1. Mensagem de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 4 de Julho de 2010:
Caro Carlos,
Aqui seguem algumas sextilhas que sintetizam as saudades que tantos de nós, senão todos evidenciam...
Se entenderes que são publicáveis, força...
Abraço
manuelmaia
QUISERA EU... (1)
Quisera eu ter na vida amplos suportes
p`ra ver terra à partida "ganha em sortes"
Bissum, no norte, tida de "buraco"...
Mais "vozes do que nozes", felizmente,
o grau de risco dado àquela frente,
perigosa sim por "venerarmos Baco"...
Quisera eu lá voltar antes do fim
da areia da ampulheta que de mim
se escoa em movimento acelerado.
Sentar no baga-baga, protector,
sentir da terra o cheiro e o calor,
fruir tempo de paz agora achado...
Quisera um periquito a vir à mão,
depenicar na fruta, comer grão,
e passeá-lo ao ombro, sem atilho.
Quisera ao Cumbidjã lançar granada,
pescar o que der jeito à caldeirada,
sem medo de hipotético sarilho...
Falar-vos do Morés, do Cantanhez,
correr de lés a lés, tudo outra vez,
Por verdes matos, terra ocre/amarela...
Cruzar o Cumbidjã, o Armada em botes,
palpar bajuda sã, fruir seus dotes,
de um corpo escultural de moça bela...
Quisera eu ter de volta os tempos idos,
calcorrear espaços percorridos,
bolanha, lama, lodo pestilento...
Quisera os vinte anos da loucura
perdidos nesses matos da lonjura,
que evoco de memória, em pensamento...
Quisera ser de novo o furriel,
anti, mas cumpridor do seu papel,
e firme na vontade e no querer...
No palco desta vida atribulada,
tão prenhe de ilusões, cheia de nada,
os anos pesam muito, podem crer...
Descer o Cumbidjã rumo a Cufar,
bem cedo p`la manhã e experimentar,
satisfação, prazer, risco, aventura.
Sentir a brisa fresca ante o "voar",
do barco em lençol d´agua, a chapinar,
num ziguezaguear toda a largura...
Comer um peixe frito com casqueiro,
jogar um king a seco ou a dinheiro,
marcar um golo em jogo de emoção...
Ganhar "subbuteo" em rifa terminal,
testemunhar "fanado", algo "irreal",
e choro/ronco, mesmo ali à mão...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6660: Parabéns a você (127): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Os Editores)
Vd. último poste da série de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6571: Blogpoesia (73): Viva Portugal! (Felismina Costa)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Guiné 63/74 - P6736: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (2): Sexualmente falando, tudo continua normal
1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 30 de Junho de 2010:
Camarada Vinhal
Antes do mais, um especial agradecimento, pela forma como me apoiou.
E, registando as "Memórias boas da minha guerra", cá estou a enviar a segunda história: - "Sexualmente falando, tudo continua normal".
Junto uma foto do cais de Cufar. Uma mulher semeando cereal, indiferente ao movimento militar integrado na Op Diabo Negro (23.02.68). Publique, se julgar oportuno.
Espero que o meu tipo de linguagem (básica/popular/nortenha) não agrida ninguém, porque desejo exactamente o contrário.
Um abraço do
Silva da Cart 1689
Memórias boas da minha guerra (2)
Sexualmente falando, tudo continua normal
Cufar é no sul da Guiné, perto do rio Tombali, e fica a uns 12Km de Catió. Apesar de se encontrar assim perto, estava isolado e a ligação entre Cufar e Catió, fazia-se só em colunas militares, com periodicidade mais ou menos mensal, para seu abastecimento.
De vez em quando servia de base de operações, sempre com muita tropa, por ser zona perigosa. Só para montarmos a segurança às colunas, nuns 8Km, até ao cruzamento de Camaiupa, gastava-se um dia, desde o amanhecer até ao anoitecer. Os que lá estavam aquartelados eram poucos para as necessidades operacionais e de defesa (não passavam de uns 170 homens, incluídos os africanos da milícia) e a sua actividade limitava-se praticamente ao movimento diário no espaço do aquartelamento e à defesa de violentos ataques nocturnos.
Sempre que por lá passávamos, era festa e bebedeira certa. Estavam lá aquartelados desde o início de Maio de 67 os militares da Companhia 1687, que pertencia ao nosso Batalhão 1913, sediado em Catió e de onde saíram só 2 anos depois.
Entre militares, falar de actividade sexual naquela zona era uma utopia, aliás como na maioria da Guiné, porque os guerrilheiros levavam as mulheres logo na sua baixa adolescência (Bajuda com cabaço). As poucas mulheres que lá ficavam eram velhas (mulher grande) e parte delas eram companheiras dos milícias que também viviam dentro do arame farpado, mas com vida independente.
As necessidades sexuais (tesão, rebarba, apetite ou lá o que lhe queiram chamar), eram o dia a dia dos militares e não só em Cufar. Recordo que era vulgar verem-se alguns militares dirigirem-se para o chuveiro improvisado, feitos pavões, com a toalha pendurada no pénis.
Mas em Cufar, havia uma solução curiosa. A Fati, que era mulher do milícia Jaramba, satisfazia toda a gente, graças às suas capacidades manuais. E então, quando a tropa recebia o seu pré, aquilo era um movimento contínuo, fazendo bicha, para a palhota (tabanca) da Fati.
Ao contrário dos outros indígenas ligados à nossa tropa, este casal pertencia a uma etnia diferente, visto que o Jaramba bebia álcool e os outros não. E era grande o interesse deste africano em seguir o modelo português. Frequentava o Bar, falava razoavelmente o português crioulo, e gostava de saber coisas de Lisboa, do Salazar e de Portugal (afinal éramos todos portugueses).
São mais de 11 horas da manhã, o sol é abrasador, e não há árvores junto da tabanca da Fati, que se situa na orla da parada. A fila dos militares estende-se pela parada dentro. Do outro lado, mesmo de frente, é o Bar e lá de dentro, avista-se a fila dos que fazem bicha de mãos nos bolsos, a assar ao sol. O Jaramba bebe cerveja. Parece um homem orgulhoso e feliz. A tropa vai sendo (patrioticamente) aliviada, ganhando a mulher do Jaramba algum dinheirito e com ele lá vai o Jaramba governando a sua vida e bebendo mais alguma cerveja.
Entretanto, o Furriel Belarmino, um católico fervoroso e bastante militante, não via com bons olhos a actividade constante da mulher do Jaramba e tratou de catequisá-lo. E, ao deparar-se com mais uma fila (militar) para a palhota do Jaramba, entrou pelo Bar adentro e com ar zangado e modos menos amistosos, atirou-lhe:
– Jaramba, não tens vergonha deste espectáculo? – E continuava: – Não sabes que Deus não quer estas vergonhas e que um dia serás castigado? Tu que até pareces evoluído, não vês que os brancos não fazem coisas destas? Como podes dizer que somos todos iguais? Mulher branca que faz isto é prostituta e está condenada pela Igreja e pela sociedade.
– Ma Furiel, mim mulher inhcá puta, inhcá parte catota, és bom pessoal – dizia o Jaramba que acrescentava:
– Fati faz bom no tropa, és brincadera, tudo ficar contente e Fati vai ganha patacão.
O Furriel, que bebia um sumo, ofereceu-lhe mais uma cerveja e lá insistiu de novo nos seus conselhos cristãos e modos europeus.
No dia seguinte, mais ou menos à mesma hora, o Bar estava mais movimentado. A fila dos carentes fora desmobilizada, porque a Fati não estava a trabalhar e a porta da tabanca fechada.
Interrogavam-se uns, preocupavam-se outros.
