1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Janeiro de 2011:
Malta,
Este dia 26 vai desdobrado, tal o estendal de encontros e desencontros. Até num lastro de camião se viajou com a motocicleta de Lânsana Sori bem empanada.
Demasiado tarde, descobriu-se que a solução para chegar aos lugares mais ermos é mesmo uma motocicleta.
O Tangomau está tocado por ter sido apanhado pelas circunstâncias imprevisíveis, ele que se julgue metódico e disciplinado como um alemão. Por engano, está a horas de regressar e os horários não sopram de feição, haverá objectivos que não se cumprirão.
É por isso que a viagem nunca termina, é sempre possível recomeçá-la, haja determinação por parte do viandante.
Um abraço do
Mário
Operação Tangomau (11)
Beja Santos
Regresso de Madina e Belel, com paragem em Canturé
1. É indiscutível que a passagem pelo Enxalé foi empolgante, há ali vestígios que mereciam uma atenção maior, estudo aturado e, sabe-se lá, um projecto de recuperação. A vida dos camaradas não deve ter sido fácil mas o ambiente é muito belo, o Tangomau recordou as duas viagens que lá fez e até pôde, com dificuldade das imagens difusas com 40 anos, recordar como o quartel ocupava um espaço central circundado pela compactação das moranças. Agora é tudo diferente, desafogado, são panorâmicas amplas, ali ninguém se pode queixar de claustrofobia ou ter sentimentos dominados pela aridez ou falta de água. Aqui se junta a última imagem de um plinto que tanto entusiasmou o Tangomau. Há já uma outra versão que seguiu no episódio anterior. Mas fica-se a guardar muito respeito por esta pedra escalavrada onde o homem cinzelou a sua presença, nada disto tem a ver com as garrafas lançadas ao mar, são monumentos aos vindouros, qualquer coisa como: “Recorda-te, camarada subsequente, aqui lavrámos a paz e a guerra, derramámos sangue, penámos as penas do inferno, não nos esqueças, chegará a hora em que sentirás vontade de gravar as tuas alegrias e as tuas dores, neste ou num novo plinto, até à consumação deste sofrimento.
2. É um momento extraordinário, o que se passou em Belel. A tabanca é pequena, os homens ainda estão na horta. Pediu-se para falar com alguém de uma idade próxima do Tangomau. E responderam: “Vamos já chamar o chefe da tabanca e um antigo combatente aqui de Belel”. Foi assim que chegaram à fala Farazinho Pereira e Sampere Mendes, ouviram atentamente as razões da viagem, o Tangomau identificou-se, mostrou os livros, pediu informações, quis saber quem ali vivia e como vivia. O que o Tangomau reteve desta conversa que decorreu numa atmosfera amena é que aqueles senhores, elementos do antigo “inimigo” guardavam a serenidade das contas feitas e sem fantasmas, tinham curiosidade em perceber qual a trajectória desta deambulação dentro do Cuor. E fizeram perguntas sobre a Missirá daquele tempo, até se pôs um mapa em cima dos joelhos e comentavam-se nomes de localidades por onde, uns e outros, patrulhavam, minavam e emboscavam. É por isso que se vê com muito enlevo a serenidade e a postura de quem nada deve com que se enfrenta a câmara. À despedida, tanto Farazinho Pereira como Sampere Mendes insistiram: “Volta sempre que queiras. É mais fácil tu vires de Bambadinca que nós irmos lá, de bicicleta é muito longe. Gostamos de visitas, pena é tudo ser tão pobre, para repartir”.
3. O regresso é um pequeno calvário para Lânsana Sori, paragens de quilómetro em quilómetro para bombear um pneu furado. Ele insiste e pede desculpa ao cliente. Mal sabe ele como o Tangomau se deslumbra com a cantilena dos pássaros, a passagem das formigas, os mares de capim agreste. Nestas paragens, até há tempo para conversar com quem viaja ou quem está à sombra, na tentativa vã de se refrescar. Há quem pergunte sempre ao Tangomau que missão o traz ali, se é médico, comerciante ou missionário. Passe o devaneio, a pesporrência, um quase estado de delírio, o Tangomau exulta, à semelhança de Ponta Varela veio hoje bater à porta do antigo “inimigo”, só recebeu consideração, provas de afabilidade, gente curiosa que quer saber mais sobre os porquês desta quase peregrinação. Uma coisa é chegar às tabancas como Amedalai ou Samba Juli e reencontrar rostos amigos, conhecidos, confrontar diferenças, pressentir queixumes, múltiplos sofrimentos. Outra coisa é a remoçada Missirá, que se expandiu, que não tem marcas da guerra. Outra coisa mesmo é bisbilhotar por territórios novos que eram terra de ninguém, as tropas do Tangomau podiam confrontar-se com as do PAIGC, mas era terra de ninguém mesmo, ali não havia direito de posse. Assim se conversou com Aliu Fati em Mato de Cão ou com o povo de Chicri, por exemplo. Mas outra coisa diametralmente distinta é subir aos territórios onde o PAIGC tinha as suas barbacãs, torres de atalaia, pontes levadiças, ali, quanto muito, era entrar a disparar e sair-se sem quaisquer tipos de diálogo. É esta a sensação que frutifica no ânimo do Tangomau. Enquanto Lânsana Sori se desmultiplica no esforço de bombear aquele pneu inútil, o Tangomau tagarela, capta imagens, com a devida licença, destes grupos humanos perguntadores, eles vêm do trabalho, o sustento liminar estampa-se-lhes no rosto. Nisso esta imagem é um espelho fiel.
4. Deu que fazer chegar à estrada do Enxalé, houve que negociar com um camião transportara a motocicleta semiadormecida, condutor e passageiro, tudo até à Batanjã Mandinga, onde se localiza uma oficina. Na caixa desse camião, o Tangomau deslumbrou-se com o desfrute da paisagem, mais dois metros acima do solo, dá para ver o Geba ao longe, os campos de nenúfares, as fainas de gente laboriosa. O que se fotografou perdeu-se e daí o recurso a uma imagem que sobrou do passeio ao Xime, aqui estão os vestígios do porto que o Tangomau viu medrar e transformar-se na mais importante infra-estrutura portuária da região Leste, a partir dos finais de 1969. Caprichos do destino, foi quando o transferiram de Missirá para Bambadinca, por coincidência Mato de Cão perdeu a relevância que tivera todo este tempo da sua estadia no Cuor. O pneu foi substituído, a motocicleta deu meia volta, voltou-se a passar o Geba, visitou-se Canturé. Quem arquitecta romances, novelas ou contos possui alguns segredos íntimos. O Tangomau está convencido que já descobriu o ambiente em que se finaliza aquele livro que anda por aí à solta a germinar, uma viagem que começou em 1967 e que terminará em Dezembro de 2010. Mas há que confirmar diferentes lugares. Por isso se volta a Canturé, uma das encruzilhadas maiores da vida do Tangomau.
5. Não faltasse uma hora para o sol se pôr a pique e o Tangomau iria vasculhar de Finete até Malandim. Urgindo o tempo, ali vai a motocicleta na gáspea, o estradão é de uma beleza impressionante, orlado pelos possantes poilões que vêm de um passado muito mais antigo que o Tangomau. Há que simular junto do povo de Canturé que é uma curta viagem, há ali um ou dois pormenores a ter em conta e depois se regressa a Bambadinca. Até se inventa o pretexto de que é precisa uma fotografia às toranjas de Canturé. A hora a que chega é de remanço e por isso o povo e as suas autoridades vão em conversas, querem sessão de boas vindas com Malã Mané, o chefe de tabanca à cabeça e incluindo Aruma Dahaba (ineditamente um familiar de Fodé). Malã esteve na guerrilha, nas fileiras do PAIGC. Trata sempre o Tangomau por Baké, prova de consideração mais elevada não há. Entre outras coisas, Baké é o guerreiro destemido, não há bala que lhe perfure o corpo. As saudações arrancam desse passado e chegam quase meteoricamente ao presente. O Tangomau está de olhos semicerrados, mais em escrita mental que em relação social. Está sonhador, esta Canturé que ele calcorreou praticamente todos os dias é de uma rara beleza, é luxuriante, tem hortas, está quase tudo cultivado, tudo é pobre mas nada é miserável. O Tangomau põe-se de pé e ata todos os vínculos com Canturé, abraçando Malã Mané, veio a propósito, a seguir a Belel e a Madina. Convém esclarecer, em abono da verdade, que a imagem que aqui se mostra foi tirada à porta da casa do Fodé, dois dias depois, em dia de festa. O que é inesquecível foi Malã ter afirmado perante o seu povo que recebia o visitante com orgulho em Canturé, aquele Baké mais do que destemido dera provas provadas de uma estima arreigada pelo Cuor e pelas gentes. E aquela guerra eram águas passadas.
6. Foi um dia extenuante, amanhã será mais. Porque amanhã ir-se-á de Missirá a Sansão, antes de Missirá, Maná; depois Madina de Gambiel; regressar-se-á a Bambadinca, Lânsana Sori precisa de descansar uma hora para a provação que se segue, de Bambadinca ao Xime, daqui até à Ponta do Inglês. O Tangomau anda com a consciência revolvida, vai regressar a Bissau dentro de dois dias deixando na escuridão pontos fundamentais: Fá, Demba Taco, Samba Silate, por exemplo. E se ficasse mais um dia, deitando para as ortigas o que se propõe fazer em Bissau? É neste dilema que se despede do Bambadincazinho e vai ver o pôr-do-sol no Bairro Joli. É tempo de mostrar gente da casa. Como se disse, vive aqui o engenheiro Fernando Ramiro Semedo, irmão do embaixador Inácio Semedo, ambos filhos do fundador deste projecto, Inácio Semedo, um dos dirigentes históricos do PAIGC. Fernando Semedo procura pôr de pé um projecto de recuperação de diferentes culturas entre o Bairro Joli e a Ponta Nova. É casado com Dada, o casal tem dois meninos. Estamos a ver Alberto Djata, trabalhador e quase da casa. É Felupe e já estivemos a ver fotografias de danças Felupes. O Alberto cozinha magnificamente. Trata-se de um instantâneo, o Alberto está concentrado e parece feliz. Depois o Tangomau foi para o balcão, levou “Gog”, de Giovanni Papini, aproveita o esplendor dos últimos raios solares.
