sábado, 22 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12756: Blogoterapia (249): Reflexões sobre a vida e a morte (Juvenal Amado, Galomaro, 1971/74)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Galomaro, hoje... Foto da Missão Dulombi (com a devida vénia...)~


Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro  > c. 1972/74 > O aquartelamento, sede do comando e CCS/BCAÇ 3872. Foto de Juvenal Amado



1. Texto e e fotos enviados  pelo nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º cabo condutor auto, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 19 do corrente:


Na vida nada há tão certo como a morte e ela não é sempre de valor igual. Se não,  vejamos os comentários que nós próprios fazemos;

“Era ainda tão jovem, vai fazer tanta falta! Ou, “Já tinha muita idade e até foi uma esmolinha”!

A nossa geração foi confrontada tantas vezes com ela. Encará-la e esquecê-la seguidamente, faz parte de alguma irresponsabilidade e capacidade de dádiva dos nossos verdes anos que dizem respeito ao primeiro terço da nossa idade adulta.

Foi assim que ela enfrentou a morte durante 13 anos. Enfrentou-a com alguma leveza, inconsciência e espirito de aventura, a que se predispunha e o facto de aquela guerra não pôr directamente em risco as nossas cidades e as nossas famílias, resguardadas das bombas e restante violência, que uma guerra acarreta no chão sagrado dos nossos avós.

Por vezes de forma sorrateira, outras vezes com a violência, com o horror, a surpresa de sermos confrontados com a morte e sofrimento de quem momentos antes falava, ria, bebia, ou partilhava um cigarro.

Os gritos, os tiros e as explosões, levavam tempo a passar para o subterrâneo do nosso consciente, o que tanto temíamos tinha acontecido, o nosso mundo ficava virado do avesso.

Pensávamos que só acontecia aos outros.

Chorávamos ali no chão vermelho e sol escaldante e perante a incredulidade de quem nos pudesse observar procurávamos e recolhíamos os bocados, desde os membros aos restos de farda e até ao mais pequeno pedacinho de atacador. Nada ficava para trás. Talvez quiséssemos apagar o que tinha acontecido e não deixar nenhuma prova da tragédia da nossa passagem ali naquele dia de má memória.

É da natureza Humana rejeitar o sofrimento e ao afastarmo-nos daquele momento o mais rapidamente possível, ansiavámos assim que a dor se tornasse cada vez mais suave e menos presente. Depois ajudávamos a recolher os seus pertences e revíamos tudo o que se poderia enviar às famílias.

Víamos o homem para além do que connosco lidava no dia a dia. As cartas da namorada, as fotos, a garrafa de whisky cuidadosamente guardada para festejar o regresso, o robe chinês, o serviço de chá, e os corpiés que aos poucos adquiriram para fazer parte do enxoval dos dias felizes.

Comprados na loja do libanês,  eles seriam o orgulho na cama de casal após o casamento. Essas coisas eram compradas à custa de não se beberem umas cervejas ou mesmo uma viagem de férias a casa, pois o magro pré não dava para muito mais.

Mas esses objectos valiam agora mais do que quem os tinha comprado porque,  parafraseando o poeta, eles prestavam ainda para alguma coisa, ao contrário os donos jaziam inertes para sempre sem utilidade.
Passavam a ter um valor inestimável como recordação para quem eram destinados, até que outro amor surgisse, pois a dor castradora da vida não pode nem deve ser para sempre.

As caras e as situações, voltaram quando a idade mais nos aconselhava a uma vida sem preocupações e passeios à beira mar.

Com o envelhecimento essa dor visita-nos mais amiúde. A morte aparece de várias formas, porque ela tem muitas caras e,  ao contrário da nossa juventude, aos poucos todos ganhamos consciência de que somos finitos esperando no entanto que esse dia ainda seja longínquo.

Acabamos por nos despedirmos dos nossos avós, pais, tios e por fim dos amigos que nos são queridos. Pela ordem natural esperamos partir um dia, deixando para trás os nossos descendentes para nos honrar a memória, como nós honramos a memória dos nossos ascendentes.

Hoje as nossas memórias estão cheias de sombras que todos os dias crescem. Ficam os momentos vividos, as gargalhadas, as celebrações da vida a felicidade dos momentos únicos.

Cada um que parte, leva um bocado de nós e do nosso Universo, porque a morte é o tempero que nos faz dar valor à vida.

Juvenal Amado



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > O "suplício de Sísifo": os homens-toupeira construindo (e defendendo) a sua "casa" no "corredor da morte", em tempo recorde... [Construindio aquartelamentos, 'bunkers', abrigos, espaldões, abrindo valas, picadas, etc., também fomos "coveiros de nós próprios"... LG]


Foto: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P12755: Efemérides (149): Portugal e o Futuro, de António Spínola, foi publicado há 40 anos, pela Arcádia Editora (João Paulo Diniz, ex-locutor do Programa das Forças Armadas, Com-Chefe, Bissau, 1972/74]

Capa do livro
1. Mensagem do nosso camarada João Paulo Diniz:


Data: 21 de Fevereiro de 2014 às 16:19

Assunto: livro

Este sábado, 22 Fevereiro, faz 40 anos que um livro agitou a política portuguesa. O título? "Portugal e o Futuro". Autor: António de Spínola, General, que entre outras destacadas funções foi Governador da Guiné.

E o que fez de "Portugal e o Futuro" uma obra tão especial? O facto  de Spínola opinar, entre várias coisas, que a única solução para o conflito no Ultramar passava por uma solução política e não pela continuação do conflito armado nas três frentes de guerra.

Passados cerca de dois meses sobre a publicação do livro deu-se o 25 Abril e o Gen António de Spínola encabeçou a Junta de Salvação Nacional para, no mês seguinte, ser nomeado Presidente da República.

