terça-feira, 19 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14637: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (5): A caminho de Nhala

1. Em mensagem do dia 12 de Maio de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74


5 - A CAMINHO DE NHALA

28 de Abril de 1973 (sábado) – A caminho de Nhala

Partimos para o interior sul da Guiné, destinados ao Sector S-2, com sede em Aldeia Formosa. Amanhã partirá o resto do Batalhão. A viagem, por rio até Buba, fez-se em lanchas da Marinha, LDG ou LDM, já não recordo. Depois de amontoar o pessoal, bagagens e equipamentos, a lancha entra Rio Grande de Buba acima. Fico desconcertado com o estuário do rio, desmesurado, parece que ainda estamos no oceano. Mais adiante, as margens do rio, longínquas, entram com a sua vegetação densa e assustadora água adentro. Ou é o rio que se agiganta floresta dentro em ambas as margens? Começam a aparecer os primeiros afluentes, qual deles o mais grandioso. Para quem, como eu, ignora tudo de navegação, fica admirado de o piloto ir tão seguro, no meio do rio, sem embicar por engano num daqueles afluentes. Começa a anoitecer. A lancha, que até aí avançava a toda a potência, de repente, apaga todas as luzes e passa a seguir de mansinho, com os motores a ronronar em surdina, num som cavo e profundo. Daí a pouco não se vê nada e perde-se a noção da trajectória do barco. É como se vogássemos no breu, sobre o silêncio sepulcral do rio e da floresta. Demora até que os olhos se habituem à escuridão e comecem a distinguir a massa escura das margens. O pessoal, como sempre muito expedito, acomoda-se como pode, a monte, e prepara-se para passar a noite na paz possível do momento. Nota-se uma certa apreensão com aquelas margens. Nunca se sabe quando dali pode surgir um ataque. Eu, sempre inapto para me acomodar de qualquer maneira, vagueio nas zonas menos apinhadas mas acabo por me sentar de encontro à cabine da lancha numa espécie de arca de chapa que, afinal, é a blindagem de um motor eléctrico. Sinto por baixo de mim a vibração do motor e uma zoada contínua e incomodativa. Daí que estivesse livre o lugar, penso. Fico virado para a amurada de bombordo e para a margem negra onde julgo ver duendes e afins que correm no escuro acompanhando a lancha. Mas o cansaço e as emoções vencem-me e adormeço beneficiando da lassidão que me dá o ronronar da lancha.

De repente acordo ao som de tiros, estremeço, abro os olhos e é dia. Ferido pela luz, semicerro os olhos, levanto-me e tento perceber o que está a acontecer à minha volta. Os tiros - de G3 - continuam, mas como todos estão serenos em redor, alguns ainda dormindo e outros cavaqueando entre risadas, sento-me de novo tentando aquecer e endireitar o pescoço que está afectado pela posição em que dormi. Mais tiros. Percebo que é à proa e, irritado, levanto-me para ver o que passa. Espantoso! Um marujo munido de garrafas vazias vai-as atirando com força lá para a frente e outro, de G3 em punho, tenta acertar-lhes na água enquanto não se afundam. Fiquei furioso. Apeteceu-me abordá-los e perguntar-lhes se a barca não tinha patrão... Mas contive-me, não fossem atirar-me borda fora. Por outro lado - há sempre um outro lado -, comecei a ficar mais tranquilo em relação à segurança da viagem: se estavam naquela galhofa em pleno dia, deviam saber que o podiam fazer. Era porque estávamos a chegar e o perigo tinha ficado para trás. E não me enganei. A lancha parecia seguir a toda a potência mas, subitamente, abranda e vira um pouco à direita. Descobre-se um cais e os primeiros edifícios de Buba, até aí encobertos pela densa vegetação da margem. O rio, tão dentro já do território, continua ainda imponente.

Estamos, enfim, em Buba, a dois passos de Nhala. O espectáculo que vislumbro da amurada, virado para a ponte-cais e a rampa de terra vermelha que leva aos primeiros edifícios do aquartelamento – que por serem num ponto alto ocultam a tabanca e o resto -, deixa-me, nesse instante, uma imagem tão amável de África, tão marcante, que nunca mais esqueci. Mas tanto pode ser a “porta” de entrada para o Éden, como para o inferno. Só o tempo revelará.

Bem no cimo, à esquerda, um edifício de tipo colonial e uma enorme árvore florida de vermelho - jacarandá (?) -, chamam a atenção ainda antes do desembarque. Do lado direito, junto de uma árvore de porte e altura descomunais, percebe-se um dos edifícios do aquartelamento.

Buba, 1973 – Vista a partir da rampa que vem do rio. Slide feito muito depois do dia da chegada, a partir de um ângulo oblíquo em relação à primeira visão e num dia sem esplendor.

Buba, 1973 – Vista parcial do aquartelamento, lado direito, obtida de costas para o rio.

Buba, 1973 – Ao cimo da rampa com o Rio Buba ao fundo.

Buba, 1973 – Fotografia da praxe para impressionar a namorada e a família. Eu, sobre o obus 14.

Buba, 1973 – Fotografia da praxe para impressionar os amigos. Bajudas e mulheres de Buba.


29 de Abril de 1973 (domingo) – Coluna auto para Nhala. 

Desembarcamos e tudo foi descarregado da LDG para o chão firme, e daí para cima das viaturas que nos aguardavam para nos levarem a Nhala. A tropa que nos veio buscar, pela indumentária desleixada e pelos rostos duros e mal-amanhados, parece gente que sempre viveu ali, no pó e no perigo sob aquele sol escaldante. Mas o seu à-vontade e desembaraço, muito nos tranquilizou e deu confiança para entrarmos picada fora, tentando imitá-los no que desse e visse.

[Nesta altura não poderia ainda saber que, no espaço de poucos meses, todos nos confundiríamos: no aspecto desleixado, no desembaraço/desenrascanço mas, também, no medo e na fome, na sede e nas loucuras. Qualquer que fosse a parte do território que calcorreasse, ficava impressionado com a uniformidade do aspecto e do comportamento das tropas. Tirando os nossos antecessores do caqui amarelo, é de supor que sempre assim tenha sido, em toda a parte, antes e depois de nós].

