terça-feira, 23 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11863: Memória dos lugares (239): Canjambari 1972 (2) (Manuel Lima Santos)




Segunda série de fotografias enviadas pelo nosso camarada Manuel Lima Santos (ex-Fur Mil Inf.ª na açoriana CCAÇ 3476 - "Os Bebés de Canjambari"Canjambari e Dugal, 1971/73) para a série Memória dos lugares.


Canjambari, 1972 > Aquartelamento

Canjambari > Hastear da Bandeira

Lançamento de frescos em pára-quedas

Canjambari > Memorial da CCAÇ 3476

Canjambari > Messe de Oficiais e Sargentos, e reservatório da água

Canjambari > Picagem da picada para Jumbembem

Canjambari > regresso de coluna

Canjambari > Segurança a coluna na zona de Sare Tenen

Canjambari > Tabanca

Canjambari > Refeitório e balneário

Canjambari > Interior do aquartelamento

Sem legenda

Sem legenda

Bissau > Escola Primária Marechal Carmona
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Nota do editor

Poste anterior de 20 de Julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11856: Memória dos lugares (238): Canjambari 1972 (1) (Manuel Lima Santos)

Guiné 63/74 - P11862: Bom ou mau tempo na bolanha (21): O medo na guerra (Tony Borié)

Vigésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



O primeiro sintoma, ou a primeira reacção de um combatente em cenário de guerra, quando ouvia uma explosão ou o som de um disparo de qualquer arma, era única e simplesmente MEDO!

Sim, medo. Alguns, como era o caso do Cifra, fugiam para o abrigo mais próximo, muitas vezes encolhia-se num canto, com as mãos na cara ou na cabeça, esperando que o som dos tiros e da explosões das granadas terminassem. Outros gritavam frases sem qualquer senso, disparavam em qualquer direcção onde pensavam que os guerrilheiros se encontravam, tentavam não se acomodar, mas toda essa movimentação, gritos e gestos, era sem qualquer dúvida, o querer afugentar o medo que naquela altura sentiam, essa é a verdade de quem lá andou, presenciou estas malditas cenas e viu os rostos desfigurados de alguns companheiros que queriam demonstrar alguma coragem, mas naquele momento, atrapalhados, com o medo, claro, tinham dificuldade em trocar o carregador da G-3, quando estava vazio.

É dos livros, muitos heróis foram-no, porque o medo e o desespero fizeram com que fossem buscar forças e coragem que nunca souberam onde, para ultrapassar essas dificuldades de medo, que na altura sentiam.

É por isso que eu aprecio os textos de alguns dos nossos amigos antigos combatentes, que escrevem neste blogue, que nos contam algumas passagens verdadeiras do que lá passaram, mas contam-nas com um certo humor, com uma certa graça, tentam sempre pôr um pouquinho de boa disposição em cenas, que às vezes são de arrepiar.

O Cifra não quer abusar do precioso espaço deste blogue, porque daqui a pouco o bom do Carlos Vinhal vai dizer que já tem mais de quatro páginas e umas tantas fotos ou “rascunhos” a mais, o Luís Graça é capaz de pensar que este blogue não é só do Cifra, pois tem que o repartir com mais umas centenas de companheiros, isto é só o Cifra que diz, pois o Cifra, nunca ouviu um só lamúria da boca de ambos, pelo contrário, mas não pode deixar de exemplificar algumas passagens de alguns companheiros, como por exemplo:
O companheiro Jorge Cabral, o “nosso alfero”, no meio daquele ambiente, com muito poucas condições para um ser humano sobreviver, dizia que tomava “banho à Fula”, falava um pouco “à Fula” mas sabia que ressonava “à Fula” e com o maior humor do mundo, comia numa mesa “ensebada” e quando lhe perguntaram se sabia falar Fula, ele respondeu que em Fula... só ressonava!.