"Portugal e o Futuro" faz agora 40 anos. Foi ontem... (*)
João Paulo Diniz

[ex-1º cabo, BENG 447, ex-locutor do PIFAS, Com-Chefe, Bissau, 1972/74; profissional da Rádio e da TV; Oficial da Ordem da Liberdade em 2013 ]




Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > Campo de futebol > 24 de Dezembro de 1971, vésperas de Natal > O gen Spínola  passa revista às novas companhias de milícias. O Alf Santiago segue atrás com o Cap Tomás, então ajudante de campo do general.

Foto: © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados.



Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74) > 14 de Abril de 1973 > Spínola, de visita ao aquartelamento de Cumbijã > Aqui ao centro, seguindo com o olhar um ponto no horizonte que lhe é apontado pelo Cap Mil Vasco da Gama. À sua direita, o Comandante do BCAÇ 3852, com sede em Aldeia Formosa. (**)

Foto: © Vasco da Gama (2008). Todos os direitos reservados.

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12754: In Memoriam (182): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014): Pepito ca mori: singela homenagem com quadro de mulher de Bambadinca, a partir de foto datada de 1969, acrílico s/ tela 40 / 40cm (Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968 / 70; cofundador do Lions Clube de Bissau)



Jaime Machado > "Mulher de Bambadinca-Guiné",  a partir de foto datada de 1969. Acrílico s/ tela 40/40cm.

Foto: © Jaime Machado (2014). Todos os direitos reservados. (Edição:  L.G.)


1. Mensagem do Jaime Machado, com data de 20 do corrente,


Pintei hoje esse quadro, lembrando-me do nosso amigo Pepito..

Abraço, Jaime

[ex-alf mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70; membro da nossa Tabanca Grande; miliatante de causas solidárias, ligado nomeadamente ao movimento lionístico (Lions International, Lions Clube Senhora da Hora, Lions Cllube de Bissau]



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Nota do editor:

Vd. poste anterior da série >

21 de fevereiro de  2014 >  Guiné 63/74 - P12752: In Memoriam (181): Analido Aniceto Pinto morreu ontem, em Lisboa. Foi cap mil da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte)

Guiné 63/74 - P12753: (De)caras (15): O meu primo Agnelo Dantas, e meu conterrâneo da ilha de Santo Antão, comandante do PAIGC, com quem me reencontrei no pós-25 de abril, em Bissau, era eu empregado bancário, no BNU - Banco Nacional Ultramarino (António Medina, ex-fur mil op esp, CART 527, Teixeira Pinto, 1963/65, a viver nos EUA, desde 1980)


Guiné > Região do Cacheu > CART 527 (Teixeira Pinto,  Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65) > António Medina,  fur mil  op esp.


Foto: © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


António Medina, hoje, nos EUA
1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro, Antóno Medina, natural da ilha de  Santo Antão, Cabo Verde, e a viver nos Estados Unidos da América, tendo sido fur mil  op esp,  CART 527 (Teixeira Pinto,  Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/651963/65)  e depois empregado bancário, no BNU, em Bissau, até á data da independência:


Data: 20 de Fevereiro de 2014 às 04:05
Assunto: Meu Primo Agnelo


Ei, amigo Graca, estou de regresso com um anexo versando as minhas memórias do encontro que tive em Bissau com um meu primo, soldado do PAIGC. (*)

Trata-se de uma história interessante de dois primos que pertenceram a facções contrárias. Agradeço que o leias e, se achares que merece ser publicado no Blogue, segue em frente. Por favor deixa-me saber o que tiveres por conveniente.

Saúde e um abraço, Medina.


2. A Minha Experiência Pós-Guerra na Guiné-Bissau >  Encontro com o Primo Agnelo Dantas, militante do PAIGC

por Antonio Medina


Ano de 1974, da revolução de cravos em Portugal.

A voz da liberdade e a derrota do fascismo soou aos residentes civis em Bissau, Guiné, bastante cedo do dia 26 de Abril .

Era eu empregado do BNU desde 1967 e vivia como é obvio em Bissau com a minha mulher e três filhos pequenos, os dois primeiros já quase em idade escolar .

Nao me vou alongar nesta estória mas julgo ser um facto bastante interessante que merece ser mencionado, até porque os protagonistas são relacionados com a Guerra e tem laços de família. Todavia deixarei ao vosso critério a publicação dessa mesma estória, se assim ela merecer e se se enquadrar dentro dos parâmetros estabelecidos.

Depressa reinou uma grande euforia em toda a cidade de Bissau. A caça ao homem e o saneamento começou, alguns que por qualquer divisionismo familiar eram falsamente acusados, outros por terem sido informadores da PIDE, perseguição e prisão para aqueles que exerciam cargos de chefia nas repartições públicas ou privadas e que não mais mereciam confiança, aqueles que supostamente apoiaram o regime fascista, etc. Arruaças, espancamentos, ofensas, fuzilamentos (o mais notório foi do respeitado Régulo Batican Ferreira, de Teixeira Pinto, que foi do meu conhecimento pessoal quando estive no chão manjaco em 1963/65)

.Tempos difícieis vividos sob a pressão constante de ser perseguido, espancado ou aprisionado, aliado àfalta de géneros alimenticios que se fazia sentir em todos os aspectos.



Antiga sede do BNU em Lisboa, na Rua Augusta, que hoje aloja o Museu do Design e da Moda (MUDE),  Um dos escudos do escultor Leopoldo de Almeida (1964), que representa a expansão do BNU pelo antigo território ultramarino português, incluindo a Guiné. 

Fonte: BNU. /Reproduzido com a devida vénia...)



Entretanto chegam as forçaas do PAIGC a Bissau depois da maioria das tropas Portuguesas terem regressado a Lisboa e se instalam em quartéis e ocupam outras instalações. O Banco Nacional Ultramarino continuava fazendo as suas operações dirias sem qualquer inconveniente.

Num daqueles dias de calor e humidade, depois das 10:00 da manhã, fui chamado para atender um cliente que me procurava - era um militar natural da Guiné, das forçaas do PAIGC, armado com uma Kalashnikov.

Senti um calafrio pela espinha abaixo quando me aproximei dele que, sem qualquer preâmbulo, apenas me comunicou que eu teria de estar ao meio dia na Sede do Partido, ao lado do Palácio. Esperando o pior, prontifiquei-me a estar presente, não perguntando de quem ou de onde vinha tal ordem, o militar mais não disse, retirando-se apressadamente.

Comuniquei imediatamente à minha mulher o assunto, pedindo-lhe que se mantivesse calma, que se me pusessem sob custódia deveria ela deveria seguir quanto antes para Cabo Verde, Ilha do Fogo, onde tinha familiares. Aliás, ia sendo este o procedimento com quantos prontos para embarcarem foram proibidos de seguir viagem, sem justa causa.

Imaginem o meu sofrimento durante aquele tempo de espera contando os minutos e segundos no meu Cortebert. Foram os piores momentos da minha vida, os nervos e o medo não me deixaram mais trabalhar. Irrequieto e preocupado, sem qualquer concentração, andava de um lado para outro sem saber o que se me adivinhava. Na hora certa, saí correndo em direcção à Sede do Partido para me apresentar a quem (?), no edifício da antiga messe dos Oficiais da Força Aérea Portuguesa.

Quando chego ao pé do sentinela, deparo-me com um sujeito, a uma curta distância, de meia estatura, barba cerrada , com a farda dos revolucionários mas desarmado, sorrindo para mim. Era o meu primo Agnelo Dantas, filho de uma tia, irmã do meu pai . Fiquei deveras surpreendido quando vi a realidade à minha frente, meu primo, um dos combatentes do PAIGC

Ponderei surpreso por alguns momentos, me aproximei sem qualquer relutância e demo-nos então um caloroso e prolongado abraço fraterno. A convite dele entramos no edifício e depois de um trago de whisky John Walker Black que me ofereceu, senti-me mais relaxado para se conversar.

O ambiente era confuso e barulhento, alguns deles sentados cavaqueando com outros das mesas ao lado, à espera que o almoço lhes fosse servido, outros de pé, encostados ao balcão do Bar conversando em alta voz, pessoas entrando e saindo, mostrando falta de preconceitos e princípios pela maneira como se sentavam e se comportavam à mesa, fruto de terem andado longe da civilização na floresta da Guiné, durante aqueles anos todos.

Sentamo-nos os dois numa mesa mesmo no canto da sala, foi ele pessoalmente ao balcão, pediu duas cervejas fresquinhas. Falamos da nossa infância e dos familiares que se queixavam da falta de notícias dele desde que seguiu para estudar em Françaa. Atentamente ia eu ouvindo o tecer da sua experiência no mato, satisfazendo a minha curiosidade com as perguntas que lhe fazia.

Fiquei sabendo que nao desconhecia a minha presença na Guiné, nao só do tempo militar assim como de empregado bancário. Que tinha sido aliciado e recrutado com a idade de 20 anos por Amílcar Cabral, para a luta de Libertaçao da Guiné e Cabo Verde. Que embarcou para Cuba e se formou na Escola Militar em Havana. Que no tempo do General Spinola foi ele quem numa das noites bombardeou Bissau com três misseis teleguiados disparados da Ponta de Cumeré. Carregava com ele um diário replecto de informações recebidas dos colaboradores do Partido.

Chegam mais elementos, identifiquei-os como cabo.verdeanos e reconhecemo-nos como amigos de infância, alguns ex-colegas do Liceu Gil Eanes em S. Vicente, Cabo Verde:

  • Honório Chantre,
  • Silvino da Luz,
  • Júlio de Carvalho,
  • Osvaldo Lopes da Silva, etc.

Era um grupo que também queria exteriorizar a sua alegria pelo fim da guerra e Independência da Guiné, reconhecida por Portugal, aguardando a vez de também lhes ser servido o almoço logo após haver mesas desocupadas.

Reinou grande alegria entre todos nos pelo reencontro e amizade, rejuvenescida no momento. Foi bebida à vontade para quem quisesse, cerveja Sagres bem geladinha, goles de whisky Johny Walker com gelo, eram sobras da velha senhora deixadas aí a custo zero por aqueles que partiram. Como petisco,  ostras e camarões cozidos e temperados com molho de piri-piri forte, mancarra torrada sem casca, tudo para matar a sede e o suor que trazia aquele calor asfixiante. De Jure, não sabia absolutamente nada que fossem filiados no Partido como combatentes. Apenas se ouvia dizer que saíram à procura de trabalho no estrangeiro.

Quando regresso a casa para o meu almoço, encontro a minha esposa bastante preocupada, com os nervos à flor da pele, sem ainda saber do que se tratava. Teve ela um grande alívio quando pela primeira vez conheceu o primo Agnelo mas discretamente me consciencializou e me convenceu que devíamos deixar a Guiné para outras paragens onde pudéssemos cuidar da educação dos nossos filhos e viver com mais tranquilidade.

Durante algum tempo o primo Agnelo esteve em Bissau e mantivemos óptimas relações. A minha mulher passou a cuidar das roupas dele, com frequência se juntava-se a nós para o nosso rancho. Depois seguiu para Cabo Verde e ocupou o cargo de Chefe das Forças Armadas Revolucionárias do Povo ( FARP ). Mais tarde foi Chefe do Estado Maior das Forcas Armadas. Hoje é reformado como Coronel do Exército Caboverdeano e vive na cidade da Praia.


Antonio Cândido Medina

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12732: (De)caras (14): A propósito da morte dos Três Majores, tema da acta do conselho de guerra do PAIGC, de 11 a 13/5/1970: Amílcar Cabral no seu melhor: pode ter sido um grande líder africano, não é definitivamente um humanista (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

(**) vd,.  A Semana, [Em Linha], 27 de janeiro de 2007. "Retratos:  Agnelo Dantas, soldado de Cabo Verde", por  Gláucia Nogueira

Reprodução de excertos com a devida vénia:

(...) Agnelo Medina Dantas Pereira, coronel reformado das Forças Armadas, foi condecorado a 15 de Janeiro último com a medalha da Estrela de Honra pelo chefe do Estado-Maior das FA. Ele que foi o primeiro a ocupar este cargo e ainda antes de existir esta designação foi o comandante geral das FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo) e das Milícias Populares, recorda para asemanaonline   os primórdios do exército cabo-verdiano. (...)

Agnelo Dantas.
Foto do Arquivo Amílcar
Cabral. Fonte:  Casa Comum 
(Reproduzido
com a devida vénia, em formato
 reduzido. (LG)

(...) Dantas Pereira, cujo pai é da Brava e a mãe de Santo Antão, nasceu nesta ilha em 1945. Assim, nem tinha completado 20 anos quando integrou, como o mais jovem entre eles, o “grupo de Cuba” - razão pela qual foi agora escolhido para receber a medalha representando os combatentes que rumaram àquele país da América Central para dois anos de treino militar com o objectivo de fazer um desembarque armado em Cabo Verde.

“Em 1965, encontrava-me em Paris quando fui contactado por Pedro Pires, e depois por Cabral, e convidado a integrar o grupo de estudantes e operários que iria fazer um treino militar - inicialmente nem sabíamos onde, depois é que soubemos que era Cuba”. Chegaram a esta ilha da América Central depois de uma passagem pela Argélia, onde já se encontrava uma parte do grupo, formado por 30 homens e uma mulher.

Nessa época, diz Dantas Pereira, “ninguém pensava na Guiné”. “Para nós tratava-se de lutar pela independência de Cabo Verde”. A formação militar, salienta, tinha como objectivo um desembarque armado em Cabo Verde. “Penso que seria difícil a nossa mobilização para irmos para a Guiné, pois não havia um nível de consciência que nos fizesse ter aquela visão estratégica da luta única. Só mais tarde é que viemos a perceber isso”, considera.

A ida de um grupo do PAIGC para a terra que havia seis anos vivia sob a revolução de Fidel Castro fora organizada por Che Guevara, a quem, numa passagem por Conacri, a direcção do partido terá solicitado apoio nesse sentido. “Refira-se que eles já tinham experiência de treinar grupos, em especial latino-americanos”, diz o militar.

“Foram cerca de dois anos, isolados nas montanhas, ou em quartéis formados ad hoc, para nós. Foi muito exercício táctico, físico, até o dia do juramento - 15 de Janeiro de 1967 - quando Cabral se desloca a Cuba para se reunir connosco”, conta Agnelo Dantas, que diz, estarem, na altura, todos “prontos para o desembarque”. “Não tínhamos a noção do perigo que se ia enfrentar, havia era a vontade de fazer alguma coisa”, recorda.

Contudo, pouco tempo depois, com a morte de Che Guevara (em Outubro de 1967), os cubanos têm a noção de que os seus serviços de informação estavam infiltrados, já que o próprio cerco a Che terá resultado desse facto. Foi então adiada sine die a ida para Cabo Verde, e os militantes partiram para a União Soviética para complementar a formação.

“Se em Cuba fizemos a guerra de guerrilha contra guerrilha, na URSS fizemos a guerra clássica”. Assim, ao longo de 1968, Dantas especializa-se em artilharia e explosivos. Enquanto isso, a ida para Cabo Verde ia ficando cada vez mais longínqua. Para não ficarem indefinidamente inactivos põe-se-lhes pela direcção do partido a ideia de ir para a Guiné. “Então, já com a consciência de que o adversário era um só, a aceitação foi unânime, mas se fosse no início penso que seria muito difícil."

(...) Agnelo Dantas tem o seu baptismo de fogo no início de 1969, quando abrem a Frente Leste. Daí em diante e até 1974, ora ao lado de Nino Vieira, ora de Pedro Pires, entre outros camaradas, participou em todas as frentes de combate, sempre no mato. Primeiro, foi chefe de pelotão, depois chefe de bateria e em 1973 já tinha o seu posto de comando, na Frente Norte.

Questionado sobre a pior recordação desses tempos, afirma: “Cada dia é um dia mau, pois a guerra é uma situação anormal. Em certos combates perdemos um amigo que estava ao lado, mas temos a sorte de não apanhar com uma bala, enterramos pessoas que nos são próximas...”

Questionado sobre a pior recordação desses tempos, afirma: “Cada dia é um dia mau, pois a guerra é uma situação anormal. Em certos combates perdemos um amigo que estava ao lado, mas temos a sorte de não apanhar com uma bala, enterramos pessoas que nos são próximas...”

E boas recordações, também ficaram algumas? “Os melhores momentos eram quando estávamos a descansar, entre duas operações, e à noite íamos dançar ao som dos tambores e à luz das fogueiras nas bases civis. Éramos jovens!”

Para Dantas Pereira, a contribuição do “grupo de Cuba” foi de grande qualidade, entre outros aspectos por terem melhorado a utilização de armas mais sofisticadas e influenciado nas questões de organização e disciplina. “Mais tarde, com os foguetes terra-ar [Strela], conseguimos diminuir a autonomia que o adversário tinha no ar. E quando o exército perde a iniciativa perde a guerra. Isso fez-nos também perder o medo dos aviões, que é uma arma terrível quando não se tem o antídoto contra ele.”

(...) Depois do 25 de Abril e durante o período de transição para a independência de Cabo Verde, altura de intensa luta política e diplomática, em que segundo Dantas, foram trazidas armas da Guiné, para qualquer eventualidade, o militar continuou “ligado a esta parte mais barulhenta”. Recorda desse “momento de reforço do nacionalismo cabo-verdiano, a adesão em massa de jovens voluntários, gente que veio das Forças Armadas portuguesas, desertores... Começamos então a erigir as Forças Armadas cabo-verdianas. Tanto é que a 5 de Julho [de 1975, data da independência de Cabo Vercde,]  já tínhamos exército!”

