quarta-feira, 15 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11573: Em Mansoa, nem mezinha má nem picada de mosquito boa... Ou as nossas doenças em tempo de guerra (1): Um mosquiteiro barato para um pira (Magalhães Ribeiro)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > Abril de 1968 > Fase de construção do aquartelamento (que o PAIGC, através da rádio Libertação, em Conacri, chamava "campo fortificado de Mansambo")... Os alferes milicianos Cardoso e Rodrigues apanham banhos de luar... Mosquitos ? Rede mosquiteira ? Não há... Estamos na época seca...

Legenda do Carlos Marques dos Santos, o primeiro dos Viriatos a chegar ao nosso blogue, tendo depois trazido com ele o Torcato Mendonça: "A propósito!... Sabem onde foi tirada esta foto? Em Mansambo, a céu aberto. Camas de ferro nos fossos que iriam ser o aquartelamento fortificado de Mansambo. Data: Abril de 1968. A foto é do Henrique Cardoso, alferes da CART 2339 e seu comandante. Os 3 Capitães, que comandaram a Companhia anteriormente estiveram sempre doentes !!! Ele assumiu o comando. Era miliciano e responsável. Podes publicar, se quiseres. O Cardoso autorizará. Tenho o seu aval".

Foto: © Henrique Cardoso / Carlos Marques Santos (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Os comentários ao poste P11556 (*), encorajaram-nos a abrir uma nova série sobre um  tema até aqui pouco abordado: a nossa experiência de doença em tempo de guerra...

Eu próprio comentei:

"Amigos e camaradas, ora cá está um bom tema para a gente discorrer, escrever, comentar, acrescentar, melhorar, aumentar, delirar... 

Temos falado pouco, muito pouco, nestes nove anos a blogar, da nossa experiência (pessoal, única mas transmissível...) de doença em tempo de guerra...  Como é que a gente lidava com os esquentamentos, os ataques de paludismo, as lesões cutâneas, as depressões, as diarreias, os problemas musculoesqueléticos... E, mais do que isso, como é que a gente viveu e sobreviveu nos hospitais militares (Bissau, Estrela/Campolide...), aqueles de nós que foram feridos gravemente em combate ou evacuados por doença grave (por ex., hepatite, tuberculose; felizmente ainda não havia o HIV/SIDA)

O meu primeiro ataque do paludismo, em Bambadinca, já no final da época das chuvas ou até mesmo no princípio da época seca (já não posso precisar, talvez no último trimestre de 1969), foi uma experiência brutal para mim... Um pesadelo. A imagem que ainda tenho é a do ciclo (curto) da temperatura do corpo que ia do muito baixo (abaixo dos 36!) ao muito alto (quase a roçar os 42!)... Pensei que morria...Sozinho, no meu quarto (que aliás não era só meu, era de mais 4 ou 5), com o meu amigo 'Pastilhas' (ex-fur mil enf João Carreira Martins, da CCAÇ 12, que se reformou como enfermeiro chefe do Hospital Curry Cabral e é hoje pai de 2 médicos) a vigiar-me de tempos e a medicar-me com doses de cavalo...

Como se tratava o paludismo, na época, não sei... Mas a sensação que tinha, era a de abandono, solidão, desespero... Ora ardia em febre, ora tiritava de frio, entrando em hipotermia... Um dia vou ter que transfiormar esta "descida ao inferno" em posia... Emfim, não sei quantas vezes tive paludismo na Guiné... E cá tive ressacas (ou recidivas, em linguagem médica), como muita malta... Por outro lado, trouxemos o fígado em mau estado, de tanto uísque, água da bolanha, gin tónico, cerveja, tintol, brancol e outras merdas que emborcávamos. (...)

Até ao séc. XIX dizia-se que "em Lisboa nem sangria má nem purga  boa", ou mesmo é dizer que as técnicas terapêuticas da época eram agressivas, invasivas, brutais e ineficazes... Chegava-se a sangrar um doente dez, vinte, trinta vezes... E quanto purgas, bom, "purgai-o e purgai-o e se morrer enterrai-o"... Parafraseando este dichote, podia dizer-se que, no nosso tempo, "em Mansoa, nem mezinha má nem picada de mosquito boa"... Em Mansoa, em Catió, em Cacine, em Bedanda, em Nova lamego, em Bissorã, e por aí fora... havia a crença de que a Guiné não era para brancos...

As principais doenças que afetam hoje a Guiné-Bissau não serão muito diferentes das do passado colonial, com exceção do HIV/SIDA: são o paludismo, a diarreia, as doenças respiratórias agudas, a tuberculose, as doenças sexualmente transmissíveis (incluindo o HIV/SIDA), as parasitoses intestinais, a oncocercose (ou "cegueira dos rios")  e outras endemias tropicais. Estávamos expostos a estas doenças, mas também tínhamos problemas de saúde específicos da nossa "condição militar", devidas à duras de condições de vida e às deficiências da alimentação e do abastecimento de água potável...
Fica aqui dado o mote para a elaboração, remessa  e publicação de postes sobre o paludismo [ou malária] e outras doenças que nos afetaram no TO da Guiné, a sua prevenção, profilaxia, tratamento... Recorde-se que algumas dava direito a evacuação imediata para a Metrópole: estou-me  a lembrar da Hepatite.

O pontapé de saída vai ser dado pelo nosso coeditor, Eduardo Magalhães Ribeiro: fomos recuperar um velho e delicioso texto seu,  da I Série do nosso blogue (**).


2. Um mosquiteiro barato para um pira
por Magalhães Riberio [, foto à esquerda, Mansoa, setembro de 1974]


Uma das características na Guiné é a variação bidiária da sua área total de território seco de 31 800 Km2 — devido à subida das águas do mar, nas marés altas —  para cerca de 28 000 Km2. Isto acontece devido a dois factos: a cota territorial média que é muito baixa e a existência de múltiplos rios.

Por isso, durante a maré baixa, ficam a descoberto, mais ou menos 3 800 km2 de zonas pantanosas que, localmente, se designa por “bolanhas”.

Ora, este é o habitat natural da mosquitada, que por ali prolifera aos milhões e se espalha por todo o lado em busca de alimento. Um dos seus “pratos” favoritos é o sangue humano.

Durante a Guerra do Ultramar as vítimas preferidas por estes parasitas incomodativos e asquerosos, eram sem dúvida os incautos periquitos ou piras (nome dado pelos tropa mais velha aos recém-chegados à Guiné).

Dizia a sabedoria destes velhinhos — talvez com alguma razão —  que os mosquitos eram atraídos, pelo tom de pele branquinha e/ou pelo sangue fresco e puro dos periquitos. E, acrescentavam mais:
— Do nosso sangue, envenenado e apanhado pelo clima como está, os mosquitos até fogem!.

