sábado, 23 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18128: Bibliografia (45): “Os Papéis do Inglês”, por Ruy Duarte de Carvallho; Círculo de Leitores, 2002 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Luandino Vieira foi o primeiro facho luminoso a anunciar uma nova literatura escrita em português e de coloração africana, genuinamente enraizada nos assuntos da terra.
Lembro nomes como Manuel Rui ou Pepetela e os fenómenos moçambicanos de Mia Couto ou João Paulo Borges Coelho, mas a lista, para felicidade da lusofonia, alonga-se cada vez mais.
Ruy Duarte de Carvalho é mais lembrado como poeta, mas como se pode ver aqui é um prosador exemplar. Temos depois outros fenómenos como a literatura luso-guineense, onde se impõe o nome de Abdulai Silá. Devemos ter orgulho que as independências africanas tenham assegurado este manancial de bela literatura.

Um abraço do
Mário


Os Papéis do Inglês, por Ruy Duarte de Carvalho (2)

Beja Santos

Ruy Duarte de Carvalho, angolano de origem portuguesa, nasceu em 1941 em Santarém. Viveu parte da infância e da adolescência em Moçâmedes. Temporariamente, viveu em Lourenço Marques e em Londres, no início dos anos de 1970. Regente agrícola, antropólogo, realizador de televisão, cineasta, artista plástico, poeta e ficcionista.

“Os Papéis do Inglês”, Círculo de Leitores, 2002, é um livro de difícil classificação, talvez uma novela às avessas, relato de viagens com dormências e reminiscências, páginas de um diário onde se imiscuem a polivalência e o autorretrato. Como nas bonecas russas, vão-se sucedendo figuras atrás de figuras, misturam-se figuras históricas, recorda-se um texto de Henrique Galvão a propósito do suicídio do inglês e de um assassinato por este praticado, embrenhamo-nos num fundo de África, as narrativas orais são um verdadeiro conto suspenso. E essas figuras surgem por bizarria ou extravagância, caso do inglês que toca violino ao cair da tarde, no acampamento. “Uma importante alteração ao programa viria a dar-se quando, na estação seguinte, o inglês passou a vir acompanhar, na sanzala, os solos de quiçanje do ganguela, surdina morosa em noites de lua e frias, e nos intervalos de alguns trechos mais sentidos era o lancinante contraponto do Stradivarius”. Surge uma americana e há um despertar de sensualidade, de pouca dura, Archibald (é este o nome do inglês) nunca esqueceu uma infidelidade do pai que ele acompanhou de perto, este pai que conhecia um segredo de um tesouro, assim descrito: “Consta agora que o célebre potentado negro Lobengula, depois da derrota que sofreu ao cabo de tanto serviço dado às tropas inglesas, se refugiou em Angola, para lá do Cuando, seguido de mais de 500 carregadores para poder levar consigo um fabuloso tesouro de marfim, pedras e ouro no valor de mais de 500 milhões de libras. Teria subido pelas margens do Luiana até encontrar uma floresta impenetrável onde enterrou o tesouro e se refugiou depois de envenenar todo o séquito”.

Não se esqueça que toda a trama do livro se organiza num diário de alguns dias que avançam para o fim do ano de 1999. Prossegue a viagem, o autor tem uma sensação premonitória do que o destino lhe prepara uma surpresa, entram novos personagens como o primo Kaluter, viagem difícil, esvoaçam muitas memórias e então abre-se em todo o seu fulgor um tempo africano: “Chegámos à Pedra do Tambor, onde pernoitaríamos antes de atravessar o Curoca e entrar no parque na manhã seguinte, já a noite vinha vindo. Com ela a aragem fria de uma brisa rasteira. É aquela hora que arrepanha a alma. E hora que estrangula a digestão das horas, o programa das rotas, a ordem das tarefas, o compromisso, a lei. A incidência derradeira daquela luz direta recolhia costas para o poente, a ver estender-se a sombra da pedra a quem encostava, a da margem de espinheiras que acompanhava o decurso de um declive”. Fez-se acampamento numa gruta e dá-se pormenores sobre a morte do rego: “Deve sem dúvida ter havido alguma altercação a preceder o trágico desfecho. Achibald Perkings não pode ter deixado de procurar induzir o grego a revelar-lhe detalhes que dessem sentido àquilo tudo. E o grego pode ter respondido de maneira a exasperá-lo”.

A narrativa anda à deriva, Archibald é a figura central, faz-se viagem para levar o corpo do grego, a trama é um misto de memórias e um olhar sobre aquele cortejo que avança quase ao Deus dará. Num dado passo, ouvimos uma reflexão sobre o estado de Angola: “Por toda a Angola se consome e vive como se o mundo fosse acabar amanhã, se calhar vai mesmo, e não há que reservar seja o que for para um improvável mais tarde. Ou não tirar o rendimento imediato possível do que se tem à mão Angola é grande e enganosa até inscrever no panorama geral da sua crise expressões de sofreguidão que afinal são antes de cultura e de sistema”. Reatam-se conversas, há imensos esclarecimentos antropológicos. Assim chegamos a 31 de Dezembro, é o momento azado para decifrar os papéis do inglês: “O caderno de terreno de Archibald Perkings andara muito tempo sem ser usado, tinha uma nota ou duas que remetiam a 1910, a seguir duas páginas com desenhos, uma a reproduzir a hidrografia da região e outra com o croquis e os alçados do sítios das pedras, e depois de repente registava tudo o que se tinha passado desde que fora pela primeira vez ao posto apresentar-se aos autoridades portuguesas e dentro do caderno, dobrado em três e ao comprido, havia o papel solto de uma carta. Depois, na primeira página vazia após os assentos de Archibald, escrita a lápis azul e grosso e em letras garrafais e toscas, encontrei uma só frase devida a outro punho”.

Este livro é não só inclassificável como permite dizer tudo e o seu contrário sobre este mistério supremo da vinda de um Archibald que vem à procura de um tesouro que nada tem de espetacular: “Angola está cheia de tesouros desses, enterrados não pela natureza, mas pela mão dos homens. Só no planalto do Huambo consta que existem pelo menos três: um de um rei egípcio, outro de pré-nacionalistas brasileiros que, na esperança de poder voltar um dia, tinham escondido o seu garimpo quando após muitos anos de deportação em Caconda lhes impuseram o regresso ao Brasil, e outro de um tal Pedro Cota, português, todo em ouro e guardado em gamelas de cera”.

E assim chegamos ao primeiro dia do novo século e toca a rebate o poeta Ruy Duarte de Carvalho no seu texto último de despedida depois de termos sido esclarecidos sobre o conteúdo dos papéis do inglês: “Todo este tempo sido de chuva e fui aferindo daqui, todas as tardes, os caminhos da água que inexoravelmente nos iam envolvendo umas vezes pelo Sul e depois a rodar para Leste, outras pelo Norte, uma massa pesada e compacta de céu muto escuro que do Oriente se estendia até muito longe, uma barreira azul-cobalto por detrás das nuvens mais próximas e das suas bordaduras, dos seus debruns, brancos e explosivos. Só o longínquo Ocidente preservava uma faixa de céu limpo, que o sol atingiu quando ia a pôr-se e de onde irrompeu então essa luz verde, rasante e limpíssima, que acontece às vezes e incandesce mais do que ilumina. De costas para o Ocidente, era o espetáculo destas fontes de inverosímil luz contra a barreira da chuva a Leste, painel total. A envolver o acampamento todo, o jipe de um lado, a tenda do outro, duas árvores no meio e entre e para além delas as pedras que nos servem de cozinha e as pessoas nelas, havia não apenas um, mas dois arco-íris, altos no céu, concêntricos e assentes no perfil do verde da mata próxima. E tudo exatamente no centro dos dois arcos. Uma coisa assim perfeita, concertada, determinada, irreal, e tão completamente ordenada em função daquele local, eclodia perfeita, qual aparição, e seria puro vício de prevenção não lhe conferir um estatuto de sinal”.

Obra inclassificável ou não, Ruy Duarte de Carvalho é nome cimeiro da língua portuguesa falada em africano.
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18093: Bibliografia (44): “Os Papéis do Inglês”, por Ruy Duarte de Carvallho; Círculo de Leitores, 2002 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18127 Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (9): Hugo Moura Ferreira, ex- alf mil CCAÇ 1612, Cufar e Cachil, e CCAÇ 6, Bedanda, 1966/68


Feliz e Santo NATAL de 2017
e uma excelente entrada do ano de 2018

Votos de Moura Ferreira
e Família 

Mensagem natalícia de Hugo Moura Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1621, Cufar e Cachil, e CCAÇ 6, Bedanda, 1966/68):

tem mais de 60 referências no blogue.
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18124: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (8): Chegou o Natal, por Fernando de Jesus Sousa (DFA), ex-1.º Cabo da CCAÇ 6

Guiné 61/74 - P18126: Parabéns a você (1361): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)




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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18121: Parabéns a você (1360): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CComandos (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18125: Tabanca Grande (455): José Parente Dacosta, ou 'José Jacinto', ex-1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... Natural da Covilhã, vive em Dijon, França... Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 764.


Foto nº 1 > O jovem militar José Parente Dacosta


Foto nº 2 >  Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > O Dacosta (ou "Jacinto") junto ao monumento da CART 640 ("Quartel ocupado e construído pela CART 640, desde 21/5/1964. [CART] 640 / RAP2. [Há uma outra foto, no nosso blogue, com um monumento semelhante, mas de Cacoca, "quartel ocupado e construído desde 24/6/1964 pela CART 640").


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > c. 1966 > "Benvindos a Sangonhá"


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 9 de junho de 1966 > "A nossa equipa de transmissões a plantar hortaliça para fazermos sopa. A água da duche era recuperada para regar. O chuveiro é o barril que podemos ver na foto com uma lata cheia de furos pendurada no barril para fazer de chuveiro. Assim íamos passando esses longos dias naquele quartel no meio do mato. Os tempos da nossa mocidade perdida."


