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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11772: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (7): O Xitole e o "alfero" Francisco Silva (CART 3492, 1971/73), a emoção de um regresso



Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 >  Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. "Com que emoção o Francisco Silva descobriu as pinturas nas paredes que alguém,  muito antes dele, ali pintou" (1)


Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antigas instalações das NT, agora edifício do "Comissariado da Polícia de Ordem Pública, Sector do Xitole".



Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 >  "Descer à fonte e beber da água do poço que o outro Silva, o básico, como foi identificado pelo Mamadu, ia esvaziando todos os dias, arrastando a água para o quartel".


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte VII

por José Teixeira


O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; hoje, 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)... Uma crónica, especial, é devida para celebrar o emocionante reencontro com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole,  ao tempo da  CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar o Pel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973,[LG]


Parte VII > Encontros e reencontros no Xitole, em 1 de maio de 2013


Palmilhar religiosamente a terra onde estava localizado o quartel, tentando reencontrar as dimensões das casernas, outrora existentes. Calmamente. Saboreando passo a passo o tempo e o solo que pisava. Olhando com nostalgia para os vigorosos poilões que continuam a dar vida e sombra à tabanca. Olhos cravados nos rostos que se aproximam esperando lobrigar um sorriso conhecido, que o tempo não ousara apagar da sua mente.

Localizar os postos dos morteiros 81, eram dois. Um ali, o outro acolá, afirmava convicto.

As valas, salva vidas, cujos contornos ainda estão bem marcados no terreno baldio, onde outrora os corações batiam apressadamente e hoje são um pasto verdejante para alimento das pachorrentas cabras que deambulam perdidas entre as moranças.

O betão dos abrigos, nas extremidades do quartel que resistiu às intempéries e à malevolência dos vencedores. São hoje estranhos monumentos perdidos no tempo e no terreno para a juventude. São um perene testemunho das lutas de vida ou morte que ali se travaram.

A densa floresta que envolve a Tabanca do Xitole, com bandos de pássaros de linda penugem que em revoada se passeiam no céu azul numa algaraviada permanente, continua a guardar bem dentro de si os terríveis mistérios de vida e morte dos tempos da luta.



Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Um primeiro encontro inesperado com o passado




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > O regresso ao passado, à magia da tabanca do Xitole. O Francisco Silva junto ao que resta de um momnumento à CART 2413.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > O Aliu do Xitole que reconheceu de imediato o Alfero “paraquedista” , o “Sirva”. Amena cavaqueira com o Aliu a falar do “Alfero Sirva”, "manga de bom pessoal"

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 >O Aliu (antigo menino da messe dos sargentos)  e o Francisco Silva  

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


Ainda em Bissau o primeiro encontro com o passado. Passeávamos pela antiga messe dos oficiais, numa viagem de regresso às origens no que hoje é um hotel de luxo – Hotel Azarai, quando um senhor bem vestido o encara de frente e provoca uma conversa. Era o Diretor de um instituto estatal.

Ao tempo, estudava em Bissau e passava as férias na tabanca natal. Pergunta-lhe de repente: 
Você não era o Alferes paraquedista que esteve em tal parte?

Espanto geral do Francisco Silva, hoje médico no Hospital Amadora Sintra. De facto,  era conhecido como o “alferes paraquedista”.

Seguiram-se os primeiros embates com a memória que restou do tempo vivido no Xitole, logo ali alimentados pelo cavalheiro bem vestido e continuaram na tarde do dia seguinte, naquele local sagrado: A Tabanca do Xitole.

Naquele peregrinar numa tarde em que o Sol se esqueceu de nós, as histórias de cada lugar reencontrado, guardadas com acuidade no sótão da sua mente, assaltam-lhe a memória presente e toldam-lhe o pensamento.

Memória alimentada pelo Mamadu Aliu, outrora o menino da messe dos sargentos, que identificou à primeira vista o “Alfero paraquedista”. Sempre ele, calmo e sereno, observador de ouvido atento, como no tempo em que comandava os seus soldados perdidos na selva da guerra.

Os ataques, as reações e os seus efeitos…

A história do “turra” que pretendia matar a sentinela. Para o efeito trazia consigo uma faca afiada nos dois gumes. Morreu com um tiro certeiro, mesmo ali à porta do abrigo, quando se preparava para exercer a sua nefasta ação. O trabalho que tiveram depois para se libertarem do corpo…
“guerra é guerra, meu ermon, como me disse o Braima Camará em 2008, meu inimigo de outros tempos.

A história do saariano apresentado ao Silva como um perigoso cubano. Ele tinha ligado tão pouco a esta cena do saariano, que a deixou escapar da memória, mas veio agora o menino da messe, o Aliu,  recordar-lha com todos os pormenores e quanto o ficaram a admirar pelo seu acto. Contou ele que o Alfero paraquedista se apresentou junto do prisioneiro e lhe fez umas perguntas. Depois mandou que lhe dessem uma cerveja e o mandassem embora. O prisioneiro agradeceu, mas recusou,  alegando que era muçulmano. Então o Silva ordenou que lhe dessem um sumo e deixou-o ir em paz. O Alfero Silva era uma boa pessoa…

A história do ataque sofrido, debaixo de uma terrível tempestade, sem resposta pronta, com muitas granadas a rebentar dentro do quartel. O estrondo da tempestade abafou o ruido das primeiras bombas e só não morreu muita gente no Xitole porque os deuses da guerra estiveram do nosso lado. Não foi no tempo do alferes Silva, mas o Aliu trouxe-o à ribalta

História confirmada nessa mesma noite na Residencial do Saltinho em amena cavaqueira com o guarda noturno da pousada. Não é que ele mesmo foi um dos atacantes, nessa tarde maldita.

Graças a Deus que estamos aqui os dois. Palavras sentidas do antigo inimigo, que também esteve no célebre ataque às cinco da manhã com tentativa de penetração à tabanca, para raptar o régulo, segundo afirmou. Este ataque sofreu-o o Silva com toda a intensidade, competiu-lhe a ele comandar a defesa, como comandante.

O Alferes paraquedista lembrou que viu, neste ataque,  um inimigo em cima de uma árvore e enviou-lhe os seus cumprimentos através de um dilagrama.

O agora amigo e grato a Deus pelas duas vidas que se salvaram confirma que o ataque com as armas pesadas estava a ser comandado de cima de uma árvore. O rebentamento do dilagrama assustou o comandante que caiu abaixo da árvore e partiu uma perna.

Sentados no chão traçaram as linhas de defesa e ataque. Um e outro entenderam-se na perfeição. Ainda se recordam do terreno palmo a palmo e da localização das máquinas que vomitando fogo semearam a morte e a dor. Localizaram as posições das armas pesadas de uns e de outros. A fuga com as granadas a rebentarem nas suas costas. O arrastar dos feridos e foram bastantes. Foi dia de ronco para os tugas comandados pelo Alfero paraquedista.




Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > > Bajudas (1)


Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Bajudas (2)


Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Junto ao poço. O velho mecânico, o Seido Baldé, contente por abraçar o "alfero Silva".


Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular.  Pinturas (2)


Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 >  Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular.  Pinturas (3)


Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 >Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular.  Pinturas (4)


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]



Descer à fonte e beber da água do poço que o outro Silva, o básico, como foi identificado pelo Mamadu, ia esvaziando todos os dias, arrastando a água para o quartel.

As mulheres e as bajudas a tomarem banho como antigamente com os peitos generosamente descobertos, agora um pouco envergonhadas. Será que é por já estarmos velhos, ou mudaram-se os tempos…

A Casa do Comando, transformada em morança. Os seus habitantes aceitaram o desafio e deixaram o Silva entrar no espaço que foi seu por algum tempo. Com que emoção descobriu as pinturas nas paredes que alguém muito antes do Silva ali pintou. Fotografei-as para a posteridade.

O velho mecânico, o Seido Baldé, veio dar uma ajudinha, a este deambular pela história do alferes Silva relembrando outras cenas vividas num tempo que já passou há muito tempo, mas que continua bem presente nas nossas mentes e só vão desaparecer com a morte que o destino nos marcou.

Braços abertos e sorrisos de quem se bateu por uma Pátria que os abandonou na primeira oportunidade.
Estávamos no dia primeiro de Maio – dia do trabalhador. Um grupo de cidadãos festejava com uma batucada bem regada este grande dia. Não se podia perder esta oportunidade. Há que chamar as nossas mulheres para participarem na festa. Há que cantar e dançar. Há comer e beber à saúde da classe do trabalho que enriquece o mundo, mantendo-se pela sorte maligna que a persegue. Sempre pobrete, mas alegrete.



Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Restos do aquartelamento


Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 >Restos do aquartelamento: a vala que corria para o Rio Corubal


Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 >; Seido Baldé  e Francisco Silva



Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Amigos posam para a posteridade: Seido Baldé, Francisco Silva e Mamadu Aliu... Ao fundo, uma antena de telecomunicações.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


Para completar tão gratificante tarde, o menino da messe de sargentos convida o Silva para o casamento da sua filha que se realizará no sábado seguinte, sem que primeiro tenha tido o cuidado de ir junto da esposa do Silva para a informar que o alfero Silva era boa pessoa e muito estimada pelos africanos do Xitole.

A saga continuou. Desde o motorista que nos acompanhava, antigo cabo do exército português e nos fala com entusiasmo desmedido dos amigos que viu partir, ao Galissa que em Iemberém se identifica como “bandido que vai na mato” e hoje é o diretor da rádio local.

Não foi por acaso que esteve nas matas de Jumbembem exatamente no tempo em que o Silva comandava o Pelotão de Nativos aí estacionado. Não foi por acaso que estiveram frente a frente num terrível ataque que o PAIGC desenvolveu. Aninhados no chão reestruturam de novo as suas linhas de defesa e de ataque, como se tivesse sido hoje.

Apreciei todas estas (re)vivências do Francisco Silva neste seu regresso à Guiné. Ouvi um antigo soldado português dizer: 
Tive muitos amigos portugueses que caminharam e combateram a meu lado. Grandes amigos. Tenho manga de sodades. Gostava de os poder abraçar de novo…

Perante tantas emoções, eu,  o Zé Teixeira, senti-me na obrigação de abrir a minha veia poética e deixar que a esferográfica deslizasse pelo papel, escrevinhando algumas linhas que pretendem traçar o meu estado de espírito.


GUERRA É GUERRA
por Zé Teixeira

Guerra é guerra, meu 'ermon' (a)
Quando passa, não deixa saudades.
Mas, muitas amizades, neste mundo perdido
Os antigos inimigos se procuram,
Para saldar as contas com um abraço sentido.

Armas caladas,
Em mãos armadas,
Cantam horrores,
Silenciam com a morte,
Quem por má sorte
Lhe sofre as dores.

Sangue e pranto,
Em jorro constante,
Num jardim sem flores,
E na última despedida,
Clamam pela vida,
Que queriam viver.
E pelos seus amores,
A sua razão de ser.

A esperança, essa resiste,
Num corpo ainda quente,
Até aos últimos estertores.
…E uma vida se perdeu.

A seu lado ainda há vida,
E de armas na mão.
Não acredita,
No sangue que correu,
Chora uma lágrima sentida,
E avança.
Destemida.
Na vingança de quem morreu.

Verte a raiva que lhe vai no sangue
Para dentro da palavra
Que transpira asperamente.
Põe o dedo no gatilho,
E com que raiva lavra,
O destino de quem matou.
Inutilmente.

Até que a guerra tem seu fim,
Finalmente.
Inimigos de ontem,
Hoje perguntam, num abraço de paz,
Selado eternamente.
Que fiz eu?
E tu meu irmão,
O que nos aconteceu?

Choram lágrimas de alegria,
Caldeadas com lágrimas de dor,
Não pelo que sofreram,
Já passou,
Sem desejos de vindita,
Mas pelos amigos que perderam,
Na guerra maldita.
Que alguém sem rosto criou.

Zé Teixeira

(a) Braima Cassamá (Antigo guerrilheiro do PAIGC) meu inimigo. Reencontrado em 2008

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11745: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (6):De Iemberém a Guileje, a caminho de um casamento no Xitole

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11368: Blogoterapia (226): Aos 60 regressam em força as amizades, principalmente entre combatentes (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), com data de 8 de Abril de 2013 a propósito do seu aniversário festejado no passado dia 6:

Pois, não estamos a ficar mais novos!

Ontem, passada a “ressaca” do aniversário, pensava cá comigo que a vida tem coisas engraçadas.
Quando somos novos, assim no tempo de crianças e adolescentes, valorizamos muito os amigos, é até o tempo da afirmação dos “melhores amigos”, confidentes, com quem trocamos as nossas confidências mais intimas, sobretudo no campo das namoradas, etc., etc.

Depois vivemos um tempo em que os amigos são importantes mas já não ocupam tanto o nosso pensamento. Vivemos o tempo de afirmação como homens, a família, o trabalho, etc., vão-nos ocupando. Não nos fazem esquecer os amigos, mas colocam-nos, digamos assim, mais longe do nosso dia-a-dia, das nossas prioridades.

E depois chegamos aos tais 60 e daí para a frente!
Regressam então em força as amizades, os grandes amigos, aqueles com quem vamos estando cada vez mais e com quem voltamos a confidenciar a nossa vida.

Então para nós, combatentes, esta “verdade” que acima refiro torna-se uma realidade bem presente, e para confirmar isso mesmo, basta ver a quantidade de razões e argumentos que arranjamos para nos juntarmos, abraçarmos e trocarmos experiências, às vezes retidas até à exaustão, mas que ouvimos como se fosse a primeira vez, para que a seguir possamos também contar a nossa história, porque somos os melhores ouvintes das nossas histórias da guerra, até porque os outros apenas as querem ouvir para delas se servirem, em livros, jornais e até com fins políticos.

Monte Real, Abril de 2013 > Joaquim Mexia Alves com alguns camaradas do Pel Caç Nat 52 (?)
Foto de Rui Silva

E agora não parava de escrever, e isto ia tornar-se chato e pouco legível!

Por isso, toda esta lenga-lenga, (que para mim é verdadeira), serve para vos agradecer as mensagens de parabéns, mas sobretudo a amizade que me quiseram demonstrar no dia dos meus 64 anos.

Obrigado!
Tenho-vos a todos no coração, acreditem!

Um grande e amigo abraço do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alferes Miliciano de Operações Especiais, da CART 3492, do Pel Caç Nat 52, da CCaç 15, isto apenas porque o Carlos Vinhal me quis reduzir à minha mais ínfima expressão “guerreira” … eheheh
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11341: Blogoterapia (225): Agradecimento à tertúlia deste grande Blogue (Carlos Vinhal)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10864: Efemérides (114): 22 de dezembro de 1971, partida para o CTIG do BART 3873, no N/M Niassa (António Bonito)


Niassa > Navio misto (carga e passageiros), de 1 hélice, construído em 1955, na Bélgica, registado no Porto de Lisboa, e abatido em 1979; com  mais de 151 metros de comprimento, tinha arqueação bruta de c. 10.700 toneladas, uma potência de 6.800 cavalos e uma velocidade normal de 16,2 nós. Dispunha dos seguintes alojamentos: 22 em primeira classe, e 300 em classe turística, num total de 322 passageiros. (Quando transportavam tropas, a sua lotação quadruplicava...). O número de tripulantes era de 132. Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa. Quantas viagens e quantas centenas de milhares de homens terá este navio, tão familiar para tantos de nós ? (LG)

Crédito fotográfico: Navios Mercantes Portugueses  (2004) (Foto aqui reproduzida com a devida vénia...)


1. Efeméride:  22 de Dezembro de 2012 fez 41 anos que o BART 3873, composto pelas CART 3492, Cart 3493, CART 3494 e a companhia independente CART 3521 zarpou de Lisboa rumo à Guiné, no N/M Niassa.

Mensagem recebida no dia 22 de Dezembro de 2012 do nosso amigo e camarada d’armas,  ex-Fur Mil António Bonito, da CART 3494, evocando precisamente o aniversário (41 anos) em que o BART 3873 zarpou de Lisboa com destino à Guiné.

 Boa tarde Companheiros

Acabei de chegar a casa vindo de Aveiro onde tenho familiares. Durante todo o dia o meu pensamento lembrava que a 22 de Dezembro de 1971 embarcámos no Niassa para a Guiné. Neste momento recordo, com saudade, todos os nossos Companheiros que partilharam aqueles tempos. 
Para todos um grande abraço, não esquecendo os amigos que já partiram, e que continuam nos nossos corações para sempre.

Um Santo Natal
António Bonito


[Comentário do editor:  O ex-Fur Mil António Sousa Bonito também passou pelo  Pel Caç N 52, que esteve no Mato Cão, com o Joaquim Mexia Alves...  Mas originalmente pertenceu à CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo (1971/74), companhia de que fez parte  ao nosso grã-tabanqueiro nº 2, o Sousa de Castro... O Bonito vive em Montemor-O-Velho.]


Guiné > Bissau > 29 de dezembro de 1971 > Chegada a Bissau do N/M  Niassa. Foto do álbum de António Sá Fernandes ex-Alf Mil CART 3521 e Pel Caç Nat 52, Guiné 1971/73.

Foto ©: António Sá Fernandes (2012).


2. A história da Unidade reza o seguinte [elementos recolhidos pelo Sousa de Castro]:

1. MOBILIZAÇÃO (…) 

- Despedida

A cerimónia de despedida constou da Missa celebrada pelo Capelão da Unidade no Mosteiro da Serra do Pilar; alocução de um Oficial Superior, representante do Exmo. Governador da Região Militar do Porto ao que se seguiu desfile das tropas em parada e almoço de confraternização na Messe dos Oficiais do RAP-2 (…)

3. DESLOCAMENTO PARA O CTIG 

(...) Vila Nova de Gaia – Lisboa

Com as cerimónias de despedida a 21 de dezembro (...),  o Batalhão de Artilharia 3873 deslocou-se a 22, por caminho-de-ferro, de Vila Nova de Gaia  para Lisboa (Santa Apolónia). Daqui viaturas militares transportaram-no para o cais de Alcântara, onde por volta do meio-dia, a bordo do N/M Niassa largou rumo à GUINÉ.

(...) Lisboa-Bissau-Bolama

Corridos 6 dias, atracou-se às vistas de Bissau e logo de seguida tomou-se uma LDG para BOLAMA. Desembarcaram no próprio dia a CCS, CART 3492 e CART 3493, enquanto ao outro dia desembarcaram as CART 3494 e 3521.

(...) Recepção

Em 2 de janeiro de 1972, pelas 11H00, Sua Exa. O Governador e Comandante-Chefe, General António de Spínola, passou revista às tropas em parada no CIM, acompanhado pelo Exmo Comandante do BART 3873, pronunciando então alocução.

Escutaram-se palavras de boas-vindas e exortação perante aos obstáculos a vencer. Sucedeu-se uma reunião de trabalhos com Oficiais e Sargentos em conjunto primeiro, separadamente depois.

(...)  Rumo aos destinos

Ultimado o período final da instrução, foi o Contingente conduzido, novamente em LDG até ao XIME, localidade onde aportou a 28 de janeiro de 1972. Ali repartiram-se as Companhias, em coluna-auto, pelos respectivos Aquartelamentos:

CCS – Bambadinca
CART 3492 – Xitole;
CART 3493 – Mansambo;
CART 3494 - Xime (...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10852: Efemérides (113): Lembrando o ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (José António Viegas)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8485: Os nossos médicos (29): O arraial minhoto do Alf Mil Med Pinheiro Azevedo no Xitole, em 4 de Abril de 1972 (Joaquim Mexia Alves, CART 3492 / BART 3873, 1971/74)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > CART 3942 / BART 3873 (1971/73)  > Empenagens de granadas de canhão sem recuo, recuperadas depois da primeira flagelação ao Xitole em 04.04.1972. Ao fundo vêem-se as valas que utilizávamos durante as flagelações.

Foto: © J. Mexia Alves (2009). Todos os direitos reservados





Viseu> 15 de Junho de 2007> Encontro do BART 3873 ( Bambadinca 71/74)> Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Casimiro Barata, António Silva, Álvaro Basto, António Barroso; Silva, Eduardinho, Lima Rodrigues, António  Azevedo (assinalado com rectângulo a amarelo); Maçães, Mourão, Ceia, Artur Soares e Carlos Nunes.

Foto (e legenda) : © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, aproveitando  este pequeno e feliz macaréu que foi a chegada, à nossa Tabanca Grande, mais um camarada doutor, o ex-Alf Mil Med José Pardete Ferreira (*):

De: Joaquim Alves [joquim.alves@gmail.com]
Enviado: quarta-feira, 29 de Junho de 2011 11:07
 Assunto: Falando de médicos


Meus caros editores: Como estamos a falar de médicos (*), envio-vos uma pequena história, que não sei se já contei aqui na Tabanca Grande.


O António Azevedo, não me leva a mal, tenho a certeza, por eu contar esta história, que foi ele próprio que a contou. O António Azevedo, médico, que o foi durante uns meses no Xitole, é uma pessoa excelente, que deixou saudades em todos nós e,  por isso mesmo, é um amigo que todos muito prezamos.


A história conta algo que, se calhar, alguns de nós vivemos assim mais ou menos parecida!


Lembro-me, como já uma vez contei aqui na Tabanca Grande, que no primeiro ataque na Ponte dos Fulas, salvo o erro, o meu pensamento ser qualquer coisa como:
- Aqueles gajos são doidos! Ainda matam alguém a disparar para aqui!


Enfim, a noção de guerra ainda era um "sonho"!


A fotografia [, acima,] mostra empenagens de granadas de canhão sem recuo, julgo que recolhidas no quartel do Xitole após a flagelação de 4 de Abril de 1972. Ao fundo, a chamada vala da "messe de oficiais", da qual se vê uma ponta do alpendre de entrada.


Um abraço bem camarigo e sorridente do
Joaquim Mexia Alves


2. Onde é o arraial ???
por Joaquim Mexia Alves


Num almoço que a CART 3492 teve em Monte Real, há dois anos, talvez, o António Azevedo, nosso médico, (que deixou saudades) (**), durante uns tempos no Xitole, contou-me a seguinte história que tenho a certeza não levará a mal que aqui a reproduza.

Conta ele que quando foi o primeiro ataque ao Xitole estava no exterior da "messe" de oficiais, e ao ouvir os sons das saídas de morteiro e canhão sem recuo, começou a olhar para o ar para ver onde era o "arraial", pensando estar em Viana do Castelo,  nas festas ou coisa parecida.

Conta ainda que se sentiu projectado no ar e caiu dentro da vala, comigo por cima!

Tinha sido eu que o tinha "atirado" para a vala,  ao dar-me conta que ele não percebia o que se estava a passar!

Se fosse hoje, com o meu peso,... esmagava-o!!!!


____________


Notas do editor:


(**) De seu nome completo, António Alfredo Viana Pinheiro Azevedo, natural do Porto, ou a viver e a trabalhar no Porto,  neurologista do Hospital Stº  António. É conhecido profissionalmente pelo apelido de família, Pinheiro Azevedo. 


A informação é do Álvaro Basto, que foi Fur Mil Enf da CART 3942 (Xitole).  No nosso blogue também aparece como António Alfredo Azevedo ou Alfredo Pinheiro Azevedo:


17 de Abril de 2009  > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)

(...) Ora, esta alegada constatação do Álvaro Basto, cuja presença no Saltinho, bem como a do Alf Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo, me passou despercebida no meio daquela verdadeira barafunda – pelo menos, não me lembro de os ter visto -, leva (ou pode levar) os leitores a concluírem que nenhum dos mortos terá sido identificado e os familiares a interrogarem-se mesmo sobre a realidade (o quê ou quem?) escondida naquelas urnas seladas, chumbadas, que um dia lhes remeteram para casa. (...)


(...)  P1985 (22/07/2007: “… O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Médico Azevedo, que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, a fim de passarem as respectivas certidões de óbito. O Dr Azevedo, apesar da insistência do Lourenço (capitão da CCaç 3490) recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados…”.(...)


(...) Não corresponde, pois, à realidade a ideia de que não terá sido possível a identificação dos corpos, conforme poderia inferir-se do teor do P4117. Na verdade, o Fur Álvaro Basto e o Alf Médico Alfredo Azevedo poderão não o ter conseguido fazer (e, se calhar, é justamente isso que o Álvaro pretende dizer), justificando-se perfeitamente a eventual recusa de emissão das certidões de óbito (não conhecendo pessoalmente as vítimas e perante corpos tão maltratados, mais não se lhes poderia exigir, mesmo disponibilizando-lhes os documentos de identificação, com foto, da totalidade das vítimas). Mas, outros puderam fazê-lo com segurança: traços fisionómicos e/ou outros característicos permitiram, felizmente, esse reconhecimento, pelo que não havia razões para inventar nada, como terá sido o caso em situações análogas (constava, não sei se de facto existiram) verificadas nos três teatros de operações. De qualquer modo, acredito que, na Guiné, durante o consulado de António de Spínola, isso seria absolutamente desaconselhável de tentar, dado o pendor patriarcal do General e a sua reputação de Comandante-Chefe implacável para com os incompetentes e irresponsáveis. (...).








(...) [Comentário a este poste] Mensagem do Álvaro Basto, nosso prezado camarada, que é trambém um dos animadores da Tabanca de Matosinhos, e que foi Fur Mil Enf, na CART 3492 (Xitole e Ponte dos Fulas, 1971/74)















Luis: Excelente texto, este do Mário Miguéis a quem na passada quarta-feira tive o prazer de conhecer pessoalmente embora não o relacionando nem de perto nem de longe com este assunto. O esforço pela síntese da verdade na amálgama de tanta informação, alguma até contraditória, é merecedora do nosso mais vivo respeito e daqui quero expressar-lhe desde já os meus parabéns.















Muito do que tenho procurado transmitir tem sido ventilado com o Dr. Pinheiro Azevedo com quem continuo a ter excelentes relações e que por diversas vezes tenho tentado trazer à liça com as suas informações obviamente credíveis e esclarecedoras.















Adianto que irei uma vez mais insistir para que, também ele, dê o seu contributo esclarecendo e confirmando alguns dos aspectos mais relevantes desta tragédia especialmente no que concerne à identificação dos corpos. 















O horror dessa tarefa teve em mim duas acções contraditórias no tempo, por um lado nunca mais esqueci as suas imagens mais gerais e por outro (se calhar ditado pelo meu inconsciente), o de ter esquecido muitos dos pormenores.















Ficou-me com especial nitidez a imagem do [Alf] Armandino que jazia inanimado em cima de um unimog e os corpos mutilados e carbonizados nas casas de banho. Recordo-me da dificuldade que reinava em reconhecer muitos deles. Recordo-me que dois deles estavam especialmente mal tratados e que não haveria concenso quanto a saber-se quem era quem. Acho que o Dr. Alfredo Pinheiro Azevedo se recusou mesmo a assinar as respectivas certidões de óbito desses dois tendo-me contado que, mais tarde, em Bissau de partida para férias, foi confrontado com a insistência do Capitão Lourenço e tanto quanto sei do primeiro sargento da companhia que queriam.... arrumar aquela papelada... tendo-se no entanto este mantido firme e não tendo assinado... 















Mas para evitar mais especulações estou a mandar cópia deste mail ao Dr. Alfredo Viana Pinheiro Azevedo com um pedido solene aqui expresso de se pronunciar.... Esperemos que ele se decida a faze-lo depois de ler a síntese do Miguéis no Post 4194 e no Post 4200.Um grande Alfa Bravo. Álvaro Basto (...)







  

Em 2008, o Dr. Pinheiro Azevedo estava também registado como investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto (UP)


Fica uma dúvida:


 (i) o Joaquim Mexia Alves diz que ele, Dr. António   Azevedo, ou Pinheiro Azevedo [, foto da época, à esquerda], pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), que tinha companhias sediadas em Xitole (CART 3492), Mansambo (CART 3493) e Xime (CART 3494); 


(ii) o Álvaro Basto garante-me que o médico em causa (Dr. Pinheiro Azevedo) pertencia ao BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), com companhias em Cancolim (CCAÇ 3489), Saltinho (CCAÇ 3490) e Dulombi e Galomaro (CCAÇ 3491)...



22 de Julho de 2007  > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

(...) O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Mil Médico Azevedo [, foto actual à direita], que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, afim de passarem as respectivas Certidões de Óbito. O Dr Azevedo, apesar das insistências do Lourenço [, capitão da CCAÇ 3490], recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados.

Pergunta o Álvaro e agora também eu [, Paulo Santiago,] pergunto :
- Quem assinou as ditas certidões? (...) 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8467: Controvérsias (126): E no meio disto tudo isto... onde estão os combatentes, os tais que a Pátria devia contemplar? (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 21 de Junho de 2011:

Meus camarigos editores
Eu sou assim!
Escrevo com a caneta do coração!
Se calhar sou injusto com algumas pessoas.
Que me perdoem!
Mas estou-me a ver envelhecer, (e a todos nós), e receio muito que as gerações vindouras tenham de nós uma imagem deturpada e depreciativa.
E dói-me saber que alguns de nós, que juraram a bandeira de Portugal, "vindos de todas as partes", estão abandonados à sua desgraça, e nós que somos tantos ainda, nada ou pouco fazemos.
Será que não conseguimos juntar uns milhares, entre combatentes e familiares, e dizermos chega! a quem de direito, sobretudo pensando naqueles de nós que vivem na rua propriamente dita, ou na rua das suas doenças e desesperos?

Como sempre fica ao vosso discernimento a publicação.

Um abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves


E NO MEIO DISTO TUDO… OS COMBATENTES???

Têm sido dias férteis em actividades “culturais” e outras, à volta dos combatentes.

Vai-se explorando o filão, agora “recentemente” descoberto, pois afinal ainda há muitos combatentes e para além do mais os “gajos” até têm família e portanto um “mercado” a explorar.

E ouvem-se estes e aqueles, ouvem-se as mulheres, (verdade seja dita parte vivida, integrante e importante de toda a problemática dos combatentes), reúnem-se livros e antologias, mas não se vislumbra minimamente uma verdadeira preocupação com os combatentes, com a sua dignidade, sobretudo com aqueles abandonados, pela “Pátria que os devia contemplar” e não contempla.

E vamos lendo e sabendo de colóquios sobre a Guerra de África, homenagens diversas por este país fora, um monumento aqui, outro ali, uns discursos mais inflamados e outros nem tanto.

E muitos de nós, (eu muito provavelmente), vamo-nos deixando embalar nestes “cantos de sereia”, convencidos, (ou tentando convencermo-nos), que somos alguém e que o país, as letras e as artes, se preocupam connosco.

Não há melhor forma de adormecer a revolta, a indignação, que é ir falando das suas causas, dando razão, “passando a mão pelo pêlo”, e nada fazendo, enquanto os revoltados, os indignados, (nos quais me incluo), vão lambendo as feridas, cansados de tanto combate, tentando convencer-se de que têm alguma força, mas verdadeiramente e no fundo, se vão deixando dividir em teias politicas, em opiniões “politicamente correctas”, em “distribuições partidárias”, em narcóticas “manifestações artísticas”, a maior parte das vezes incompletas e de tendências politicas bem marcadas.

Será que os lucros de alguma destas obras, que nós combatentes tão afanosamente compramos, revertem no todo ou em parte, para aqueles de entre os combatentes, que abandonados pela sociedade, pelo país, pelo estado, apenas sobrevivem, e mal, às imensas dificuldades, provações e doenças que a própria guerra lhes acarretou ao serviço do seu país.

E com isto não me refiro obviamente às obras “particulares” de alguns autores, que têm todo o direito a receber a paga do seu trabalho e engenho, mas sim a certas obras, subsidiadas, financiadas, assentes no trabalho de outros, alguns combatentes, e que afinal nada trazem de ajuda àqueles que tanto precisam.

E eu também concordo que não sou nenhum ex-combatente, mas sim um combatente.
Faz parte do meu passado e o meu passado é o meu todo com o meu presente e o meu futuro.
Assim como se tivesse um nome familiar quando era criança, (que por acaso não tinha), do tipo “Quim”, ou outro qualquer, e que agora, não era por já não ser criança que passava a “ex-Quim”.

E isso também nos leva a perceber que estivemos ao serviço de Portugal, e não de um qualquer regime.
Os regimes passam, as Nações ficam, ou deviam ficar.
E se ficam, a responsabilidade das Nações para com os seus filhos permanecem.
Não podemos apenas querer reter as partes boas, e as riquezas, temos também de aceitar as dificuldades e as pobrezas.

Mas o que mais me revolta, para além da minha indignação total por causa dos combatentes abandonados, (e refiro-me aos da “Metrópole” e das então “Províncias Ultramarinas”), é que no fundo e de uma maneira geral, as coisas não mudam e nós “embarcamos” em panegíricos e elogios sobre certas obras, trabalhos, actividades e discursos que no fundo se servem de nós, mas se estão verdadeiramente “borrifando” para nós.

Alguma vez os organizadores/editores desta tão “proclamada” Antologia se permitiriam amputar sem licença um poema de Manuel Alegre, por exemplo?
Mas com toda desfaçatez, (e não compro a teoria do erro), fizeram-no a um poema do José Brás!

Explico-vos então porque não acedi a que a letra do Fado da Guiné, fosse publicada nesta Antologia.

É que ao ser contactado, logo informei e dei como muito útil para uma verdadeira Antologia deste tipo que tivessem em conta tantos poetas anónimos, (em que o nosso blogue é fértil, por exemplo), que tendo vivido a guerra na sua própria pele, dela escreviam em verso, como só quem viveu pode escrever.

Foi-me respondido que só fariam parte da Antologia, obras já publicadas, o que logo me fez perceber o “filme” da Antologia.
Mais do mesmo!

Poderia ficar aqui a escrever sobre toda esta revolta e indignação que teimam em viver em mim, como na maior parte de nós, mas talvez noutro dia continue estes pensamentos em voz alta, para “acordarmos” do torpor em que nos deixámos cair, a começar por mim próprio.

Deixo esta ideia.



Esta obra compro-a de muito boa vontade, não só para mim, mas para dar de presente em tantas e tantas ocasiões em que tal se proporciona.

Perdoem-me o arrazoado de palavras e se sou injusto com alguém, que me perdoe também, mas estou farto de ser espezinhado na pessoa daqueles que comigo lutaram na Guiné, Angola, Moçambique, e que o meu país, a sociedade do meu país despreza, embora de vez em quando deles se aproveite.

E estou zangado, sobretudo comigo próprio, que tão pouco faço, e tão impotente me sinto para mudar as coisas.

Um abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
Alf Mil Op Esp
Guiné - 1971/73
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8446: Convívios (349): 12º Encontro da Tabanca do Centro, 29 de Junho (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8440: Controvérsias (125): As feridas da guerra (José Firmino)

sábado, 17 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6755: Parabéns a você (133): Dia 17 de Julho de 2009 - Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492 (Editores)


1. Completa hoje 61 anos de idade o nosso Camarada, Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492 (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca), 1971/74.

O Álvaro Basto apresentou-se à Tabanca Grande no poste P1888, de 26 de Junho de 2007, do qual retiramos o seguinte extacto:

[...] O meu nome é Álvaro Basto, tenho 58 anos e, tal como vocês, não escapei ao Servicinho Militar Obrigatório em 70.
Após algumas cabulices no liceu, fui incorporado nas Caldas da Rainha e posteriormente em Lisboa no HMP - Hospital Militar Principal - vindo, após os 3 meses obrigatórios da especialidade, a ser integrado como enfermeiro no HMR (Hospital Militar Regional) do Porto onde sempre vivi e onde permaneci um ano inteiro (pertinho de casa, vejam lá a sorte e os maus hábitos que adquiri)...
No início de Dezembro de 1971 sou informado que iria embarcar no dia 18 seguinte para a Guiné (imaginem o choque lá em casa, filho único... há um ano praticamente em regime de emprego civil perto de casa; enfim, foi o drama, um drama afinal igual a tantos e tantos outros que na altura grassavam pelas famílias portuguesas...).
Não embarquei no dia 18 mas em 22 desse mesmo mês (acho que a explicação já foi aqui, na tertúlia, avançada por um camarada) e foi nessa viagem que conheci o Mexia Alves, o António Barroso e o Artur Soares, digníssimos tertulianos aqui presentes, integrado na CART 3492 (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca).
Temos pois muitas estórias em comum e um acervo fotográfico interessante que, apesar do desgaste do colorido provocado pelo tempo, se tem mantido em condições razoáveis.
Logo após o regresso da Guiné que para mim, por ser Furriel Enfermeiro, durou até ao dia 1 de Abril de 1974 (dia de enganos, daí eu dizer sempre que só regressei de lá vivo por engano...), ainda mantive o contacto com alguns daqueles com quem mais tinha privado, mas o stress era tal que decidi afastar de vez da mente aquela época vivida longe, que teve muitos maus momentos, mas teve sobretudo um papel importantíssimo na minha formação social com os seus incontáveis momentos de alegria e descontracção, que em conjunto aí vivemos todos. [...]

O Álvaro junto so seu jovial, inseparável e amigo pai Ronaldo Basto (postal da autoria do casal Miguel & Giselda Pessoa)

3. Independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos neste poste, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca, que por vários motivos não puderem enviar-te as suas mensagens, queremos:

  • Desejar-te neste teu aniversário os nossos maiores e melhores votos, para que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.
    E mais te desejamos, que por longas e prósperas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos da Guiné te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no cantinho reservado aos comentários.
    Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que como tu, um dia, carregaram uma G3 & outras cargas de trabalhos por tarrafos, matas e bolanhas da Guiné.

Com montanhas de abraços fraternos.

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
__________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

17 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6753: Parabéns a você (133): José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73 (Editores)

sábado, 1 de maio de 2010

Guiné 63/74 – P6291: Memória dos lugares (78): No Xitole: Francisco Silva, Lima Rodrigues, António Barroso e... (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 16 de Abril de 2010:

Meus caros camarigos
A propósito do Francisco Silva**, agora afamado médico ortopedista, anexo duas fotografias no Xitole que mal se vêem dada a sua antiguidade.

O Francisco Silva, Alferes Miliciano, foi para a CART 3492, já no Xitole, (Abril de 72?) em substituição do, salvo o erro, Alf Mil Oliveira, que nunca chegou a embarcar.

Segundo me lembro, julgo que esteve nos Pára-quedistas, não me lembrando se chegou a tirar a Especialidade completa, ou não.

Entretanto, eu saí da 3492 para o Pel Caç Nat 52, e pelo que sei o Francisco Silva terá rumado mais tarde então para o Pel Caç Nat 51.

Na 1.ª fotografia da esquerda para a direita: eu, o Lima Rodrigues, o Francisco Silva e o António Barroso.

Na 2ª fotografia da esquerda para a direita: o Francisco Silva, o Lima Rodrigues e o António Barroso.

Já enviei mail ao Jorge Narciso, em resposta a um dele por causa do almoço da Tabanca do Centro, pedindo-lhe para lembrar ao Francisco Silva o Convívio da Tabanca Grande em Junho.

Um abraço camarigo para todos
joaquim


Da esquerda para a direita: Mexia Alves, o Lima Rodrigues, o Francisco Silva e o António Barroso

Da esquerda para a direita: Francisco Silva, o Lima Rodrigues e o António Barroso.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6275: Blogopoesia (71): Giselda, o anjo que vinha do céu (Joaquim Mexia Alves)

(**) Vd. poste de 26 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6252: Tabanca Grande (215): O Francisco Silva, hoje cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra, foi o substituto do infortunado Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51, morto por um dos seus homens em 16 de Julho de 1973

Vd. último poste da série de 5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6107: Memória dos lugares (70): Jumbembem 1973/74 (Fernando Araújo, ex-Fur Mil da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6258: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (1): A viagem

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 16 de Abril de 2010:

Meus caros camarigos Luís, Carlos, Virgínio e Eduardo
Recomposto agora das dores de “crescimento” por força de ter feito 61 anos, venho colocar à vossa douta consideração uma “ideia” que me “relampejou” precisamente e por causa do meu agradecimento aos “inúmeros comentários/parabéns”, (é só para fazer inveja ao Eduardo e ao Carlos), e que é o seguinte.

Os versos que então enviei fazem parte de uma etapa da minha vida, que de maneira muito concreta se prendem com a minha “estadia” na Guiné.

Com efeito, passados 20 anos da minha ida para a Guiné, deparei-me, ou melhor tive de me confrontar com a vida que tinha vivido e vivia, e que não era de modo nenhum uma vida que tivesse sentido.

A ida e permanência na Guiné, desorganizaram-me por completo e não tendo conseguido uma reintegração normal na sociedade de Lisboa ao tempo do meu regresso, rumei a Luanda, julgando que voltando a África, conseguiria encontrar o equilíbrio que me faltava.

Se por um lado não me meti em “sarilhos de maior”, o ter levado com o 25 de Abril em África, e a vivência nessa terra cheia de excessos, em vez de me ajudarem a encontrar caminho, pelo contrário mantiveram-me num estado latente de nervosismo e insensatez que se vai revelar nos anos seguintes já em Portugal, até pelo menos por volta de fins de 1991, precisamente 20 anos depois do meu embarque para a Guiné.

Nessa altura, algo começa a mudar em mim e eu começo a questionar-me sobre a minha vida e o sentido da mesma.

Hoje quando olho para trás, acredito que terá sido um prenúncio do meu encontro com a Fé Cristã e Católica que vai mudar radicalmente a minha vida.

Tudo isto para dizer, que nesse período de fins de 1991 e inicio 1992, coloco em causa a minha própria vida, passada, presente e futura, e faço-o algumas vezes por escrito, de que é exemplo os versos que já foram publicados na Tabanca Grande.

Pois o que leva a todo este “arrazoado” de palavras que vos escrevo, é colocar à vossa consideração a publicação de alguns escritos desse tempo, como por exemplo uma série com um título do tipo:
“20 Anos depois da Guiné, à procura de mim!”

Agora, com toda a amizade e frontalidade que nos une, quero pedir-vos que sejam perfeitamente directos na vossa apreciação e me digam “preto no branco” se tem sentido e cabe na orientação “editorial” da Tabanca Grande a publicação de tais escritos.

Com a mesma amizade e alegria aceitarei a vossa decisão.

Anexo um primeiro texto, em prosa, que podereis publicar ou atirar para a “cesta secção”, conforme melhor entenderdes.

Um grande e camarigo abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves



DEPOIS DA GUINÉ À PROCURA DE MIM

20 ANOS DEPOIS (1)

A Viagem

Estou sentado na areia da praia com as mãos apoiando o queixo e o olhar fixo no longe.

Na minha cabeça passam as imagens, (imaginadas), das caravelas a partir rumo ao desconhecido.

Uma ponta de inveja começa a crescer dentro de mim e em pouco tempo transforma-se numa exaltação que me enche por completo.

Partir para sítio nenhum, onde nada existe e onde tudo talvez nada se encontre!

Que aventura, que excitação, que desafio!

Vejo-me já a cruzar as águas dos oceanos, a minha imagem a rir de exaltação, reflectida no espelho prateado das ondas, as gaivotas a acompanharem-me no seu vôo perfeito, a incitarem-me com o seu grasnar ensurdecedor e aquela permanente sensação de estar quase a chegar a lado nenhum.

E se não há mais Terra? E se tudo acaba no espaço? E se não chego ao fim só porque não há fim nenhum?

É quase brutal a alegria de querer conhecer o desconhecido. Traz-me cânticos aos lábios, o meu cérebro trabalha a velocidades já mais atingidas, o meu corpo está dorido de tanta excitação inacabada.

Já lá vai tanto tempo e eu continuo a viagem com a mesma vontade com que a comecei.

De repente surge um ponto no horizonte que rapidamente ganha tamanho e importância.

É uma explosão de vida! Cheguei, consegui, descobri!!!

E é um paraíso, nada falta, tudo é bom, tudo é calmo. A sensação vai crescendo à medida da descoberta, cada vez é mais forte, mais completa.

Desta vez acertei!

Depois de tudo conhecido e explorado, passada a euforia da conquista, começo a reparar que afinal sempre deve haver melhor, sempre deve haver mais coisas, sempre deve haver mais calma, sempre deve haver mais ... tudo.

E recomeça a inquietação, o não poder estar parado, a falta de qualquer coisa para a qual devo estar fadado.

Aquela sensação dorida de que se tudo já está satisfeito, eu ainda tenho muita vida para descobrir, para viver, para criar.

Alguém precisa de mim, em algum sítio, em algum tempo, em algum espaço.

Nem que esse alguém, seja eu!

Preparo-me para a nova viagem, que no fundo é a mesma. E rio-me. Rio-me, porque os meus preparativos para a viagem, são partir!

Mais uma vez as sensações fortes e amigas tomam conta de mim: a boca ri, os olhos brilham, o corpo incha de excitação, a cabeça fervilha de ideias perfiladas, que nunca acabam, onde as outras não começam.

E parto mais uma vez com o coração ao alto, tendo como companheiro de viagem o meu próprio sentir.

E o que mais me espanta é que nada disto me cansa, porque nesta viagem tão longa, todos os dias há coisa nova, não há ondas que sejam iguais, nuvens que sejam parecidas, nem caminhos que se sobreponham.

Há um renovar constante, um renascer permanente. Até o caminho percorrido tem coisas para descobrir.

Mas o que é mais interessante, é saber que nunca vai acabar, que a viagem vai continuar e que se alguém me quiser acompanhar tem de ter a mais linda qualidade: é o nunca querer ficar!!!

Chegarei ao fim um dia?

Se chegar, meu Deus, não me faças acabar, enche-me todo de sentir e então faz-me ... explodir!!!

Escrito em 26.11.91
__________

Nota de CV:

(*) Vd. postes de:

23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6223: O 6º aniversário do nosso blogue (18): Ensinamento de vida (Joaquim Mexia Alves)
e
6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6112: Parabéns a você (99): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil OP Esp (Os editores)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6252: Tabanca Grande (215): O Francisco Silva, hoje cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra, foi o substituto do infortunado Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51, morto por um dos seus homens em 16 de Julho de 1973


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita ao sul > Em primeiro palno, ao meio, o Dr. Francisco Silva, madeirense, cirurgião, especialista em ortopedia,  a exercer  o Hospital Fernando da Fonseca, Amadora-Sintra, médico assistente do nosso camarada Hugo Guerra. À sua esquerda, a Maria Alice e à direita Salifo Camará, 87 anos, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria. Foto tirada por ocasião da visita ao centro de saúde materno-infantil de Iemberem.

O que eu não sabia é que o Francisco Silva tinha um "segredo" para me contar...

O Francisco Silva, que viajou de jipe, por terra, com mais camaradas, na viagem à Guiné, de ida e volta, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008), foi Alferes Miliciano, tendo pertencido à CART 3492, que esteve no Xitole (com o Joaquim Mexia Alves e o Álvaro Basto).

O Francisco Silva revelou-me  na altura ter saído da CART 3492 para substituir um alferes morto, pelos seus homens, guineense,  do  Pel Caç Nat 51, sediado em Jumbembem, sector de Farim. Segundo o Francisco Silva, o alferes terá sido morto por que "era um tipo bom de mais, com problemas para impor a sua autoridade ao pelotão (que era etnicamente heterogéneo, e tinha um historial de problemas de disciplina)"...

Sabemos agora, através do Fernando Araújo (*), que esse infortunado camarada chamava-se Nuno Gonçalves da Costa, era natural de Arcos de Valdevez, e terá sido morto, "traiçoeiramente", a sangue frio, à queima-roupa, " com 3 tiros de G3", disparados por um militar do seu Pel Caç Nat 51, que não acatou uma ordem que lhe foi dada  pelo seu comandante. A data fatídica foi em 16 de Julho de 1973. Os seus restos mortais repousam no cemitério da sua freguesia natal, São Jorge.








Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > Miniencontro do pessoal da Tabanca Grande  (**) > Virgínio Briote e o Francisco Silva, hoje, médico, ortopedista no Hospital Amadora-Sintra (colega, portanto de outro membro da nossa Tababa Grande, o Dr. João Graça, interno de psiquiatria, embora ainda não se conheçam pessoalmente)... 

O Francisco esteve no Xitole, na CART 3492 (1971/74) (com, entre outros  camaradas membros da nossa Tabanca Grande, o J.  Mexia Alves, o Álvaro Basto, o Artur Soares, o António Barroso, nomes que me vêm à memória, e que eu cito de cor, correndo o risco de esquecer outros...), e depois em Jumbembem, na região de Farim (onde lhe coube substituir o comandante do Pel Caç Nat 51, tragiicamente baleado por um dos seus soldadpos, em 16 de julho de 1973)... 

O Francisco Silva tem comparecido, juntamente com a esposa, Elisabete Silva, nos nossos convivios, quer da Tabanca Grande,  quer da Tabanca de Matosinhos (pelo menos uma vez, quando foi a um congresso médico , no Porto, em Outubro de 2009), quer da sua companhia original, a CART 3492.

O Francisco já consta, desde Março de 2008, da nossa lista de membros da Tabanca Grande. Julgo que nos falta o seu endereço de email. E uma foto do tempo de Guiné. De qualquer modo, é injusto não ter sido ainda formalmente apresentado à nossa Tabanca Grande. Fica aqui reparado o lapso.

Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservad
os
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Notas de L.G.: