o nosso pensamento. Vivemos o tempo de afirmação como homens, a família, o trabalho, etc., vão-nos ocupando. Não nos fazem esquecer os amigos, mas colocam-nos, digamos assim, mais longe do nosso dia-a-dia, das nossas prioridades.

E depois chegamos aos tais 60 e daí para a frente!
Regressam então em força as amizades, os grandes amigos, aqueles com quem vamos estando cada vez mais e com quem voltamos a confidenciar a nossa vida.

Então para nós, combatentes, esta “verdade” que acima refiro torna-se uma realidade bem presente, e para confirmar isso mesmo, basta ver a quantidade de razões e argumentos que arranjamos para nos juntarmos, abraçarmos e trocarmos experiências, às vezes retidas até à exaustão, mas que ouvimos como se fosse a primeira vez, para que a seguir possamos também contar a nossa história, porque somos os melhores ouvintes das nossas histórias da guerra, até porque os outros apenas as querem ouvir para delas se servirem, em livros, jornais e até com fins políticos.

Monte Real, Abril de 2013 > Joaquim Mexia Alves com alguns camaradas do Pel Caç Nat 52 (?)
Foto de Rui Silva

E agora não parava de escrever, e isto ia tornar-se chato e pouco legível!

Por isso, toda esta lenga-lenga, (que para mim é verdadeira), serve para vos agradecer as mensagens de parabéns, mas sobretudo a amizade que me quiseram demonstrar no dia dos meus 64 anos.

Obrigado!
Tenho-vos a todos no coração, acreditem!

Um grande e amigo abraço do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alferes Miliciano de Operações Especiais, da CART 3492, do Pel Caç Nat 52, da CCaç 15, isto apenas porque o Carlos Vinhal me quis reduzir à minha mais ínfima expressão “guerreira” … eheheh
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11341: Blogoterapia (225): Agradecimento à tertúlia deste grande Blogue (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P11367: Agenda cultural (259): Lançamento do livro "Grades de papel: Caxias 1975, condomínio fechado", de Joaquim Evónio de Vasconcelos (1938-2012) e Manuel Amaro Bernardo, dia 17, 4ª feira, às 17h00, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Lisboa



1. Mensagem do cor inf ref Manuel Amaro Bernardo, com data de 2 do corrente:

Agradeço, se possível, a postagem do convite para a sessão de lançamento do livro, escrito,  em co-autoria,  com o ex-capitão DFA Joaquim Evónio de Vasconcelos, [Funchal, 1938-Lisboa, 2012], que fez duas comissões na Guiné [, como cap Inf da CCAÇ 727 (1964/66) e da CCAÇ 2316 (1968/69), ].

Título do livro:
Grades de papel: Caxias 1975, condomínio fechado. 
Autores: Joaquim Evónio de Vasconcelos  e Manuel Amaro Bernardo,
Editora: Versbrava, Porto, 2013

Apresentação do gen Loureiro dos Santos.
Data e local da sessão: 17 de abril, 4ª feira, 17h00, Salão Nobre do Palácio da Independência, Lisboa
Largo São Domingos 11, 1150-320 Lisboa
Telefone:213 241 470
Transportes públicos: Rossio

Ob. Ab
Manuel Bernardo
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Guiné 63/74 - P11366: Agenda cultural (258): Tertúlia Fim do Império no Porto: 5ª feira, dia 11 de abril, às 16h, na Messe da Batalha: apresentação do romance "As hienas também choram" (Papiro Editora, 2006), de João Carlos Sarabando, ex-alf mil em Moçambique (1972/74), e hoje arquiteto




1. Através do nosso coeditor Magalhães Ribeiro, recebemos este convite e pedido de divulgação, remetido  pelo nosso camarada de armas e escritor Manuel Barão da Cunha, animador da Tertúlia Fim do Império:

Assunto - Tertúlia

Caros camaradas e amigos da Tabanca e outros, espero que estejais bem e possais participar no próximo e 6.º encontro da nossa tertúlia «Fim do Império», na Invicta, desta vez sobre o livro do arquitecto João Carlos Sarabando, ex-alferes miliciano ["As hienas também choram", Porto: Papiro Editora, 2006, romance, 456 pp].(*)

Será dia 11, 5ª feira, na Messe da Batalha, com início às 16h00, presidido, como habitualmente, pelo nosso general Luís Medeiros, oriundo de Cavalaria.