O Veríssimo Ferreira, para não dizer que era ele, que andou por lá a calcar bolanhas, tarrafo e savanas, a certa altura diz que o seu relógio “Cauny Prima Swiss, 25 rubis”, que até era “waterproof”, pois tinha que realmente ser, passeou com ele por Bissau, Mansoa, Cutia, Mansabá, Bissorã, Pelundo, Teixeira Pinto, Cuntima, Canjambari, Quinhamel e Farim, e tinha combatido em Buro, Berecobá, Biribão, Jolmete e K3.

O José Manuel Matos Dinis, que muito originalmente se assina com as letras “J.D.”, diz numa altura de alerta, em que as forças militares iriam entrar em acção, que na sua frente aparece um “contra-guerrilheiro”, empunhando a espingarda automática G-3, com o cinturão a pender da cintura, mas sem tapar o órgão genital, que era um bravo combatente da província do Minho remoto de Perre, e que lhe gritava, “eles estão cá dentro”...!


E para terminar, queria só lembrar esta passagem real, vivida num momento de desespero, contada com toda a sinceridade, que o nosso querido companheiro de armas e de profissão, Henrique Cerqueira descreve: “Nós só tínhamos três meses de mato e como é natural nos primeiros momentos de ataque pelo menos deitei-me no chão e só não escavei um buraco porque não sabia se devia usar as mãos para escavar... ou tapar a cabeça. Eis que passados alguns eternos minutos, olho para o lado e vejo o meu Inhata, a municiar a minha arma e a preparar-se para disparar. Aí senti alguma “vergonha”, saquei-lhe a arma das suas mãos e toca a disparar e o Inhata sempre a meu lado a municiar. Este, numa breve acalmia do ataque, teve o cuidado de me confortar dizendo que já estava habituado e que só queria municiar a arma. Eu acho que ele se apercebeu que inicialmente eu estava era todo acagaçado e na verdade estava mesmo”.

Creio, que mais sinceridade nesta descrição não pode existir.

Mas também existem cenas com alguma ternura, de mulheres que por lá passaram e que sofreram o clima, calcaram aquela terra vermelha, ouviram o som dos tiros e o desespero dos seus maridos e companheiros, mas tinham alguma coragem, estavam a seu lado, a dar-lhe o conforto possível, portanto também sofreram a guerra, como a esposa do Henrique, a sua amada Ni, que a certa altura diz: “Quando chegamos a Bissorã e entro na nossa “casa”, fiquei espantada pois estava decorada com os assentos de um carocha, as camas da tropa, tínhamos um frigorífico a petróleo, a casa de banho, eram dois bidões de chapa...!

Tony Borie,
Julho de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11857: Bom ou mau tempo na bolanha (20): O Cifra encontra os seus amigos (Toni Borié)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11861: Ser solidário (147): Na última viagem ao Cacheu encontrei a minha amiga Mary doente e a precisar de ajuda (Carvalhido da Ponte / Sousa de Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), com data de hoje 22 de Julho de 2013:

Caríssimos amigos,

No Facebook vi esta mensagem do nosso amigo Luís Carvalhido da Ponte, que regressou de mais uma visita à Guiné,  mais precisamente da região do Cacheu, que me deixou apreensivo, a quem peço desde já alguma referência para poder ajudar. Para além disso gostaria que fosse publicado no nosso blogue.

Convém lembrar que o Carvalhido da Ponte foi Furriel Enfermeiro na CART 3494 e também professor das crianças do Xime em 1972/74, é presidente da geminação de Viana do Castelo com a Vila de Cacheu,  tendo aqui desenvolvido a criação da maternidade existente e apoio à mulher Guineense.

Assim, para quem puder participar na ajuda à Mary, pode fazê-lo da seguinte forma:

1º - Transferir o que muito bem entender para a conta da ACGB NIB: 0036 0056 9910 0155 9387 9

2º - Logo-logo enviar para o endereço eletrónico acgb.geral@gmail.com uma mensagem identificando a transferência.  