7. Muitos críticos consideram “Gog” como a obra-prima absoluta de Papini. Trata-se de uma sátira de alguém que saiu do manicómio, fez fortuna e agora tem meios para satisfazer imensos caprichos. Um deles passa por conhecer os grandes monumentos literários mundiais. E Papini escreve: “Tive coragem para ler aqueles livros todos, menos três ou quatro que, logo às primeiras páginas, não pude suportar. Hostes de homens, chamados heróis, que se estripavam durante dez anos a fio, sob as muralhas de uma pequena cidade, por culpa de uma velha seduzida; a viagem de um vivo à fossa dos mortos, com o fim de falar mal dos mortos e dos vivos; um doido héctico e um doido gordo que vão, mundo fora, em busca de sovas; um guerreiro que perde um juízo por uma mulher e se diverte a arrancar azinheiros pelas selvas; um pulha cujo pai foi assassinado e que, para o vingar, faz morrer uma rapariga que o ama e outras personagens diversas; um diabo coxo que levanta os telhados de todas as casas para exibir as suas misérias; as aventuras de um homem de estatura média que faz de gigante entre os pigmeus e de anão entre os gigantes, sempre de modo inoportuno e ridículo; a odisseia de um idiota que, através de ridículas desventuras sustenta que este mundo é o melhor dos mundos possíveis; as peripécias de um professor demoníaco servido por um demónio profissional; a aborrecida história de uma adúltera provinciana que se enfastia e, por fim, se envenena; as surtidas loquazes e incompreensíveis de um profeta acompanhado de uma águia e de uma serpente; um rapaz pobre e febril que assassina uma velha e que depois – imbecil – nem sequer sabe aproveitar um álibi e acaba por cair nas mãos da polícia”. O Tangomau está divertido com leitura tão saborosa e tão desviante das epopeias do seu quotidiano. É nisto que a bola de fogo anuncia o rigor da noite tropical, com os vagidos, os mistérios e os odores das florestas à volta. Vamos ter noite estrelada pela certa. O Tangomau empolga-se, aquilo não é uma bola de fogo, é um primo dos cometas que se lança num estranho oceano vegetal. E diz para si, fundamentalista: quem não aprecia este fim de dia não sabe viver. Saboreia o jantar e vai cedo para a cama, preparar a longa jornada que o espera. E que será imprevisível, aquele sábado, 27 de Novembro, reserva-lhe alguma das mais bonitas emoções de todo o sempre. Para ler depois.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7567: Notas de leitura (185): Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo, de Eva Kipp (Mário Beja Santos)
Vd. postes da série de:
2 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7370: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (1): Primeiras notícias da Guiné-Bissau
4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7379: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (2): O primeiro dia em Bissau
7 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7397: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (3): O segundo dia em Bissau
10 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7417: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (4): 20 de Novembro, de Bambadinca para o Bairro Joli
15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7440: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (5): Do Bambadincazinho para Ponta Varela
18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7462: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (6): Bambadinca, recordações da casa dos mortos
26 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7504: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (7): O primeiro dia no Cuor
27 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7511: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (8): O primeiro dia no Cuor (continuação)
30 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7528: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (9): O dia no Xitole e o regresso a Finete
5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 8 de janeiro de 2011
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Guiné 63/74 - P7570: Parabéns a você (199): Agradecimento de Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53
1. Mensagem de Paulo Santiago* (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), com data de 7 de Janeiro de 2011:
Camaradas, Amigos
Começo por agradecer aos editores por se terem lembrado do meu aniversário, fiquei mais rico... também uma palavra para o Miguel Pessoa que compôs aquele belo postal, que já está emoldurado.
Agradeço também a todos que me deram os parabéns com mensagens na caixa de comentários, e a todos os que me enviaram mail's, ou me enviaram mensagens através do Facebook.
Agradeço também a quem me fez mais jovem... ontem fiz 63 anos. Foi há 63 anos que saí do ventre de minha mãe, que ainda está comigo, que anteontem, dia 5, fez 89 anos, e vai lendo jornais e fazendo malha.
Vou também lembrar a maior prenda de aniversário que recebi até hoje... o nascimento da minha filha, Maria Luís, no dia em que fiz 39 anos.
Já que falei na Maria Luís, que a maior parte dos camaradas não conhece, mas já teve umas fotos, que tirou, publicadas no blogue, julgo que em Abril de 2009, permito-me enviar uma foto onde está num almoço da Tabanca de Matosinhos. Nesta foto, a Cátia Felix é a primeira da direita, segue-se a minha filha, de costas está o Nelson e o Zé Teixeira, meio encoberto está o Suleimane Baldé, ex-1.º Cabo do 53, actual Régulo de Contabane, vendo-se também o Álvaro Basto.
Grande abraço para todos
Sejam felizes
Paulo Santiago
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)
Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7563: Parabéns a você (198): Agradecimento de Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490
Camaradas, Amigos
Começo por agradecer aos editores por se terem lembrado do meu aniversário, fiquei mais rico... também uma palavra para o Miguel Pessoa que compôs aquele belo postal, que já está emoldurado.
Agradeço também a todos que me deram os parabéns com mensagens na caixa de comentários, e a todos os que me enviaram mail's, ou me enviaram mensagens através do Facebook.
Agradeço também a quem me fez mais jovem... ontem fiz 63 anos. Foi há 63 anos que saí do ventre de minha mãe, que ainda está comigo, que anteontem, dia 5, fez 89 anos, e vai lendo jornais e fazendo malha.
Vou também lembrar a maior prenda de aniversário que recebi até hoje... o nascimento da minha filha, Maria Luís, no dia em que fiz 39 anos.
Já que falei na Maria Luís, que a maior parte dos camaradas não conhece, mas já teve umas fotos, que tirou, publicadas no blogue, julgo que em Abril de 2009, permito-me enviar uma foto onde está num almoço da Tabanca de Matosinhos. Nesta foto, a Cátia Felix é a primeira da direita, segue-se a minha filha, de costas está o Nelson e o Zé Teixeira, meio encoberto está o Suleimane Baldé, ex-1.º Cabo do 53, actual Régulo de Contabane, vendo-se também o Álvaro Basto.
Grande abraço para todos
Sejam felizes
Paulo Santiago
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)
Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7563: Parabéns a você (198): Agradecimento de Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490
Guiné 63/74 - P7569: Agenda Cultural (100): Fim do Império: Olhares Jornalísticos - 4.º Encontro: 18 de Janeiro de 2011, na Livraria Verney, Oeiras. Oradores: Cor Carlos Matos Gomes e o fotógrafo Fernando Farinha
1. Mensagem de Carlos Matos Gomes, Coronel Cav COMANDO na situação reserva, com data de 6 de Janeiro de 2011:
Meus caros amigos,
Venho convidar-vos para uma sessão da Tertúlia “O Fim do Império”, em que eu e o grande repórter e fotógrafo Fernando Farinha falaremos de África, da guerra e da comunicação social, tendo como tema de partida um livro com fotos e reportagens de Fernando Farinha e um texto de enquadramento meu. “Guerra Colonial – um repórter em Angola”.
A Tertúlia realiza-se na livraria Verney, da Câmara Municipal de Oeiras, no dia 18, às 15 horas.
A livraria situa-se mesmo no centro da vila, no largo da igreja e existe um parque de estacionamento por detrás. Eu e o Fernando Farinha teríamos muito prazer em tê-los connosco, caso possam.
Esta iniciativa é dinamizada pelo Manuel Barão da Cunha, tem o apoio da CMO e da Liga dos Combatentes.
Um abraço amigo
Carlos Matos Gomes
e Fernando Farinha
Junto, além do convite, algumas fotos do livro, para aguçar o apetite.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série > 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa
Meus caros amigos,
Venho convidar-vos para uma sessão da Tertúlia “O Fim do Império”, em que eu e o grande repórter e fotógrafo Fernando Farinha falaremos de África, da guerra e da comunicação social, tendo como tema de partida um livro com fotos e reportagens de Fernando Farinha e um texto de enquadramento meu. “Guerra Colonial – um repórter em Angola”.
A Tertúlia realiza-se na livraria Verney, da Câmara Municipal de Oeiras, no dia 18, às 15 horas.
A livraria situa-se mesmo no centro da vila, no largo da igreja e existe um parque de estacionamento por detrás. Eu e o Fernando Farinha teríamos muito prazer em tê-los connosco, caso possam.
Esta iniciativa é dinamizada pelo Manuel Barão da Cunha, tem o apoio da CMO e da Liga dos Combatentes.
Um abraço amigo
Carlos Matos Gomes
e Fernando Farinha
Junto, além do convite, algumas fotos do livro, para aguçar o apetite.
CONVITE
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série > 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa
Guiné 63/74 - P7568: Blogpoesia (102): Sociedade lusa (Manuel Maia)
1. De Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), Sociedade lusa, enviado em mensagem com data de 5 de Janeiro de 2011:
Sociedade lusa
Sociedade lusa é inquietante,
passiva, obediente, inoperante
estática, parada, sem acção...
São brandos os costumes, "isto passa"...
"o povo é mui sereno, é só fumaça",
chavões da canga, jugo/submissão...
Tal qual vai o cabrito, o porco, o touro,
p`ra morte no açougue/matadouro,
assim, num "ledo engano", vai meu povo...
Aceitação de inevitável fim,
sem "espernear", gritar, tenho p`ra mim,
que anestesia alguém lhe deu de novo...
Bem forte foi, por certo, essa narcose,
com injecções de bola, em dupla dose,
de Fátima e de fado, quanto baste...
Alheamento à vida e ao futuro
evidencia o novo e o mais maduro,
no aceitar da imposição do traste...
Que um dia surja um gongue salvador
para acordar país desse torpor,
às consciências dando um abanão...
Com mais de oito centúrias, Portugal,
vive hoje o maior drama nacional
parados estão os braços, falta o pão...
MM
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7561: Blogpoesia (101): Considerações (Manuel Maia)
Sociedade lusa
Sociedade lusa é inquietante,
passiva, obediente, inoperante
estática, parada, sem acção...
São brandos os costumes, "isto passa"...
"o povo é mui sereno, é só fumaça",
chavões da canga, jugo/submissão...
Tal qual vai o cabrito, o porco, o touro,
p`ra morte no açougue/matadouro,
assim, num "ledo engano", vai meu povo...
Aceitação de inevitável fim,
sem "espernear", gritar, tenho p`ra mim,
que anestesia alguém lhe deu de novo...
Bem forte foi, por certo, essa narcose,
com injecções de bola, em dupla dose,
de Fátima e de fado, quanto baste...
Alheamento à vida e ao futuro
evidencia o novo e o mais maduro,
no aceitar da imposição do traste...
Que um dia surja um gongue salvador
para acordar país desse torpor,
às consciências dando um abanão...
Com mais de oito centúrias, Portugal,
vive hoje o maior drama nacional
parados estão os braços, falta o pão...
MM
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7561: Blogpoesia (101): Considerações (Manuel Maia)
Guiné 63/74 - P7567: Notas de leitura (185): Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo, de Eva Kipp (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2011:
Queridos amigos,
Este álbum fotográfico é uma pequena preciosidade.
Provavelmente serviu como edição de prestígio não se sabe para qual entidade e o valor das imagens ficou circunscrito. É lastimável este tipo de edições de prestígio, sempre condenadas a não chegar ao grande público.
Ficam aqui alguns exemplos de beleza praticamente ignota. O que é curioso é que há negociantes de arte a procurar toda esta policromia bijagó que não se vê nos mercados tradicionais. É assim o mercado da arte.