Acredite-se ou não nesta teoria, a verdade, é que de cada vez que um pira se expunha à fúria daquela praga com asas,  ficava completamente crivado das picadelas.

Estas picadas,  além de dolorosas e irritantes,  eram temidas porque através delas se transmite ao ser humano, o paludismo, uma doença muito debilitante fisicamente e, consequentemente, muito perigosa.

Em Mansoa, quando entrei pela primeira vez na camarata verifiquei que nas cabeceiras das camas todos tinham, de maior ou menor tamanho, ventoínhas, e adaptadas nas armações das camas encontravam-se estruturas de tubos e verguinhas metálicas, com cerca de 0,75 metros de altura, todas revestidas até ao chão com redes de malha muito fininha.

O velhinho e meu grande amigo Furriel Ranger Marques, com a sua calma e longa experiência de vinte e muitos meses,  deu-me, então, uma lição sobre “Como dormir sem zumbidos nem picadas dos mosquitos na Guiné”, assim:

1º) Não se faz mal às osguinhas e salamandras que deslizam ali no tecto — estavam lá três de vários tamanhos —,   apesar do seu aspecto repelente elas são nossas amigas, e ajudam-nos a eliminar os mosquitos que, à noite, abundam e atacam muito mais, comendo-os;

2º ) O "aparelho de ar condicionado" está com problemas de falta de ar e foi para consertar para o continente há onze anos, pelo que, para dormir fresquinho só com as janelas todas abertas; mas em contrapartida os mosquitos entram e picam-te durante toda a noite;

3º ) Evitas os mosquitos e as respectivas picadelas, fechando todas as janelas e frinchas, mas ficas sujeito a morrer aqui abafado;

4º ) Pedes para ir a Bissau, compras o material (verguinha de aço, e rede ou tule) e constróis um mosquiteiro;

5º ) Como estou para ir embora, podes fazer como eu fiz quando cá cheguei, compras a um de nós o mosquiteiro e só pagas o material, com desconto e tudo; olha, o meu está bem conservado !?... Novo custou 570$00, mas devido ao uso e tal, vendo-to por 350$00.

Os mosquitos continuavam à minha volta a comer-me vivo! Que fazia [um gajo]  no meu lugar?...

Eu também fiz! Comprei logo!

RANGER Magalhães Ribeiro
Fur Mil
CCS/BCAÇ 4612/74
Guiné, Mansoa, 1974
____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo

(...) Comentário de José Brás:
Não me lembro exactamente quantas crises de paludismo sofri na Guiné nem de quantas recaí já civil. Lembro-me que a primeira me aterrou em febre/frio e dores de cabeça.  Na altura, deitado no meu catre que ficava no último edifício na parte mais alta do quartel de Aldeia Formosa, comecei a ouvir uns soldados a abrir latões de gasolina para chapas à porrada de martelo e o barulho rebentava-me a cabeça. A custo vim à porta pedir-lhes que fossem fazer aquilo para outro lugar e responderam-me que eram ordens superiores. Pouco me importavam tais ordens e avisei que não aguentava aquilo. Pararam um pouco, voltei à cama e ouvi recomeçarem. De novo me levantei, peguei na G3, meti um carregador e fui à porta pedir de novo mas já de canhota na mão. Disseram-me que seria melhor ir falar com o Alf PG e eu já nem pensei mais, culatra atrás e bala na câmara, um tiro pró ar. 'Tá bem, chamem lá o PG'... Foram embora e o PG veio ao meu quarto e percebeu tudo. Recaí duas vezes,  dramaticamente, já a voar na TAP, uma no hotel no Algarve e outra em Nova Iorque, assustando ingleses e americanos, mas isso fica, talvez, para uma próxima.  (...)

 (**) Vd. I Série, poste de 7 de dezembro de 2005 >  Guiné 63/74 - CCCXLVI [346]: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira... [Magalhães Ribeiro] 

Guiné 63/74 - P11572: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (48): Respostas (nºs 102/103/104) : Carlos Fraga (3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973); Francisco Palma (CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72); e José Alberto PInto (CCS/BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74)

Resposta nº 102 > Carlos Fraga [, ex-alf mil, 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, em 1973, indo depois comandar uma companhia em Moçambique, a seguir ao 25 de abril de 1974].

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Há poucos meses (3 ou 4).

ápoucos meses
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Através do nosso camarada Jorge Canhão.


(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Sim, desde 16 de abril de 2013.


(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente.


(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Tenho mandado.


(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Sim.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Ao Blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Tudo tem interesse mas o que gosto mais são a narrativa das experiências vividas e a análise das situações.  Aderi à página no Facebook há poucos dias. É cedo para me pronunciar. De qualquer forma não sou assíduo no Facebook. 

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Não há nada que goste menos

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.


(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Penso que o Blogue é muito importante como forma de partilha de experiência no teatro de guerra que foi a Guiné e como reconstituição na 1.ª pessoa de experiências e situações que se viveram. Para além disso permite que os ex-combatentes se expressem e tragam a público muita coisa que, a não ser assim, não seriam conhecidas. Por mim falo. Não fora o Blogue e os meus slides e fotos da Guiné não passariam do álbum de família. Por último, creio que se está a construir a História e a fornecer material preciosos para investigadores que se debrucem sobre o que foi a guerra na Guiné.  Xii, escrevi muito, quase uma dissertação…

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Creio que me será difícil embora tivesse muito gosto em rever pessoas que não vejo há muitos anos como, por ex., o anfitrião ex-alf mil Joaqum Mexia Alves [, que esteve em Mansoa, na CCAÇ 15, em 1973].


(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Creio que sim. Enquanto houver quem queira partilhar as experiências da Guiné e fazer História.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.


Resposta nº 103 > Francisco Palma [, ex-sol cond auto, CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72]

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

R. Desde Setembro de 2007 que sou membro e Tabanqueiro [, 5 de novembro de 2007]

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

R. Soube através de outros camaradas ex- combatentes da Guiné

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

R: Sim,  sou membro da Tabanca Grande (tertulia) creio que desde 2007 ( salvo erro ou omissão)

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

R. Visito de tempos em tempos e sempre que preciso de consultar e ler os artigos expostos por camaradas combatentes .

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

R: Tenho mandado vários textos e fotos e pedidos de publicações de Convívios,

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

R: Sinceramente não a tenha consultado até esta data , talvez por falta de informação da sua existência.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

R: Vou mais vezes ao Bloque e á Tabanca Grande do que ao Facebook.


(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

R: Gosto de ler os relatos de vivências de guerra narrados no bloque , que acho alguns interessantes, quando simples sem demasiada literatura "oca" .

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

R. Não aprecio algumas narrativas demasiado extensas, histórias pessoais, que não mexem com os combatentes, e que talvez contivessem matéria para compor um Livro, Não gosto de não poder aceder directamente ao bloque e publicar as minhas narrativas , sem passarem, pela apreciação dos co-editores. Acho demasiado usadas/repetidas as narrativas alongadas dos acontecimentos de Guileje, Gadamael. Haverá mais sitios com tão graves acontecimentos~. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

R. Nota-se com frequencia uma enorme lentidão nos CPU a 100% dos PC na abertura da pagina do Bloque. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

R: O bloque representa sempre um arquivo das memórias e vivências passadas no TO da Guiné.embora o julgue ultrapassado em certa medida pela constante aparição de vários (demasiados) Grupos e outras Associações de Combatentes .no FaceBook, repito não tenho consultado o Blogue no FaceBook.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

R: Até hoje ainda não participei.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real ?

R: Não está nos meus planos comparecer, este ano, no encontro em Monte Real. que acho um optimo local para o evento.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

R: Penso que tem força para continuar ,o fôlego tem que ser dado com inovações a curto prazo ou seja adaptado com actualizações, face á "concorrência" dos Grupos e Associações atrás referidas-publicadas no Facebook e de facil participação e "desabafo" abertos a todos os combatentes, neste caso seria exclusivo aos da Guiné.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

R: Creio que nas varias respostas acima já indiquei algumas críticas a serem tomadas em conta , para além do reforço de que deve haver maior facilidade de acesso ao blogue. nem que se tenha de atribuir uma "password" de segurança e privacidade, por parte dos membros, deste blogue. Reduzir um pouco as Histórias pretençamente intelectuais , mas de rara cultura , por vezes aqui publicadas, sempre pelos "mesmos escritores ".

Melhores cumprimentos fico ao dispor no caso de qualquer assunto menos bem entendido , já que as respostas foram dados com pouco tempov de analise ás mesmas .


Resposta nº 104 > José Alberto Pinto (foto do lado esquerdo), que foi 1º Cabo Escriturário na CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74.


Quero manifestar o meu agradecimento, por tudo o que tenho tido oportunidade de recordar, os meus agradecimentos aos promotores, com votos de muita saúde, para todos!!! Continuem!!!

Abraços, José Pinto. [, Membro da Tabanca Grande, desde 16 de junho de 2012]

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P11571: Convívios (522): XXVIII CART 3494 – FELGUEIRAS -, DIA 15JUN2013 (Sousa de Castro)


1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte mensagem:

XXVIII CONVÍVIO DA CART 3494 em FELGUEIRAS NO DIA 15JUN2013

Chegamos a Bissau 28 de Dezembro 1971.



Foram oitocentos e vinte e oito dias. Passamos momentos difíceis, que ficaram para sempre na nossa memória.

Foram estes momentos que fortaleceram as nossas relações de amizade e que ficássemos como uma família!

Passados estes 42 anos é com grande orgulho que organizo o nosso XXVIII convívio.

O almoço será servido no Restaurante "Quintinha do Nelo", em Sobrosa - Paredes.

Conto com a tua presença para que possamos mais uma vez recordar todas as nossas memórias…



“ Recordar é viver”

Manuel Carvalho de Sousa

Onde fica: "Restaurante, A Quintinha do Nelo" Travessa Trás-as-Eiras 14
4580-616 Sobrosa
Telefone: 915 021 029

Programa:

11:00 Horas — Concentração junto ás, Piscinas municipais de Felgueiras*
12:30 Horas — Viagem para o Restaurante.
13:00 Horas — Almoço
17:00 Horas — Encerramento

*Piscina Municipal de Felgueiras
Rua D.Gomes D´Aciegas - Margaride
4610 - 262 Felgueiras
GPS: 41º 21' 34'' N, 8º 12' 10'' W

Ementa

Entradas variadas:
Prato
Bacalhau a Zé do Pipo
Assado misto em forno a lenha (lombo, vitela e cabrito)
Sobremesas:
Bolo de bolacha
Bolo de chocolate
Profiteroles
Fruta laminada
Café e digestivos
Bolo de aniversario

Preços: Adultos, 25,00€
Crianças (6 anos aos 10): 12,50€
Crianças (Até aos 5 Anos): 0,00€

Confirma a tua presença até 10-06-2013.
Contacto:255 494 099
Manuel Carvalho, TM 913 499 680
Telma Sousa (filha), TM 913 439 485
Email: carvalho-sousa@sapo.pt
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:



Guiné 63/74 - P11570: Parabéns a você (575): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11546: Parabéns a você (574): Henrique Matos, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68

Guiné 63/74 - P11569: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (7): Armamento do PAIGC (fotos de Ângelo Gago; legenda de Luís Dias)



Foto nº 1


Foto nº 2 



Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (19072/74) > Diverso armamento do PAIGC. Fotos de Ângelo Gago que integram o álbum do Carlos Fraga, na altura alf mil, em estágio operacional em Mansoa, e depois cap mil em Moçambique, em 1974.


Fotos: © Ângelo Gago / Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem do Carlos Fraga, com data de 27 de abril último:

Caro Luís:

Fui ao almoço da CCS/BCAÇ 4612/72.

Conheci um ex-soldado condutor auto que me disse que foi a ele a quem adquiri as fotos a preto e branco do armamento apreendido ao PAIGC e apenas essas e que foi ele que as tirou. Terá sido armamento apreendido pelas NT de Mansoa e, posteriormente, enviado para Bissau.

Chama-se Angelo Gago.

Portanto nessas podes pôr que foram cedidas por mim mas tiradas pelo Angelo Gago (o seu a seu dono).

Conheci também lá um Sr. chamado João Catarino Teodósio que me disse que era fotógrafo militar em Mansoa e que tem uma carrada de fotos de lá,  inclusive (estas vi algumas) do início das conversações das NT com o PAIGC. Disse-lhe que te ia passar a informação.Abraço
C. Fraga.

2. Pedido de colaboração ao Luís Dias, em 12 do corrente:

Tu que és o nosso especialista de armamento, vais-me identificar e descrever sumariamente este material, apreendido ao PAIGC em 1973, por malta de Mansoa... Preciso da tua ajuda antes de publicar... Um abraço. Luis Graça

PS - O Carlços Fraga e o Jorge Canhão (3ª C/BCAÇ 4612/72) também podem dar uma ajuda. Fotos adquiridas pelo Carlos Fraga, na 2º metade de 1973, em Mansoa. Fazem parte do álbum dele


3. Imediata resposta do Luís Dias [, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74; foto à direita]

Caríssimo Luís Graça:

Em relação à 1ª Foto:

São reconhecíveis as empenas de granadas de RPG-7 (as maiores-encostadas à parede e no centro) e as empenas das granadas de RPG-2 (as mais pequenas espalhadas no chão), todas deflagradas. 