Melhores cumprimentos, 
A. Castro


Carvalhido da Ponte com a Mary


2. Mensagem do camarada Luís Carvalhido da Ponte:

CACHEU

Cheguei ontem de Cacheu. 
Estava abafado o tempo. Eu vim também de semblante pesado. 

Em 2000 conheci a Mary. Tinha 33 anos e 7 filhos. Publiquei alguns poemas sobre esta jovem felupe, no meu penúltimo livro (Ora di djunta mon tchiga). 

Cinco anos depois tinha 38 anos e 11 filhos. E continuava bonita ainda que um pouco desfolhada por tanta florescência.

Dançava como eu nunca vira ninguém dançar. A batida ritmada dos pés descalços sobra a terra poeirenta, as contorções do corpo em rituais de sedução e a alegria dos movimentos eram tais que até as árvores pareciam ternurar-se para além das nuvens, nos ares de Fernão Capelo Gaivota, onde os sonhos se constroem.

Mais tarde, uma associação de mulheres nomeou-a sua Presidente e o seu país enviou-a até Espanha para aprender coisas necessárias ao seu mister. Via-a, em março deste ano, alegre e já um pouco europeizada.

Entristeci-me um pouquito pois preferia que estivesse um pouco mais culta mas sempre africana. E talvez estivesse. Eu é que não contava com uma Mary diferente. 

Agora estava doente há uns dias. Doía-lhe o corpo. Doía-lhe a barriga. Levei-a a Canchungo, ao meu amigo médico Dr Koumba Iala Bispo. Que a atendeu de imediato. Que a assustou. Tem cancro do ovário e necessita de intervenção urgente. Os 9 filhos vivos e os netos também. 

Zé Luis! Como? Não tenho 200.000 Francos CFa (cerca de 300 €) para a operação, o internamento e os medicamentos. 

E mudou a conversa e perguntou-me pela Lai. E partiu e uma lágrima caiu, solitária, no chão contrito do alpendre do Centro de Recursos.

E prometi-me contar a história. 
Quem sabe? 
Cinco euros daqui, 10 dali... 
Quem sabe?! 

Um abraço
José Carvalhido da Ponte
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11317: Ser solidário (146): Almoço solidário e Assembleia Geral Ordinária da Tabanca Pequena (ONGD), dia 13 de Abril na cidade da Maia (Álvaro Basto)

Guiné 63/74 - P11860: Notas de leitura (504): "Travessia", por Costa Monteiro; "Coisas de África e a Senhora da Veiga" por José Pais (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Abril de 2013:

Queridos amigos,
É mesmo consolador de vez em quando encontrar em edições de autor verdadeiras joias.
Nada sabia sobre esta portentosa prosa de José Pais “Coisas de África e a Senhora da Veiga”, não me regalava com tão boa literatura ou documento de ficar capaz para a História, desde o Diário do Soldado Inácio Maria Góis como agora.
Pergunto a todos os meus confrades se alguém possui e me pode emprestar “Histórias de guerra: Índia, Angola e Guiné”, que José Pais publicou na Prefácio, tanto quanto sei está esgotado e há muito.
Vou pôr-me em campo, José Pais tem que voltar a ser reeditado, é um dos expoentes da literatura da guerra.

Um abraço do
Mário


“Travessia”, por Costa Monteiro; “Coisas de África e a Senhora da Veiga, por José Pais

Beja Santos

“Travessia”, por Costa Monteiro, Editorial Escritor, 1996, é um livro de contos de um oficial que fez três comissões em África nos três teatros de guerra e mais tarde foi professor no Instituto de Altos Estudos Militares. Justificou este seu primeiro trabalho de pequenas histórias como um modo de ganhar balanço para outras digressões no campo da comunicação escrita. Histórias que nem sempre se inspiram na guerra em si mas graças às oportunidades que teve de contactar com outras terras, civilizações, gentes.

