segunda-feira, 12 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13134: Fotos à procura... de uma legenda (27): Alguns de nós, poucos, passaram por lá... Foi centro de instrução militar...








Região Metropolitana de Lisboa > 7 de maio de 2014 > Foi centro de instrução militar... Alguns de nós, poucos, por lá terão passado... É um sitio cheio de história... e com vistas soberbas,  É uma antiga fortaleza, É hoje uma espaço multifuncional, museológico, cultural, turístico...Teve, na sua reabilitação e recuperação, a mão de um grande mestre da arquitetura portuguesa,,, Fui lá há dias, no âmbito de uma visita guiada a um palácio... Não é para mancos, mas tem elevadores... Adivinhem se fazem favor... (Hoje já não tem militares, e está  classificado como  imóvel de interesse público; o exército cedeu a instalações).

Fotos (e legendas) © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



Mais uma ajuda,,, Esta foto não é minha... É da Wikipedia, do domínio público,,,

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Nota do editor:

Último poste  da série > 8 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12948: Fotos à procura... de uma legenda (26): Mais um sítio de passagem, para alguns de nós, no tempo de tropa... Qual ? (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P13133: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (84): Quando Bula é, por um dia, sábado, 10 de maio, duas cidades portuguesas irmanadas, Torres Vedras e Caldas da Raínha, pelos convívios da CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) e do EREC 2454 (Bula, 1969/71) (Armando Pires)



Torres Vedras > 10 de maio de 2014 > 28º encontro da CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70). Foto de família.



Caldas da Rainha > XXIII Encontro do o pessoal do Esquadrão de Reconhecimento AML 2454. Na foto, o Armando Pires e o Bernardino Cardoso.

Fotos (e legendas) © Armando Pires (2014). Todos os direitos reservados.

1. Mensagens do Armando Pires, deixadas na pagina do Facebook da Tabanca Grande:

Sábado passado foi o chamado dia em cheio. E tudo fruto do destino, ou do acaso, como lhe queiram chamar:

(i) Em Torres Vedras realizou-se o 28º Encontro da minha Companhia. A CCS do BCAÇ 2861. Faltava a foto de família, não era? Ora aqui está ela.

(ii) Pois à mesma hora reunia nas Caldas da Rainha o pessoal do Esquadrão de Reconhecimento AML 2454, com quem, em Bula, partilhei dos melhores e piores momentos então vividos.
Claro que fui às Caldas saudar a malta. E fui recebido, com um abraço do tamanho do mundo, pelo meu amigo e nosso camarada tabanqueiro Bernardino Cardoso.

Armando Pires

2. Comentário de L.G.:

Armando, tu és fadista, pelo que terás tendência a acreditar no destino, no "fatum"... Eu, que também sou dado ao pensamento mágico,  acho que isso foi obra do bom irã acocorado no alto do poilão da nossa Tabanca Grande...  Quer queiras quer não, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!...

Um alfrabravo fraterno  para os dois bons camaradas de Bula, Armando e Berrnardo. Gostria de vos reencontrar em Monte Real, no próximo dia 14 de junho!... E que o bom irã vos acompanhe!

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12833: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (83): Recebi notícias do último CMDT do Glorioso GA 7, Coronel de Artilharia Faia Correia (Vasco Pires)

Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

1. Trocas de mensagens com o Luís Vaz, a propósito do poste P13117 (*):

(i) Luís Vaz. 9/5/2014

Caros Camarigos Eduardo e Luís:

Luis Vaz, aos 13 anos,
em Bubaque.
Páscoa de 1974
Já respondi ao Antº Rosinha, a história da Fábrica Alemã na ilha de Bubaque. Mas tenho um texto muito interessante sobre a Ilha, de Luigi Scantamburlo que viveu 3 anos na Ilha de Bubaque, pois foi enviado pela sua congregação (Pontificio Istituto Missioni Estere de Milano) à Guiné-Bissau. No ano de 1975 começou a viver junto com o povo das ilhas dos Bijagós, onde preparou o presente estudo etnográfico. Em 1981 publicou a gramática e dicionário da língua crioula da Guiné-Bissau (editora EMI - Bolonha, Itália). Presentemente está a preparar um estudo sobre a língua e a religião dos Bijagós.

O texto segue em anexo [Etnologia dos bijagós da Ilha de Bubaque]. Se calhar dá para muitos artigos no nosso Blog, pensem nisso, e depois digam-me alguma coisa.

Abraço


 (ii) Luís Graça, 10/5/2014

Luís: Obrigado por esta preciosidade, que desconhecia. Não podemos reproduzir o documento tal como está, por causa dos direitos de autor. De preferência, o blogue publica inéditos... Mas se quiseres fazer uma nota de leitura, ou um síntese, tudo bem. O meu filho, músico e médico, esteve um fim de semana em Bubaque, em dezembro de 2009. Mas eu nunca tive oportunidade de conhecer os Bijagós. Como não houve lá guerra, é uma região mal conhecida dos ex-combatentes... Queres fazer um ou dois postes ? Afinal passaste lá ferias...Um abraço. Luís


 (iii) Luís Vaz, 10/5/2014

Olá,  António:

Ainda bem que apreciaste! Pelos vistos ali os verdadeiros colonizadores foram os Alemães. Podes fazer tu nota de leitura, pois eu como professor estou numa altura de muito trabalho. Pensa nisso. Abraço,  Luís Vaz. (**)


2. Reprodução de um excerto do livro de Luigi Scantamburlo, trad. de Maria Fernanda, "Etnologia dos Bijagós da Ilha de Bubaque", Lisboa : Institutro  de Investigação Científica Tropical ; Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1991, 109 pp. Disponível, em texto integral, aqui:



BIOGRAFIA

Luigi SCANTAMBURLO nasceu em 1944. Fez os seus estudos de História das Religiões na University of Detroit (M. A., 1976) e de Antropologia na Wayne State University, Detroit. U. S. A. (M. A., 1978). Depois de ter trabalhado como jornalista na revista italiana Mondo e Missione (Milão) durante três anos, foi enviado pela sua congregação (Pontificio Istituto Missioni Estere de Milano) à Guiné-Bissau. No ano de 1975 começou a viver junto com o povo das ilhas dos Bijagós, onde preparou o presente estudo etnográfico. Em 1981 publicou a gramática e dicionário da língua crioula da Guiné-Bissau (editora EMI - Bolonha, Itália). Presentemente está a preparar um estudo sobre a língua e a religião dos Bijagós.

Este texto é a Thesis de Master of Arts em Antropologia na Universidade Wayne State, de Detroit (Michigan, U. S. A.), no ano de 1978. A tradução do inglês foi feita pela Doutora Maria Fernanda Dâmaso.