– Que se terá passado?
Ninguém sabia. Apareceu, então, o Cabo Enfermeiro Alijó que informou o pessoal que o Jaramba partiu o braço direito à Fati, depois de uma grande discussão. Tinha estado a ligar-lhe o braço e não podia fazer esforços com ele.
– Ora foda-se lá a taça, logo hoje que estava com os colhões cheios – observou o Gondomar.
Ao que prontamente lhe respondeu o Matosinhos:
– E os outros, não?
– E o Jaramba, onde está? – perguntou o Nogueira.
– Estava ali há bocado com o beato do Furriel Belarmino, junto ao embondeiro grande – testemunhou o Costa de Vila Real.
– Então foi-se confessar, o filho da puta – observou logo o Guimarães.
Os dias passavam, o fim do mês ainda vinha longe, e o Jaramba foi rareando as suas visitas ao Bar. E agora, quando se aproximava não havia ninguém que lhe oferecesse uma cerveja. Por seu turno, o Belarmino, o guia espiritual, que não era homem de Bar, também não via necessidade de passar por lá, para compensá-lo da sua nobre atitude.
Mais uns dias depois, o Jaramba atravessa a parada, com o filhito pela mão. Entra no Bar, pede uma cerveja e um Sumol. O Cantineiro admira-se, olha para a parada e volta a ver os militares a formar fila. Pergunta, então, ao Jaramba:
– Tua mulher já está bem?
E ele:
– Sim, tudo bem na mão squerda.
Silva da Cart 1689
__________
Nota de CV:
Vd. primeira história da série no poste de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6696: Tabanca Grande (227): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)
Camarada Vinhal
Antes do mais, um especial agradecimento, pela forma como me apoiou.
E, registando as "Memórias boas da minha guerra", cá estou a enviar a segunda história: - "Sexualmente falando, tudo continua normal".
Junto uma foto do cais de Cufar. Uma mulher semeando cereal, indiferente ao movimento militar integrado na Op Diabo Negro (23.02.68). Publique, se julgar oportuno.
Espero que o meu tipo de linguagem (básica/popular/nortenha) não agrida ninguém, porque desejo exactamente o contrário.
Um abraço do
Silva da Cart 1689
Memórias boas da minha guerra (2)
Sexualmente falando, tudo continua normal
Cufar é no sul da Guiné, perto do rio Tombali, e fica a uns 12Km de Catió. Apesar de se encontrar assim perto, estava isolado e a ligação entre Cufar e Catió, fazia-se só em colunas militares, com periodicidade mais ou menos mensal, para seu abastecimento.
De vez em quando servia de base de operações, sempre com muita tropa, por ser zona perigosa. Só para montarmos a segurança às colunas, nuns 8Km, até ao cruzamento de Camaiupa, gastava-se um dia, desde o amanhecer até ao anoitecer. Os que lá estavam aquartelados eram poucos para as necessidades operacionais e de defesa (não passavam de uns 170 homens, incluídos os africanos da milícia) e a sua actividade limitava-se praticamente ao movimento diário no espaço do aquartelamento e à defesa de violentos ataques nocturnos.
Sempre que por lá passávamos, era festa e bebedeira certa. Estavam lá aquartelados desde o início de Maio de 67 os militares da Companhia 1687, que pertencia ao nosso Batalhão 1913, sediado em Catió e de onde saíram só 2 anos depois.
Entre militares, falar de actividade sexual naquela zona era uma utopia, aliás como na maioria da Guiné, porque os guerrilheiros levavam as mulheres logo na sua baixa adolescência (Bajuda com cabaço). As poucas mulheres que lá ficavam eram velhas (mulher grande) e parte delas eram companheiras dos milícias que também viviam dentro do arame farpado, mas com vida independente.
As necessidades sexuais (tesão, rebarba, apetite ou lá o que lhe queiram chamar), eram o dia a dia dos militares e não só em Cufar. Recordo que era vulgar verem-se alguns militares dirigirem-se para o chuveiro improvisado, feitos pavões, com a toalha pendurada no pénis.
Mas em Cufar, havia uma solução curiosa. A Fati, que era mulher do milícia Jaramba, satisfazia toda a gente, graças às suas capacidades manuais. E então, quando a tropa recebia o seu pré, aquilo era um movimento contínuo, fazendo bicha, para a palhota (tabanca) da Fati.
Ao contrário dos outros indígenas ligados à nossa tropa, este casal pertencia a uma etnia diferente, visto que o Jaramba bebia álcool e os outros não. E era grande o interesse deste africano em seguir o modelo português. Frequentava o Bar, falava razoavelmente o português crioulo, e gostava de saber coisas de Lisboa, do Salazar e de Portugal (afinal éramos todos portugueses).
São mais de 11 horas da manhã, o sol é abrasador, e não há árvores junto da tabanca da Fati, que se situa na orla da parada. A fila dos militares estende-se pela parada dentro. Do outro lado, mesmo de frente, é o Bar e lá de dentro, avista-se a fila dos que fazem bicha de mãos nos bolsos, a assar ao sol. O Jaramba bebe cerveja. Parece um homem orgulhoso e feliz. A tropa vai sendo (patrioticamente) aliviada, ganhando a mulher do Jaramba algum dinheirito e com ele lá vai o Jaramba governando a sua vida e bebendo mais alguma cerveja.
Entretanto, o Furriel Belarmino, um católico fervoroso e bastante militante, não via com bons olhos a actividade constante da mulher do Jaramba e tratou de catequisá-lo. E, ao deparar-se com mais uma fila (militar) para a palhota do Jaramba, entrou pelo Bar adentro e com ar zangado e modos menos amistosos, atirou-lhe:
– Jaramba, não tens vergonha deste espectáculo? – E continuava: – Não sabes que Deus não quer estas vergonhas e que um dia serás castigado? Tu que até pareces evoluído, não vês que os brancos não fazem coisas destas? Como podes dizer que somos todos iguais? Mulher branca que faz isto é prostituta e está condenada pela Igreja e pela sociedade.
– Ma Furiel, mim mulher inhcá puta, inhcá parte catota, és bom pessoal – dizia o Jaramba que acrescentava:
– Fati faz bom no tropa, és brincadera, tudo ficar contente e Fati vai ganha patacão.
O Furriel, que bebia um sumo, ofereceu-lhe mais uma cerveja e lá insistiu de novo nos seus conselhos cristãos e modos europeus.
No dia seguinte, mais ou menos à mesma hora, o Bar estava mais movimentado. A fila dos carentes fora desmobilizada, porque a Fati não estava a trabalhar e a porta da tabanca fechada.
Interrogavam-se uns, preocupavam-se outros.
– Que se terá passado?
Ninguém sabia. Apareceu, então, o Cabo Enfermeiro Alijó que informou o pessoal que o Jaramba partiu o braço direito à Fati, depois de uma grande discussão. Tinha estado a ligar-lhe o braço e não podia fazer esforços com ele.
– Ora foda-se lá a taça, logo hoje que estava com os colhões cheios – observou o Gondomar.
Ao que prontamente lhe respondeu o Matosinhos:
– E os outros, não?
– E o Jaramba, onde está? – perguntou o Nogueira.
– Estava ali há bocado com o beato do Furriel Belarmino, junto ao embondeiro grande – testemunhou o Costa de Vila Real.
– Então foi-se confessar, o filho da puta – observou logo o Guimarães.
Os dias passavam, o fim do mês ainda vinha longe, e o Jaramba foi rareando as suas visitas ao Bar. E agora, quando se aproximava não havia ninguém que lhe oferecesse uma cerveja. Por seu turno, o Belarmino, o guia espiritual, que não era homem de Bar, também não via necessidade de passar por lá, para compensá-lo da sua nobre atitude.
Mais uns dias depois, o Jaramba atravessa a parada, com o filhito pela mão. Entra no Bar, pede uma cerveja e um Sumol. O Cantineiro admira-se, olha para a parada e volta a ver os militares a formar fila. Pergunta, então, ao Jaramba:
– Tua mulher já está bem?
E ele:
– Sim, tudo bem na mão squerda.
Silva da Cart 1689
Guiné > Postais ilustrados da "Guiné Portuguesa" > "2A. Bajuda balanta no arrozal, Mansoa" > Edição Casa Mendes, Bissau > Execução Foto Lisboa > Feito em Portugal... Cortesia do Agostinho Gaspar
(ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria... Ainda não descobri o making of, a história da produção desta série de beldades guineenses, em poses usadas para a época, e que fazia as delícias dos tugas... Quem não tinha (e não trouxe para a metrópole) a colecçãozinha completa ?... Um pormenor curioso é que alguns dos modelos (belíssimos, a pedir meças às louras suecas que afixávamos nas paredes dos bunkers...) que se deixaram fotografar em trajes muito reduzidos, trazem ao peito fios com crucifixos, sugerindo serem raparigas cristãs...
Qualquer semelhança com a genial, divertida e pícara história contada pelo Silva, tendo como heroína a Fati e o azeiteiro (termo do calão nortenho) do Jaramba, fica por aqui, até por que não queremos ferir as susceptibilidades de ninguém, nem muito menos ofender os seus valores morais... O texto do Silva vai já para a futura antologia do blogue, para a secção do... humor em tempo de guerra. Anima-te, Jorge Cabral, que já não estás sozinho!
Só um reparo sócio-linguístico: "Partir punho" era uma expressão que faz(ia) parte do nosso calão de caserna, pelo menos no "chão fula", na zona leste... Aparentemente, não se usava em Cufar, o termo, claro, não a prática... (LG)
__________
Nota de CV:
Vd. primeira história da série no poste de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6696: Tabanca Grande (227): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)
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Guiné 63/74 - P6735: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (17): A desertificação da nossa terra: até os macacos pára-quedistas nos estão a deixar
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título: "Não nos incomodem que estamos a almoçar"… > Data de publicação > 10/6/2010 > Data da fotografia > 24/4/2010> Legenda:
"Cada vez mais habituados à vida calma do Parque Nacional de Cantanhez, os macacos fatango (pelo avermelhado) e fidalgo (rabo comprido branco), preparam-se para comer a sua refeição preferida: folhas e flores novas que desabrocham neste período do ano na maior parte das árvores da floresta. Com o aproximar da época das chuvas, a humidade ambiental aumenta e começam a surgir folhas tenras que deliciam os macacos e que os fazem permanecer mais tempo nos mesmos locais, sem precisar de se deslocarem com maior frequência. Sabendo que há uma convivência amiga entre eles e os habitantes de partes de Cantanhez, os macacos deixam-se embalar pela tranquilidade do ambiente, aproveitando para conviver entre espécies diferentes"
Fotos: AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Editada por L.G. (com a devida vénia...)
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título: "Aventuras na Mata de Cantanhez "… > Data de publicação > 30/5/2010 > Data da fotografia > 24/4/2010> Legenda:
"Estamos na véspera do início da época das chuvas e, em Cantanhez, os ventos já provocam a queda de árvores nas estradas, bloqueando durante algum tempo (horas ou dias) a passagem de viaturas.
"Um grupo de técnicos do Benin, Senegal e Guiné-Conacri que se deslocou ao sul do país em missão de cooperação e para conhecer o programa de ecoturismo da AD, foi obrigado a meter mãos à obra e de catana em punho, desmatar a árvore que caiu a poucos quilómetros de Iemberem.
"Se para os amigos de Conacri, não houve surpresas de maior, já para as amigas do Senegal, foi uma enorme surpresa conhecerem e defrontarem-se com uma floresta densa, elas que estão mais habituadas a serem confrontadas com areias e ventos do Sahara, em paisagens quase desérticas".
Fotos: AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Editadas por L.G. (com a devida vénia...)
Guiné > Zona Leste > Fajonquito > CCAÇ 674 (21964/66) > Um bagabaga...Foto tirada em Fajonquito, no já distante ano de 1964... Na imagem aparece o Sérgio Neves (ex-Fur Mil Mec Auto), irmão do Tino Neves. (*)
Foto: © Tino Neves (2006). Direitos reservados.
1. Comentário, de 6 do corrente, do Cherno Baldé ao poste P6661 (**):
Estimados Amigos e irmãos da Tabanca Grande,
Nao tenho palavras para exprimir a minha gratidão para todos os que lêem os meus escritos e me encorajam. Lamento imensamente não ter o tempo necessário para me dirigir, pessoalmente, a todos e, também, discutir sobre diversos aspectos do que se escreve ou escreveu. A todos as minhas sinceras desculpas.
Ao Irmão Luís (já agora informo que o meu filho mais novo chama-se Luís) antes de mais quero agradecer e informar que a minha cabeça está cheia de sombras negras.
Em segundo lugar, a desertificação é uma realidade em toda a região tropical da Africa, em consequência da qual os animais estão a desaparecer e, mais recentemente, são os macacos que estão a deixar-nos devido à falta de água combinada com o desaparecimento das lagoas.
O macaco pára-quedista não é uma designação científica. Nós, os miudos de Fajonquito, designávamos assim aos macacos vermelhos [, fatangos, ] que viviam em cima das árvores e que eram exímios saltadores de uma árvore para outra.
Numa outra ocasião falaremos do Tabaski, do Fiofioli e dos Djiné e Najoré do nosso amigo Renato Monteiro.
Mais uma vez obrigado pelo vosso inestimável trabalho. Esta última cronica foi-me inspirada quando vi no Blogue a imagem da ave pernalta.
Continuem a trabalhar e não se preocupem muito se a lista é feita de Baldéa ou de Graças. Temos que fazer a nossa parte. Temos que deixar rastos, talvez outros nos seguirão no futuro para arrumar as ultimas pedras de Guiledje.
Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)
[Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 14 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)
(**) Vd. poste de 30 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6661: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (16): Canhámina, 1974: o fim do triângulo da vida e do poder do regulado de Sancorlã
Mais uma vez obrigado pelo vosso inestimável trabalho. Esta última cronica foi-me inspirada quando vi no Blogue a imagem da ave pernalta.
Continuem a trabalhar e não se preocupem muito se a lista é feita de Baldéa ou de Graças. Temos que fazer a nossa parte. Temos que deixar rastos, talvez outros nos seguirão no futuro para arrumar as ultimas pedras de Guiledje.
Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)
[Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 14 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)
(**) Vd. poste de 30 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6661: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (16): Canhámina, 1974: o fim do triângulo da vida e do poder do regulado de Sancorlã
Guiné 63/74 - P6734: Controvérisas (96): No período de 1972/75, a proporção de capitães milicianos, comandantes de companhias combatenntes em África, era de 83 em cada 100 (Jorge Canhão, ex-Fur Mil At Inf Op Esp, 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)
Pag.1
Pag, 2
pag. 3
Pag. 6
Pag. 8
Pag 10
________________
Nota de L.G.:
Vd. poste de 15 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6596: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (VI e última parte)
Vd. também poste de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6690: O Nosso Livro de Visitas (93): Morais da Silva, de Fá a Gadamael (1970/72): Instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael
Sobre este tema, vd. ainda os últimos postes da série Controvérsias:
14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6730: Controvérsias (95): Não me move, nem alimento, qualquer querela QP-Milicianos (José Manuel M. Dinis)
13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6728: Controvérsias (94): Puros e Espúrios (Mário Gualter Rodrigues Pinto)
7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6687: Controvérsias (93): Nunca entendi a querela QP-Milicianos... O fim do serviço militar obrigatório foi um desastre nacional (Morais da Silva, Cor Art Ref)
20 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6621: Controvérsias (88): A ruptura do stock de capitães do QP e a milicianização da guerra (A. Teixeira / J. Manuel Matos Dinis / Mário Pinto / Manuel Rebocho)
Guiné 63/74 - P6733: Parabéns a você (132): Recordando outros aniversários (António Dâmaso)
1. Mensagem de António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 12 de Julho de 2010:
Camarada Vinhal
Agradeço do coração as tuas palavras, também te desejo as maiores felicidades e sobretudo muita saúde.