Dedicou quatro contos à Guiné. O primeiro está ligado à elevação de Bafatá a cidade. Descreve este dia de grande ronco, a cidade engalanada, o belo jardim na margem do Geba, não esconde saudades da Sintra de Bafatá, uma frondosa mata onde brotavam puras e frescas as nascentes de água que abasteciam Bafatá. Não esconde, divertido e mordaz, uma crítica: “O administrador fazia repetir, as vezes que fossem necessárias até sair certo, uma manifestação espontânea na qual, parte selecionada da multidão iria romper o cordão de segurança para saudar o homem-grande que vinha da metrópole”. Primeiro chegou o governado, vindo de helicóptero. Depois aterrou em Dakota, era o ministro em pessoa: “A população não resiste. Rompe o cordão de segurança e corre para o avião. Uma menina traz-lhe um ramo de flores. O ministro, comovido, pega na criança ao colo e dá-lhe um beijo”. Seguiram-se discursos, as altas personalidades regressaram a Bissau, a calma e a rotina iam tomar conta de Bafatá.

Ficamos a saber que Costa Monteiro era comandante de esquadrão, posição que o obrigava a uma certa ação psicossocial. Os pedidos eram muitos, um agricultor queria que ele comprasse os ananases da sua plantação, outro pedia-lhe que construísse a casa, foi uma negociação longa e difícil, não tinha chapa de zinco para dar, com carros Panhard não podia ir cortar cibes nem capim, o peticionário acabou por se contentar com dois quilos de arroz. “O Mouraria” é dedicado a uma figura excêntrica de um soldado que por tudo e por nada subia para as antenas ou mastros e ameaçava matar-se se não lhe dessem uma certa e determinada compensação, procurava dar nas vistas com as suas excentricidades. Chegado a Bafatá, subia para a antena do VHF, como ninguém lhe prestou atenção lá desceu encabulado. Normalmente só dava problemas no quartel, durante a atividade operacional portava-se bem, era diligente com a metralhadora Browning. A poucos meses de acabar a comissão, foi destacado para Piche. Acabara de regressar de uma escolta a Buruntuma, foi chamado para limpar umas trincheiras. Já vinha bebido, travou-se de razões com um graduado, a insubordinação não ficou impune. “A prisão em Bissau foi o começo de uma odisseia misturada com uma escalada de atos de indisciplina que acabaram nas enxovias do forte de Elvas. Nascido e criado na marginalidade da rua, incapaz de viver enquadrado por qualquer tipo de disciplina por mais compreensiva que ela fosse, o Mouraria completou assim, no mato e na prisão, cerca de quatro anos de serviço militar”.

São relatos singelos, seguem o fio da memória, não há aqui pretensões de arroubos literários e o resultado é de que temos aqui uma escrita que cumpre o seu dever.

“Coisas de África e a Senhora da Veiga”, por José Pais, edição de autor, 2001, é um grande livro de memórias, tão grande que já ando à procura de outro livro deste coronel que faleceu em Foz Coa em 2006, e que se intitula “Histórias de guerra: Índia, Angola e Guiné ”, Edições Prefácio. São memórias assombrosas de um experimentado oficial do exército que, alferes, foi prisioneiro na Índia, combateu lá para os lados de Nambuangongo, teve depois uma comissão em Cabo Verde e a quarta na Guiné, à frente da CCAÇ 14, feriu-se com gravidade em Farim, seguiram-se três anos de internamento hospitalar.

É uma prosa enxuta, frases económicas e hábeis, cortantes. O desfiar as recordações anda sempre à volta de um núcleo central cuidadosamente demarcado. São narrativas que podem navegar entre o sentimental e a bruteza mais dura que a guerra permite. E parece-me um desperdício, diante desta arquitetura de contos tersos quase agrestes na geometria, resumir prosa de primeiríssima qualidade. Os contos de José Pais justificam recensão abundante, é a única homenagem que se pode prestar a um combatente de grande escrita. Vamos começar por “A Xuxa e o soldado Marquito”, uma tocante história de amor.