Os restos maiores parecem-me ser de granadas do canhão sem recuo russo B-10, de 82 mm (2 cartuchos do propelante e uma cabeça de granada).

Na 2ª Foto

consigo identificar da esquerda  para a direita:

 Um RPG-2 + 1 Granada de RPG-2 intacta+ 1 Espingarda de Assalto Kalashnikov Modelo Ak-47 + 3 carregadores para esta arma (sendo o do meio - tipo liso - dos primórdios deste tipo de arma). 

Na frente e também da esquerda pata a direita,  temos uma mina anti-carro Russa, modelo TM46 ou TMN46 (depende se tem possibilidades de ser armadilhada lateralmente e na base ou sem essa possibilidade), de caixa metálica, contendo 5,7 Kg de TNT, e sendo activada com uma pressão a partir dos 180 Kg e ainda uma mina antipessoal Russa modelo PMD-6, de caixa de madeira, contendo 200g de TNT. Estas minas eram dos modelos  que mais frequentemente o PAIGC utilizava contra as nossas forças.

Na 3ª Foto:

 encontram-se as minas já acima referenciadas, embora na ordem inversa.


Na 4ª e última foto;

está uma metralhadora ligeira Dectyarev, de origem Russa, no modelo RPD, em calibre 7,62 X 39mm M43, com capacidade de disparar 650 tpm. 

A arma falta-lhe o tambor (com capacidade para 100 cartuchos), que é colocado por debaixo da área de alimentação da arma e onde é enrolada a fita com as munições, de forma a evitar o contacto com terra e poeiras. 

A curiosidade da arma - que originalmente é de 1944 - entrando ao serviço no princípio dos anos 1950 nas forças soviéticas - é que só faz rajada e com o pormenor de as fitas metálicas serem envernizadas para melhor correrem na arma, mas é uma óptima metralhadora, relativamente leve (7,4 Kg) e muito equilibrada. 

Possuo um tambor e uma fita completa, que apreendemos num contaco com o IN mas, por azar, nunca apanhei nenhuma (senão tê-la-ia usado no meu Gr Comb).

Em relação a duas granadas visíveis na foto 2 e 3, não sei se serão de artilharia???

Se precisares de elementos técnicos mais específicos do material, posso fornecer.

Um abraço para toda a equipa de editores do blogue e para todos os camaradas que o leem e colaboram.

Luís Dias

4. Já antes o Carlos Fraga me tinha mandado um esboço de legenda:

Caro Luís

A 1.ª é uma grande confusão. São restos de um rocket, restos de RPG e o resto não sei.
A 2ª é uma mina anti-pessoal, uma mina anti-carro e uma bomba da FAP não detonada que eles acoplavam a minas anti-carro,
A 3.ª são iguais mais um RPG e uma Kalashnikov.
A 4ª creio ser uma PPSH (?) [vd. poste de Luís Dias, P5736, de 31/1/2010]

Talvez um especialista em armaneto te elucide melhor. Abraço
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11535: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (6): Testando armamento (HK 21 e morteiro 60) na berma da estrada, na ausência de carreiro de tiro...

terça-feira, 14 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11568: Bom ou mau tempo na bolanha (9): No "mato" (Tony Borié)





Nono episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66) Bom ou mau tempo na bolanha.



Andamos todos, ou quase todos fartos de falar em guerra, todos os antigos combatentes, que andaram pelo cenário de conflito, lá, no meio do que diziam ser “o mato”, a uma certa altura, como quase todos compreendessem, até diziam:
- Vou para “o mato”, estou “no mato”, nunca mais saío “do mato”, aquele meu companheiro morreu “no mato”, os guerrilheiros estão “no mato”, aquela emboscada foi “no mato”, amanhã vamos sair para ”o mato”, aquele gajo vem todo fod... “do mato”, parte do aquartelamento está situado no “mato”, os da capital, os “Cifras” e toda aquela cambada de malandros, estão nos gabinetes e não sabem o que é “o mato”, aquele gajo é maluco, foi “no mato”!


Enfim, até parecia que “o mato” era a coisa mais importante da guerra, e talvez até fosse, mas o agora Tony, ao abrir o seu diário, que por sinal até é um rascunho muito mal feito de algumas peripécias, com algumas datas, onde vem sempre à frente, a descrição de mais um ataque ao aquartelamento, ou de um pedido de reforços, principalmente para os destacamentos de Encheia, Cutia ou na ponte que existia no “carreiro” para Porto Gole, onde uns tantos militares viviam acantonados em miseráveis abrigos, que mais não eram do valas abertas no chão, algumas cobertas com troncos de palmeiras, onde alguns diziam que quando morrerem já sabiam o que era ser enterrado debaixo de “sete palmos de terra”, ou de uns guerrilheiros que um grupo de combate trouxe para o aquartelamento, onde às vezes eram espancados pelos milícias que diziam para os capturarem pois eram homens que tinham ido “no mato”, portanto pertenciam ao grupo organizado, que lutava pela libertação do território. Surgiu uma pequena nota, que não fala de guerra, nem do que se passou “no mato”, que diz assim:

1965, Outubro, dia 30
- Fomos invadidos pela maior praga de mosquitos de que há memória até à data, pelo menos no parecer dos habitantes da vila de Mansoa. Não se podia sair à rua e falar, pois logo se introduziam na boca, nas orelhas, no nariz, nos olhos, eram milhões, que encobriam a luz do dia, zuniam, voavam, poisavam em tudo, ao caminhar, traziamos uma nuvem de mosquitos junto ao nosso corpo, não se vê ninguém na rua, quase todos os militares estão dentro dos mosquiteiros. Neste dia não ouve patrulhas nem qualquer movimento de tropas, simplesmente todos andavam aflitos e tentavam sobreviver.


Ao outro dia pela manhã, estava o tempo limpo, só com uma pequena brisa, não havia qualquer vestígio de mosquitos vivos, só se notava que tinham passado por ali, porque havia alguns, já mortos, no chão ou colados ao mosquiteiros.

O Cifra, foi à aldeia com casas cobertas de colmo que existia próximo do aquartelamento e perguntou se tinha havido mosquitos no dia anterior, responderam-lhe que sim, mas fogo e mésinho, fez sair mosquito.