Um abraço do
Mário
Tesouros da arte dos bijagós e outras instituições culturais
Beja Santos
Eva Kipp colaborou com o Governo da Guiné-Bissau em vários projectos de divulgação da cultura tradicional da Guiné. “Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo” (por Eva Kipp, Editorial Inquérito, 1994 é o livro em que esta perita holandesa procura divulgar alguns aspectos da diversidade e riqueza cultural da Guiné-Bissau com especial destaque para a arte bijagós, cerimónias fúnebres, rituais de passagem e imagens de trabalho.
Relativamente à arte dos bijagós, a autora destaca a sua estreita ligação à religião: a representação dos irãs está a cargo dos escultores, alguns deles notáveis em Orango e Canhanbaque. A autora mostra-nos em actividade o escultor Ompane, especialista em estatuetas dos Irã Grande. Vemos as sucessivas fases do seu trabalho: as cerimónias de apresentação ao Irã com a convocação dos espíritos; a escolha da árvore na qual se pode incarnar os Irãs que também têm um vasto cerimonial. Por exemplo: “Para iniciar a cerimónia ele dá pancadas na árvore e faz o chamamento do Irã. Ele nunca inicia o corte sem realizar esta cerimónia, caso contrário podem acontecer coisas terríveis, teme-se sempre o desagrado do Irã… uma vez derrubada a árvore, separa o pedaço do tronco necessário à execução da estatueta”. O escultor utiliza como instrumentos o machado e a catana.
A autora refere seguidamente os Irãs Grandes e os seus santuários. Possuem forma humana, mas nem sempre. Em princípio, estes irãs estão depositados no santuário das mulheres ou em casa dos régulos. Ao lado do Irã Grande encontram-se outros objectos sagrados (caso de chifres de gazela ou de cabra). Os Irãs são utilizados para cerimónias colectivas da tabanca e que se praticam no início da lavoura, no fanado ou quando uma doença grave atinge alguém da tabanca. Para tais cerimónias, o Irã é retirado do santuário e colocado num outro ao ar livre que é chamado de Nan. A arte dos bijagós também se destaca pelas suas famosas pinturas murais em santuários e em casas. Além destas pinturas murais, os bijagós distinguem-se pelas esculturas de enorme colorido que usam nos enfeites das suas danças, que podem incluir figuras de animais, caso do tubarão martelo e vacas. São peças de grande valor ornamental, têm grande procura no mundo do artesanato.
Os bijagós são maioritariamente animistas e daí a importância que têm os djambacós, os mediadores procurados por pessoas que precisam de conselho, possuem artes de vidência e poderes de curandeiro. Realizam cerimónias com conchas, orientam sacrifícios de animais; casos há em que os djambacós praticam a cartomancia ou prescrevem tratamentos para pessoas doentes. Eva Kipp refere outras etnias animistas que possuem outros tipos de Irãs que em vez de terem formas humanas podem ser estatuetas de forma de forquilhas. Por exemplo, na etnia papel realizam-se cerimónias em que o Cansaré é de grande importância no pedido de chuva. O mediador, aquele que detém o segredo de falar com o Cansaré são os balobeiros (sacerdotes) mas também os homens grandes.
O trabalho de Eva Kipp destaca o funeral do homem grande na etnia papel e ilustra como vestem os familiares, como utilizam unguentos, como se faz a festa de “choro” e se sacrificam animais para a cerimónia: “Ao ritmo dos tambores, toda a gente dança e bebe num terreno cheio de animais sacrificados, nem dando conta do risco quando dançam sob o telhado, prestes a ruir, de uma das casas. O consumo de álcool vai aumentando a exuberância da festa. Neste mesmo dia da cerimónia, enrolado em panos tradicionais, o falecido é sepultado. O número de panos que o envolve mostra o prestígio que ele tinha na sociedade. Os animais sacrificados são repartidos pelos participantes e segundos critérios fixos pela tradição.
O fanado é comum a todas as etnias da Guiné-Bissau, mas os rituais variam de umas para as outras. O fanado balanta implica um grande consumo de arroz, milho, animais e bebidas em todas as festas. A autora descreve as danças e cantares, entre os balantas há concursos de canto e improvisações teatrais.
É um livro de grande valor fotográfico e que bem merecia ser reeditado.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7560: Notas de leitura (184): O Fim do Império Português, de António Costa Pinto (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Este álbum fotográfico é uma pequena preciosidade.
Provavelmente serviu como edição de prestígio não se sabe para qual entidade e o valor das imagens ficou circunscrito. É lastimável este tipo de edições de prestígio, sempre condenadas a não chegar ao grande público.
Ficam aqui alguns exemplos de beleza praticamente ignota. O que é curioso é que há negociantes de arte a procurar toda esta policromia bijagó que não se vê nos mercados tradicionais. É assim o mercado da arte.
Um abraço do
Mário
Tesouros da arte dos bijagós e outras instituições culturais
Beja Santos
Eva Kipp colaborou com o Governo da Guiné-Bissau em vários projectos de divulgação da cultura tradicional da Guiné. “Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo” (por Eva Kipp, Editorial Inquérito, 1994 é o livro em que esta perita holandesa procura divulgar alguns aspectos da diversidade e riqueza cultural da Guiné-Bissau com especial destaque para a arte bijagós, cerimónias fúnebres, rituais de passagem e imagens de trabalho.
Relativamente à arte dos bijagós, a autora destaca a sua estreita ligação à religião: a representação dos irãs está a cargo dos escultores, alguns deles notáveis em Orango e Canhanbaque. A autora mostra-nos em actividade o escultor Ompane, especialista em estatuetas dos Irã Grande. Vemos as sucessivas fases do seu trabalho: as cerimónias de apresentação ao Irã com a convocação dos espíritos; a escolha da árvore na qual se pode incarnar os Irãs que também têm um vasto cerimonial. Por exemplo: “Para iniciar a cerimónia ele dá pancadas na árvore e faz o chamamento do Irã. Ele nunca inicia o corte sem realizar esta cerimónia, caso contrário podem acontecer coisas terríveis, teme-se sempre o desagrado do Irã… uma vez derrubada a árvore, separa o pedaço do tronco necessário à execução da estatueta”. O escultor utiliza como instrumentos o machado e a catana.
A autora refere seguidamente os Irãs Grandes e os seus santuários. Possuem forma humana, mas nem sempre. Em princípio, estes irãs estão depositados no santuário das mulheres ou em casa dos régulos. Ao lado do Irã Grande encontram-se outros objectos sagrados (caso de chifres de gazela ou de cabra). Os Irãs são utilizados para cerimónias colectivas da tabanca e que se praticam no início da lavoura, no fanado ou quando uma doença grave atinge alguém da tabanca. Para tais cerimónias, o Irã é retirado do santuário e colocado num outro ao ar livre que é chamado de Nan. A arte dos bijagós também se destaca pelas suas famosas pinturas murais em santuários e em casas. Além destas pinturas murais, os bijagós distinguem-se pelas esculturas de enorme colorido que usam nos enfeites das suas danças, que podem incluir figuras de animais, caso do tubarão martelo e vacas. São peças de grande valor ornamental, têm grande procura no mundo do artesanato.
Barco bijagó: estatueta de Bubaque
Os bijagós são maioritariamente animistas e daí a importância que têm os djambacós, os mediadores procurados por pessoas que precisam de conselho, possuem artes de vidência e poderes de curandeiro. Realizam cerimónias com conchas, orientam sacrifícios de animais; casos há em que os djambacós praticam a cartomancia ou prescrevem tratamentos para pessoas doentes. Eva Kipp refere outras etnias animistas que possuem outros tipos de Irãs que em vez de terem formas humanas podem ser estatuetas de forma de forquilhas. Por exemplo, na etnia papel realizam-se cerimónias em que o Cansaré é de grande importância no pedido de chuva. O mediador, aquele que detém o segredo de falar com o Cansaré são os balobeiros (sacerdotes) mas também os homens grandes.
O trabalho de Eva Kipp destaca o funeral do homem grande na etnia papel e ilustra como vestem os familiares, como utilizam unguentos, como se faz a festa de “choro” e se sacrificam animais para a cerimónia: “Ao ritmo dos tambores, toda a gente dança e bebe num terreno cheio de animais sacrificados, nem dando conta do risco quando dançam sob o telhado, prestes a ruir, de uma das casas. O consumo de álcool vai aumentando a exuberância da festa. Neste mesmo dia da cerimónia, enrolado em panos tradicionais, o falecido é sepultado. O número de panos que o envolve mostra o prestígio que ele tinha na sociedade. Os animais sacrificados são repartidos pelos participantes e segundos critérios fixos pela tradição.
Rapaz tocando flauta
O fanado é comum a todas as etnias da Guiné-Bissau, mas os rituais variam de umas para as outras. O fanado balanta implica um grande consumo de arroz, milho, animais e bebidas em todas as festas. A autora descreve as danças e cantares, entre os balantas há concursos de canto e improvisações teatrais.
É um livro de grande valor fotográfico e que bem merecia ser reeditado.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7560: Notas de leitura (184): O Fim do Império Português, de António Costa Pinto (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P7566: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (23): Com humor também se fazia a guerra
1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 26 de Setembro de 2010:
Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Para quem conheceu a Ilha das Flores e as suas gentes ao tempo da história, sabe que os calões usados faziam parte do dia-a-dia florense. O mesmo acontecia por outras ilhas, numas mais que outras. Nem por isso havia menos respeito entre as pessoas. Tudo dependia do sentido dado à conversa e às circunstâncias.
Um abraço enorme para ti e para os nossos camaradas,
José Câmara
Memórias e histórias minhas (23)
Com humor também se fazia a guerra
A CCaç 3327, aquando da sua passagem por Bissau, tinha a seu cargo a segurança de várias instituições militares. O Laboratório era uma delas.
Por vezes, era decretado o estado de alerta na cidade. Como era natural nessas ocasiões, o movimento de tropas ficava circunscrito aos serviços de emergência e abastecimentos e às patrulhas dos diferentes bairros de Bissau.
Também era prática generalizada reconduzir os militares nos seus postos de serviço, durante o tempo da prevenção. Portanto, ninguém se admirou de ver o pessoal de serviço ao Laboratório ser reconduzido nos seus postos por mais vinte e quatro horas.
O que não estava previsto é que os referidos militares, sem serem vistos nem achados para as circunstâncias, tivessem sido obrigados a uma dieta forçada. Alguém no AGRBIS esqueceu de dar ordens para que o rancho fosse mandado para os militares de serviço ao Laboratório.
Isso de fazer a tropa e a guerra é uma coisa. De barriguinha vazia é que não…
O José Francisco Serpa, conhecido na Companhia como o Serpa Pequenino, natural da Ponte da Fajã, Ilha das Flores, foi um dos militares apanhados de serviço ao Laboratório. Pertencia à minha Secção. Era um soldado muito disciplinado, de uma educação cívica bastante apurada e um excelente colaborador nos serviços da Secção. Uma das suas melhores qualidades era a capacidade de falar olhos nos olhos com as pessoas e com o coração bem junto da boca, fazendo jus a qualquer açoriano que se preze.
O nosso Serpa de regresso ao AGRBIS de imediato procurou pelo nosso Cap. Rogério Alves. Queria, veementemente, protestar pela falta do rancho a que tinha sido submetido nas últimas vinte e quatro horas. Encontrou-o na secretaria, e botou protesto:
- Meu capitão, quem foi o f. da p. do Oficial de Dia que esteve de serviço?! Eu quero matar o sacana que nos deixou à fome durante as últimas vinte e quatro horas!
O Cap. Alves que já se habituara à maneira de ser dos açorianos, humanamente compreendia que nesses desabafos e calões não existia qualquer maldade e muito menos falta de respeito, respondeu, serenamente, fazendo uma pergunta:
- Oh Serpa, você teria mesmo coragem de matar o seu Comandante de Companhia?
O nosso soldado não se desconcertou. Com nervos de aço e alguma graça respondeu:
- A esse não meu Capitão, mas não se esqueça de o avisar que da próxima vez deve mandar o rancho para o pessoal!
Hoje o José Serpa vive em Stoughton e é cliente na Agência de Seguros onde trabalho.
A história, contada pela sua boca, teve um final feliz. No dizer do Serpa e dos homens da Companhia, o nosso capitão era um bom homem.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7460: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (6): Uma história de Natal (José da Câmara)
Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7149: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (22): Aventuras em terras manjacas
Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Para quem conheceu a Ilha das Flores e as suas gentes ao tempo da história, sabe que os calões usados faziam parte do dia-a-dia florense. O mesmo acontecia por outras ilhas, numas mais que outras. Nem por isso havia menos respeito entre as pessoas. Tudo dependia do sentido dado à conversa e às circunstâncias.
Um abraço enorme para ti e para os nossos camaradas,
José Câmara
Memórias e histórias minhas (23)
CCAÇ 3327 - 2.ª Secção do 4.º GCOMB
Em pé, da esquerda para a direita:
Sold. José R. Serpa, (Costa do Lajedo – Flores) – London, ONT, Canadá; Sold. João Avelar Ventura (Fajãnzinha – Flores) – Terra Chã, Terceira; Fur. Mil. José A. Câmara (Fazenda – Flores) – Stoughton, MASS, EUA; Sold. António Silvestre Jr. (Urzelina – S. Jorge) – Toronto, ONT, Canadá; Sold. José C. Arruda Massa (Arrifes – S. Miguel)
Na frente, da esquerda para a direita:
Cabo José Silveira Leonardes (Topo – S. Jorge) – Praia da Vitória, Terceira; 1.º Cabo António Fernando Silva (Praia do Alomoxarife – Faial); Sold. Magno Manuel Silva (Guadalupe – Graciosa) – Lowell, MASS, EUA; Sold. José Francisco Serpa (Ponte da Fajã – Flores) – Stoughton, MASS, EUA; Sold. Emanuel A Cardoso Silva (Castelo Branco – Faial) – Newark, CAL, EUA
Com humor também se fazia a guerra
A CCaç 3327, aquando da sua passagem por Bissau, tinha a seu cargo a segurança de várias instituições militares. O Laboratório era uma delas.
Por vezes, era decretado o estado de alerta na cidade. Como era natural nessas ocasiões, o movimento de tropas ficava circunscrito aos serviços de emergência e abastecimentos e às patrulhas dos diferentes bairros de Bissau.
Também era prática generalizada reconduzir os militares nos seus postos de serviço, durante o tempo da prevenção. Portanto, ninguém se admirou de ver o pessoal de serviço ao Laboratório ser reconduzido nos seus postos por mais vinte e quatro horas.
O que não estava previsto é que os referidos militares, sem serem vistos nem achados para as circunstâncias, tivessem sido obrigados a uma dieta forçada. Alguém no AGRBIS esqueceu de dar ordens para que o rancho fosse mandado para os militares de serviço ao Laboratório.
Isso de fazer a tropa e a guerra é uma coisa. De barriguinha vazia é que não…
O José Francisco Serpa, conhecido na Companhia como o Serpa Pequenino, natural da Ponte da Fajã, Ilha das Flores, foi um dos militares apanhados de serviço ao Laboratório. Pertencia à minha Secção. Era um soldado muito disciplinado, de uma educação cívica bastante apurada e um excelente colaborador nos serviços da Secção. Uma das suas melhores qualidades era a capacidade de falar olhos nos olhos com as pessoas e com o coração bem junto da boca, fazendo jus a qualquer açoriano que se preze.
O nosso Serpa de regresso ao AGRBIS de imediato procurou pelo nosso Cap. Rogério Alves. Queria, veementemente, protestar pela falta do rancho a que tinha sido submetido nas últimas vinte e quatro horas. Encontrou-o na secretaria, e botou protesto:
- Meu capitão, quem foi o f. da p. do Oficial de Dia que esteve de serviço?! Eu quero matar o sacana que nos deixou à fome durante as últimas vinte e quatro horas!
O Cap. Alves que já se habituara à maneira de ser dos açorianos, humanamente compreendia que nesses desabafos e calões não existia qualquer maldade e muito menos falta de respeito, respondeu, serenamente, fazendo uma pergunta:
- Oh Serpa, você teria mesmo coragem de matar o seu Comandante de Companhia?
O nosso soldado não se desconcertou. Com nervos de aço e alguma graça respondeu:
- A esse não meu Capitão, mas não se esqueça de o avisar que da próxima vez deve mandar o rancho para o pessoal!
Hoje o José Serpa vive em Stoughton e é cliente na Agência de Seguros onde trabalho.
A história, contada pela sua boca, teve um final feliz. No dizer do Serpa e dos homens da Companhia, o nosso capitão era um bom homem.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7460: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (6): Uma história de Natal (José da Câmara)
Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7149: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (22): Aventuras em terras manjacas
Guiné 63/74 - P7565: Estórias do Juvenal Amado (33): O Léo e a macaca Chita
1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 5 de Janeiro de 2011:
Caros Luís, Carlos, Magalhães, Briote e restantes atabancados.
A minha ligação ao pessoal do Pel Rec, acaba por aparecer nas minhas estórias por causa de minha relação especial com eles, desde de a viagem do Porto para Abrantes.
Ainda não sabíamos que eu ia com eles para a Guiné. Aliás de todos os Condutores que vieram do RI6 comigo só eu fui para a Guiné.
Um abraço para todos
Juvenal Amado
Estórias do Juvenal (33)
O LÉO E A MACACA CHITA
Soldado Pel Rec e carteiro dos CTT na vida civil, não sei como foi parar a padeiro da CCS do 3872.
Não sei mas foi um bom padeiro.
Após a chegada a Galomaro, não tenho ideia que de lá tenha saído alguma vez, nem para ir a Bafatá. Era afável e amigo de praticamente toda a gente, digo praticamente, pois só o ouro agrada a todos e ele era como nós de carne e osso.
No trabalho diário de pôr na mesa dos camaradas o pão nosso de cada dia, estava dispensado de formaturas, reforços, ou qualquer outro serviço para além do seu.
Fardado sempre a rigor em calções e tronco nu, ficou barato ao Exército no que diz respeito ao fardamento.
Nunca negava um pãozinho a quem lho pedisse.
Por ordem do Comando, fazia uns pães pequenos individuais na vez do famoso casqueiro onde era normal retirar o miolo, que depois de amassado servia de arma de arremesso a um camarada para chatear.
O pão era pois saboroso, praticamente todo consumível e era também o ideal para levar nas rações de combate. Também na nossa cantina havia umas sandes de queijo ou fiambre, para nosso prazer e lucro da instituição. Isto era para quem tinha dinheiro vivo, pois ao contrário de outros quartéis do nosso batalhão, ali não havia fiado.
Penso que foi uma forma de poupar uns bons quilos de farinha e em vez de desagradar, como acontece quando os nossos superiores decidem economizar nalguma coisa, esta ordem foi de agrado geral.
Está claro que o Léo beneficiava de um estatuto que o fazia presente em tudo o que fosse petisco, que muita vez era cozinhado na própria padaria.
Com os seus ajudantes de padeiro, recrutados nos garotos da população assim ele de forma bem económica poupava o esforço físico para além do estritamente necessário.
Enfim ele estava feliz com a ajuda e os garotos, que comiam no quartel, recolhiam os restos que levavam para as suas casas também eram felizes.
Talvez o único aborrecimento sério tenha sido provocado pela sua macaco-cão Chita de seu nome. Tinha-lhe sido deixada pelo padeiro velhinho do 2912, ainda pequena, mas na altura desta estória já ela era adulta e grande, pois já foi para o final da comissão.
A Chita gostava de cerveja tanto como nós. Assim nós deixávamos no fundo da garrafa sempre um restinho, que ela bebia depositando depois a garrafa no fundo do bidão.
Está claro que ela apanhava monumentais bebedeiras e andava depois aos guinchos, agarrava a cabeça, ia de um lado ao outro da cantina para nosso regozijo.
Certo dia a Chita com os copos, decidiu pendurar-se nas árvores ainda jovens, que tinham sido plantadas na parada do quartel e que eram o desvelo do nosso Comandante Tenente Coronel J.M. Castro e Lemos.
Escusado será dizer que as pequenas árvores ficaram como se tivesse passado por elas um tufão. Braças partidas, desfolhadas e meio arrancadas eram a visão de um autêntico desastre.
Quem foi? De quem é a macaca?
Logo chegaram os nomes ao nosso Comandante. O castigo foi sem apelo. O Léo tinha que se livrar da sua Chita.
Abatê-la estava fora de caso. Ninguém era capaz de o fazer.
A única solução à vista foi enviá-la para Cassamba, onde estava um pelotão na altura que se não estou em erro do Dulombi, que tomaram conta dela e a traziam sempre que vinham a Galomaro.
Era ver o Léo com a macaca abraçada a ele e vice versa. Mais tarde trouxeram-na às escondidas para Galomaro, onde passou a ser vigiada e estando presa a maior parte do tempo.
Quando havia revista, lá um dos ajudantes de padeiro se escapava com ela para a tabanca.
Penso que o Léo a deixou ao seu substituto na padaria.
Infelizmente o nosso camarada veio a falecer pouco tempo depois do nosso regresso. Foi atropelado em Lisboa quando exercia a sua profissão de carteiro.
Recordo-o com saudade hoje.
Há 37 anos por esta altura, só pensávamos no regresso não sabendo, que ele nos deixaria pouco tempo depois.
Paz à sua Alma
Juvenal Amado
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7534: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (29): Não falarei de mal-entendidos (Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7265: Estórias do Juvenal Amado (32): Carne para o quartel
Caros Luís, Carlos, Magalhães, Briote e restantes atabancados.
A minha ligação ao pessoal do Pel Rec, acaba por aparecer nas minhas estórias por causa de minha relação especial com eles, desde de a viagem do Porto para Abrantes.
Ainda não sabíamos que eu ia com eles para a Guiné. Aliás de todos os Condutores que vieram do RI6 comigo só eu fui para a Guiné.
Um abraço para todos
Juvenal Amado
Estórias do Juvenal (33)
O LÉO E A MACACA CHITA
Soldado Pel Rec e carteiro dos CTT na vida civil, não sei como foi parar a padeiro da CCS do 3872.
Não sei mas foi um bom padeiro.
Após a chegada a Galomaro, não tenho ideia que de lá tenha saído alguma vez, nem para ir a Bafatá. Era afável e amigo de praticamente toda a gente, digo praticamente, pois só o ouro agrada a todos e ele era como nós de carne e osso.
No trabalho diário de pôr na mesa dos camaradas o pão nosso de cada dia, estava dispensado de formaturas, reforços, ou qualquer outro serviço para além do seu.
Fardado sempre a rigor em calções e tronco nu, ficou barato ao Exército no que diz respeito ao fardamento.
Nunca negava um pãozinho a quem lho pedisse.
Por ordem do Comando, fazia uns pães pequenos individuais na vez do famoso casqueiro onde era normal retirar o miolo, que depois de amassado servia de arma de arremesso a um camarada para chatear.
O pão era pois saboroso, praticamente todo consumível e era também o ideal para levar nas rações de combate. Também na nossa cantina havia umas sandes de queijo ou fiambre, para nosso prazer e lucro da instituição. Isto era para quem tinha dinheiro vivo, pois ao contrário de outros quartéis do nosso batalhão, ali não havia fiado.
Penso que foi uma forma de poupar uns bons quilos de farinha e em vez de desagradar, como acontece quando os nossos superiores decidem economizar nalguma coisa, esta ordem foi de agrado geral.
Está claro que o Léo beneficiava de um estatuto que o fazia presente em tudo o que fosse petisco, que muita vez era cozinhado na própria padaria.
Com os seus ajudantes de padeiro, recrutados nos garotos da população assim ele de forma bem económica poupava o esforço físico para além do estritamente necessário.
Enfim ele estava feliz com a ajuda e os garotos, que comiam no quartel, recolhiam os restos que levavam para as suas casas também eram felizes.
Talvez o único aborrecimento sério tenha sido provocado pela sua macaco-cão Chita de seu nome. Tinha-lhe sido deixada pelo padeiro velhinho do 2912, ainda pequena, mas na altura desta estória já ela era adulta e grande, pois já foi para o final da comissão.
A Chita gostava de cerveja tanto como nós. Assim nós deixávamos no fundo da garrafa sempre um restinho, que ela bebia depositando depois a garrafa no fundo do bidão.
Está claro que ela apanhava monumentais bebedeiras e andava depois aos guinchos, agarrava a cabeça, ia de um lado ao outro da cantina para nosso regozijo.
Certo dia a Chita com os copos, decidiu pendurar-se nas árvores ainda jovens, que tinham sido plantadas na parada do quartel e que eram o desvelo do nosso Comandante Tenente Coronel J.M. Castro e Lemos.
Escusado será dizer que as pequenas árvores ficaram como se tivesse passado por elas um tufão. Braças partidas, desfolhadas e meio arrancadas eram a visão de um autêntico desastre.
Quem foi? De quem é a macaca?
Logo chegaram os nomes ao nosso Comandante. O castigo foi sem apelo. O Léo tinha que se livrar da sua Chita.
Abatê-la estava fora de caso. Ninguém era capaz de o fazer.
A única solução à vista foi enviá-la para Cassamba, onde estava um pelotão na altura que se não estou em erro do Dulombi, que tomaram conta dela e a traziam sempre que vinham a Galomaro.
Era ver o Léo com a macaca abraçada a ele e vice versa. Mais tarde trouxeram-na às escondidas para Galomaro, onde passou a ser vigiada e estando presa a maior parte do tempo.
Quando havia revista, lá um dos ajudantes de padeiro se escapava com ela para a tabanca.
Penso que o Léo a deixou ao seu substituto na padaria.
Infelizmente o nosso camarada veio a falecer pouco tempo depois do nosso regresso. Foi atropelado em Lisboa quando exercia a sua profissão de carteiro.
Recordo-o com saudade hoje.
Há 37 anos por esta altura, só pensávamos no regresso não sabendo, que ele nos deixaria pouco tempo depois.
Paz à sua Alma
Juvenal Amado
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7534: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (29): Não falarei de mal-entendidos (Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7265: Estórias do Juvenal Amado (32): Carne para o quartel
Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa
Capa e contra-capa do livro do nosso camarigo Jose Brás, Lugares de passagem, editado pela Chiado Editora, Lisboa, 2010, 191 pp., e ontem apresentado em Loures, na Biblioteca Municipal José Saramago. Na mesa, estiveram prtesentes, além do presidente da edilidade, Carlos Morgado, amigos e camarigos do Zé, como o Vitor Ramalho, conhecido especialista na área do direito do trabalho, além de mim, Luís Graça, em representação da nossa Tabanca Grande, e do Mário Beja Santos a quem coube fazer a apresentação da obra. O autor, que naturalmente estava presente e feliz, contou com a camaradagem, amizade e camaridagem de algumas dezenas de leitores que se deslocaram, em noite de invernia, à Biblioteca José Saramago, cujo acesso não é fácil...para quem vem de fora de Loures.
1. Recorde-se que o José Brás foi Fur Mil Trms, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), está connosco desde Janeiro de 2009. Esteve profissionalmente ligado à aviação comercial, além de ter sido sindicalista e autarca.
Hoje haverá uma nova apresentação do livro no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa, às 18h30, para a qual também estão convidados todos os nossos camaradas, amigos e camarigos, e demais leitores do blogue. Ao Zé desejamos o melhor sucesso para este seu segundo livro.
Recorde-se que o Zé Brás é autor de um dos mais importantes e pioneiros romances sobre a guerra colonial, publicados na década de 1980, a obra Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura. Com chancela da Europa-América, venderam-se mais de 30 mil exemplares, o que é absolutamente notável no nosso pequeno mercado livreiro.
No V Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande, em Monte Real, 26 de Junho de 2010, o Zé mais o seu Gupo do Cadaval (Belarmino Sardinha, Vasco da Gama, Hélder Sousa, José Dinis e Jorge Rosales) aproveitaram a circunstância (a presença de centena e meia de convivas) para homenagear o nosso blogue, na pessoa do seu fundador, da sua equipa editorial e dos demais colaboradores. Esse texto, na altura lido pelo Belarmino Sardinha, vem agora reproduzido no livro (pp. 7-9). Tomo a liberdade de o reproduzir aqui, com a devida vénia ao autor e à editora, e com um abraço a todo o grupo. E naturalmente agradecer, mais uma vez, em público essa homenagem ao blogue que já não é de (embora fundado por) o Luís Graça: chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Encontrar-nos-emos mais logo, no auditório do SNPVAC, por volta das 18h. Quanto á recensão do livro e ás fotos e aos vídeos de ontem, ficarão naturalmente para mais tarde. Agora vamos festejar o feito que é sempre a escrita e o lançamento de um livro de um camarada nosso, onde estamos todos retratados enquanto caminhantes de muitos caminhos desta vida, incluindo as picadas e os trilhos das matas da Guiné, em tempo de guerra, bem como as pontes e demais lugares de passagem que temos vindo a construir, das memórias aos afectos... (LG)
2. A dedicatória ao nosso blogue começa com esta quadra:
"É rica, tem nome fino,/ É pobre, tem nome grosso, / É rica, teve um menino, / É pobre, pariu um moço" (Célebre quadra de Manuel António Castro, vila de Cuba, Alentejo, 1885.). O livro tem também uma um belíssimo prefácio do António Loja, madeirense, que foi Cap Mil da CCAÇ 1622, e já aqui reproduzido.
Capa original da autoria de Cátia Brás, filha do José Brás, artista plástica, autor do blogue Sonhos a Pincel, assistente de bordo, enfim, uma mulher de talentos...
Guiné 63/74 - P7563: Parabéns a você (198): Agradecimento de Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490
1. Mensagem de Valentim Oliveira (ex-Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490, Região de Farim, 1963/65), com data de 5 de Janeiro de 2011:
Amigo Carlos.
Já se passaram alguns meses sem que eu tenha dito nada ou seja, dando a saber a todos os Camarigos Tertulianos, que além dos meus 69 completados precisamente hoje 05/01/2011, ainda ando no Reino dos vivos, e com vontade de viver pelo menos mais 31. Mas que raio de 31. Isto é um número um pouco suspeitoso. O melhor é avançar mais (um) porque os pares são sempre melhores.
Bem! Com esta vontade firme de viver, e, através desta mensagem, retribuo um abraço de Amigo a todos os Camaradas que fazem parte deste grande Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné, e que durante estes (31) ou (32) que eu espero de palmilhar os trilhos do nosso planeta Terra ”não com a G-3” mas sim com uma Granada cheia de TINTO do famoso Dão, Douro, ou Alentejano. Todas estas Granadas são óptimas para fazer explodir e abrir um pouco mais os Neurónios das Cabeças envelhecidas, porque como todos sabemos, e o ditado é antigo, os anos não perdoam.
Já agora se me permitem, deixo um abraço de real apreço ao nosso Camarigo Virgíno Briote por ser somente ELE e EU a fazermos parte desta TABANCA de um conjunto de aproximadamente de 600 Homens que formaram o BCAV 490. Não por minha culpa, porque nos convívios anuais faço sempre o incentivo para aderirem ao Blog e publicarem as Histórias. Muitos já partiram, os que ainda andam por cá remetem-se ao silêncio.
Também para o Rui Alexandrino meu amigo de verdade e meu vizinho aqui na Cidade de Viriato (VISEU) que se encontra em perfeita convalescença da operação urgente que fez à máquina no Hospital de Santa Maria, aqui vai o meu apreço para uma recuperação rápida para continuarmos a fazer umas ferritas.
Por "ultimo" um grande Abraço de agradecimento a todos que neste dia se lembraram de dizer que para o ano cá estaremos novamente.
Para os Editores o meu bem-haja.
Valentim Oliveira
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7554: Parabéns a você (196): Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490 (Tertúlia / Editores)
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)
Amigo Carlos.
Já se passaram alguns meses sem que eu tenha dito nada ou seja, dando a saber a todos os Camarigos Tertulianos, que além dos meus 69 completados precisamente hoje 05/01/2011, ainda ando no Reino dos vivos, e com vontade de viver pelo menos mais 31. Mas que raio de 31. Isto é um número um pouco suspeitoso. O melhor é avançar mais (um) porque os pares são sempre melhores.
Bem! Com esta vontade firme de viver, e, através desta mensagem, retribuo um abraço de Amigo a todos os Camaradas que fazem parte deste grande Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné, e que durante estes (31) ou (32) que eu espero de palmilhar os trilhos do nosso planeta Terra ”não com a G-3” mas sim com uma Granada cheia de TINTO do famoso Dão, Douro, ou Alentejano. Todas estas Granadas são óptimas para fazer explodir e abrir um pouco mais os Neurónios das Cabeças envelhecidas, porque como todos sabemos, e o ditado é antigo, os anos não perdoam.
Já agora se me permitem, deixo um abraço de real apreço ao nosso Camarigo Virgíno Briote por ser somente ELE e EU a fazermos parte desta TABANCA de um conjunto de aproximadamente de 600 Homens que formaram o BCAV 490. Não por minha culpa, porque nos convívios anuais faço sempre o incentivo para aderirem ao Blog e publicarem as Histórias. Muitos já partiram, os que ainda andam por cá remetem-se ao silêncio.
Também para o Rui Alexandrino meu amigo de verdade e meu vizinho aqui na Cidade de Viriato (VISEU) que se encontra em perfeita convalescença da operação urgente que fez à máquina no Hospital de Santa Maria, aqui vai o meu apreço para uma recuperação rápida para continuarmos a fazer umas ferritas.
Por "ultimo" um grande Abraço de agradecimento a todos que neste dia se lembraram de dizer que para o ano cá estaremos novamente.
Para os Editores o meu bem-haja.
Valentim Oliveira
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7554: Parabéns a você (196): Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490 (Tertúlia / Editores)
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)
Guiné 63/74 - P7562: Tabanca Grande (259): O casal Vinhal, um dos totalistas dos nossos cinco encontros nacionais, anuais (desde a Ameira, em 2006, a Monte Real, em 2010)
Montemor-O-Novo > Ameira > 2006 > I Encontro Nacional da Tabanca Grande > Algumas das nossas companheiras... A Dina Vinhal (*) é a segunda a contar da esquerda... Refira-se que ao casal Vinhal é um dos totalistas dos nossos encontros anuais (cinco, desde 2006).
A explicação é simples: a Dina é inseparável do Carlos (e vice-versa)... O Carlos (**), desde que entrou para a nossa equipa editorial (foi o primeiro, em 2006, depois da Ameira), tem estado na comissão organizadora dos nossos encontros nacionais desde então. Recorde-se que o II foi em Pombal, em 28 de Abril de 2007, sob a batuta do chefe de orquestra Vitor Junqueira... Desde 2009, o Carlos tem parelha com o Joaquim Mexia Alves na organização dos encontros nacionais da Tabanca Grande em 2008 e 2009, na Quinta do Paul, Ortigosa, Momnte Real; e em 2010, no Palace Hotel, de Monte Real...
Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
Matosinhos > Leça do Balio > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Bar Vilas > Jantar-convívio de Natal > 27 de Dezembro de 2007 > Da esquerda para a direita: (i) Dina Vinhal, mulher do nosso co-editor Carlos Vinhal; (ii) A esposa e a filha do José Teixeira, respectivamente Maria Armanda e Joana, respectivamente... À esquerda, de costas, está a Eduarda, a esposa do Albano Costa e mãe do Hugo Costa...
Foto: © Albano Costa (2007). Direitos reservados.
Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > 2009 >A Dina Vinhal, na oprimeira fila, ao centro (é a quinta a contar do lado direito)
Foto: © David Guimarães (2009). Direitos reservados
Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > O nosso camarigo Rui Alexandre Ferreira (que neste último Natal esteve internado com sérios problemas de saúde) mostrando um documento, de eventual interesse para o blogue, ao Carlos Vinhal, sob o olhar atento da Dina.
Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7559: Tabanca Grande (258): Agradecimento à tertúlia (Dina Vinhal)
(...) Chamo-me Maria Leopoldina, Dina para os amigos, e estou casada com o Carlos há quase 39 anos. Há que somar a este tempo mais 4 de namoro, e nestes, uma “comissão de serviço” na Guiné. Coincidências da vida, andámos no Ciclo Preparatório na mesma Escola e nos mesmos anos lectivos, mas daí não veio nenhum conhecimento, porque se bem se lembram, naquele tempo as meninas eram separadas dos meninos. Por outro lado eu morava no extremo sul de Matosinhos e ele no extremo norte de Leça da Palmeira, logo bem afastados um do outro. (...)
(**) Vd. poste de 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
Poste DCLI (em numeração romana, 651...)
(...) Amigos e camaradas de tertúlia: Abram aulas para receber mais um camarada da Guiné. Aqui vai o testemunho do Carlos Vinhal, ex-furriel miliciano da CART 2732 (Mansabá, 1970/72):
Caro Luis Graça
Entrei recentemente no seu site e, como antigo combatente da Guiné, queria deixar o meu modesto contributo para aumentar o número daqueles que não têm complexos em assumir-se como antigos combatentes de uma guerra que, a não querendo, dela não fugiram. (...)
Passo a apresentar-me:
(i) chamo-me Carlos Esteves Vinhal, fui Furriel Miliciano Atirador com a especialidade de Minas e Armadilhas;
(ii) fui incorporado como instruendo do CSM em Abril de 1969 nas Caldas da Rainha (RI5);
(iii) a especialidade de Atirador tirei-a em Vendas Novas (EPA);
(iv) em Novembro fui para Tancos (EPE) onde tirei o 33.º Curso de Minas e Armadilhas;
(v) em Dezembro rumei para o Funchal onde ajudei a dar a Especialidade de Atirador a um grupo de militares madeirenses com os quais se formaram as duas primeiras Companhias do Grupo de Artilharia de Guarnição n.º 2 (GAG2) a irem para o Ultramar: a CART 2731 foi para Angola e a minha, a CART 2732, embarcou no Cais do Funchal para a Guiné no dia 13 de Abril de 1970, chegando a 17;
(vi) uns quantos dias em Brá e no dia 21 do mesmo mês seguimos para Mansabá, situada entre Mansoa e Farim, onde permanecemos até finais de Fevereiro de 1972.
Como se tratava de uma Companhia independente ficámos dependentes administrativa e operacionalmente ao BCAÇ 2885, sediado em Mansoa. Os Oficiais, Sargentos, Cabos e Soldados especialistas eram todos continentais. Os madeirenses, homens de comprovada bravura, eram aquilo que poderíamos chamar a carne para canhão. A verdade é que muitos deles foram feridos em combate mais de uma vez e nunca viraram a cara à luta. Verdadeiros heróis anónimos, embora alguns reconhecidos e louvados até pelo General e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.
Perdemos três militares madeirenses, dois em combate quase no fim da comissão (o Vieira e o Barbosa) e um por acidente (o Silvestre). O soldado Malcata, oriundo do continente, morreu de doença. Perdemos também o Alferes Couto que, tendo como eu o Curso de Minas e Armadilhas, viu-lhe rebentar nas mãos uma mina antipessoal.
Futuramente escreverei mais umas coisas, porque memórias não faltam.
Guiné > Região do Oio > Mansabá> CART 2732 (Mansabá, 1970/72)> 1970 > : 3º Pelotão, secção do Fur Mil Vinhal (na primeira fila, à direita, ladeado pelo seu amigo Ornelas).
Foto: © Carlos Vinhal (2006). Todos os direitos reservadios
É com muita honra e a título de homenagem aos meus valorosos camaradas madeirenses da CART 2732 e em particular ao meu 3º Pelotão que anexo duas fotografias. Na de cima a minha Secção (...).
Refira-se que nesta altura - e só tínhamos 6 meses de comissão - já a Companhia se encontrava desfalcada. Já havia morrido o Alferes Couto e estava hospitalizado o Alferes Bento comandante do meu Pelotão, vítimas do mesmo incidente. Por que estou presente nas fotografias, na Secção estou em baixo à direita, ladeado pelo meu grande amigo Ornelas (...)
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Guiné 63/74 - P7561: Blogpoesia (101): Considerações (Manuel Maia)
1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 5 de Janeiro de 2011:
Carlos,
Aqui seguem dois grupos de sextilhas, num total de onze.
As primeiras sete fazem parte do título Considerações, as outras quatro agradeço que as subordines ao outro título.
São as primeiras do ano e vêm cheias de força...
Um grande abraço
manuelmaia
CONSIDERAÇÕES
Quisera receber a directriz,
de transformar o mundo de raíz,
travar desigualdades tão gritantes...
Ser como Salomão, qual rei dos reis,
usar de Talião as duras leis,
punir vilões, ladrões, vis governantes...
Pedido a um mago para adivinhar,
o rumo que o futuro quis traçar
p`rós seis antigos espaços lusitanos...
Angola, Cabo Verde e S.Tomé,
Timor ou Moçambique, `inda Guiné,
chafurdarão na lama muitos anos...
Tal como os portugueses cá da Ibéria,
mergulharão os ditos na miséria
sem vislumbrar saída, solução...
Petróleo ou diamantes não melhoram
vivência d`angolanos e pioram
a já tão miserável situação...
Poder nesses países está assente
na corrupção que a tudo diz presente,
herdadas foram formas de viver...
Quem sai aos seus não degenera, é certo,
exacta a conexão ou dela perto,
com Portugal haviam de aprender...
Abúlica e já orfã de valores,
esquece ou desconhece os seus maiores,
por vírus de traições inoculados...
A Pátria, outrora berço de gigantes,
gerida hoje por biltres e tratantes,
a um passo está do toque de finados...
Sextilhas vão p`ra além já das quinhentas,
contidas umas, outras violentas,
verdades tal qual punhos, sem roupagens...
Se falho, é por defeito, podem crer
na carência de jeito p`ra escrever,
as ditas, tendo a rima por linguagem...
Pintando neste quadro de seis versos
os casos de memória, algo dispersos,
chorrilhos de carências de tal vida...
Regressa a adrenalina fulminante,
conforme os revisito a cada instante,
p`lo sofrimento, dor, raiva incontida...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7537: Blogpoesia (100): Futebois... (Manuel Maia)
Carlos,
Aqui seguem dois grupos de sextilhas, num total de onze.
As primeiras sete fazem parte do título Considerações, as outras quatro agradeço que as subordines ao outro título.
São as primeiras do ano e vêm cheias de força...
Um grande abraço
manuelmaia
CONSIDERAÇÕES
Quisera receber a directriz,
de transformar o mundo de raíz,
travar desigualdades tão gritantes...
Ser como Salomão, qual rei dos reis,
usar de Talião as duras leis,
punir vilões, ladrões, vis governantes...
Pedido a um mago para adivinhar,
o rumo que o futuro quis traçar
p`rós seis antigos espaços lusitanos...
Angola, Cabo Verde e S.Tomé,
Timor ou Moçambique, `inda Guiné,
chafurdarão na lama muitos anos...
Tal como os portugueses cá da Ibéria,
mergulharão os ditos na miséria
sem vislumbrar saída, solução...
Petróleo ou diamantes não melhoram
vivência d`angolanos e pioram
a já tão miserável situação...
Poder nesses países está assente
na corrupção que a tudo diz presente,
herdadas foram formas de viver...
Quem sai aos seus não degenera, é certo,
exacta a conexão ou dela perto,
com Portugal haviam de aprender...
Abúlica e já orfã de valores,
esquece ou desconhece os seus maiores,
por vírus de traições inoculados...
A Pátria, outrora berço de gigantes,
gerida hoje por biltres e tratantes,
a um passo está do toque de finados...
Sextilhas vão p`ra além já das quinhentas,
contidas umas, outras violentas,
verdades tal qual punhos, sem roupagens...
Se falho, é por defeito, podem crer
na carência de jeito p`ra escrever,
as ditas, tendo a rima por linguagem...
Pintando neste quadro de seis versos
os casos de memória, algo dispersos,
chorrilhos de carências de tal vida...
Regressa a adrenalina fulminante,
conforme os revisito a cada instante,
p`lo sofrimento, dor, raiva incontida...
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7537: Blogpoesia (100): Futebois... (Manuel Maia)
Guiné 63/74 - P7560: Notas de leitura (184): O Fim do Império Português, de António Costa Pinto (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Dezembro de 2010:
Queridos amigos,
É a última recensão deste ano.
Ainda aqui tenho um saco de livros, mas aproveito a oportunidade de relembrar aos confrades que me mantenho aberto a todas as sugestões que partam ou estejam em convergência com a centralidade do nosso blogue, as coisas da Guiné ou as que as ilustram, nas duas margens. Ficarei gratíssimo a tais propostas e a essas cedências temporárias de títulos para recensão.
Um abraço,
Mário
O fim do Império Português
Beja Santos
É incontestável que a guerra colonial determinou, mais do que qualquer outro fenómeno, novos comportamentos políticos e atitudes sócias e culturais, a sociedade portuguesa, dos anos 60 para os anos 70, isto para já não falar nas sequelas da descolonização. Daí a atracção que ela provoca nos historiadores e o seu resultado salta à vista em estudos, monografias, biografias, análises de grandes eventos bélicos, etc. António Costa Pinto, professor no ISCTE, nome associado a várias universidades de renome internacional, escritor com créditos firmados na historiografia do Portugal contemporâneo, é autor de uma interessante síntese intitulada “O Fim do Império Português, A Cena Internacional, a Guerra Colonial, e a Descolonização, 1961-1975”, Livros Horizonte, 2001. Adverte o autor: “Tive a preocupação de incluir e integrar um já vasto conjunto de obras habitualmente não citadas pela historiografia portuguesa sobre o tema. Os estudos sobre o colonialismo português contaram desde os anos 60 com um núcleo progressivamente significativo de contribuições de estudioso ingleses, norte-americanos e franceses.
Não sei se por preguiça intelectual, ignorância, ou paroquialismo, muitas destas obras foram raramente citadas ou discutidas pela historiografia portuguesa”.
O que há de verdadeiramente estimulante neste trabalho ensaístico é ditado pelo olhar sobre a cena internacional, a compreensão do regime a partir do despertar do antigo colonialismo e as cambiantes decorrentes da evolução da guerra nas três frentes de combate e, por último o modo como se descolonizou, como a descolonização influiu na vida política portuguesa, desde o processo revolucionário até à adesão europeia. São esses dados que se pretendem abreviadamente enumerar.
Ao contrário do que muitas vezes é propalado, o Portugal apresentado como uma nação isolada (“orgulhosamente sós”) a defender a civilização ocidental em África, foi uma figura de retórica com que o salazarismo procurou impressionar para consumo interno de que uma realidade. Esse isolamento foi muito menor do que foi apregoado por Salazar e Caetano. É facto que o aliado mais importante, os EUA, ensaiaram, na administração Kennedy, uma pressão activa para a descolonização de Angola, mas foi sol de pouca dura. Kissinger negou inicialmente armamento que permitisse equilíbrio na guerra da Guiné mas, já no ocaso do regime português, mandou ceder armamento por portas e travessas. Isto para enfatizar que Washington exerceu como estratégia uma “neutralidade colaborante" e votou muitas vezes ao lado de Portugal. Num outro ângulo, a guerra colonial pesou muito pouco na guerra fria, foi abafada por acontecimentos determinantes como o Congo, a guerra de secessão na Nigéria e pela escalda do Vietnam. As grandes potências europeias e os principais aliados de Portugal investiram nas colónias e venderam armamento, seja às claras ou às escondidas. Salazar teceu a sua muralha ideológica à volta do “aguentar”, à espera de melhores dias, chegou a visionar a importância das colónias numa terceira guerra mundial. Por outro lado, fruto dos imperativos do desenvolvimento da década de 60, Portugal abriu-se à Europa, não podia ser de outra maneira para receber as multinacionais, o turismo de massas e as remessas dos emigrantes. Salazar aguentou as pressões dos aliados, usou o trunfo das Lages, desvalorizou ao limite o campo de batalha da ONU, mas não ignorava os sucessivos apoios dos seus velhos aliados aos movimentos de libertação. O historiador passa em revista os entendimentos e desentendimentos, o aproveitamento de conflitos africanos, o uso da NATO a favor da causa portuguesa. Quando o teatro da guerra da Guiné manifestamente deu sinais de esfarelamento, Caetano aceitou a sugestão do Governo britânico para estabelecer contactos secretos com o PAIGC.
As elites independentistas formaram-se em Portugal e em oposição ao regime de Salazar e Caetano. Actuaram ao lado do MUD Juvenil, conheceram o cárcere, conspiraram na Casa dos Estudantes do Império, fizeram amizades com os comunistas e os socialistas, daqui partiram directamente para o exílio e para a luta armada. Mas foram verdadeiramente movimentos de libertação distintos uns dos outros, se bem que o PAIGC tenha estado sempre muito próximo do MPLA. Enquanto os africanos buscavam a independência também se operava uma radicalização política dos opositores a Salazar, desde grupos gravitando à volta de revistas ou cooperativas até certas formas de ataques violentos a objectivo político-militares, com o aparecimento da LUAR e das Brigada Revolucionárias. O historiador refere em pormenor o envolvimento militar e a progressiva africanização da Guerra, os serviços de segurança e espionagem e a evolução nos diferentes teatros dos combates. No caso da Guiné, chamo a atenção para ecologia do território, para os progressivos êxitos do PAIGC e para um estado de espírito que ele denomina como “a caminho do Vietname”.
Com o derrube do regime, introduziu-se uma dinâmica de ruptura em que a transição para a democracia se realizou a par da descolonização e ao rápido fim do império português. Não houve um cenário de descolonização mas diferentes processos de transição em que historicamente teve expressão determinante a independência da Guiné-Bissau, foi ela que marcou a cadência das descolonizações ulteriores. Todo o processo revolucionário acabou por apontar para cedências e abdicações de responsabilidades e influiu na opção europeísta. Foram tão rápidos os desenlaces da descolonização, e os seus dissabores, foram tão influentes as feridas entre os contendores do processo revolucionário que se gerou uma maioria favorável à adesão à CEE. Não é novidade para ninguém que o regime implodiu quando não encontrou saída para uma negociação política com os diferentes movimentos de libertação. Acresce que um súbito imprevisto veio acelerar os acontecimentos: depois da Guerra dos 6 Dias veio a primeira crise petrolífera, a inflação caiu como uma bomba, os grandes detentores da economia e das finanças escudaram-se na proposta federalista de Spínola. Tudo em vão, a História foi mais longe e não se compadeceu de paliativos.
E não vale a pena especular se as elites africanas estavam preparadas para governar ou tinham verdadeiramente atrás de si nações consolidadas. É interessante especular mas a História prefere passar à margem desses condicionalismos.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel
Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7548: Notas de leitura (183): Vasco Lourenço, do interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
É a última recensão deste ano.
Ainda aqui tenho um saco de livros, mas aproveito a oportunidade de relembrar aos confrades que me mantenho aberto a todas as sugestões que partam ou estejam em convergência com a centralidade do nosso blogue, as coisas da Guiné ou as que as ilustram, nas duas margens. Ficarei gratíssimo a tais propostas e a essas cedências temporárias de títulos para recensão.
Um abraço,
Mário
O fim do Império Português
Beja Santos
É incontestável que a guerra colonial determinou, mais do que qualquer outro fenómeno, novos comportamentos políticos e atitudes sócias e culturais, a sociedade portuguesa, dos anos 60 para os anos 70, isto para já não falar nas sequelas da descolonização. Daí a atracção que ela provoca nos historiadores e o seu resultado salta à vista em estudos, monografias, biografias, análises de grandes eventos bélicos, etc. António Costa Pinto, professor no ISCTE, nome associado a várias universidades de renome internacional, escritor com créditos firmados na historiografia do Portugal contemporâneo, é autor de uma interessante síntese intitulada “O Fim do Império Português, A Cena Internacional, a Guerra Colonial, e a Descolonização, 1961-1975”, Livros Horizonte, 2001. Adverte o autor: “Tive a preocupação de incluir e integrar um já vasto conjunto de obras habitualmente não citadas pela historiografia portuguesa sobre o tema. Os estudos sobre o colonialismo português contaram desde os anos 60 com um núcleo progressivamente significativo de contribuições de estudioso ingleses, norte-americanos e franceses.
Não sei se por preguiça intelectual, ignorância, ou paroquialismo, muitas destas obras foram raramente citadas ou discutidas pela historiografia portuguesa”.
O que há de verdadeiramente estimulante neste trabalho ensaístico é ditado pelo olhar sobre a cena internacional, a compreensão do regime a partir do despertar do antigo colonialismo e as cambiantes decorrentes da evolução da guerra nas três frentes de combate e, por último o modo como se descolonizou, como a descolonização influiu na vida política portuguesa, desde o processo revolucionário até à adesão europeia. São esses dados que se pretendem abreviadamente enumerar.
Ao contrário do que muitas vezes é propalado, o Portugal apresentado como uma nação isolada (“orgulhosamente sós”) a defender a civilização ocidental em África, foi uma figura de retórica com que o salazarismo procurou impressionar para consumo interno de que uma realidade. Esse isolamento foi muito menor do que foi apregoado por Salazar e Caetano. É facto que o aliado mais importante, os EUA, ensaiaram, na administração Kennedy, uma pressão activa para a descolonização de Angola, mas foi sol de pouca dura. Kissinger negou inicialmente armamento que permitisse equilíbrio na guerra da Guiné mas, já no ocaso do regime português, mandou ceder armamento por portas e travessas. Isto para enfatizar que Washington exerceu como estratégia uma “neutralidade colaborante" e votou muitas vezes ao lado de Portugal. Num outro ângulo, a guerra colonial pesou muito pouco na guerra fria, foi abafada por acontecimentos determinantes como o Congo, a guerra de secessão na Nigéria e pela escalda do Vietnam. As grandes potências europeias e os principais aliados de Portugal investiram nas colónias e venderam armamento, seja às claras ou às escondidas. Salazar teceu a sua muralha ideológica à volta do “aguentar”, à espera de melhores dias, chegou a visionar a importância das colónias numa terceira guerra mundial. Por outro lado, fruto dos imperativos do desenvolvimento da década de 60, Portugal abriu-se à Europa, não podia ser de outra maneira para receber as multinacionais, o turismo de massas e as remessas dos emigrantes. Salazar aguentou as pressões dos aliados, usou o trunfo das Lages, desvalorizou ao limite o campo de batalha da ONU, mas não ignorava os sucessivos apoios dos seus velhos aliados aos movimentos de libertação. O historiador passa em revista os entendimentos e desentendimentos, o aproveitamento de conflitos africanos, o uso da NATO a favor da causa portuguesa. Quando o teatro da guerra da Guiné manifestamente deu sinais de esfarelamento, Caetano aceitou a sugestão do Governo britânico para estabelecer contactos secretos com o PAIGC.
As elites independentistas formaram-se em Portugal e em oposição ao regime de Salazar e Caetano. Actuaram ao lado do MUD Juvenil, conheceram o cárcere, conspiraram na Casa dos Estudantes do Império, fizeram amizades com os comunistas e os socialistas, daqui partiram directamente para o exílio e para a luta armada. Mas foram verdadeiramente movimentos de libertação distintos uns dos outros, se bem que o PAIGC tenha estado sempre muito próximo do MPLA. Enquanto os africanos buscavam a independência também se operava uma radicalização política dos opositores a Salazar, desde grupos gravitando à volta de revistas ou cooperativas até certas formas de ataques violentos a objectivo político-militares, com o aparecimento da LUAR e das Brigada Revolucionárias. O historiador refere em pormenor o envolvimento militar e a progressiva africanização da Guerra, os serviços de segurança e espionagem e a evolução nos diferentes teatros dos combates. No caso da Guiné, chamo a atenção para ecologia do território, para os progressivos êxitos do PAIGC e para um estado de espírito que ele denomina como “a caminho do Vietname”.
Com o derrube do regime, introduziu-se uma dinâmica de ruptura em que a transição para a democracia se realizou a par da descolonização e ao rápido fim do império português. Não houve um cenário de descolonização mas diferentes processos de transição em que historicamente teve expressão determinante a independência da Guiné-Bissau, foi ela que marcou a cadência das descolonizações ulteriores. Todo o processo revolucionário acabou por apontar para cedências e abdicações de responsabilidades e influiu na opção europeísta. Foram tão rápidos os desenlaces da descolonização, e os seus dissabores, foram tão influentes as feridas entre os contendores do processo revolucionário que se gerou uma maioria favorável à adesão à CEE. Não é novidade para ninguém que o regime implodiu quando não encontrou saída para uma negociação política com os diferentes movimentos de libertação. Acresce que um súbito imprevisto veio acelerar os acontecimentos: depois da Guerra dos 6 Dias veio a primeira crise petrolífera, a inflação caiu como uma bomba, os grandes detentores da economia e das finanças escudaram-se na proposta federalista de Spínola. Tudo em vão, a História foi mais longe e não se compadeceu de paliativos.
E não vale a pena especular se as elites africanas estavam preparadas para governar ou tinham verdadeiramente atrás de si nações consolidadas. É interessante especular mas a História prefere passar à margem desses condicionalismos.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel
Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7548: Notas de leitura (183): Vasco Lourenço, do interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P7559: Tabanca Grande (258): Agradecimento à tertúlia (Dina Vinhal)
Caros amigos tertulianos
Como manda a boa educação, venho agradecer as manifestações de amizade que recebi por causa da minha admissão na tertúlia, por iniciativa de Luís Graça, honra que não merecia, nem queria.
Tenho o prazer de conhecer e manter as melhores relações de amizade com alguns tertulianos do blogue, assim como com as respectivas esposas que formam já um numeroso grupo nos Encontros da tertúlia. Reconheço que há uma empatia especial entre toda a gente que em cada ano renova uma saudável amizade.
Posto isto, é minha obrigação escrever algumas letras para que me fiquem a conhecer minimamente, por intermédio do meu secretário particular, já que o teclado tem as letras bastante apagadas e eu perderia demasiado tempo a tentar escrever algo.
Chamo-me Maria Leopoldina, Dina para os amigos, e estou casada com o Carlos há quase 39 anos. Há que somar a este tempo mais 4 de namoro, e nestes, uma “comissão de serviço” na Guiné. Coincidências da vida, andámos no Ciclo Preparatório na mesma Escola e nos mesmos anos lectivos, mas daí não veio nenhum conhecimento, porque se bem se lembram, naquele tempo as meninas eram separadas dos meninos. Por outro lado eu morava no extremo sul de Matosinhos e ele no extremo norte de Leça da Palmeira, logo bem afastados um do outro.
O que interessa aqui é o tempo que vós, ex-combatentes, passastes naquela violência gratuita da guerra, que nós, mulheres, não compreendíamos. Só sabíamos que os nossos filhos, irmãos, maridos, namorados, primos, vizinhos, tudo o que era homens na força da vida ia bater com os costados em África. Anos tenebrosos que espero nunca mais voltem.
Lembro-me dos momentos de angústia, na hora da passagem do carteiro, abeirar-me da janela e receber aquelas palavras que não queria ouvir:
- Menina, hoje não trago nada do seu namorado.
No dia seguinte repetia-se a cena. Os pais do Carlos telefonavam-me a saber se eu tinha recebido correspondência, e eu mentia dizendo que sim e que estava tudo bem com ele.
Tragicamente aquele primeiro ano de comissão do Carlos, coincidiu com o aparecimento de uma doença cancerosa na minha mãe. Ela adoeceu em Janeiro de 1970, o Carlos veio da Madeira passar os 10 dias de férias de mobilização em Março, visitando já a minha mãe no hospital. Foi para a Guiné em Abril, e quando veio de férias em Fevereiro de 1971, já eu não tinha mãe. Faleceu no dia 24 de Dezembro de 1970.
A minha vida não foi fácil nesse ano de 1970, tendo a minha mãe internada e o meu noivo na Guiné, as minhas preocupações dividiam-se entre o Hospital de S. João, a Guiné e a minha casa onde havia um menino, o meu irmão de 12 anos, que não entendia porque não tinha direito a ter a mãe junto de si como os outros meninos.
Outra mágoa que guardo dessa maldita guerra é a transformação que operou naquele jovem que eu conheci, que partiu um e regressou outro totalmente diferente. Posso até afirmar com a convicção de quem ama, que aquele que eu conheci nunca mais voltou. Este mesmo sentimento foi corroborado pelos meus sogros.
Desculpai, mas isto tinha que ser dito.
Se, futuramente, em conversa convosco, não vos conseguir tratar por tu, como mandam as normas do Blogue, a mais não se deve do que ao imenso respeito e admiração que tenho por vós e pelo que passastes naquela guerra.
Mais teria para dizer, mas a ladaínha já vai longa.
Recebei um abraço da vossa amiga
Dina Vinhal
__________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7540: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (32): Carlos e Dina Vinhal
Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7549: Tabanca Grande (257): Ernesto Pacheco Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857 (Mansabá, 1965/67)
Como manda a boa educação, venho agradecer as manifestações de amizade que recebi por causa da minha admissão na tertúlia, por iniciativa de Luís Graça, honra que não merecia, nem queria.
Tenho o prazer de conhecer e manter as melhores relações de amizade com alguns tertulianos do blogue, assim como com as respectivas esposas que formam já um numeroso grupo nos Encontros da tertúlia. Reconheço que há uma empatia especial entre toda a gente que em cada ano renova uma saudável amizade.
Posto isto, é minha obrigação escrever algumas letras para que me fiquem a conhecer minimamente, por intermédio do meu secretário particular, já que o teclado tem as letras bastante apagadas e eu perderia demasiado tempo a tentar escrever algo.
Chamo-me Maria Leopoldina, Dina para os amigos, e estou casada com o Carlos há quase 39 anos. Há que somar a este tempo mais 4 de namoro, e nestes, uma “comissão de serviço” na Guiné. Coincidências da vida, andámos no Ciclo Preparatório na mesma Escola e nos mesmos anos lectivos, mas daí não veio nenhum conhecimento, porque se bem se lembram, naquele tempo as meninas eram separadas dos meninos. Por outro lado eu morava no extremo sul de Matosinhos e ele no extremo norte de Leça da Palmeira, logo bem afastados um do outro.
O que interessa aqui é o tempo que vós, ex-combatentes, passastes naquela violência gratuita da guerra, que nós, mulheres, não compreendíamos. Só sabíamos que os nossos filhos, irmãos, maridos, namorados, primos, vizinhos, tudo o que era homens na força da vida ia bater com os costados em África. Anos tenebrosos que espero nunca mais voltem.
Lembro-me dos momentos de angústia, na hora da passagem do carteiro, abeirar-me da janela e receber aquelas palavras que não queria ouvir:
- Menina, hoje não trago nada do seu namorado.
No dia seguinte repetia-se a cena. Os pais do Carlos telefonavam-me a saber se eu tinha recebido correspondência, e eu mentia dizendo que sim e que estava tudo bem com ele.
Tragicamente aquele primeiro ano de comissão do Carlos, coincidiu com o aparecimento de uma doença cancerosa na minha mãe. Ela adoeceu em Janeiro de 1970, o Carlos veio da Madeira passar os 10 dias de férias de mobilização em Março, visitando já a minha mãe no hospital. Foi para a Guiné em Abril, e quando veio de férias em Fevereiro de 1971, já eu não tinha mãe. Faleceu no dia 24 de Dezembro de 1970.
A minha vida não foi fácil nesse ano de 1970, tendo a minha mãe internada e o meu noivo na Guiné, as minhas preocupações dividiam-se entre o Hospital de S. João, a Guiné e a minha casa onde havia um menino, o meu irmão de 12 anos, que não entendia porque não tinha direito a ter a mãe junto de si como os outros meninos.
Outra mágoa que guardo dessa maldita guerra é a transformação que operou naquele jovem que eu conheci, que partiu um e regressou outro totalmente diferente. Posso até afirmar com a convicção de quem ama, que aquele que eu conheci nunca mais voltou. Este mesmo sentimento foi corroborado pelos meus sogros.
Desculpai, mas isto tinha que ser dito.
Se, futuramente, em conversa convosco, não vos conseguir tratar por tu, como mandam as normas do Blogue, a mais não se deve do que ao imenso respeito e admiração que tenho por vós e pelo que passastes naquela guerra.
Mais teria para dizer, mas a ladaínha já vai longa.
Recebei um abraço da vossa amiga
Dina Vinhal
__________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7540: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (32): Carlos e Dina Vinhal
Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7549: Tabanca Grande (257): Ernesto Pacheco Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857 (Mansabá, 1965/67)
Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)
PARABÉNS A VOCÊ
06 DE JANEIRO DE 2011
O SEMPRE JOVEM PAULO SANTIAGO
Caro Paulo, a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva. Assim, vêm os Editores em nome de todos os teus camaradas, amigos e camarigos desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares.
Que esta data se festeje e prolongue por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre junto de ti quem mais amas.
Na hora do brinde não esqueças os camaradas e amigos deste Blogue, que irão erguer também uma taça em tua honra.
__________
Notas de CV:
- Postal de aniversário de autoria de Miguel Pessoa
- Paulo Santiago* foi Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 53, no Saltinho, nos anos de 1970 a 1972
(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5598: Parabéns a você (63): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Mário Migueis / Editores)
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7554: Parabéns a você (196): Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490 (Tertúlia / Editores)
Subscrever:
Mensagens (Atom)