O cabo Sila procurou nosso capitão, coisa grossa se passa na tabanca, envolve pessoal da CCAÇ 14, tropa Mandinga, sediada no perímetro de Farim, quartel no sentido habitual do termo não havia: uma arrecadação e um cubículo que servia de gabinete ao capitão, ao primeiro-sargento e a um cabo ajudante na papelada. Os poucos furriéis habitavam numa casa na povoação e os soldados na tabanca. Assim começa a história.

– Então diga Sila. Que se passa?
– Tem mesmo “pobrema” nosso capitão. Tem menininha que gosta mesmo do soldado Marquito e já fugiu de casa do pai três “vez” para ir ter com Marquito!
– Então o que há a fazer é casá-los. Se gostam assim tanto um do outro!?
– Mas, nosso capitão, Xuxa é Fula e Marquito é Mandinga.

E Sila continuou:
– Tem ainda outro “probrema” mais difícil.
– Sim. Diga lá.
– Menininha já casou com sobrinho do “Homem Grande” de Jumbembem e “Homem Grande” veio ontem na coluna para saber o que se passa.

Havia para ali coisa séria e explosiva. Foi chamado Marquito, confirmou tudo mas não tinha três mil pesos para casar com a Xuxa. Chamou-se autoridade religiosa, não havia problema de casar Fula com Mandinga, a questão era devolver o dinheiro ao “Homem Grande” de Jumbembem. À cautela, nosso capitão convocou reunião em toda a tabanca, até o chefe administrativo compareceu. Nosso capitão até cita o Corão. Chegou-se a um acerto, nosso capitão adianta os três mil pesos, Marquito depois pagará em prestações. Nosso capitão, finda a reunião, perguntou a Sila se a reunião tinha corrido bem.

 – Muito bem nosso capitão. Mas agora “vais ter probrema”, “Vais” ter muito soldado a querer casar.

No dia seguinte o primeiro-sargento, alarmado, comunicou que vinte e sete soldados queriam também casar!

Estabeleceram-se umas regras que o general comandante-chefe, Spínola de seu nome, aprovou e casaram-se todos. Só os que ainda não tinham “mujer”.

José Pais puxa bem os cordões ao hílare e ao picaresco. Mas veremos adiante que manobra com mestria os episódios mais dramáticos.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11855: Notas de leitura (503): "Guinea-Bissau - alfabeto", um alfabeto de grande beleza (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11859: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (6): E depois do ataque?!... Gadamael nos primeiros meses de 1974 (Manuel Vaz)

1. Chega assim ao fim o trabalho elaborado e enviado, para publicação no nosso Blogue, pelo nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67). 

Lembremos a sua mensagem de apresentação:
Este trabalho que vai ser publicado em 6 Postes, correspondentes a outros tantos subtítulos, foi concebido como "peça única". 
Posteriormente foi seccionado e ilustrado, sem perder as caraterísticas iniciais.

Um abraço
Manuel Vaz


UMA VISÃO ALARGADA DO ATAQUE A GADAMAEL

DOS ANTECEDENTES ÀS CONSEQUÊNCIAS

6 - E depois do ataque?!... Gadamael nos primeiros meses de 1974


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Nota do editor

Poste anteriores da série de:

26 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11477: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (1): Ofensiva do PAIGC na ZA de Gadamael até 22MAI73 (Manuel Vaz)

12 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11560: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (2): A fronteira sul na mira de Amílcar Cabral (Manuel Vaz)

31 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11659: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (3): Os sem-abrigo refugiam-se no tarrafo (Manuel Vaz)

