sábado, 1 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12662: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (15): Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 19 de Janeiro de 2014:

Caríssimo Luís, Como costumas dizer: ...as palavras são como as cerejas...
Aí já fui falando demais, e me comprometi com algo, que para tanto não tenho "nem engenho nem arte".

Quarenta anos depois, tentar falar do "choque", - sim como se fosse elétrico - da disciplina de Mafra, sobre a nossa inocente geração, é muita ousadia.

Na já remota década de 60, éramos uma ilha desinformada, apesar de muitos de nós se julgarem seres politizados. Muitos de nós tínhamos acabado de sair das "asas" paternas, e de sua extensão que era o Colégio local.

Lembra que naqueles tempos não tinha uma Universidade em cada esquina, ainda não tínhamos sido inundados por Escolas com cursos que para nada serviam senão como fábricas de Professores que ficariam necessariamente desempregados, somente Coimbra, Porto e Lisboa tinham Universidade.

E lá íamos nós, em busca de independência e informação, alguns de nós criavam a ilusão de serem bem informados só porque escutavam a BBC, a Rádio Argel ou a Rádio Moscovo, alguns outros de famílias de "Viúvas da Outra Senhora", diga-se República Velha, mais por crença e interesse do que por qualquer motivo mais nobre, formavam o dito na altura "Reviralho", mais à esquerda outros militantes alguns profissionais.

A já longa guerra nas, à altura ditas, Províncias Ultramarinas, as notícias do Maio de 68 em França, e da reação da juventude da classe média Americana à guerra do Vietnam, somaram-se para ajudar a criar um clima de agitação nas Escolas Portuguesas; eu, na altura estava em Coimbra, a Diretoria Eleita da Associação Académica já tinha sido compulsoriamente afastada, o clima era de agitação.

A nossa agitação era fruto de um caldo cultural diferente dos países ditos democráticos que tinham sofrido profundas mudanças estruturais e superestruturais como consequência direta da Segunda Grande Guerra; lembra que o Senhor António tinha livrado nossos pais desse horror! Muitos de nós se julgavam em processo de ruptura com ordem estabelecida, alguns libertários outros mais comedidos, quase todos "freudianamente" prontos para metafóricamente matar o Pai lá de Santa Comba.

Mas éramos todos muito inocentes, aí com facilidade o sistema nos enquadrava com um Tenente e dois Cabos Milicianos e às vezes, poucas, um Sargento.

Poucos dias depois receosos de perder o fim de semana, íamos-nos tornando instrumentos de um sistema que durante tantos anos (63 a 74), enquadrou uma geração de pouca sorte.


"Máfrica" - Vista aérea do Palácio de Mafra - Com a devida vénia a Google Earth


O processo começava aí: "Máfrica", Vendas Novas, Tavira, Caldas da Rainha...
E lá íamos nós, mais ou menos convencidos e eficientes agentes, enquadrar outros mais, pelos quartéis de Portugal e de África. Mafra e Tavira, eram o início de um processo de inserção no sistema de muitos milhares, que a propaganda chegou a fazer pensar, que estavam "dilatando a Fé e o Império". 

Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes.
Estão abertas as "hostilidades"...  Quanto aos números, "passo a bola" ao Camarada José Martins.

Forte abraço a todos
Vasco Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12649: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (14): As localidades por onde passei, sofri e amei - Conclusão (Veríssimo Ferreira)

Guiné 63/74 - P12661: Os nossos seres, saberes e lazeres (65): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (9) (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 26 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 9.º episódio da narrativa da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.




7000 MILHAS ATRAVÉS DOS USA - 9

Companheiros, cá vai a continuação da viagem, alguns de vós vão dizer que é mais longa que “a espada de D. Afonso Henriques”, outros até com toda a certeza dirão, “olha, mais americanisses” e, alguns até vão mais longe e dizem, “só dá Umbigo!

Bem, vamos continuar, os companheiros que gostarem, divirtam-se, os outros, tenham um pouco de paciência, passem à frente e, “suportem lá”, pois a intenção é só única e simplesmente, partilhar com todos vocês, informar-vos o que existe neste continente, como eu gostaria de saber o que vai pelas cidades, vilas ou aldeias do nosso Portugal, até do resto da Europa, da África ou da Austrália.    
Já chega de “blá, blá, blá”, cá vai.


Quase dormimos no hotel em Austinburg, no estado de Ohio, pois talvez alta madrugada, um camionista mais atrevido buzinou, talvez para acordar algum condutor que ia na sua frente devagar, ou qualquer outro motivo, e claro, acordou-me e, por mais voltas que desse “não preguei mais olho”, como é costume dizer-se, pois o barulho na estrada e na estação de serviço da área, mais o cheiro a “tabaco antigo”, que havia em todo a área dos aposentos, manteve-me “alerta”.
Vai daí acordo a minha companheira e esposa, dizendo-lhe que são horas de começar viajem, ela, um pouco aborrecida, lá se levantou, preparamos tudo e tomámos um café, tomando o rumo do leste na estrada número 90.

Um pouco de música, mas verdadeiramente só acordamos quando amanheceu, já íamos próximo da cidade de Erie, no estado de Pennsylvania, dizem que o nome foi dado a esta cidade por causa do grande lago com o mesmo nome, onde está localizada e, por uma tribo de nativos americanos, que por aqui viviam ao longo deste mesmo lago, até dizem que derivado à sua localização geográfica, é a quarta cidade maior do estado Pennsylvania, depois de Philadelphia, Pittsburgh e Allentown.

Milhares e milhares de pessoas visitam a cidade de Erie, para se divertirem e não só, no “Presque Isle State Park”, com atrações de casino e corrida de cavalos.


Aqui parámos, tomando alguma fruta e água, que sempre vai na caixa refrigeradora, continuando a nossa rota rumo ao Atlântico, entrando no estado de Nova Iorque.

O estado de Nova Iorque, não deve ser confundido com a cidade com o mesmo nome, localizada ao sul do estado, pois a cidade de Nova Iorque, além de ser a maior cidade do estado, com os seus 8,5 milhões de habitantes é também a cidade mais populosa dos Estados unidos. O cognome de Nova Iorque, é “Empire State”, e muita gente acredita que este apelido vêm de um comentário feito por George Washington, que uma vez disse, que Nova Iorque, era o “Centro do Império”.

Historiando um pouco, Nova Iorque, foi originalmente colonizada por holandeses, que logo chamaram à região, “Novos Países Baixos”, e também fundaram um assentamento na ilha de Manhattan, chamando Nova Amesterdã, mas quando a Inglaterra capturou o estado aos neerlandeses, deram o nome, tanto ao estado como à cidade, localizada em Manhattan, de Nova Yorque.


Continuando na rota rumo ao Atlântico, ao longo da estrada número 90, onde se paga portagem, havia alguma cultura de milho, videiras, algumas com uvas, ainda verdes, claro, passando pela cidade de Buffalo, era a vinte e poucas milhas de Niagara Falls, mas ainda era manhã cedo. Como já tínhamos visitado as “cataratas” algum tempo atrás, resolvemos andar em frente, já havia montanhas que se subiam e desciam, e como viajávamos em direcção ao leste, o sol que estava a começar a “despertar”, fazia desenhos no horizonte em cima de algumas cordilheiras de montanhas, um espectáculo único, que só se admira talvez uma vez na vida, fazendo-me a mim e à minha companheira e esposa, pensar que somos uns privilegiados, que o “Criador” às vezes contempla as pessoas. E, se pensarmos um pouco, verificamos que na nossa idade, pois já não somos “crianças”, não é preciso ter-se uma boa situação financeira para se viver neste mundo, basta controlar os fracos proventos angariados numa vida honesta, de trabalho, depois de algum sacrifício, preparando a educação dos filhos, para seguirem com as suas vidas, neste mundo de hoje, um pouco ingrato para alguns. Isto é verdade, mas seguindo um provérbio dos índios “Sioux”, que diz, “nascemos nus e nus havemos ir, só por cá passamos”, é preciso sim, ir tendo alguma saúde, irmo-nos alimentando, tanto física como espiritualmente, ter-se uma consciência limpa, andar de bem consigo mesmo, não fazer a alguém, aquilo que não queremos que nos façam a nós próprios, e admirar a natureza que esse tal “Criador” colocou ao dispor de todos nós.