Cerca de 20 anos depois, o primeiro chefe do Estado-Maior do exército cabo-verdiano iria para a reforma. Antes disso, licenciou-se em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (1988 a 1992) e participou de uma missão de paz em Moçambique. Ao regressar do Brasil, já se tinha dado a mudança do governo do PAICV para MpD e, dos oficiais dos tempos do partido único, foi o único que continuou em funções. Fê-lo, “para incómodo de alguns”, por entender que “um soldado é soldado de Cabo Verde e não de qualquer partido”. (...)


(**) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12732: (De)caras (14): A propósito da morte dos Três Majores, tema da acta do conselho de guerra do PAIGC, de 11 a 13/5/1970: Amílcar Cabral no seu melhor: pode ter sido um grande líder africano, não é definitivamente um humanista (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

Guiné 63/74 - P12752: In Memoriam (181): Analido Aniceto Pinto morreu ontem, em Lisboa. Foi cap mil da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte)




CART 2479/ CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guioe Iero Bocari, 1969/70) > Foto de um dos últimos convívios do pessoal. O ex-.cap mil Analido Aniceto Pinto, é o segundo, da primeira fila, da contar da esquerda.



CART 2479/ CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro  Iero Bocari, 1969/70) > Foto de um dos últimos convívios do pessoal, e em que esteve presente o  ex-.cap mil Analido Aniceto Pinto, agora falecido.

Foto: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]




Analido Aniceto Pinto
1. Mensagens de ontem, de dois camaradas da nossa Tabanca Grande, que passaram pela CART 2479/CART 11 (1969/70):


Valdemar Queiroz
(i) Valdemar Queiroz, às 15h19


Boa tarde,  caro Luís Graça


Aproveito a nossa Tabanca Grande para informar o falecimento de Analido Aniceto Pinto, Capitão Miliciano, Cmdt. da minha CART 2479/CART 11.

Connosco, também por lá andou, milicianamente discreto.

Vai, hoje, para a igreja S. Tomás de Aquino, nas Laranjeiras-Lisboa e amanhã, às 15 horas, para o cemitério de Camarate.

Valdemar Queiroz


 (ii) Abílio Duarte, às 15h44:
Abílio Duarte


 Olá,  Luis,

Venho comunicar á nossa banca o falecimento do meu Capitão (Cap Mil), Analido Aniceto Pinto, hoje dia 20/2/2014.

Pessoa por quem tive sempre muita consideração, e arrisco a dizer que éramos amigos. Nunca virou a cara às dificuldades, e já casado e com uma filha, sempre o vi a alinhar e ir para o mato.

Conforme comunicação que recebi do Alf Pina Cabral, o corpo vai para a Igreja S. Tomás de Aquino - Laranjeiras- Lisboa, e sai amanhã [, dia 21,] ás 15 horas para o Cemitério de Camarate.

Para quem o conheceu ou com ele conviveu na Guiné, aqui vai a informação.

Um abraço,

Abílio Duarte

Anexo: 1 Foto - Um dos últimos convivios da companhia, o Capitão está de camisa  vermelha e calças brancas.

2. Comentário do editor: 

Estivemos seguranente juntos em Contuboel, em junho/julho de 1969, aquando da formação da futura CCAÇ 12. Não foi oficial com quem tenha convivido de perto ou de quem tenha particulares recordações, até porque as nossas condições de alojamento em Contuboel eram precárias, em tendas... Morreu seguramente novo demais, tratando-se de ex-capitão miliciano, que deveria ser 10 anos mais velho do que nós. É mais um elo da cadeia das nossas recordações que se perde.

Para a sua família, vão os meus e os nossos votos de pesar. Para a outra família, castrense,  a dos nossos camaradas, que foram comandados por ele no CTIG, o pessoal da CART 2479 / CART 11, vai um alfabravo especial, solidário, em nome de toda Tabanca Grande. Que descanses em paz, camarada Pinto.

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12751: Notas de leitura (566): A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas - Parte 4 de 4 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Setembro de 2013:

Queridos amigos,
Carlos Fabião, talvez o oficial português que melhor conheceu a Guiné entre 1955 e 1974, deixou vários depoimentos de inegável valia.
Sentiu, em meados da década de 1960, que a guerra se transformara num atoleiro para as nossas tropas; acreditou convictamente que Spínola cativaria as populações e poria a Guiné do nosso lado, foi assistindo à escalada armamentista e não hesita em dizer que se perdera a solução militar, a partir de 26 de Abril todos os dados estavam lançados.
Reitero que todas estas intervenções, cheias de deficiências devido a aspetos técnicos, devem ser lidas no site que se indica.

Um abraço do
Mário


A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas (4)

Beja Santos

A última jornada de trabalho sobre a descolonização da Guiné promovida pelos Estudos Gerais da Arrábidas realizou-se em 11 de Abril de 2002 e o interveniente principal foi Carlos Fabião (1930-2006), membro do Movimento dos Capitães, colaborador próximo do general Spínola e último governador da Guiné. Recordo aos confrades que toda a documentação atinente a estas jornadas de trabalho pode ser encontrada no site (www.ahs-descolonizacao.ics.ul.pt/guine.htm), de que é titular o Instituto de Ciências Sociais. Esclarece-se novamente que a transcrição destas jornadas têm defeitos de vária ordem, correspondentes a interrupções, conversas inaudíveis, gravação desaparecida, aconteceu de tudo um pouco, é lamentável que assim seja dada a alta qualidade dos participantes, protagonistas da descolonização da Guiné.

Carlos Fabião, talvez o oficial português com melhor conhecimento da realidade guineense, começa por referir o seu currículo militar, incluindo as diferentes comissões que fez na Guiné. Chega à colónia em 1955 e aqui permanece até Março de 1961. Volta a Lisboa e é mobilizado para Angola, segue no Batalhão 132, já como capitão. Em 1965, faz nova comissão na Guiné. É questionado sobre o teatro de operações, e descreve-o: “A situação já é muito má. Quando eu cheguei à Guiné, havia entre os indivíduos que aqui estavam e os que chegavam uma rivalidade estúpida: os que tinham já feito Angola, os que ainda não tinham feito Angola. O chefe do Estado-Maior perguntou-me se eu já tinha estado em Angola, respondi-lhe afirmativamente, disse-me para esquecer tudo o que tinha aprendido lá”. Vai permanecer na Guiné até 1965. Volta para a Guiné em 1669.