A vossa presença é importante. Quem puder traga um amigo, serão bem-vindos. Desta vez espero também poder participar. Aliás nas 64 sessões até agora realizadas em vários locais de Portugal, só falhei uma.


Abraços de M. Barão da Cunha, coordenador em regime de voluntariado. (**)
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Notas do editor

(*) Sinopse da editora: "O livro ficciona as vivências de um punhado de soldados que entre 1972 e 1974 participou na guerra colonial, no Norte de Moçambique. Numa linguagem crua, quase de caserna, e sempre na perspectiva do homem ainda em formação e do soldado miliciano carne para canhão regista um universo de histórias/contradições/conflitos, quase sempre marginais à história."

terça-feira, 9 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11365: Tabanca Grande (392): Camaradas da CCAÇ 14: António Bartolomeu (Contuboel, Aldeia Formosa e Cuntima, 1969/71) e Eduardo Estrela (Bolama e Cuntima, 1969/71)




Guiné > Região do Oio > Cuntima > Outubro de 1970, com a macaca Xica  ao colo

1. Mensagem de Eduardo Francisco da Cruz Estrela, nosso grã-tabanqueiro desde 29/2/2012 (*)

De: Eduardo Francisco da Cruz Estrela

Data: 19 de Fevereiro de 2013, 18:44

Luis!

Localizei a mensagem de 6 de Março de 2012, onde enviava as duas fotos que me tinhas pedido. Há momentos mandei uma e agora repito o envio de 2012, de modo a que publiques a outra fotografia.

Um abraço, 

Eduardo Estrela
(ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71) (*)
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Eduardo Estrela Date: Tue, 6 Mar 2012 13:13:49 -0100
Luis!

Em anexo remeto duas fotos conforme pedido feito. Uma actual e outra tirada em Outubro de 1970 em Cuntima, tendo ao colo a Xica

Um grande abraço
Eduardo Estrela

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2. Comentário de L.G.:

Camarada Eduardo, afinal  já tínhamos as fotos. A duplicação, às vezes, não tem mal. A tua mensagem acaba por ser um ensejo para a gente falar da nossa viagem comum (partimos de Lisboa, no mesmo dia, e no mesmo navio, as CCAÇ 2590, 2591 e 2592, independentes, que deram depois origem às CCAÇ 12, 13 e 14) e das nossas peripécias no CTIG. Mas também de amigos e camaradas comuns, como é o caso do Joaquim Fernandes. Afinal, contigo, tudo começou porque andavas à procura dele. Tinha  estado no CISMI, em Tavira, na mesma altura que tu... (e julgo que também na mesma altura em que eu lá estive, embora a minha especialidade fosse a de armas pesadas). Dei-te alguns contactos do Joaquim, mas não me chegaste a dizer se o encontraste depois disso.

Gostava, por outro lado, de te pedir mais fotos da tua passagem pela Guiné, por Bolama e por Cuntima, integrado na CCAÇ 14. Não me arranjas fotos tuas, com boa resolução e com as respetivas legendas ? Como sabes, eu tenho um especial carinho pelas companhias africanas. Das 3 companhias acima citadas, a tua é a que tem menos informação no nosso blogue. E representantes só tem dois, se não me engano: tu e o António Bartolomeu, que entrou para a Tabanca Grande, o nosso blogue, em 31/5/2007.