Continuando, passamos pela cidade de Rochester, Syracuse, Utica, pois o nosso destino era a casa de um familiar nas montanhas do norte do estado de Nova Iorque, que era a aldeia de Northville, onde chegamos já passava do meio dia.


A aldeia de Northville foi fundada por volta de 1786, mas as áreas ao sul da aldeia foram ocupadas por volta de 1762. Todo este aglomerado de casas estava situado em terreno alto, na vertente da montanha, naquele vale, onde passava o rio Sacandaga. Quando o reservatório do Sacandaga foi inundado em 1930, o vale tornou-se num braço do “Grande Sacandaga Lake”, pois a Barragem Conklingville, que terminou em 1929, trouxe a expansão do Grande Lago Sacandaga para a borda da aldeia, onde hoje é o “paraíso” de centenas de pessoas que fazem de Northville a sua estância de férias na montanha.


E não fica muito longe da civilização, é mais ou menos a quatro horas de carro de Manhattan, que é o mais antigo e mais densamente povoado dos cinco bairros, freguesias ou distritos, depende de como lhe queiram chamar, que formam a cidade de Nova Iorque, e que fica na foz do rio Hudson.

Os familiares eram a nossa filha e o marido, onde passamos dois dias, viajando pelo lago, entre montanhas, onde ainda se pode beber água pura, nos riachos que correm do cimo.
Fizemos pequenas viagens pelos arredores, vimos alguns animais selvagens, como por exemplo ursos. Também visitamos a cidade de Saratoga, onde existe as famosas corridas de cavalos, e as pessoas, pelo menos foi o que nos deu a parecer, fazem uma vida muito estranha ao normal dos comuns. Aí passamos dois dias maravilhosos.

Este foi o resumo dos dias 9 e 10.
Tony Borie,
Agosto de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12598: Os nossos seres, saberes e lazeres (64): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (8) (Tony Borié)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12660: História da CCAÇ 2679 (66): "O Jagudi", o jornal de Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 29 de Janeiro de 2014:

Viva Carlos!
Hoje vou dar notícia do aparecimento de um jornal em Bajocunda.
Não farei a transcrição na íntegra, por motivos óbvios, talvez com excepção de uma ou outra peça, mas darei luz a assuntos ali tratados.

Um grande abraço que inclua o resto do tabancal
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

Aperitivo para o que inspira o texto:

A Era do Abutre (1)
(Filii Negrantum Infernaliium)

A era do abutre abre os seus portões
De gelo, tormenta, trovão... Eu chamo a noite, sombras... mil sombras violam
A puta virgem... A execução em gargalhadas de aço e
Sangue, abraça a noite negra
Opressão, Tirania... Triunfará o mais forte
E nós, demónios, chupamos sangue, Fome de carne, fome de dor! E feiticeiras em escarlate
Coroam-me senhor (princípio da dor) infernal
O mal avança, chicote do espírito
Matéria, carne, monarca
Tiamat: Faz tremer o todo, Marte... Deus da guerra total (sempre imperial), 
O voo do abutre

(1) - Retirado da Wikipédia, autor não identificado

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66 - "O JAGUDI"

O abutre (Jagudi, sinónimo guineense), é uma ave de rapina necrófaga, voraz, pesada, de asas compridas, que se alimenta de restos de quaisquer animais mortos (o político abutre nunca se contenta com os ganhos).
Pode dizer-se que tem a função ecológica de limpar os locais onde existam cadáveres, ou moribundos. É frequente no continente africano, mas também aparece em Portugal, nas regiões fronteiriças do leste, desde Trás-os-Montes, até ao Algarve, com predominância nas regiões Marvão a Mértola.
Parece, mas não é o grifo. Trata-se do abutre-preto, ou abutre-egípcio, a maior ave planadora dos nossos céus, que chega a ter a envergadura três metros.

Em Junho de 1971, na localidade de Bajocunda, que fica no nordeste da Guiné, então província ultramarina portuguesa, soprada pelas brisas quentes oriundas do deserto, nasceu, novinho, esperançoso e prometedor, um orgão da comunicação social baptizado de "O JAGUDI, Jornal da C.Caç.2679".


Magnifico pela satisfação que transmitia depois de produzido no stencil e de agrafado num corpo mais ou menos coerente, que lhe conferia o pretensioso epíteto de jornal, com tiragens que se prometiam regulares, posso dizer que se tornou um elo de ligação entre a juventude que agregada sob aquela unidade militar, costumava deambular naquela terra, e uma vez por mês tinha acesso às fresquinhas ali publicadas.
Mesmo que não o lessem, era o jornal dos madeirenses.

Não era rigoroso, nem coerente, nem de combate, mas era conforme as ocasiões, naif e experimental, chegou a merecer especial atenção de S. Ex.ª o Comandante-Chefe, bem como do Jornal do Exército que destacou, publicando um artigo de opinião sobre a emigração e a relação com as sociedades que se desenvolviam na África portuguesa; para além da simpática leitura no Pifas de alguns dos textos publicados.

Não era, ao contrário do que pode inferir-se da nota aperitiva, um jornal inspirador de guerras e guerreiros, com carnes a sangrar alarvemente em festas inspiradas por Ares, Marte e Odin, tal como as mitologias grega, romana e nórdica, visíveis com luzes arrelampadas, que projectavam sombras em festins bárbaros, com música de rajadas em substituição das tubas.
Pelo contrário, era o panegírico da "amizade e expressão de camaradagem", e "um mensageiro da Paz", que o editorial do primeiro número garantia transmitir "a certeza de que a integridade da Nação é um facto irrefutável", conforme o atestava o Comandante da Companhia, sem qualquer pressão ou inibição da liberdade de expressão - que eu saiba.

O JAGUDI não nasceu em maternidade, mas carecia dos meios que só a Companhia podia garantir, a utilização do stencil e o uso de químicos e papel, do resto eu prestava-me a fazer, num esforço para aprender a escrever à máquina com dois dedos, muito mais fantástico do que os dactilógrafos profissionais, que o faziam com os cinco dedos de cada mão. Essa ocasião foi aproveitada pelos xicos, que pensaram tirar o melhor partido da iniciativa, tanto que o 1.º sargento, em carta aberta, fazia votos para que não fosse de "carácter puramente belicoso, mas que se torne motivo de distração e humorista". "Fartos de guerra andamos nós", perorava em tom de aviso, e imaginava-se o homem do lápis azul, enquanto prosseguia com determinação "procuraremos imprimir ao nosso jornal aquilo que já dissemos, sem descurar um instante o porquê da nossa estadia aqui".

E passava pelo lombo o discurso da admiração em termos de falsa admiração: "Pais, regozijai-vos... Podeis estar certos que eles perpetuarão... este Portugal quase milenar", cimentados em "laços de sangue ideológico".

E depois de se dirigir às mães e aos pais, não se esqueceu das noivas, e prognosticou que os desejados laços se fundirão para sempre perante Deus e a sua Igreja. Finalmente, dirigiu-se às esposas, garantindo que os pais dos filhos bem merecem "este encargo", para além "da sua integridade e fidelidade conjugais".

Portanto, e para que conste, não houve cenas voluptuosas durante a nossa permanência em Bajocunda, e quando ao fim da tarde, com o cigarro pendurado ao canto da boca, e umas coisitas debaixo do braço, o 1.º Sargento rumava à tabanca, infere-se que lá ia imbuído de espírito religioso apenas para ajudar a minorar a pobreza local.

Sob a designação de "Tema" também foi publicado um texto do Furmil Dinis, que equacionava a continuidade do jornalinho, dependendo do interesse dos leitores, quanto mais não fosse, "para um dia mais tarde ir ao fundo da arca buscar uns papéis amarelos, que de algum modo nos façam pensar no que somos, no que seremos (tínhamos 20 aninhos) e no correr do tempo e da vida", e adiantava que "F. não é mais diferente daquele outro, e através de uma página do jornal está a querer conversar com todos, a expor as suas convicções ou o que aprendeu, está a ser um amigo", no que parecia um convite à participação.

Além disto só houve lugar a distracções e uma página com publicidade, mediante um contrato firmado com a principal empresa de águas naquele território.

O jornal foi enviado para o ComChefe e para o Pifas que desde então passou a ler extractos da publicação.

Voltarei para dar notícia do n.º 2.

O abutre rima com Futre, nutre-se de cadáveres, tira proveito da desgraça alheia, mas o JAGUDI, sem conseguir evitar a lei dos abutres, tinha propósitos mais generosos, que porventura não terá atingido, em virtude da ambição condicionada.