28 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11774: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (4): Os Paraquedistas Desembarcam e Resolvem (Manuel Vaz)
e
11 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11827: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (5): Do "insucesso" do PAIGC à reacção das NT (Manuel Vaz)

domingo, 21 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11858: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (11): Terra firme e o pântano - Dois grandes líderes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e ex-Cap Art.ª António Carlos Morais Silva





1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 12 de Julho de 2013:




DOIS GRANDES LÍDERES

GADAMAEL - 70/71

(...) "A CCaç 2796 foi fustigada de forma brutal nos seus primeiros passos em Gadamael numa primeira tentativa do PAIGC de, indirectamente, eliminar a posição de Guileje (o que veio a conseguir em 1973 por via directa)."

Caríssimos Carlos/Luís,
Cordiais saudações.

Houve momentos difíceis, mas não são eles que quero ressaltar.
Um grupo de homens, quer seja num quartel em África, ou num País em qualquer lugar no espaço ou no tempo, dependendo das lideranças, é conduzido ao "pântano" ou a "terra firme.

Refiro-me agora a um grupo, nessa data num quartel no Sul da Guiné. Eu, e os meus camaradas, Africanos e Europeus, tivemos a sorte de ter no Comando dois Grandes Líderes, cada qual com a sua singularidade: o saudoso Capitão de Infantaria Operações Especiais Fernando Assunção Silva, e o então Capitão de Artilharia António Carlos Morais Silva.

Assim a CCAÇ 2796... "Com muito trabalho de todos, reagiu, recuperou, deixou obra feita (reordenamento, escola, posto sanitário, casernas, organização do terreno) e garantiu a posse de Gadamael, a segurança da população, o apoio logístico a Guileje e a liberdade de movimentos no seu sector".

À esquerda: o saudoso Cap Op Esp Fernando Assunção Silva

Não poderia deixar de registar publicamente a minha gratidão ao Capitão Assunção Silva, "in memoriam", e ao Exmo. Senhor Coronel de Artilharia Morais Silva, por nos terem conduzido, a mim e aos meus Camaradas, a "terra firme". E quantos pântanos, reais e metafóricos, rodeavam Gadamael!!!

Forte abraço
Vasco Pires
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Foto e texto: Vasco Pires
Emblema da CCAÇ 2796: Colecção de Carlos Coutinho
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11627: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (10): Perguntas sem resposta

sábado, 20 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11857: Bom ou mau tempo na bolanha (20): O Cifra encontra os seus amigos (Tony Borié)




Vigésimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.


O Cifra e o seu amigo e companheiro Setúbal, cujo verdadeiro nome era Jeremias, por diversas vezes se encontraram. Este companheiro, regressado à Europa, entrou pelo ramo da restauração e teve um certo sucesso.
Continuaram a sua amizade durante o tempo em que que o então Cifra se manteve em Portugal, ainda trocaram cartas nos primeiros anos depois da emigração, mas o tempo tudo leva, e ficaram as recordações de pura amizade, daquele que foi amigo, companheiro e combatente.

Passado um algum tempo após regressar da Guiné, o Cifra, que nessa altura já era de novo o Tó d’Agar, vindo a pé da sua aldeia no vale do Ninho d’Águia até ao Santuário de Fátima, cumprindo uma promessa de sua mãe Joana, por ter chegado são e salvo a Portugal, em determinada localidade onde pernoitou, querendo saber onde podia dormir e comer, dirige-se a uma praça de táxis.
Vendo um táxi, com o condutor lá dentro, a dormir sobre o volante, bate na porta do carro tentando acordar o homem para lhe pedir a informação. Qual foi o seu espanto quando deparou com o Curvas, alto e refilão.

Agora chamava-se senhor Manuel Silva, e era sócio do Trinta e Seis, que por sua vez se chamava senhor António Laranjeira.