Spínola modificou drasticamente a quadrícula, impôs a aproximação às populações, reservou para o Comando-Chefe as zonas de intervenção onde só iam as tropas especiais. Spínola decide uma nova conceção para as milícias, quer que passem a ter uma estreita ligação às populações a que pertenciam. Fabião não regateia elogios a esta primeira fase de Spínola e como mudou dispositivos, como gerou hábitos de auscultação das populações e como foi bem-sucedido com os congressos do povo, talvez o seu maior êxito na política social: “Spínola criou na Guiné uma maneira de estar em África que eu considero que foi o mais extraordinário que ele fez, pôs a manobra militar subordinada à manobra política. Fez uma guerra política em que a manobra militar servia só de suporte”. E criou as aldeias junto às lavras. Fabião é questionado sobre o estado de espírito no teatro de operações antes do 25 de Abril. Tem uma resposta pronta: “A Guiné estava perdida. O 25 de Abril evitou um desastre militar na Guiné”. E pede para que as suas declarações subsequentes sejam eliminadas na transcrição.

Retomada a conversa, Fabião descreve a iniciativa de Spínola para se encontrar com Senghor, ambos analisaram uma proposta de acordo, Senghor foi firme: descolonização em dez anos; cessar-fogo imediato; pôr a diplomacia internacional a colaborar nesta solução pacífica. A fama de negociador chega aos altos comandos conservadores, por exemplo o general Câmara Pina envia-lhe uma carta apelando um retorno à bandeira. Segue-se o Congresso dos Combatentes, os ultranacionalistas fizeram uma jogada para exigir a continuação da doutrina monolítica. Os slogans do congresso eram do tipo: “As pátrias não se discutem, defendem-se”, “Alerta, há inimigos escondidos no altar de Deus”, “Ninguém aprova o desmembramento do seu corpo. Portugal também não”. Muitos antigos combatentes foram aliciados para comparecer no Porto, seria uma forma de reavivaram a camaradagem.

Em 1971, Fabião é responsabilizado por Spínola para encontrar um novo enquadramento para as milícias, foram fundamentais para a arrancada no Sul, quando Spínola decidiu no fim do ano de 1972 a reocupação do Cantanhez. A conversa direciona-se para a operação “Mar Verde”. Fabião comenta: “Spínola tenta de todas as maneiras a vitória militar. A “Mar Verde” é encarada como a hipótese de ganhar a guerra” e explica o que correu bem e o que correu mal. A partir do momento em que não foram destruídos os MIG, havia que regressar o mais cedo possível a casa. Critica a má qualidade das informações da PIDE/DGS. E a seguir a conversa centrou-se nos acontecimentos a seguir ao 25 de Abril. Senghor pede a Spínola para enviar um emissário a Paris, seguem Fabião e Nunes Barata. O presidente do Senegal declara estar disposto a ajudar Portugal na descolonização, a independência da Guiné-Bissau é já um dado indiscutível, a OUA ficaria extremamente agradecida. Spínola não comenta os apelos de Senghor. Fabião chega a Bissau no início de Maio, sente que não há condições para se realizar um Congresso do Povo como Spínola pretende. O PAIGC ameaça retomar prontamente a guerra.

O que passa agora a estar em discussão é se o modelo da descolonização portuguesa fora dado pela descolonização da Guiné. Fabião retoma as suas observações sobre a especificidade dos acontecimentos na Guiné, continuar a guerra era inviável, não encontrara uma fórmula de negociação com o PAIGC para o cessar-fogo teria redundado num desastre. Fabião veio a Lisboa e Spínola ter-lhe-á apresentado hipóteses que ele considerou delirantes: criar-se um Vietname ou criar-se uma Coreia, Fabião terá dito a Spínola: “Eu isto não faço, não pense. E vou-me embora”. Spínola volta a insistir no Congresso do Povo, medida sem pés nem cabeça. O próprio Comandante Militar, General Galvão de Figueiredo foi perentório: “Diga ao general para não pôr aqui os pés”. Decorreram bem as negociações com o PAIGC, acordou-se que eles ocupariam alguns destacamentos e que depois, de forma progressiva as tropas portuguesas iriam regressando a Bissau.

Fabião é confrontado pelos moderadores sobre a dimensão das áreas chamadas libertadas, referindo que mesmo nos santuários como Sara-Sarauol, Morés, Cantanhez, o PAIGC era forçado à mobilidade e à dissimulação, se assim não fizesse a aviação destruía tudo, liquidava civis e militares. E, por fim, veio à baila a especificidade da guerra na Guiné: clima e tensão, a penosidade dos abastecimentos, as terras alagadas e o inimigo agressivo. Fabião comenta a mentalidade daquela guerra, o estado mórbido que se desenvolvia nos militares: “A gente na Guiné dizia que o clima jogava a nosso favor. Só quem o vive é que pode adivinhar. A gente está no quartel e o quartel é atacado todos os dias, ou dia sim dia não, e um tipo habitua-se àquilo. De repente, o quartel começa a ser atacado de cinco em cinco dias e eu, a partir do terceiro dia, já não durmo. Já não durmo porquê? Porque devia ter sido atacado na véspera e não fui. E, às vezes, os tipos estão dez dias sem atacar. A partir do sexto ou sétimo, já ninguém dorme. Tem que haver um ataque, tem que haver. Se não for esta noite é a de amanhã. Se não é a de amanhã, é a outra. Mas tem que haver”. É um depoimento significativo de quem conheceu a Guiné pacífica dos anos 50, conviveu com as diferentes fases da guerra e ali esteve como último governador, sujeito a pressões incríveis, procurando remediar soluções honrosas e tendo procurado levar por diante o espírito do Acordo de Argel.