JMMD
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12448: História da CCAÇ 2679 (65): Dia da Raça (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P12659: Notas de leitura (558): "Ideia Geral do Valor Estratégico do Conjunto Guiné-Cabo Verde e da Ilha de São Tomé", por Luís Maria da Câmara Pina (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Agosto de 2013:

Queridos amigos,
Não era sem tempo que se pegasse numa questão ideológica muito cara ao Estado Novo, no aceso da guerra colonial: a luta de Portugal em África era a luta do Ocidente contra a intromissão de Moscovo e companhia.
Esta lição do general Câmara Pina a que aqui se faz referência é um exemplo acabado de uma composição mitológica de que as rotas do Atlântico, vitais para a NATO, tornavam imprescindível o reconhecimento e o apoio declarado do Ocidente ao combate português pelas Áfricas.
A distância das décadas torna claro que qualquer propaganda, por muito bem oleada que seja, é tão precária quanto a consistência ideológica que lhe está por detrás.

Um abraço do
Mário


O valor estratégico do conjunto Guiné-Cabo Verde:
A argumentação do Estado Novo para cativar apoios no Ocidente

Beja Santos

Ninguém ignora que o regime de Salazar e Caetano usaram todos os meios suasórios nos canais da diplomacia para convencer os países ocidentais de que a defesa do Império português era, em primeira instância, a defesa do Ocidente, era um poderoso esteio contra o comunismo e que a independência das parcelas do Império, saldar-se-ia, inexoravelmente, no triunfo do comunismo em África. Além dos canais diplomáticos, procurou sugestionar as elites apoiantes e naturalmente os futuros quadros do regime.

Assim se poderá compreender na íntegra a substância da lição proferida pelo general Câmara Pina no curso de extensão universitária sobre Cabo Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe, organizado pelo ISCSPU no ano letivo 1965-1966. Na lógica do oficial general, fazia-se avultar a questão geopolítica para assim se entender uma das leis da expansão dos Estados: todas as vezes que um poder forte consegue instalar-se num território, em posição central, é imperativo para a sua consolidação e segurança que rapidamente conquiste a liberdade da ação na periferia. Dito entre linhas, não bastaria a Moscovo dominar o centro do continente Africano, faltaria ganhar a batalha pelas saídas para o mar, pelos acessos, pelas posições periféricas. E o orador recordou a Conferência de Berlim de 1885, a questão do Congo: quem passasse a dominar o Congo iria dominar a África Negra. Só que, continuou o orador, o acordo a que se chegou na Conferência foi até certo ponto negativo: aceitou-se que um pequeno país, apenas nascido para a independência em 1831, a Bélgica, continuasse com a responsabilidade da administração do Congo, assegurando-se todavia a todas as potências, em igualdade, a liberdade de comércio, a utilização do rio Zaire e outras facilidades de trânsito. Veio à baila a Conferência de Berlim e o Congo para confirmar que a geopolítica é doutrina que rege a expansão de um Estado em confronto com outros Estados. Chegara a hora de entrar na propaganda a sério.

E daqui passou para Cabo Verde, Guiné e São Tomé. Não seria de excluir a hipótese de um ataque ao continente africano a partir de Cabo Verde, Guiné e São Tomé e teceu uma consideração catastrófica: se estas regiões se tornarem bases do inimigo, o Ocidente ameaçado terá que montar uma operação de reconquista ou criar condições para uma defensiva sem espírito de recuo. E para que a assistência ganhasse a perceção desse cenário de desastre, alertou que do Sal a Conacri eram três horas e meia de voo e de Bissau a Dakar uma hora, isto falando de tempos de voo calculados para o avião DC6. O auditório deverá ter ficado paralisado quando o orador prosseguiu com a necessidade de meios aéreos e navais poderosos para combater a virulência de uma intromissão de Moscovo e aliados:
“A hipótese de defesa implicará o apoio logístico e tático das forças terrestres empenhadas na Guiné e a neutralização ou flagelação de objetivos a norte e a sul da província, alguns dos quais são muito mais vulneráveis do que as bases de onde normalmente o adversário atuará.
Cabo Verde e a Guiné apoiam-se mutuamente e poderão conjugar ações. São Tomé integra-se com maior rendimento no sistema angolano e só excecionalmente terá possibilidade de cooperar com Cabo Verde ou Guiné: efetivamente, dista do Sal 9:30h em DC6 e 5:00h em jato, de Bissau 7:00h em DC6 e 3:45h em jato.
É sempre arriscado em questões de estratégia idealizar no espaço conceções vagas e definir abstratamente intenções e missões: de facto, não se prepara a guerra, prepara-se uma guerra. numa dada região, numa dada época, num dado enquadramento.
Mas é legítimo, didaticamente, avançar uma previsão.
A Guiné, além de manter em condições de funcionamento o porto de Bissau e o aeroporto de Bissalanca, terá a preocupação de unir todas as populações que a habitam na reação contra o presumível invasor e aproveitar as diferenças de religião, de costumes, de língua, das suas etnias para defender a manter a integridade do território.
Cabo Verde terá múltiplas missões à sua responsabilidade. As instalações portuárias de que dispõe, o seu magnífico aeroporto, os recursos das diversas ilhas, certa invulnerabilidade, permitem a maior flexibilidade dos meios navais, aéreos e terrestres. Constituirá a principal base de operações para o bloqueio ou para a reconquista de posições do litoral africano”.

É surpreendente como se pretende cativar o auditório iludindo, de facto, a natureza da guerra que se estava a travar na Guiné, não há uma menção sequer ao posicionamento já instalado do PAIGC, evidentemente com o suporte de Conacri e ainda tímido, à data, por parte de Dakar. O discurso é todo ele centrado em repelir um invasor instalado no continente. Mas a argumentação prossegue, insinua-se que as bases das Canárias são fundamentais para a operacionalidade da NATO, entre Cabo Verde e a Madeira, e atira-se para a assistência o valor estratégico da região que o PAIGC pretende libertar:
“A nossa linha de comunicações interessa muito vivamente a aliança militar do mundo ocidental. Na hipótese de ser fechado o canal de Suez, por acidente ou por acinte, ela constitui a única possibilidade de apoiar com eficácia a navegação para o Índico e para o extremo Oriente. Na roda de África, a estratégia do Ocidente só pode confiar nas bases portuguesas”. E para que não houvesse ilusões quanto ao malabarismo propagandístico, o orador questionou:
“Em face dos ataques terroristas contra os territórios portugueses tão consentidos por parte da opinião pública ocidental e até por vezes apoiados por algumas das suas poderosas organizações: estas bases tão importantes no futuro para a aliança militar do Ocidente – estarão elas mais seguras em outras mãos que não a dos portugueses?”.

A oração de sapiência caminhava para o fim, faltava ainda dizer que o limite da área da NATO devia ser repensado contando com as bases portuguesas, fundamentais para as missões de vigilância no Atlântico Sul e de proteção à navegação Europa-África que, asseverou o orador, passa em grande parte entre a Guiné e Cabo Verde. Acresce que a unidade nacional da Guiné era dada pelo português. Acontecia haver nativos que por pré-disposição racial ou por demonstração de virilidade eram atraídos por engajadores e conduzidos para campos de instrução estrangeiros. A batalha de terrorismo só poderia ser ganha, por um lado, pela ação militar, mas o resultado fundamental era a disseminação da língua portuguesa. Felizmente que os EUA já falavam na segurança global, havia de ter esperança que a análise estratégica de Cabo Verde, Guiné e São Tomé, no quadro de uma guerra Leste-Oeste só teria verdadeiramente sentido se fosse integrada no conceito geral da estratégia e da geopolítica da Nação Portuguesa. A panaceia estava à vista, como rematou o general Câmara Pina: “Os Açores e a Madeira aparecem-nos como sentinelas atlânticas avançadas, a metrópole, juntamente com uma Espanha amiga, a estabelecer a ligação dos aliados na América com os aliados na Europa e a colaborar na vigilâncias nas saídas do mediterrâneo e o rosário completo das bases portuguesas a rodear a África, com uma ponta atirada para a Oceânia, para a China e, querendo Deus, para Goa”.

Os ventos da História foram totalmente insensíveis ao chamamento estratégico do Estado Novo, Salazar também não tinha ilusões, por último ainda se agarrou à quimera de que o Império subsistiria depois da guerra entre os EUA e a URSS, que ele dava como praticamente certa, em data próxima
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12644: Notas de leitura (557): "Rosas da Liberdade", por Manuel da Costa (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12658: Tabanca Grande (423): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), natural da Lourinhã, a viver em Fafe, grã-tabanqueiro nº 643



O alf mil paraquedista, do BCP 21 (1970/72), em 1970, no leste de Angola, a norte do Rio Cassai

Fotos: © Jaime Silva (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Jaime Bonifácio Marques da Silva, com data de 26 do corrente:


Caro Luís

Acabei de escrever a história do A... Vou enviar-te 3 mensagens:

1.º Jaime 1 - 2 Fotos minhas para o Blogue;
2.º Jaime 2 - Com as duas histórias – Castro e A...
3.º Jaime 3 - Com as fotos do Castro.

Confirma, por favor, a receção.

Mais tarde entrego-te os quase 40 painéis da exposição de Seixal numa pen (tenho que fazer , ainda, algumas, correções) .
Abraço, Jaime

2. I parte do texto,  que vai ser publicado na Série "Filhos do Vento"

Assunto - Curso Livre de História Local > O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961 – 1974) > Fu rriel Enfermeiro Castro – Combatente Fafe

 Caro Luís:

Como é do teu conhecimento, o Núcleo de Artes e Letras de Fafe, com o apoio da Câmara Municipal de Fafe realizou de 24 de outubro a 21 de novembro de 2013 no auditório da biblioteca Municipal às 5.ªs feiras das 18.30 às 20 horas o Curso Livre de História Local, cujo tema lecionado neste II Curso foi: O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961 – 1974)

Pediram-me que orientasse a sessão de 31 de outubro onde abordei o tema:

“A PARTICIPAÇÃO DOS MILITARES DE FAFE NO ULTRAMAR:  CONTRIBUTO PARA A EXPLICAÇÃO DA HISTÓRIA DA GUERRA  UMA VISÃO PESSOAL"

Depois de enquadrar o tema, referi que a minha intervenção se limitaria aos acontecimentos ocorridos durante a Guerra, após a decisão política de Salazar quando ordenou: “Para Angola e em força” e, relativa, só, aos elementos que tenho disponíveis sobre à participação dos militares de Fafe em África.

Comecei por analisar a lista e a identidade da grande maioria dos mortos em cada teatro de operações, levantando, depois, algumas questões para debate, nomeadamente, quantos: (i) prestaram serviço em cada um dos Ramos das Forças Armadas (Marinha, Força Aérea, Exército),  (ii) pertenceram a especialidades que os livraram das operações do mato,  (iii) foram colocados nas grandes cidades, etc.;  (iv) quem efetivamente participou em operações com emboscadas, mortos, feridos, minas, acidentes, etc.

Entretanto, deixei para o final algumas questões, de acordo com a minha experiência e vivência em Angola durante a Comissão e relacionadas com a nossa aproximação e relacionamento com as populações nativas. 

Entre outras questões, levantei duas que te quero falar com autorização dos dois ex-combatentes da Guiné, meus amigos:

a) Uma das questões foi: “Quem, nas horas vagas, decidiu oferecer-se como professor” ou ajudar de outra forma as populações?
  
Um deles, participante no curso, foi o Furriel Alves que esteve na Guiné na CART 1742, (hoje, professor reformado) e, cujos elementos, enviar-te-ei logo que ele me dê duas fotos que lhe pedi.[ A CART 1742 - "Os Panteras", esteve em Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69. LG].

Eu, no leste de angola (Léua) dei explicações de Geografia a um africano que queria fazer o 5.º ano e ensinava-lhe o que vinha no manual. Por exemplo, onde nascia o Rio Minho, etc. !

b) Outra questão que levantei foi: “ Quantos de nós deixou por lá os, hoje, designados 'filhos do vento' e não assumiu?

- Eu assumi, interveio o Furriel Castro.

Luís,  esta história merece ser conhecida e divulgada.  Falei com o ex-combatente Furriel Manuel Barros Castro, natural de Fafe e que me deu autorização para falar contigo no sentido de poderes divulgar a história no teu Blogue.

O texto já foi lido e corrigido por ele [... E vai ser publicado proximamente, na série "Filhos do Vento", LG]

3. Comentário de L. G.:

Jaime, o teu nome já anda associado ao nosso blogue desde, pelo menos, 24/5/2005, quando demos a notícia da inauguração, na nossa terra,  do monumento aos mortos da guerra do ultramar, de cuja comissão organizadora fizeste parte.

Depois disso,  interessaste-te pela história do malogrado José Henriques Mateus, desaparecido na Guiné, e teu vizinho da Areia Branca. Em 2009 empenhaste-te,  de alma e coração,  na conceção e organização da  exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial, uma iniciativa inédita em Portugal, tanto quanto eu sei.

Enfim, em 2013 deste força à viúva do malogrado cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate em 4 de junho de 1967, para o evocar no nosso blogue...

Enfim, acho que não precisaríamos de mais boas ações tuas para te meter no quadro de honra do blogue se por acaso a gente tivesse um quadro de honra... Não o tendo, só nos resta sentar-te sob o poilão da nossa Tabanca Grande e atribuir-te o lugar nº 643 (**). Não estivestes na Guiné mas já mostraste que és um dos nossos. Ficas em boa companhia.   Conheces as nossas regras do jogo. Resta-me desejar que te dês bem por cá e que nos ajudes também a desatar os nós da memória e a partilhar afetos. Um fraterno alfabravo do teu amigo e camarada Luís Graça.

________________

Notas do editor:

(*) Postes de (ou com referência a) o nosso novo grã-tabanqueiro Jaime Bonifácio Marques da Silva:

22 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12190: Agenda cultural (289): Programa do Curso livre de história local: "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)", a realizar-se às quintas feiras, das 18h30 às 20h30, de 24 de outubro a 21 de novembro de 2013 (Jaime Silva)

18 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12056: (In)citações (54): O significado histórico e pedagógico do Monumento aos Combatentes da Lourinhã, inaugurado em 26/6/2005: Discurso de Jaime Bonifácio Marques da Silva, Lourinhã, AVECO, 25/8/2013

27 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11987: Efemérides (139): 8º aniversário do monumento aos combatentes da Lourinhã, 25/8/2013 (Parte III)

27 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11986: Efemérides (138): 8º aniversário do monumento aos combatentes da Lourinhã, 25/8/2013 (Parte II)


12 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11932: Convívios (524): 5.º Encontro dos Ex-Combatentes do Seixal, Lourinhã, participantes na Guerra Colonial: 18 de agosto de 2013 > Programa e convite

10 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)


21 de maio de  2013 > Guiné 63/74 - P11606: Agenda cultural (274): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte II (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

21 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11605: Agenda cultural (273): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte I (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

22 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8694: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (45): O António Teixeira (ex-Alf Mil, CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73) por terras da Lourinhã...

19 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4836: Agenda cultural (23): Exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial (Luís Graça)

22 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1685: O mistério da morte do soldado José Henriques Mateus, natural da Lourinhã (Benito Neves / Luís Graça / Jaime B. M. Silva)

24 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXV: Homenagem aos mortos da minha terra (Lourinhã, 2005)

(**) Último poste da série > 28 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12646: Tabanca Grande (422): Mamadu Baio, nosso grã-tabanqueiro nº 642, músico de Tabatô, fundador dos Super Camarimba, casado com uma portuguesa... Vai estar amanhã, às 18h30, em concerto a solo, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, Estrada de Benfica, Lisboa... Entrada livre.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12657: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (79): Notícias do nosso primeiro Silvério Dias e da "nossa tenente", rostos do Programa das Forças Armadas (ou PIFAS)

Silvério Dias
1. O nosso leitor Poeta Todos os Dias deixou, hoje, um comentário ao poste P10366  (*):

Olá amigos!
Que comoção! 
Ao fim de quase meio século, poder escrever:
"sempre ao vosso lado", 
quando "lá"
o dizia de viva e sentida voz.

Sou o "velho" 1º Sarg Silvério Dias,
vivo na Graça de Deus 
e tendo a meu lado a "senhora tenente" 
que me acompanha em 53 anos de matrimónio.

O que tenho para recordar? 
Um rol infinito de que procurarei ir dando conta. 
Para já, o reencontro!




Página principal do bogue do Silvério Dias, "Poeta Todos os Dias"... e onde se lê: "Sou beirão; ex-militar; Índia, Moçambique e Guiné. Na velhice, o vício da poesia, e o amor que me une às boas tradições beirãs"...