O Cifra, ainda com algumas marcas, principalmente na cara, nos braços e nas pernas, marcas essas com um tom rosado, onde a pele aumentava um pouco o seu volume, ficou surpreendido e era obrigado a admirar este povo que tinha os seus remédios primitivos, que podiam ser de boa ou má qualidade, mas não eram feitos em laboratórios. Resistiam ao clima e às anomalias da natureza nessa Guiné africana, onde os europeus se viam aflitos para os suportarem.

Estavam e conheciam o seu continente.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11527: Bom ou mau tempo na bolanha (8): Os primeiros contactos e empregos (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11567: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (6): Léopold Senghor, o poeta, ou lembranças da Ala dos Namorados

1. Mensagem de Armando Pires [ex-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70]

Data: 12 de Maio de 2013, 18:06

Assunto: Reenvio

Meu caro Luís Graça. Camarada.


Ontem, 11 de Maio, em Paredes, foi o almoço da minha companhia.

Palavra puxa palavra e fui buscar um meu portátil para, como imaginas, tirar dúvidas que a memória acentua. As conversas são como as cerejas, e "vejam lá como se entra e se fazem buscas no blogue do Luís Graça".

E veio-me de novo à ideia: "mas que raio se passará com a história que eu enviei no 26 de Abril"?

Dizia assim o texto do e-mail:  "Meu Caro Luís Graça. Camaradas Editores. Blog Amigo. Perdoa que tardiamente te felicite pelo teu nono aniversário. Leva-o à conta de prementes afazeres, que não de menos cuidado por quem, na sua ainda que curta existência, tem sabido ser o ombro disponível a acolher gente caturra, em acertos de contas com a memória.

Deixa-me recompensar-te da falha, remetendo para teu acervo o 6º episódio da série que acolhes como "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista".

Não sei se aprecias o estilo, mas quero aproveitar para fazer homenagem ao Manuel Joaquim, ex-furriel miliciano da CCAÇ 1419, que numa solitária demonstração de despojamento intimista, connosco tem partilhado as suas Cartas de Amor e Guerra. Vai com abraços."

E seguia em anexo o texto que também aqui vai anexado. Vais desculpar, meu Caro Luís, mas cheira-me que o e-mail passou à peluda antes de cumprir o tempo de serviço.

Toma lá um abraço e não te zangues comigo. Armando Pires


2. Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (6) >  Léopold Senghor, o poeta, ou lembranças da Ala dos Namorados 

por Armando Pires


Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam.

Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer.

Faz tempo que andava para te o dizer, para te escrever.

Chegou a hora, sacudido pela inspiração desse teu Tombe la Pluie (poste P11263, de 16 de março de 2013), versos que bem podias ter deixado ao cuidado do teu soldado Lavinas, aquele que se perdeu pelo cheiro à terra e aos amores de Bissorã, e por lá ficou em negócio de restauração, para que deles, os versos, me fizesse entrega, que boa figura me teriam dado fazer, como adiante saberás.

Daqueles tempos, desses tempos, não tenho uma carta que seja.  Perderam-se nos vendavais da vida. Delas resta a memória do que quiseram dizer.

O rapaz do SPM tinha muito pouco trabalho comigo. Eu que escolhi a escrita como modo de vida, era espaçado e breve nos parágrafos em que alinhava, “por cá vou indo bem, felizmente”.  (Ó minha mãe, a paixão das nossas palavras são segredos indizíveis)

Parti sem deixar alma à minha espera. Amizades, sim, romances, também, mas a vida em que cedo fui esculpido não comportava melancólicas saudades. Agarro-me a gestos e afectos para me sentir nos lugares onde quero estar.

Foi assim que lá na Guiné venci o tempo, protegido por objectos de virtude, talismãs, ícones ou fetiches, figuras a que quiseram atribuir poderes tão sobrenaturais, que fossem capazes de me proteger e trazer de volta, são e salvo.

E porque assim deve ter sido, porque não sendo crente quero crer que o tenha sido, continuaram pela vida fora ao meu lado, e aqui perduram, na que já disse chamar-se a minha caixa dos segredos (poste P10629, de 7 de novembro de 2012 ), e para dentro da qual gosto, de quando em vez, de olhar e sorrir.

Porque lá dentro estão, a Maria da Luz, de trouxa às costas para me acudir nas aflições, mais aquela rapariga sardenta da Nazaré, que me julgava um lobo do mar, vê lá tu, eu que enjoo só de o ver, está também a versão francesa de “Le Petit Prince” [, o Princepezinho, criação de Saint Exupéry], aquele rapazinho que a Anne-Marie, lá porque ele andava sempre de chache-nez ao pescoço, teimava que era parecido com o fadista que eu era, e o corno do Aleixo, que me foi dado pela Odete. 







Guiné > Região de Cacheu > Bula > 1969 > CCS/BCAÇ 2861 (Buila e Biossrã, 1969/71) > Relíquias, ícones, fétiches, e talismãs… e a Maria da Luz, a Sardenta, Le Petite Prince, o cinto do “Rapina” mais o corno do Aleixo...

Foto (e legenda): © Armando Pires (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: LG].



O Aleixo não era corno. O Aleixo tinha um corno que pertenceu a um toiro que numa praça de Espanha o ia varando num sitio que, vida fora, lhe faria imensa falta. Recuperou da colhida e o corno, que trouxe de lá para por atrás da porta do bar da Odete, para que dela e da casa desviasse o mau olhado.

A Odete, namorada do Aleixo, uma “balzaquiana” bem apessoada, que tinha um pequeno bar, já o disse, ali às Amoreiras, em Lisboa, frequentado por gente tão apessoada quanto ela, não sendo eu apessoado quanto eles, dedicava-me gosto e estima, porque eu tinha o que eles não tinham mas gostavam de ter tido: Voz e jeito para cantar o fado.

Sucede que aquele bar de muitas vezes passou a ser o bar de todas as vezes quando, terminado o curso de enfermeiro, no Hospital Militar Principal, fui colocado no seu Anexo, antigas instalações militares que ocupavam quase todo o quarteirão da Rua de Artilharia 1. Do Anexo ao bar da Odete não se corria mais de duzentos metros.

Naquela espécie de depósito de doentes em geral, fui metido em serviço na Medicina 3, onde cabia gente que se declarava demente para fugir à tropa, até tipos no seu mais perfeito juízo que apenas esperavam que viesse a funcionar a cunha que o sr. de patente, ou de posição, amigo do pai, metera ao médico da junta médica militar.