Íamos, pois, a caminho de Nhala. Os meus soldados iam um bocado tensos, armas viradas para o mato e ar preocupado mas, os “velhinhos”, iam mais descontraídos e felizes, pois seríamos nós a rendê-los, mais tarde ou mais cedo, terminada que estava, quase, a comissão deles. A coluna corria, ora ligeira, ora muito lenta, aos solavancos devido ao piso irregular em certos troços. A picada era também muito estreita na maior parte do trajecto, havendo zonas em que as árvores e o capim alto, quase nos roçavam a cara. A certa altura, em campo mais aberto e a exigir outras atenções, passamos junto do que me pareceu um canavial, cheio de ninhos pendurados, para lá do qual se via uma bolanha (Bolanha dos Passarinhos?). Desse lado, mesmo junto da picada, vejo com espanto e confusão, uma tabuleta com a indicação «PISCINA» apontada para a bolanha e para o mato além dela. Por momentos, com ingenuidade, cerrei o sobrolho e interroguei-me: Piscina, num lugar destes? Breves segundos. Percebi logo que, apesar das agruras da guerra, alguém com humor e imaginação tentara amenizar a tensão aos passantes. Pela minha parte conseguiu-o.

[Na verdade, viria a encontrar muitos outros sinais deste libertador humor e, na picada que sai de Nhala para Mampatá, até encontrei uma placa, entre outras, que indicava «FIGUEIRA DA FOZ», virada para o matagal. Quando fiz esse trajecto pela primeira vez, tive “um baque”, mesmo perante o óbvio anacronismo. Mas sempre que passava por lá, coisa estranhíssima, ver aquela placa aquecia-me a alma, mesmo se depois me abalroassem a melancolia e a nostalgia. Era também frequente ver nas velhas picadas, pregados no alto das árvores, os emblemas e os brasões de Unidades que por aquela região se haviam fixado, feitos em tampas de bidons, alguns pintados a primor. Pareciam feitos para perpetuar memórias mas, ao mesmo tempo, podiam também ser um sinal para o inimigo: estamos aqui. Não sei. Sei apenas que as novas vias asfaltadas, que rasgaram a região, cobriram com um manto de esquecimento todas essas memórias].

Entre Buba e Nhala eram cerca de 13 quilómetros. Estamos quase a chegar e a expectativa aumenta. Para o bem e para o mal, será a nossa base nesta guerra. É domingo, pois, nesta tarde soalheira de 29 de Abril de 1973. [Quem diria que neste mesmo dia, cinco anos depois, nasceria a minha única filha: a Joana].

A coluna entra em Nhala pela esquerda duma tabanca e depois vira quase a 90 graus e pára no troço que separa a tabanca do aquartelamento. É um conjunto populacional e militar separados apenas pela via que prossegue para Mampatá e Aldeia Formosa.

(continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Último poste da série de 12 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14603: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (4): Segunda semana de campo

Guiné 63/74 - P14636: Agenda cultural (400): Apresentação do livro do Capitão-de-Mar-e-Guerra da Marinha dos EUA John Cann, "Contra Insurreição em África, 1961-74, O modo português de fazer a guerra" e "A Marinha em África – Angola, Guiné e Moçambique – Campanhas Fluviais", dia 20 de Maio, pelas 15 horas, no IASFA/Cooperativa Militar, na Rua de S. José, Lisboa (Manuel Barão da Cunha)

















 C O N V I T E


O Generais Presidentes do IASFA, da Liga dos Combatentes e da Comissão Portuguesa de História Militar convidam para o dia 20 de Maio, pelas 15 horas, no IASFA/Cooperativa Militar, na rua de S. José, Lisboa, para a apresentação da obra literária do Capitão-de-Mar-e-Guerra da Marinha dos EUA John Cann, que falará em Inglês, autor de "Contra Insurreição em África, 1961-74, O modo português de fazer a guerra". Ed. Atena, 1999 Lisboa, Prefácio, 2005 (2.ª edição actualizada); e "A Marinha em África – Angola, Guiné e Moçambique – Campanhas Fluviais". Lisboa, Ed. Prefácio, 2009. Academia de Marinha.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14634: Agenda cultural (399): 8ª edição do festival Rotas & Rituais, 2015... Os 40 anos de independência dos países africanos de expressão oficial portuguesa... Conferências, exposições, cinema, música...Lisboa, Cinema São Jorge, de 22 a 29 de maio de 2015... Cerca de 25 eventos, tudo ou quase tudo de entrada gratuita... Alguns destaques: Filhos do vento (exposição), Filhos da guerra (conferência), Lantanda (cinema), "My heart of darkness" (cinema), Os Tubarões (música)...

Guiné 63/74 - P14635: Ser solidário (183): Parto para Bissau no dia 29 e levo alguma ajuda para a Associação Fidju di Tuga (que ainda está por legalizar) (Catarina Gomes, jornalista e escritora)

1. Da nossa amiga Catarina Gomes, jornalista do "Público" e autora do livro "Pai, tiveste medo ?" (Lisboa, Matéria Prima Edições, 2014):


Data: 19 de maio de 2015 às 10:27
Assunto: Filhos do vento

Caros Carlos Vinhal e José Nunes,


Parto para a Guiné dia 29 de Maio, onde estarei até 5 de Junho, precisamente para tentar escrever sobre esta associação [, Filhos de Tuga,] que surgiu na sequência de uma reportagem feita por mim já lá vão dois anos, no Público:

http://www.publico.pt/temas/jornal/em-busca-do-pai-tuga-26784585


Estou a tentar angariar e levar o que a associação me pediu, já tenho uma máquina fotográfica digital dada por um ex-combatente, um gravador áudio dado por um filho de ex-combatente, falta o computador portátil. (*)

Estou também a tentar que tenham uma conta para receber donativos a partir de Portugal, consegui que tenham a possibilidade de ter uma sem comissões no Banco da África Ocidental, que está em articulação com o Montepio mas dizem-me do banco precisamente que eles precisam de ter a
escritura feita e eles não têm verbas para isso. Não sei como se resolve este problema antes da minha partida...

Fernando Hedgar da Silva. presidente
da associação Fidju di Tuga
Deixo-vos o contacto do presidente Fernando Hedgar da Silva:
002455880597

E o email: shedgar.fds@gmail.com

Nem sempre os contactos são fáceis.

Deixo-vos também um convite para estarem presentes na exposição e conferência para debater precisamente  o tema dos filhos do vento e que eu ajudei a organizar, é esta sexta, dia 22, no cinema São Jorge. (**)

Ao vosso dispor,

Catarina Gomes


2. O nosso camarada José Nunes, e mail de 18 do corremte, ja nos tinha alertado para a situação da associação Fidju di Tuga, ainda não legalizada. Esse email foi reencaminhado para a Catarina Gomes:

Camarada, está a ser criada na Guiná a Associação Fidju di Tuga, segundo me informaram carece de tudo,e para a sua legalização e escritura notarial não dispõem de verba. Não seria possivel sensibilizar os nossos camaradas do Blogue e fazer-mos uma "quete"e enviar para Bissau, para assim ajudar aqueles filhos de nossos Camaradas que por lá foram abandonados ?!

Penso que com a ajuda da AD seria mais fácil concretizar.

Abraço
José Nunes
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 12 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14602: Ser solidário (182): Vamos apoiar, com material de escritório, a Associação Fidju di Tuga, com sede em Bissau

Guiné 63/74 - P14634: Agenda cultural (399): 8ª edição do festival Rotas & Rituais, 2015... Os 40 anos de independência dos países africanos de expressão oficial portuguesa... Conferências, exposições, cinema, música...Lisboa, Cinema São Jorge, de 22 a 29 de maio de 2015... Cerca de 25 eventos, tudo ou quase tudo de entrada gratuita... Alguns destaques: Filhos do vento (exposição), Filhos da guerra (conferência), Lantanda (cinema), "My heart of darkness" (cinema), Os Tubarões (música)...






edição do festival Rotas & Rituais > 2015 > "Levanta o Braço, Grita a tua Liberdade" >  Cerca de 25 eventos, tudo ou quase tudo de entrada gratuita exceto dois  concertos,  o da banda moçambicana Ghorwane (28 de maio)  e do grupo cabo-verdiano Os Tubarões (29 de maio) (Entrada: 8 euros)... Uma primeira seleção do editor LG.


Apresentação


Pas­sa­dos 40 anos, o que repre­senta nos dias de hoje o colo­ni­a­lismo, a guerra, a liber­ta­ção e a liber­dade? Como se trans­mi­tem as memó­rias deste período para as gera­ções futu­ras? Como se cons­trói um futuro comum a par­tir deste passado?

Estas serão algu­mas das ques­tões de fundo lan­ça­das pela oitava edi­ção do Rotas & Ritu­ais, dedi­cada aos 40 Anos das inde­pen­dên­cias de paí­ses afri­ca­nos com os quais Por­tu­gal teve um rela­ci­o­na­mento que pro­voca, até hoje, cru­za­men­tos que enri­que­cem Lis­boa e cons­ti­tuem uma das suas carac­te­rís­ti­cas distintivas.

Mais do que focar rela­ções entre paí­ses, procurou-se pri­vi­le­giar as pes­soas, tra­zendo a rua para o Cinema São Jorge, atra­vés de deba­tes com inter­lo­cu­to­res e temas que habi­tu­al­mente não têm este palco, enqua­dra­dos por diver­sos docu­men­tá­rios que aju­dam a com­pre­en­der o pós-colonialismo. Nas pare­des do São Jorge, os ros­tos dos Filhos do Vento lem­bram quem foi esquecido.

A rua, neste caso, é tam­bém lite­ral. Reco­nhe­cendo a arte urbana enquanto palco pri­vi­le­gi­ado de inter­ven­ção social, lan­ça­mos um desa­fio, em par­ce­ria com a Gale­ria de Arte Urbana da Câmara Muni­ci­pal de Lis­boa, para apre­sen­ta­ção de pro­pos­tas de cons­tru­ção de um mural que revi­site as inde­pen­dên­cias à luz da actu­a­li­dade.

E por­que não há revo­lu­ções sem música, ela estará bem pre­sente nesta edi­ção do Rotas & Ritu­ais. Numa altura de pas­sa­gem de tes­te­mu­nho entre gera­ções, tere­mos dois con­cer­tos iné­di­tos de gru­pos his­tó­ri­cos: Os Tuba­rões de Cabo Verde e os Ghorwane de Moçam­bi­que, com­ple­men­ta­dos pela refle­xão con­tem­po­râ­nea do ango­lano Nás­tio Mos­quito e o seu con­vi­dado Moço Árabe. Con­ta­mos ainda com um Baile das Inde­pen­dên­cias no foyer do Cinema São Jorge, ao som dos rit­mos ener­gé­ti­cos dos gui­ne­en­ses Djum­bai Djazz.

Uma semana intensa que serve para a cidade olhar para ela própria.

O mote é dado pelo título de uma can­ção de Os Tuba­rões, escrita há quase 40 anos: Labanta Braço, Grita Bo Liberdade.

Con­se­lho de Admi­nis­tra­ção da EGEAC



Lisboa > Festival Rotas e Rituais > De 22 a 29 de maio de 2015 > Cinema São Jorge > Foyer, 1º andar > Exposição "Filhos do Vento", de Manuel Roberto.


Sinopse > No tempo da guerra colonial, havia quem lhes chamasse portugueses suaves, agora, há entre os ex-combatentes quem prefira filhos do vento. Mas os filhos de militares portugueses com mulheres africanas não conhecem esse nome poético.

Na Guiné-Bissau, foram ape­li­da­dos de res­tos de tuga, em Angola, sobras do branco. Não tinham nas­cido, ou ainda eram cri­an­ças, quando os pais dei­xa­ram estes ter­ri­tó­rios. Hoje, andam na casa dos 40 ou 50 anos, mas quando falam do pai por­tu­guês que que­rem conhe­cer é como se vol­tas­sem a ser cri­an­ças, cho­ram enquanto dizem que se sen­tem meia-pessoa, incompletos.

São filhos que os mili­ta­res por­tu­gue­ses do tempo da guerra colo­nial dei­xa­ram para trás.

Estas ima­gens são de auto­ria do foto­jor­na­lista Manuel Roberto e fazem parte de duas repor­ta­gens iné­di­tas divul­ga­das pelo jor­nal Público, de auto­ria de Cata­rina Gomes, com imagens-vídeo de Ricardo Rezende.

Em 2013, a equipa par­tiu para a Guiné-Bissau em busca de filhos dei­xa­dos para trás, tra­ba­lho que foi dis­tin­guido com o Pré­mio Gazeta Mul­ti­mé­dia, pelo Clube dos Jor­na­lis­tas em 2014. Na sequên­cia desta repor­ta­gem foi cri­ada a Asso­ci­a­ção Filhos de Tuga que dei­xou no cemi­té­rio de Bis­sau uma coroa de flo­res ao pai des­co­nhe­cido. Este ano, a mesma equipa foi até Angola em busca de mais filhos. Estas são ima­gens de algu­mas das his­tó­rias des­co­ber­tas nes­tes países.

A expo­si­ção pro­cura dar visi­bi­li­dade a um tema tabu na soci­e­dade por­tu­guesa que tem estado arru­mado numa gaveta há mais de 40 anos. Os ex-combatentes dei­xa­ram filhos em África. Eles exis­tem, são mui­tos, e gos­ta­vam de conhe­cer os seus pais portugueses.

Uma parte da his­tó­ria de Por­tu­gal que tem de ser contada.
Cata­rina Gomes 

Fonte: Cortesia de Rotas e Rituais 2015




Lantanda | Gorka Gamarra
Documentário, Espanha e Guiné-Bissau, 2014, 63’
Legendas: Português e Inglês; M/12

Sala 3 , 23 de maio de 2015, 18h30

Sinopse < 33 nações, 33 cul­tu­ras, 33 lín­guas e uma em comum: o cri­oulo.
O grupo musi­cal Cobi­ana Jazz usava o cri­oulo por razões polí­ti­cas e soci­ais e com o objec­tivo de mobi­li­zar a soci­e­dade a apoiar a luta pela liberdade.

Pela pri­meira vez, os gui­ne­en­ses ouvi­ram uma música que dava voz às suas pre­o­cu­pa­ções soci­ais e que usava uma lín­gua que todos pudes­sem enten­der.
Em 1973, com a decla­ra­ção da inde­pen­dên­cia, deu-se iní­cio a um pro­cesso ina­ca­bado: fazer do cri­oulo a lín­gua ofi­cial da Guiné-Bissau. É com o mesmo objec­tivo que hoje a cha­mada nova gera­ção de músi­cos luta em con­junto com outros movi­men­tos culturais.
Fonte: Cortesia de Rotas e Rituiais 2015



Filme "My heart of darkness" | Staffan Julén, Marius Van NierkerkDocumentário, Suécia e Alemanha, 2010, 93’
Legendas: Português e Inglês; M/12

Sala Manuel Oliveira, 22 de maio de 2015, 21h30

Sinose > Qua­tro vete­ra­nos de dife­ren­tes fren­tes de guerra juntam-se numa via­gem de barco pela foz do Rio Kwando, nas pro­fun­de­zas do inte­rior afri­cano. Vinte anos depois, uni­dos pela assom­bra­ção comum do trauma da guerra, mas tam­bém pela neces­si­dade de enten­der, con­ci­liar e per­doar, regres­sam aos cam­pos de bata­lha, aos luga­res onde, ainda jovens, luta­ram uns con­tra os outros.

My Heart of Dark­ness jun­tam o co-director e escri­tor Marius, que lutou pela Força de Defesa Sul-Africana (SADF) com três mem­bros da Guerra Civil de Angola: Patrick, que lutou pelo MPLA, Samuel, que ser­viu pela UNITA, e Mário, um indí­gena sul-africano, cuja fili­a­ção várias vezes se alte­rou. Qua­tro vidas dife­ren­tes, um só cami­nho que os vai mudar para sempre.
Ses­são com pre­sença do realizador

Fonte: Cortesia de Rotas e Rituais 2015



Música | Os Tubarões
Sala Manoel Oliveira´

29 de maio de 2015 21h30
Bilhete: 8€; M/12


Sinopse > Reconhecido grupo cabo-verdiano que marcou de forma indelével a cultura musical do país de origem, regressa aos palcos para, ao lado de nomes sonantes da música feita nos países de expressão portuguesa, celebrar os 40 anos de independência das ex-colónias.

Na ausên­cia de influ­en­tes ele­men­tos que inte­gra­ram a última con­fi­gu­ra­ção de Os Tuba­rões, Zeca Couto, Mário Bet­ten­court, Jorge Lima e Israel Silva, con­vi­da­ram Alber­tino Évora (voz), Domin­gos Fer­nan­des (saxo­fo­nes), Diego Neves (tecla­dos) e Jorge Mar­tins (bate­ria), para jun­tos par­ti­ci­pa­rem neste que pro­mete ser um con­certo memorável.

Labanta Braço Grita Bo Liber­dade, o mote do Rotas & Ritu­ais, é um dos temas do pri­meiro álbum do grupo cabo-verdiano Os Tuba­rões, lan­çado em 1976. [Vd. aqui  registo áudio no You Tube]

Fonte: Cortesia de Rotas & Rituais 2015

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14633: Parabéns a você (906): Francisco (Xico) Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14626: Parabéns a você (905): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Guiné, 1967/68)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14632: Estórias avulsas (82): Viatura todo terreno em Camamudo (Fernando Chapouto)



1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, a seguinte mensagem.


Camaradas,

Junto envio um veículo que foi nova modalidade na Guiné, se for interessante publiquem.