2. Comentário de L. G.:

Camarada, em nome da Tabanca Grande, os amigos e
camaradas da Guiné que já são mais do que um batalhão, damos as boas vindas ao nosso primeiro Dias e à "nossa tenente!" [, foto à direita,] que, durante alguns anos  foram o rosto do Programa das Forças Armadas (PFA), na Guiiné..

É caso para dizer, depois deste nosso reencontro, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... É Grande, no sentido de nela caberam sempre... mais dois!... Ficamos à espera de novas. O mail é o seguinte: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Descobrimos que o camarada Silvério Dias criou, em 2011, e mantém até agora um bogue que dá pelo nome de Poeta Todos os Dias... Já tem mais de 26 mil visualizações. Aqui, para ilustração, um poema que ele publicou em 30 de dezembro de 2011:

Heróis do meu País

São dez mil, identificados,
Na pedra fria do Bom Sucesso!
Todos eles foram chorados,
A quando da ida, sem regresso.

São os mártires do meu país,
Vítimas do chamado Ultramar.
Por lá andei e Deus quis
Conceder-me a Graça de voltar.

Perdi amigos; chorei a perda;
Hoje, quando a dúvida se instala,
Mando, mentalmente, "à merda",
"Ilustres" a quem "bati a pala".

Onde mora o brio, o amor à farda?
O juramento feito à Bandeira?
Será que uma geração bastarda
Se rendeu, à bandalheira?


3. Já agora, aqui vão, ao sabor dos (a)casos da Guiné, mais alguns versos, com a devida vénia a autor [, Silvério Dias,. foto à esquerda,] e reforçando o convite para se juntar à nossa Tabanca Grande:

Silvério,  "O nascido na selva"

Significado bem original
Do nome que me foi dado.
Corrijo, algo errado.
Foi na serra que fui gerado!
13/1/2014






P.F.A. Noturno

"2001 Uma Odisseia no Espaço"
É referência que agora faço.
Abertura, "Programa das Forças Armadas"
Que na Guiné de então,
Unia todos os camaradas
Em "encontros" ao serão.

...no espaço do tempo, já lá vai meio século!


Testemunho Público

Também eu, estive lá!...

O MEU TESTEMUNHO
Ao Ilustre, António Ramalho Eanes

Do Presidente e General, falará a História.
Daquele Capitão que "promovi" a Major, *
No meu raro momento de glória,
Me pronuncio eu, em tom maior!

Servi-lo, uma honra na circunstância.
Foi fácil obedecer, vindo o exemplo
De quem, esquecendo a importância,
Desceu até nós, face ao momento.

Momentos que na Guiné partilhámos,
Sabendo ambos qual era o Dever.
Cada um por si, bem o prestámos,
À Causa que se viria a perder.

Ficou o elo, bem firme em mim,
Da admiração pelo Homem-Militar
Para prosseguir, agora e sem fim,
Até que esta minha vida durar.

Na mente, guardo o conceito,
Reservado às figuras duma existência.
A saber: Deus, meu pai e "Este Eleito",
Pelos exemplos, associados à evidência.

* Na cerimónia, impôs que fosse eu, a
colocar um dos galões.
Era, ao tempo, 2º Sarg.do Exército.

25/11/2013


Ao Soldado Desconhecido

Da CART 1802, "Pioneiros da Nova Sintra"

O Alentejo os viu nascer.
Do mesmo, um dia partiram
Para certo destino, a saber,
Sem saberem, ao que iam...

Defender a Pátria, a mensagem.
E com espingardas vos armaram.
Bilhete, só de ida na bagagem,
Pois quantos foram e não voltaram!...

Teu número de condenado, 1802-
Como "fato de riscas", o camuflado-
Trabalhos forçados, te deram depois,
Desde esse dia, malfadado.

Do mesmo lugar de antanho,
Donde partiram as caravelas,
Eis que partem, sem arreganho.
No coração, mil mazelas.

Falar da viagem, a odisseia,
É o dizer, de agonia prolongada,
Feita de enjoos, à mão cheia,
Da novidade não programada.

A chegada a lugar estranho,
De calor tórrido, pegajoso,
Terra à vista, de mau amanho,
Sem vestígios de algo vistoso.

Nova viagem, novo atropelo,
Na barca cinza, de nome lancha.
Todos ao monte, como em novelo
Que desordenado se desmancha.

Pé firme em terras de Farim.
Aqui ficarás, nobre Zé soldado,
Até que um toque de clarim,
Te remeta, a qualquer outro lado.

E foste, como "um pau mandado"
Tropeçando aqui, levantado além,
Por vezes mal comandado,
Tu cumpriste, forte e bem!

Comendo o pão do diabo,
Por ele amassado e com teu suor,
"Temperaste"o que te era negado,
Por falhas, de vulgar superior.

Soubeste traduzir, "bolanha",
Num momento, todo ele sacrificado,
Quando em prova de esforço, tamanha,
Tiveste de passar, p'ró outro lado.

E foste, de novo "baptizado"
Na pia baptismal da picada.
Causou danos, mas bafejado,
Subtraíste o corpo à rajada.

Alguém ficou. Por ti chorado
Em dia fatídico de má desdita,
Sem honras devidas a um finado
Que, longe dos seus, já não palpita.

Quantas palpitações, tantos medos,
Sofridos, em constante desalento...
E os dias parecendo quedos,
Pois decorriam, de modo lento...

Do teu Mundo do Alentejo,
À terra que te viu nascer,
Juntaste nomes de sobejo
Que te obrigaram a conhecer:

Fulacunda, Jabadá, S.João...
São hoje recordações a rever.
Lá deixaste parte do coração,
Não por amor, mas p'lo sofrer.

Construíste, um lugar novo.
Nova Sintra, assim registado.
E, por seres homem do povo,
Como "pioneiro" serás recordado!

O regresso. Missão cumprida.
Dela esquece, a má memória.
Ao longo da tua vida,
Constarás, da nossa História,

Lembrando o Homem-soldado
Que obrigaram a lutar,
Por um ideal mal contado
Que o futuro veio revogar.

Porque tens a alma pura,
Perdoa a quem te fez mal.
Acabada a ditadura,
Temos um novo Portugal.

Embora, com outras sequelas.
Pois parece ser nosso Destino,
Viver sempre em más novelas,
Quando se é pequenino!

"Pioneiros de Nova Sintra"
Em comissão na Guiné, de 1967-69.


Guiné 63/74 - P12656: (In)citações (60): Reserva Transfronteiriça de Elefantes em N' Gaduro, perto de Gadamael, junto à fronteira (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sanconhá > 6 e 7 de dezembro de 2013 >  2º Ateliê  ambiental transfronteiriço, envolvendo técnicos, populações e organizações de um lado e doutro da fronteira.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2013). Todos os direitos reservados. [Reproduzido coma  devida vénia]


A. Comentário do nosso amigo Pepito (que eu espero poder abraçar no próximo dia 14, dia do 99º aniversário da sua querida mãe e decana da Taabanca Grande, a dra. Clara Schwarz), a meu pedido e na sequência do poste P12652 (*):

É de facto assim mesmo. Os Parques Nacionais estão "barrados" pelo oceano a oeste e pelos países vizinhos a este, donde se não houver animais a entrar nos Parques, a médio prazo assistir-se-á a um fenómeno de consanguinidade com os efeitos que se conhecem: perda de resistência física, ficam mais sensíveis às doenças e degeneração da biodiversidade.

É fundamental que se protejam as portas de entrada (corredores) dos animais dos países vizinhos. Para isso há que impedir a construção de tabancas nesses corredores, criação de pomares de fruta e campos de cereais. Igualmente as desmatações, a serem realizadas de forma anárquica por empresários chineses, contribuem para os afugentar.

Os resultados são bons com o trabalho dos alunos das Escolas de Verificação Ambiental (EVA), com o aumento do número e a permanência de elefantes na zona. Decidiu-se fazer uma Reserva Transfronteiriça de Elefantes em N'Gaduro, perto de Gadamael, junto à fronteira.

abraço
pepito


B. Reproduzido com a devida vénia do sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento > 12 de dezembro de 2013 > Atelier ambiental transfronteiriço

De 6 a 7 de Dezembro de 2013, realizou-se em Sanconhá, junto à fronteira com a Republica da Guiné, o 2º Atelier transfronteiriço, o qual tomou decisões muito importantes.