E havia, também, embora esporadicamente, uma outra clientela que fazia todo o meu enlevo. Eram os velhos veteranos da primeira guerra mundial, que esperavam pelo fim dos seus dias no Lar Militar de Runa, próximo de Torres Vedras, e ali iam recuperar dos achaques próprios da idade e, sobretudo, da tragédia em que os mandaram envolver-se.

Via e respeitava neles a figura do meu avô João, meu ídolo, boieiro nos campos do Ribatejo. Ninguém lhes tocava. Só eu cuidava deles. E as manhãs começavam com o banho em que, se não morriam afogados, quase morriam de riso com os disparates que eu lançava às suas inertes partes pudengas.

E havia ternura nos olhos quando, à hora da despedida, diziam, “obrigado, nosso cabo miliciano, e até qualquer dia”.

Ao lado do meu Serviço havia um outro que exigia forças mentais tão poderosas que quase se tornavam incompatíveis com as nossas imberbes e frágeis idades. O Serviço 5, onde os mutilados de guerra e paraplégicos cumpriam a “última etapa” da sua recuperação, antes de serem lançados para os braços de uma sociedade e de famílias a mais das vezes impreparadas para os receber.

À tarde, quando o sol iniciava o seu declínio para ocidente, sentava-me à porta com eles em conversas de amigos. À noite, no imenso espaço que era aquela espécie de parada do Anexo, à vez, um havia que me emprestava a sua cadeira de rodas para disputadas gincanas que tinham como prémio uma cervejinha no bar que fechava às dez.

Ganhava quase sempre um transmontano a quem uma mina anti-carro levara as duas pernas, conhecido pelo “Rapina”, porque depois de embalar a cadeira à força de pulso, fazia o percurso curvado para diante e de braços abertos, imitando o voo das águias que caçavam nos alcantilados do Marão.

Caramba, Manel, que lições de vida e humanidade eu ganhei naquele Anexo!

Às vezes, muitas vezes, eu saía com um deles, empurrando-lhe a cadeira até ao bar da Odete (é aqui que volta a entrar a Odete), que não só lhes franqueava a porta como nada lhes cobrava pelo jantar e, o melhor de tudo, lhes dava “à morte” companhia feminina até antes das seis, que era o prazo máximo combinado com o homem da porta de armas para nos deixar passar.

Em Setembro de 1968, após seis meses a prestar serviço no Anexo, já promovido por antiguidade a Furriel Miliciano, chegou a ordem de me apresentar em Chaves para formar Batalhão com destino à Guiné. Foi então, na hora da despedida, que a Odete me entregou o corno do Aleixo para que de mim afastasse o perigo, e o “Rapina” me desse o seu cinto militar porque já não precisava dele para segurar a farda.

Certa manhã de Abril de 1969, lá em Bula, foi à enfermaria ter comigo o rapaz do SPM.
- Furriel, tem aqui uma encomenda para si.

A letra firme, imensa e bem desenhada do endereço, bem que dispensava o selo para que eu reconhecesse a sua origem. Do norte de França, da Bretanha, da cidade costeira de Sainte-Marine, a Anne-Marie, minha namorada de então e minha muito amiga de hoje, enviava-me um novo livro.

Era uma biografia e um estudo sobre a obra poética de Léopold Sédar Senghor, de autoria de Armand Guibert, poeta ele também, que traduziu para francês obras do nosso Fernando Pessoa. Em dedicatória, a entre capa do livro recomendava que era “para ler nas noites azuis, nas noites sem guerra”.

Não esperei tanto. Sentei-me à porta da enfermaria e logo ali comecei a ler

La faiblesse du coeur est saint…
Ah! Tu crois que je ne l’ai pas aimée
Ma négresse blond d’huile de palme à la taille de plume
Cuisses de loutre en surprise et de neige du Kilimandjaro…



Dos lados da sala de operações surgiu o major Candeias. Fechei o livro entre o polegar e o dedo médio, deixando o indicador marcar a página onde seguia, e levantei-me para o cumprimentar.
- Então o que estás a ler, perguntou-me.

Exibi-lhe a capa e indiquei-lhe tratar-se de um poeta.
- Olha lá, rapaz, tu achas que isso são leituras para aqui?

Respondi-lhe: “ó meu major, poesia é para ler em qualquer lado”.

O Candeias fitou-me por brevíssimos segundos, fiquei sem saber se quis ou não quis dizer-me mais alguma coisa, se ficou a pensar se era eu que era parvo ou se o estava a fazer passar a ele por estúpido, e partiu sem resolver tão grande equação. Não sei por onde anda, meu major, mas talvez eu vá ainda a tempo de dizer-lhe que nem uma coisa nem outra.




Foi assim uma espécie de, “e se fosse à merda e me deixasse ler em paz?”. E pronto, Manel Jaquim, era aqui que eu precisava que tivesses deixado ao Lavinas o teu Tombe la Pluie, para que eu pudesse escrever à Anna-Marie e dizer-lhe

Tombe la pluie 
Et tu es si loin de moi
Tombe la pluie
Et mon couer s’habille de noir
….

Tombe la pluie
Et tu es si loin de moi.
Tombe la pluie
Oh, comme je voudrais te voir! 


Adeus, Manel Jaquim. Obrigado por esta oportunidade.

Até segunda-feira, lá no armazém da Amadora, onde teimamos em não esquecer o futuro daqueles que, lá nas bolanhas que deixámos, o não têm.
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou

Guiné 63/74 - P11566: Manuscrito(s) (Luís Graça) (2): Humor com humor se (a)paga: RIP... Requiescat In Pace... Lápides funerárias da minha coleção!

1. Um dia lá teremos de morrer...
E é bom pensar no nosso testamento vital:
por exemplo, se queremos ser cremados,
ou dar o corpinho de pasto aos vermes...
Ficam aqui alguns exemplos de epitáfios, de A a Z, que nos podem ajudar a escolher...

É evidente que o propósito é brincar
com a coisa mais séria da vida
que é a morte...Digamos:
mais do que séria, sisuda...




Brincámos com a morte na Guiné,
durante a guerra colonial,
brincamos com ela todos os dias...
"Olha, o meu amigo X,
mais novo do que eu,
zás, já lá está na terra da verdade"...
"Olha, soube ontem que o meu amigo Y,
aos cinquenta e picos,
no auge da sua carreira de gestor,
teve um ataque cardíaco,
e lá se foi"...
"Olha, a minha amiga Z, poetisa,
que morreu de tristeza e solidão"...

Os cemitérios são agora sítios 
que visitamos mais amiudadas vezes.
Por obrigação e devoção.
Estão lá os nossos avós, pais e irmãos mais velhos,
os nossos maiores,
e já muitos dos nossos amigos e camaradas.

