Não cheguei a ver o filme. Quanto à imagem à esquerda, julgo tratar-se de uma operadora de radiotelegrafia (código de Morse) do PAIGC. (LG)
Fonte: Arsenal – Institut für film und videokunst e.V., Berlim, com a devida vénia.
Alguns comentários dos nossos camaradas ao poste P15702 (*)
1. José Manuel Cancela [ ex-soldado apontador de metralhadora, CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70]
Caros amigos: há aqui qualquer coisa que na bate certo. Estive enm Nhala, entre novembro de 1968 e meados de janeiro de 1969. O meu pelotão foi rendido por um outro da minha companhia, a CCAÇ 2382. É possível que os meus camaradas tivessem sido atacados em 20 de janeiro de 69, mas tenho a certeza absoluta que não houve nenhum morto, nem tão pouco feridos...
2. António J. Pereira da Costa [coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)]
Olá, camaradas: O problema é que, enquanto nós fazíamos relatórios verdadeiros no que aos feridos e mortos dizia respeito, o insidioso, ardiloso e mauzinho IN "tinha que apresentar serviço" , daí que os camaradas (guerrilheiros/patriotas/revolucionários) "matassem que se fartavam" (como o Shelltox) e destruíssem tudo, ou quase tudo, nos Campos Entrincheirados dos Colonialistas, Salazaristas, Fascistas e Lacaios do Imperialismo.
Aquela dos dois helicópteros a descer por duas vezes é de partir a moca. E uma mensagem manuscrita com a palavra STOP a servir de ponto final é-o ainda mais.
Claro que, com amigos como estes, o povo guineense, hoje não precisa de inimigos.
3. Antº Rosinha
[o último "colonialista português", ou pelo menos o único que faz questão de "dar a cara"; emigrou para Angola nos anos 50, foi fur mil em 1961/62; saiu de Angola com a independência, emigrou para o Brasil e finalmente foi topógrafo da Tecncil, Guiné-Bissau, em 1979/93, como "cooperante"; resumindo, é um "ex-colon e retornado", como vem no seu cartão de visita; é membro sénior da nossa Tabanca Grande, o "nosso mais velho", como se diz em África, e por isso, ouvido e respeitado; gosta de dizer o que pensa, sem pensar no politicamente correto]:
É imensamente útil para a história que um dia este blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné vai deixar para a posteridade, estas transcrições arquivadas na Fundação Mário Soares.
Vários motivos: um dos motivos, enorme contradição, este arquivo pertencer à Fundação de Mário Soares, figura anticolonialista a toda a prova, e que em Bissau, MS seja muito pouco apreciado quer pelos antigos guerrilheiros do PAIGC, quer pelos sobreviventes à matança sofrida pelos comandos guineenses que lutaram ao nosso lado (posso explicar noutro lugar esta minha constatação, se interessar).
Outro motivo é que os relatos estão escritos em Português correctíssimo, idioma que corre sérios riscos por aquelas bandas, sempre fica a memória que ali alguém falava um bom português.
Estes relatos também servem para mostrar que não havia áreas libertadas. Poderia apenas áreas abandonadas, o que não era a mesma coisa.
4. José Botelho Colaço [ex-soldado trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65)]
Os comunicados do PAIGC eram assim, passe a publicidade,"com Dum-Dum não escapa um".
A Companhia de Caçadores 557 no Cachil na noite de 16 de Novembro de 1964, no noticiário do dia 17 da emissora Voz da Liberdade, os militares colonialistas tinha sido dizimados, não escapou um! De facto fizeram um ataque ao quartel em 16-11-1964 mas nem um único ferido sofremos nessa noite.
5. António J. Pereira da Costa
[o último "colonialista português", ou pelo menos o único que faz questão de "dar a cara"; emigrou para Angola nos anos 50, foi fur mil em 1961/62; saiu de Angola com a independência, emigrou para o Brasil e finalmente foi topógrafo da Tecncil, Guiné-Bissau, em 1979/93, como "cooperante"; resumindo, é um "ex-colon e retornado", como vem no seu cartão de visita; é membro sénior da nossa Tabanca Grande, o "nosso mais velho", como se diz em África, e por isso, ouvido e respeitado; gosta de dizer o que pensa, sem pensar no politicamente correto]:
É imensamente útil para a história que um dia este blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné vai deixar para a posteridade, estas transcrições arquivadas na Fundação Mário Soares.
Vários motivos: um dos motivos, enorme contradição, este arquivo pertencer à Fundação de Mário Soares, figura anticolonialista a toda a prova, e que em Bissau, MS seja muito pouco apreciado quer pelos antigos guerrilheiros do PAIGC, quer pelos sobreviventes à matança sofrida pelos comandos guineenses que lutaram ao nosso lado (posso explicar noutro lugar esta minha constatação, se interessar).
Outro motivo é que os relatos estão escritos em Português correctíssimo, idioma que corre sérios riscos por aquelas bandas, sempre fica a memória que ali alguém falava um bom português.
Estes relatos também servem para mostrar que não havia áreas libertadas. Poderia apenas áreas abandonadas, o que não era a mesma coisa.
4. José Botelho Colaço [ex-soldado trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65)]
Os comunicados do PAIGC eram assim, passe a publicidade,"com Dum-Dum não escapa um".
A Companhia de Caçadores 557 no Cachil na noite de 16 de Novembro de 1964, no noticiário do dia 17 da emissora Voz da Liberdade, os militares colonialistas tinha sido dizimados, não escapou um! De facto fizeram um ataque ao quartel em 16-11-1964 mas nem um único ferido sofremos nessa noite.
5. António J. Pereira da Costa
Volto à antena para lembrar que a Fundação Mário Soares é tida como uma entidade fiável.
Porém é capaz de não ser bem assim...
É mau que assim seja e que esteja recheada com "pérolas operacionais" deste tipo.
Será uma maneira de agranelar a nossa memória colectiva. Dentro de alguns anos, estes "relatórios" serão valorizadíssimos por investigadores "independentes", oriundos da Suécia ou de outro país democrático similar, que se fundamentarão em documentos como estes para contraditar o que os documentos militares portugueses disserem.
Não será uma maneira muito curial, mas lá que vai dar resultado, isso vai...
6. Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]
Como curiosidade. Os dois primeiros documentos são escritos pela mesma pessoa, embora remetidos por 'Marga' [' Nino' Vieira] e 'Iafai Camará'... Ou tratava-se de uma transcrição de transmissão via rádio/morse? (daí o Stop).
O terceiro documento, do 'Gazela' [Agostinho Cabral de Almada], parece escrito por alguém com Curso Superior, muito habituado a escrever.
É evidente, que em tempo de guerra, as forças beligerantes utilizavam métodos de informação/contra- informação para iludir o IN e empolgar as suas tropas.
Cheguei a ouvir a rádio do PAIGC relatando um ataque a Canquelifá, numa noite em que eu lá estava, mas eu nunca sofri nenhum ataque em Canquelifá.
Estes documentos não deixam de ser muito importantes mas, no meu ponto de vista, devem ser analisados como informação/contra informação.
7. Carlos Vinhal, Leça da Palmeira, editor [ ex-fur mil art MA, CART 2732, Mansabá, abril de 1970/março de 1972]
Não sei qual a utilidade prática da divulgação destes "documentos". É tal a aldrabice que nem de consolo servem a quem, à luz de hoje, é crítico à actuação da nossa tropa na guerra do ultramar ou colonial de então.
9. António J. Pereira da Costa
OK, mas talvez fosse bom começar já exarar comentários que permitam desmontar o que é falso e não corresponde à realidade e a própria realidade.
Nos Arquivo Amílcar Cabral [, alojado no portal Casa Comum, organizado pela Fundação Mário Soares,] a documentação está manipulada e de modo grosseiro e desonesto, com a finalidade única de agradar ao chefe ou "ao partido".
Sendo assim, quem falasse verdade ficava, pelo menos, mal visto.
Os resultados de uma flagelação ou de uma emboscada são difíceis de contabilizar. Por alguma razão nos nossos relatórios aparece a expressão "Grupo In não estimado", só contavam os "mortos confirmados", isto é, os cadáveres abandonados na fuga ou os feridos efectivamente capturados. As poças de sangue, ou os arbustos partidos pelo "arrastamento dos corpos dos feridos" não contavam como efeitos e nós não tínhamos que agradar ao Partido, o que nos tornava mais honestos nas nossas declarações.
Isto para dizer que os nossos relatórios são mais fiáveis do que os do PAIGC.
Em que é que se fundamentaria aquele chefe para redigir o seu "relatório"? Na sua observação directa? Em elementos infiltrados?
Se calhar será boa ideia que se tenha em conta as características dos procedimentos habituais dos responsáveis de ambas as forças em presença. Além disso, se há coisas que todos sabemos é o número de mortos e feridos e respectivas condições que, vêm sempre à memória nos nossos encontros.
No fundo, estamos perante uma inquinação da informação, ditada por motivos pouco honestos e necessidade de apresentar resultados, mas sempre uma inquinação determinada por povos que nem memória têm e fazem gala nisso. Não esqueçamos que a História da Guiné só pode ser escrita do exterior, visto que as fontes são imprecisas, no mínimo, quando as há. E ainda hoje, como é?
Estamos distraídos? A título de exemplo recordo só "o golpe do Ansumane Mané"...
Claro que Arquivos são Arquivos, mas... não é só com uma correcta interpretação que devem ser abordados. Nas respectivas documentações encontramos montanhas de documentos que não corresponde nem aproximadamente à verdade. (**)
_____________
8. Luís Graça, editor [ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, jun 69/ mar 71]
É por estas e por outras que o editor LG fez a seguinte observação:
(...) "Reprodução feita aqui com a devida vénia, e para fins exclusivos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. A divulgação destes documentos não implica a validação da sua informação ou a sua aceitação, mas tão apenas o reconhecimento do seu eventual interesse documental para os nossos leitores (e para a historiografia da presença portuguesa em África).
"Compulsados os elementos de que dispomos, para as datas em questão (20/1/1969, 23/3/1969 e 26/7/1971), só encontramos um morto, das NT, em combate, em 20/1/1969: trata-se do sold at Alberto Gonçalves Pinto, natural de Semelhe, Braga, que pertencia à CART 1744, 20/7/1967 - 25/5/1969... Mas esta companhia esteve no norte, na região do Cacheu, em São Domingos, não no sul, em Nhala, ao que apurámos... (LG)"
Amigos e camaradas: para mim, que sou sociólogo, e investigador na área das ciências sociais em saúde, todos os arquivos são "valiosos", o que não quer dizer que tenhamos que considerar, à partida, que a informação que lá vamos encontrar é válida e fiável... Nos arquivos, não há sequer informação, há dados, que depois de "tratados" e "analisados", podem e devem dar origem a informação e conhecimento, ou seja, "produto científico"... É o caso dos arquivos da PIDE/DGS, ou do arquivo pessoal de Salazar e dos outros, milhares, de arquivos que estão na nossa Torre do Tombo, a nossa "memória coletiva"...
Espero que daqui a 100 anos, o nosso blogue também sirva para alguma coisa...
É por estas e por outras que o editor LG fez a seguinte observação:
(...) "Reprodução feita aqui com a devida vénia, e para fins exclusivos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. A divulgação destes documentos não implica a validação da sua informação ou a sua aceitação, mas tão apenas o reconhecimento do seu eventual interesse documental para os nossos leitores (e para a historiografia da presença portuguesa em África).
"Compulsados os elementos de que dispomos, para as datas em questão (20/1/1969, 23/3/1969 e 26/7/1971), só encontramos um morto, das NT, em combate, em 20/1/1969: trata-se do sold at Alberto Gonçalves Pinto, natural de Semelhe, Braga, que pertencia à CART 1744, 20/7/1967 - 25/5/1969... Mas esta companhia esteve no norte, na região do Cacheu, em São Domingos, não no sul, em Nhala, ao que apurámos... (LG)"
Amigos e camaradas: para mim, que sou sociólogo, e investigador na área das ciências sociais em saúde, todos os arquivos são "valiosos", o que não quer dizer que tenhamos que considerar, à partida, que a informação que lá vamos encontrar é válida e fiável... Nos arquivos, não há sequer informação, há dados, que depois de "tratados" e "analisados", podem e devem dar origem a informação e conhecimento, ou seja, "produto científico"... É o caso dos arquivos da PIDE/DGS, ou do arquivo pessoal de Salazar e dos outros, milhares, de arquivos que estão na nossa Torre do Tombo, a nossa "memória coletiva"...
Espero que daqui a 100 anos, o nosso blogue também sirva para alguma coisa...
9. António J. Pereira da Costa
OK, mas talvez fosse bom começar já exarar comentários que permitam desmontar o que é falso e não corresponde à realidade e a própria realidade.
Nos Arquivo Amílcar Cabral [, alojado no portal Casa Comum, organizado pela Fundação Mário Soares,] a documentação está manipulada e de modo grosseiro e desonesto, com a finalidade única de agradar ao chefe ou "ao partido".
Sendo assim, quem falasse verdade ficava, pelo menos, mal visto.
Os resultados de uma flagelação ou de uma emboscada são difíceis de contabilizar. Por alguma razão nos nossos relatórios aparece a expressão "Grupo In não estimado", só contavam os "mortos confirmados", isto é, os cadáveres abandonados na fuga ou os feridos efectivamente capturados. As poças de sangue, ou os arbustos partidos pelo "arrastamento dos corpos dos feridos" não contavam como efeitos e nós não tínhamos que agradar ao Partido, o que nos tornava mais honestos nas nossas declarações.
Isto para dizer que os nossos relatórios são mais fiáveis do que os do PAIGC.
Em que é que se fundamentaria aquele chefe para redigir o seu "relatório"? Na sua observação directa? Em elementos infiltrados?
Se calhar será boa ideia que se tenha em conta as características dos procedimentos habituais dos responsáveis de ambas as forças em presença. Além disso, se há coisas que todos sabemos é o número de mortos e feridos e respectivas condições que, vêm sempre à memória nos nossos encontros.
No fundo, estamos perante uma inquinação da informação, ditada por motivos pouco honestos e necessidade de apresentar resultados, mas sempre uma inquinação determinada por povos que nem memória têm e fazem gala nisso. Não esqueçamos que a História da Guiné só pode ser escrita do exterior, visto que as fontes são imprecisas, no mínimo, quando as há. E ainda hoje, como é?
Estamos distraídos? A título de exemplo recordo só "o golpe do Ansumane Mané"...
Claro que Arquivos são Arquivos, mas... não é só com uma correcta interpretação que devem ser abordados. Nas respectivas documentações encontramos montanhas de documentos que não corresponde nem aproximadamente à verdade. (**)
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Notas do editor:
(*) Vd, poste de 3 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15702: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (16): Três referências a ações do PAIGC contra as NT em Nhala
(**) Último poste da série > 28 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15683: (De)Caras (28): Rescaldo da Sessão evocativa do 20 de Janeiro de 1973: Colóquio “Quem mandou matar Amílcar Cabral?”, organização da Embaixada da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)
(*) Vd, poste de 3 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15702: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (16): Três referências a ações do PAIGC contra as NT em Nhala
(**) Último poste da série > 28 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15683: (De)Caras (28): Rescaldo da Sessão evocativa do 20 de Janeiro de 1973: Colóquio “Quem mandou matar Amílcar Cabral?”, organização da Embaixada da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)