Paquete Carvalho Araújo, pintura de Fernando Lemos Gomes: postal adquirido na Feira da Ladra, deu para lembrar as viagens que nele fiz: em Outubro de 1967, a caminho de Ponta Delgada; Março de 1968, regresso de Ponta Delgada a Lisboa; Agosto/Setembro de 1970, de Bissau a Lisboa, passando pelo Sal e São Vicente e Ponta Delgada. Terei muito gosto em oferecer este postal a quem for colecionador.
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Nota do editor

Vd. postes da série de:

7 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12688: Notas de leitura (560): A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas - Parte 1 de 4 (Mário Beja Santos)

10 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12705: Notas de leitura (561): A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas - Parte 2 de 4 (Mário Beja Santos)
e
18 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12737: Notas de leitura (565): A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas - Parte 3 de 4 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12750: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (3) : Parte III (pp. 13-16)



Tavira > CISMI > Julho de 1968 > Foto nº 1 > Fila para receber fardamento..


Tavira > CISMI > Julho de 1968 > Foto nº 2 > Pessoal a receber fardamento...


Tavira > CISMI > Julho de 1968 > Foto nº 3  > Já na posse do fardamento...

 A chegada ao quartel da Atalaia dos  novos instruendos do 1º Ciclo do CSM, vindos de todo o país. Fotos do Fernando Hipólito, gentilmente cedidas ao César Dias e ao nosso blogue.


Fotos: © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]

1. Continuação da publicação da brochura "Guia do Instruendo" (Tavira, CISMI, 1968) (*):














Páginas, de 13 a 16, não numeradas, do "Guia do Instruendo", usado no CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira, na altura em que o César Dias  lá fez a recruta (1ºciclo do CSM)  e a especialidade (sapador) (2º ciclo), no 2º semestre de 1968.

O documento, de 21 páginas, era policopiado a "stencil". O César Dias mandou-nos o documento em "power point", com 21 "slides". As páginas foram convertidas em formato jpg. O original foi-lhe dado pelo seu camarada de recruta,o Fernando Hipólito, que foi depois mobilizado para Angola, enquanto o César foi parar à Guiné. 

Um grande abraço para o Hipólito, se nos estiver a ler, como esperamos.

Imagens (digitalizadas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]

[César Dias, foto atual, à esquerda]
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12708: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (2) : Parte I (7-13 pp.)

Guiné 63/74 - P12749: Parabéns a você (694): Veríssimo Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 1422 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12729: Parabéns a você (693): António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250 (Guiné, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1426 (Guiné, 1965/67)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12748: Convívios (563): 9.º Encontro do pessoal da CART 1746, no próximo dia 10 de Maio de 2014, em Fátima (Manuel Moreira)

1.  Em mensagem do dia 11 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, BissorãPonta do Inglês e Xime, 1967/69, solicita que divulguemos o próximo Convívio da sua Unidade.



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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12743: Convívios (562): Confraternização do pessoal do BCAV 3846, dia 16 de Março de 2014 em Fátima

Guiné 63/74 - P12747: In Memoriam (180): Fernando Brito (1932-2014), major art ref, ex-1º srgt, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)

1. Faleceu, no dia 19 de Fevereiro de 2014, o major art ref Fernando Brito. O seu funeral realizou-se hoje, dia 20, 5ª feira, em Coimbra. O seu corpo esteve  em câmara ardente na Igreja de São José.

[Foto, recente,  à esquerda, o Fernando Brito mais o seu querido neto Cláudio Brito]

A informação foi-nos dada pelo   camarada António Barbosa, da 2.ª Companhia do BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74) que nos chegou através de mensagem do António Pires (UTW). ´

Quis entretanto confirmar a notícia, através do seu neto, Cláudio Brito (que era o elemento de ligação do Fernando com o nosso blogue). Da casa do avô atendeu-me a sua filha,  Ana Cláudia que me confirmou a funesta notícia. Foi uma morte inesperada, repentina. O Fernando Brito parecia gozar de excelente saúde, apesar da idade, 82 anos. Mas há cerca de 2 anos  tinha perdido a sua companheira de uma vadia,  a Natacha, de que ele falva sempre com tanta ternura e orgulho.  Privei com ele em Bambadinca, eu e outros camradas da CCAÇ 12, em 1970/71, como 1º srgt da CCS/BART 2917. Em 2001, perdera o filho, num trágico acidente de automóvel, Era o pai do Cláudio.

O Fernando Brito tinha entrado há pouco para o nosso blogue. Falei com ele há menos de um mês, ao telefone. Ficou entusiasmado com a hipótese de nos podermos reencontrar, ele e a malta da CCAÇ 12, com quem se dava particularmente bem (*), Falou-me,  um pouco, dos tempos duros que passou na 2ª comissão, em Madina Mandinga. E claro da grande perda que foi a morte do seu filho e da sua esposa.

Teve um funeral com honras militares e a presença de vários camaradas da Guiné que se cdeslocaram de Lisboa, segundo informação da filha. Seguiu fardado até à sua última morada.  É mais um de nós que parte, perdendo-se um elo das nossas memórias. (**)

Um abraço de pesar e de consolo, de toda a nossa Tabanca Grande  para o neto Cláudio Brito e para a filha Ana Cláudia, bem como para todos os camaradas das duas companhias por onde ele passou, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e 1ª C/BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74).
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Notas do editor:

(*) Postes referente ao nosso camarada Fermando Brito:

22 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12621: Tabanca Grande (421): Fernando Brito, ex-1º srgt art, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), e CCS/1ª C/BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74), hoje major reformado... Passa a ser o nosso 641º grã-tabanqueiro

15 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12589: Memórias de Gabú (José Saúde) (38): Uma homenagem ao Major, aposentado, Brito, então 1º Sargento

13 de janeiro de 2014 >Guiné 63/74 - P12582: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Informação sobre o ex-1º srgt Fernando Brito, da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), que é meu avô, está reformado como major e vive em Coimbra (Cláudio Brito)

6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

7 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

(**) Último poste da série > 19 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12744: In Memoriam (179): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Liliana, amiga da Catarina): O Sr. Carlos, o Pepito, o filho da Calinhas, o marido da Isabel, o pai da Pepas, do Ivan e, especialmente, o pai da Catarina. O pai de um de nós. Para mim, era um herói, vivo

Guiné 63/74 - P12746: Estórias avulsas (74): Balas de raiva: uma emboscada que deixou marcas (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem sobre o Francisco Fonseca, ex-furriel miliciano, CART 2732, que cumpriu missão em Mansabá, 1970/72

História de um emboscada entre Mansoa e Mansabá

Camaradas

Com a devida vénia ao nosso blogue, permitam-me parafrasear este pequeno mote que surge interligado a um enorme sentimento de nostalgia que permanentemente assola o velho combatente que prestou serviço militar na Guiné: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca… é Grande.

Viajando nas alindas amarras do tempo com sabores e odores que muito bem conhecemos naquela terra vermelha, detemo-nos perante momentos circunstanciais que nos fazem reviver um mundo, quiçá assombrado, onde o quotidiano foi pautado com irreversíveis momentos de desespero e onde descortinámos segundos, minutos, horas e dias de profunda revolta.

Foi a morte de um camarada, de um outro estropiado, doutros feridos com menos ou mais gravidade, ou, de instantes em que a nossa força interior se superiorizou ao conteúdo de uma guerra que jamais nos outorgou tréguas. Rebentamentos infinitos, o zumbir das balas, os ataques noturnos aos quartéis, as emboscadas e as minas na picada, ou a incerteza do momento seguinte, formavam uma pirâmide de canseiras próprias de uma guerrilha que não dava sossego.

Hoje, sentado na poltrona do bonança, revejo comissões militares de velhos amigos que pisaram o solo guineense, antes da minha pessoa, e recordo algumas das suas histórias hilariantes, algumas fatídicas, onde a guerra traçava o destino de jovens militares colocados nas vanguardas do conflito em defesa de interesses alheios.

Por força de uma estima que já vai longa, sou amicíssimo de um camarada nosso de guerra na Guiné, onde os laços de amizade que nos unem se reportam aos princípios do anos 60, século passado, tendo as nossas vidas feito de nós uns caminheiros inseparáveis na rocambolesca vida terrena. A nossa eterna amizade é enorme e manter-se-á até ao derradeiro dia em que partiremos decididamente para a tal famigerada viagem sem regresso.

Apresento-vos, e proponho em simultâneo ao nosso chefe-mor Luís Graça o honroso lugar de tabanqueiro deste velho camarada e amigo, o ex-furriel miliciano Fonseca, sendo a sua graça completa Francisco Gomes Fonseca, nascido em 29 de maio de 1948, em Baleizão e residente em Beja desde os tempos de criança, que fez a sua comissão em Mansabá na CART 2732, entre o período que mediou o mês de abril de 1970 e o de fevereiro de 1972. Esta Companhia era constituída maioritariamente por pessoal originário da Ilha da Madeira, local onde formaram o contingente com destino à Guiné.

O Fonseca fala esporadicamente da guerra na Guiné. As sensações vividas no terreno são comedidas. Nunca vislumbrei no seu diálogo tons jocosos sobre a sua estadia em Mansabá. Fala sim do ambiente constatado entre os camaradas que perfilhavam ideais comuns. O Carlos Vinhal, ex-furriel miliciano da sua Companhia e nosso co-editor e administrador do blogue, foi seu camarada e ele sabe bem como ambiente era vivido no aquartelamento. 

Com a voz trémula, ainda que melancólica quando revê a temática abordada, isto é, quando o mote assenta sobre uma emboscada sofrida entre Mansoa e Mansabá, precisamente no dia 6 de dezembro de 1971, 11h15, o ex-furriel miliciano conta que “a coluna, onde seguia com o seu pelotão, reforçado com duas secções de milícias africanas, uma delas seguia na frente e outra na retaguarda, foi emboscada no regresso a Mansabá, num local denominado Mamboncó, sendo que do confronto com o IN tivemos um morto, um outro camarada que acabaria por morrer e muitos feridos graves e outros menos graves. Além disso tivemos também viaturas destruídas”.

Na memória surgem-lhe, ainda, imagens desse famigerado dia e que nunca esquecem: “Lembro-me que o IN, muito bem armado, saltou para a estrada, foi um enorme tiroteio entre as NT e o IN , minutos que pareciam horas, rebentamentos sucessivos, tivemos depois o apoio da Força Aérea, bem como da artilharia de Mansabá, e por fim foi feito o rescaldo da emboscada. Nem sei como saí daquele inferno. Foi uma manhã louca”.

Segundo o ex-furriel miliciano Fonseca, o pelotão era comandado por ele e pelo ex-furriel miliciano Sousa, um amigo que nunca mais esquecerá e com quem troca habituais contactos. São estas amizades criadas em tempo de tropa, e particularmente na guerra, que tendem em não consumir lembranças de outrora que literalmente permanecem bem ativas na nossa insofismável mente.

São também estes cenários de guerra na Guiné, onde as balas de raiva detonaram vidas e destroçaram sonhos, que, a espaços embora distantes, procuro trazer à liça, reconhecendo porém que todos nós somos portadores de histórias que marcaram as nossas vidas como antigos combatentes naquela porção de terra de onde se extraem pedaços de uma juventude perdida e, à época, algo moribunda com a sorte que o destino lhe pregou.
1 - Foto atual
2 - No abrigo
3 - Com um camarada
4 - Unimog destruído na emboscada
5 - Numa equipa de futebol
6 - Preparado para uma saída para o mato
7 - Com o furriel miliciano Carlos Vinhal, o cabo Santos e o furriel miliciano Sousa 

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

4 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12388: Estórias avulsas (73): O Dia das Sortes na aldeia de Brunhoso (Francisco Baptista)