Eram proprietários de dois carros de aluguer, naquela praça, que tinham adquirido com a ajuda dos pais do Trinta e Seis, que agora se chamava senhor António Laranjeira, e para o qual, ao empenharem as suas terras, tinham mostrado documentos num banco local, de que tinham posses, e não precisavam de nenhum empréstimo. Só assim o referido banco, depois de lhes hipotecar todos os seus bens, se disponibilizou a financiar a compra dos referidos carros de aluguer, ficando com a posse das terras e dos carros até ao pagamento final, cobrando-lhes todos os juros e despesas de documentação.

Mas continuando, ao ver o Cifra, que agora era o Tó d’Agar, o Curvas, que agora era o senhor Manuel Silva, levanta-se dentro do carro, bate com a cabeça no tejadilho, sai para fora do carro, abana a cabeça duas vezes, fecha e abre os olhos outras tantas vezes, e diz muito alto:
- Filho da puta! Querem ver que tenho que matar alguém!. Ah, és tu, oh Cifra! Devo de estar a sonhar!

E deu-lhe um abraço tão forte, que lhe ia partindo as costelas. Os três, o Curvas que agora era o senhor Manuel Silva, o Trinta e Seis que agora era o o senhor António Laranjeira, e o Cifra que agora era o To d’Agar, passaram quase toda a noite na farra, e já altas horas da manhã, caminhando os três por uma ruela, a caminho da casa do Trinta e Seis que agora era o senhor António Laranjeira, onde o Cifra que agora era o To d’Agar, ia dormir, ouvem alguém gritar de uma janela, no segundo andar:
- São horas de chegar a casa, meu vadio? Sabes que estou grávida, e estou em cuidados contigo?

Era a Lizete, esposa do Curvas, que agora era o senhor Manuel Silva, que o chamava, e era prima do Trinta e Seis que agora era o senhor António Laranjeira, com quem andou de namoro e se casaram, com um banquete a preceito, onde a Lizete, no dia do casamento, toda vaidosa, olhava o marido que levava uma medalha cruz de guerra ao peito, e que finalmente tinha uma família. E o seu marido, o Curvas que agora era o senhor Manuel Silva, responde, com uma voz rouca:
- Só descanso quando os matar a todos e não ficar um único vivo! Lembram-se do Madragoa, do Bóia, do Vouzela, do Madeira, daquele outro que era da Serra da Estrela, e não me recorda o nome, daquele paraquedista, que antes de morrer, pediu para lhe darem um tiro e acabarem com ele, pois não suportava a agonia das dores? Maldita guerra, que não me sai do pensamento!

E o Trinta e Seis que agora era o senhor António Laranjeira, diz numa pausa, em que o amigo pára de chorar:
- E tantos e tantos portugueses e africanos que lutaram uns contra os outros e morreram sem terem nada a ver com esta maldita guerra.

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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11847: Bom ou mau tempo na bolanha (19): O 1.º Cabo Fialho da CCAÇ 616 (Toni Borié)

Guiné 63/74 - P11856: Memória dos lugares (238): Canjambari 1972 (1) (Manuel Lima Santos)




Fotografias enviadas pelo nosso camarada Manuel Lima Santos (ex-Fur Mil Inf.ª na açoriana CCAÇ 3476 - "Os Bebés de Canjambari"Canjambari e Dugal, 1971/73) para a série Memória dos lugares.





Canjambari, 1972 > Entrada do aquartelamento

Canjambari para Jumbembem

Canjambari > Animal de estimação

Canjambari > Aquartelamento

Canjambari > Capela com a imagem do Senhor Santo Cristo

Canjambari > Defesa exterior > Valas

Canjambari > Dia de Ronco

Canjambari > Foguetão 122mm
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11839: Memória dos lugares (237): Bafatá, o seu velho cinema, a sua história, as suas gentes, os seus fantasmas... Bafatá Filme Clube, documentário (78') de Silas Tiny, produção da Real Ficção, brevemente em DVD (Fernando Gouveia)