1. Façam-se à estrada e venham até ao
Entrudo de Lazarim, Lamego, 13-16 de Fevereiro de 2010....
Lazarim é célebre pelos seus caretos... Neste artigo, de João Garcia, publicado em 1998 no
Expresso, há um referência, inesperada, a um camarada nosso, o Hélio da Costa, que estava em Guileje, em 1970... Era de minas e armadilhas, viu morrer dois camaradas, um cabo e um furriel. Em Guileje, perdeu o medo ao fogo... Em Lazarim, era o pirotécnico do Entrudo...
Nesta época, em 1970, passaram por Guileje 2 unidades... (Inclino-me para a hipótese do Hélio ser da CCAÇ 2617, já que na lista do pessoal da CART 2410, elaborada pelo Luís Guerreiro, não encontrei o seu nome):
CART 2410,
Os Dráculas (Junho de 1969/ Março de 1970)
CCAÇ 2617,
Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971
Será que alguém, dos Magriços, conhece (ou lembra-se de) o Hélio da Costa, de Lazarim, Lamego ? Vou dar um salto até lá, neste Carnaval de 2010. (LG)
2. Tradições > Viagem ao velho Entrudo > A Arte das Máscaras
João Garcia,
Expresso, 21 de Fevereiro de 1998
Caretos é também a designação dos mascarados de Lazarim. Mas ali, na proximidade de Lamego, conta mais a máscara, esculpida em amieiro, do que o fato. E, dado inesperado, nenhuma das práticas do Entrudo está vedada às mulheres... embora tenham o seu risco.
«Uma vez pedi uma máscara, vesti-me, e saí de careto, juntamente com outra moça. Mas eles lá descobriram, fosse pela forma do corpo, fosse pelo andar, e começaram a querer pôr as mãos onde não deviam. Tivemos de fugir», recorda Maria de Lurdes, com 49 anos e muita saudade do tempo em que podia fazer versos para o testamento das comadres.
Na terça-feira, um rapaz e uma rapariga fazem a leitura dos testamentos dos compadres e das comadres, versos compostos em segredo e de crítica aos jovens do sexo oposto. Mandam as regras que só os solteiros possam criticar e só eles sejam alvo de chacota. Do testamento consta a imaginária distribuição de um burro ou burra, que a imaginação divide, cabendo a cada um o órgão ou parte que mais se adequa ao «defeito» que lhe é enunciado.
Todas, mesmo todas, as partes do animais são atribuídas, no meio de quadras que nem sempre dissimulam os palavrões. «As raparigas são mais finas, sabem dizer as coisas de outra maneira. Agora eles, às vezes, dizem tudo por claro», conta Ester Ribeiro, de 19 anos, uma das moças que têm ajudado a compor as estrofes da comadre. Sabe que vai ouvir das boas, mas já está preparada para não ligar. Sempre as raparigas as compuseram, mas só em 1985 se libertaram do porta-voz que fazia, por elas, a leitura das «deixadas» do testamento.
Apesar da permissividade própria do Carnaval, que, dizem os antropólogos, serve para exorcizar e esquecer o passado, nem todos se contentam com um cerrar de dentes. Houve um ano em que a GNR foi chamada e as ofensas valeram multas de 400 escudos, acrescidos de cinco tostões de imposto de selo. No ano seguinte, o testamento só teve uma quadra:
«Vamos ler o testamento / para que ninguém se fique a rir / por causa de 400 e coroa / fica a burra por dividir.»
As máscaras de Lazarim já andam pelo mundo. José Costa, de 24 anos anos, carpinteiro, é o mais jovem artífice. Às caraças tradicionais, muitas de fisionomias com pequenas barbichas, orelhas bicudas ou cornos, está a juntar figuras da banda desenhada: «O ano passado saiu à rua uma do Alf.»
Na primária, os alunos inspiraram-se no Gil, a mascote da Expo. Mais tradicional, Afonso Costa, de 72 anos, vai esculpindo animais, guardas, reis e algumas figuras diabólicas. «Já vendi máscaras para museus dos Estados Unidos, da França e da Alemanha. E há também em Lisboa, no Museu de Etnologia, e no Grão Vasco, de Viseu.» O Carnaval de 1949 valeu-lhe 16 horas de prisão, quando o reboliço na aldeia levou à intervenção da Guarda.
Terminam os festejos com os caretos a emitirem uivos, enquanto pequenas explosões despedaçam os bonecos que representavam a comadre e o compadre. Feitos de arame, papel e palha, armadilhados com pequenas peças de pirotecnia, presidem ao testamento e são sacrificados no final. Quem os faz, por 20 contos cada, é Hélio da Costa: «Na Guiné, em Guilege, em 70, vi morrer um cabo e um furriel. Éramos de minas e armadilhas. No fim da comissão tinha perdido o medo ao fogo.»
Afinal, nem tudo o que é passado se esquece com o Carnaval.
Fonte:
At-Tambur.com - Músicas do Mundo (com a devida vénia...)
[ Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]