Saibamos olhá-la de frente,
à morte 
e à sua gadanha,
quando ela vier ter connosco...
E se possível saibamos fintá-la...
Ainda por muitos e bons anos.

Alguns dirão que isto é humor negro,
e de mau gosto.
Não, é apenas humor, 
e o humor... com humor se (a)paga...

A morte e os cemitérios são, para sociólogos e antropólogos,
também objeto de estudo,
como a guerra, o poder ou o amor.
Nada do que é humano nos é estranho,
incluindo as mil e maneiras de lidar com a vida e a morte.

Podem achar mórbido,
mas cultivo epitáfios funerários
(não de animais de estimação,
como os cães e os gatos,
mas de seres humanos,
meus irmãos, meus amigos, meus camaradas)....
Quem os escreve são os vivos,
que estão na calha da morte.
Nomeá-la é exorcizá-la.
A morte é o último dos tabus
da nossa civilização.

Mais do que uma coleção,
é um mo(n)struário.
Estes epitáfios estão a preço de saldo.
A maior parte são da minha lavra.
Aceitam-se encomendas e trocas,
críticas e sugestões.

E, no fim, como diriam os antigos romanos,
só desejo que um dia,
quando chegar a nossa vez,
que a terra nos seja leve...

LG

PS - Espero não ferir as suscetibilidades de ninguém, 
seja crente ou não crente.
O humorista não pertence
a nenhuma destas duas categorias.


Alentejano: Eu sou devedor à Terra, / A Terra me ‘stá devendo, / A Terra paga-m’em vida, / Eu pago à terra em morrendo.
Amigo do Peito: À volta cá te espero!
Apaixonado: Voltaria a morrer por ti, meu bem!
Astrónomo: O céu está escuro como breu!
Agnóstico: Não penso, logo não existo.
Agricultor Biológico: Nada se perde, tudo se transforma.
Ateu: Logo eu que nem sequer acredito em Deus!

Banqueiro: Só para a morte não há casa forte.
Barqueiro de Caronte: Viagem sem retorno.
Bombista Suicida (Muçulmano): Virgens, cheguei!
Boticário: Para tudo tive remédio, menos para a morte.

Calceteiro: Erros de médico a terra os cobre!
Caloteiro (1): Deus te pague!
Caloteiro (2): Aqui não se pedem contas.
Cangalheiro: Falido!... Eu que sempre dizia: "Não quero que ninguém morra, só quero que a minha vida corra".
Capitalista: Confesso que vivi bem...no outro mundo! Espero que continue a viver bem, neste!
Católico (praticante): Obrigado, Pai, vou por fim conhecer-Te, pessoalmente!
Católico (rico): Dei aos pobres, emprestei a Deus, vou buscar os dividendos.
Católico (pobre): Trocaria a reino dos céus por um prato de sardinhas e um copo de tinto!
Cientista: Que pena não ter respondido à derradeira pergunta: "Afinal, para que serve a Ciência?!"
Cirurgião: Erros meus a terra os cobre.
Claustrofóbico: Por favor, tirem-me daqui!
Cobarde: Em homem forte não se bate.
Columbófilo: Finalmente, pombinhas minhas, cagai em mim!
Combatentes (Talhão dos): Uma vez camaradas, camaradas para sempre!
Comerciante: Liquidação Total. Preços de saldo. Motivo força maior.
Comodista: O último a morrer que feche a tampa do caixão!
Condeando à morte: Prisão perpétua!
Corajoso: Nada teme quem não teme a morte.
Coveiro: Finalmente reformado! Não aceito mais encomendas!

Desaparecido: Procura-se!
Desempregado de longa duração: Desemprego para a vida, emprego para a morte!
Diabo: Não sou assim tão feio como me pintam.
Doente Que Nunca Mais Morre (ou Crónico): 
Mais vale andar neste mundo em muletas 
do que no outro em carretas.

Ecologista: Espécie extinta!
Economista: Não há vidas grátis!... Nem mortes de borla!...
Egoísta: Finalmente uma cama só pra mim!
Epicurista: Qual o programa das festas ?
Escritor: Ponto final parágrafo. Fim da história.

Fadista: Fado meu!
Fatalista: Morreu quem tinha de morrer.
Folião: A vida foram dois dias, mas o carnaval  foram três!
Forreta: No morrer é que está o ganho!
Filósofo: Morrer ou não morrer, eis a questão.
Fuzilado: Dei o peito às balas!

General: A última batalha de uma guerra perdida!
Gourmet: Acabou-se o que era doce!

Herói: Saltei para o lado errado da barricada!
Hipocondríaco: Eu bem avisei que estava a morrer!
Homem Mais Velho do Mundo: Custou... mas foi!
Homo Sapiens Sapiens: De nada me valeu ser o mais inteligente.
Humorista: Humor com humor se (a)paga!

Informático: Vítima do pior vírus do mundo!
Ingrato: Porra!, não há mais uns anos de borla?!

Jogador de Futebol: Arrumei as botas!

Latinista:  Memento, homo, quia pulvis es, et in pulveris reverteris! [Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás-de tornar!]
Louco: A maior loucura que um homem pode fazer, é deixar-se morrer.

Malcriado: A vida é uma merda!
Marido Fiel: Até que a morte, por fim, nos separou!
Médico: Filhos da p..., o cangalheiro e o coveiro são sempre os últimos a rir!
Metereologista: No inferno deve estar um frio de rachar!
Morto da aldeia da Pena: Coroa de glória: sou o morto que matou dois vivos.


Optimista: Só um momentinho, por favor!

Padre: Meu Deus, mas por que é que fui o Eleito ?
Parteira: Só uma porta a vida tem, enquanto a morte tem cem.
Papa: À morte ninguém escapa, nem o Rei nem o Papa!
Paleontólogo: De fóssil em fóssil, até à escavação final!
Pedófilo: Anjinhos, cheguei!
Pessimista: Nunca mais vou sair daqui!
Poeta: Saudade eterna!
Poeta Bocage: Já Bocage não sou...
Poeta Camões: Apagada e vil tristeza.
Poeta Pessoa: Aqui jaz e apodrece o menino de sua mãe.
Polícia: A esta  ladra [, a morte,] é que eu já não agarro!
Politicamente Correto: Tudo acaba!
Politicamente Incorreto: Não pedi para nascer, não pedi para morrer.
Portuga (Pobre): Nunca mais verei a tal luz ao fundo do túnel!
Portuga (Rico): Uma suite para a eternidade!
Português à Beira Mar Plantado: Mais vale a morte que tal sorte.
Preguiçoso: Descanso eterno!
Promotor de saúde: Ontem com saúde, hoje no ataúde.

Quarteleiro: Acabou-se a guerra... sem quartel!

Reformado (da função pública): O último resistente!
Revolucionário: Os vermes ao poder! A terra a quem a trabalha!
Romancista: Aqui acaba a ficção, e começa a realidade.

Sem abrigo: Morada definitiva.
Sobrevivente: Nunca abuses da sorte!
Sociólogo: Campo da igualdade.
Soldado (1): Levantado do chão.
Soldado (2): Morri pelo rei, nunca mais o verei!
Soldado Desconhecido: Morto duas vezes!
Soldado de transmissões: Foxtrot Oscar Delta India Mike Echos!
Suicida: Quem não se mata, morre.
Suicida Arrependido: Porra, esqueci-me de comprar bilhete de ida e volta!

Toxicodependente: Enfim, meu, és pó e  só pó!

Utente da ServiLusa: Reclamação: tenho o ar condicionado avariado!

Verme: A desgraça de uns é a sorte de outros.
Virgem (Resistente): Maldita terra que me hás de comer!

Zulu: Sempre o último... da turma, do pelotão, da fila, do alfabeto!

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11350: Manuscrito(s) (Luís Graça) (1): Amigos de infância, camaradas da diáspora: o Zé Pê, que foi para o Canadá

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11565: (Ex)citações (220): Cherno Baldé, deixo aqui a minha homenagem à mulher do teu país...(João Martins)



Guiné > Região de Gabu > Piche > Foto nº 112/199 >  1968 > Mulher amamentando uma cabrinha (!)... Um ternura de foto do álbum do João Martins.

Foto: © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 


1. Comentário, de 23 do corrente, de João Martins [, ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69,]  ao poste P11369:


Caro Luís Graça & camaradas da Guiné:

O meu caloroso abraço aos meus gloriosos amigos e camaradas de armas,  quer do Continente quer da Guiné.

Ao ler as opiniões do amigo Cherno Baldé que, de modo algum pretendo contrariar e que respeito, recordei aquela frase "Cada um sabe de si e Deus sabe de todos", logo, penso que o Cherno deve ter razões muito pessoais para afirmar o que pensa.

Surge-me também a oportunidade de transmitir o que senti e o que presenciei. Encontrei várias etnias,  de relacionamentos bem distintos, e encontrei reações naturais e espontâneas em que o interesse e a atração do português pela beleza exterior e interior feminina são dificilmente contidos. Daí, a disseminação,.  por todos os continentes,  de descendentes lusos.

Quanto ao sentimento da superioridade dos portugueses relativamente aos nativos e às nativas, e mais uma vez recordo que "Cada um sabe de si e Deus sabe de todos", julgo que esse sentimento,  como regra, e não há regra sem excepção, só existia como fazendo parte da "lavagem ao cérebro da propaganda inimiga" que procurava virar as populações contra nós. 

Sinceramente, foi isto o que senti e o que presenciei. Tal como já li, a amizade e o respeito pela mulher africana sobrepunham-se a outros tipos de relacionamentos. Admito que, contrariamento ao que se pretende transmitir muito democraticamente, todos os homens são diferentes, uns são educados e têm comportamentos de respeito pelo próximo, outros, pelo contrário, comportam-se de modo indigno. 

As generalizações a partir de casos pontuais conduzem a afirmações erróneas e facilitam as teorias niilistas que têm como finalidade não distinguir o bem do mal nem os bons dos maus.

Um grande abraço a todos sem excepção, e até Monte Real, se Deus quiser.

João Martins
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Guiné 63/74 - P11564: Convívios (522): Convívio anual da Companhia de Caçadores n.º 816 (Rui Silva)


1. O nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), enviou-nos a seguinte mensagem: 

Caros Luís, Vinhal e Magalhães recebam um abração! 
Cumprimentos afetuosos também para toda a Tertúlia. 

Desta feita não há “Páginas negras” nem “Salpicos” mas sim a história breve do como foi o Convívio anual da Companhia de Caçadores n.º 816 que esteve na Guiné em 1965-67 e que se efetuou desta vez em Famalicão no pretérito sábado dia 11. 

Logo que nos vimos livres das G3 ainda em Bissau, propusemos munirmo-nos, em futuro, de faca e garfo e fazer “golpes de mão” a conhecidos (por boas razões) restaurantes do burgo. 

Assim, e uma vez mais, a 816 fez-se ao terreno e desta feita a operação foi feita num restaurante em Esmeriz- Famalicão. Os setentões (meu Deus!) cabelos brancos (aqueles que o tinham - o cabelo -, claro) e barrigudos (quase todos) atacaram, não pela madrugada, mas pela hora convencionada para almoçar e com o grande e habitual êxito. 

Os ex-combatentes da 816, agora fortemente reforçados já com muitos netos, passaram algumas horas de grande confraternização, aonde mais uma vez esteve presente o Comandante da Companhia Capitão Luís Riquito, alguns Oficiais Alferes (2) Furriéis (5) e muitos cabos e soldados. Passados 48 anos da partida para a Guiné, e, melhor dizendo (soa melhor), 46 da chegada. 

Do evento, envio para o Blogue (não é abuso, pois não?), contando com a paciência e pachorra de alguns, e enviando também diversas fotos do evento. 

Como habitual, houve Ponto de Encontro ou “encontro dos abraços”, missa pelos camaradas falecidos em combate e por aqueles que nos vão deixando com o decorrer dos anos, e já não são poucos, mas que estão todos bem vivos no coração dos ex-militares da 816. 

Aperitivos em zona ajardinada e almoço com discurso final do Capitão e logo a seguir a distribuição fatiada do tradicional bolo 816. 

Mais abraços, agora até com alguma lágrima marota à mistura, e até ao ano se Deus quiser. 

Descrição das fotos: 

Foto 1 – O pessoal da 816 com muitas esposas na missa realizada na bonita igreja de remanescência romana de S. Tiago de Antas em Famalicão. 
Foto 2 – O capitão Luís Riquito teve uma oferta quão inesperada como extraordinária: Um instantâneo, algures no mato do Olossato, da sua pessoa. 
Foto 3 – Eu com os 3 elementos da minha secção então presentes.  
Foto 4 – O então Comandante da Companhia e Capitão, na sua habitual e regeneradora alocução. A seu lado o Fonseca que com o Júlio promoveram o encontro. 
Foto 5 – O tradicional bolo da 816 que remata a festa e para gaudio da tribo. 
Foto 6 - O Capitão contou com a ajuda da neta do Fonseca para dissecar o Bolo 816. 

Rui Silva 
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste da série em: