sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Guiné 63/74 – P7028: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (34): Memórias de Angola – Uma (longa) noite a conduzir… A morte

1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil Enfº da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66) e enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 22 de Setembro de 2010:

Camaradas,

Depois de longa ausência envio um texto sobre Angola, respeitante a uma dramática história passada em 5 de Junho de 1963.

Já lá vão 47 anos!

Confirmei alguns dados e sei que a história tem veracidade. Um irmão do Joaquim Mexia Alves - o António - foi Alferes numa Companhia deste Batalhão.

Como vi que no nosso Blogue já existem 70 postagens sobre Angola julgo que a história que te estou a enviar terá cabimento junto dos "testemunhos" da "nossa" Guiné.

Para complemento do texto anexo uma cópia de um mapa militar do Norte de Angola, assinalando Bessa Monteiro e Ambrizete (este mapa foi tirado de uma Edição do EME, 2º.volume do Dispositivo das Nossas Forças – Angola -, 1989).




UMA (LONGA) NOITE A CONDUZIR… A MORTE
De seu nome José Peça Figueiredo foi conhecido nos seus tempos de militar como o “Alcobaça”. Vá-se lá saber porquê!

Recolhi a história que hoje vou contar em diversos tempos…

Num primeiro tempo… hesitei em contá-la pela tremenda carga de dramatismo que contém.

Num segundo tempo – impressionado pela morte recente de uma familiar – telefonei ao Zé Peça, que daqui a pouco mais de um mês vai entrar numa idade ingrata – os 70 menos 1, e disse-lhe:

Eh pá, qualquer dia “deixamos de fumar” e fica por escrever a tal história da tua noite a caminho do Ambrizete…

Falámos ao fim da tarde de hoje, 20 de Setembro de 2010, em casa do Zé.

Somos amigos desde há muitos anos e sei que é… ”boa praça”. Não engana. Discreto, palavroso como profissional (foi um excelente vendedor de automóveis) mas extremamente recatado quando toca a falar de si.

Foi portanto um José Peça Figueiredo tenso e particularmente sério que me (re)contou a história de uma das noites mais longas e dramáticas da sua vida militar.

Foi no dia 5 de Junho de 1963. Passava pouco do meio dia. À distância do tempo recorda esse dia… ao minuto. Era Soldado Condutor (condutor auto rodas) da CCS do Batalhão 400 (BART 400).*


Pediram nessa altura “voluntários” para ir ajudar uma coluna do "392", de Baca, que estava a ser atacada quando vinha a meio caminho em direcção a Bessa Monteiro .

O Zé Peça ficou no quartel sentindo-se na obrigação de me explicar que “na tropa aprendeu cedo que não se devia ser voluntário” para nada. Saiu uma coluna comandada pelo Capitão Moura Borges para "ir dar uma mão" à tropa do "392", ajuda que tinha sido pedida por rádio.

Por volta das 3 da tarde soube o que tinha acontecido.

A cerca de 12 kms. de Bessa Monteiro, num local em que a “picada” estreitava devido a uma “garganta” da montanha a segunda viatura da coluna da CCS rebentou uma mina anti-carro e não tinha conseguido chegar ao local da emboscada da "392". Tinham-se registado diversos mortos e feridos.

Lembra-se dos mortos terem chegado “feitos aos bocados”. Havia a lamentar 3 mortos da CCS, entre os quais o Capitão Borges.

E também havia mortos em Baca da CART 392. Constava que eram 4.

O “Alcobaça” ajudou no que lhe foi possível e ainda assarapantado pela confusão do momento lembra-se de passado algum tempo ter sido chamado pelo Comandante de Batalhão, Ten. Coronel Alberto Ferreira de Freitas Costa.

“Alcobaça” vai jantar e depois levas os mortos a Ambrizete”.


Nesta parte da narrativa o Zé Peça esclarece-me de algumas dúvidas.

Destino Ambrizete porquê?

Ambrizete ficava a 200 kms. mas tinha cemitério e uma Igreja, onde se podiam fazer os funerais.


Teria que fazer o percurso onde tinha ocorrido o rebentamento da mina e passar por Baca para transportar, para o mesmo destino, os outros mortos.

Entre diversos pormenores macabros em relação aos mortos da CCS o Zé Peça lembra-se ainda do que comeu na altura: “bacalhau com batatas”! Porque se lembra deste pormenor? Porque que era um "prato" de que muito gostava e não tinha conseguido "tocar na comida".

Algum tempo depois apresentou-se com a sua “GMC” junto ao Comando e carregaram-lhe, em maca, os 3 mortos.

O Ten. Coronel entregou-lhe os galões do Capitão Borges e disse-lhe em voz baixa que os voltasse a colocar no corpo do Oficial quando tivesse chegado ao seu destino.

- E quem vai comigo, meu Comandante?

- Ninguém.Vais sozinho pois já chega os mortos que tivemos. Se houver outra mina só teremos mais uma baixa e não duas.

O Zé Peça, que sabia que o Comandante de Batalhão tinha estima por si, sentiu um aperto "mitral" mas nada disse e subiu para a viatura. Pôs o motor a trabalhar e arrancou, seguido por duas viaturas com duas(??) secções.Lembra-se que uma das secções era comandada pelo Furriel Tavares.

Eram umas seis da tarde.

Ainda havia luz de dia mas pouco depois começou a escurecer.

O “Alcobaça” não acendeu os faróis mas ligou os “olhos de gato” da “GMC”. Em marcha lenta, pois nalguns troços da “picada” os homens do Furriel Tavares seguiam apeados, chegaram ao local onde tinha rebentado a mina.

Foi muito difícil ultrapassar o "buracão", dificuldades que pouco depois aumentaram quando encontraram duas árvores abatidas na "zona de morte" da emboscada que a malta do "392" tinha sofrido.

Os “abatises” tiverem que ser serrados e removidos para a berma para a pequena coluna continuar o seu caminho.

Foram horas de angústia que se prolongaram pela noite dentro. Chegaram a Baca por volta das 4 da manhã. Aí o Zé lembra-se de ter comido alguma coisa. Uma espécie de pequeno almoço.

Tinham sido precisas cerca de 10 horas para percorrer 22 quilómetros!

Foram carregados os mortos da “392”- eram 3 e não 4 - e a coluna “funerária” seguiu a caminho de Ambrizete.

Só, na sua cabine, nem uma vez o Zé Peça olhou para trás, para a sua”carga”. Sentia um cheiro a morte e um zumbido de moscas… Foram horas e mais horas até Ambrizete. Só, com os seus pensamentos, o Zé Peça olhava para a “picada” atento a qualquer coisa… As sombras da noite foram clareando e quando o amanhecer chegou o seu ânimo melhorou um pouco…

Eram 5 da tarde quando chegaram a Ambrizete.

Tinham passado cerca de 23 horas desde que tinham saído de Bessa Monteiro!

Os corpos começaram a ser descarregados e o “Alcobaça” apressou-se a pôr os galões no cadáver que lhe pareceu ser o do Capitão Borges. Os corpos estavam inchados, cobertos de pó, de moscas e…irreconhecíveis. O Zé Peça teve dúvidas mas… não conseguia olhar mais tempo os mortos.

Perguntei-lhe se os corpos estavam identificados, se tinham as chapas metálicas de identificação que todos os militares traziam ao peito? Em consciência não se lembra… nem sabe responder.

Tinha que sair dali bem depressa e foi para a “Pensão do Moço”. Conhecia o dono e lembra-se que foi para a cama bem cedo. Caiu na cama mas não conseguiu dormir nada de jeito. Teve pesadelos e viu, vezes sem conta, os “seus” mortos numa noite longa… que parecia não ter fim.

No dia seguinte atestaram-lhe a sua GMC com géneros. Carregou sacos de arroz, feijão, grão, batatas, conservas e barris de vinho.

O Zé Peça lembra-se que sentia algum “conforto” com o carrego que ia transportar. Carregava a tonelagem máxima e se “encontrasse” uma mina anti-carro talvez não saltasse muito!

Não houve problemas no regresso a Bessa Monteiro.


Quando chegou ao aquartelamento pensava que ia encontrar a malta toda em lágrimas.

Foi recebido com gritos de satisfação. Olha o “Alcobaça”!

Num grupo tocava-se acordeão e dançava-se…

Parecia que nada de anormal se tinha passado 2 dias antes.

O “Alcobaça” percebeu que a guerra é mesmo assim.

Ai dos que partem!

Quem fica… come, bebe, brinca... convencido que a acontecer alguma coisa de mau acontecerá aos outros.

Fez o relatório verbal ao seu Comandante e não ocultou as dúvidas que teve quando colocou ao galões do Capitão… num corpo que poderia não ser o “certo”.

O seu Ten. Coronel não o recriminou e explicou-lhe as razões da tal ordem cruel:

«Segues sozinho porque já me chegam os mortos que tivemos.»

O Zé Peça compreendeu e seguiu para a sua vida no quartel. Onde fazia tudo… ou quase tudo.

Mal sabia ele que ainda estavam para acontecer outros acontecimentos bem trágicos por ali…

Em 6 de Setembro de 1964 é abatido um pequeno avião de reconhecimento onde seguiam dois oficiais do BArt. 400:

O Ten. Coronel Alberto Ferreira de Freitas Costa e o Capitão Carlos Alberto Boura Ferreira morreram nesse dia aziago.

O Zé Peça termina a sua história com a voz rouca.

Peço-lhe algumas fotografias do seu tempo de Angola que, com a ajuda da sua mulher, encontra passado algum tempo.

Quando me preparava para me despedir o “Alcobaça” conta-me mais um capítulo da sua vida.


Dois anos e 65 dias depois de ter rumado a Angola regressou a Portugal e à “nossa” Alcobaça na Primavera de 1965. Empregou-se nas “Termas da Piedade” onde, passado pouco tempo, com a sua habilidade nata para fazer tudo… fazia quase tudo!

Quando alguma coisa urgente o justificava deslocava-se de carro a Alcobaça – a 2 Kms. das Termas – para tratar do que fosse necessário e dava a boleia a quem precisava de vir à vila.

No Verão desse ano de 65 transportou três pessoas e na conversa “de ocasião” uma senhora falou da morte do seu marido,que tinha sido militar em Angola .Quando ouviu falar de Angola o Zé Peça meteu-se na conversa e perguntou qual era patente do militar que tinha morrido. A senhora disse-lhe que o seu marido tinha sido o Comandante do Batalhão 400. O Zé Peça respondeu-lhe de olhos arregalados que esse oficial – o Ten. Coronel Freitas Costa – tinha sido o seu Comandante de Batalhão. Mais contou que tivera com ele uma relação respeitosa mas de muita amizade. E recordou emocionado à senhora (de que não recorda o nome) que o seu Comandante quando esteve de férias em Portugal (em 1964 ??) tinha passado por Alcobaça e lhe tinha levado pêssegos da sua região. Os melhores pêssegos do mundo. Nessa altura dissera ao Zé onde os tinha comprado e "que quem passa por Alcobaça não passa sem lá voltar". Quando esta conversa aconteceu, recorda o Zé Peça, que nem um ano tinha passado sobre a morte do seu Comandante.

A viúva do seu Comandante recordava-se da compra desses pêssegos.

Fez com a senhora uma grande amizade, que recorda com muita saudade.

Como o mundo é pequeno!

Pequeno mas habitado por muita gente.

Com dias aziagos e… noites longas.

Passar uma noite a conduzir… a morte… marcou-lhe a vida.

Para sempre!

Nota final:

Guerra do Ultramar

info: LC123278

Mortos do Batalhão de Artilharia 400 Angola 1962 / 1965

NOME. freg (naturalidade). concelho. Posto. Un. OP. Data. PU. loc sepultura.

Os nomes assinalados a vermelho dizem respeito ao relato do Zé Peça.

13.Março.1963

HORÁCIO DOS SANTOS OLEIRO Arrabalde - Vilar Cadaval Sld CArt393/BArt400 13-03-1963 A † Ajuda (Lx)

5.Julho.1963

1-CARLOS JOSÉ DE MOURA BORGES Campanhã Porto Cap BArt400 (CCS) 05-07-1963 A † Entre-os-Rios

2-FERNANDO DOS SANTOS BORGES Rio Torto Valpaços 1Cb BArt400 (CCS) 05-07-1963 A † Ambrizete

3- JOÃO CLÁUDIO FERNANDES Lourinhã Lourinhã Sld BArt400 (CCS) 05-07-1963 A † cemit concelhio

4-JOSÉ FREITAS ESTEVES Cascais Cascais Sld CArt392/BArt400 05-07-1963 A † cemit concelhio

5-SERAFIM FRANCISCO RIBEIRO Souto Santa Maria da Feira Sld CArt392/BArt400 05-07-1963 A † freg nat

6-VIRGÍLIO FERREIRA Reriz Castro Daire Sld CArt392/BArt400 05-07-1963 A † Ambrizete

15.Agosto.1963

ARTUR FLORIANO COELHO MENDES (???) (???) 1Cb CArt393/BArt400 15-08-1963 A

JOSÉ FERNANDO BARBOSA DE ALMEIDA Rio Tinto Gondomar Sld CArt393/BArt400 15-08-1963 A † Ambriz

9.Setembro.1963


JOÃO ANDRELINO VALERIANO CEBOLA Sé e São Pedro Évora 1Cb CArt391/BArt400 09-09-1963 A † Ambrizete

JOSÉ DA MOTA FONSECA Perozelo Penafiel 1Cb CArt391/BArt400 09-09-1963 A † freg nat

9.Novembro.1963

JOSÉ ANTÓNIO DA LUZ Nossa Senhora do Pópulo Caldas da Rainha Sld CArt391/BArt400 09-11-1963 A ‡ ñ rec

28.Novembro.1963

MANUEL ANTÓNIO IGREJAS FERNANDES Angueira Vimioso Sld CArt393/BArt400 28-11-1963 A

6.Setembro.1964

CARLOS ALBERTO BOURA FERREIRA Sanfins do Douro Alijó Cap BArt400 (CCS) 06-09-1964 A † freg nat

ALBERTO FERREIRA DE FREITAS COSTA Sé Nova Coimbra TCor BArt400 06-09-1964 A † Guia (Cascais

24.Fevereiro.1965

ANTÓNIO MANUEL LOPES Padornelo Paredes de Coura Sld BArt400 (CCS) 24-02-1965 A † Alto de São João (Lx)

* OS GATOS (Bessa Monteiro, Baca, Quibala Norte, Ambriz, Ambrizete, Quimbumbe etc)



Um grande abraço de Alcobaça
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
____________


Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


11 DE JULHO DE 2010 > Guiné 63/74 – P6712:
Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (33): Na Guerra e na Paz… Até ao Fim…

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7027: Convívios (275): Convívio da CCAÇ 2797 – Cufar 1970/72, dia 2 de Outubro de 2010 em Barcelos (Luís de Sousa)


1. O nosso Camarada Luís de Sousa, ex-Sold Trms da CCAÇ 2797 (Cufar 1970-72), enviou-nos uma mensagem solicitando a divulgação da Confraternização Anual da sua Companhia:

Convívio da CCAÇ 2797

Camaradas,

Tal como em ocasiões anteriores, em que tive o melhor acolhimento, venho pedir a divulgação de mais um encontro da C.Caç. 2797, Pelotão de Canhões S/ Recuo 2199 e restantes inúmeros amigos, que este ano se realiza em Barcelos no próximo dia 2 de Outubro (sábado).

A concentração terá lugar no Santuário da Franqueira, para a cavaqueira do costume, seguindo-se o convívio numa quinta da região com a qualidade a que já estamos habituados naquelas paragens.

Preço, vinte e seis “pesos” e meio por pessoa.

O organizador é o Ferreira, contactos: Tlm. 965565424 ou Telef. 252950521

Um abraço e muito obrigado.
Luís de Sousa
Sold Trms da CCAÇ 2797
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Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

21 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7019: Convívios (191): Próximo convívio da Tabanca da Linha, dia 2 de Outubro de 2010, no Talho do Diamantino - Quinta do Cortador (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P7026: Estórias do Jorge Fontinha (12): Os nossos Enfermeiros

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Fontinha* (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 19 de Setembro de 2010:

Carlos Vinhal
Já era mais que tempo.
Aqui vai mais uma Estória. Se a poderes publicar até ao dia 24, ficaria satisfeito.

Aquele abraço
Jorge Fontinha


Estórias do Jorge Fontinha (12)

Os nossos enfermeiros

A CCAÇ 2791- (FORÇA), foi uma Companhia, cujos Especialistas e não só os Operacionais, foram de verdadeira excelência.

Hoje vou falar da equipa de enfermagem cuja competência e dedicação não tiveram limites. Superiormente liderada pelo Furriel Miliciano Urbano Silva, os Cabos e maqueiros divididos pelos 4 Grupos de Combate, foram uma equipa de respeito.

O Urbano era incomparável, tanto na sua Especialidade como ser humano, voluntarioso, competente e rigoroso. Ninguém escapava às suas seringas nem aos seus comprimidos. Protagonizámos, os dois, muitos episódios, alguns deles já nem sequer os consigo lembrar. Há todavia um que jamais vou esquecer.

Quando a Companhia se reúne em Teixeira Pinto com o nosso 4.º Grupo, alguns dias passados, há uma operação programada para o Balangarez. Na véspera tive uma entorse no pé direito e como nunca me havia baldado em circunstância alguma, fui ter com o Urbano para que ele me desse a sua opinião. Depois de revisto, aconselhou-me a consultar o médico do Batalhão, que me aconselhou a descansar 3 a 4 dias, passando-me uma baixa para 3 dias. Como era da minha obrigação, dei conhecimento ao Alferes Gaspar e dirigi-me ao gabinete do Capitão Mamede, informando-o da situação. Aconteceu o impensável!

O Capitão Mamede acusou-me de caras de ser oportunista e de estar a forjar a situação. Nunca havia sido tratado, por um superior hierárquico, da forma que estava a ser e com a indignação, disse que não ia à operação, bati com a porta e fui para o bar meter uns gins com água tónica pelas goelas abaixo.

Furriel Miliciano Enfermeiro, Urbano Silva

Foi quando apareceu o Urbano. Não o enfermeiro, mas o ser humano que todos nós na Companhia lhe reconhecíamos. Agarrou-me por um braço e convidou-me a ir até à enfermaria pois queria falar comigo. Aí, mandou-me descalçar a bota, fez o seu próprio exame, mexeu, remexeu, massajou durante alguns minutos, com milagrosas pomadas, ligou-me o pé com todo o vigor e obrigou-me a engolir um comprimido, dando-me outro, para ser tomado ao levantar.

Perguntei-lhe para que era aquilo tudo, se já tinha decidido não ir à operação. Aí, sem que nada o fizesse esperar, faz uma pirueta no ar, dá dois ou três passos de dança e diz três ou quatro palhaçadas, provocando um ambiente hilariante e de boa disposição. Foi a táctica dele. Vais à operação ou não? Vou, mas levo a dispensa no bolso. Se tiver de ser evacuado, alguém a vai ver!

Hoje digo obrigado Urbano.

No decorrer da operação senti alguma dor que estoicamente fui ignorando. A dada altura e já no período de emboscada, para passar a noite, comecei a ter tremuras e febre, tendo passado um mau bocado. Valeu-me na altura a minha companheira de emboscada, a inseparável garrafa de Whisky, duas goladas e a colaboração do Cabo Enfermeiro Silva, que com o restante me massajou, pondo-me a transpirar abundantemente. Ao raiar do dia, preparamo-nos para regressar à estrada e sermos recolhidos para voltarmos para Teixeira Pinto.

A febre e as tremuras passaram, o pé ainda bastante dorido, mas felizmente com evidentes melhorias ajudaram o resto.

O Cabo Enf.º Silva assistindo-me durante a Operação

Assisti mais assiduamente às intervenções do Cabo Enf.º Silva. Foi ele que quase em simultâneo assistiu ao acidente que mutilou a perna do Nunes, nosso primeiro ferido de toda a Companhia. Foi também ele que assistiu em primeira mão ao acidente que provocou o primeiro morto do Grupo de Combate e da Companhia, tendo tido a sorte, ele e todos nós, de seguir na viatura que ia à nossa frente e era comandada pelo Furriel Chaves.

Curiosamente, o Chaves esteve também ele ligado ao episódio seguinte, quando em Mato Dingal, o Cabo Silva, foi chamado de urgência á Tabanca para ajudar a um parto difícil. Coincidiu com a hora de almoço mas o Silva interrompeu, veio avisar-nos a nós e preparou-se para ir. O Chaves que era homem para grandes rasgos, também interrompeu o almoço e igualmente,”meteu as mãos nas luvas” e também foi.

Entretanto eu e o Alferes Gaspar, continuamos a almoçar, comer a sobremesa e continuamos á mesa, com os respectivos digestivos, aguardando a chegada de ambos. Assim, o Chaves mal se livra das luvas e se lava, vem para a mesa, acabar de almoçar. Quem estava de frente para a porta de entrada era o Gaspar, que de imediato começa vomitar, provocando-me a mim próprio, igual reacção. O Chaves ao lavar-se, esqueceu-se de mudar a camisa, que vinha ensanguentada e com vestígios da placenta. Resta dizer que o desempenho do Silva, foi exemplar.

O Silva era adorado pelo pessoal daquela Tabanca pois tinha sempre uma seringa mágica que curava toda a gente!…

Aos meus bons amigos ex-Furriel Urbano e ao ex-Cabo Silva, o meu abraço eterno.

Foi apenas mais uma Estória verdadeira, vivida na Guiné.

Aquele abraço para toda a Tertúlia.
Jorge Fontinha
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6999: Convívios (189): Encontro anual do pessoal da CCAÇ 2791 em Viseu, dia 25 de Setembro de 2010 (Jorge Fontinha)

Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6564: Estórias do Jorge Fontinha (11): Um soldado pediu-me que o matasse

Guiné 63/74 - P7025: (De) Caras (1): PAIGC: Abdu Indjai e os "sete homens" (Luís Graça / João Graça / José Brás / José Teixeira / Mário Fitas)

1. Comentários sobre o combatente da liberdade da pátria, Abdu Indjai (, foto à esquerda), inseridos no poste P7022 (*):

1.1. Ainda são relativamente raras as fotos, publicadas no nosso blogue, de antigos guerrilheiros do PAIGC, homens (e algumas mulheres) que estavam do outro lado apontando uma arma contra nós...

Algumas (como a do homem que comandou o bigrupo que provocou o massacre do Quirafo, em Abril de 1972) são ainda bem duras de se verem e reverem... (Imagino os sentimentos, contraditórios, de camaradas nossos como o António Baptista, o nosso morto-vivo do Quirafo)...

Há dias descobri a foto do "fuzileiro", nalu, que andou na guerrilha desde o início de 1963, travou combates desde o Como (1964) a Gandembel (1968), até perder uma perna (possivelmente em 1969), numa das nossas minas... lá para os lados do Quebo, Contabane ou Saltinho... 

Não sei se se alguma vez nos "cruzámos", perto do Corubal, na região do Xime / Xitole, ele, os seus "sete homens" e a minha CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... É possível... A foto foi tirada pelo João Graça, em Farim do Cantanhez, em 9 de Dezembro de 2009... Gostava de o conhecer pessoalmente. Tem um ar afável e seguramente uma memória prodigiosa. É o pai da Cadi e o avô da Alicinha do Cantanhez...

Luis Graça


Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1.2. Abdú Indjai: Missões em Medjo, antes de Gandembel, deve ter sido em 67 ou 68. Comandava o grupo "sete homens". Lembro de um ataque a Medjo às 3 da tarde, após bombardeamento aéreo de Salancaur, em que ficámos a ver os aviões a picar, desapareciam nas copas da mata, voltámos a vê-los a subir, ouviamos os estrondos, víamos as colunas de fumo. Às 3 horas (a hora do lobo), nutrido fogo apanhou-nos de surpresa e enfiou uma série de granadas de bazuca (?) que destruiram metade dos edifícios.

José Brás



1.3.  Pois é. Não me lembro de ter visto o Abdu Injai, mas devo ter-me cruzado com ele em 1968/69 lá para os lados de Balana e Quebo. Eu com a minha bolsa de enfermeiro e ele com a Kalash a espreitar-me na mata cerrada do Cantanhez. Guera é guera, mas já foi há manga di tempo, agora quero ser teu ermon,  como me disse o Braima Cassamá,  o sapador colega do Abdu que encontrei em Guiledje em 2008. Este analisou comigo alguns encontros em estivemos frente a frente, sem nos vermos, uma das quais em que chegou a entrar dentro do arame farpado em Mampatá em Novembro de 68, mas... teve de fugir porque o Tuga ficou zangado (!), manga dele. Ou... as 87 minas que montou em Tchangue Laia junto ao Balana, que nos levou 7 vidas. 

Guerra é guerra. É preciso curar as feridas.Esta é a melhor forma. Que a Alicinha seja a nossa da paz que a Guiné-Bissau merece.

Zé Teixeira


1.4. Que seja benvindo, e que conte as suas histórias, pois é interessante saber se nos cruzámos.

Abdú Indjai, conta lá rapaz.

Recebe um grande abraço do tamanho do Cumbijã, 

Mário Fitas


Guiné- Bissau > Instalações da AD - Acção para o Desenvolvimento > Julho de 2007 > O Paulo Malu, antigo comandante do PAIGC, hoje coronel, e quadro superior da Direcção-Geral de Alfândegas. Foi ele que comandou, em 17 de Abril de 1972, o bigrupo que montou e executou a terrível emboscada contra os militares da CART 3490 (Saltinho, 1972/74) que escoltavam um grupo de civis afectos à construção de uma estrada (Quirafo-Foz do Cantoro).

Foto: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 22 de Setembro de 2010  > Guiné 63/74 - P7022: Ser solidário (88): A Alicinha do Cantanhez e a sua mãe, Cadi, estão bem de saúde e recomendam-se (Pepito / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P7024: Recortes de imprensa (29): A guerra do António Branco, CCAÇ 16, Bachile, 1972/74 (Correio da Manhã, 24 de Agosto de 2008)



1. Ainda há dias, a 16 do corrente, em comentário ao poste P6994 (**), o José Martins escreveu o seguinte:

"Sob o título A Minha Guerra, tem o Correio da Manhã editado, todos os Domingos, um texto baseado nos escritos enviados por combatentes.


"Esta, que considero a 2ª série, aparece mais cuidada, mas, como o espaço é pouco, é bastante reduzida, deixando de fora algumas passagens que o(s) autor(es) consideravam mais significativas.


"Sugiro, pois, aos editores que, em simultâneo com os resumos apresentados (e disponíveis na página do CM) sejam também publicados os textos que serviram de base ao trabalho da Maria Inês Almeida, e que os autores queiram disponibilizar.


"Nestes textos, poder-se-á observar diversas formas de encarar os mesmos acontecimentos e, no caso de unidades de recrutamento local (p.e. CCAÇ 5 - 6 participações) a sequência dos factos que foram ocorrendo" (...)


2. Comentário de L.G.:

Seguindo a sugestão do Zé Martins, lancei ao pessoal da Tabanca Grande, através do nosso correio interno, um desafio para que nos façam chegar os textos eventualmente entregues ao CM, para a série A Minha Guerra...(Naturalmente, os já publicados). E a seguir dizia que "nem sempre os jornalistas respeitam a letra e o espírito dos nossos depoimentos, entrevistas, etc. (Falo por experiência própria)"...

E acrescentava: "Por outro lado, nem toda a gente lê o CM... O nosso blogue, por sua vez, pode chegar às 3 mil visualizações por dia (...). E o vosso nome fica na lista dos marcadores/descritores, logo mais facilmente pesquisável na Net" (...).

3. A primeira resposta que nos chegou foi a do nosso camarada António Branco, com data de 16 do corrente:

Amigos e camaradas: Aproveitando a sugestão de hoje, aqui estou de imediato disponível, a  partilhar com a Tabanca Grande o meu depoimento publicado no CM em 24-08-2008, na 1ª série de A minha Guerra.

Pessoalmente considero que o seu conteúdo é algo pobre, face ao que descrevi na entrevista, mas também compreendo que a visão jornalística, naturalmente,  não é coincidente com a nossa.

Devo referir igualmente que toda a descrição foi baseada apenas na minha memória visual, já que não possuía nenhum suporte escrito e por esse motivo, admito perfeitamente,  e apesar de ter tentado ser coerente, é passível de conter algumas pequenas imprecisões.

Um forte abraço

António Branco



Estes alguns dos recortes que ele nos mandou, e que reproduzimos aqui, com a devida vénia ao Correio da Manhã:



















guisse chegar ao morteiro e começar a resposta ao ataque com algumas granadas.  (...)  





_________________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6994: Recortes de imprensa (28): A fraternidade na guerra, segundo Mário Fitas (Correio da Manhã, 6 de Junho de 2010)


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7023: Tabanca Grande (245): Armando Fonseca, ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42 (Guiné, 1962/64)

1. Mensagem de Armando Fonseca, ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64, com data de 9 de Setembro de 2010:

Caro Luís Graça
O Alenquer volta ao contacto:

Durante os primeiros meses em que permanecemos em Bissau fazendo a segurança ao aeroporto, tudo decorreu normalmente, mas os últimos meses de permanência em que fomos deslocados para o zona de Aldeia Formosa a situação piorou.

Vou apenas descrever uma breve passagem visto que num mail não se pode alongar muito a conversação.

Quanto à tão falada Guilege que no seu blogue aparece bastante evidenciada, quando lá chegamos não existia. Foi o Pelotão de Reconhecimento Fox 42 que com outro Pelotão de uma Companhia que se encontrava em Aldeia Formosa começou a erigir aquilo que mais tarde foi o destacamento de Guilege, capinando, cercando de arame farpado, cavando abrigos e construindo algumas moranças para abrigar alguma população civil que nos acompanhou.

Durante a permanência do meu Pelotão em Guilege fizemos algumas incursões até Bedanda de onde fazíamos alguns bombardeamentos com balas incendiárias para as casas de mato do inimigo que estava instalado do outro lado do rio e que frequentemente flagelava a Companhia que estava sediada em Bedanda.

Depois de em Guilege já haver as condições mínimas para as tropas de Infantaria se poderem aguentar, o Fox rumou a outras paragens que serão descritas em novos contactos

Sou o Armando Faria da Fonseca, Condutor de uma FOX do Pelotão 42, na Guiné entre Maio de 62 e Julho de 64.


2. Comentário de CV:

Caro Armando, bem aparecido na Tabanca onde aliás já tiveste uma intervenção em Junho passado.

Desta vez apareceste para fazeres a tua apresentação formal, pelo que podes receber já um abraço que mando em nome da Tertúlia e dos Editores.

Pelo que referes, foste um dos fundadores do quartel de Guileje, pelo que ficas com a obrigação de nos contares como foram passados aqueles tempos que adivinhamos difíceis.

A tua Unidade é do início das hostilidades, em que o armamento e as condições de instalação não seriam das melhores, embora mesmo nos anos coincidentes com o fim da guerra houvesse Unidades instaladas em autênticos buracos.

Tu poderás contar como eram aqueles tempos de 1962 para compararmos com as condições de 1972/74.

Não sei se já reparaste que apesar de seres um pouco menos novo do que eu, tomei a liberdade de te tratar por tu. É que aqui na Tabanca não há velhos nem novos, ricos e menos ricos, doutores ou carpinteiros, soldados básicos ou oficiais. Somos tão-só camaradas que nos respeitamos, independentemente da idade, antigo (ou actual) posto militar, posição social, etc. O tratamento por tu facilita a comunicação e não implica desrespeito algum.

Julgo que o essencial te foi dito, mas poderás tirar as tuas dúvidas consultando o lado esquerdo da nossa página.

Recebe então um abraço fraterno destes teus novos camaradas e amigos.
CV
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6530: O Nosso Livro de Visitas (90): O Alenquer, condutor, Pel Rec Fox 42 (Aldeia Formosa, Guileje, Ganturé, Sangonhá, Cacoca, 1962/64)

Vd. último poste da série de 22 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7018: Tabanca Grande (244): Germano José Pereira Penha, ex-Fur Mil da CCAÇ 5, Canjadude, 1970/72

Guiné 63/74 - P7022: Ser solidário (88): A Alicinha do Cantanhez e a sua mãe, Cadi, estão bem de saúde e recomendam-se (Pepito / Luís Graça)


Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Casa do Pepito e da Isabel > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita),  que tem na Alice de Candoz (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Não fala português, só um pouco de crioulo, para desespero da Alice de Candoz que de vez em quando lhe telefona... De tempos a tempos, esta manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai-se rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja a menina (e a mãe)... Da cólera, do paludismo, das desinterias, da fome e das mil e uma causas de morte infantil na Guiné-Bissau...

Foto: © Pepito (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

Lembram-se da Cadi,  pois claro !? E  do poema Nasceu e morreu um pretinho da Guiné!? (*)...Uma história amarga e triste: O Nuninho nasceu e logo morreu, ao fim de quatro meses. De paludismo, de abandono. Depois veio a Alice que fez esquecer o Nuninho (**)... A vida vale pouco, em África... e mal há tempo para fazer o luto dos que morrem... Essa é a verdade nua e crua... Os nossos bisavós, em Portugal,  também conheceram a brutal realidade da mortalidade infantil que, no final do Séc. XIX, roubava uma em cada cinco crianças, antes dos cinco anos...

Já aqui contámos como é que a Cadi, filha do ex-guerrilheiro nalu Adbu Indjai (***), apareceu nas nossas vidas, na vida da Alice Carneiro e, por tabela, na minha... Conhecemo-la em Iemberém, em Março de 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008).

Cadi, de seu nome.
Amorosa.
Uma ternura.
Uma jóia de miúda.
Tinha a graça de uma gazela
apascentando na orla da bolanha.
Era nalu.
Vivia em Farim do Cantanhez.
Filha de um velho combatente da liberdade da pátria (...)

 

Estava grávida, em Março de 2008. Soubemos  depois que tivera um menino. Infelizmente a criança morreria, quatro meses depois, em Setembro de 2008. E a própria Cadi, perdida em Bissau, corria um sério risco de vida. Valeu-lhe na altura a solidariedade dos seus novos amigos, Júlia e Nuno Rubim (dois seres humanos de excepção), bem como do jovem Moisés Caetano Pinto, o Tino, que trabalha para a AD - Acção para o Desenvolvimento. A Júlia e o Nuno proporcionaram à Cadi os cuidados médicos de uma clínica privada, em Bissau, sem o que muito provavelmente ela também teria morrido a seguir ao seu filho.

Em 2010, a Alice e eu mantivemos alguns contactos telefónicos com a Cadi. Em Dezembro de 2009, o
João Graça, médico e músico, está de férias na Guiné (com uma semana de voluntariado em Iemberém, no Centro de Saúde Materno-Infantil, local). Por um feliz acaso encontra a Cadi, grávida, na consulta médica. Não sabia que era a mesma pessoa para quem levava umas roupinhas, um telemóvel e algum dinheiro, lembranças de Portugal.

Na conversa possível com alguém que mal falava o português, o João ficou a ser o nome do futuro cidadão guineense:
- Si for menino, será Luís... Si for minina, será Maria Alice - esclareceu a grávida, de sete meses...
- Estranho, são os nomes dos meus pais... - lá pensou ele, para os botões da sua bata branca...

Pois aqui está, na foto acima, a Maria Alice, nascida a 17 de Janeiro de 2009... Robusta e saudável! O fotógrafo foi o Pepito. A foto foi tirada na sua casa, em Bissau, por onde a Cadi passou, em trânsito... Foi à capital tratar de uns assuntos pessoais, aproveitando uma boleia. E, ao que sei, já voltou a casa, em Farim do Cantanhez,  que Bissau é um mau lugar para uma jovem mãe e a sua menina, uma cidade demasiado palúdica, colérica e buliçosa para dois seres que merecem o direito à vida, ao amor e à esperança.


Desculpem, meus amigos e camaradas, mesmo correndo o risco de ser mal interpretado, tinha de partilhar isto convosco... LG
_______________

Notas de L.G.:

(*) Vd.poste de 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça).

(**) 1 de Abril de 2010 > G
uiné 63/74 - P6086: Ser solidário (63): Gente feliz... com lágrimas: a Cadi e a sua filha, a Maria Alice do Cantanhez (Pepito / Luís Graça)

(***)  Vd. poste de 3 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6102: PAIGC - Quem foi quem (9): Abdú Indjai, pai da Cadi, guerrilheiro desde 1963, perdeu uma perna lá para os lados de Quebo, Saltinho e Contabane (Pepito / Luís Graça)


(...) Abdú Indjai [, foto à esquerda, tirada por João Graça, em Iemberém, em 9 de Dezembro de 2009]:

(i) Nasceu em Farim de Cubucaré,  [Cantanhez,] em 1947;

(ii) O pai foi militar português que prestou serviço em Macau [, durante a II Guerra Mundial];

(iii) Entrou na Luta Armada logo no seu início, no dia 23 de Janeiro de 1963, na Base Central de Cubucaré, na Barraca Miséria, centro de recrutamento;

(iv) Especializou-se como fuzileiro, em 64;

(v) Entrou no Exército Regular em 66, sob o comando de Kubói Nam'Bá, sendo Comissário Político Braima Camará;

(vi) Comandava então um grupo designado por "sete homens";

(vii) Fez missões militares em Como, Catchil [ou Cachil], Tombali, Cufar, Medjo [ou Mejo]  e Guiledje [ou Guileje];

(viii) Mais tarde, fez a guerrilha na zona 7 (Quínara), com o Comandante Gaio (cubano), sob a direcção do Comandante Nino Vieira;

(ix) Em 1968 intervém na Guerra da Ponte de Balana (tanto na pontezinha, como na ponte grande);

(x) Depois desloca-se para Quebo [, mapa de Xitole,] Saltinho e Contabane [, mapa de Contabana,] sob a chefia do Comandante Augusto Patchanga;

(xi) Nessa altura cai numa mina e fica sem uma perna [, possivelmente em 1969];

(xii) Evacuado para o Hospital de Boké,  na Guiné-Conacri, acaba por ir para a RDA [ ex-Alemanha de Leste,] em tratamento;

(xiii) Regressa a Conacri  na véspera da operação Mar Verde, assalto organizado por Spínola e Alpoím Calvão [, em 22 de Novembro de 1970];

(xiv) É nesta cidade que está quando a Independência da Guiné-Bissau é proclamada [, a 24 de Setembro de 1973];

(xv) Hoje é agricultor e Presidente da Associação dos Antigos Combatentes de Cantanhez. (...)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7021: Blogoterapia (158): A Nossa Pátria (Juvenal Amado)





1. Do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74) recebemos esta ideia de Pátria:






O majestoso Convento de Alcobaça


A NOSSA PÁTRIA

Foi Afonso Henriques
Foi Dinis
Foi João I
Foi Henrique o Navegador

Foi a Cruz
Foi a espada
Foi riqueza
Foi ouro, prata, mirra, canela e pimenta

Foi escravidão
Foi Camões
Foi Fernão Mendes Pinto
Foi ocupada e foi traição

Foi doutrinadora e castigadora
Foi invadida e invasora
Foi libertada e libertadora
Foi opressão e resistência

Foi paixão e abandono
Foi sangue, suor e lágrimas
Foi ausência
Foi partida e foi chegada

Foi Pessoa
Foi Almada Negreiros
Foi Florbela
Foi Pedro e Inês
Será um sonho inacabado?

É este cheiro a terra e mar
É este cheiro a hortelã, salsa e alecrim
É o refrão e a guitarra
A Pátria, é esta saudade permanente em mim


Juvenal Amado
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7005: Estórias do Juvenal Amado (31): Desse amor ficou só a nostalgia daquela idade

Vd. último poste da série de 2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6922: Blogoterapia (157): Ai, Timor (J. Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P7020: Monumentos militares em Leiria (José Martins)

1. Mais um valioso trabalho do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), desta vez referente aos monumentos e memoriais dedicados aos combatentes de Leiria.



MONUMENTOS

MILITARES

EM LEIRIA





Monumento aos combatentes do Ultramar

Está situado junto ao antigo Paço Episcopal, no mesmo Largo em que foram colocadas três placas com o nome dos militares, do Concelho de Leria, caídos em campanha, durante a Guerra do Ultramar.

Monumento aos Heróis do Ultramar – Leiria
Frente do monumento
© Foto José Martins – Maio de 2010

Monumento aos Heróis do Ultramar – Leiria
Parte de trás – Legenda: AOS HERÓIS DO ULTRAMAR
© Foto José Martins – Maio de 2010

Monumento aos Heróis do Ultramar – Leiria
Parte lateral – Legenda:
HOMENAGEM DA CÂMARA MUNICIPAL DE LEIRIA E
DA DELEGAÇÃO DISTRITAL DA MOCIDADE PORTUGUESA
20-XI-1966
© Foto José Martins – Maio de 2010


Memorial aos Combatentes da Guerra Ultramarina

Placa, em três lápides, com o nome de todos os Combatentes que tombaram em África entre 1961 e 1974.
Inaugurada em 10 de Junho de 2010
© Foto José Martins – Maio de 2010


Monumento aos Combatentes da Grande Guerra

Monumento inaugurado em 13 de Maio de 1929.
Fica situado no Largo de Infantaria n.º 7, de que ainda se vê a antiga parada, que era a cerca do Convento de Santo Agostinho, junto ao acesso para a Ermida de Nossa Senhora da Encarnação
© Foto José Martins – 27 de Dezembro de 2009


Tributo à memória

Tributo à Memória de todos os ex-combatentes da Região de Leiria
Inaugurado em 17 de Fevereiro de 2009
Avenida 25 de Abril, junto ao Núcleo da Liga dos Combatentes
© Foto José Martins – 27 de Dezembro de 2009


Lápide evocativa

Lápide comemorativa da Guerra Europeia oferecida pelos habitantes de Leiria aos Oficiais e Praças de Infantaria N.º 7 que tomaram parte ma mesma – 1914-1918
• FRANÇA: New Chapelle e Ferme du Bois
• AFRICA: Nangadi, Newwala, Negomano e Nhamacurra.
© Foto José Martins – 27 de Dezembro de 2009

A placa foi inaugurada em 1 de Dezembro de 1919, no antigo Quartel de Infantaria 7, junto à Igreja de Santo Agostinho. No mesmo dia foram entregues a todos os Combatentes mobilizados por aquele Regimento, Diplomas de Honra, pela participação na Guerra.

A placa foi removida para a Porta de Armas do novo Quartel da Cruz da Areia, inaugurado em 6 de Maio de 1955, onde se encontra aquartelado o Regimento de Infantaria n.º 4, que sucedeu ao Regimento de Artilharia de Leiria, originado com a fusão do Regimento de Infantaria n.º 7 e do Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4, tendo ambos os Regimentos mobilizado Unidades para o ultramar.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7009: Efemérides (51): 17 de Setembro, Dia das Transmissões (José Martins)

Guiné 63/74 - P7019: Convívios (274): Próximo convívio da Tabanca da Linha, dia 2 de Outubro de 2010, no Talho do Diamantino - Quinta do Cortador (José Manuel M. Dinis)

MAIS UM ENCONTRO DA MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA*, CASCAIS, DIA 2 DE OUTUBRO DE 2010

1. Mensagem José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:

Camaradas,
Por ordem dos primeiro e segundo comandantes da Magnifica Tabanca da Linha, respectivamente, o Jorge Rosales e o Rogério Cardoso, tenho a subida honra de anunciar a todos que se possam interessar, sobre a realização de um próximo almoço de convívio, que a pretexto, desta vez de uma bacalhauzada na brasa, com os intróitos e os acólitos necessários ao aconchego estomacal, sem desprimor para o vinho, que além de facilitar as vias vasculares, também inspira abertura de espírito, dizia eu, pretende reunir alguns dos melhores veteranos da guerra da Guiné, se é que não foram todos de gabarito, com o grande objectivo de excitar as hostes, contrariando a acalmia que a idade já vai acentuando. Pode haver alternativa carnal para aqueles que estiverem proíbidos de fazer dieta de bacalhau. Ou para aqueles cuja gula seja dificil de satisfazer. O preço mantém-se, que é para controlar o regime de dificuldades.

Assim, todos os que tenham fôlego e apetite, podem comunicar até ao próximo dia 28, aos senhores comandantes, ou a mim próprio - 913 673 067, a natural determinação para comparecer ao acto, cuja data de ocorrência foi fixada em 2 de Outubro. O lugar do evento, será o mesmo do anterior encontro, ali, no fim de Cascais e no princípio da auto-estrada, a quinta de não-sei-quantos, mais conhecida pelo Talho do Diamantino, um reluzente chefe de cozinha que brilhou nos anos de ouro da Guiné.

Pronto, meus senhores, incluindo os militantes de outras tabancas, é só comunicarem com a indicação do número de pessoas que vos acompanham. Peço desculpa aos cafrealizados e amantes do chabéo, mas, na região pi-pi, ainda não convergiram autoridades dessa culinária, pelo que se aguarda uma iniciativa do Mais Velho, ou de quem queira surpreender.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6298: Convívios (141): Encontro da "Magnífica" Tabanca da Linha (Mário Fitas/José Dinis)

Vd. último poste da série de 21 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7015: Convívios (190): XVII Encontro das CCAÇ 727 e CART 731, 09 de Outubro de 2010 – em Várzea, Barcelos (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P7018: Tabanca Grande (244): Germano José Pereira Penha, ex-Fur Mil da CCAÇ 5, Canjadude, 1970/72

1. Apresenta-se à tertúlia Germano José Pereira Penha, ex-Fur Mil da CCAÇ 5 - "Gatos Pretos" - (Canjadude, 1970/72).

2. Caros camaradas
Ao fim de 15 meses de serviço militar cumpridos na Metrópole, e quando menos esperava pois não era normal para um Atirador de Infantaria ser mobilizado com esse tempo, surgiu a notícia… o furriel Penha fora “sacado” para cumprir comissão em rendição individual no território da Guiné.

Destino CCaç 5 localizada na zona Leste numa localidade que dava pelo nome de Canjadude e que depois vim a verificar ser uma simples “tabanca”. Digeri a realidade e enfrentei-a mas tive aí a primeira dificuldade de tantas outras, como iriam reagir os meus mais próximos. Com alguma astúcia e optimismo mal disfarçado venci essa primeira batalha.

Embarquei no navio “Niassa” no dia 25 de Março de 1970 e aí através de um 2.º Sargento, penso que contratado, tive a noção exacta de e para onde ia.

Germano Penha com uma criança nativa

Canjadude > Da esquerda para a direita: Condutor (?), furriéis Sá, Penha e Perestrelo, (?), e Srgt Gonçalves

Canjadude > Uma pega de caras pelos briosos forcados da CCAÇ 5

As primeiras impressões quando desembarquei foram de curiosidade e solidão pois fiquei sozinho em pleno cais com uma mala de cada lado, e se não fosse a boa vontade de um l.º Cabo, delegado em Bissau de uma qualquer Companhia, que me levou ao QG no seu jipe, penso que ainda lá estaria. Senti-me a Linda de Suza, aquela da malinha de cartão.

Andam fugidos dos pais e refugiaram-se numa árvore à procura de ninho. Penha e uma beldade de Canjadude

A minha chegada ao QG foi um quadro caricato. Carregado com as malas e as divisas a brilhar, foi criado um cenário em que o principal actor era eu, o “periquito” acabado de chegar e vítima da chacota de todos aqueles veteranos de guerra de “gabinete e ar condicionado”.

Pedi a Deus para o mais rápido possível me levar para o “mato” pois de certeza que não seria um quadro pior.

Regresso a Canjadude de uma operação conjunta heli transportada a Madina de Boé

Lançamento por pára-quedas, de géneros alimentícios, na pista de Canjadude

Até chegar a Nova Lamego, vulgo Gabu, foi um turbilhão de emoções tais como a minha estreia de voo a bordo de um imponente Dakota que ao começar a trabalhar deitava, pelos motores, chispas de fogo e muito fumo. Por fim lá cheguei ao Gabu onde teria que aguardar por uma coluna da minha Companhia para me escoltar até ao destino dos meus próximos dois anos.

Nessa mesma noite em companhia do alferes Alexandre Martins fomos para um café beber umas cervejocas enquanto ele me inteirava daquilo que me esperava. De repente um estrondo enorme, era o primeiro ataque de foguetões a Nova Lamego. Aí pela primeira vez senti o verdadeiro sentido da guerra e pensei “se ainda não chegaste e já estás a “embrulhar”... vai-te preparando…

No dia seguinte lá chegou a coluna que me iria levar a caminho do meu destino. Confesso que ao vê-los chegar cobertos de pó, armados até aos dentes, embrulhados em mosquiteiros camuflados e no meio de uma algazarra constante me assustei, mas depois percebi que aquela euforia tinha alguma razão de ser, no fim eles vinham à cidade ver alguns familiares e falar com as suas “bajudas”. Lá nos pusemos a caminho onde ao fim de cerca de 25Km fui recebido por uma tabuleta com a inscrição “Termas de Canjadude” o que me levou a questionar se não se tinham enganado no caminho.

As três equipas alinhadas no campo de futebol de Canjadude, para dar início a um jogo entre dois Pelotões

Os tempos seguintes foram de reconhecimento e conhecimento do ambiente, dos usos e costumes e das pessoas, e hoje passado tanto tempo sinto-me gratificado por ter aprendido tanto da vida em tão pouco tempo. Foi linda a maneira como nos uniamos e dávamos as mãos nas horas más, e como optimizávamos os bons momentos. Éramos uma família de cerca de trinta pessoas. Aprendi a rir e a chorar quando estavam em causa só valores humanos. Desaprendi o valor material das coisas. Acho que fiquei um homem melhor.

Penha com a bola a fazer passe por cima. Atrás dele o Furriel Moreira

Vivíamos o dia-a-dia sem projectos de futuro. Criámos os nossos lazeres e ainda me recordo dos jogos de “vólei” com que acabávamos os dias. Era a prática habitual antes do duche, mas a grande dificuldade era a constituição das equipas pois ninguém queria pertencer à do capitão, pois o posto dele permitia-lhe quando falhávamos chamar-nos “nabos” ou “azelhas” e bem no fundo dava-nos um certo gozo ganhar aos oficiais.

Era giro e não beliscava minimamente a sã camaradagem que existia e da qual o Capitão Costeira era a pedra basilar.

Os dias iam correndo, uns melhores outros piores e outros sem classificação. Estes aconteciam quando tínhamos contacto directo com aquilo que não queríamos “a guerra”.

Eram as minas, eram as emboscadas, eram os ataques ao aquartelamento, e aí sim ficava sempre um rasto de tristeza e revolta porque às vezes se perdiam vidas e outras ficavam inapelavelmente afectadas. Era um verdadeiro teste ao nosso equilíbrio.

Mas as rotinas voltavam, como voltavam os animados jogos de futebol, as noites loucas no “Chat Noir” (que era uma espécie de “pub” que nós tínhamos construído e decorado com o nosso esforço e que era o verdadeiro ex-libris da CCaç 5 ).

Era aí que nós consolidávamos a nossa união e a nossa amizade recorrendo a uns bons petiscos e a uns bons “whiskys” que por vezes fazia daquele espaço um improvisado dormitório.

Momento de descontracção no Chat Noir em Canjadude. Da esquerda para a direita, sentados na retaguarda: Fur Mil Afonso (Alimentação), Fur Mil Enf Felizardo, (?) e Sarg. Marques. À frente, da esquerda para a direita: Fur Mil Ramos (com cigarro na boca) já falecido; ligeiramente atrás, Germano da Silva, já falecido; Sá, Penha, Moreira e Carmo, com cigarro na mão. O Carmo teve a felicidade de ter sido autorizado a que a esposa fosse a Canjadude passar uns dias com ele. Infelizmente teve a desventura, passados dois ou três meses após a saída da esposa de Canjadude, de ter falecido com problemas hepáticos. Ainda foi evacuado de Canjadude para Nova Lamego, mas acabou por falecer já no Gabu

Actuação das “Irmãs Catatuas” (os vocalistas) no Pub Chat Noir em Canjadude. O sucesso, quase passou o arame farpado. Da esquerda para a direita: bateria, Fur Mil Sá; voz,  Fur Mil Perestrelo e Alf Mil Neves; violas, Alf Mil Alexandre Martins, Fur Mil Moreira e Fur Mil Penha.

Finalmente no dia 31 de Março de 1972 regressei ao seio dos meus sem sequelas, mas com uma revolta que dizia “porquê isto?”

Com mais ou menos “porrada” cheguei salvo, mas talvez o dia mais marcante de todo este percurso foi o do meu embarque, o dia em que vi aquela figura pequena e aparentemente insensível chorar pela primeira vez… o meu pai.

Aqui está o meu depoimento, espero que vá ao encontro das expectativas.
Um abraço
Germano Penha

Nota biográfica
Idade - 62 anos
Profissão - Bancário
Estado - Casado
Uma filha com 31 anos
Um neto com 1 mês


3. Comentário de CV:

Caro Penha,
Bem-vindo ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
És mais um elemento da já famosa CCAÇ 5 - "Gatos Pretos" de Canjadude - de que fizeram parte os nossos tertulianos: ex-Fur Mil Enf João Carvalho, ex-1.º Cabo TRMS José Corceiro, ex-Fur Mil TRMS José Martins e ex-1.º Cabo José Pereira.

Esperamos de ti a melhor colaboração na feitura das nossas memórias que poderão vir a ser um precioso auxiliar a quem se vier a dedicar no futuro à História da Guerra Colonial, em particular da Guiné.

Podes ajudar-nos com os teus textos e fotos, enviando-os para este endereço do Blogue: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores.

Poderás consultar a nossa página, onde no lado esquerdo encontrarás respostas às tuas eventuais dúvidas quanto ao nosso fim e comportamento enquanto bloguistas.

Deixo-te o abraço colectivo de boas-vindas em nome da tertúlia que te recebe sem tapete vermelho, porque não o temos, mas com a maior alegria.

Em nome desta gente toda, quase um Batalhão de pacifistas obrigados a fazer a guerra,
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6976: Tabanca Grande (243): António Nobre, ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Buba, Nhala e Binar, 1969/70)