ÍNDICE

Prefácio
Agradecimentos
Introdução
História e origem
A situação geográfica e económica
As relações do parentesco tradicional e o sistema político
A cosmologia dos Bijagós
Conclusão
Bibliografia
Mapas e Figuras
Mapa 1 – A República da Guiné-Bissau
Mapa 2 – As Ilhas de Bubaque e de Rubane
Figura 1 – A tabanca de Ancadona
Figura 2 – Tipos de casas dos Bijagós
Figura 3 – Terminologia dos graus de parentesco em Bubaque
Fotografias

A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E A ECONOMIA (pp. 16/17)

A ilha de Bubaque, com uma área de 48 km2, dezoito dos quais são pântanos alagados pelo oceano durante a maré alta, está situada no canto sudeste do arquipélago (vê mapa 2). É a ilha mais afectada pela presença dos europeus, escolhida pelos colonizadores alemães antes da I Guerra Mundial e pelo Governo Português depois de 1920, como o centro principal das suas actividades no arquipélago. Os alemães construíram aqui uma fábrica para a extracção do óleo de palma (Elaeis guineensis); um porto para navios de pequena e média tonelagem na parte setentrional e uma quinta experimental em Etimbato.

Durante a ocupação colonial, que terminou em Agosto de 1974, Bubaque era o centro dos serviços administrativos de todo o arquipélago, com um administrador português residente e outros funcionários. Em 1952, a igreja católica, através de presença permanente de um missionário, e a missão protestante, começaram a sua acção na ilha. A construção de um pequeno hotel para turistas aumentou a presença dos europeus. A enorme praia de Bruce, situada na parte meridional, constitui uma atracção especial para os turistas e está ligada ao centro administrativo de Bubaque por uma estrada asfaltada desde 1976.

As comunicações com Bissau são possíveis através de pequenos aviões e barco. Todos os sábados à tarde chega um navio com capacidade para 200 passageiros e regressa a Bissau no dia seguinte. Mais hotéis e um grande aeroporto estão agora a ser construídos para desenvolver a capacidade turística da ilha.

O clima é do tipo subtropical, com chuvas abundantes, cuja precipitação média anual é de 1500 a 2000 mm, durante a estação das chuvas, de meados de Maio até meados de Novembro. A temperatura média é cerca de 33°C durante a estação seca e de 25°C durante a estação das chuvas, e a sua variação diária é muito ampla. À noite, sobretudo entre Dezembro e Fevereiro, a temperatura desce para 10°C ou mesmo 8°C e as pessoas têm de abrigar-se nas suas cabanas para se aquecerem.

A maior parte da ilha é coberta de palmeiras de óleo, cuja cultura foi desenvolvida pelos colonizadores alemães no princípio do século. A outra vegetação, do tipo floresta, inclui uma variedade de plantas da Região subtropical. As árvores de grande porte mais importantes, muitas vezes centros sagrados para as cerimónias religiosas, são os chamados poilões (Eriodendrum anfractuosum) e os embondeiros (Andansonia digitata). Nos arredores das tabancas, as árvores de fruto mais comuns são as mangueiras, os cajueiros, as laranjeiras, os limoeiros e as papaeiras. A caça, que se encontra nas outras ilhas (gazela, cabra-do-mato, hipopótamo, crocodilo), desapareceu da ilha de Bubaque. No entanto os macacos e os tecelões (Proceus cucullatus), tão perigosos para a agricultura, são ainda bastante numerosos.

Em Novembro de 1976, e ilha contava com 2172 habitantes (1054 dos quais eram homens e 1118 mulheres), cerca de 757, metade dos quais não bijagós, habitavam no centro de Bubaque e 1415 viviam nas doze tabancas da ilha (...)

Nalgumas tabancas, como Agumpa, Bruce e Etimbato, há uma ou duas famílias de outros grupos étnicos (Mandingas, Beafadas, Papéis) casados geralmente com mulheres bijagós. Bijante possui a ilha de Rubane (com uma área de 18 km2, cinco dos quais cobertos pela maré alta) e Ancadona possui as pequenas ilhas de Ametite e Anágaru, na parte oriental de Rubane. No sudoeste desta ilha existe um acampamento permanente para pescadores, ocupado habitualmente pelos Nhominca, um grupo étnico do Senegal.

A estatura media dos Bijagós é de 1,70 m para os homens e 1,60 m para as mulheres. Como a maioria dos povos do grupo atlântico-ocidental, a cor da sua pele é castanha, com algumas tonalidades de castanho muito escuro. Têm poucos pêlos no corpo e os rapazes usam o cabelo comprido, geralmente enrolado e entrançado da mesma forma que as mu1heres. Devido à presença dos serviços administrativos e das escolas construídas nos últimos trinta anos, Bubaque possui a mais alta percentagem de escolarizados do arquipélago.

Anninu, um bijagó de Canhabaque, foi, segundo a tradição, o fundador de Bruce, a primeira tabanca da ilha. A segunda foi Bijante, num dia em que o irmão mais novo do chefe de Bruce, encontrando-se no alto mar para caçar e pescar, descobriu a ilha de Rubane, abundante em caça, frutos e peixe. No intuito de ficar mais perto de1a, construiu uma nove aldeia. Ainda hoje existe um relacionamento especial entre estas duas tabancas.

Os Bijagós concordam em que duas ou três gerações atrás as ilhas eram mais povoadas. Buchumbar, perto de Ancadona, desapareceu há uma geração, e em muitas tabancas existem ainda vestígios evidentes de cabanas arruinadas, que nunca mais foram reconstruídas.

A importância de uma tabanca reside na sua autonomia para realizar as cerimónias de iniciação. Algumas delas não têm local para as realizar e mantêm por isso um relacionamento estreito com uma tabanca das proximidades. Assim, encontramos os seguintes grupos de tabancas, sendo as grafadas em itálico aquelas que possuem local para as cerimónias de iniciação: Bruce, Bijana-Ambanha, Bíjante-Enem-Ancadona, Agumpa-Ancabas, Ancamona-Charo-Anhimango. Etimbato ainda não é considerada uma tabanca, mas sim um lugar para trabalhos periódicos, preparado pelos colonizadores alemães para o cultivo das palmeiras de óleo. Alguns bijagós estão a tentar que lhe seja concedido esse estatuto. (...)
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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P13131: Notas de leitura (589): "Os Frades Menores de Veneza na Guiné-Bissau: 50 anos de história para recordar (1955-2005)", por Fabio Longo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
Trata-se de um relato inspirado na bondade e dedicação ilimitada de franciscanos italianos implantados na Guiné desde 1955. É um relato tocante, pelo que se constrói e a seguir se vê destruído, basta uma guerra civil.
Estão aqui páginas de ouro da vida missionária de uma Guiné que deploravelmente foi esquecida durante séculos, isto sem deixar o reparo de que o clima era adverso para trabalho em profundidade, que é propósito básico do missionário.
Obra rica nas ilustrações, desvela igualmente almas esplendorosas como a de Settimio Ferrazzetta, sepultado na Catedral de Bissau.

Um abraço do
Mário


Os Frades Menores de Veneza na Guiné-Bissau: 50 anos de história para recordar (1955-2005)

Beja Santos

É um registo tocante, por vezes a roçar o épico, desvelam-se aqui santos, gente mais compassiva é difícil de imaginar que estes franciscanos vénetos que aportaram à Guiné Portuguesa em 1955 e aqui têm operado maravilhas em prol do desenvolvimento humano e das convicções cristãs. O autor da narrativa chama-se Fábio Longo que trabalhou a documentação recolhida pelo Padre Rino Furlato, arquivista da diocese de Bissau. O autor destaca vários objetivos para esta publicação, penso que o mais carregado de intensão é o último, onde ele escreve que pretende dar o conhecimento de como permanece intacto o ideal evangélico de S. Francisco de Assis: o amor e o cuidado dos homens mais infelizes e abandonados, os leprosos e os mais pobres entre os pobres do mundo, afinal o que fizeram os Frades Menores vénetos desde 1955 na Guiné: Padre Settimio Ferrazzetta, Frade Giuseppe Andreatt, Frade Epifanio Cardin, seguidos depois por muitos outros, religiosos, religiosas e leigos.

Começa por apresentar a Guiné-Bissau em termos geográfico-históricos, sumaria a evangelização da Guiné-Bissau que, diga-se em abono da verdade, é paupérrima e coroada de insucessos. Pela Guiné andaram franciscanos em 1973, a supressão das ordens religiosas em Portugal, em 1834, deitou por terra o esforço missionário destes frades que evangelizaram em Farim, Geba e Ziguinchor. Os missionários franciscanos portugueses regressaram em 1932, desembarcaram em Bolama e alcançaram Cacheu, logo perceberam que tudo tinha voltado à estaca zero. No seu primeiro relatório apelaram a pelo menos 20/25 sacerdotes, dada a impossibilidade dos franciscanos portugueses corresponderem ao pedido apelou-se ao Instituto Pontifício para as Missões Estrangeiras, de Milão, que aceitou enviar um primeiro grupo de sacerdotes e um irmão leigo, em 1947, data da primeira chegada de missionários não-portugueses. Nesta época já vigoram os princípios missionários combonianos (com origem em Dom Daniele Comboni): formação de catequistas, uma das bases da evangelização; seminários diocesanos e casas de noviciado, enfim, preparar no local os servidores religiosos que atuaram no local.

A chegada dos três primeiros franciscanos a bordo do Ana Mafalda, a sua preparação em Bor e depois a sua ida para a Cumura, junto à leprosaria dão conta da atividade que aqui se desenrolará, em torno de uma aldeia habitada pela etnia Papel. O que ali existia era uma aldeia com 18 palhotas, terra batida, todas sem água e sem luz, habitadas por 205 leprosos, desfigurados no rosto, corroídos na pele e na carne, mutilados nos membros, sem mãos, sem dedos, com os pés totalmente deformados, alguns com os braços e o corpo carregados de feridas nauseabundas. É nesta atmosfera de pobreza extrema e de morbilidade intensa que os franciscanos começam a sua ação. Settimio Ferrazzetta escreve em julho de 1955: “Era a primeira vez que via uma leprosaria. Esta primeira visita lançou-me um pouco o pavor na alma, não pela sensação de me encontrar defronte à terrível doença, não pelo medo de me infetar, mas pelo ambiente em que vivem estes pobres leprosos”. Lançam-se ao trabalho, assistem e medicam diariamente os doentes, procedem ao exame bacteriológico e clínico, distribuem géneros alimentícios, dão catequese. Depois começam a chegar reforços. Em 1966, é criada a Missão Católica de Cumura, chegam os donativos, são postos de pé novos pavilhões, arejados, com leitos de ferro, colchões, lençóis e redes mosquiteiras. Settimio Ferrazzetta escreve em 1970, a propósito dos leprosos convertidos: “É algo de comovente ver estes pobres infelizes rezar: o terço não desliza bem em suas mãos, porque… perderam os dedos, por isso querem terços de grãos muito grossos! Pobrezinhos! Mas numa fé profunda e vivida encontraram a resignação cristã. É muito fácil encontrar leprosos no nosso hospital que dizem: O bom Deus é para todos, eu sofro, mas Ele o sabe, amanhã me pagará os meus sofrimentos, amanhã Deus me dará as minhas mãos e os meus pés, o meu corpo será belo como o corpo dos outros, e eu viverei feliz na eternidade”.

O trabalho é insano, constroem-se casas, jardins para os filhos dos leprosos, presta-se assistência aos pobres, a guerra de 1998-1999 agravou as condições de vida dos guineenses, a ajuda das Missões intensificou-se, procuram oferecer comida, vestuário, sabão, o indispensável. Como o Estado já não pode responder às necessidades básicas, os franciscanos constroem um hospital-maternidade, abrem-se postos de socorro, a atividade assistencial alastra. O livro elenca a edificação de igrejas e capelas na Cumura, em Bor, Prábis, em Cumura-Papel. O reconhecimento das gentes é cada vez maior, são tratados como os pais. O primeiro batismo foi administrado a um adolescente em fim de vida na leprosaria, crescem as conversões, aumentam os catequistas, as escolas de Cumura ganham notoriedade até se transformarem em complexo escolar. A partir dos anos 1970, Settimio Ferrazzetta começa a enviar para Portugal e Itália alguns jovens guineenses com a finalidade de formar gente preparada para favorecer o progresso social e cultural do país. Infelizmente, poucos voltaram à Guiné-Bissau, defraudando as esperanças neles depositadas pelos missionários. A promoção social, na lógica missionária é a de “não dar um peixe sem ensinar a pescar”, assim surgem a carpintaria e a oficina mecânica.

Conta-se a infausta Missão de Bolama, encetada em 1956 e interrompida em 1962 por razões do início dos focos independentistas, os padres foram afastados. De igual modo são descritas as missões de Brá, de Nhoma, de Safim, que foram profundamente afetadas pela guerra civil. Pelo adiante são descritas com mais pormenor as missões de Quinhamel e de Blom e, por último a Missão de Caboxanque, na região de Tombali.

A narrativa desnuda-nos a alma santa de Settimio Ferrazzetta, primeiro bispo da Guiné-Bissau, sacerdote da paz e do diálogo, prosélito e evangelizador, a ele, tanto como a Cumura, ficam associadas iniciativas como os seminaristas que mandou estudar filosofia e teologia no Senegal enquanto não se construiu o seminário diocesano em Bissau, depois a construção do seminário maior e casa de formação para aspirantes a irmãs guineenses. Morre imprevistamente mal tinha regressado à Guiné, em janeiro de 1999, deixou consternada toda a Guiné, fora, nesses tempos duríssimos da guerra civil uma figura eloquente da mediação e da tentativa da resolução pacífica da contenda entre Nino Vieira e a Junta Militar. A narrativa prossegue apresentando outros frades que acompanharam Settimio Ferrazzetta desde a primeira hora aquelas que já partiram deste mundo. É dado igualmente destaque à Ordem Franciscana Secular na Guiné-Bissau, aos muitos voluntários que dão a sua generosidade ao serviço dos guineenses, merece destaque Vittorio Romano Bicego, um antigo sargento do Corpo dos Alpinos, depois empregado nos lanifícios, que se dedicou de alma e coração à construção de missões em Tite, Ingoré e Bendanda e na região de Tombali criou uma propriedade agrícola modelo chamada “São Francisco da Floresta”.

Enfim, um documento acerca da exaltação do amor de vultos excecionais que têm doado a sua vida à Guiné.
Para que conste.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13119: Notas de leitura (587): "Um Sorriso para a Democracia na Guiné-Bissau", por Onofre dos Santos (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13130: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (3): Sondagem: Resultados preliminares (n=52): cerca de metade dos nossos respondentes têm intenção de ir a Monte Real, no dia 14 de junho... E já temos 47 inscrições de magníficos grã-tabanqueiros e seus gloriosos acompanhantes!


A. Resultados preliminares da sondagem que está a decorrer no nosso blogue, em linha (vd. canto superior esquerdo) sobre a intenção de ir ao IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, no dia 14 de junho, sábado:



1/2. Sim, lá estarei (n= 25): vou sozinho (n=12) ou  acompanhado (n=13) > 48,1%

3. Talvez vá, mas ainda não sei (n=13) > 25,0%

4. Não, infelizmente não poderei ir  (n=8) > 15,4%

5. Nunca fui a nenhum nem irei a este (n=6) > 11,5%


Total= 52 (100,0%)

A sondagem termina daqui a dois dias.  Caro leitor, responde, a tua resposta é uma informação importante para a comissão organizadora deste evento, no ano em que o nosso blogue comemora 10 anos de existência, 5 comissões na Guiné...


B. Até à data temos 47 inscrições,  devidamente comunicadas por email à comissão organizadora (*). São os seguintes,  os magníficos grã-tabanqueiros e seus gloriosos acompanhantes já  inscritos para o nosso encontro nacional, a pouco mais de um mês da sua realização, em Monte Real, em 14 de junho próximo. Magníficos por se inscreverem e não guardarem para o fim...


António José Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António Maria Silva (Cacém / Sintra)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Sampaio & Clara (Leça da Palmeira / Matosinhos)
António Santos, Graciela & mais 7 do clã (Caneças / Odivelas)
António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-o-Velho)

Carlos Vinhal & Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)

David Guimarães & Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)

Eduardo Campos (Maia)

Fernando Súcio (Campeã / Vila Real)

Hugo Guerra, Ema e neto Daniel (Marvila / Lisboa)
Humberto Reis e Joana (Alfragide / Amadora)

Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Jorge Canhão & Maria de Luredes (Oeiras)
Jorge Loureiro Pinto (Agualva / Sintra)
José Barros Rocha (Penafiel)
José Casimiro Carvalho (Maia)
José Louro (Algueirão / Sintra)
Juvenal Amado (Fátima / Ourém)

Luís Graça & Alice (Alfragide /Amadora)
Luís Moreira (Mem Martins / Sintra)

Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Manuel Resende & Isaura (Cascais)
Miguel Pessoa & Giselda (Lisboa)

Raul Albino e Rolina (Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal)

Vasco da Gama (Buarcos / Figueira da Foz)


3. Comissão Organizadora: 

Carlos Vinhal
Joaquim Mexia Alves
Luís Graça
Miguel Pessoa.

Só são válidas as inscrições enviadas para um dos dois endereços de email

carlos.vinhal@gmail.com
ou joquim.alves@gmail.com

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Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série > 

30 de abril 2014 > Guiné 63/74 – P13074: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): 10 razões para estarmos todos juntos, em Monte Real, no dia de 14 de junho de 2014, sábado, das 10h às 20h…

Guiné 63/74 - P13129: In Memoriam (189): José Henriques Mateus (1944-1966): uma singela e tocante homenagem das gentes da sua terra, Areia Branca, Lourinhã, na manhã de domingo, 11 de maio... Um exemplo a ser seguido por outras terras deste país.


Foto nº 1 > Painel de azulejos, pintado à mão, e que faz parte do monumento, inaugurado hoje, 11 de maio, no centro da povoação da Areia Branca,  materializando a homenagem do povo da  Areia Branca ao José Henriques Mateus (1944-1966).  Na parte superior do painel, ao centro está desenhado e pintado o guião da CCAV 1484 a que pertencia o Mateus.


Foto nº 2 > Da esquerda para a direita, presidente da Câmara Municipal da Lourinhã, engº João Duarte, e os familiares mais próximos do homenageado, José Henriques  Mateus (1944-1966), o irmão (mais novo e o único vivo) Abel Mateus (n. 1954), e a sobrinha Rute Rodrigues, com a sua filha. Falando com o Abel Mateus, confidenciou-me quão dolorosa ainda era para ele a perda do irmão. Nunca fizeram o luto, porque o corpo nunca apareceu. Em 1974, ofereceu-se para os comandos, mas não o aceitaram ao descobrirem que tinha um irmão dado comno morto na Guiné. O José Henriques Mateus era o homem que sustentava a família, já que perderam o pai cedo.


Foto nº 3 > Narciso Cruz, o presidente da comissão local que organizou a homenagem ao filho da terra, José Henriques Mateus. O Narcislo, que andou comigo (e com o Salgueiro Maia) a estudar no ISCPS, em 1975/76, também teve um irmão, mais novo, desaparecido no mar, quando ia a caminho da Mauritânia... Com ele foram cinco pescadores da terra, ao todo 9 náufragos do concelho da Lourinhã, cujos corpos nunca apareceram.

Recorde.-se que o concelho da Lourinhã também tem a sua quota-parte na história trágico-marítima deste país. De 1968 a 2010, contabilizam-se pelo menos sete naufrágios de barcos de pesca onde morreram três dezenas e meia de filhos da terra, com especial destaque para as gentes de Ribamar (fora outros acidentes de trabalho mortais, cujo número se desconhece). Um desses naufrágios foi o do  Altar de Deus, em 6 de Novembro de 1982,  barco que pertencia ao irmão do Narciso Cruz. Infelizmente também são mortos esquecidos... Outros naufrágios, no último meio século,  em que desapareceram pescadores lourinhanenses, quase todos eles não resgatados:  Certa (15 de maio de 1968); Deus é Pai (26 de março de 1971);  Arca de Deus (17 de fevereiro de 1993);  Amor de Filhos (25 de julho de 1994); Orca II (antigo Porto Dinheiro) (19 de julho de 2000); e Fábio & João (19 de fevereiro de 2010).



Foto nº 4 > Da esquerda para a direita: (i) Ten cor inf ref José Pereira, presidente do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes; (ii) engº João Duarte, presidente da Câmara Municipal da Lourinhã; (iii) Pedro Margarido, presidente da Junta de Freguesia da Lourinhã;   seguidos de (iv) dois ex-combatentes da Guiné (os mais velhos da Areia Branca);  e por fim (v) o Narciso Cruz, presidente da comissão local que organizou o evento. (Um dos veteranos da guerra da Guiné, à direita do Narciso Cruz, é o Manuel Inácio Patrício,  sold da CART 1126, Bula e Có, 1966/67, que foi gravemente por duas vezes, na estrada Biambi-Bissorã, em 21/4/66, com um tiro ao lado esquerdo do coração, e na estrada de Jolmete, numa mina A/C,  em 26/8/66;  é Deficiente das Forças Armadas).


Foto nº 5 > O nosso grã-tabanqueiro e colega de escola do Mateus, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, natural do Seixal, a povoação vizinha da Areia Branca... Fez o historial militar do Mateus e foi o autor de 5 cartazes expostos no clube local. 


Foto nº 6 > A sobrinha do Mateus, Rute Rodriguess, agradecendo a presença das autoridades, civis, religiosas e militares, bem como dos conterrâneos, amigos e camaradas do seu tio (que ela não chegou a conhecer)


Foro nº 7 > O ex-fur mil Benito Neves, ni uso da palavra;  veio de Abrantes para prestar a sua homenagem ao seu camarada Mateus. e trouxe consigo mais dois camaradas da CCAV 1484, todos eles tendo participado na fatídica Op Pirilampo.


Foto nº 8 > Um aspeto da assistência


Foto nº  9 > Em primeiro plano, umn terno de clarins da banda do exército, que veio  da Serra da Carregueira, para abrilhantar a cerimónia... Do lado esquerdo dois veteranos da Guiné,. e ambos deficientes das Forças Armadas, o Manuel Inácio Patrício e o José Rufino, dois dos membros da comissão local que organizou o evento. Por detrás dos militares, à direita, o Carolo, de boina da Cruz Vermelha, e também membro da comissão organizadora local.


Foto nº 10 > A cerimónia foi conduzida pelo António Bastos, vice-presidente da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, com sede na Lourinhã, e que também, esteve representada pelo seu presidente Fernando Castro.


Lourinhã > Areia Branca > 11 de maio de 2014 > Cerimónia do sold at cav, CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no rio Tompar, setor de Catió, região de Tombali, sul daq Guiné... As primeiras fotos.

Há mais 142 terras deste país que deviam seguir o exemplo da Areia Branca, unma pequena terra que snme sequer é sede de freguesia... São terras onde houve filhos desaparecidos no Teatro de Operações da Guiné, durante a guerra colonial, por afogamento (em combate ou acidente de lazer).

143 afogamentos representam 6,9% do total de mortos na Guiné...  Agora acrescente-se os desaparecidos por afogamento noutros TO: Angola, Moçambique... As associações de veteranos e os núcleos locais/regionais da Liga dos Combatentes deveriam dinamizar ou liderar esses processos, apoiando louváveis iniciativas da comunidade como esta!... Parabéns ao povo da Areia Branca que sabe honrar os seus bravos! (LG).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
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domingo, 11 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13128: Convívios (594): XXI Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 7 de Junho de 2014 em Fátima (António Tavares)

1. Conforme o solicitado em mensagem do dia 10 de Maio de 2014 pelo nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912,Galomaro, 1970/72), estamos a dar notícia do próximo Convívio do pessoal da CCS/BCAÇ 2912, a levar a efeito no próximo dia 7 de Junho de 2014 em Fátima.



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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13126: Convívios (593): XVIII Almoço do pessoal da CART 2716 (Xime, 1970/72), dia 31 de Maio na cidade do Porto (José Martins Rodrigues)

Guiné 63/74 - P13127: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VIII: Como é que a funesta notícia chegou à família ?... Através do carteiro... (Jaime Bonifácio Marques ds Silva)


Últimos dados retirados dos cartazes elaborados pelo Jaime Bonifácio Marques da Silva e que vão estar hoje expostos no clube da Areia Branca, como parte da homenagem à memória do nosso camarada José Henriques da Silva (1944-1966). A iniciativa é de uma comissão local onde estão representados antigos e colegas de escola do Mateus.  (LG)


A notícia do desaparecimento do soldado n.º 711/65 José Henriques Mateus 



1.1. O DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS CENTRALIZAVA A INFORMAÇÃO



Os Serviços da República Portuguesa, através das Forças Armadas, tinham um Serviço especializado para este efeito. A primeira comunicação da morte ou acidente de um militar ocorrida durante a sua Comissão no Ultramar era da responsabilidade do Comandante da Unidade a que pertencia o Militar em questão. Este, via rádio, comunicava as circunstâncias da ocorrência ao superior hierárquico que, por sua vez, encaminhava o “assunto” para o departamento responsável, o DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS.

A partir desse momento todas as formalidades eram da sua competência:

 i) informar todos os departamentos governamentais e das Forças Armadas com responsabilidades na condução da GuerraM;
ii) enviar um “telegrama à família”, via CTT a dar a notícia (nunca as Forças Armadas de Portugal enfrentaram diretamente as famílias para lhes darem essa notícia, escudaram-se nos carteiros, mas isso é outra história!...);

iii) realizar o funeral na respetiva Província onde ocorreu o acidente (por vezes, sobretudo no início da Guerra, os miliares eram sepultados nos cemitérios locais);

iii) trasladar o caixão chumbado com o corpo do Militar para Portugal e realizar o funeral no cemitério da sua freguesia (até 1968 as famílias dos militares tinham que pagar ao Estado as despesas com o transporte do caixão);

iv) tratar de enviar à família a mala com o seu espólio (quase sempre, era o melhor amigo que realizava esta “operação”);

 e, v) tratar da documentação a enviar à família para que esta pudesse receber a “pensão de sangue”, quando tinha direito (nem todas as famílias, apesar da morte dos filhos no Ultramar, tiveram direito a essa “pensão).”


1.2. O CASO CONCRETO DO SOLDADO N.º 711/65, MATEUS - S.P.M. 3008:

Oficialmente a notícia do desaparecimento do soldado José Henriques Mateus seguiu a rotina habitual:

1 - O Comandante da Companhia enviou para o Comandante de Batalhão a notícia do desaparecimento do Mateus e este fez seguir a informação para o Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) que se limitou a enviar, via rádio, a informação para o DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS, sediado em Lisboa.

A partir daqui os militares da Secretaria adstrita ao Comando do DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS, na altura chefiada pelo Coronel de Infantaria Amândio Ferreira, põe em marcha um conjunto de procedimentos de rotina:

1.º Através do Ofício N.º 1893/B - P.º 183 e datado de Lisboa 14 de setembro de 1966 informa:

i) Chefe da 1.ª Seção da Rep. do Gabinete do Ministro do Exército;

ii) Chefe da Rep Geral DSP/ME;

iii) Chefe do Serv. Inf. Pública das Forças Armadas do Dep. Da Defesa Nacional;

iv) Chefe do Estado Maior do QG/GML

v) Chefe da Repartição de Sargentos e Praças DSP/ME

vi) Chefe da Agência Militar

vii) Comandante do R.C.7 (Leiria)


2.º  Depois, dá conhecimento, a partir de Lisboa, ao Chefe de Estado Maior do Quartel General do CTI da Guiné que informou aquelas entidades oficiais do teor do seguinte rádio:


ASSUNTO: DESAPARECIMENTO DE PRAÇA NO ULTRAMAR

“Para os devidos efeitos, transcrevo a V. Exa. o rádio N.º 1859/A de 12.9.66 do CTI da Guiné, que é do teor seguinte:

“DESAPARECIDO OPERAÇÕES 10.19.00SET66 JOSÉ HENRIQUES MATEUS SOLDADO 6951665 CCAV 1484/RC 7 NATURAL FREGUESIA CONCELHO LOURINHà FILHO JOAQUIM MATEUS JÚNIOR E ROSA MARIA RESIDENTE LUGAR DA AREIA BRANCA CONCELHO LOURINHÔ.

Informo V.Exa. que foi enviado telegrama à família do desaparecido comunicando a ocorrência”.

O comandante
Amândio Ferreira
Coronel de Infantaria

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AEROGRAMA DA MADRINHA DE GUERRA ESCRITO SEIS DIAS DEPOIS DO SEU DESAPARECIMENTO


No seu espólio encontrei, também, um documento comovente:  um Aerograma escrito pela sua madrinha de guerra,  em 16 de setembro de 1966, seis dias depois da sua morte. Nele, ela pede que o Mateus ou a algum colega que venha a lê-lo lhe conte o que se passou.

“ (…). Sou a madrinha de guerra do soldado José Henriques Mateus n.º 711/65. Se for ele próprio quem receba este aerograma peço-lhe o favor de me comunicar rapidamente, assim que o receber. Depois lhe explicarei a razão deste aerograma. Mas, desde já digo que o que procuro é uma prova importante, mas se isso não acontecer e que algum colega o abra,  peço também que me responda a este, contando-me o que se passou com ele” (…)

Nota: Deduzimos que o alarme ou a notícia do seu desaparecimento já seria do conhecimento da família e amigos, no entanto, deviam existir, ainda, muitas dúvidas e esperanças quanto ao trágico acidente. 



Observações finais:

i) Pesquisa, organização e texto - Jaime Bonifácio Marques da Silva [, natural de Seixal, Lourinhã, colega de escola do Mateus, vive em Fafe, onde foi professor de educação física e autarca (com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), membro da nossa Tabanca Grande; foto atual à esquerda]

ii) Montagem e grafismo dos cartazes – Berci [Fafe]

iii) Fontes consultadas:

a) Arquivo Geral do Exército

b) Espólio do soldado José Henriques Mateus, por cortesia do irmão Abel Mateus.

iv) Contributos:

a) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

b) Ex- furriel Estêvão Alexandre Henriques, Ex-Marinheiro Arménio Pereira, Ex- Soldados José Rufino e Manuel Patrício

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Nota do editor:

sábado, 10 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13126: Convívios (593): XVIII Almoço do pessoal da CART 2716 (Xitole, 1970/72), dia 31 de Maio na cidade do Porto (José Martins Rodrigues)

A pedido do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72) em mensagem de hoje, 10 de Maio de 2014, damos notícia do 18.º Almoço/Convívio do pessoal da CART 2716:


CART 2716

18.º ALMOÇO CONVÍVIO – 2014 – PORTO 

ESTIMADO AMIGO E EX-CAMARADA DE ARMAS 

Honrando uma já longa tradição de que muito nos orgulhamos, vamos festejar esta “família” que a nossa estadia Guiné ajudou a nascer. A cada ano, este um é dia único e muito especial porque transforma os nossos rostos em sorrisos abertos de alegria pelo reencontro e os nossos abraços são cúmplices de uma sincera, leal e fraterna Amizade.

Desejamos sinceramente que todos se sintam motivados a alegrar este nosso almoço convívio que se vai realizar no próximo dia 31 de Maio (sábado) na cidade do Porto.

O repasto terá início pelas 13horas no Restaurante “O Assador Típico” na rua D. Manuel II nº 22, junto ao Museu Soares dos Reis, a pouca distância do Palácio de Cristal e próximo das traseiras do Hospital de Santo António.

Cumprindo o nosso tradicional roteiro gastronómico, da ementa constará, como entrada, as inevitáveis Tripas à moda do Porto e o repasto será de churrascos e grelhados de diferentes peixes e carnes e suas guarnições.

O local da concentração será a partir da 10horas na rua D. Manuel II, junto da entrada principal do Palácio de Cristal. O estacionamento terá que ser encontrado nas ruas próximas do restaurante e do local concentração e para quem optar por estacionamento no privado Cristal Parque, defronte do restaurante, este oferece duas horas de estacionamento gratuito.

O nosso muito estimado e respeitado Capitão Espinha de Almeida irá, como é seu habitual desejo, dirigir-nos algumas palavras de estímulo. De seguida, serão distribuídas as lembranças alusivas ao Convívio.

Faz deste dia uma festa e trás a tua família para partilhar connosco as vivências da nossa experiência em terras da Guiné.

Inscreve-te até ao dia 25 de Maio, pelos telefones: 
Santos - 229 812 148 
Rodrigues – 229 517 464
Guimarães – 227 345 236 
Faria - 252 942 314 


RESTAURANTE ASSADOR TÍPICO I

ENTRADAS: 
RISSÓIS, CHOURIÇO, TOSCANA, ROJÕES, MOELAS E TRIPAS A MODA DO PORTO.

PRATO DE PEIXE: 
MISTO DE PEIXES; BACALHAU NA BRASA, LULAS GRELHADAS E SALMÃO NA BRASA. 

PRATO DE CARNE: 
MISTO DE CARNES: POSTINHA DE VITELA, ENTRECOSTO, COSTELINHAS E FRANGO. 

SOBREMESA: 
DOCE DA CASA, FRUTA LAMINADA. 

BEBIDAS: 
VINHO VERDE, VINHO MADURO, ÁGUA, SUMOS E CERVEJA. 

CÁFE E DIGESTIVO.

BOLO COMEMORATIVO E ESPUMANTE. 

Preço por pessoa – 20 euros 
Crianças entre os 5 e os 10 anos – 10 euros 

CONTACTO: 222015149 
RUA D. MANUEL II, 18/26 
4050-342 PORTO

Se tiveres dificuldade em encontrar o local liga para: Rodrigues - 967 409 449

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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13112: Convívios (592): XXIX Almoço anual da CART 3494, comemorativo do 40.º aniversário do regresso, dia 7 de Junho de 2014 em S. Pedro de Moel

Guiné 63/74 - P13125: Bom ou mau tempo na bolanha (55): Entre militares em cenário de guerra (Tony Borié)

Quinquagésimo quinto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Há algum tempo o “comandante” Luís Graça comentando uma qualquer coisa a que eu vou chamando, um “texto”, ou um “post”, que na verdade só é legível com a preciosa paciência e ajuda do Carlos Vinhal, dizia uma frase onde mencionava, “ a tua Mansoa City”.

Talvez brincando com a história do conflito que por lá vivemos, aquilo em alguns princípio de mês, não era bem a “Mansoa City”, mas talvez, Las Vegas, Las Vegas, ou mesmo Atlantic City e, o aquartelamento em construção, talvez fosse o “Bellagio”, o “Caesars Palace”, o “Mandaly Bay” ou mesmo o “New York New York”.

Tudo se passava nos aposentos do furriel, que por sinal andava sempre a fumar um cigarro feito à mão e, aquelas “jornadas” de “lerpa” ou “montinho”, que se prolongavam pela noite dentro, só terminando quando uma das três coisas acabasse primeiro, que eram, os cigarros, o álcool, ou o escuro da noite, com o regresso da luz do dia.

Durante o dia, o Cifra carregava, à frente de todos, uma caixa de cerveja e talvez uma garrafa que devia ser do tal “whisky Vat 69”, que vinha da Escócia, onde algumas garrafas traziam a legenda que dizia mais ou menos, “for portuguese military, with love”, talvez fosse roubada, ou talvez não, mas vinha da messe dos sargentos, onde o Cifra fazia as contas, pois o bom do sargento dava-lhe uma certa liberdade, até diziam que era “burro”, mas devia de ser só fama, pois ele tinha muita competência para naquelas circunstâncias, dar de comer àquela gente toda e, era uma pessoa de muito bom trato.

Depois era a noite de “jogatana”, onde os “pesos” se acabavam para alguns, cresciam para outros, onde ninguém ficava “teso”, pois tal como os cigarros, quando estavam quase sem dinheiro, logo se pedia emprestado aos que naquele momento estavam a ganhar, mas no final, quando terminava o jogo, ninguém devia nada a ninguém, quem ganhasse, ganhou e, o que se passou, passou e, tal como em Las Vegas, “what happens in Las Vegas, stays in Las Vegas”, aqui era o mesmo, tudo ficava e “morria” dentro daqueles aposentos, ao outro dia, era outro dia e ninguém falava em dívidas ou lucros.


E, já que estamos a falar naqueles militares que por lá estavam, aquilo não era bem como o professor Silvestre nos explicava, na então escola fria, do adro da vila de Águeda, em que nos dizia que havia três classes de pessoas, que era “o Clero, a Nobreza e o povo”, mas lá em Mansoa também havia algumas classes de militares, eram os soldados, cabos, furriéis e alferes milicianos, que se tratavam quase “tu cá, tu lá”, depois eram os capitães e os majores, dos quais nós tínhamos algum receio e muito respeito, assim como ao nosso comandante, que era um tenente-coronel, mas de melhor trato que alguns desses capitães e majores.

Naquele aquartelamento em Mansoa, pelo menos enquanto o Cifra ali esteve estacionado, não havia as formalidades usadas e ensinadas aos militares, quando receberam a instrução básica, no quartel em Portugal, não havia toque de clarim pela manhã, ou em qualquer outra ocasião do dia, pelo menos os mais velhos e que já se conheciam, respeitavam os seus superiores, acatavam as suas ordens, claro, havia sempre excepções, como no caso do Curvas, alto e refilão, mas mesmo esse militar nunca levou qualquer castigo disciplinar, pelo contrário, mas um simples, olá meu sargento, como está meu alferes, muito bom dia meu capitão, o meu major passou bem? Só havia um major que queria saudação, mas quase todos o evitavam. Os furriéis e alferes milicianos, pelo menos os que estavam estacionados no aquartelamento, conviviam com os soldados, quase de igual para igual.


Só ao comandante é que se dizia: Vossa Excelência dá licença, com a respectiva saudação, ao que ele dizia sempre, que não queria salamaleques, só queria que o respeitassem e tivessem disciplina nas suas funções, pois estávamos todos no mesmo barco, embora com diferentes responsabilidades.

Às vezes, quando as notícias não eram tão boas, ficava com cara de comandante e, quase todos o evitavam.

As horas das refeições estavam marcadas numa lista no refeitório, com o nome da companhia ou pelotão, e quase todos respeitavam. Mais tarde, como o movimento de militares aumentou, pois chegou a haver quase três vezes mais militares no aquartelamento, já havia umas certas regras, e houve até alguns casos de disciplina, mas nunca houve o toque de clarim, nem qualquer chamada de recolher.

Quando alguns ficavam a falar até um pouco mais tarde no dormitório, bastava um dizer um pouco mais alto: Calem-se, caral..! - Há malta que tem de sair pela madrugada. E quase todos se calavam.

Tony Borie, Abril de 2014.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13088: Bom ou mau tempo na bolanha (54): Caravelas, Bolanhas, Índios & Cowboys! Hoover Dam (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P13124: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte V: (i) A praxe (a história de uma partida a um alferes pira e que envolve também o cap inf Vasco Lourenço); e (ii) a cabra do mato que chorava (Fernando Pires, ex-fur mil at inf)


Capa da brochura "Histórias da CCAÇ 2533"



1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte V (Fur mil at inf, 3º pelotão, Fernando Pires)


[Imagem à esquerda: guião da CCAÇ 2533, cortesia de Carlos Coutinho, cuja coleção de guiões nos foi facultado pelo nosso camarada António Pires, do portal Ultramar Terraweb]


Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). Esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos digitalizada através do Luís Nascimento (que também nos facultou um exemplar em papel e que, até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande). Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em  Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras, cuja história já aqui foi publicada pelo nosso camarada e amigo Carlos Silva, carinhosamente tratado por "régulo de Farim".

 Começamos hoje a publicar a colaboração do fur mil at inf Fernando J. do Nascimento Pires, que pertenceu ao 3º pelotão,  São duas pequenas histórias: (i) a praxe (pp. 27/28); e (ii) a cabra de mato (p. 29). 

Aproveito para, em troca da sua colaboração, convidar o Fernando Piers para se juntar à nossa Tabanca Grande. Só precisamos de 2 fotos dele, uma atual e outra do tempo da tropa... O convite é extensivo aos restantes autores, que iremos publicando. (LG)










Cortesia de Fernando Pires (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71), e dos seus camaradas Joaquim Lessa e do Luís Nascimento


(Continua)
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Guiné 63/74 - P13123: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VII: Dois importantes depoimentos de camaradas e amigos do Mateus, o sold at cav, José Francisco Couto (Bombarral e Canadá e o ex-fur mil radiomontador Estêvão Alexandre Henriques (Lourinhã) (Jaime Bonifácio Marques da Silva)


Detalhe do cabeçalho do cartaz nº 5, de uma série de cinco, elaborados por Jaime Bonifácio Marques da Silva, e que vão ser exibidos, no próximo dia 11 de maio, no clube local da Areia Branca Lourinhã, na sessão de homenagem á memória do José Henriques Mateus (1944-1966). Aproveitámos alguns elementos de desses cartazes, na impossibilidade técnica de os reproduzir na íntegra, de forma legível, e procurando não repetir informação já aqui divulgada.  Neste poste, reproduzimos dois importantes depoimentos, de camaradas e amigos do malogrado José Henriques Mateus, que estavam com ele em Catió, em 1965/66: o José Francisco Couto e o Estêvão Alexandre Henriques... Vd. também, em poste anterior, os testemunhos dos seus camaradas da CCAV 1484, ouvidos no âmbito do processo sumário organizado na companhia  pelo Alf Mil José Rosa de Oliveira Calvário,  em 22/9/1966. (LG)

(i) Depoimento de José Francisco Couto 
[, natural do Bombarral, vive no Canadá, ex-sold at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67]:

O soldado n.º 699/65 – S.P.M. 3008, José Francisco Couto, natural da freguesia da Roliça (Baracais), concelho do Bombarral,  foi camarada de pelotão do Mateus e seu amigo. Participou na “Operação Pirilampo”, assistindo ao desaparecimento do Mateus quando ambos atravessavam o Rio Tompar e escreveu dois Aerogramas à mãe do Mateus.

Durante a consulta do espólio do Mateus encontrei entre a sua correspondência dois aerogramas enviados à mãe do Mateus pelo José Francisco Couto. Neles, lamentava as circunstâncias da morte do filho e afirmava que a iria visitar logo que regressasse da Guiné, uma vez que eram naturais de concelhos vizinhos.

Transcrevo o segundo aerograma que enviou à mãe do Mateus em novembro de 1966:

José Henriques Mateus (1944-1966)
Catió – 8-Nov-966

Prezada Senhora

É com os olhos rasos de lágrimas que novamente me encontro a escrever-lhe sendo ao mesmo tempo a desejar-lhe uma feliz saúde a si e aos seus filhos que eu cá vou indo na graça de Deus.

Sei senhora Rosa que ao receber esta minhas notícias mais se recorda da tragédia que lhe roubou o seu querido filho, pois é com mágoas no coração que lhe respondo a tudo quanto me pergunta e peço a Deus que não a vá magoar mais com tudo o que lhe possa dizer. Pois compreendo que além da minha dor ser enorme a sua não tem palavras, pois o destino foi traiçoeiro. Sim, a Senhora pede-me que lhe explique como tudo se passou. Pois sou a dizer-lhe tudo o que sei.

Foi uma das saídas que nós tivemos, durante o dia tudo se passou da melhor maneira na graça de Deus e nós nos sentíamos satisfeitos, mas no regresso tivemos que atravessar um Rio e a corrente era enorme, como enorme era o peso que trazíamos, o que ele ao passar a corda se partiu e foi quando ele foi parar ao fundo sem mais ninguém o ver. Pois quatro camaradas nossos, mal pressentiram o que se estava a passar, atiram-se à água e mergulharam ao fundo para ver se o encontravam correndo o Rio de cima para baixo e vice versa mas o resultado foi o que Senhora já sabe. Não o conseguiram encontrar pois a corrente o arrastaria logo, foi como um balde de água fria que caiu sobre nós e todos os esforços que juntos fizemos foram negativos. Esta é apenas a verdade que podem contar à Senhora aos seus filhos. Sim, também me diz que apareceu alguma coisa dele e é certo, mas não o que a Senhora me diz. Apareceu sim o que lhe vou contar. 


Passados alguns dias nós voltámos a passar por lá, e foi nessa altura um dos Alferes encontrou uma parte da camisa e a carteira no bolso, pois a parte da camisa era só da frente e tinha o bolso onde estava a carteira, que o alferes tem para lhe enviar tudo junto que resta do seu querido filho. E a Senhora não precisa de tratar nada pois a companhia já tratou de tudo, pois também tratou dos papéis para a Senhora ficar a receber algum dinheiro que bastante falta lhe fará e assim, minha Senhora, não quero alongar mais as minhas notícias pois elas só lhe levam mágoas. No entanto, mais uma vez lhe digo, a companhia está a tratar de todos os assuntos e lhe enviará todas as suas coisas. Sem mais me despeço com muitas saudades para os seus filhos um aperto de mão para todos para a Senhora também deste que chora também a sua dor.

José Couto



(ii) Depoimemto do ex-fur mil mecânico radiomontador Estevão Alexandre Henriques ( recolhido em 23. 4.2014)

[Imagem à esquerda, guião do BCAÇ 1858, Catió, 1965/67, cortesia de Carlos Coutinho]


O Estevão foi amigo do Mateus. É natural de Fonte Lima, Stª Bárbara, cocnelho da Lourinhã,  e vive no Seixal.

Com a especialidade de Radio Montador, embarcou para a Guiné a 18 de Agosto de 1965 a bordo do navio Niassa, chegando a Bissau a 24. Fazia parte da CCS/BCAÇ 1858. [Tem página no Facebook, clicar aqui].

A sua proximidade ao Mateus advém do facto de ambos serem naturais de terras vizinhas,  o que levou o Furriel Estevão a conseguir o destacamento do Mateus para a Messa de Sargentos, uma vez que este pertencia a uma companhia, a CCAV 1484, adida ao BCAÇ 1858 e era muito amigo do cozinheiro Santos.

Na altura do acidente, o Estêvão não estava em Catió e só soube do acidente três dias depois, quando regressou de Empada onde tinha ido fazer reparações nos rádios. Pensa que,  se estivesse em Catió na altura da operação, seguramente o Mateus não teria sido nomeado para a mesma, uma vez que, no seu entender, ele já não era operacional.

O que soube em pormenor do acidente foi-lhe contado pelo cozinheiro António José dos Santos, natural das Matas (Lourinhã), amigo do Mateus e que faleceu há cerca de dois anos.


O Santos e o Mateus estão os dois na foto acima,  a preparar uma vitela para a festa de anos do Furriel Estevão a 2.9.66. Esta vitela tinha sido oferecida ao Furriel pelos responsáveis da Casa Gouveia (CUF) pelo facto de este ter feito a instalação do armazém de arroz desta empresa. Quem está de catana na mão é o Santos e ao lado o Mateus.

O Estêvão disse que as Nossas Tropas só voltaram ao local do acidente uma semana despois, altura em que encontraram, então, a camisa ou um pedaço (farrapo) da camisa pendurada (presa) numa árvore. Não sabe quem a encontrou e nunca viu a camisa. O que é certo é que na camisa, farrapo ou pedaço,  se encontrava intacto o bolso da mesma e dentro dela uma carteira em forma de ferradura contendo uma medalha da Nossa Senhora, uma moeda portuguesa furada e um amuleto de cabedal.

Foi o Estevão que entregou a carteira à mãe do Mateus. No final da Comissão o Comandante do Batalhão 1858, cujo nome não se lembra, chamou-o e pediu-lhe expressamente que entregasse a carteira à mãe e lhe apresentasse as suas condolências e do pessoal do Batalhão pela morte do filho. O Comandante nunca lhe falou das circunstâncias do desaparecimento do Mateus. Diz que foi sempre tudo um segredo bem guardado e nunca conseguiu que algum dos camaradas que participaram na operação lhe dissesse o quer que fosse sobre o acidente. Afirma, ainda, que o Mateus nunca lhe falou em fugir [, como sugere um depoimento do Couto].

O Furriel Estevão regressou da Guiné em 9 de Maio de 1967 e só em junho teve a coragem de entregar a carteira à mãe do Mateus. Lembra-se que nesse momento estava presente a irmã do Mateus

Texto: Jaime Bonifácio Marques da Silva


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Foi aqui que viveu, durante 3 meses, entre 8/6/1966 (data da chegada da CCAV 1484 ao setor de Catió) a 10/9/1966 (data do seu desaparecimento) o José Henriques Mateus... 

Álbum fotográfico do nosso saudoso camarada Victor Condeço (1943-2010) > Catió - Quartel > Foto 03 > "Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [Julho de 1967]. Vista parcial da zona antiga do quartel, o primeiro edifício eram quartos, o do meio era o dos quartos do 7,5 e ao fundo a Central Eléctrica Geradora Civil do lado de lá da rua das Palmeiras que ligava à estrada de Priame. Era também a zona da capela/escola, posto de socorros/enfermaria, arrecadação de material de guerra, arrecadação de material de sapadores, oficina de rádio, etc". 


Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel >

"Foto nº 4 - Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [JUL 1967]. Vista parcial da parte nova do quartel. A parada com o cepo (raiz) do Poilão, à esquerda as casernas nº 1 e nº 2, ao centro o edifício do comando, por detrás deste as camaratas de sargentos e depois destas as novas messes ainda em construção, tal como a camarata de oficiais à direita. O telhado vermelho era a messe e bar de sargentos".  



Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Porto Interior. O José Henriques Mateus deve-se ter banhado nestas águas, matando saudades da sua Praia da Areia Branca... Mas é bom que se recorde que o seu acidente (desaparecimento nas águas do Rio Tompar, afluente do Rio Cumbijã) não foi acidente de lazer, mas em combate, com as NT de regresso a Cufar, e com o IN à perna...

"Foto nº 9 > Porto interior de Catió no rio Cadime, depois do trabalho a merecida banhoca".

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.