Como em alguns postes anteriores, andaram a mostrar as habilidades com bicicletas pedaleiras, motorizadas e automóveis, aí vai a nova modalidade de todo terreno… um burro. 

Como apareceu em Camamudo algures em princípio de 1966, um indígena com um burro e, tal como podem deduzir, era um achado encontrar um burro por aqueles lados na Guiné e não vi mais nenhum em toda a comissão, pedi ao ilustre dono para dar uma volta para matar saudades.

Ele era tão “grande” que os meus pés quase chegavam ao chão. 

Todos tiveram oportunidade de dar uma volta grátis e tirar umas fotos para guardar e um dia recordar, como eu faço de vez em quando. 

Agradeci ao senhor em nome de todos com um aperto de mão e ele também ficou contente. 

Foi um divertimento diferente do habitual. 


Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 




Guiné 63/74 - P14631: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXX: (i) 'fogo amigo' em dia de sexta-feira treze; e (ii) perdido na selva...por uma hora! (Timóteo Rosa, alf mil, 4º Gr Comb)

1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Hoje reproduz-se mais dois textos  da autoria do ex-alf mil Timóteo Rosa, do 4º pelotão : (i)  sexta-feira 13  (p, 96); e (ii)  perdido na selva (p. 98)...

Recorde-se que a brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos), chegou às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. para consulta. 

Até ao momento, e com muita pena nossa, o Luís Nascimento é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.

Temos autorização dos responsáveis pela edição e pelos autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e as desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71). 

O primeiro excerto destas histórias foi publicado em 16 de abril de 2014, com um texto do ex-comandante da companhia, o cap inf Silvino R. Silva, hoje cor ref. 

É oportuno recordar que vão fazer 46 anos, em 24 de maio de 2015, que partimos juntos para a Guiné, no T/T Niassa, a malta da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12) e os camaradas da CCAÇ 2533, entre outros. Esse facto só o vim a descobrir no nosso blogue, prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!...LG






Alf Iimóteo Rosa, 4º Gr Comb



p.96

p. 97
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Nota do editor:


Último poste da série > 13 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14355: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIX: Quando falhava o abastecimento, ainda havia o recurso à "bianda com marmelada"...

Guiné 63/74 - P14630: Notas de leitura (715): Ao ler o livro “Nós, Enfermeiras Paraquedistas” assaltou-me de novo, e mais uma vez, aqueles dias então por lá (sobre)vividos (Armando Faria)

1. Mensagem do nosso camarada Armando Faria (ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74) com data de 12 de Maio de 2015:

Boa noite camaradas e amigos.
Não resisti, depois da leitura do livro em titulo, a fazer uma pequena resenha de DIAS que jamais se “apagam”.
Foram momentos de uma crueza tal pela realidade ali exposta que tenho certeza não vai deixar ninguém indiferente à sua leitura. Espero que façam a devida nota nas nossas páginas e que os nossos camaradas tenham a coragem de ler, sim a coragem, porque se aconselho a sua leitura, também desaconselho a mesma, tal foram os momentos porque passei ao longo das paginas que fui obrigado a recuperar para puder dar por terminada a sua leitura.
Deixo aqui um abraço de gratidão ás nossas camaradas pelo excelente trabalho agora apresentado.

PS: - Face ao que descrevo agradecia os contactos (e-mails) dos tertulianos/blogueiros para ver se localizo alguma camarada que passou por Cufar nos “meus” dias por lá vividos.

Um abraço,
Armando Faria
Fur Mil
CCAÇ 4740


Depois de assistir à apresentação do livro “Nós, Enfermeiras Paraquedistas” na messe de oficiais no Porto não resisti sem que o lesse, fui folheando alguns capítulos ao longo de alguns dias e na minha missão de acompanhar os “meus” peregrinos até Fátima, e já lá vão trinta e um anos Gaia-Fátima, aproveitei os momentos de espera para sua leitura integral.

Alguns momentos, com descrições assaz curiosas que nos levam a momentos parecidos também por nós vividos, provocaram-me momentos de riso. Mas outros porém, e esses na sua maioria, são de momentos tão reais que as nossas meninas nos descrevem que me levaram às lágrimas.

Já atingi aquele momento da vida em que não tenho de me preocupar em esconder os sentimentos, já lá vai o tempo em que “homem não chora” e o que é descrito nas múltiplas evacuações levou-me a Cufar ao período de Julho de 1972 a Julho de 1974.

Foram muitas as visitas a Cufar das nossas camaradas, sempre bem-vindas pela agradável presença que nos proporcionavam em poder desfrutar daquela visão de alguém próximo daquelas mulheres que tínhamos “deixado” à espera, mães, irmãs, namoradas e amigas, mas também, e que me desculpem e perdoem, ao mesmo tempo tão pouco desejadas pelo que a sua presença significava para nós e a memória assaltou-me de novo e mais uma vez para me fazer reviver aqueles DIAS então por lá (sobre)vividos.

Tínhamos acabado de chagar a Cufar, 22 Julho de 1972, começamos a sobreposição, o reconhecimento da zona e a 29 Julho encontramos o nosso primeiro grande baptismo.

Assim escrevi no meu livro da História da CCAÇ 4740:

“Não demorou muitos dias e, já saboreávamos o trago amargo com sabor a fel, que nos era oferecido, 29 Julho de 1972.
Saem três grupos de combate para o mato numa acção de reconhecimento e adaptação ao terreno, o 2.º e 3.º pelotão da CCaç 4740, comandados pelos Alf Mil José Lourenço Salvado de Almeida e Alf Mil José Albino da Silva Ribeiro, com o Pel Caç Nat 51, comandado pelo Alf Mil José Daniel Portela Rosa.
O Alf Mil José Daniel Portela Rosa ao afastar-se um pouco para dar indicações aos novos, activou uma mina antipessoal que quase lhe roubava a vida, não fosse a pronta intervenção da equipa de enfermagem e a rápida evacuação para Bissau, hoje não seria “apenas” a perna que lhe faltava, mas faria parte dos muitos que a vida semearam por aqueles dias nas três frentes de batalha… Este foi o trágico baptismo de fogo a que fomos sujeitos, nele ficamos privados da companhia dos nossos dois Alferes que em virtude de terem sofrido ferimentos, fruto da projecção dos estilhaços e areias, foram também evacuados.
O Alf Mil José Daniel Portela Rosa e o Alf Mil José Lourenço Salvado de Almeida, deram por terminada ali, a sua comissão de serviço, não mais voltaram ao CTIG. Já o Alf Mil José Albino da Silva Ribeiro regressou ao CTIG a 25 Fevereiro de 1973, para terminar a sua comissão de serviço. Foi colocado no destacamento de Encheia, integrado na 1.ª Companhia do BCAÇ 4610, sediado em Bissorã, tendo regressado a 13 de Julho 74”.

Como disse foram muitas as visitas e muitos os camaradas que dali vi partir, foram muitas as vezes que a pista de Cufar serviu de ponto de passagem aos muitos camaradas que foram habitar a região Sul, Tombali e Cantanhez, e foi demasiado violento ter de lembrar entre todos eles o dia 2 Março de 1974.
Se chorei não me envergonho, pois as lágrimas lavam a alma, são elas o “sumo” que brota dos olhos quando se espreme o coração.

E hoje permitam-me aqui repetir as palavras escritas pela nossa camarada paraquedista, Maria de Lourdes (Gomes):
“Ele estava muito comovido, e todos os presentes ficaram no mesmo estado. Mesmo em público, as lágrimas apareceram sem qualquer cerimónia no rosto de todo o grupo… Com ele, comigo, e com um muito jovem piloto anónimo, como anónimos, mesmo esquecidos, senão vituperados, são hoje todos os que ali sacrificaram, no mínimo, parte do melhor das suas vidas. Ou mesmo a própria vida…”

Obrigado camaradas Enfermeiras Paraquedistas pelas vossas memórias que nos trazem ao presente tudo quanto um dia passamos e deixam uma obra que deve e merece a atenção de todos que um dia serviram a Pátria em tão adversas circunstancias.
Obrigado pelo trabalho que deixam para memória futura, para que não nos esqueçam.

Armando Faria,
Fur Mil
CCAÇ 4740
Cufar, Guiné, 1972/74
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Maio de 2015 &gt; Guiné 63/74 - P14628: Notas de leitura (714): Guiné-Bissau. um País Adiado, por Manuel Vitorino, Orfeu (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14629: A bianda nossa de cada dia (6): o nosso "restaurante Michelin" em Guiro Iero Bocari, lá no cu de Judas... E o Manuel Pereira era o nosso cozinheiro de muitas estrelas, o homem que tinha sempre cebolas ('manga de ronco') para as mulheres e raparigas da tabanca... .(Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, 1969/70)









Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > Guiro Iero Bocari > CART 11 (1969/70) > O refeitório de toda a malta...

"Vemos o ex-fur.mil Cunha, o ex-alf.mil Fagundo, o ex-1º.cabo enf José António e outros que não identifico a almoçar numa mesa, com o tampo feito de canas entrelaçadas, com o célebre garrafão de vinho e sentados nuns bancos de toros e as crianças à espera, no arame farpado, do 'parte' qualquer coisa que sobrar" (Legenda de Valdemar Queiroz).

Foto: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > Guiro Iero Bocari > CART 11 (1969/70) > Rua principal da povoação...

Foto: © Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Valdemar Queiroz, com data de 10 do corrente:


[Foto à direita: Valdemar Silva (mais conhecido por Valdemar Queirós), ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)]
Ora, viva, Luís Graça.

O Abilio Duarte, da nossa (ou como ele dizia 'eu não tinha lá nada') CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus",  é o autor/fotógrafo de uma das grandes fotografias do nosso Blogue: o 'Restaurante Michelin'.

Trata-se de uma fotografia tirada ao refeitório/messe (???),  o refeitório de todos: soldados, sargentos e oficiais, em Guiro Iero Bocari.

Foi, também, com esta fotografia do 'Restaurante Michelin' que Guiro Iero Bocari se revelou para todos nós.

Na foto, em Guiro Iero Bocari, vemos o ex-fur.mil Cunha, o ex-alf.mil Fagundo, o ex-1º.cabo enf José António e outros que não identifico a almoçar numa mesa, com o tampo feita de canas entrelaçadas, com o célebre garrafão de vinho e sentados nuns bancos de toros e as crianças à espera, no arame farpado, do 'parte' qualquer coisa que sobrar.

Guiro Iero Bocari era isto. Está cá tudo, pouca alegria, taciturnos, com uma pequena escala d' África, nitidamente 'o que é que eu estou aqui a fazer?'...



 Se o Elvis, com uns abanos de cintura, se os Beatles, Domonico Modugno, até Tony de Matos, faziam entusiasmar as raparigas, o Pereira, em Guiro Iero Bocari não precisava de ser gingão, roqueiro ou cantor romântico. O Pereira era cozinheiro e tinha cebolas.

Constou-se em Guiro Iero Bocari que o Pereira era, qual 'Love me tender', 'Yesterday', 'Ciao ciao banbina' ou 'Só nós dois', o homem que tinha cebolas para as mulheres e raparigas da tabanca (as cebolas 'manga de ronco' culinário).

O Pereira tratava da nossa bianda todos os dias. Viva o Pereira, cozinheiro, que esteve em Guiro Iero Bocari.

Valdemar Queiroz

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Nota do editor:

Postes anteriores da série > 


11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)

9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

5 de maio de 2015 Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!

Guiné 63/74 - P14628: Notas de leitura (714): Guiné-Bissau. um País Adiado, por Manuel Vitorino, Orfeu (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Junho de 2014:

Queridos amigos,
Trata-se porventura da reportagem mais recente nas nossas terras guineenses.
Manuel Vitorino nem sempre controla a indignação perante o marasmo, os nepotismos, a presença constante da ditadura militar, a exibição do novo-riquismo. Emociona-se com a qualidade do voluntariado, um dos pilares que sustém aquela sociedade com fome de justiça. Vai anotando, entrevistando, carreia dados muito importantes para a compreensão da Guiné no todo e na parte.
E as fotografias de Hugo Delgado, aqui e acolá, falam por mil palavras.
Não percam.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau, um País Adiado (1)

Beja Santos

“Guiné-Bissau, um País Adiado”, por Manuel Vitorino, fotografia de Hugo Delgado, Orfeu, livraria portuguesa e galega, Bruxelas, Bélgica (www.orfeu.be e orfeu@skynet.be), é o testemunho de alguém que combateu na Guiné, aonde voltou 40 anos depois. Manuel Vitorino é jornalista e mantém uma ligação estreita às associações culturais do Porto há várias décadas. Esteve na Guiné entre 1973/1974, fez parte do BCAÇ n.º 4518, passou alguns meses em Bolama e Cancolim, no Leste. “Foi por sentimento e amizade com este povo sofredor e sofrido que decidi regressar à Pátria de Cabral. Quis ver como é o dia-a-dia na cidade de Bissau, visitar as aldeias do interior e reviver Bafatá onde muitas vezes almocei a correr. Só não tive coragem nem vontade de ir a Cancolim. O mato tomou conta das instalações militares deixadas pelo colonialismo e nunca foram devidamente aproveitadas para outros fins da população”.

Observa, recolhe dados, indigna-se muitas vezes com a apatia e a corrupção. Aqui e acolá, dá voz a autoridades que discreteiam sobre problemas ingentes da vida guineense. É o caso de Adriano Bordalo e Sá, professor de microbiologia no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, que tece considerações sobre a água e a saúde em terras guineenses. Escreve ele:
“Em Bissau, a água canalizada chega a menos de 10 % dos 400 mil habitantes, um quarto do país. Em 40 anos a cidade ocupou 650 quilómetros quadrados, as infraestruturas coloniais minguaram a olhos vistos. O sistema de abastecimento de água, remendado aqui e acolá, tem-se aguentado estoicamente desde o início dos anos 60 do século passado, jorrando água de boa qualidade, haja gasóleo para a extrair das profundezas da terra vermelha, a mais de 600 metros de profundidade. Para um forasteiro, tomar banho com essa água gera uma estranha sensação. A reduzida espuma formada parece não querer largar a pele. Fruto da localização dos aquíferos, a água está isenta de microrganismos patogénicos.
Outras cidades e povoações têm em funcionamento pequenas redes novas geridas com parcimónia por comités de água locais. O precioso líquido corre nas torneiras dos fontanários a horas certas, cortesia de diversas ONG’s e dinheiros europeus. Os dadores internacionais substituem-se ao estado ausente.
Uma consultora holandesa passou a assessorar os sucessivos governos em matéria de recursos hídricos. Em Bissau as redes municipais de água e eletricidade caíram nas mãos de um monopólio francês. Saíram quando o povo deixou de poder pagar as tarifas exorbitantes suscetíveis de assegurar o retorno esperado em Paris. Em Catió, a rede desenvolveu-se com a participação local. Uma potente motobomba instalada junto ao descomunal depósito de água elevado na cabeça da antiga pista de aviação, assegurava os caudais necessários. Os pontos de água com contador espalhados pela cidade velavam pelo consumo, permitindo o pagamento justo. O sistema acumulou lucros nunca investidos localmente, sendo desviados para a capital. Enfurecida, a população deixou de pagar a água. As autoridades, a mando da consultora, retiraram os contadores e desligaram a motobomba. A cidade ficou sem acesso à água canalisada. Voltaram os poços ácidos e contaminados, depósitos individuais em cimento para captar a água as chuvas através dos telhados do zinco. Em 2013, o surto de cólera teve início em Catió”.

Bordalo e Sá também lembra que a Guiné, entre os países da África Ocidental, é aquele com menor número de licenciados em medicina no terreno. E o que se passa com a venda de medicamentos na rua excede o que de pior se pode imaginar em atentados à saúde pública:
“O exorbitante valor dos medicamentos nas farmácias e a penúria da rede pública fomentou a explosão do mercado de rua, um nicho cada vez mais importante. Bancas improvisadas vendem de tudo. De paracetamol à penicilina, de Viagra ao Xanax, passando pelos inevitáveis balsamos tipo Vick. Vendidos à unidade, os comprimidos chineses tanto podem conter resíduos do princípio ativo aposto na embalagem, como placebo ou mesmo substâncias tóxicas, pondo em risco a saúde de quem os toma.
Manuel Vitorino recorda que visita uma Guiné em ditadura militar. A magistrada Lucinda Barbosa, ex-diretora da Polícia Judiciária da Guiné-Bissau, entre 2007 e 2011, teve que abandonar o país, temendo represálias. Numa entrevista publicada no Jornal de Negócios, de 25 de outubro de 2013, acusa os militares de cumplicidade com o tráfico de drogas. Lucinda Barbosa comentou na ocasião: “Acho que já não temos Forças Armadas. Se formos recensear os antigos combatentes que ficaram nos quartéis, não chegam a 20 %. Muitos dos que agora são militares, em 1998 eram delinquentes. Os combates, em 1998, eram na zona onde havia uma prisão e eles evadiram-se e entraram nas Forças Armadas. Para mim, nem vale a pena termos militares. Basta preparar bem os polícias e refundar a Guiné-Bissau”.

Manuel Vitorino chega a Bissalanca e daqui parte para o bairro Háfia, para a Casa Emanuel, admira o voluntariado, irá estar atento ao trabalho espantoso desenvolvido pela ONG Mundo a Sorrir, especializada em saúde oral. Esta Casa Emanuel é uma instituição fundada por missionários da Costa Rica e ajudada pela cooperação portuguesa, tem hospital, orfanato e escolas. Deambula pela cidade, impressiona-se com a degradação dos edifícios, diz que “os únicos prédios novos ou com alguns anos de ocupação são o edifício da RTP África e a delegação da Agência Lusa, o Centro Cultural Francês mais a imponente sede das Nações Unidas, dois hotéis, a conhecida Residencial Coimbra”. Ouve falar crioulo, quanto ao português, quase nada. Procura as razões: o ensino está caótico, os professores em greve com muitos meses de salários em atraso, grande parte das escolas não têm quadros escolares ou giz. Os franceses apostam no incremento da língua, têm programas radiofónicos, seminários, aproveitam-se da perda da influência linguística no ensino do Português. É curioso o que ele anotou sobre a expansão do telemóvel: “O mercado de venda de telemóveis é dominado pela sul-africana MTN, com mais de 727 mil assinaturas, e logo a seguir pela Orange Bissau, operadora controlada por senegaleses e pela Guinétel, antes controlada pela Portugal Telecom”. Como não há luz elétrica, é preciso desenrascar: “Alguns habitantes montaram nas tabancas próximas de Bissau geradores alugados com tomadas elétricas em série destinadas ao carregamento dos telemóveis por 150 francos CFA cada. O negócio floresce”.

Descreve as agências bancárias e o câmbio feito na rua, a condução caótica no centro da cidade, os carros a cair de podre, as falsas inspeções.
A China vem à cabeça nas oportunidades de negócio, investimentos e exploração das riquezas naturais. E quer também dar uma imagem de que é um país muito amigo, dadivoso: reconstruiu o edifício da Presidência da República, o Palácio do Governo, o Hospital Militar e acabou recentemente de entregar grandiosas instalações ao funcionamento da Escola de Saúde Pública. Mas a China vê longe, como se verá a seguir.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de maio de 2015> Guiné 63/74 - P14621: Notas de leitura (713): "Neste mar é sempre inverno", romance de Tibério Paradela (edição de autor, 2014) (Parte III): toldaram-se-te os olhos, marinheiro... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P14627: Historiografia da presença portuguesa em África (62): Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné, nº 51, janeiro de 1963 - parte II: exportação de amendoim em toneladas e em contos (1930-1961) (António Bastos, ex-1.º cabo, Pel Caç Ind 953,Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)
















1. Elementos enviuados  pelo António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), em mensagem, com data de 4 de março último.(*)

Sobre a produção e exportação de mancarra, vd também aqui postes anteriores (**)



Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Coleção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).  

Projeto do arquiteto Jorge Chaves (, datando de 1949/52), é considerado o melhor edifício colonial da ex-Guiné portuguesa (, segundo a opinião da especialista Ana Vaz Milheiros). Depois da independência, passou a ser a sede do PAIGC.

Foto: © Agostinho Gaspar / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine (2010). Todos os direitios reservados [Legendagem e edição: LG]

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Notas  do editor:


(*) Último poste da série > 17 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14623: Historiografia da presença portuguesa em África (56): Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné, nº 51, janeiro de 1963 - parte I: evolução das receitas e despesas públicas da província (1930-1961) (António Bastos, ex-1.º cabo, Pel Caç Ind 953,Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)


(**) Vd. postes de:


7 de junho de 2005 >  Guiné 63/74 - P50: Mancarra, a semente do diabo... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P14626: Parabéns a você (905): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Guiné, 1967/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14622: Parabéns a você (904): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65)

domingo, 17 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14625: Agenda cultural (398): Exposição "World Press Photo 2015" > Até 24 de maio, no Museu da Eletricidade, Lisboa: "Por boas ou más razões, Portugal nunca aparece na World Press Photo. Infelizmente deixámos de ter grandes fotojornalistas. Por outro, deixámos de ser notícia desde o séc. XVI"... (Luís Graça)



Nota que o nosso editor Luís Graça deixou no "livro de honra" da exposição "Word Press Photo 2015", patente no museu da electricidade, Lisboa: 

"17 maio 2015. Por boas ou  más razões, Portugal nunca aparece na World Press Photo. Infelizmente deix´smos de ter grandes fotojornalistas. Por outro, deix´smos de ser notícia desde o séc., XVI... Luís Graça"




Lisboa > Beira Tejo >  10 de maio de 2015 > O pouco que nos resta... deste país que herdámos dos nossos pais e avós... Felizmente que a paisagem ainda não tem dono... Por quanto tempo ?... [Foto tirada na  Av Brasília, na margem direita do Tejo, em Belém... Imagem de transeuntes, troço da ponte e outra banda,  elementos espelhados na fachada do Restaurante Café In...]


Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

1. Exposições > WORLD PRESS PHOTO 2015

De 30 abril a 24 maio 2015

Lisboa > Museu da Eletricidade

[Vd. página oficial da World Press Photo]


2. Sinopse > 

"A World Press Photo é a exposição que, todos os anos, reflete e revela os trabalhos vencedores do concurso com o mesmo nome, um dos mais reconhecidos a nível internacional.

Depois da apresentação na Holanda, onde tem a sua sede, a itinerância internacional da exposição World Press Photo inicia-se em Lisboa, constituindo um forte fator de atração de público e gozando de uma grande visibilidade mediática.


O fotojornalista dinamarquês Mads Nissen foi anunciado como o grande vencedor da edição de 2015, no passado dia 12 de fevereiro.

A imagem vencedora retrata um momento íntimo de um casal homossexual em São Petersburgo, na Rússia, país onde as minorias sexuais enfrentam uma forte discriminação social e legal e crescentes ataques por parte de grupos religiosos conservadores e nacionalistas. Em 2013, a Rússia adotou legislação que proíbe "propaganda de relacionamentos sexuais não tradicionais" ilegalizando a participação em manifestações homossexuais e discursos em defesa dos direitos homossexuais.

Foram analisadas quase 98 mil fotografias propostas por 5.692 fotógrafos de 131 países. No total, foram premiados 42 trabalhos enquadrados em oito categorias temáticas.



(Fonte: Fundação EDP, com a devida vénia...)

3. Preço dos bilhetes

Geral € 2,00
Estudantes (com comprovativo válido) € 1,00
Cartão jovem (15 – 25 anos) (com comprovativo válido) € 1,00
Sénior (maior de 64 Anos) € 1,00
Portadores de deficiência € 1,00

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