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 24 de outubro de 1966 > Uma autometralhadora Daimler, ME-79-09.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 25 de janeiro de 1967 > Um grupo de militares, onde  está o nosso camarada José Pereira Dacosta, "Jacinto". A foto deve ser da autoria de outro camarada desta companhia, o Manuel de Sousa Correia Correia (,natural de Viana do Castelo, vive no Seixal).



Foto nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > O José Parente Dacosta com o Manuel de Sousa Correia [?]-


Foto nº 8 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 5 de março de 1967


Foto nº 9 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > Quartel de Guileje > 15 de maio de 1967.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) >  15 de maio de 1967 > Tabanca de Guileje onde vivia a população. Há um militar, ao centro, que parece ser um graduado (furriel ou alferes)...


Foto nº 11 > VIII Almoço convívio da CCAÇ 1477 em Tomar, em  5 de Agosto 2017: "a comemorar com familiares e amigos 50 anos de regresso a Portugal,  vindos da nossa antiga Província da Guiné Portuguesa".

Fotos (e legendas): © José Parente Dacosta (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em 18 do corrente, o José Parente Dacosta e Tabanca Grande celebraram 6 anos de amizade no Facebook!

Dois comentários a propósito do evento:

Tabanca Grande Luís Graça:

Um abraço festivo do editor, Luís Graça. Mas, camarada Dacosta, não vejo o teu nome na lista dos762 membros da Tabanca Grande, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... De qualquer modo, obrigado por seres amigo do Facebook da Tabanca Grande... Bom ano de 2018.

José Parente Dacosta:

Amigo,  jà faz 6 anos que faço parte do grupo (Tabanca Grande Luis Graça),  se o meu nome não figura na lista,  eu não tenho culpa...  Eu era 1° Cabo Operador Cripto da Companhia de Caçadores 1477, Guiné, Guileje, 1965/67... Guileje que  também tinha o nome  de "o corredor da morte"... Grande abraço e Feliz Natal.



A CCAÇ 1477 esteve seis meses e 20 dias em Guileje, de 3/12/1966 a 28/05/1967.

Infogravura: Carlos Guedes / Nuno Rubim / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro Dacosta, ou melhor Zé Jacinto (como és conhecido entre os amigos e antigos camaradas):

Tens e não tens razão. Há o Facebook da Tabanca Grande Luís Graça (desde janeiro de 2011, se não erro) e o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (desde 23 de abril de 2004). A Tabanca Grande Luís Graça, página do Facebook, tem mais de 2600 amigos. O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné tem 763 membros registados...

Tu és amigo do nosso Facebook, desde 18 de dezembro de 2011. Mas, por lapso teu e nosso, ainda não consta da lista alfabética, de A a Z, dos amigos e camaradas da Guiné que estão registados no Blogue... Vejo que és mais facebook...eiro do que blogueiro. Mas não faz mal. Vamos corrigir hoje o lapso e colocar-te sob o nosso poilão. no lugar nº 764. Passas a ser grã-tabanqueiro, de facto e de direito. E o teu nome passa a constar da lista alfabética da Tabanca Grande, na letra J, visível permanentemente na coluna do lado esquerdo. 

Os editores do blogue só precisam, entretanto, que nos arranges uma foto tua atual, tipo passe, e que lhes envies o teu endereço de email, para futuros contactos.

Sobre a Guiné, Sangonhá e Guileje, falam as tuas fotos e legendas, que eu fui recuperar da tua página do Facebook. Num próximo poste publico mais algumas. E tu próprio podes contactar-nos diretamente através dos seguintes emails:

Toda a correspondência para o nosso blogue (e Tabanca Grande) deve ser enviada para um ou mais dos seguintes endereços de e-mail dos nossos editores:

(i) Luís Graça:

luis.graca.prof@gmail.com ou luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

(ii) Carlos Vinhal:

carlos.vinhal@gmail.com

(iii) Eduardo Magalhães Ribeiro:

magalhaesribeiro04@gmail.com

Para os camaradas que querem saber mais sobre ti, aqui vai:

(i) o José Parente Dacosta. também conhecido por José Jacinto, trabalhou na empresa Automobiles Peugeot de agosto de 1969 a setembro de 2000; 

(ii) vive em Dijon, França; 

(iii) é natural da Covilhã, onde nasceu em 11 de setembro de 1943;

(iv)  tem página no Facebook;

(vi) esteve na Guiné, em Sangonhá e em Guileje, de 1965 a 1967. Em Sanginhá, em 1965/66 e Guileje, em 1967 (e da qual " infelizmente não tenho boas recordações", diz ele).

Só um pequeno reparo: Zé Jacinto, o quartel de Guileje não foi destruído pelo inimigo, foi abandonado em 22/5/1973, pelas NT, ocupado por escassas horas em 25/5/1973, portanto, três dias depois,  por 'Nino' Vieira e os seus homens, e  mais tarde destruído pela nossa Força Aérea.

Sê bem vindo à Tabanca Grande, ou seja, à comunidade constituída pelos membros formalmente registados no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné [https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/].

Temos algumas regras de "conívio", uma das quais é o tratamento por tu, como camaradas de armas que fomos (e continuamos a ser). As 10 regras fundamentais podem ser lidas aqui.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18124: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (8): Chegou o Natal, por Fernando de Jesus Sousa (DFA), ex-1.º Cabo da CCAÇ 6

1. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (DFA), (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, autor do livro de poemas "Sussurros Meus"), com data de 21 de Dezembro de 2017, com este poema de sua autoria alusivo ao Natal:


Chegou o Natal

São tantas as razões para comemorar
À saúde, paz, alegria, amor e felicidade
Muitos são os motivos para festejar
Ao sol que brilha, a vida e à amizade.

Em cada Natal renovo os desejos de viver
Sempre mais um, com saúde paz e amor.
Poder desfrutar de ver o amor acontecer.
Na esperança dum amanhã melhor.

Saúdo à família como o meu maior bem
Os que partiram e me deixaram saudade
De todos me lembro, não excluo ninguém.

Desejo que todos vivam em fraternidade.
Para os amigos peço o melhor que a vida tem.
Façam de cada Natal um gesto de humildade.

21/12/2017
Fernando Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18120: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (7): Patrício Ribeiro, fundador e diretor técnico da Impar Lda; antigo fuzileiro naval, em Angola, 1969/72

Guiné 61/74 - P18123: Notas de leitura (1025): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (14) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
Assistimos a uma retoma de críticas, o gerente da filial de Bolama verifica que a cupidez, a avidez do lucro em muito excede as boas intenções com que se criam granjas e se lançam culturas, se fazem experiências que depois redundam em fracassos, atendendo à pobreza dos solos e à inclemência climática.
Um gerente de uma filial do BNU está atento à evolução da praça, ao aparecimento de novos agentes económicos, neste caso a Sociedade Comercial Ultramarina, com quem o BNU irá estreitar laços. Não é por acaso que se escolhe como imagem a visita de uma delegação vinda de Lisboa para apreciar as atividades da Sociedade Comercial Ultramarina, a fotografia foi retirada em Bafatá, todos felizes a olhar a câmara, rodeados da fartura dos sacos da mancarra.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (14)

Beja Santos

A manifesta decadência de Bolama, que se tem vindo a prenunciar nos últimos anos, e de que os relatórios de filial não escondem a situação, aparecem reforçados com os dados do relatório de 1929. Logo quando fala da situação da praça:
“Carateriza-se por acentuada falta de dinheiro no mercado, a par de manifesta frouxidão nas transações de caráter mercantil.
Os estabelecimentos comerciais estão repletos de mercadorias, mas estas não têm saída.
O indígena, a quem outrora serviam todas as bugigangas e artefactos que se lhes punha diante dos olhos, começou já a descrer da sua própria solvabilidade, capacitado que apenas lhe resta o mínimo de existência, o que aliás é rigorosamente exato.
O fenómeno que se regista em Bolama é o mesmo que se observa em todos os demais pontos da colónia.
Avizinha-se a campanha da mancarra, época de maior movimento comercial, mas não havendo até agora fundada esperança nas cotações que têm vindo do estrangeiro, o comércio está receoso de que este ano seja o de mais um desengano, no que respeita aos afamados lucros da mancarra. De facto, se este vaticínio se confirmar, mais se agravará a crise que está atravessando o comércio local”.

Dá a notícia que desde o ano anterior iniciaram as suas operações duas firmas comerciais de relevo, a Sociedade Comercial Ultramarina e Carvalho de Abreu, Lda, dizendo que ambas gozam de bom crédito e têm as suas casas principais em Bissau. Apresenta a primeira do seguinte modo:
“A Sociedade Comercial Ultramarina dedica-se à compra de géneros coloniais em larga escala, nomeadamente mancarra, porque não deixará contrariar a Casa Gouveia, que assim fica tendo com quem competir. Por nosso lado, encaramos debaixo dos melhores auspícios o aparecimento da Sociedade Comercial Ultramarina em Bolama e contamos melhorar os nossos resultados desde que sejamos autorizados a fazer-lhe adiantamentos de fundos destinados à compra da mancarra”.

Num anexo a este relatório, o gerente introduz outros tópicos que se prendem com a vida e o desenvolvimento da colónia. Refere que foi publicada legislação sobre a nova divisão administrativa da colónia, criando o quadro das intendências. Ter-se-ia em vista uma rigorosa seleção do pessoal, expurgando o respetivo quadro de todos os elementos competentes que o favor da política tem facilitado o ingresso. Mas o documento deixa abertamente uma crítica:
“Foram promulgadas as bases do concurso para o provimento das vagas criadas por virtude da reforma que ao de leve nos permitimos analisar.
Coisa singular esta dos concursos! O mesmo pessoal de outrora, sobre cujos deficientes conhecimentos a legislação refere, este pessoal por inteiro ingressou no novo quadro, agravado agora o mal com a sua ascensão a categoria imediatamente superior à que desfrutava antes da nova organização.
Não se compreende bem o fenómeno; mas por certo não lhe é estranho o mesmo favor da política quem em regra ladeia as nomeações públicas”.

E dirige a agulha dos seus comentários para a agricultura:
“Sob o ponto de vista agrícola, diremos a V. Exas. que não compartilhamos da opinião do que ainda pensam que a agricultura científica seja capaz de trazer benefícios, ainda os mais reduzidos, à entidade particular ou oficial que tomar sobre si tal empreendimento.
O solo da Guiné está longe de ser fértil, como soe dizer-se. É facto que em alguns ensaios feitos encontram-se árvores exóticas e não aclimadas, como que pretendendo demonstrar serem fecundos os campos onde tais ensaios se fizeram. Mas com tão insignificante resultado não pode contar quem pretenda fazer agricultura em larga escala.
É facto, e bastante lisonjeiro, que o atual governador, desde a sua chegada à colónia, tem procurado dar a maior expansão à agricultura. Nesse sentido alargou bastante a esfera de ação da Repartição de Agricultura, que tem a sua sede em Bor. Há ali instrumentos e alfaias agrícolas de muito valor, tendo os respetivos serviços a dotação orçamental de 460.000$00 para despesas de fomento.
Como se vê, são fartos os recursos de que dispõe a agricultura. Resta porém saber se os trabalhos realizados são de molde a conduzir o indígena a modificar spont sua o método de trabalho que os seus avoengos já usavam.
Por iniciativa do governo da colónia, foram criadas granjas administrativas em todas as Intendências e Residências”.


Os intendentes revelavam estar a pôr muita fé e entusiasmo nestes empreendimentos, recordando que Fá, Estrela Farim, a Insular da Guiné e outras mais granjas foram tentativas que falharam não porque lhes tivessem faltado os bons terrenos e o auxílio oficial mas porque mas porque o seu objetivo não seria somente a agricultura. E o intendente disse abertamente ao governador:

“V. Exa., colonial experimentado, que conhece Angola, Timor e a Índia, não ignora, certamente, que são organizadas companhias tendo este único objetivo ou finalidade – arranjar dinheiro!”.

O Intendente de Bolama tinha a seu cargo a granja de S. João onde fez plantações. 700 mangueiras, 525 bananeiras, 160 tangerineiras, 450 coqueiros, 20 papaeiras, 1 abacate, 6 pinhas, 25 pés de café Libéria, 8 laranjeiras e 1200 pés de ananás. Porém um grande número destas plantas estava em risco depois de terminarem as chuvas e o mesmo futuro pare estar reservado às restantes que vão resistindo a custo devido à pobreza do terreno.

(Continua)
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Notas do editor:

Poste anterior de 15 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18090: Notas de leitura (1023): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (13) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 18 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18100: Notas de leitura (1024): Tera Sabi, receitas da gastronomia tradicional guineense, 2.ª Edição (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18122: O meu Natal no mato (43): as mensagens natalícias de 1972, gravadas pela RTP a 23 de outubro... E se a gente morresse, entretanto ?...Como não tinha pai nem vivia com a minha mãe ou com os meus irmãos, tive de dizer “querida avó” e mais umas balelas obrigatórias... (José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > A mesa do Natal de 1972, de sete "desalinhados": o 1º cabo cond auto José Claudino da Silva, "Dino" mais os camaradas e amigos, Luís, Zé Leal, Zé Alves, Carvalho, Moreira, Esteves. Completavam sete meses de Guiné...

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Do livro em pré-publicação, no nosso blogue, do nosso grã-tabanqueiro José Claudino da Silva (*)

25º Capítulo > AS MENSAGENS NATALÍCIAS

Vieram os repórteres fazer as gravações para as mensagens de Natal de 1972 (**). Safa!, ainda estávamos no dia 23 de Outubro. E se morríamos todos antes do Natal? Será que as nossas famílias iriam ouvir as mensagens?

Confesso que não achei muito correcto, mas depois informaram-me que,  se eu morresse,  me cortavam do filme por isso fiquei mais descansado.

“Alô queridos pais, irmãos, aqui o soldado tal. Encontro-me de boa saúde e feliz por defender a pátria. Um abraço e adeus até ao meu regresso”.

Para mim, essa mensagem não dava. Não tinha pai nem vivia com a minha mãe ou com os meus irmãos. Tive de dizer “querida avó” e mais umas balelas obrigatórias. Nesse dia, estava convencido de que no Natal ia aparecer na televisão.

Alô,  Penafiel. Daqui de Fulacunda na Guiné Portuguesa. Fala o 1º Cabo Condutor Auto Rodas 158532/71 que deseja um bom Natal e um feliz ano novo a todos os seus entes queridos.”

 Só no fim é que me lembrei e acrescentei:

“É verdade! Chamo-me José Claudino da Silva. Adeus, até ao meu regresso”.

Ficou assim.

Afinal, por motivos imprevistos, as mensagens só iam ser transmitidas via rádio e os nossos familiares seriam avisados das datas. A minha avó foi informada três dias depois da minha mensagem ter ido para o ar, mas ela tinha-me escutado, pois ouvia todos os dias, em casa dos vizinhos, as mensagens dos soldados. Para ela, cada um que falava era como se fosse o neto. Eu fui o primeiro neto que ela teve na guerra.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de dezembro de  2017 >  Guiné 61/74 - P18118: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 17: inesperada 'promoção' a 1º cabo de reabastecimentos com direito a jipe e a máquina de escrever HCESAR...

(**) Último poste da série > 25 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)

Guiné 61/74 - P18121: Parabéns a você (1360): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CComandos (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18108: Parabéns a você (1359): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18120: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (7): Patrício Ribeiro, fundador e diretor técnico da Impar Lda; antigo fuzileiro naval, em Angola, 1969/72


O postal de Natal de 2017 do Patrício Ribeiro, diretor técnico da Impar Lda... Imagem de uma exótica "cabaceira" (embondeiro), numa praia do ilhéu de Caió, região do Cacheu, Guiné-Bissau.

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2017).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de boas festas do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro [um antigo "filho da Escola", leia-se: fuzileiro da Marinha Portuguesa, radicado na Guiné-Bissau há mais de  décadas, fundador e diretor da empresa Impar Lda; nascido em Águeda, em 1947, viveu desde tenra idade em Angola,  onde fez tropa, foi grumete fuzileiro, 1969/72; voltou a Portugal com a descolonização; fixou-se na Guiné-Bissau em 1984]

Luís,

Desde Bissau,
para todos, boas festas.

Abraço
Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guiné- Bissau
Telef 00245 966623168 / Telem 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de dezembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P18116: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (6): José Carlos Mussá Biai, "menino do Xime" em 1970, engenheiro florestal, a trabalhar hoje na Direção-Geral do Território, em Lisboa

Guiné 61/74 - P18119: Blogues da nossa blogosfera (86): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte II"


Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte II
 
Afundamento do batelão “Guadiana” por EEA–Engenho Explosivo Aquático 

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Julho de 2010)

(Final)

Resumo do acidente

Pelas 13:30 do dia 27 de Maio de 1969 na posição de latitude 11º 14’.3 N e longitude 15º 18.1’ W, quando o comboio naval RCU 09/69 navegava no rio Cobade estreito, no percurso rio Cumbijã – foz do rio Tombali com o apoio aéreo de dois aviões T6, o batelão «Guadiana» nele integrado foi atingido pela explosão de uma mina flutuante fundeada, a meio de uma passagem do rio que não teria mais de 20 metros de largura.

Muito provavelmente, a detonação terá sido accionada electricamente de terra, com resultado agravado pelo transporte de bidons de gasolina e detonadores que seguiam como carga. Houve a lamentar 5 mortos e 8 feridos com diversos graus de gravidade, todos autóctones, sendo 2 tripulantes e 11 passageiros.

 
O batelão «Guadiana» afundado pelo rebentamento de um EEA - Engenho Explosivo Aquático


A posição relativa das LDM e dos batelões no comboio, na altura em que ocorreu o avistamento do EEA

O batelão começou a alagar rapidamente e, em face desta situação, o oficial que comandava operacionalmente o comboio, 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite ordenou o imediato reboque, por uma das LDM, para um local mais afastado da área forte do inimigo – a ilha de Como – onde a embarcação pudesse ser encalhada numa das margens.

Efectivamente o batelão «Guadiana» ainda percorreu rebocado cerca de uma milha, ficando imobilizado de proa na margem esquerda do rio Ganjola, de popa para montante e a cerca de 300 metros da confluência com o rio Como.


Análise da situação e reconhecimento local

No dia seguinte foi efectuado um heli-reconhecimento pelo Chefe do Estado-Maior do CDMG, acompanhado pelo responsável do Serviço de Assistência Oficinal (SAO), Comandante do DFE 12 e Chefe da Secção de Mergulhadores para, com base nos elementos recolhidos, se proceder a uma análise prévia da possibilidade de recuperação do batelão.

Entretanto, o Comandante-Chefe alertou as FT sediadas na margem norte do rio Cobade, para a possível utilização daqueles meios, antecipando uma tentativa de recuperação a efectuar no dia 29 de Maio. Deveriam aguardar o contacto directo do CDMG.

Era responsável por aquele sector o BArt 2865, com sede em Catió, englobando Catió, Cufar e Bedanda, tendo sido determinado à CArt 2476 (Catió) para efectuar fogo de artilharia de interdição, durante duas noites, para a área de Cachil. Simultaneamente, sobre a Ilha de Como, foram ordenados ataques com heli-canhão e bombardeamentos utilizando aviões Fiat G91, quer por haver conhecimento de numerosos alvos de interesse a atingir quer por represália.

Neste reconhecimento local, para ser apreciada a estrutura, resistência e forma de recuperação possível do batelão, deslocaram-se técnicos do SAO-Serviço de Assistência Oficinal e mergulhadores, além de outro pessoal e equipamento diverso. Participaram ainda a LFG «Cassiopeia», 2 LDM - Lanchas de Desembarque Médias e ainda um grupo de assalto do DFE 7 com 6 botes de borracha. Os trabalhos foram acompanhados de helicóptero pelo próprio Comandante do CDMG acompanhado do Sub-Chefe do Estado-Maior.


Mapa da zona do rio Cobade entre os rios Tombali (ponto TT) e proximidade do rio Cumbijã (ponto CC); assinalada a parte do Cobade estreito, próximo de Catió

O «Guadiana» tinha como principais características 17 metros de comprimento, 5.5 metros de boca e 2.2 metros de pontal. Possuía duas anteparas, a de ré que limitava os alojamentos da tripulação e a de vante que limitava o porão da amarra. Tinha duas bocas de porão, a de ré com 7.3 x 3.0 metros e a de vante com 3.2 x 2.0 metros. As balizas e a sobrequilha, em ferro, eram rebitadas ao costado.

Na continuação da vistoria efectuada pela Secção de Mergulhadores e outro pessoal técnico embarcados na LDM 105, constatou-se que o batelão estava enterrado cerca de um metro no lodo fino da margem com caimento a ré e adornado a estibordo, com balizas bastante danificadas, rebitagem desfeita e a própria sobrequilha retorcida, tudo numa extensão apreciável (cerca de 10 m). O lodo tinha invadido o fundo numa altura próxima dos 50 cm.

A impossibilidade de tornar a embarcação estanque, a estrutura fragilizada, a dificuldade na utilização de bidons que aumentassem a flutuabilidade e o intervalo de tempo entre marés disponível, deixava colocar sérias dúvidas quanto a uma tentativa de recuperação com resultados positivos.

A impossibilidade de concretizar, com os meios disponíveis, qualquer salvamento levou a que todo o pessoal e meios presentes regressassem às suas unidades de origem.


A LFG «Cassiopeia» que participou nas operações de apoio


Conclusões

No final do reconhecimento, vistoria, estudos efectuados e relatórios técnicos de todos os intervenientes concluiu o Estado-Maior haver remotas possibilidades de recuperação, questionando simultaneamente a razoabilidade de tal decisão. Assim:

– Militarmente, seria importante transformar um navio afundado numa unidade temporariamente avariada, evitando uma moralização do inimigo que incentivasse prosseguir com a utilização de minas flutuantes nos rios da Guiné, podendo vir a tornar insegura a navegação.

– Do ponto de vista de princípio, o salvamento de um navio afundado ou encalhado, deveria ser sempre encarado como meta a atingir desde que existissem consideráveis probabilidades de êxito, em função dos riscos e encargos que daí adviessem.

– Em face de informações e relatórios técnicos disponíveis, o batelão teria necessariamente reduzido valor residual e os elevados custos de reparação previstos desaconselhavam a prossecução desse objectivo.

Assim veio a suceder por determinação do Comandante-Chefe e, mais tarde, o que restava do «Guadiana» veio a ser destruído por uma equipa de mergulhadores sapadores utilizando cargas explosivas

(final)

Fontes:
Pesquisa e compilação de texto a partir do relatório do 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite, núcleo 236-A do Arquivo de Marinha; fotos do Arquivo de Marinha; imagens do autor do blogue efectuadas a partir de extractos da carta da Guiné (cortesia IICT);

mls
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Nota do editor

Vd. poste anterior de 19 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18106: Blogues da nossa blogosfera (85): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte I"

Guiné 61/74 - P18118: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 17: inesperada 'promoção' a 1º cabo de reabastecimentos com direito a jipe e a máquina de escrever HCESAR...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > O 1º cabo cond auto José Claudino da Silva, ao centro, o terceiro a contR  da esquerda para a direita... Natal de 1972; "Eu e mais quatro amigos não comemos em sinal de protesto"... Prometemos publicar, por estes dias, o capítulo do livro em que se faz referência a este episódio natalício, de boicote do rancho...


 Foto (e legenda): © José Claudino da Silva  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva:


Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside hoje em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção). Tem página no Facebook. É membro nº 756 da nossa Tabanca Grande .


Sinopse:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou
 a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972,no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;

(viii) Faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(ix) é "promovido" pelo 1º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o  de aprender a datilografar... e a "ter jipe".


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capº 17 (Máquina de escrever HCESAR)


[O autor faz questão de não corrigir as transcrições das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, que o criou. ]


17º Capítulo > HCESAR Versus AZERT



Chamava-se Teclado Nacional e foi implementado por Salazar o teclado cujas primeiras letras eram HCESAR, em contraste com o AZERT em vigor na Europa.

Foi num recôndito lugar, no interior da Guiné, que pela primeira vez premi uma tecla duma máquina de escrever. Não deixa de ser curioso ser longe de civilização, num local em que nos referíamos como “O Mato”, que aprendi a escrever à máquina.

“Nem vais acreditar, o teu namorado agora é como os empregados dos bancos em breve só escreve à máquina”

Devido às funções em que fui colocado, tinha de fazer encomendas, balanços e balancetes em triplicado. Ora, para isso, passei a ser também contabilista e escriturário, seja isso o que for. Uma coisa é certa, sem que eu o merecesse, estava a ter alguns privilégios, como já antes acontecera. Querem ver que a porcaria da minha classificação continuava a ser uma fórmula mágica de me safar das situações foleiras pelas quais passavam os outros militares? 

Estou mesmo a ver que se fosse hoje, com aquela classificação, ainda chegava a deputado, presidente de empresa, instituição pública ou, quiçá, ministro, como recentemente tenho lido e ouvido nos média. Garanto que qualquer universidade me concedia os créditos para me tornar doutor; o único problema talvez sejam os meus amigos. Não são reitores!

Fiz o que me mandaram, acreditava que podia lutar pelo meu país daquela maneira, e dediquei uma parte do meu tempo a praticar na máquina de escrever e na calculadora de manivela.

Comecei a interiorizar que podia tirar partido do pouco de bom que ali existisse e, quem sabe, se a aprendizagem de outras coisas não me seria útil no futuro, se o tivesse. Ao mesmo tempo, ia tendo mais um motivo de distracção.

De repente, as mordomias aumentam.

- Caros camaradas, vocês… são um zero, à minha beira – teria, por certo, pensado eu, com a arrogância de quem é comprado e nem o percebe.

“Olha querida sou um senhor aqui em Fulacunda, até um Jeep tenho para mim e sou o chefe dos reabastecimentos”.


Isso aconteceu quando tomei posse. O pomposo nome é… “Cabo de Reabastecimento”. Acrescento que me é distribuído, no mesmo dia, um Jeep e passo a ser o motorista do comandante. Mas como aqui não há estradas nos 200 ou 300 metros em que se pode conduzir dentro do arame farpado, é o próprio comandante que conduz.

Passei a ganhar mais 150$00 por mês e o meu “padrinho” era o 1º sargento Santos; nem mais nem menos o que eu achava, o comandante. O verdadeiro, nem o gramava!

“Lembras-te de te dizer que o meu capitão em Penafiel só tinha peneiras? Aqui é igual. Tenho de ter o Jeep sempre limpo”.


Operações contra os "turra"? Nem pensar! Um estúpido militarista como eu, quase sem saber como e, por mero  acaso ou golpe de sorte, tirava o cu do perigo. Dizem os comandos que “a sorte protege os audazes".Eu não era audacioso, mas estava protegido pela sorte.

Demorei algum tempo a perceber onde pertencia. Lamento que nos primeiros tempos o meu complexo de superioridade me fizesse sentir ser o Maior. Qualquer atirador, mesmo sendo analfabeto, me demonstrou, em pouco tempo, que era superior a mim.

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18102: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 15 (A picada) e 16 (O analfabetismo)...Terei escrito meio milhão de palavras em cartas e aerogramas durante a comissão...

Guiné 61/74 - P18117: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IV: Bissau, ponte-cais, 4 de agosto de 1969, no regresso a casa.. O fotógrafo estava lá em cima, no N/M Uíge, a ver chegar as lanchas LDG, LDM e LDP, carregadas de tropas vindas do interior e que encostaram ao navio... Vinha tudo ao molhe e fé em Deus!


Foto nº 502


Foto nº 502 A


Foto nº 502 B


Foto nº 507


Foto nº 507 A


Foto nº 505


Foto nº 505 A


Foto nº 505 B


Foto nº 505 C



Foto nº 505 D



Foto nº 505 E


Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > Zona portuária > Fotos, tiradas do T/T Uíge, na viagem de regresso.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Continuação da publicação de um conjunto de fotos, selecionadas, do álbum do nosso camarada Vírgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingoa, 1967/69)

Tenho uma série destas fotos... É o dia 4 de Agosto de 1969, o dia da saída da Guiné. Eu tinha passado a noite anterior no Uige, e por isso de manhã cedo est

Tive a sorte de ver algumas e assim fotografei a chegada, o içar da carga para o barco, um momento inesquecível, e como foi tirada com os "slides", só foram revelados em Agosto e iam para França, e assim ficaram quase 50 anos. 

Nunca ninguém do BCAÇ 1933 e BCAÇ 1932 e outras Companhias e Pelotões, as viu, muitos poderão agora recordar a sua chegada em 4 de Agosto e entrada para o Uige, naquelas condições degradantes. 

Esta série de fotos que tenho da chegada das lanchas a encostarem ao Uige e depois a serem içadas, são realmente uma questão de sorte, eu estar no sitio certo à hora certa. Nenhum dos protagonistas, éramos cerca de 700 militares, conhece estas fotos, muitos vão rever-se nelas, um dia que as possam ver. 

Mandarei mais, pois acho que são momentos inesquecíveis, independentemente da força da imagem em si mesma.

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18109: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: Foto tirada do T/T Uíge, no nosso regresso, em 4/8/1969: vê-se o T/T Rita Maria atracado na ponte-cais de Bissau, e uma lancha da marinha que nos veio trazer o último militar a embarcar.