1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2010:
Queridos amigos,
Este livro sobre a transição democrática na Guiné-Bissau, é obra de dois cientistas sociais, os seus pontos de vista são necessariamente discutíveis, mas até penso que nós todos no blogue aceitamos como pacíficas estas análises, bem distantes do que é hoje a realidade daquele país.
Um abraço do
Mário
A transição democrática na Guiné-Bissau: décadas de 80 e 90
Beja Santos
Dois cientistas sociais, Johannes Augel (sociólogo e historiador) e Carlos Cardoso (filósofo e antropólogo), ambos investigadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa – INEP, nos anos 90, reflectiram sobre acontecimentos marcantes na Guiné-Bissau, designadamente a passagem do sistema económico de um modelo altamente centralizador sob uma tutela política monolítica para um sistema de economia de mercado sob um figurino multipartidário. Assim nasceu o livro “Transição Democrática na Guiné-Bissau” edição do INEP, Bissau, 1996.
Durante a década de 80, a Guiné-Bissau, tal como o Gana, a Costa do Marfim, o Senegal, e outros países, pediram ajuda ao FMI e ao Banco Mundial. Todos eles se encontravam mergulhados numa profunda crise económica. Os primeiros 15 anos da Guiné-Bissau como país independente caracterizaram-se por um regime autoritário de partido único, com não poucas vezes a violação dos direitos elementares da pessoa humana e uma política económica desastrosa. Em 1983, anunciou-se a vontade de liberalizar que em 1987 a Guiné-Bissau aceitou um Programa de Ajustamento Estrutural - PAE. Previam-se três fases distintas: estabilização económica-financeira; reequilíbrio da economia; desenvolvimento económico autónomo. O PAE não produziu os efeitos esperados. A década de 90, considerou-se mesmo que a situação económica que se estava a viver era resultado da má gestão dos recursos destinados ao desenvolvimento socioeconómico do país. Crescer a dívida externa e agravara-se o fosso entre ricos e pobres. O impacto social da liberalização dos mercados foi brutal. Enquanto uma classe de agricultores privados beneficiou dos primeiros créditos concedidos pelo Banco Mundial e pelo FMI, a pequena burguesia e o campesinato conheceram a pauperização, nomeadamente os funcionários de estado não pertencentes aos escalões superiores da administração, os operários e os trabalhadores do sector informal. O país foi convulsionado pelas greves.
O PAE implicou uma elevada tensão política no PAIGC. No seu IV Congresso, em Novembro de 1986, o PIAGC admitiu que as estruturas socioeconómicas do país tinham que ser alteradas, acompanhadas por reformas políticas. Aí a direcção do PAIGC dividiu-se entre a manutenção do statu quo (o PAIGC devia continuar a ser o motor das transformações e a força política dirigente da sociedade) e aqueles que apelaram ao multipartidarismo. A discussão prolongou-se até 1991, altura em que foram aprovadas medidas importantes para desencadear o processo de abertura: alteração constitucional; decisão de despartidarizar as Forças Armadas e a liberdade associativa, incluindo o direito à livre expressão.
Para se entender melhor esta demora entre a prometida liberalização e a abertura política e económica, os autores debruçam-se sobre as crises do PAIGC. Primeiro, a alegada tentativa de golpe de Estado, em Outubro de 1986, em circunstâncias que estão ainda por esclarecer, em que foram condenados à morte altos dirigentes e militantes do partido, com Paulo Correia à cabeça. Segundo, o aparecimento da Carta dos 121, em 1991, quando o PAIGC se dividiu entre os conservadores e os partidários da mudança. Nesta altura, caminhava-se informalmente para o aparecimento de partidos como o Partido de Renovação Social e o Movimento Bafatá, as duas primeiras importantes forças da oposição guineense. Também neste ponto os autores recordam a singularidade do PAIG: fiel às orientações seguidas nas zonas libertadas, o PAIGC manteve uma estrutura de poder fortemente centralizada; a seguir à independência, os régulos e as estruturas de poder tradicionais foram desprezados, acompanhando-se este processo com a perseguição das forças militares que tinham apoiado a presença portuguesa. A par destes erros de actuação política, a estatização da economia atingiu o delírio, aumentando a escalada da procura de um inimigo interno, sempre à procura de um culpado do afundamento do país. Assim se chegou ao 14 de Novembro de 1980, instaurando-se um regime centralizado no Presidente Nino Vieira. Com o anúncio da liberalização económica e com as crescentes dissidências dentro do PAIGC nasceram o Partido de Renovação e Desenvolvimento e o Partido da Convergência Democrática, bem como a frente democrática social. A FLING – Frente de Luta para a Independência Nacional da Guiné ressuscitou.
E assim tiveram lugar as primeiras eleições livres, na década de 90. A oposição ao PAIGC era jovem, cheia de líderes ambiciosos, na generalidade mal preparados. Não conseguiram uma plataforma de entendimento. O PAIGC conseguiu uma maioria em termos de eleição de deputados à Assembleia Nacional Popular, enquanto João Bernardo Vieira se viu obrigado a disputar a segunda volta com Cumba Ialá, ganhando com uma diferença de apenas 13000 votos. Partidos como a Convergência Democrática, que se previa serem fortes opositores, não o foram. Os autores consideram que os líderes não tiveram em conta que o discurso fogoso desses jovens não foi bem aceite pelos “homens grandes” – eram jovens competentes que não perceberam o funcionamento eleitoral duma sociedade africana tradicional.
O PAIGC foi incapaz de constituir um aparelho de Estado com todos os licenciados de que estava dotado, em 1974, promoveu a hipertrofia do funcionalismo público, tornou-se um oportunista da ajuda internacional, em que os países doadores aprovavam financiamentos sem qualquer vigilância, sobretudo sem qualquer controlo do dinheiro que entrava nos cofres do Estado. Os antigos combatentes, a quem se tinha prometido dignidade, foram marginalizados, não se lhes deu oportunidade para a reciclagem, tornaram-se amargos e até estranhos ao PAIGC. A incapacidade para liberalizar com solidez fomentou de algum modo o tribalismo, isto quando o Estado parecia ir repousar numa grande tolerância religiosa e na miscigenação etno-cultural, conseguindo até superar um preconceito muitas vezes iludido aos cabo-verdianos. Os autores também passam em revista o crescimento desmesurado de Bissau, que acabou por se transformar num devorador de recursos e uma fonte crescente de problemas sociais. Por último, os autores interpelam se o crioulo não deve funcionar como a língua da educação, já que é língua da comunicação e da entidade de todas as etnias.
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Nota de CV:
Vd. poste de 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6956: Notas de leitura (147): A Tradição da Resistência na Guiné-Bissau (1879-1959), por Peter Karibe Mendy (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Guiné 63/74 - P6965: In Memoriam (50): João Baptista (1938-2010), um camarada, um amigo, um irmão (Octávio do Couto Sousa)
Região Autónoma dos Açores > Ilha de São Miguel > Ponta Delgada > 4 de Maio de 2005 > Convívio de antigos combatentes da Guiné... Na fileira dos homens, da direita para a esquerda: o João Baptista (ex- Fur Mil da CCAÇ 153), o Octávio do Couto Sousa (ex-Fur Mil da CCAÇ 153), o José Maria Ferreira Soares, ex-Cap Mil, já falecido, e o Noé Miranda Soares (, este da CCAÇ 154, que esteve em Buba).
Foto: © Octávio do Couto Sousa (2010). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem de Octávio do Couto Sousa (*)
Data: 11 de Julho de 2010 16:47
Caro Luís Graça
Prometi preparar algum material para a Tabanca Grande, mas revendo algumas fotos, avanço com esta de há 3 a 4 anos num convívio de ex-combatentes da Guiné, em Ponta delgada. O nosso João Manuel Carreiro Baptista é o último da mesa, estou eu a seguir, seguindo-se o também falecido José Maria Ferreira Soares, ex capitão Miliciano e em primeiro plano o Noé Miranda Soares da CCAÇ 154, professor primário que poderá ser o mesmo a que o Carlos Botelho se refere. As nossas mulheres estão do lado oposto.
Do João manuel não me canso de falar, desde o liceu, separou-nos o espaço de tempo para ele ir para a Paiã, Escola de Práticos Agrícola, e eu para Évora, Escola de Regentes Agrícolas.
Estivemos sempres juntos no percurso militar de Mafra, Tavira, RI 18 em Ponta Delgada e mobilização para o Ultramar na mesma CCAÇ 153.
Quando faleceu, perdi um irmão, e mesmo agora, não consigo conter a emoção ao escrever estas linhas.
A última vez que falamos estava comigo outro Funlacundense, O David Bettencourt, vague mestre da 153 que vive actualmente no Canadá e na emoção do diálogo o João dizia:
- Vocês que se aguentem! - como que a despedir-se.
Fez os tratamentos de quimioterapia com uma esperança muito firme de pelo menos viver mais 5 anos para ainda poder acompanhar a licenciatura em Medicina do seu neto mais velho.
Era uma pessoa muito calada mas com um grande caracter e da amizade que nos unia perco-me a recordá-lo.
Um abraço,
Octávio
Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > CCAÇ 153 (1961/63) > Furriéis na messe de sargentos. Se não erro, o João é o terceiro a contar da esquerda, de pé; e o Octávio é o quarto.
Foto: © João Baptista / Blogue Fulacunda (2009). Todos os direitos reservados. Cortesia da família
2. Comentário de L.G.:
Obrigado ao Octávio por esta emocionada mas justa homenagem ao João... Queremos que ele se junte, em espíríto, à nossa Tabanca Grande. De certo que os seus antigos camaradas da CCAÇ 153 estarão de acordo com esta proposta. Durante anos ele lutou contra o esquecimento (e depois contra a doença que minou o seu corpo). Era um homem discreto, mas persistente e convicto. Leia-se o que ele escreveu em 12 de Janeiro de 2009, no seu blogue:
Resultados da 1ª chamada > No dia 11/01/2009 mais um atendeu à chamada: Albano Gomes da Silva, 1º cabo nº 409/59 da 1º Secção do 1º Pelotão, residente em Espinho e o nº de telefone não é registado porque ainda não tenho autorização para publicar.
Uma nota: o meu blog da 1ª Chamada foi publicado em 2006 e passados que são 2 anos e 4 meses, apareceram as primeiras Chamadas; é caso para dizer que as novas tecnologias não são assim tão rápidas. Não está correcto, o raciocínio deve atender a idade dos que são indicados, salvo rara excepção. São os filhos o veículo de transmissão atendendo que conhecem a história dos pais.
Hoje entendi porque perguntam para quando um convívio da CCAÇ 153; na minha opinião direi que nesta altura é impossível tentar encontrar representação que justifique uma data.(....).
Era uma pessoa muito calada mas com um grande caracter e da amizade que nos unia perco-me a recordá-lo.
Um abraço,
Octávio
Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > CCAÇ 153 (1961/63) > Furriéis na messe de sargentos. Se não erro, o João é o terceiro a contar da esquerda, de pé; e o Octávio é o quarto.
Foto: © João Baptista / Blogue Fulacunda (2009). Todos os direitos reservados. Cortesia da família
2. Comentário de L.G.:
Obrigado ao Octávio por esta emocionada mas justa homenagem ao João... Queremos que ele se junte, em espíríto, à nossa Tabanca Grande. De certo que os seus antigos camaradas da CCAÇ 153 estarão de acordo com esta proposta. Durante anos ele lutou contra o esquecimento (e depois contra a doença que minou o seu corpo). Era um homem discreto, mas persistente e convicto. Leia-se o que ele escreveu em 12 de Janeiro de 2009, no seu blogue:
Resultados da 1ª chamada > No dia 11/01/2009 mais um atendeu à chamada: Albano Gomes da Silva, 1º cabo nº 409/59 da 1º Secção do 1º Pelotão, residente em Espinho e o nº de telefone não é registado porque ainda não tenho autorização para publicar.
Uma nota: o meu blog da 1ª Chamada foi publicado em 2006 e passados que são 2 anos e 4 meses, apareceram as primeiras Chamadas; é caso para dizer que as novas tecnologias não são assim tão rápidas. Não está correcto, o raciocínio deve atender a idade dos que são indicados, salvo rara excepção. São os filhos o veículo de transmissão atendendo que conhecem a história dos pais.
Hoje entendi porque perguntam para quando um convívio da CCAÇ 153; na minha opinião direi que nesta altura é impossível tentar encontrar representação que justifique uma data.(....).
Para o ano, em 27 de Maio de 2011 vão perfazer 50 anos desde que a CCAÇ 153 partiu para Bissau, por via aérea! O João já não vai cá estar fisicamente presente para se reunir com os seus camaradas. Mas ele passou o testemunho a outros, como o Octávio (que está também convidado para ingressar na nossa Tabanca Grande). O nosso blogue poderá ajudá-los a realizar esse pequeno milagre por que tanto ansiava o João. Do Octávio espero entretanto que ele use os seus bons ofícios, junto da família do nosso malogrado camarada, para que nos seja dada autorização para incluir o seu nome na lista alfabética dos membros da nossa Tabanca Grande. Devo acrescentar que o Octávio, hoje reformado, era engenheiro técnico agrícola, tendo trabalhado em Moçambique, e que o seu amigo João era agente técnico agrícola, tendo trabalhado nos serviços agrícolas regionais, na sua ilha natal, São Miguel. (**)
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6959: Em busca de... (143): Pessoal da CCAÇ 153, Fulacunda, 1961/63: João Baptista, Octávio do Couto Sousa, José Teixeira da Silva, José Carreto Curto...
(**) Último poste da série > 7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6946: In Memoriam (49): Elegia à Fernanda de Castro, escritora que viveu em Bolama e dedicou alguns dos seus livros à Guiné (Leopoldo Amado)
Guiné 63/74 - P6964: Parabéns a você (151): Tony Grilo, Sold. Apontador de Obús 8,8 cm, Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68 (Editores)
1. O nosso camarada Tony Grilo, que foi Sold. Apontador de Obús 8,8 cm, em Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68, completa hoje mais um aniversário. Apresentou-se na nossa Tabanca Grande em Março de 2009, tentando saber notícias do pessoal que passou por Cabedu nesses anos, nomeadamente das: CCAÇ 1427, CART 1614 e BAC [Bateria Anti-Costa]:
“O meu nome é Tony Grilo, cumpri o serviço militar, um ano e meio, em Portugal, e em 1966 fui mobilizado para a Guiné.
Saímos, no dia 31 de Maio de 1966, do cais de Alcântara no navio Alfredo da Silva. A viagem demorou 6 dias, percorremos 3666 milhas marítimas e chegámos no dia 6 de Junho de 1966.
O navio ficou ao largo, à espera do capitão de porto para o rebocar para o cais. E ali também vinham 6 pessoas.
Isto é apenas uma pequena história que sucedeu.
Agora vou contar-te algo mais sobre a minha pessoa!
Estive 24 meses na Guiné, era Apontador do obus 8,8 e a nossa Bateria, estava situada no QG em Bissau.
Estive ali só 2 semanas, pois fui enviado logo para o mato, Cabedu, ao Sul da Guiné, na célebre mata do Cantanhez.
Estive lá longos 18 meses, onde a vida era difícil, muita fome aí passávamos.
Ao fim desse tempo regressei a Bissau.
Como era bom rapaz e o capitão engraçou comigo, disse logo ao Primeiro para me marcar viagem para o mato. O motivo foi por me desenfiar do quartel. Não havendo sítio melhor, fui logo para Cacine e Cameconde, também ao Sul, na área do Cantanhez.
Graça, isto é só um pequeno apontamento, pois agora que tenho o vosso E-Mail, já é mais fácil contar as minhas histórias da passagem pela Guiné.
Actualmente vivo no Canadá, já há 38 anos, estou reformado e estou a pensar regressar ao nosso lindo Portugal em fins de Maio deste ano (2009).”
2. Tony Grilo, independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos neste poste, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca, que por vários motivos não puderem enviar-te as suas mensagens, queremos:
Desejar-te neste teu aniversário os nossos maiores e melhores votos, para que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.
E mais te desejamos, que por longas e prósperas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos da Guiné te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no “cantinho” reservado aos comentários.
Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que, como tu, um dia carregaram uma G3 & outras cargas de trabalhos, embebidos em mil sacrifícios, suor, sangue e lágrimas, por tarrafos, matas e bolanhas da Guiné.
Recebe então da nossa parte montanhas de abraços fraternos.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
10 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6963: Parabéns a você (150): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74 (Editores)
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
10 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6963: Parabéns a você (150): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74 (Editores)
Guiné 63/74 - P6963: Parabéns a você (150): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74 (Editores)
1. Hoje, 10 de Setembro de 2010, está especialmente de parabéns, por completar mais um ano de vida e entrar no mais famoso clube deste Blogue, o dos SEXA, o nosso camarada Rui Baptista*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74, a quem vimos desejar um dia muito alegre junto de sua esposa, filhotas e outros familiares e amigos.
Cabe aos editores, em representação da tertúlia, apresentar ao nosso aniversariante os votos colectivos de uma vida longa, plena de saúde, se possível com os que o amam perto de si.
Na expectativa de que pouco mais de meia vida viveste, caro Rui, aqui nos terás por muitos anos, em cada 365 dias, para festejar contigo esta data.
Vamos recordar, com três fotos, momentos significativos da tua passagem pela Guiné.
Na foto de cima estás em pleno gozo de férias num dos bungalows da Estância de Cancolim
Na foto do meio, em Bissau, já muito triste porque estavas a dias de regressar à Metrópole.
Na foto de baixo, vê-se pelos semblantes que estar na Ilha da Madeira, a caminho de Lisboa, não vinha mesmo a calhar.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5400: Tabanca Grande (192): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74
Vd. último poste da série de 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6954: Parabéns a você (149): Nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio (Editores)
Cabe aos editores, em representação da tertúlia, apresentar ao nosso aniversariante os votos colectivos de uma vida longa, plena de saúde, se possível com os que o amam perto de si.
Na expectativa de que pouco mais de meia vida viveste, caro Rui, aqui nos terás por muitos anos, em cada 365 dias, para festejar contigo esta data.
Vamos recordar, com três fotos, momentos significativos da tua passagem pela Guiné.
Na foto de cima estás em pleno gozo de férias num dos bungalows da Estância de Cancolim
Na foto do meio, em Bissau, já muito triste porque estavas a dias de regressar à Metrópole.
Na foto de baixo, vê-se pelos semblantes que estar na Ilha da Madeira, a caminho de Lisboa, não vinha mesmo a calhar.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5400: Tabanca Grande (192): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74
Vd. último poste da série de 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6954: Parabéns a você (149): Nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio (Editores)
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Guiné 63/74 - P6962: Tabanca Grande (242): Raul Manuel Bivar de Azevedo, ex-Cap Mil (2.ª CART/BART 6522, Susana, 1972/74)
1. Mais um Camarada se apresenta nesta Tabanca Grande, o Raul Manuel Bivar de Azevedo, que foi Cap Mil da 2ª CART do BART 6522, Susana, 1972/74, que na sua primeira mensagem de 7 de Setembro, enviou as fotografias da praxe, e a promessa de que, brevemente, voltará com mais literatura da evolução operacional da sua companhia e da sua comissão.
Camaradas,
Nome: Raul Manuel Bivar de AzevedoNascido em: 09.09.1943
Naturalidade: Faro
Profissão: Engenheiro Electrotécnico (IST), reformado da EDP desde 2008Estado Civil: Casado/4 filhos
Morada: Lisboa
Ao modo Felupe… KASSUMAI KAP.
2. De acordo com o que o Raul Azevedo disse no seu texto, entre a Tertúlia Bloguista encontram-se mais alguns Camaradas do seu batalhão:
Embora tardiamente (são quase 24h00), nesta apresentação, reparamos que o Raul Azevedo completa hoje 67 anos, pelo que, em nome do Luís Graça, seus colaboradores e demais Camaradas tertulianios, aproveitamos esta oportunidade para lhe desejar os maiores votos de longevidade e felicidade, e que esta data se prolongue por muitos e prósperos anos junto da sua querida família e amigos.
Camaradas,
Conforme prometido, no meu e-mail de 31 Julho ao Luís Graça, e como introdução ao meu primeiro contributo ao blogue, passo a descrever sinteticamente alguns dados pessoais e as etapas da minha experiência militar:
Nome: Raul Manuel Bivar de AzevedoNascido em: 09.09.1943
Naturalidade: Faro
Profissão: Engenheiro Electrotécnico (IST), reformado da EDP desde 2008Estado Civil: Casado/4 filhos
Morada: Lisboa
- Incorporação em Julho de 1971,na Escola Prática de Infantaria em Mafra.
- No final do 1º ciclo de instrução fui seleccionado para o CCC (Curso de Comandante de Companhia).
- 2º Ciclo de instrução já integrado no CCC.
- Terminado o 2º ciclo fui destacado para Angola (Dez.71) para estágio operacional, integrado na Cart 3374 sediada no Bom Jesus do Úcua. O estágio durou 4 meses e durante esse período participei em variadas operações, na zona operacional (Dembos). A actividade operacional era intensa e de considerável desgaste físico.
- Terminado o estágio em Angola regressei a Mafra (EPI), para frequentar a parte teórica do CCC já graduado em Tenente Miliciano e que durou cerca de 2 meses.
- Terminado o CCC, fui destacado para o RAL 5, em Penafiel, para dar inicio á formação da 2ª Cart do Bart 6522 com destino à Guiné.
- Formada a Companhia, embarcámos no navio Uíge com destino a Bissau.
- Em Bolama fizemos o IAO durante um mês, com estreia de flagelação no dia da chegada.
- Terminado o IAO, foi destinada à 2ª CART 6522 a zona operacional de Susana no famoso CHÃO FELUPE, rendendo a CCAV 3366.
- Para além da Companhia, tinha o comando do Pelotão de Caçadores Nativos (Pelotão 60), uma Companhia de Milícias Nativos e população armada nas 23 tabancas da área de Susana, com cerca de 1.000 armas (G3 e Mauser) distribuídas.
- Regressámos a Lisboa em Setembro de 1974,após uma parte final, dos 22 meses de comissão, vivida com muita psicologia e equilíbrio, factores que caldearam uma passagem de soberania local emocionada mas serena (arrear definitivamente a Bandeira Portuguesa ao fim de 500 anos é emocionalmente forte). Os variados encontros com os representantes do PAIGC decorreram sempre em clima de respeito mútuo (anexo fotos de encontros com o PAIGC, que em tempo cedi para o livro "Os anos da guerra" do escritor João de Melo).
Tenho muitos relatos e fotos para transmitir e prometo fazê-lo a pouco e pouco e com muito gosto, pois considero importante a memória colectiva que este blogue corporiza. A vivência na área de Susana foi intensa e enriquecedora, pois além da responsabilidade militar e a de apoio humanitário e social à população (cerca de 8.000 Felupes) tinha a escolar e a civil, conforme determinação do Comando Chefe de Bissau.
O Chão Felupe e os Felupes estão e permanecerão para sempre no meu coração como um povo com características nobres, como a coragem, lealdade e amizade, para além de todo o seu património histórico que se perde na noite dos tempos e que desde logo me interessei e que continuo enriquecendo pesquisando a sua história (Djolas, descendentes do antigo império do Mali).
Voltei á Guiné-Bissau em 1997 numa expedição terrestre Portimão - Buba (24 dias de aventura e deslumbramento!). Entrei na Guiné pela fronteira de S. Domingos e feita a picada cheguei a Susana já de noite. Pouco tempo depois estava abraçando um grande amigo e antigo camarada de armas o Cabo Agostinho (Felupe do Pel. 60, meu braço direito local e que me acompanhou sempre durante toda a comissão) e ao qual muito devo do saber e experiência operacional, humana e do conhecimento do mundo Felupe.
Foi um reencontro histórico, carregado de emoção e que jamais esquecerei. Não decorreu muito tempo e vários antigos componentes do Pel. 60 foram aparecendo e todos festejámos o reencontro. Em foto anexa é relatado esse encontro feito por um companheiro da expedição.
A seu tempo relatarei com muito prazer, como antes disse, as minhas memórias na “Felupolândia”, que são muitas, variadas e carregadas de sincero conteúdo humano.
Todos os anos o BART 6522 reúne-se em convívio, sempre em ambiente de alegria e amizade e recordamos as peripécias vividas.
Aproveito para enviar um grande abraço ao António Oliveira Inverno (que comandou o 1º grupo de combate da 2ª CART 6522) e ao Sérgio Faria que comandou a 3ªCART 6522 e que pelo que já constatei entraram na Tabanca Grande.
Por hoje termino.
- No final do 1º ciclo de instrução fui seleccionado para o CCC (Curso de Comandante de Companhia).
- 2º Ciclo de instrução já integrado no CCC.
- Terminado o 2º ciclo fui destacado para Angola (Dez.71) para estágio operacional, integrado na Cart 3374 sediada no Bom Jesus do Úcua. O estágio durou 4 meses e durante esse período participei em variadas operações, na zona operacional (Dembos). A actividade operacional era intensa e de considerável desgaste físico.
- Terminado o estágio em Angola regressei a Mafra (EPI), para frequentar a parte teórica do CCC já graduado em Tenente Miliciano e que durou cerca de 2 meses.
- Terminado o CCC, fui destacado para o RAL 5, em Penafiel, para dar inicio á formação da 2ª Cart do Bart 6522 com destino à Guiné.
- Formada a Companhia, embarcámos no navio Uíge com destino a Bissau.
- Em Bolama fizemos o IAO durante um mês, com estreia de flagelação no dia da chegada.
- Terminado o IAO, foi destinada à 2ª CART 6522 a zona operacional de Susana no famoso CHÃO FELUPE, rendendo a CCAV 3366.
- Para além da Companhia, tinha o comando do Pelotão de Caçadores Nativos (Pelotão 60), uma Companhia de Milícias Nativos e população armada nas 23 tabancas da área de Susana, com cerca de 1.000 armas (G3 e Mauser) distribuídas.
- Regressámos a Lisboa em Setembro de 1974,após uma parte final, dos 22 meses de comissão, vivida com muita psicologia e equilíbrio, factores que caldearam uma passagem de soberania local emocionada mas serena (arrear definitivamente a Bandeira Portuguesa ao fim de 500 anos é emocionalmente forte). Os variados encontros com os representantes do PAIGC decorreram sempre em clima de respeito mútuo (anexo fotos de encontros com o PAIGC, que em tempo cedi para o livro "Os anos da guerra" do escritor João de Melo).
Tenho muitos relatos e fotos para transmitir e prometo fazê-lo a pouco e pouco e com muito gosto, pois considero importante a memória colectiva que este blogue corporiza. A vivência na área de Susana foi intensa e enriquecedora, pois além da responsabilidade militar e a de apoio humanitário e social à população (cerca de 8.000 Felupes) tinha a escolar e a civil, conforme determinação do Comando Chefe de Bissau.
O Chão Felupe e os Felupes estão e permanecerão para sempre no meu coração como um povo com características nobres, como a coragem, lealdade e amizade, para além de todo o seu património histórico que se perde na noite dos tempos e que desde logo me interessei e que continuo enriquecendo pesquisando a sua história (Djolas, descendentes do antigo império do Mali).
Voltei á Guiné-Bissau em 1997 numa expedição terrestre Portimão - Buba (24 dias de aventura e deslumbramento!). Entrei na Guiné pela fronteira de S. Domingos e feita a picada cheguei a Susana já de noite. Pouco tempo depois estava abraçando um grande amigo e antigo camarada de armas o Cabo Agostinho (Felupe do Pel. 60, meu braço direito local e que me acompanhou sempre durante toda a comissão) e ao qual muito devo do saber e experiência operacional, humana e do conhecimento do mundo Felupe.
Foi um reencontro histórico, carregado de emoção e que jamais esquecerei. Não decorreu muito tempo e vários antigos componentes do Pel. 60 foram aparecendo e todos festejámos o reencontro. Em foto anexa é relatado esse encontro feito por um companheiro da expedição.
A seu tempo relatarei com muito prazer, como antes disse, as minhas memórias na “Felupolândia”, que são muitas, variadas e carregadas de sincero conteúdo humano.
Todos os anos o BART 6522 reúne-se em convívio, sempre em ambiente de alegria e amizade e recordamos as peripécias vividas.
Aproveito para enviar um grande abraço ao António Oliveira Inverno (que comandou o 1º grupo de combate da 2ª CART 6522) e ao Sérgio Faria que comandou a 3ªCART 6522 e que pelo que já constatei entraram na Tabanca Grande.
Por hoje termino.
Até breve, grande abraço e mais uma vez parabéns por esta vossa iniciativa altamente meritória.
Ao modo Felupe… KASSUMAI KAP.
Susana>1974>Com um ancião Felupe
Susana>1974>Encontro com o PAIGC
Susana>1974>Encontro com o PAIGC
Susana>1997>Com alguns elementos do PEL 60, aquando da expedição Portimão - Buba
Reportagem relativa à expedição Portimão - Buba
2. De acordo com o que o Raul Azevedo disse no seu texto, entre a Tertúlia Bloguista encontram-se mais alguns Camaradas do seu batalhão:
- o Ricardo Pereira de Sousa, que foi Alf Mil Op Esp/RANGER da 3ª CART do BART 6522, Sedengal, 1972/74, que nos enviou a sua primeira mensagem em 31 de Agosto. Esteve no CIOE, no 2º turno de 1972;
- o nosso Camarada António Inverno, que também foi Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª e 2.ª CARTs do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 – S. Domingos -, 1972/74. Esteve no CIOE também no 2º turno de 1972;
- No poste P6004 encontra-se informação sobre o Cap Mil Inf Sérgio Matos Marinho de Faria, de quem, do mesmo modo, o António Inverno é amigo pessoal e que foi o comandante da 3.ª Companhia do BART 6522/72, mobilizada pelo RAL 5 (partiu para a Guiné em 7/12/1972 e regressou à Metrópole em 3/9/1974 - Ingoré e Sedengal, na região do Cacheu, a leste de Farim).
3. Amigo e Camarada Raul Manuel Bivar de Azevedo, cumprindo a praxe, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, te digo aqui que é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.
3. Amigo e Camarada Raul Manuel Bivar de Azevedo, cumprindo a praxe, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, te digo aqui que é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.
Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados ao longo de perto de sete mil postes no blogue, que todos aqueles que constituíram a geração dos “Últimos Guerreiros do Império”, têm alguma coisa a contar da sua passagem da Guerra do Ultramar, que permaneça para memória futura e colectiva, deste violento e sangrento período da História de Portugal, de que nós fomos protagonistas no terreno, em alguns casos só Deus sabe em que condições o fomos.Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico que muitos ignoram e, ou, ostracizam por motivos diversos (cerca de 500 anos de permanência), à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sangue, sofrimento, morte… que envolveu a movimentação de mais de meio milhão de portugueses em armas.
Como se não tivesse bastado, muitos de nós continuam a sofrer, pelo menos psicologicamente, nos últimos 36 anos com o modo ostracista e laxista como os políticos portugueses nos tratam.
Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos, construídos no lodo, embebidos em pó, lama, suor, mosquitos, etc., completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.) e as nossas naturais angústias e temores, próprios das nossas tenras idades.
Nós até nem temos pedido muito, além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente, e o tratamento e acompanhamento dos mais carenciados e abandonados pela desgraçada “sorte” da vida.
Oferecendo-te então aqui as nossas melhores boas-vindas e ficamos a aguardar que nos contes episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.
Recebe pois, para já, o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
Fotos: © Ricardo Pereira de Sousa (2010). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
2 de Setembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P6925: Tabanca Grande (241): Ricardo Pereira de Sousa, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER (3ª CART do BART 6522 – Sedengal -, 1972/74) Guiné 63/74 - P6961: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (11): Tempo presente, tempo de viver
1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 6 de Setembro de 2010:
Caros camarigos editores
Confesso que já não sei em que série cabem este escrito e mais outro que vos hei-de enviar.
Sei que foram suscitados pela publicação dos outros anteriores e por isso talvez coubessem num título 20 ANOS DEPOS DA GUINÉ À PROCURA DE MIM - O TEMPO PRESENTE
Mas como sempre o critério de publicação, se, quando e como, fica ao vosso encargo.
Um abraço forte e camarigo para todos do
Joaquim
DEPOIS DA GUINÉ, À PROCURA DE MIM
O TEMPO PRESENTE (1)
TEMPO DE VIVER
Corre-me o tempo
por entre os dedos da mão.
Solta-se-me a vida,
num sopro,
num suspiro do coração.
Faz-se-me pensamento,
uma qualquer louca ideia,
trazida por um qualquer vento.
Abre-se-me o sorriso,
talhado por machada aguçada,
sobre os meus lábios fechados.
Encontra-me a paz,
num perfeito,
e prolongado abraço,
porque já pude escrever,
o que me foi no coração,
em noites de não saber,
se me feria o bruto aço,
de recordação magoada,
ou a memória esquecida,
do que não queria esquecer.
Mas será que perceberam,
que eu já andei perdido,
à procura do meu nada,
em noites de terrível insónia,
a suar o já suado
medo que me atormentava,
num tão recente passado,
feito de longas esperas,
atrás de árvores deitado,
de alguém que por ali passasse
apenas para ser “acabado”?
Mas será que entenderam,
as horas amargas passadas,
em matas que não conhecia,
e que nada tinham a ver,
com o Pinhal de Leiria?
Mas será que compreenderam
que coisa medonha é a guerra,
que se agarra ao nosso ser,
toma-nos conta da vida,
faz parte do nosso dormir,
chora-nos quando acordados,
e persegue-nos para sempre,
até nos darmos à terra?
Eu sei que é muito difícil
a quem não viveu assim,
perceber o medo entranhado,
vencido pela coragem,
que mais parece loucura,
do que atitude segura,
que nos imprime uma marca,
tão invisível,
mas presente,
que faz os outros pensarem
o que fez tão louca,
esta gente!
Que linguagem é esta,
que brota dos nossos lábios,
incompreensível aos outros.
As palavras são as mesmas,
mas têm um significado
que só nós podemos entender.
E por vezes,
oh, coisa estranha,
vem misturadas com outras,
palavras “arremedadas”,
dum português africano,
precisas para perceber,
aqueles que connosco estiveram,
lá longe, tão longe,
que já não os podemos ver.
Tens que te adaptar,
força-me a vida,
julgando ser fácil esquecer,
aquilo que não quero lembrar.
Ou talvez queira,
sei lá eu bem,
nesta vida em turbilhão,
em que não me reconheço,
perdido na multidão.
Fecho as mãos,
fecho os dedos,
com força,
até doer,
para que o tempo não escape,
ao tempo que ainda tenho,
e que tenho de viver,
pelo menos numa homenagem,
àqueles que “vi” morrer.
Monte Real, 2 de Agosto de 2010
JMA
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6922: Blogoterapia (157): Ai, Timor (J. Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 10 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6842: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (10): Os meus fantasmas
Caros camarigos editores
Confesso que já não sei em que série cabem este escrito e mais outro que vos hei-de enviar.
Sei que foram suscitados pela publicação dos outros anteriores e por isso talvez coubessem num título 20 ANOS DEPOS DA GUINÉ À PROCURA DE MIM - O TEMPO PRESENTE
Mas como sempre o critério de publicação, se, quando e como, fica ao vosso encargo.
Um abraço forte e camarigo para todos do
Joaquim
DEPOIS DA GUINÉ, À PROCURA DE MIM
O TEMPO PRESENTE (1)
TEMPO DE VIVER
Corre-me o tempo
por entre os dedos da mão.
Solta-se-me a vida,
num sopro,
num suspiro do coração.
Faz-se-me pensamento,
uma qualquer louca ideia,
trazida por um qualquer vento.
Abre-se-me o sorriso,
talhado por machada aguçada,
sobre os meus lábios fechados.
Encontra-me a paz,
num perfeito,
e prolongado abraço,
porque já pude escrever,
o que me foi no coração,
em noites de não saber,
se me feria o bruto aço,
de recordação magoada,
ou a memória esquecida,
do que não queria esquecer.
Mas será que perceberam,
que eu já andei perdido,
à procura do meu nada,
em noites de terrível insónia,
a suar o já suado
medo que me atormentava,
num tão recente passado,
feito de longas esperas,
atrás de árvores deitado,
de alguém que por ali passasse
apenas para ser “acabado”?
Mas será que entenderam,
as horas amargas passadas,
em matas que não conhecia,
e que nada tinham a ver,
com o Pinhal de Leiria?
Mas será que compreenderam
que coisa medonha é a guerra,
que se agarra ao nosso ser,
toma-nos conta da vida,
faz parte do nosso dormir,
chora-nos quando acordados,
e persegue-nos para sempre,
até nos darmos à terra?
Eu sei que é muito difícil
a quem não viveu assim,
perceber o medo entranhado,
vencido pela coragem,
que mais parece loucura,
do que atitude segura,
que nos imprime uma marca,
tão invisível,
mas presente,
que faz os outros pensarem
o que fez tão louca,
esta gente!
Que linguagem é esta,
que brota dos nossos lábios,
incompreensível aos outros.
As palavras são as mesmas,
mas têm um significado
que só nós podemos entender.
E por vezes,
oh, coisa estranha,
vem misturadas com outras,
palavras “arremedadas”,
dum português africano,
precisas para perceber,
aqueles que connosco estiveram,
lá longe, tão longe,
que já não os podemos ver.
Tens que te adaptar,
força-me a vida,
julgando ser fácil esquecer,
aquilo que não quero lembrar.
Ou talvez queira,
sei lá eu bem,
nesta vida em turbilhão,
em que não me reconheço,
perdido na multidão.
Fecho as mãos,
fecho os dedos,
com força,
até doer,
para que o tempo não escape,
ao tempo que ainda tenho,
e que tenho de viver,
pelo menos numa homenagem,
àqueles que “vi” morrer.
Monte Real, 2 de Agosto de 2010
JMA
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6922: Blogoterapia (157): Ai, Timor (J. Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 10 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6842: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (10): Os meus fantasmas
Guiné 63/74 - P6960: Em busca de ... (144): O alferes médico miliciano da CCAÇ 153, Fulacunda, 1961/63 (George Freire)
1. Mensagem do nosso camarada George Freire, que vive nos EUA (e de quem já reproduzidos aqui um notável vídeo dos seus tempos de Guiné, 1961/63):
Data: 10 de Julho de 2010 16:05
Assunto: CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/73)
Caro Luis,
Obrigado pelo interessante e-mail sobre a CCAÇ 153.
Como sabes, embora eu tenha feito parte da organização da companhia em Vila Real com o Cap Curto, (partimos para a Guiné de avião no dia 26 de Maio de 1961), só estive em Fulacunda cerca de 2 ou 3 meses, pois fui promovido a capitão e segui logo para Bissau depois Gabu e depois os últimos 6 meses em Bedanda.
Explorei todas as fotos mas infelizmente ninguem reconheci.
No entanto queria pedir-te um favor. O médico da companhia, (alferes miliciano), cujo nome não me consigo recordar, era um gajo porreiro e criamos uma boa amizade. Seria possível ajudares-me a contactá-lo?
Ele serviu na companhia desde Maio de 1961 a Julho de 1963. Eu deveria saber o seu nome, mas já se passaram 48 anos e a idade não ajuda a memória...
Um abraço,
George Freire
_____________
Nota de L.G.:
(*) Último poste da série > 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6959: Em busca de... (143): Pessoal da CCAÇ 153, Fulacunda, 1961/63: João Baptista, Octávio do Couto Sousa, José Teixeira da Silva, José Carreto Curto...
Data: 10 de Julho de 2010 16:05
Assunto: CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/73)
Caro Luis,
Obrigado pelo interessante e-mail sobre a CCAÇ 153.
Como sabes, embora eu tenha feito parte da organização da companhia em Vila Real com o Cap Curto, (partimos para a Guiné de avião no dia 26 de Maio de 1961), só estive em Fulacunda cerca de 2 ou 3 meses, pois fui promovido a capitão e segui logo para Bissau depois Gabu e depois os últimos 6 meses em Bedanda.
Explorei todas as fotos mas infelizmente ninguem reconheci.
No entanto queria pedir-te um favor. O médico da companhia, (alferes miliciano), cujo nome não me consigo recordar, era um gajo porreiro e criamos uma boa amizade. Seria possível ajudares-me a contactá-lo?
Ele serviu na companhia desde Maio de 1961 a Julho de 1963. Eu deveria saber o seu nome, mas já se passaram 48 anos e a idade não ajuda a memória...
Um abraço,
George Freire
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Nota de L.G.:
(*) Último poste da série > 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6959: Em busca de... (143): Pessoal da CCAÇ 153, Fulacunda, 1961/63: João Baptista, Octávio do Couto Sousa, José Teixeira da Silva, José Carreto Curto...
Guiné 63/74 - P6959: Em busca de... (143): Pessoal da CCAÇ 153, Fulacunda, 1961/63: João Baptista, Octávio do Couto Sousa, José Teixeira da Silva, José Carreto Curto...
Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > CCAÇ 153 (1961/63) >
"Após 45 anos ainda identifico o que está de pé ao centro: furriel miliciano João M C Baptista; naturalmente e para os mais distraídos, da figura só o nome restou até ao dia de hoje. Na altura da desmobilização no RI 13 em Julho de 1963, nas costas de uma foto igual à presente, anotei o nome bem como os endereços de todos, nota que há muito teria facilitado a minha tarefa de contacto mas que desapareceu dos meus arquivos. Será que alguém pode ajudar? (...)
"O Primeiro pelotão era comandado pelo Alferes Virgolino, Furriéis: Melo (Ericeira), João Baptista (S. Miguel), José Fernandes" (...).
"CCAÇ 153: Desfilando em Vila Real 30/08/1963. Reconhece-se o seu comandante à frente do porta bandeira"
Vila Real > CCAÇ 153 > "Missa de acção de Graças, Agosto de 1963".
Fotos (e legendas): © João Baptista / Blogue Fulacunda (2009). Todos os direitos reservados. Cortesia da família.
1. Mensagem de L.G., dirigida a João Baptista, autor do blogue Fulacunda, com intenção de lhe pedir autorização para reproduzir algumas fotos suas e convidá-lo a ingressar na nossa Tabanca Grande:
Data: 9 de Julho de 2010 12:43
Meu caro João Baptista [ na foto, à esquerda, na recruta, em Mafra, 1959]:
Tento tentado, em vão, ligar para o seu nº telefone de casa. Deixei uma mensagem no "voice mail". Tento agora entrar em contacto consigo por esta via. O meu nome é Luís Graça, sou o fundador e um dos editores do maior blogue sobre a guerra colonial na Guiné.
Quero dar-lhe os parabéns pela sua iniciativa de juntar a rapaziada de Fulacunda, através do seu blogue.
Gostaria de poder falar consigo ao telefone sobre os primeiros tempos da guerra e sobre a acção da vossa CCAÇ 153, no sul da Guiné. Um dos camaradas do nosso blogue é o Carlos Cordeiro, que é professor na Universidade dos Açores, fez a guerra de Angola e teve um irmão, capitão pára-quedista, João Cordeiro, que infelizmente morreu lá, de acidente com pára-quedas, em 1974. Vou pedir ao Carlos, também para o contactar, utilizando o seu telefone e eventualmente a sua morada, que está publicitada no seu sítio, na Net (...).
Espero que esteja bem de saúde. Espero que um dia destes falar um com o outro. O Henrique Cabral, autor do blogue Rumo a Fulacunda, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420 (1965/67), é também membro do nosso blogue.
Veja no nosso blogue referências à CCAÇ 153 (que eu sei tinha poucos açorianos…):
Um abraço. Luís Graça
2. Na mesma data dei conhecimento do teor da mensagem suprea ao nosso camarada Carlos Cordeiro (bem como ao Henrique Cabral):
Carlos: Vê o que podes saber... O blogue Fulacunda está parado desde 14 de Maio de 2009... Gostava de pedir ao João (sargento reformado, açoriano) autorização para publicar um ou duas fotos... E de falar com ele ao telefone. Tento tentado ligar, já quatro ou cinco vezes, para o nº telefone fixo... Ainda viverá no mesmo sítio ?
Um abraço. Desculpa o abuso. Luís
3. Infelizmente, aquilo que eu suspeitava, tinha acontecido: o João Baptista (ex-Fur Mil da CCAÇ 153, açoriano) já havia morrido, nesse ano, de doença prolongada. Não chegara a realizar o seu sonho, que era a de poder juntar, pela 1ª vez, o pessoal da sua CCAÇ 153, ao fim de quase meio século. Para tanto, fora juntando, desde Agosto de 2006, os "cacos da memória", as fotos amarelecidas, os nomes, os lugares, as datas...
A viúva teve a gentileza de me telefonar para casa. Infelizmente não fui que a atendi, por não estar em casa. Deu o contacto de um amigo e camarada do seu marido, também ele açoriano (embora residente no Continente, mas passando em S. Miguel uma parte do ano) com quem, aliás, me pus em contacto e a quem convidei para integrar o blogue.
A viúva autorizou-me igualmente a usar as imagens inseridas no blogue Fulacunda. É minha intenção homenagear o camarada João Baptista (, de seu nome completo, João Manuel Carreiro Baptista), associando o seu nome ao nosso blogue, se para tal tiver o consentimento da família. Os seus esforços para juntar os seus camaradas da CCAÇ 153 devem ser conhecidos e divulgados, sendo credores do respeito e apreço de todos nós.
Entretanto, dos blogues Fulacunda e Rumo a Fulacunda (este do Henrique Cabral) eu já havia seleccionado dois comentários de gente que pertencera à CCAÇ 153 e que respondera à chamada do João Baptista, para além de um comentário do próprio:
João Baptista
25 de Agosto de 2006
Esqueci: esqueci datas, esqueci nomes e rostos, esqueci situações agradáveis e desagradáveis. Tentei esconder uma vida estranha e eis que com a ajuda de fotografias desbotadas com 45 anos, sobram os cacos de algo que a nossa memória não apagou: uma dor num dente durante toda a viagem de Lisboa, Leixões, Funchal, Mindelo, Praia e Bissau, 10 dias num barco que se chamava Alfredo da Silva, nome registado numa foto no dia do embarque em Lisboa em Junho de 1961, bem como uma amiga, o Octávio e familiares da sua esposa. Como vou editar esta foto?
Complicada a transição do ar condicionado vivido a bordo para o calor e humidade em terras da Guiné Bissau, onde por artes mágicas desapareceu a dor do dente.
E eis que pela primeira vez ouço falar em Fulacunda: sede de concelho, com uma rua principal com 200 metros, onde estavam implantadas as residências Administrativas, o posto dos correios, uma praça com rotunda e algumas das instalações do futuro quartel da CCAÇ 153.
Julgo que foi nos primeiros dias do mês de Julho de 1961 que eu, incorporado no primeiro pelotão iniciamos a viagem por mato que duraria cerca de 12 horas até Fulacunda . Foi naturalmente a primeira demonstração de força bélica que o indígena de então sentiu, com a passagem de uma coluna militar com cerca de 30 viaturas ligeiras e pesadas, carregadas de material, reboques com água, cozinhas e soldados com as suas fardas amarelas de passeio. As fardas de campanha ou camuflados, só mais tarde foram atribuídos.
Fico por aqui juntando os cacos. Um abraço
Octávio do Couto Sousa
2 de Outubro de 2008
(...) Caro Henrique: Percorri demoradamente as fotos e respectivas legendas do “Rumo a Fulacunda” ao mesmo tempo que dialogava com o nosso JMCBaptista, iniciador do blog Fulacunda.
(...) A Companhia 153 proveio do RI 13, de Vila Real, com cabos e praças daquelas redondezas, alguns com nomes das suas terras, o Vila Amiens, o Chaves, etc. Como disse no primeiro escrito, foi uma pena termo-nos separado em Vila Real, terminada a comissão, desejosos todos de partir para as nossas famílias, sem o cuidado de trocar endereços que nestes anos seriam preciosos para nos reencontrarmos. A maioria dos oficiais e sargentos foram mobilizados de outras zonas. No nosso caso e do JMCBaptista, estávamos já na disponibilidade e a viver nos Açores.
O nosso comandante de companhia foi o Capitão, hoje General, José dos Santos Carreto Curto.
Fomos a única companhia em todo o Sul da Guiné em 1961, com um pelotão em Buba e uma secção em Aldeia Formosa. Tivemos depois um pelotão em Cacine. Estivemos também aquartelados em Cufar numa fábrica de arroz, assim como em Catió, até que tudo se agudizou em termos operacionais. Para Buba chegou uma companhia, a 154, outra para Cacine e por muitas outras localidades foram chegando mais unidades consoante a guerra se intensificava.
As fotos mostram o quartel de Tite onde se instalou o primeiro Batalhão, o 237, ao qual passámos a pertencer como tropa operacional e por questões de organização.
Acompanhámos o primeiro ataque a Tite [, em 23 de Janeiro de 1963,], de Fulacunda sairam reforços nos quais estivemos integrados, visto que o Batalhão, como sede, não estava ainda operacional.
A nossa companhia, a 153, acabou por ficar toda junta e em várias missões percorremos todo Sul na busca e destruição das casas de mato que o PAIGC proliferava por tudo quanto eram zonas mais ou menos isoladas. (...)
José Teixeira da Silva
2 Janeiro 2009
(...) Prezados amigos e companheiros: há quarenta e sete anos, que procuro por toda a parte deste país, notícias da Companhia de Caçadores, n.º 153/59. Em vão procurei encontrar as moradas dos meus companheiros de 'route' [,estrada,] sem resultado. Tendo como base o nome do nosso Comandante de Companhia – capitão José dos Santos Carreto Curto – vi o seu nome há dois anos, integrado no quartel de Santa Margarida, já com a patente militar de Brigadeiro, pensei em contactá-lo mas não o fiz. Não sei explicar porquê, mas enfim, a verdade é que não dei um passo para o fazer. (...)
4. Na Net também encontrei uma notícia sobre o antigo capitão da CCAÇ 153 (que nunca mais se terá cruzado com os homens de Fulacunda, depois do regresso a casa, a Vila Real, em Agosto de 1963):
Com a devida vénia, transcrevo do blogue Memória Recente e Antiga, criado e mantido por João José Mendes de Matos (n. Castelo Branco, 1935; colega de escola e de juventude do futuro Cap José Curto, hoje general, reformado; professor de liceu em Setúbal, reformado) o teor de um recorde de jornal.
Cortesia do Blogue Memória Recente e Antiga > 14 Abril 2008 > Capitão Carreto Curto
Trata-se de uma cópia da publicação, em jornal, da entrevista dada em Bissau, pelo Cap Inf José dos Santos Carreto Curto, em 20 de Março de 1963, a um jornalista da ANI - Agência de Notícias e Informação.
O então Cap Inf José Curto, comandante da CCAÇ 153 (Bissau, Fulacunda, Bissau, 27/5/1961 - 24/7/1963), fora dado como morto pela propaganda do PAIGC (ou por boatos propalados através da Rádio Conacri), depois de feito prisioneiro pelo PAIGC, levado para Conacri, julgado em Tribunal Revolucionário e executado... Natural de Castelo Branco, é hoje general na reforma e tem uma brilhante carreira militar.
_____________
Bissau, 20 - Está vivo, está em liberdade, está de óptima saúde, encontra-se presentemente em Bissau e foi entrevistado pelo correspondente da ANI, o capitão José dos Santos Carreto Curto, de quem um comunicado do PAIGC, ou "Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde", organização subversiva com sede em Conakri, disse que fora preso pelos terroristas, os quais o teriam executado, depois de o haverem submetido a "julgamento em tribunal marcial".
Esse comunicado foi oportunamente desmentido, aliás, pelo Serviço de Informação Pública das Forças Armadas.
O comunicado do PAIGC não surpreendeu o oficial.
Declarou o capitão Carreto Curto:
"Poderia pensar-se que o comunicado recentemente difundido pelo PAIGC, com base em Conakri, me teria surpreendido. Não foi, no entanto, esse, o caso".
O Capitão Carreto Curto prosseguiu:
“O conhecimento progressivo que, durante vários meses me foi dado adquirir, no contacto com populações que sofreram o aliciamento dos chamados movimentos de libertação, no contacto com agentes (responsáveis) desses movimentos, que me revelaram as técnicas que usam e em que foram doutrinados, no exame dos comunicados já anteriormente emanados pelo PAIGC, levou-me apenas a aceitar a notícia em questão como 'mais uma'.
'Mais uma' em que os processos se repetem e que têm cabimento perfeito e ajustado no âmbito das técnicas de propaganda destinadas a conseguir determinados objectivos. Estes objectivos que, na sucessão, definem diferentes fases de todo um plano devidamente arquitectado, têm uma importância e interesse, para os quais não pode haver obstáculos ou objecções.”
“A Mentira é evidente”
O sr. Capitão Carreto Curto disse ainda:
“No comunicado em causa não foi obstáculo a inveracidade dos factos nele relatados. Interessava, sim, convencer a opinião pública da existência de um determinado problema e que o público dele tomasse conhecimento. O objectivo foi, assim, atingido. Pergunto a mim mesmo se terá interesse referir factos, narrar acontecimentos, que possam definir toda a verdade e separá-la da mentira do comunicado. No entanto, julgo que a verdade de eu estar vivo é suficiente, visto que o facto não permite dúvidas, nem duplas interpretações. A mentira é evidente.
Resta apenas a realidade do objectivo do comunicado do PAIGC. Serão o juízo e opinião de cada um que lhe vão ou não conferir o valor positivo que o comunicado pretendeu alcançar ou o valor negativo atestado, pela verdade dos factos.” – (ANI)
_____________
Nota de L.G.:
Último poste da série > 6 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6943: Em busca de... (142): 1.º Cabo Dório da CCAÇ 2571, Guiné, 1969/71 (João Manuel Mascarenhas)
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Guiné 63/74 - P6958: Algumas fotos de camaradas do BCAÇ 3872 (Manuel Carvalho Passos)
Lisboa > 18 de Dezembro 1971 > Militares do BCAÇ 3872 a bordo do navio Angra do Heroísmo
1. Mensagem de Manuel Carvalho Passos*, ex-Soldado do Pel Rec do BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/73, com data de 4 de Setembro de 2010:
Camaradas
Vamos lá ver se começo a fazer o trabalho de casa, pois também tenho histórias para contar da minha passagem pela Guiné.
Quando no dia 24 de Dezembro de 1971 cheguei a Guiné, juntamente com o BCAÇ 3872, fui logo para Cumeré.
O calor era tanto só queríamos estar debaixo dos chuveiros, e nunca mais me esquecerei daquele espaço dos chuveiros em que o chão era liso e escorregadio.
Fincávamos os pés numa parede e empurrávamos o corpo para a outra parede. O Ivo, o Ferreira, o Silva, o Caramba, o Léo e eu brincávamos como se fôssemos meninos de escola. O nosso amigo Juvenal ainda não estava bem dentro do sistema do PEL REC, mas passado uns dias, já era nosso professor nas mais variadas brincadeiras.
Não era este santo que nos parece agora, nem nós éramos os santinhos que tentamos fazer crer aos nossos filhos, mas camaradas, são essas brincadeiras que hoje, quando nos juntamos nos almoços anuais, são os temas principais das nossas cavaqueiras . São os momentos de brincadeiras e alegria que temos que recordar, para continuarmos a viver sem pesadelos, porque a vida não é fácil.
Tentamos assim dar uma ideia aos nossos amigos e familiares que somos normais, não como ex-combatentes que nos querem e como apanhados pelo stress da guerra, para justificarem as injustiças que nos fazem.
Tanto suor e sangue deram pelo país para hoje serem esquecidos pelos nossos ilustres políticos, mas adiante. Vamos mas é falar de nós que somos os verdadeiros artistas.
Amigos, anexo umas foto dos, na altura, periquitos em GALOMARO, a caminho do café do Regala, que se não estou errado, era o nome do café.
Nas próximas histórias o dito café aparecerá mais vezes.
Por hoje fico por aqui.
Sem mais, por agora um grande abraço a todos os camaradas sem excepção.
Manuel Passos
Do lado esquerdo: Passos, Ferreira Silvestre, Sertã, Caramba. Do lado direito: Félix, Furriel Santos, Castro e Sacristão.
Os periquitos: Sertã, Ivo, Passos, Leo, Canário e Amado, a caminho do regado
__________Nota de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6166: Tabanca Grande (212): Manuel Carvalho Passos, Pel Rec Inf/CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/73 (Juvenal Amado)
Guiné 63/74 - P6957: Ser solidário (85): Saneamento básico em Bissau: dúvidas de amigos brasileiros
Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 1 de Agosto de 2010 > Título da foto: Amindara vai ter água potável; Data da foto: 25 de Junho de 2010; Palavras-chave: Saúde familiar.
"A Associação Tabanca Pequena [de Matosinhos,] Portugal, garantiu o financiamento da construção de um poço de água à tabanca de Amindara, no Parque Nacional de Cantanhez, dotando-o de um sistema de captação solar.
"Era a principal dificuldade da população desta tabanca, que vai passar a dispor de água de boa qualidade para o seu consumo e higiene pessoal, assim como para a rega de legumes durante a época seca.
"De registar que um dos principais sinais da mudança climática na Guiné-Bissau é a rápida baixa do lençol freático nos poços, ou mesmo a sua seca logo no primeiro trimestre do ano. Este tipo de apoios é o mais solicitado pelas populações locais".
Foto (e legenda): Cortesia de AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados
1. Mensagem de Isabel Araújo
Data: 9 de Setembro de 2010 02:00
Assunto: Saneamento básico em Bissau- dúvidas dos Brasil[eiros]
2. Comentário de L.G.:
Cara Isabel, é um prazer podermos comunicar em português e um privilégio fazermos parte de uma cada mais dinâmica e orgulhosa comunidade de falantes da língua a que pertencem escritores de talento, universais, como por exemplo Cecília Meireles, João Ubaldo Ribeiro, Herberto Helder, Mário Cláudio, Mia Couto, José Craveirinha, Eugénio Tavares, Ondjaki, Pepetela...
O seu pedido fica no ar, certamente que haverá na nossa comunidade bloguística que se aproxima já do meio milhar de membros, gente com saber e competência (nas áeras da saúde pública, engenharia sanitária, arquitectura, planeamento urbano...) para lhe dar a informações que nos pede. Somos um blogue essencialmente de memórias mas também também de afectos e de solidariedade(s) (*). Desejo-lhe, a si e à sua equipa, boa sorte no concurso. L.G.
PS - Sugiro-lhe que, em Bissau, contacte também os nossos amigos da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento.
__________
Nota de L.G.:
(*) Último poste desta série > 5 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6939: Ser solidário (84): Sarau cultural para angariação de fundos a favor da Guiné-Bissau (José Teixeira / José Rodrigues)
Olá, camarada da Guiné! Somos brasileiros e estamos participando de um concurso de projeto para uma escola no bairro de São Paulo em Bissau. Apesar de muitas buscas por informações sobre as condições sanitárias e a cultura construtiva da região, ainda não encontramos muitas informações. Pode nos ajudar? Nas regiões alagadiças (7 metros acima do nível do mar), os terrenos permanecem alagados por toda a estação das chuvas? O nível da água costuma ser alto? Qual o tipo de instalação feita para os banheiros, latrinas e chuveiros onde não há rede de esgoto? É comum usarem fossas? De onde puxam água para uso residencial e para onde canalizam os dejetos? Caso não saiba, conhece alguém da cidade ou do bairro que poderia nos ajudar/informar? Saudações! Isabel de Lourdes Araújo Ligia Almeida Souza Fernanda Mendes e Silva Henrique Francesconi Scarabotto |
2. Comentário de L.G.:
Cara Isabel, é um prazer podermos comunicar em português e um privilégio fazermos parte de uma cada mais dinâmica e orgulhosa comunidade de falantes da língua a que pertencem escritores de talento, universais, como por exemplo Cecília Meireles, João Ubaldo Ribeiro, Herberto Helder, Mário Cláudio, Mia Couto, José Craveirinha, Eugénio Tavares, Ondjaki, Pepetela...
O seu pedido fica no ar, certamente que haverá na nossa comunidade bloguística que se aproxima já do meio milhar de membros, gente com saber e competência (nas áeras da saúde pública, engenharia sanitária, arquitectura, planeamento urbano...) para lhe dar a informações que nos pede. Somos um blogue essencialmente de memórias mas também também de afectos e de solidariedade(s) (*). Desejo-lhe, a si e à sua equipa, boa sorte no concurso. L.G.
PS - Sugiro-lhe que, em Bissau, contacte também os nossos amigos da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento.
__________
Nota de L.G.:
(*) Último poste desta série > 5 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6939: Ser solidário (84): Sarau cultural para angariação de fundos a favor da Guiné-Bissau (José Teixeira / José Rodrigues)
Guiné 63/74 - P6956: Notas de leitura (147): A Tradição da Resistência na Guiné-Bissau (1879-1959), por Peter Karibe Mendy (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2010:
Queridos amigos,
Era indispensável uma referência ao trabalho do Peter Mendy, a adaptação da sua tese de doutoramento, a despeito de enormidades panfletárias inaceitáveis a um investigador com os seus pergaminhos, é de uma grande importância para se entender a vida intranquila da presença portuguesa até 1936, e depois.
Um abraço do
Mário
A tradição de resistência na Guiné-Bissau
(1879-1959)
Beja Santos
O livro “Colonialismo Português em África: A Tradição de Resistência na Guiné-Bissau (1879-1959)” é uma versão adaptada da tese de doutoramento apresentada por Peter Karibe Mendy na Universidade de Birmingham, Inglaterra (editado pelo INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau, 1994).
A ideia principal que o estudioso desenvolve na sua tese é de que a luta armada empreendida no país entre 1963 e 1974 deve ser interpretada como a culminação de uma longa tradição de resistência dos povos da Guiné. Os portugueses encontraram uma oposição feroz entre os africanos pelo que procuraram estabelecer relações amigáveis com alguns desses povos. Com altos e baixos no relacionamento, com base em compromissos sempre instáveis, construíram-se fortes em Cacheu e Bissau, mais tarde as bases comerciais ampliaram-se até ao Sul e ao centro da Guiné. Recorreram, não poucas vezes, ao uso de alianças de etnias contra outras. Os colonos brancos não tinham saúde para estar muito tempo expostos ao clima duríssimo da Guiné pelo que precisaram da colaboração dos cabo-verdianos, regra geral bem preparados em termos culturais.
Peter Mendy começa por fazer uma introdução sobre a tradição de resistência ao domínio colonial na África negra e a curiosidade, em muitos casos, é da cronologia dos acontecimentos (rebeliões, resistências, revolta das elites, greves...) coincidir com os diferentes territórios coloniais. Em seguida apresenta os povos e sociedades da Guiné e o povo de Cabo Verde, distinguindo os dois processos de colonização e destacando a questão fundamental do mestiço culto de Cabo Verde.
Entrando propriamente dos antecedentes da resistência na Guiné, descreve o estabelecimento da capitania de Cacheu, os presídios de Farim e Ziguinchor, a fortificação de Bissau (sobretudo ao tempo da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, acontecimentos que ocorrem fundamentalmente entre os séculos XVI e XVIII.
Que toda esta presença era frágil e contingente atesta o chamado desastre de Bolor ocorrido em 1878, um massacre perpetrado pelos Felupes. Em 1879 a Guiné separa-se de Cabo Verde e devido aos ditames da Conferência de Berlim (1884 – 1885) Portugal foi obrigado a proceder à ocupação efectiva das suas colónias. É este o período melhor documentado da resistência dos povos da Guiné. A região do Geba vai estar no centro dos primeiros grandes incidentes. Os povos da região, sobretudo os biafadas puseram a região a ferro e fogo e cortaram a navegação, com trágicas consequências para a economia da colónia. Em 1886, a 12 de Maio, é assinado o tratado Luso-Francês pelo qual a França passou a controlar o território a Norte do Rio Cacheu e a Sul do Rio Cacine. É nesta fase que as autoridades de Bolama fazem e desfazem alianças e para aplicar correctivos ou punir insubordinações recrutam numerosas forças de auxiliares fulas e mandingas. O autor enumera as diferentes campanhas punitivas com resultados sempre precários ou por vezes gravemente desfavoráveis para Portugal.
A situação muda substancialmente com as campanhas de pacificação ou de conquista militar. De 1913 a 1915, o capitão Teixeira Pinto com o apoio de Abdul Injai consolida posições em Mansoa e no Oio, depois reprime os manjacos, os cancanhas, os balantas e os papéis. Contribuiu para o sucesso o uso de armamento moderno e a total incapacidade dos resistentes constituírem uma frente unida. A segunda campanha de pacificação irá centrar-se nos Bijagós entre 1917 e 1936. Foi assim que terminou a resistência armada ao colonialismo português que pôde passar a aplicar uma nova doutrina: lógica de missão civilizadora, definição do indigenato (até com a legalização do trabalho forçado), criação de figuras como os civilizados, os assimilados e os indígenas. É nesta época que começam a preponderar os funcionários coloniais cabo-verdianos, muitas vezes mais escolarizados que os brancos e por vezes dotados de uma brutal mentalidade racista.
E estamos chegados a uma nova fase colonial, de ascensão nacionalista, com um novo quadro económico, um compromisso entre a exploração dirigida por escassas empresas e o apoio das autoridades gentílicas. Tratou-se de uma economia colonial limitada ao descasco do arroz, extracção de óleos de amendoim e palma, produção de sabões e madeiras. Entrara-se num patamar de contestação aos impostos, ao trabalho forçado, ao serviço militar e é nesse contexto que vai emergir a subversão e a contestação directa cujo expoente mais chocante é dado pelo massacre do Pidjiquiti. É nesse contexto que muito provavelmente se poderá analisar a adesão de grandes grupos populacionais à luta armada, sobretudo o que se passou no Sul da Guiné, logo em 1963. Os insurrectos eram os mesmos de sempre, camponeses tratados como bestas de carga. Ao tempo em que eclodiu a luta, os manjacos tal como os Felupes preferiram a neutralidade e os fulas e mandingas puseram-se do lado português. Mas isso são questões que já não cabem no historial da resistência, com base na história de longa duração.
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 8 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6950: Notas de leitura (146): A Questão de Bolama, de António dos Mártires Lopes (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Era indispensável uma referência ao trabalho do Peter Mendy, a adaptação da sua tese de doutoramento, a despeito de enormidades panfletárias inaceitáveis a um investigador com os seus pergaminhos, é de uma grande importância para se entender a vida intranquila da presença portuguesa até 1936, e depois.
Um abraço do
Mário
A tradição de resistência na Guiné-Bissau
(1879-1959)
Beja Santos
O livro “Colonialismo Português em África: A Tradição de Resistência na Guiné-Bissau (1879-1959)” é uma versão adaptada da tese de doutoramento apresentada por Peter Karibe Mendy na Universidade de Birmingham, Inglaterra (editado pelo INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau, 1994).
A ideia principal que o estudioso desenvolve na sua tese é de que a luta armada empreendida no país entre 1963 e 1974 deve ser interpretada como a culminação de uma longa tradição de resistência dos povos da Guiné. Os portugueses encontraram uma oposição feroz entre os africanos pelo que procuraram estabelecer relações amigáveis com alguns desses povos. Com altos e baixos no relacionamento, com base em compromissos sempre instáveis, construíram-se fortes em Cacheu e Bissau, mais tarde as bases comerciais ampliaram-se até ao Sul e ao centro da Guiné. Recorreram, não poucas vezes, ao uso de alianças de etnias contra outras. Os colonos brancos não tinham saúde para estar muito tempo expostos ao clima duríssimo da Guiné pelo que precisaram da colaboração dos cabo-verdianos, regra geral bem preparados em termos culturais.
Peter Mendy começa por fazer uma introdução sobre a tradição de resistência ao domínio colonial na África negra e a curiosidade, em muitos casos, é da cronologia dos acontecimentos (rebeliões, resistências, revolta das elites, greves...) coincidir com os diferentes territórios coloniais. Em seguida apresenta os povos e sociedades da Guiné e o povo de Cabo Verde, distinguindo os dois processos de colonização e destacando a questão fundamental do mestiço culto de Cabo Verde.
Entrando propriamente dos antecedentes da resistência na Guiné, descreve o estabelecimento da capitania de Cacheu, os presídios de Farim e Ziguinchor, a fortificação de Bissau (sobretudo ao tempo da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, acontecimentos que ocorrem fundamentalmente entre os séculos XVI e XVIII.
Que toda esta presença era frágil e contingente atesta o chamado desastre de Bolor ocorrido em 1878, um massacre perpetrado pelos Felupes. Em 1879 a Guiné separa-se de Cabo Verde e devido aos ditames da Conferência de Berlim (1884 – 1885) Portugal foi obrigado a proceder à ocupação efectiva das suas colónias. É este o período melhor documentado da resistência dos povos da Guiné. A região do Geba vai estar no centro dos primeiros grandes incidentes. Os povos da região, sobretudo os biafadas puseram a região a ferro e fogo e cortaram a navegação, com trágicas consequências para a economia da colónia. Em 1886, a 12 de Maio, é assinado o tratado Luso-Francês pelo qual a França passou a controlar o território a Norte do Rio Cacheu e a Sul do Rio Cacine. É nesta fase que as autoridades de Bolama fazem e desfazem alianças e para aplicar correctivos ou punir insubordinações recrutam numerosas forças de auxiliares fulas e mandingas. O autor enumera as diferentes campanhas punitivas com resultados sempre precários ou por vezes gravemente desfavoráveis para Portugal.
A situação muda substancialmente com as campanhas de pacificação ou de conquista militar. De 1913 a 1915, o capitão Teixeira Pinto com o apoio de Abdul Injai consolida posições em Mansoa e no Oio, depois reprime os manjacos, os cancanhas, os balantas e os papéis. Contribuiu para o sucesso o uso de armamento moderno e a total incapacidade dos resistentes constituírem uma frente unida. A segunda campanha de pacificação irá centrar-se nos Bijagós entre 1917 e 1936. Foi assim que terminou a resistência armada ao colonialismo português que pôde passar a aplicar uma nova doutrina: lógica de missão civilizadora, definição do indigenato (até com a legalização do trabalho forçado), criação de figuras como os civilizados, os assimilados e os indígenas. É nesta época que começam a preponderar os funcionários coloniais cabo-verdianos, muitas vezes mais escolarizados que os brancos e por vezes dotados de uma brutal mentalidade racista.
E estamos chegados a uma nova fase colonial, de ascensão nacionalista, com um novo quadro económico, um compromisso entre a exploração dirigida por escassas empresas e o apoio das autoridades gentílicas. Tratou-se de uma economia colonial limitada ao descasco do arroz, extracção de óleos de amendoim e palma, produção de sabões e madeiras. Entrara-se num patamar de contestação aos impostos, ao trabalho forçado, ao serviço militar e é nesse contexto que vai emergir a subversão e a contestação directa cujo expoente mais chocante é dado pelo massacre do Pidjiquiti. É nesse contexto que muito provavelmente se poderá analisar a adesão de grandes grupos populacionais à luta armada, sobretudo o que se passou no Sul da Guiné, logo em 1963. Os insurrectos eram os mesmos de sempre, camponeses tratados como bestas de carga. Ao tempo em que eclodiu a luta, os manjacos tal como os Felupes preferiram a neutralidade e os fulas e mandingas puseram-se do lado português. Mas isso são questões que já não cabem no historial da resistência, com base na história de longa duração.
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Nota de CV:
Vd. poste de 8 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6950: Notas de leitura (146): A Questão de Bolama, de António dos Mártires Lopes (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P6955: Memória dos lugares (98): Xitole e Ponte Carmona sobre o Rio Corubal, Abril de 2010 (Eduardo Campos)
1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos, em 30 de Agosto, mais uma mensagem narrando-nos mais alguns pormenores da sua recente viagem à Guiné.
Xitole e Ponte Carmona - Abril 2010
Camaradas,
Depois de umas férias aí vão mais algumas fotos da minha viagem à Guiné.
No Xitole não foi possível tirar fotos pois é quartel das F.A.G. (Forças Armadas da Guiné).
O José Rodrigues, que tinha cumprido a sua comissão no Xitole, conhecia a poucos quilómetros desta localidade, o que resta de uma ponte de nome Carmona e, através de uma picada bem dura, na qual até troncos tivemos de deslocar (para ser possível a progressão), conseguimos chegar lá e passar à “descoberta” da mesma.
Chegados à margem do rio Corubal encontramos a dita ponte, que segundo informações (contraditórias), foi construída nos anos 30 e, mais tarde, destruída pelas NT.
A ponte é muito bonita e as fotos que anexo não mostram a beleza dos seus arcos.
Depois de umas férias aí vão mais algumas fotos da minha viagem à Guiné.
No Xitole não foi possível tirar fotos pois é quartel das F.A.G. (Forças Armadas da Guiné).
O José Rodrigues, que tinha cumprido a sua comissão no Xitole, conhecia a poucos quilómetros desta localidade, o que resta de uma ponte de nome Carmona e, através de uma picada bem dura, na qual até troncos tivemos de deslocar (para ser possível a progressão), conseguimos chegar lá e passar à “descoberta” da mesma.
Chegados à margem do rio Corubal encontramos a dita ponte, que segundo informações (contraditórias), foi construída nos anos 30 e, mais tarde, destruída pelas NT.
A ponte é muito bonita e as fotos que anexo não mostram a beleza dos seus arcos.
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540
Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. também sobre a Ponte Carmona o poste de:
8 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5237: Memória dos lugares (53): Rio Corubal: As três pontes... (C. Silva / P. Santiago / M. Dias / Luís Graça)
Vd. último poste desta série em:
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