Agora comprei uma "Tabanca nova" aqui para as bandas de Azeitão.
Um grande abraço
A Dâmaso
Aniversário
Já tínhamos entrado no mês de Julho, verifiquei que a lista dos aniversariantes tinha o dia 12 vago.
Lembrei-me de mandar para o Blogue a minha data de nascimento [12 de Julho de 1940], só para ver o que os meus amigos e camaradas Gisela e Miguel Pessoa me iam arranjar, fiquei com um palpite mas confesso que superaram as expectativas.
Nunca fui ligado a aniversários, mas 70 anos só se fazem uma vez, apesar de todas as mazelas e maleitas, não sinto o peso dos mesmos.
Agora que estava a pensar nos meus aniversários, vieram-me à memória alguns:
17.º Aniversário [, 1957] - Andava a trabalhar com o meu pai e irmãos, desenvolvia o trabalho de dois e tinha de palmilhar duas léguas de ida e volta para o trabalho todos os dias, tinha tido a gripe Asiática [, pandemia de 1957,], estava fraco lembrei-me de pela primeira vez fazer gazeta.
29.º Aniversario [, 1969] - Estava na Guiné na primeira operação que fiz no Gabú, ficou-me marcado pela negativa porque no final do dia ao chegar a Bafatá, assisti à queda do Heli-canhão e à morte dos seus tripulantes.
30.º Aniversário [, 1970] - Estava em Moçambique no Cabo Delgado na Operação Nó Górdio.
33.º Aniversário [, 1973] - Estava na Guiné no inferno de Gadamael Porto.
70.º Aniversário [, 2010]- Este também me vai ficar na memória mas por melhores motivos.
Aos Editores do Blogue e todos que se lembraram de me dirigir uma palavra de conforto, o meu muito obrigado e desejo tudo de melhor para eles.
Seguem algumas fotos alusivas às datas, como alguém disse, palavras para quê.
17 anos, em 1957, o ano da pandemia de gripe asiática
29.º Aniversário na Guiné, Gabú, em 1969
30.º Aniversário Moçambique na Operação Nó Górdio (12-07-70)
33.º Aniversário na Guiné em Gadamael Porto (12-07-73)
E para fornecer mais alguns elementos ao Casal Pessoa, vai uma foto do meu último salto na Guiné, fiz 30 segundos de queda livre e fui largado pelo Cap Pára João Costa Cordeiro, segundos antes do seu acidente fatal em 1974.
Salto para 30 segundos de queda-livre
Um abraço
A Dâmaso
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 12 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6719: Parabéns a você (129): António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP (Editores)
Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6724: Parabéns a você (131): 13JUL2010 - Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 (Editores)
Guiné 63/74 - P6732: O Nosso Livro de Visitas (92): José Caetano, um português da diáspora (EUA), antigo tripulante do N/M António Carlos, da SG/CUF, que em 1964 levou de volta a casa cerca de meia centena de presos políticos guineenses, detidos no Tarrafal
O cargueiro Alenquer, da Sociedade Geral, maior que o António Carlos, abaixo referido.[Foram ambos construídos no Estaleiro da CUF, na Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, há c. 70 anos, e fizeram parte do plano de modernização da Marinha Mercante, levado a cabo pelo Estado Novo, no pós-guerra].
Foto de autor desconhecido.
1. Mensagem do nosso leitor Joseph Caetano (que vive nos EUA)
Foi a bordo deste navio que melhor conheci Bissau, e o seu "Tanque de água" onde registei um dos inesquecíveis momentos na vida de um marinheiro. Foi ainda a bordo deste mesmo navio que nos deslocámos de Bissau a Cabo Verde (Tarrafal, na Ilha de Santiago) para ali embarcar supostamente 88 ex-prisioneiros de guerra, mas por razões que nunca cheguei a saber apenas 44 voltaram para a Guiné (***).
Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longíquo ano de 1964.
Pena que não tenho fotos dessas paragens e momentos, na verdade nunca participei em nenhum combate, fui apenas um reserva, por ter frequentado a Escola de Marinheiros Mecânicos da Marinha Mercante.
Meu primeiro navio foi o Vera Cruz, da CCN - Companhia Colonial de Navegação [, vd. foto aqui, no blogue de Luís Miguel Correia, Ships & the Sea], bem conhecido e lembrado de muitos por ter transportado milhares de jovens como eu era nesse tempo, em 1963, para Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe..
Por serem tão dolorosas as partidas e chegadas, resolvi desembarcar e tentar navios de carga, e mais tarde petroleiros..
Enfim um manancial de histórias..
Mas as vossas me deixaram por um lado feliz, por outro com a lágrima a rolar face abaixo.
Nas fotos que voces apresentam da Guine, foi com ânsia e dor que logo recordei o Avelino Braz Barros, "moço" da minha aldeia que nunca chegou a conhecer o seu filho.
Com ou sem ajudas dos governantes tentem seguir este vosso trabalho histórico.
Um sincero abraço.
José Caetano/2367 RM Taifa
USA
2. Comentário de L.G.:
Obrigado, José, pelas tuas elogiosas referências ao nosso blogue e aos amigos e camaradas da Guiné que nele todos os dias escrevem... Não é, de modo algum, nossa intenção "escrever história" nem muito menos fazê-la...Infelizmente temos pouca gente da(s) Marinha(s)s, de guerra, de pesca e mercante, do tempo da guerra de África, integrada na nossa Tabanca Grande... Os teus apontamentos (sobre Bissau, o Tarrafal, a marinha mercante ...) que aqui ficam registados, no nosso livro de visitas, deixam-nos na expectativa de que voltes, e que nos contes mais pormenores desses anos em que foste "embarcadíço"... Sei que és um dos muitos leitores que, do outro lado do Atlântico, acompanham a nossa produção bloguística. Saúde e longa vida. Um abraço daqui, deste outro lado do Atlântico (também sou estremenho e ribeirinho, teu vizinho da Lourinhã).
PS - Sobre o teu conterrâneo, Avelino Braz Barros, morto na Guiné sem chegar a conhecer o filho, não encontrei qualquer referência no nosso blogue... Queres ajudar-nos a identificá-lo ? Qual era o seu nome completo ? Onde esteve ? A que unidade ou subunidade pertencia ? Em que data morreu... ? E já agora diz-nos qual é tua terra de naturalidade (e a respectiva freguesia).
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971
(**) Excerto de Wikipédia > Taifa (com a devida vénia...):
(...) "Na Marinha Portuguesa, a Classe da Taifa agrupa os praças e sargentos cuja função é a preparação, abastecimento, armazenamento e distribuição de alimentos. Os praças da classe agrupam-se em três subclasses: Despenseiros, Cozinheiros e Padeiros.
Até 1968, a Taifa era um dos dois grandes grupos em que se dividiam os praças da Armada Portuguesa - o outro grupo era o da Marinhagem. Os praças de Taifa estavam agrupados em quatro classes: Despenseiros, Cozinheiros, Padeiros e Criados. Os postos dos praças de Taifa tinham designações especiais. Assim, existiam os postos de primeiro-despenseiro e segundo-despenseiro (ambos equiparados a cabo de marinhagem), primeiro-cozinheiro (equiparado a cabo de marinhagem), segundo-cozinheiro (equiparado a marinheiro), padeiro (equiparado a marinheiro), primeiro-criado e segundo-segundo criado (ambos equiparados a marinheiro). Em 1968, o grupo da Taifa foi transformado em classe e as suas antigas classes em subclasses, passando as designações dos postos a ser iguais às dos praças das restantes classes." (...)
(***) Vd. poste de 3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6303: Historiografia da presença portuguesa (35): 100 presos políticos guineenses enviados em 1962 para o Campo de Chão-Bom, Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde (Luís Graça)
(...) Em 4 de Setembro de 1962 chegou uma leva de 100 presos políticos da Guiné, que se juntaram aos 107 angolanos que já lá estavam (mas alojados em alas separadas). Em 1964 saíram cerca de 60 guineenses, sendo os restantes libertos no tempo de Spínola, em 30 de Julho de 1969, no âmbito da política "Por uma Guiné Melhor". Recorde-se que, ao todo, Spínola mandou libertar 92 presos políticos, incluindo um histórico do PAIGC, Rafael Barbosa (1926-2007), detido na colónia penal da Ilha das Galinhas, nos Bijagós" (...)
Foto de autor desconhecido.
1. Mensagem do nosso leitor Joseph Caetano (que vive nos EUA)
Data: 13 de Julho de 2010 17:48
Assunto: Impressionante!..
Caro amigo Luís Graça (*)
Espero bem não levar-me a mal esta minha tomada de posição...
Amigos: A todos vos quantos têm participado no conto destas histórias passadas ou relacionadas com a Guiné, queiram receber o meu sincero e forte abraço.
Na verdade todos vós estão a escrever um pouco de uma história que muitos outros não quiseram, não souberam ou não puderam registar e deixar para sempre aos vindouros.
Sou natural das Caldas da Rainha. Fiz meu serviço militar na Marinha de Guerra com o número 2367 RM [,ou RN ?] Taifa (1965/66). Entre outros Navios de Guerra, foi na Fragata Diogo Cão [ vd. foto aqui, no sítio Reserva Naval, do nosso camarada Manuel Lema Santos,] que visitei a Guiné- Bissau, mas já antes a bordo do cargueiro Antonio Carlos, da Sociedade Geral [, construído no Estaleiro da CUF, na Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa], tinha estado naquela terra que, não sendo boa, me deixou saudades.
Assunto: Impressionante!..
Caro amigo Luís Graça (*)
Espero bem não levar-me a mal esta minha tomada de posição...
Amigos: A todos vos quantos têm participado no conto destas histórias passadas ou relacionadas com a Guiné, queiram receber o meu sincero e forte abraço.
Na verdade todos vós estão a escrever um pouco de uma história que muitos outros não quiseram, não souberam ou não puderam registar e deixar para sempre aos vindouros.
Sou natural das Caldas da Rainha. Fiz meu serviço militar na Marinha de Guerra com o número 2367 RM [,ou RN ?] Taifa (1965/66). Entre outros Navios de Guerra, foi na Fragata Diogo Cão [ vd. foto aqui, no sítio Reserva Naval, do nosso camarada Manuel Lema Santos,] que visitei a Guiné- Bissau, mas já antes a bordo do cargueiro Antonio Carlos, da Sociedade Geral [, construído no Estaleiro da CUF, na Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa], tinha estado naquela terra que, não sendo boa, me deixou saudades.
Foi a bordo deste navio que melhor conheci Bissau, e o seu "Tanque de água" onde registei um dos inesquecíveis momentos na vida de um marinheiro. Foi ainda a bordo deste mesmo navio que nos deslocámos de Bissau a Cabo Verde (Tarrafal, na Ilha de Santiago) para ali embarcar supostamente 88 ex-prisioneiros de guerra, mas por razões que nunca cheguei a saber apenas 44 voltaram para a Guiné (***).
Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longíquo ano de 1964.
Pena que não tenho fotos dessas paragens e momentos, na verdade nunca participei em nenhum combate, fui apenas um reserva, por ter frequentado a Escola de Marinheiros Mecânicos da Marinha Mercante.
Meu primeiro navio foi o Vera Cruz, da CCN - Companhia Colonial de Navegação [, vd. foto aqui, no blogue de Luís Miguel Correia, Ships & the Sea], bem conhecido e lembrado de muitos por ter transportado milhares de jovens como eu era nesse tempo, em 1963, para Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe..
Por serem tão dolorosas as partidas e chegadas, resolvi desembarcar e tentar navios de carga, e mais tarde petroleiros..
Enfim um manancial de histórias..
Mas as vossas me deixaram por um lado feliz, por outro com a lágrima a rolar face abaixo.
Nas fotos que voces apresentam da Guine, foi com ânsia e dor que logo recordei o Avelino Braz Barros, "moço" da minha aldeia que nunca chegou a conhecer o seu filho.
Com ou sem ajudas dos governantes tentem seguir este vosso trabalho histórico.
Um sincero abraço.
José Caetano/2367 RM Taifa
USA
2. Comentário de L.G.:
Obrigado, José, pelas tuas elogiosas referências ao nosso blogue e aos amigos e camaradas da Guiné que nele todos os dias escrevem... Não é, de modo algum, nossa intenção "escrever história" nem muito menos fazê-la...Infelizmente temos pouca gente da(s) Marinha(s)s, de guerra, de pesca e mercante, do tempo da guerra de África, integrada na nossa Tabanca Grande... Os teus apontamentos (sobre Bissau, o Tarrafal, a marinha mercante ...) que aqui ficam registados, no nosso livro de visitas, deixam-nos na expectativa de que voltes, e que nos contes mais pormenores desses anos em que foste "embarcadíço"... Sei que és um dos muitos leitores que, do outro lado do Atlântico, acompanham a nossa produção bloguística. Saúde e longa vida. Um abraço daqui, deste outro lado do Atlântico (também sou estremenho e ribeirinho, teu vizinho da Lourinhã).
PS - Sobre o teu conterrâneo, Avelino Braz Barros, morto na Guiné sem chegar a conhecer o filho, não encontrei qualquer referência no nosso blogue... Queres ajudar-nos a identificá-lo ? Qual era o seu nome completo ? Onde esteve ? A que unidade ou subunidade pertencia ? Em que data morreu... ? E já agora diz-nos qual é tua terra de naturalidade (e a respectiva freguesia).
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971
(**) Excerto de Wikipédia > Taifa (com a devida vénia...):
(...) "Na Marinha Portuguesa, a Classe da Taifa agrupa os praças e sargentos cuja função é a preparação, abastecimento, armazenamento e distribuição de alimentos. Os praças da classe agrupam-se em três subclasses: Despenseiros, Cozinheiros e Padeiros.
Até 1968, a Taifa era um dos dois grandes grupos em que se dividiam os praças da Armada Portuguesa - o outro grupo era o da Marinhagem. Os praças de Taifa estavam agrupados em quatro classes: Despenseiros, Cozinheiros, Padeiros e Criados. Os postos dos praças de Taifa tinham designações especiais. Assim, existiam os postos de primeiro-despenseiro e segundo-despenseiro (ambos equiparados a cabo de marinhagem), primeiro-cozinheiro (equiparado a cabo de marinhagem), segundo-cozinheiro (equiparado a marinheiro), padeiro (equiparado a marinheiro), primeiro-criado e segundo-segundo criado (ambos equiparados a marinheiro). Em 1968, o grupo da Taifa foi transformado em classe e as suas antigas classes em subclasses, passando as designações dos postos a ser iguais às dos praças das restantes classes." (...)
(***) Vd. poste de 3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6303: Historiografia da presença portuguesa (35): 100 presos políticos guineenses enviados em 1962 para o Campo de Chão-Bom, Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde (Luís Graça)
(...) Em 4 de Setembro de 1962 chegou uma leva de 100 presos políticos da Guiné, que se juntaram aos 107 angolanos que já lá estavam (mas alojados em alas separadas). Em 1964 saíram cerca de 60 guineenses, sendo os restantes libertos no tempo de Spínola, em 30 de Julho de 1969, no âmbito da política "Por uma Guiné Melhor". Recorde-se que, ao todo, Spínola mandou libertar 92 presos políticos, incluindo um histórico do PAIGC, Rafael Barbosa (1926-2007), detido na colónia penal da Ilha das Galinhas, nos Bijagós" (...)
Guiné 63/74 - P6731: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (25): O meu Irmão Álvaro
NOTAS SOLTAS DA CART 643 (25)
O MEU IRMÃO ÁLVARO
1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 11 de Julho de 2010:
Amigos da Tabanca Grande
Li com muita atenção o P6712 - Histórias do Jero: Na Guerra e na Paz... Até ao Fim...
Houve uma parte que me tocou bastante, quando ele chama de "irmão" ao ex-camarada Álvaro.
É que tenho um grande amigo, ex-camarada do BART 645 - Águias Negras, também de nome Álvaro, ex-Fur Mil da CCS, que nos chamava de "irmão" aos muitos amigos que tinha, o que me fazia alguma confusão, porquê esse tratamento?
Agora, passados 46 anos soube o motivo. Uma entrevista sua nas TARDES DA JÚLIA, o agora Dr. Álvaro (Psicologia Clínica) explica porque aplicava o "irmão" aos seus amigos e companheiros de armas.
O Álvaro é natural de Setúbal e foi de muito pequeno (5/6 anos) para um orfanato da cidade.
Contava com muita mágoa o seu infortúnio, no citado programa televisivo, com mais 50 rapazes, dos uniformes que usavam, da alimentação, etc.
Desde essa altura começou a tratar os pequenos amigos de "irmãos", de facto não o eram de sangue, mas como viviam 24 sobre 24 horas no mesmo Lar, achou por bem aplicar esse tratamento, porque afinal era a família mais próxima que tinha.
Saiu da instituição já perto da maioridade, tendo ao fim de pouco tempo ido para o serviço militar. Ao fim de 26 meses de tropa foi mobilizado para o CTIG, com a promessa de ficar só 5 a 6 meses, que seria rendido pelo curso seguinte.
Claro que tal não aconteceu e o nosso irmão Álvaro ficou até ao fim da comissão. Damos graças por esse seu contratempo, doutra forma não tínhamos privado com o GRANDE AMIGO E IRMÃO, acabando por ficar mais uns meses em Bissau, porque entretanto tinha conhecido a sua actual mulher, a amiga Estér, na altura filha de um militar residente.
Continua nosso irmão, não faltando aos convívios da nossa ASSOCIAÇÃO DE AMIZADE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS, que se realizam há 30 anos sem interrupção.
De Cascais para Alcobaça para o Jero, afinal somos da mesma altura. Estive em Bissorã de Junho de 1964 a 17 de Novembro de 65, data em que fui ferido em combate, regressando o restante pessoal do Cart 643 em príncipios de Fevereiro de 1966:
Um grande abraço,
Rogério Cardoso
Ex-Fur Mil
Cart 643 - Águias Negras
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6576: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (24):O miúdo Marciano Mamadú Sissé
O MEU IRMÃO ÁLVARO
1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 11 de Julho de 2010:
Amigos da Tabanca Grande
Li com muita atenção o P6712 - Histórias do Jero: Na Guerra e na Paz... Até ao Fim...
Houve uma parte que me tocou bastante, quando ele chama de "irmão" ao ex-camarada Álvaro.
É que tenho um grande amigo, ex-camarada do BART 645 - Águias Negras, também de nome Álvaro, ex-Fur Mil da CCS, que nos chamava de "irmão" aos muitos amigos que tinha, o que me fazia alguma confusão, porquê esse tratamento?
Agora, passados 46 anos soube o motivo. Uma entrevista sua nas TARDES DA JÚLIA, o agora Dr. Álvaro (Psicologia Clínica) explica porque aplicava o "irmão" aos seus amigos e companheiros de armas.
O Álvaro é natural de Setúbal e foi de muito pequeno (5/6 anos) para um orfanato da cidade.
Contava com muita mágoa o seu infortúnio, no citado programa televisivo, com mais 50 rapazes, dos uniformes que usavam, da alimentação, etc.
Desde essa altura começou a tratar os pequenos amigos de "irmãos", de facto não o eram de sangue, mas como viviam 24 sobre 24 horas no mesmo Lar, achou por bem aplicar esse tratamento, porque afinal era a família mais próxima que tinha.
Saiu da instituição já perto da maioridade, tendo ao fim de pouco tempo ido para o serviço militar. Ao fim de 26 meses de tropa foi mobilizado para o CTIG, com a promessa de ficar só 5 a 6 meses, que seria rendido pelo curso seguinte.
Claro que tal não aconteceu e o nosso irmão Álvaro ficou até ao fim da comissão. Damos graças por esse seu contratempo, doutra forma não tínhamos privado com o GRANDE AMIGO E IRMÃO, acabando por ficar mais uns meses em Bissau, porque entretanto tinha conhecido a sua actual mulher, a amiga Estér, na altura filha de um militar residente.
Continua nosso irmão, não faltando aos convívios da nossa ASSOCIAÇÃO DE AMIZADE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS, que se realizam há 30 anos sem interrupção.
De Cascais para Alcobaça para o Jero, afinal somos da mesma altura. Estive em Bissorã de Junho de 1964 a 17 de Novembro de 65, data em que fui ferido em combate, regressando o restante pessoal do Cart 643 em príncipios de Fevereiro de 1966:
Um grande abraço,
Rogério Cardoso
Ex-Fur Mil
Cart 643 - Águias Negras
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6576: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (24):O miúdo Marciano Mamadú Sissé
Guiné 63/74 - P6730: Controvérsias (95): Não me move, nem alimento, qualquer querela QP-Milicianos (José Manuel M. Dinis)
1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 13 de Julho de 2010:
Carlos, meu Caro Amigo,
Porque o assunto que hoje me impôs este texto não está, nem de perto, nem de longe, esclarecido, antes é apresentado de maneira a confundir a interrogação de muitos dos que palmilharam trilhos e bolanhas, peço a publicação do texto anexo, cuja objectividade e clareza parece indiscutível.
Para ti e para o Pessoal, vai um abraço tabancal.
José Dinis
Regresso hoje à lida do blogue, após três semanas de avaria no disco do computador, e consequente perda de fotos e textos ali arquivados. Alguma coisa hei-de recuperar.
Com natural curiosidade dei uma vista de olhos nas mais recentes informações a que tive acesso e, de momento, destaco o P6687, publicado em 7 de Julho, da autoria do Sr. Coronel Morais da Silva (imagino que ainda não é atabancado), que, a propósito de não entender a querela QP-Milicianos, refere parte de um comentário meu a uma anterior intervenção sua neste blogue, num contexto que não me parece esclarecedor, pois os números apresentados são de carácter meramente induzido.