Aproveito para saudar os dois e pedir-lhes para nos arranjarem  mais rapaziada da CCAÇ 2592/ CCAÇ 14 para engrossar as nossas fileiras e alimentar este bicho "alarve e sedento" que o nosso blogue (**)... Olhem, era uma bela prenda de aniversário: vamos fazer 9 anos, no próximo dia 23 de abril... Penso que, tru, Estrela,  continuas a viver no Algarve, é isso ? E o Bartolomeu na Cova da Piedade, Almada. Um grande Alfa Bravo para os dois. Luís Graça.

PS - Podem ver, na página do Carlos Silva, Guerra na Guiné 63/74, informação mais completa e detalhada (e fotos diversas do pessoal) da vossa companhia, a CCAÇ 2592 / CCAÇ 12. [Há lá fotos cedidas pelo António Bartolomeu].

Guiné > Zona Leste > Contuboel > CCAÇ 2592/CCAÇ 14 (1969/71) > O Fur Mil António Bartolomeu, que esteve a dar instrução de especialidade a um pelotão de mandingas, na mesma altura (Junho/Julho de 1969) em que estávamos (a CCAÇ 2590) a formar a CCAÇ 12, uma das unidades da nova força africana.  Este pelotão, o 4º esteve depois em Aldeia Formosa, quarto meses, reunindo-se mais tarde à companhia, em Bolama,. e seguindo depois para  Cuntima. Viemos no mesmo, o Niassa, tendo partido de Lisboa em 24/5/1969.
Esta companhia tinha uma composição heterogénea: mandingas, manjacos e felupes, além de quadros  e especialistas metropolitanos. (LG)



Foto: © António Bartolomeu (2007). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 29 de fevereiro de 2012 Guiné 63/74 - P9548: Tabanca Grande (322): Eduardo Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71)

(...) Sou o ex-Fur Mil Eduardo Estrela e enquadrei o início da CCaç 14, originalmente CCaç 2592.
Embarcámos para a Guiné em 24 de maio de 1969 , no T/T Niassa, juntamente como outras companhias independentes como a 2590 e 2591 [, futuras CCAÇ 12 e 13], e depois de termos dado instrução aos militares africanos que compunham a Companhia (dado e recebido, pois muitos deles já tinham experiência de combate), partimos em 3 de novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, Cuntima, junto à linha de fronteira do Senegal.

Ainda em Bolama, onde a instrução foi dada e recebida e depois de uma operação mal programada para a zona de S. João, onde as CCaç 13 e CCaç 14 podiam ter sofrido sério revés, face ao local de desembarque escolhido, extremamente lodoso e onde vi camaradas atolados até à cintura, ainda em Bolama dizia, sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma.

Em Cuntima, a actividade operacional era intensa pois estavam no mato permanentemente 2 ou mais grupos de combate, por períodos de 48 horas. A guarnição de Cuntima normalmente composta por 2 Companhias operacionais, Pelotão de Obuses e Pelotão de Milícias, para além das interdições ao corredor de Sitató, fazia picagens à estrada, escolta às colunas para Farim, segurança próxima e afastada ao aquartelamento e as operações militares que obrigavam a utilização de maiores meios.

Aquando do reordenamento de Cuntima, as colunas a Farim eram diárias e o desgaste físico e psíquico muito grande, pois volta não volta o PAIGC aparecia. O meu grupo de combate foi o primeiro a transitar para Farim, no início de dezembro de 1970 e não no fim de dezembro como já vi indicado, e durante um mês estivemos a reforçar a CCaç 2549 estacionada em Nema, a qual tinha estado anteriormente connosco em Cuntima.

Em Farim fazíamos interdição ao corredor de Lamel, numa época em que o PAIGC estava muito activo. De tal modo activo que entre o início de dezembro de 1970 e meados de janeiro de 1971, a guarnição do Batalhão 2879 sofreu na zona de Lamel 14 mortos, uns em combate e outros por acidente resultante de actividade operacional. Para além dos camaradas falecidos, também houve muitos feridos.

No final de 1970, o meu grupo de combate regressou a Cuntima e só no início de fevereiro de 1971 a CCAÇ 14 foi para Farim, tendo o meu grupo ficado em Cuntima para dar sobreposição à Cart 3331, até ao fim de fevereiro. (...)

(**) Último poste da série > 25 de março de 2013 >  Guiné 63/74 - P11312: Tabanca Grande (391): António Baldé, fula, natural de Contuboel, português, apicultor, pai do Umaro e da Alicinha, ex-1º cabo, CIM, Bolama (1966/69), Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71), grã-tabanqueiro nº 610

Guiné 63/74 - P11364: Bom ou mau tempo na bolanha (1): Uma foto que fala por si (Tony Borié)

1. Primeiro episódio da nova série do nosso camarada Tony Borié* (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), a que ele deu o título de Bom ou mau tempo na bolanha.



Nesta segunda série de textos, que se chamará “BOM OU MAU TEMPO NA BOLANHA”, será consoante os temas, se forem agradáveis “Bom Tempo..., e se não forem agradáveis, “Mau Tempo...!

Agora vou falar de temas do conflito que vivemos na Guiné e não só, pois às vezes também falarei de assuntos de hoje, embora relacionados com a nossa vivência na Guiné, em outras palavras estarei mais livre, podendo viajar do interior de uma bolanha, onde andei junto daquelas bajudas, que afinal eram guerrilheiras, atolado em lama até ao joelho, há cinquenta anos, para o dia de hoje, onde continuo atolado, neste mundo de consumo onde quase nada se faz, sem a ajuda de um computador.

Para começar, contando mais uma vez com a vossa compreensão para o título desta série, que não é lá muito sugestivo, mas foi o que o Cifra, depois de passar noites e noites acordado, caminhando de um lado para o outro, e num momento em que ouviu um som de chuva no telhado, veio à janela e viu mesmo que estava mau tempo, e então logo pensou, é isto mesmo, “Mau Tempo”. Ao outro dia indo a caminho do mar para mais um dia de pesca, passou por diversas terras alagadiças, parecendo tal qual as nossas conhecidas bolanhas da Guiné, tornou a pensar, está perfeito, “mau tempo na bolanha!”, portanto já sabem a origem do título.
Agora sim, vamos começar.



1 -  Mau tempo na bolanha

O Cifra tem esta foto, das poucas que conseguiu recuperar, e que lhe veio parar às mãos, em Mansoa, em 1964, pouco depois de lá chegar. Esta foto estava entre uns papeis, com uma cobertura em papel branco, que dizia “Olossato”, estava no edifício do comando do Agrupamento, que ainda estava em construção, portanto um pouco desarrumado.


Andou por lá algum tempo, e o Cifra, depois que presenciou a cena dos dois guerrilheiros mortos que sempre acreditou que foram queimados com gasolina e enterrados numa vala, andava revoltado com a situação e de uma vez, vendo lá o dossier “Olossato”, única e simplesmente tirou a foto do local e guardou-a. O Cifra acredita que foi tirada nas imediações de Olossato, talvez alguém da polícia do estado, ou alguém do Agrupamento 16 estacionado em Mansoa, que a tirou, alguém com graduação superior, que de vez enquando lá se deslocava para inspecção. Esta foto sempre lhe colocou muita interrogação, e os antigos combatentes, por favor percam uns segundos, analizem a foto e depois tentem compreendê-la, tem um homem africano, com farda, boina, possivelmente as mãos amarradas atrás nas costas, uma corda em volta de uma árvore, o seu rosto demonstra alguma aflição, na sua frente está o “típico” africano tradutor, com um cigarro dado pelo militar branco na orelha, e atrás de si pode ver-se um pouquinho da face de um homem branco sentado, que possívelmente será um polícia do estado, a tirar apontamentos, muitas crianças demonstrando interesse pela situação, algumas já crescidas e uma até usa uma boina militar, portanto já tinham algum fascínio pela farda, mas nenhuma mostra um simples sorriso, pelo contrário, os seus rostos estão sérios demonstrando preocupação. Um militar armado e outro com interesse na conversa entre, o talvez prisioneiro e o interrogador, não se vêm mais militares, que com toda a certeza estavam em redor, no local onde a pessoa tirou a foto.

O Cifra acredita que o mais provável, era ser um primeiro interrogatório, e na frente de todas aquelas crianças, que deviam de ter ficado traumatizadas com a violência daquela cena, e que no futuro, por mais “psico-social” que houvesse, com toda a certeza não iriam ser agricultores, artesões, alfaiates, carpinteiros ou saber assentar tijolos, mas sim, iriam ser guerrilheiros, ou militares, pois outro meio de vida com toda a certeza não iriam ter.

Este título, como já verificaram, seria “MAU TEMPO NA BOLANHA”.

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Nota do editor:

Vd. poste de 23 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11299: Do Ninho D'Águia até África (60): O regresso a Portugal (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11363: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (7): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XIII / XIV): Julho / agosto de 1969: a angústia do cristão ante a dúvida "De que lado estará Deus ?"



Guiné > Região de Quínara > Empada > CCAÇ 2381 > 1969 > O Zé Teixeira, no regresso de mais uma operação.


Guiné-Bissau  > Região de Quínara > Buba > 2005 > "Que diferença!"...


Guiné-Bissau  > Região de Quínara > Buba > 2005 > "Estrada da pista de aviação"...


Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 2005 > "Estrada da pista de aviação... ao domingo"... [ Segundo o nosso inestimável e sempre atento e oportuno amigo Cherno Baldé, esta não é uma rua de Buba, como erradamente foi legendada pelo Zé Teixeira, mas sim "a rua de Bissau, alto Bandim, no local onde foi construído o Palácio Colinas de Boé e funciona a ANP - Assembleia Nacional Popular (do lado direito), podendo ver-se ao fundo o depósito central de água"]


Guiné-Bissau  > Região de Quínara > Buba > 2005 > "Estrada de Buba - Fulacunda"...


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]


1. Continuação da publicação de O Meu Diário, de José Teixeira (1º cabo aux enf,  CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70), Partes XIII e XIV (*) [Originalmente publicado na I Série, em 2006]


Buba, 31 de Julho de 1969

Vi a morte à minha frente. Saí de manhã até à bolanha de Beafada, a montar segurança à coluna que ia para Aldeia Formosa. Tinha como missão assistir os picadores que iam à frente a tentar detetar as possíveis minas que o IN costuma colocar. Coloquei a bolsa na 1ª viatura e segui à frente da mesma.

Como havia muitas poças de água, instalei-me ao lado do condutor. Em determinado momento tive um pressentimento e saltei da viatura seguindo à sua frente. Não andei 50 metros e senti um rebentamento, fui projetado pela deslocação do ar e senti algo a cair em cima de mim, deduzindo que eram estilhaços. Pensei:
- Desta não escapo.

Logo a seguir cai à minha frente um africano que ia em cima da viatura e que deve ficar cego. Verifico então que a viatura de onde tinha saltado há momentos e do lado em que eu vinha, tinha pisado uma anticarro. Apanhei apenas com lama e pedras, e um grande susto. O condutor, sentado em sacos de areia, foi ao ar, mas apenas sofreu um grande susto, também. Os africanos que vinham em cima foram projetados e um perfurou o olho esquerdo, ficando este ao dependuro. Desnorteado, não sabia o que fazer. A bolsa estava na viatura sinistrada. Havia o ferido para tratar, mas também havia o perigo de minas antipessoais.

Andava de um lado para outro, sem saber o que fazer, sujeito a cair numa mina perdida. Lentamente fui acalmando, entretanto chegaram os outros enfermeiros, fui buscar a minha bolsa à viatura destruída e tratei dos feridos

Tal como os outros companheiros, pensei em aproveitar-me das bebidas da viatura destruída e mesmo das outras, já que ao dar-se baixa da viatura descarrega-se tudo e o que ficou em condições de ser aproveitado desaparece. Deu-se um autêntico assalto às viaturas e foi um fartar de roubar, ou melhor, aproveitar a ocasião.

Pouco depois aparece-me o Franklim com uma perna ferida por ter ficado debaixo de um atrelado, com bidões cheios de combustível, pois o condutor da viatura, na confusão gerada deixou-a destravada e esta.  ao deslizar, fez passar por cima da perna do Franklim o atrelado que arrastava.

Os feridos voltaram para Buba depois de assistidos, para serem evacuados para Bissau. Restabelecida a calma,  retomamos a marcha, para de seguida rebentar uma antipessoal que estava colocada no local, mesmo no centro da picada onde eu tratei os feridos, possivelmente pisada várias vezes, mas que só rebentou quando foi pisada pelo rodado de um atrelado de viatura, para sorte de algum de nós, talvez por estar um pouco funda. Continuei na coluna até Beafada, onde encontramos o pelotão de picadores que tinha partido de Aldeia Formosa, tendo regressado a Buba com mais esta história para contar.

O meu sistema nervoso que andava abalado,  foi-se de vez. Fui ao Dr. [Azevedo] Franco que me receitou um calmante, pois preciso de reagir. Tenho 15 meses de guerra e ainda falta muito tempo para o regresso. A guerra ainda não acabou para mim.


Buba, 4 de Agosto de 1969

Ao comemorar o 6º aniversário da implantação do terrorismo na Guiné (#), o Sr. Amílcar Cabral queria fazer umgrande festival em toda a Guiné. Ameaçou fazer uma grande surpresa, nomeadamente em Buba. Afinal limitou-se a vir cá às 17.45 h e fazer uma pequena serenata de canhão s/r, morteiro 120 e costureirinhas. Apenas uma granada rebentou dentro do quartel, causando danos ligeiros. De noite ouviram-se rebentamentos por todo o lado. Empada parece que também foi atacada. Nhala sofreu três ataques: à uma da manhã, às dez e novamente à noite. Mampatá também sofreu a visita do IN.

Buba, 7 de Agosto de 1969

As colunas de abastecimento a Aldeia Formosa e povoações limítrofes continuam a dar que falar. Ontem, seguiu mais uma e,  ao chegar ao Pontão de Uane, uma mina anticarro rebentou debaixo da 14ª viatura, projetando os seus ocupantes a grande altura, pois a viatura seguia sem carga. Três mortes instantâneas, todas de africanos e nove feridos graves, entre os quais dois colegas meus. Foi este o resultado.

Eu não fui esperar a coluna porque estou com baixa médica. Sinto-me muito fraco e abatido psicologicamente.

Ainda não sei quando regresso a Empada, talvez, lá para o fim do mês. Dá que pensar porque é que a viatura atingida foi a 14ª, portanto já no meio da coluna que seguia o trilho das outras treze anteriores, carregadas e bem pesadas.


Buba, 9 de Agosto de 1969

Estou doente, sem forças, as pernas parece que não podem com o corpo. O apetite é pouco. Fui ao médico que, além de me receitar medicamentos reconstituintes, deu-me dispensa por uns dias.

Estou sozinho em Buba com metade da Companhia. Insisti desde sempre que não aguentava a carga e que devia ser chamado outro enfermeiro de Empada. Fui-me abaixo das canetas e estão a sair Enfermeiros da Companhia 2382 com os meus companheiros, o que nunca devia acontecer e está-se a gerar um mal estar, entre colegas e amigos, desnecessário. Segunda feira termina a minha dispensa, mas eu ainda não me sinto bem. Vejamos que me vai dizer o médico.


Buba, 13 de Agosto de 1969


Está por cá o Padre Manuel Capitão, coordenador dos capelães na Guiné, grande amigo, e que encontrei há tempos em Bissau, quando regressei da Metrópole de férias. Desde alguns dias que anda de visita ao Setor. Hoje foi acompanhar a coluna para Aldeia Formosa até Nhala e regressou no héli que foi fazer uma evacuação de um ferido na sequência de um contacto com o IN.

A minha saúde continua abalada, felizmente com tendência para melhorar. Ontem, devido a uma grande caminhada de patrulhamento com o fim de preparar o terreno para a Coluna de hoje, não aguentei e os meus colegas tiveram de me transportar, até ao quartel. Depois de descansar fiquei melhor. Hoje sinto-me bem e tenho a esperança que em breve ficarei no lugar.

Quando estive com o padre capitão em Bissau, tentei aprofundar esta e outras questões sobre a assistência religiosa em tempo de guerra e a posição da Igreja Portuguesa colaboracionista com o poder político que manda matar em nome dos princípios cristãos, e a actuação dos capelães, passiva e nada evangélica, para não desagradar aos comandantes, aos fazedores da guerra.

Eu já sentia dentro de mim a revolta. De que lado estaria Deus? Com os Portugueses que teimavam em dominar um povo pelas armas ou com esse povo que queria seguir o seu destino, ou não estaria com ninguém e apenas apelava aos homens para darem as mãos para construirem um país novo? Qual devia ser a missão do sacerdote ? Como falar ao soldado que tinha deixado forçadamente a sua família, o seu emprego para matar ou ser morto?

Nesse encontro pôs-me fora do gabinete, mas em Buba, ele que nunca tinha saído de Bissau, e quis vir ver como as coisas se passavam no terreno, deu-me razão. Chorou por não poder fazer nada. Sentia-se amarrado. O sistema militar condicionava-o e os capelães que os bispos lhe mandavam, na sua maioria,  eram sacerdotes com problemas e nada preparados para este tipo de missões.

Buba, 16 de Agosto de 1969

Mais 24 toneladas de material apanhado ao IN no Norte, perto de Ingoré (2). As nossas tropas destruiram cinco destacamentos do IN, entre os quais Canchungo, Mâmpatas e Sane, todos perto de Ingorei, por onde andei nos primeiros três meses de guerra. O IN fugiu e os nossos tiveram 6 feridos. Parece que o exército senegalês auxiliou a fuga a pretexto de assistência médica.

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(#) Referência mais provável ao 3 de agosto de 1959 (repressão da greve dos estivadores do cais do Pidjiguiti, ou "massacre do Pindjiguiti", segundo a propaganda do PAIGC),  e não ao 1º ataque do PAIGC a um aquartelamento português (Tite, 23 de janeiro de 1963 ), efeméride que é apontada, em geral, pelos historiógrafos, como a do início da luta armada na Guiné. (LG)

Guiné 63/74 - P11362: Parabéns a você (560): Jorge Canhão, ex-Fur Mil do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74) e Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref, ex-Ten Pilav (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 8 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11357: Parabéns a você (559): José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil da CCAÇ 566 (Cabo Verde e Guiné, 1963/65)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11361: Notas de leitura (470): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Dezembro de 2012:

Queridos amigos,
Dá-se por concluída a transcrição de um conjunto de apontamentos organizados pela Mocidade Portuguesa acerca da história e lendas dos Mandingas da Guiné. Tudo leva a crer que foram organizados por Manuel Belchior, antigo funcionário colonial e que recebera meios para estudar os povos do Gabu. Faria todo o sentido reeditar-se os seus livros e entregá-los a um investigador para proceder à respetiva atualização.

Como se vê, trata-se de peças culturais que elogiam o poderio fula quando este migrou do Futa Djalon para o interior da Guiné portuguesa, implicando uma rearrumação étnica, a par da perda de estatuto que tinham os Mandingas.
Estas lendas e canções deixam igualmente perceber como os Fulas, de modo implacável, conduziram as etnias Mandinga e Beafada à região muçulmana.

Um abraço do
Mário


A deposição de Alfá Iaiá

Beja Santos

Os reis não são todos iguais
e nenhum igualava Alfa Iaiá
da família dos Djalo Djére.
A grande árvore tombou
e fugiram os pássaros que ela albergava.
Os nossos olhos choram.
Quando pensamos no nosso amo
os nossos olhos choram
(Da canção de Alfá Iaiá)

Pouco depois de se instalarem no Futa, os franceses puseram em prática medidas que dificultavam as orações. Alfá Iaiá protestou vigorosamente junto do seu amigo Beckmann, afirmando-lhe que os fulas nunca deixariam de gritar bem alto o nome de Deus.

O francês revogou as ordens e mandou que fizessem uma torre muito alta, para que dali gritassem o nome de Alá. Mas, passados anos, os sucessores de Beckmann procederam de maneira que o rei de Labé se convenceu que os franceses não o deixariam reinar e acabariam por prendê-lo. Reuniu, por isso, os chefes religiosos e militares do reino, para lhes expor a situação e perguntar-lhes se não seria preferível a guerra ao enfraquecimento gradual do seu poder e do seu prestígio.

O “caramó” Cutubé, jacanca de Tubá, disse que o facto de estarem os franceses no Futa e noutras regições era a vontade de Deus. Que não devia o senhor do Labé fazer a guerra porque já na sua vida derramara muito sangue e se continuasse pelo mesmo caminho não entraria no Paraíso.

- Se ficares em paz e te deixares prender, obedeces a Deus e lavas os teus pecados, disse o religioso.
- Estes “chernos” fazem arrefecer o meu coração como se fosse um trapo, exclamou, desanimado pelo conselho, Alfá Iaiá.

O “caramó” pediu ao rei que fosse ao seu curral. Se no momento de lá entrar não visse uma vaca preta a lamber o vitelinho de cor branca, então poderia pensar que o seu conselho não era bom e preferira a guerra.

Foi Iaiá ao curral e viu que tudo o que o santo homem dissera era verdade. Resolveu por isso obedecer ao “caramó”, convencido que obedecia à vontade de Deus.

Passado algum tempo, recebeu ordem dos franceses para se apresentar em Conacri. Em sinal de boa vontade e submissão, mandou embrulhar 3 mil espingardas em esteiras e mandou-as às autoridades europeias, dizendo, contudo, que não comparecia à convocação.

Ao saber desta recusa, o “cherno” Cutubó disse-lhe:
- Ou tu aceitas a ordem recebida ou eu vou descalço e pelos caminhos mais pedregosos até Conacri, castigando-me por tua causa. Mas tu fica certo de que não entrarás no Paraíso.

Alfá Iaiá resignou-se e partiu. No último momento, libertou todos os seus escravos, sabendo bem que já não precisaria deles.
Durante um mês, em Conacri, o rei de Labé foi mostrado a quem dava 100 francos para o ver. Por fim, meteram-no num barco e levaram-no para o Daomé.
Chegado ali, o seu último grande gesto foi comprar 40 cavalos e 100 vacas. Quando lhe perguntaram porque fizera isso, disse que a solidão é uma coisa triste e que um Fula não se considera só se tiver cavalos e bois, aquilo que mais adora. E foram estes animais o seu único consolo, até morrer.

Desaparecido que foi Alfá Iaiá, o último grande senhor do Futa, afirma uma canção feita em sua honra, os seus guerreiros dispersaram, tal como sucede aos pássaros que habitam as ramadas de uma grande árvore, quando esta cai.
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(1) - Se bem que Alfá Iaiá fosse Fula, esta canção foi feita por Mandingas, que por ele tinham grande estima. Os homens da sua própria raça não o estimavam tanto, preferindo o seu primo e rival Abubakar.
(2) - “Caramó” é sinónimo de “cherno”, isto é, doutor muçulmano.
(3) - Alfá Iaiá morreu no seu exílio no Daomé em 1906




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Notas do editor:

Vd. poste de 18 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11272: Notas de leitura (466): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (4) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 28 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11325: Notas de leitura (469): Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963... Usos e costumes: a tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres, as práticas de necrofagia, o fanado, o choro, o bombolom... (Francisco Henriques da Silva, antigo embaixador)