Salienta-se a criação do “Parque Comunitário Para a Paz, de N’Compá”, a primeira área transfronteiriça dos dois países, a partir do qual se estabelecerá um processo de cooperação para o desenvolvimento das populações de ambos os lados da fronteira. [Ver a seguir a ata do ateliê].




ACTA DO IIº ATELIER TRANSFRONTEIRIÇO (CANTANHEZ/BOKÉ)
(Sanconhá, 6 a 7 de Dezembro de 2013)

Entre os dias 6 e 7 de Dezembro de 2013, realizou-se na tabanca de Sanconhá, Sector de  Cacine, Região de Tombali, o IIº Atelier Transfronteiriço, cujo lema foi: “unidos por uma zona  transfronteiriça dinâmica, cooperativa e sustentável”, no qual participaram 52 pessoas,  entre as quais, autoridades políticas e administrativas da Região de Tombali, chefiadas pelo  Governador da Região de Tombali, Senhor Bocar Seidi, por parte da Guiné tomaram parte as  autoridades políticas e administrativas da Região de Boké, chefiadas pelo Sous-Prefect de  Sansalé, Senhor Mamadouba Camará Yakha. Ainda tomaram parte, o Representante da UICN  na Guiné-Bissau, Senhor Nelson Gomes Dias, Técnicos da ONG AD (Acção para o  Desenvolvimento) liderados pela Engª Isabel Nosolini Miranda, presidente da Direcção,  Técnicos do CADI-BOKÉ (Cellule d´Appui au Developpement Integre de Boke) liderados pelo  Senhor Ansoumane CAMARA, presidente de Bureau Executivo, Representante da ONG AIN,  Senhor Claudio Arbore, Consultores da Universidade Livre de Milão, liderados pelo professor  Angelo Turco, o Director de Parque Nacional de Cantanhez, o Representante de Seguimento e  Avaliação do IBAP, autoridades tradicionais (Régulos de Forréa, Gadamael Porto e Cacine),  representante da RADEL (Rede de Associações de Desenvolvimento Local do Sector de  Cacine), Representante da UAC (União de Associações de Cantanhez), Guardas Florestais  Comunitários, Guias de Ecoturismo, Agricultores e pescadores.
Ao longo dos dois dias, os participantes abordaram temas de interesse comunitário  transfronteiriço e recomendaram o seguinte:

1. Promover a cooperação transfronteiriça entre as instituições estatais de dois lados da  fronteira no sentido de facilitar a aplicação das normas da CEDEAO (livre circulação de  bens e pessoas) e controlar:

a) a venda clandestina de madeira, cibe, tarrafe e carne de caça; 

b) a ocupação desorganizada de terra que ponha em causa a dinâmica dos ecossistemas naturais, particularmente a movimentação de animais de grande porte; 

c) caça clandestina;

d) a impunidade de crimes ambientais e civis;

e) garantir que todas as apreensões dos produtos ilegais (madeira, cibe, tarrafe e  carne de caça) feitas dos dois lados da fronteira, uma parte da receita da venda,  fique para as comunidades locais e responsáveis da denuncia ou apreensão.

2. Conjugar esforços no sentido de criar a “Reserva Comunitária Transfronteiriça de  N´Compa” em que os diferentes parceiros assumem as seguintes responsabilidades:

a) As instituições estatais e tradicionais responsabilizam-se:

pela formalização legal  da zona reservada (Guiné-Bissau: IBAP, Direcção Geral da Floresta e Caça e Autoridades politicas e Administrativas e tradicionais da Região de Tombali; Guiné:  Direcção Nacional de Áreas Protegidas, Direcção Geral e Regional da Floresta,  Direcção Regional de Ambiente e Autoridades politicas e Administrativas e  tradicionais da Região Boké, particularmente Secção de Sansalé); 

b) As ONG (AD, CADI, AIN e UICN) responsabilizam-se pela: 

i. Formação de Guardas Florestais Comunitários; 

ii. Formação de Guias de Ecoturismo; 

iii. Definição de itinerários ecoturísticos e promoção das respetivas atividades; 

iv. Aprofundar o estudo de conhecimento do meio (flora, fauna, avifauna,  gestão de território, geografia humana, recursos piscatórios e costeiros e  dinâmica dos ecossistemas naturais) com o apoio da Universidade Livre de  Milão; 

v. Fazer um estudo comparativo do quadro legal dos dois países no domínio  do ambiente de forma a poder harmonizar as medidas e os procedimentos  administrativos no domínio de gestão da terra e dos recursos naturais; 

vi. Desenvolver microprojectos que reforcem a conservação do meio ambiente  (fogão e fornos melhorados, sal solar, rotação de culturas, etc.); 

vii. Promover campanhas de consciencialização das comunidades concernentes sobre a problemática da conservação do meio ambiente e do  desenvolvimento comunitário; 

viii. Criar um Comité de Seguimento do consumo e venda de carne de caça;
c) As Comunidades e organizações camponesas responsabilizam-se pelo: 

i. Repovoamento das zonas degradadas; 

ii. Fiscalização através de Guardas Florestais Comunitários;

iii. Valorização dos ecossistemas naturais, através de actividades de  ecoturismo, medicina tradicional e transformação de frutos silvestres; 

iv. Participar no estudo do conhecimento do meio; 

v. Denunciar qualquer prática que ponha em causa a conservação do meio  ambiente transfronteiriço através de uma “Linha Verde” que será criada  para efeito; 

vi.  Desenvolver as actividades geradoras de rendimento de forma sustentável;

3. Criar um Comité de Concertação, Seguimento e Avaliação de aplicação das  recomendações saídas deste atelier, o qual será composto pelos representantes das  autoridades políticas e administrativas e tradicionais de dois lados da fronteira, das ONG,  das Organizações camponesas e assessorada pela UICN e Universidade Livre de Milão. 

4. Incentivar a criação de uma zona de reserva de elefantes entre a tabanca de N´ghadur  (Guiné-Bissau) e Campô (Guiné);

5. Criar um Found Raising, para apoiar as atividades de desenvolvimento e de conservação  no quadro de um Parque de PAZ e do Povo, cuja constituição será promovida pelo  Gabinete da UICN na Guiné-Bissau;

6. Apoiar CADI-BOKÉ no sentido dispor de capacidade institucional e operacional para  implementar as suas actividades em BOKÉ e na linha fronteira (entre Sansalé e Campô) e  apoiar os seus parceiros de base;

7. Estabelecer um acordo de parceria entre os diferentes parceiros envolvidos neste  processo transfronteiriço, no qual ficarão claras as responsabilidades de cada um e à luz  do qual serão desenvolvidas todas as atividades; 

8. Decidir que o Comité de Seguimento e Avaliação, na sua primeira reunião, deve aprovar o
plano de actividades conjuntas de 2014. 

9. Propor que o IIIº Atelier Transfronteiriço seja realizado na tabanca de Sansalé, em 2015.

Sanconhá, 7 de Dezembro de 2013

Tomane Camará
Relator

_________________

Notas do editor:

(*) 29 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12652: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (18): "A caça no império português", de Henrique Galvão e outros (1943) (Miguel Alves P. Joaquim / Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 5 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12547: (In)citações (59): Homenagem a Eusébio da Silva Ferreira, o "pantera negra" (Lourenço Marques, 1942 - Lisboa, 2014)

Guiné 63/74 - P12655: (Ex)citações (226): Não está resolvida a questão da nossa “reconciliação" e do nosso “reconhecimento” de que do “outro lado da guerra” havia, também, homens que combatiam abnegadamente por um “ideal” e pela “sua terra” (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil pára, BCP 21, Angola, 1970/72)

1. Mensagem, de 28 de setembro de 2013, enviada pelo meu camarada e amigo, natural da Lourinhã e residente em Fafe, Jaime Bonifácio Marques da Silva, onde foi autarca (com o pelouro da cultura, nods anos 80/90, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), e que já aceitou, finalmente, integrar a nossa Tabanca Grande, a meu convite.

É também uma forma de homenagear um camarada que, muito embora não tenha estado no TO da Guiné, muito tem feito pela pesquisa e divulgação das histórias de vida e das memórias de guerra de vários de nós, a começar pelos seus conterrâneos, do Seixal da Lourinhã,  que amobilizados para Angola, Guiné e Moçambique (mais de 40).