Refiro-me ao P6621, e parte do meu comentário está transcrito a vermelho, e termina com uma pergunta relativa aos capitães do QP comandantes de companhias de combate: onde é que eles estiveram nesse período? (1972/74).
Refere o Sr. Coronel em resposta:
"Onde é que eles estiveram nesse período?" "Não estavam porque, simplesmente, o que não existe não pode estar em lugar algum".
Assim, ressalta à vista uma primeira perplexidade: a redundância da não existência de capitães. Acho que a afirmação não corresponde à vontade do autor, que terá sido apanhado em distração.
Antes desta conclusão, porém, apresentou-nos números do seu estudo, comparativos do número de capitães em stock, e de companhias de combate.
Socorro-me do estudo que, a páginas 21, exara que em 1970, nos 3 TO, foram registados no comando de companhias de combate, 662 capitães (374 do QP e 248 Milicianos); que em 1972 foram registados 595 capitães (276 do QP e 319 Milicianos); que em 1974 foram registados 549 capitães (118 do QP e 431 Milicianos).
Nos termos do estudo que o P6687 reflecte, tendo em conta que o stock em 1970 era de 1100 capitães para 475 companhias, sendo que 852 eram do QP, constata-se que nesse Quadro havia, grosso modo, dois capitães do QP por companhia, o que permitia estabelecer algum período de serviço na metrópole, entre comissões, e garantir alguma reserva, e o processo de instrução adequado às particularidades da guerra. Na ordem natural das coisas, eram comandantes de companhias de combate, deviam preocupar-se com a preparação dos combatentes.
Em 1974, porém, apenas se referem 580 capitães no stock, para 477 companhias de combate, sendo que apenas 149 seriam do QP (dados do Sr. Coronel).
Registe-se, então, que:
Em 1970 havia no stock de capitães comandantes de companhias de combate (cfr. o estudo), 852 capitães do QP, enquanto em 1974 apenas constam 149 capitães do QP naquelas condições. Face à discrepância, será bom apurarmos se se trata de eventual erro ou omissão na apresentação dos números relativos à redução de 852 para 149 capitães do QP, ou se a diferença resulta de promoções, passagens à reforma, mudança de funções, ou outras causas, por exemplo, a dispersão dos capitães em actividades não militares, sem a correspondente compensação.
Em 1973, porém, já os números reflectem a ausência dos capitães do QP no comando de companhias de combate, conforme o estudo, a páginas 28, que refere o stock de 779 capitães, dos quais só 177 são do QP. Estamos, pelo menos, perante uma flagrante má gestão do pessoal, e não sabemos para onde foram os capitães que contutuem a diferença de 1100 em 1970, para 779 em 1973.
Recordo a citação que fiz de uma intervenção do Sr. General Soares Carneiro: "Em 1974, a situação era extremamente preocupante: nas fases de instrução básica e especial, todos os quadros eram, na prática, só oficiais e sargentos milicianos". Quer dizer, no agudizar da guerra não se aproveitaram os oficiais com experiência de combate para melhorar a qualidade da instrução, enquanto a guerrilha, pela experiência acumulada, revelava-se cada vez mais imaginativa e agressiva, para além da aptidão evidenciada na utilização de novos recursos.
Não me move, nem alimento, qualquer querela QP-Milicianos, mas as circunstâncias em que se combateu em África, apontam para muitos erros, negligências, e comportamentos reprováveis, imputáveis a elementos do QP, pelo que a questão de saber sobre essa ausência de oficias seria esclarecedora (também havia os que, estando lá, mais valia não tivessem estado) para compreensão do rendimento militar das companhias de combate. O Sr. Coronel não me responde cabalmente, e, obviamente, não posso concluir que "todos e cada um fizeram o melhor que puderam sem nada pedir em troca", nem subscrever o anátema relativamente à "minoria que... se afastou...", na medida em que não devemos ser juízes de causas desconhecidas e, certamente, terá havido diferentes motivos para essas decisões.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6589: História da CCAÇ 2679 (37): Como se pode ser vítima da sua própria armadilha (José Manuel M. Dinis)
Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6728: Controvérsias (94): Puros e Espúrios (Mário Gualter Rodrigues Pinto)
Carlos, meu Caro Amigo,
Porque o assunto que hoje me impôs este texto não está, nem de perto, nem de longe, esclarecido, antes é apresentado de maneira a confundir a interrogação de muitos dos que palmilharam trilhos e bolanhas, peço a publicação do texto anexo, cuja objectividade e clareza parece indiscutível.
Para ti e para o Pessoal, vai um abraço tabancal.
José Dinis
Regresso hoje à lida do blogue, após três semanas de avaria no disco do computador, e consequente perda de fotos e textos ali arquivados. Alguma coisa hei-de recuperar.
Com natural curiosidade dei uma vista de olhos nas mais recentes informações a que tive acesso e, de momento, destaco o P6687, publicado em 7 de Julho, da autoria do Sr. Coronel Morais da Silva (imagino que ainda não é atabancado), que, a propósito de não entender a querela QP-Milicianos, refere parte de um comentário meu a uma anterior intervenção sua neste blogue, num contexto que não me parece esclarecedor, pois os números apresentados são de carácter meramente induzido.
Refiro-me ao P6621, e parte do meu comentário está transcrito a vermelho, e termina com uma pergunta relativa aos capitães do QP comandantes de companhias de combate: onde é que eles estiveram nesse período? (1972/74).
Refere o Sr. Coronel em resposta:
"Onde é que eles estiveram nesse período?" "Não estavam porque, simplesmente, o que não existe não pode estar em lugar algum".
Assim, ressalta à vista uma primeira perplexidade: a redundância da não existência de capitães. Acho que a afirmação não corresponde à vontade do autor, que terá sido apanhado em distração.
Antes desta conclusão, porém, apresentou-nos números do seu estudo, comparativos do número de capitães em stock, e de companhias de combate.
Socorro-me do estudo que, a páginas 21, exara que em 1970, nos 3 TO, foram registados no comando de companhias de combate, 662 capitães (374 do QP e 248 Milicianos); que em 1972 foram registados 595 capitães (276 do QP e 319 Milicianos); que em 1974 foram registados 549 capitães (118 do QP e 431 Milicianos).
Nos termos do estudo que o P6687 reflecte, tendo em conta que o stock em 1970 era de 1100 capitães para 475 companhias, sendo que 852 eram do QP, constata-se que nesse Quadro havia, grosso modo, dois capitães do QP por companhia, o que permitia estabelecer algum período de serviço na metrópole, entre comissões, e garantir alguma reserva, e o processo de instrução adequado às particularidades da guerra. Na ordem natural das coisas, eram comandantes de companhias de combate, deviam preocupar-se com a preparação dos combatentes.
Em 1974, porém, apenas se referem 580 capitães no stock, para 477 companhias de combate, sendo que apenas 149 seriam do QP (dados do Sr. Coronel).
Registe-se, então, que:
Em 1970 havia no stock de capitães comandantes de companhias de combate (cfr. o estudo), 852 capitães do QP, enquanto em 1974 apenas constam 149 capitães do QP naquelas condições. Face à discrepância, será bom apurarmos se se trata de eventual erro ou omissão na apresentação dos números relativos à redução de 852 para 149 capitães do QP, ou se a diferença resulta de promoções, passagens à reforma, mudança de funções, ou outras causas, por exemplo, a dispersão dos capitães em actividades não militares, sem a correspondente compensação.
Em 1973, porém, já os números reflectem a ausência dos capitães do QP no comando de companhias de combate, conforme o estudo, a páginas 28, que refere o stock de 779 capitães, dos quais só 177 são do QP. Estamos, pelo menos, perante uma flagrante má gestão do pessoal, e não sabemos para onde foram os capitães que contutuem a diferença de 1100 em 1970, para 779 em 1973.
Recordo a citação que fiz de uma intervenção do Sr. General Soares Carneiro: "Em 1974, a situação era extremamente preocupante: nas fases de instrução básica e especial, todos os quadros eram, na prática, só oficiais e sargentos milicianos". Quer dizer, no agudizar da guerra não se aproveitaram os oficiais com experiência de combate para melhorar a qualidade da instrução, enquanto a guerrilha, pela experiência acumulada, revelava-se cada vez mais imaginativa e agressiva, para além da aptidão evidenciada na utilização de novos recursos.
Não me move, nem alimento, qualquer querela QP-Milicianos, mas as circunstâncias em que se combateu em África, apontam para muitos erros, negligências, e comportamentos reprováveis, imputáveis a elementos do QP, pelo que a questão de saber sobre essa ausência de oficias seria esclarecedora (também havia os que, estando lá, mais valia não tivessem estado) para compreensão do rendimento militar das companhias de combate. O Sr. Coronel não me responde cabalmente, e, obviamente, não posso concluir que "todos e cada um fizeram o melhor que puderam sem nada pedir em troca", nem subscrever o anátema relativamente à "minoria que... se afastou...", na medida em que não devemos ser juízes de causas desconhecidas e, certamente, terá havido diferentes motivos para essas decisões.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6589: História da CCAÇ 2679 (37): Como se pode ser vítima da sua própria armadilha (José Manuel M. Dinis)
Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6728: Controvérsias (94): Puros e Espúrios (Mário Gualter Rodrigues Pinto)
Guiné 63/74 - P6729: Ser solidário (80): Região de Tombali, sector de Bedanda, Cantanhez: Amindara em Festa, com a inauguração do 1º poço comunitário (Pepito / José Teixeira)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Amindara > Cartaz anunciando a inauguração do poço comunitário, construído com o apoio da Tabanca de Matosinhos e a AD - Acção para o Desenvolvimento.
Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Direitos reservados
Guiné-Bissau > Região de Cantanhez > Sector de Bedanda > Potencialidades do ecoturismo > Mapa do sector, com a posição relativa de Amindara (reectângulo a vermelho) entre Iemberem (a sul) e Guileje (a nordeste). Fonte: Adaptado de Brígida Rocha Brito (2007) (com a devida vénia). (LG)
1. Mensagem do nosso amigo Pepito (AD - Acção para o Desenvolvimento) para o nosso camarada José Teixeira que tem sido o rosto desta campanha solidária, e a quem endereçamos as nossas felicitações, em nome de todos os amigos e camaradas da Guiné:
Data - 13 Jul 2010 19:10:06
Assunto - Amindara em Festa
From: adbissau.ad@gmail.com
Amigo Zé:
Amindara está em Festa!!!
Só visto!
Só visto!
Ontem jorrou pela primeira vez água do poço.
O que mais entusiasmou a população foi a surpresa de verem a água a subir sem que fossem os braços de uma criança ou de uma mulher a puxar o balde lá do fundo dos 18 metros.
Não sabiam para que servia o painel solar e pensavam que iriam continuar a "catar" a água. Agora é só pôr o alguidar a jeito e ala que se faz tarde.
Havias de ver toda a população aos gritos e a dançar. Só o propiciar esta alegria vale tudo nas nossas vidas.
OBRIGADO, Tabanca Pequena!
abraços
pepito
Cartaz da Tabanca Pequena com anúncio do grande Arraial de Beneficência que se vai realizar no próximo dia 17, em Montes Burgos, Matosinhos, para angariação de fundos para o Projecto Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau. (*)
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Nota de L.G.:
(*) Vd. os dois postes anteriores desta série:
(*) Vd. os dois postes anteriores desta série:
10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6711: Ser solidário (79): Campanha para abrir 10 poços de água e construir 10 fontanários na Guiné-Bissau. Segundo poço em Medjo (José Teixeira)
terça-feira, 13 de julho de 2010
Guiné 63/74 - P6728: Controvérsias (94): Puros e Espúrios (Mário Gualter Rodrigues Pinto)
1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 8 de Julho de 2010:
Camaradas,
Hoje abordo uma matéria sensível que é a velha polémica entre Oficiais do QP, que não queriam ser confundidos com os Oficiais do QC (Milicianos), tendo mesmo sido publicado um decreto-lei que deu origem aos:
Camaradas,
Hoje abordo uma matéria sensível que é a velha polémica entre Oficiais do QP, que não queriam ser confundidos com os Oficiais do QC (Milicianos), tendo mesmo sido publicado um decreto-lei que deu origem aos:
PUROS E ESPÚRIOS
Em 1973, foi criado o célebre Decreto-Lei 353/73, que permitia ao Oficiais do Quadro Complementar (Milicianos), aceder ao posto de Capitães desde que frequentassem a AM durante um ano e um estágio de seis meses numa Companhia Operacional.
Este decreto-lei nunca foi aceite pelos Oficiais do QP, com incidência particular na Guiné de onde partiu uma forte contestação ao mesmo liderada, na altura, pelo Capitão Vasco Lourenço e apoiada por um grande número do Oficiais do QP, que chegaram a elaborar um documento que foi dirigido a várias entidades militares superiores de então, conforme se comprova pelos documentos anexos.
A contestação teve percussões nos meios Oficiais do Exército vindo a criar duas fracções antagónicas que vieram a ser conhecidas como PUROS e ESPÚRIOS. Nem sempre esta questão foi pacífica tendo mesmo azedado entre os relacionamentos entre os Oficiais do QP e do QC conforme se pode ver no documento ms14-1.
Por força desta contestação e apresentação duma delegação junto do Sr. General Spínola, na altura Vice-Chefe do Estado Maior do Exército, nasceu o Decreto-lei 409/73, que pouco alterava o anterior mas serviu para demonstrar a força dos Oficiais do QP, perante os do QC. [Spínola só em Nov73 (salvo erro no dia 17) foi nomeado pelo PM como vice-CEMGFA, cargo no qual veio a ser empossado apenas em Jan74 (salvo erro no dia 14)]... (estes "salvo erro", devem-se apenas à circunstância de não estar ao momento no meu "posto de sentinela"; acaso interesse à apreciação do desenvolvimento deste 'case study', poderei informar com todo a precisão quem foram os responsáveis pela elaboração dos dec.353 e 409/73, quem e quando os aprovou a nível castrense e a nível político, etc.).
Quem hoje acusa de egoísmo e pequenez quem conhece e esgrima estes factos aquando da abordagem deste tema, já naquela altura lutava por uma divisão de classes que devia estar unida e não desperdiçada (no meu entender) torcida luta de interesses.
Mas já alguém havia profetizado este acontecimento!
As Forças Armadas irão debater-se em primeiro lugar com clivações internas entre oficiais de carreira e oficiais milicianos, gerando-se aqui e ali fenómenos de defesa corporativa habilmente organizados por chefes militares com projectos políticos próprios, ou alheios… Palavras de MEDEIROS FERREIRA." celebérrimo desertor, 'de facto' e 'de jure'; (foram proferidas quando e onde?)
Como vêem as lutas e desentendimento entre Militares de Carreira e Milicianos já é antiga e não de agora
NOTA: Com os meus agradecimentos pessoais ao Camarada Abreu dos Santos, pela colaboração que me prestou nas questões de pormenor do texto.
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6687: Controvérsias (93): Nunca entendi a querela QP-Milicianos... O fim do serviço militar obrigatório foi um desastre nacional (Morais da Silva, Cor Art Ref)
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