Irei apresentá-lo à Tabanca Grande, muito em breve, talvez ainda hoje, se a minha agenda o permitir.  Achei oportuno, por esse motivo, divulgar agora este texto que, não tendo, na altura, sido de imediato publicado, acabou por ficar no "limbo"  do nosso blogue. Sempre me habituei a ver nele um homem de princípios e de valores. A sua presença muito me honra e me apraz, tratando-se além do mais de um lourinhanense e de um amigo de infância.

Luís, envio-te um texto de opinião sobre a “polémica” em volta dos 40º Aniversário da Independência da Guiné, comemoração organizada pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré [. Região de Tombali, Guiné-Bissau]. Se entenderes que é oportuno, agradecia que o colocasses no teu blogue. 

Agradeço-te, também, o convite para fazer parte do vosso blogue. Penso enviar-te a foto que me pediste quando tiver algo de concreto sobre a cerimónia de homenagem ao [José Henriques] Mateus, [da Areia Branca, Lourinhã, camarada desaparecido em combate].  

Penso voltar ao Seixal para participar na caldeirada do dia 14 de outubro, em Ribamar,  organizada pelo nosso amigo Eduardo Jorge. Nessa altura, farei o ponto da situação junto deles [, da comissão organização da homenagem ao Mateus,]  e da Liga dos Combatentes. Igualmente irei  enviar-te os cartazes da exposição dos combatentes do Seixal. (...)

2. Comentário de Jaime Silva [ou Jaime Bonifácio Marques da Silva, como ele é mais conhecido emtre a malta do seu tempo de tropa e na sua terra], ao poste P12073 (*):

Caro Luís Graça e camaradas combatentes da Guiné

Sou ex-combatente e cidadão atento à causa dos que lutaram na Guerra em África. Permitam-me, por esse facto, comentar o Poste colocado no Blogue a propósito do 40º Aniversário da Independência da Guiné, organizado pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré. (*)

Não combati na Guiné. Fui combatente em Angola no BCP21 (1.ª CCP). Comandei durante 28 meses um pelotão nas matas do norte e leste. Algumas destas operações (três) foram realizadas em conjunto com o meu camarada Tenente Miliciano e comandante do 1.º pelotão SNogueira que comenta, também, este poste. (*)

Tenho consciência que a guerra que enfrentámos em Angola não teve a mesma dimensão das dificuldades extremas que alguns de vocês enfrentaram, em determinado período, na Guiné (apesar da zona dos Dembos no norte de Angola e a norte do rio Cassai no leste serem, por vezes, deveras complicadotas!..).

Todos estamos de acordo, porque é uma evidência, que a nossa participação na guerra em África, em qualquer um dos três teatros de operações, teve um ponto comum e um objetivo que foi bem definido pelos decisores políticos da época quando lançarem este pobre país na guerra, ou seja, a nossa missão (por definição de guerra) era a destruição do “in”, “inimigo",  “terrorista”, “turra” “filhos da puta”, “aqueles gajos querem roubar o que é nosso”. Foi para isto que o “velho” (Salazar), como lhe chamava o Prof. Adriano Moreira, nos enviou, primeiro, “Para Angola rapidamente e em força” e, depois, para a Guiné e Moçambique.

Mas, uma guerra (esta guerra) não se faz (fez) contra “Moinhos de Vento”. Uma guerra faz-se, sempre, por uma causa e contra alguém e, numa guerra, há sempre os dois lados da contenda. Sempre foi assim na história da humanidade e em África não fugimos à regra. Encontrámos e defrontámos um oponente que sabia o que queria e porque combatia. Os africanos que combatemos,  entendiam que deviam ser senhores e donos dos seus destinos e da sua terra e nas emboscadas davam-nos conta disso e gritavam, também: “esta terra é nossa”,  “vai para a tua terra, portuga de merda”, “tuga do caralho, vai para o Puto”, “vais morrer,  filha da puta” (esta, era a frase que me soava pior, dava-me agoiro e, infelizmente, deixei lá um soldado e a perna de um outro).

Hoje, esta questão da pertença do território está resolvida, mas não está resolvida a questão da memória da nossa participação na guerra, porque essa nunca se apagará enquanto viver um combatente e, aliás, como não está resolvida a questão da reconciliação da Nação para com aqueles que a serviram (este é outro assunto de debate).

Muito menos está resolvida a questão da nossa “reconciliação" e do nosso “reconhecimento” de que do “outro lado da guerra” havia, também, homens que combatiam abnegadamente por um “ideal” e pela “sua terra” e é aqui, no meu entender, que está o pomo da discórdia entre alguns de nós! …

É, por isso, caro Luís Graça e camaradas responsáveis pelo blogue, que o vosso trabalho é um contributo importante e fundamental para a compreensão e preservação da memória da Guerra Colonial, particularmente na Guiné. Obrigado e continuai.

Este Poste, quanto a mim, tem essa virtude e insere-se, exatamente, na necessidade que temos de fazer um esforço para sermos capazes de “saber ver” os dois lados da Guerra.

Por isso, concordo e subscrevo, em absoluto, com os comentários dos camaradas de armas Luís Graça e Vasco Pires. [...] (*)

 Saudações. (**)

Jaime Silva
Alf Mil Paraquedista (BCP21)
__________

(**) Último poste da série > Guiné 63/4 - P12090: (Ex)citações (225): O nosso blogue e o último dos nossos direitos como veteranos de guerra e cidadãos, o "jus esperniandi", o direito de espernear... (Vasco Pires, ex-cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72; e português da diáspora no Brasil)

Guiné 63/74 - P12654: Bibliografia (38): No meu próximo livro intitulado "Bissaulónia", a minha homenagem a alguns dirigentes do PAIGC, governantes da Guiné-Bissau no pós-independência (Mário Serra de Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data de 27 de Janeiro de 2014:

Olá Carlos:
Tentei responder no blogue mas, aparentemente a minha mensagem tinha mais texto que o permitido.
Deste modo, aqui fica para tua consideração, estas primeiras linhas, e no anexo, um excerto do meu próximo livro.

“Agradecendo sinceramente a todos os meus camaradas que tiveram a amabilidade de me dar os parabéns, informo mais uma vez que estou na fase final de terminar o meu próximo livro, intitulado "BISSAULÓNIA".
Sobre o mesmo, creio já ter comunicado que que estaria aberto a receber toda e qualquer questão, relacionada com qualquer “curiosidade” que acaso possa existir na mente de muitos dos camaradas ainda viventes, tendo em conta, o facto de eu ter tido uma estadia na Guiné mais prolongada, que a maioria.
A abertura continua até ao dia da edição.
Depois, já será tarde. 

Para já, e como forma de agradecimento, e a titulo de uma “pequena homenagem” aqui vai um pequeno excerto das paginas inicias de “BISSAULÓNIA”. 

Prometo enviar periodicamente mais algumas páginas, logo que revistas, na procura de algum erro. ACEITO E AGRADEÇO QUALQUER CORREÇÃO. 



Assim, temos… "BISSAULÓNIA"

Um livro onde procuro descrever as mudanças visualizadas em Bissau, no contexto da composição da “textura humana” desde a data da minha chegada à Guiné (Maio de 1967) e o período pós independência.
Procuro também relatar as mudanças feitas na política local, com todas as suas consequências sociais e económicas que, lamentavelmente para mim e minha família, ainda hoje sinto um determinado traumatismo, com uma “raiva interior de impotência” pela “ingratidão" demonstrada para com a minha pessoa, não pelo povo da Guiné nem por todos os membros da “cúpula” do Governo da Guiné, mas sim por meia dúzia de “mal paridos”, aos que eu chamei e chamo – sem hesitação alguma – “batatas podres com pernas”.

Ingratidão para com quem demonstrou uma cega confiança na capacidade de “quem estivesse ao leme”, de saber diferenciar entre aqueles que acaso tivessem tido um comportamento menos apropriado, e a pessoa que arriscou cegamente tudo o que tinha ganho até ali, incluindo ficar empenhado com letras bancárias, para aquisição de outros locais de actividade, onde por certo daria trabalho a algum membros do povo da Guiné.

Como disse, não foi o “povo em geral” que foi ingrato nem tão pouco muitos dos membros “da cúpula”, mas sim uns quantos que se apoiavam na prepotência e no abuso de poder, por terem “compadres empoleirados” da ala politica que mais reinava na ocasião. A ala de Cabo Verde. Nunca esqueci nem esqueço o que me fizeram e tentaram fazer".

Mário Serra Oliveira


Guiné-Bissau
Foto: SIC Notícias, com a devida vénia


INTENÇÃO – OBJECTIVO

A intenção destas linhas, tem como objectivo principal, satisfazer um pedido de vários ex-camaradas de armas, os quais, na sua grande maioria, prestaram serviço militar na então chamada Guiné Portuguesa, hoje um novo país, conhecido como Guiné-Bissau.

A razão principal, tem origem no facto de, enquanto muitos destes meus camaradas fizeram uma (ou mais, quem sabe?) comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses, sabe-se lá em que local do teatro de guerra, quantas vezes em risco constante da própria vida, eu, considerando-me um “sortudo”, que nem uma pistola tive distribuída, acabei por ficar na Guiné, após cumprida a minha comissão de 19 meses e 10 dias bem contados, com “risquinhos” mensais e tudo, no cinto – cópia fiel do uso e costumes de outros camaradas de armas – ao serviço da Força Aérea Portuguesa, inicialmente destacado na messe de sargentos e, posteriormente, na messe de oficiais, no coração da cidade de Bissau.

Com esta minha decisão, acabei por ficar na Guiné durante cerca de catorze anos e meio e, como tal, acabei por ser “testemunha” voluntária (1) do desenrolar de vários acontecimentos, nunca ao alcance destes meus camaradas. No entanto, apesar de ter havido “episódios” espalhados por toda a Guiné, obviamente, só me posso referir aos “centralizados” na área de Bissau e vizinhanças limítrofes porque, era aí que eu me encontrava, “abrangendo” parte do período de guerra, desde a minha chegada a 17 de Maio de 1967, até ao dia da independência da Guiné, oportunidade que só os presentes na ocasião, puderam testemunhar – uns num local e outros noutro.

Uns de uma forma e outros doutra. Eu, como já disse, estava em Bissau. Portanto, no que me diz respeito, além do período pré independência que refiro, desde Maio de 1967, tive a oportunidade de assistir – para bem ou para o mal – a toda a mudança da conjuntura social e política que passou a vigorar na Guiné, após a independência e durante cerca de 7 anos depois. De facto, só saí definitivamente da Guiné, em Agosto de 1981.

Como tal, desde Setembro de 1974 a Agosto de 1981, são quase 7 anos, como já disse. Seis anos e 11 meses, mais precisamente. Portanto, perante esta certeza e estes factos, creio ser mais que lógico a existência de uma certa “curiosidade” por parte destes meus camaradas, em quererem saber como “foi aquilo” depois da partida deles ou, mais englobante, como “foi aquilo”, depois da independência. É pois, com grande prazer pessoal, que tenho a honra de tentar satisfazer esta curiosidade, relatando o que quer que seja que haja a relatar, o mais realisticamente possível e o melhor que a minha memória me permite, pedindo desculpa a todos, se acaso não consigo satisfazer cabalmente a totalidade das vossas expectativas.

Aqui, nestas linhas, só digo o que sei e o que penso estar correcto, mesmo debaixo de alguma imperfeição humana. Ao mesmo tempo, antes de dar início aos capítulos que irão fazer parte do “corpo principal” deste livro, não poderia deixar de fazer uma singela homenagem, a TODOS os milhares dos meus camaradas ex-combatentes das Forças Armadas de Portugal, que prestaram serviço no chamado “ultramar português” durante as guerras de libertação das ex-colónias, tendo em especial consideração, os milhares de camaradas que, no conjunto geral, uns numa ocasião e outros noutra, passaram pela então chamada Guiné Portuguesa, numa comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses como já disse, a quem estas linhas são dedicadas.

A TODOS, um abraço aos ex-camaradas viventes e, aos que já partiram para “o jardim dos justos”, que a terra “Vos seja leve e o sorriso das flores Vos embale”.
Para a vida e para a morte, sou o sempre Vosso fiel camarada.
Mário Serra Oliveira -
1.º Cabo amanuense nº 262/66 – ZACVG.
(Mário Tito)

Guiné-Bissau - Bissau Velho
Foto: Road Blog, com a devida vénia


HOMENAGEM - RECONHECIMENTO

Ao mesmo tempo, e por respeito para com o meu semelhante, independentemente do ponto de vista políticos e acções do passado, sinto-me com o dever cívico de prestar uma homenagem de reconhecimento, a alguns elementos do PAIGC que, após a independência da Guiné, fizeram parte do Governo, ou que ocuparam outras posições de liderança naquela ocasião, com os quais tive a oportunidade e o privilégio de conviver – e até servir - atendendo à minha posição de comerciante no ramo da restauração, os quais, na sua maioria, de uma forma ou de outra, foram muito atenciosos para comigo (2).

Procurarei também, separar o “trigo do joio” entre estes últimos homenageados e outros protagonistas ligados ao PAIGC porque, efectivamente, nem todos aqueles com quem convivi – independentemente do cargo que acaso ocupassem na ocasião – usaram a mesma cortesia, o mesmo respeito e a mesma justeza, na suas lides diárias ou ocasionais com a minha pessoa. De facto, por parte de alguns destes, aos quais farei referência dos seus actos e atitudes noutra secção destas linhas, se houve algum excesso ou empenho, foi de abuso e prepotência, numa tentativa de “dificultar o mais possível” a minha vida, bem como a da minha família.
O porquê, só eles o saberiam ou, como sempre desconfiei, só eles teriam em mente um determinado objectivo - politico ou não - aberrantemente paupérrimo. Mas, nesta secção, tratando-se de um espaço dedicado a uma homenagem, permitam-me seguir adiante, concentrando-me em alguns dos nomes que considero merecedores de reverência, a quem, com toda a minha sinceridade, presto uma póstuma homenagem aos já falecidos e, aos ainda vivos – se os houver, depois de tantas escaramuças politicas naquela “pobre" Guiné Bissau – apresento os meus mais profundos e sinceros agradecimentos.

 Deste modo, cada qual pelo seu motivo mas, todos, pela sua atenção, boas palavras e cortesia, aqui ficam os nomes e cargos que ocupavam na ocasião, de todos os que a minha memória permite recordar com agrado e profundo reconhecimento, pedindo desculpa por se acaso a minha memória me atraiçoa, esquecendo de mencionar algum outro nome.

Temos:
- Laurentino Lima Gomes, comissário das obras públicas;
- Francisco Mendes, também conhecido como “Chico Tê”, 1º ministro em 1975, mais tarde assassinado;
- Armando Ramos, comissário do comércio;
- José Pereira, comissário da segurança social (se não estou em erro…);
- Juvêncio Gomes, presidente da Câmara Municipal de Bissau;
- Victor Saúde Maria, comissário dos negócios estrangeiros;
- Manuel Saturnino, cuja posição não recordo;
- Marcelino Lima, director dos armazéns do povo;
- um tal senhor ou camarada – como lhe queiram chamar
- Embaló, cujo nome completo não recordo, director da Dicol (antiga Sacor);
- José Carlos Schwarz, cuja posição que ocupava desconheço mas que, a título pessoal, era membro do conjunto musical Cobaiana Jazz, autor e poeta, falecido num trágico (?) acidente de aviação em Cuba;
- Carlos Gomes Júnior, (Cadogo) ex 1º Ministro da Guiné, e outros que, de um modo geral, foram muito corteses para comigo e minha família.

Aos já falecidos, que a terra lhes seja leve. E, aos ainda viventes, aqui fica o meu sincero e honesto agradecimento por tudo quanto fizeram e disseram, para aliviar as incertezas que “pairavam” no ar a cada instante.
Os nomes daqueles que foram uma espécie de “carrascos” para comigo, não têm lugar aqui nesta secção, em respeito aos acima homenageados, numa tentativa de não misturar “o bom com o mau”, separando com isso, o “trigo do joio”, conforme prometi anteriormente.

No entanto, cada qual a seu tempo, será alvo de referência, quando chegar o momento de relatar os episódios em que tristemente estiveram envolvidos contra mim.
Até lá, aqui fica esta singela homenagem aos que, por bem serviram e, em primeiro lugar mais uma vez, os meus camaradas de armas e, por bem fazerem, aos acima referenciados.

TODOS ELES, por direito e consideração, dignos ILUSTRES desta homenagem.

Finalmente, espero ter expressado claramente qual a minha intenção e, com isso, conseguir o objectivo a que me proponho.
Sinceramente.
Mário Tito