terça-feira, 21 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3341: Controvérsias (7): Era possível evitar-se a Guerra (Leopoldo Amado)


Posicionamentos opostos e inconciliáveis

Texto enviado pelo Leopoldo Amado, Doutor em História Contemporânea pela Universidade Clássica de Lisboa (Faculdade Letras de Lisboa), sob a temática “Guerra Colonial da Guiné versus Luta de libertação Nacional (1961 – 1974)"; membro da nossa tertúlia; editor do blogue Lamparam II.


Com o fim da Segunda Guerra Mundial e com o subsequente surgimento da Organização das Nações Unidas e o chamado Terceiro Mundo, o regime do Estado Novo enfrentou um novo tempo de adversidades. Os países que dela passaram a fazer parte da ONU assinaram a sua Carta e aceitaram os seus princípios dos direitos do homem e o das nações, que seriam tratadas de igual forma, sendo grandes ou pequenas, adentro do espírito do princípio da autodeterminação dos povos.

Em Bandung, na Indonésia, Portugal viu nascer em 1955 um dos movimentos que mais o contestariam: o Movimento dos Não Alinhados, onde se juntavam jovens nações afro-asiáticas e movimentos de libertação que ansiavam pela independência dos seus povos. Com efeito, só no ano de 1960 – ano que ficou para a História como o ano de África – o mundo viu nascer 17 países africanos independentes. Era o ruir de velhos sistemas coloniais dos grandes impérios europeus, enquanto Portugal insistia em manter o seu império, apesar de os seus próprios aliados desprezarem claramente essa visão, tendo mesmo sofrido, da parte desses aliados, um embargo que teve sérias consequências para o rearmamento do seu Exército, numa altura em que tinha de responder em várias frentes de guerra em África.

A reacção do regime de Oliveira Salazar, perante esta nova ordem internacional, seria a de se fechar sobre si próprio, acabando, apesar disso, por entrar para as Nações Unidas, em 1955, e para a NATO, em 1949, permitindo esta última que Salazar apesar de que a adesão à Aliança Atlântica tivesse permitido a Salazar recolher grandes vantagens e alguns silêncios, sobretudo devido à extraordinária posição geoestratégica do arquipélago dos Açores. Assim, o Estado Novo foi formalmente instituído com a constituição da República de 1933, a qual rezava que Portugal era um Estado com uma comunidade cristã, um país muito consciente do alto valor da sua independência, com elevado sentido do passado e dos símbolos da sua História de nação de navegadores, o que atribuía desde sempre aos portugueses a prossecução de uma missão pelo Mundo, com um Estado unitário, centralista, solidário, fazendo parte da sua essência a necessidade de manutenção dos territórios ultramarinos.

Aliás, o Acto Colonial que integrava a Constituição (só revogado em 1951 para fazer face às crescentes críticas internacionais), reflectia já essa ideia da descentralização e da indivisibilidade do Império, considerada de resto fulcral, pois atribuía-se-lhe, entre outras preensas virtualidades, a faculdade e o dever de possuir e colonizar domínios ultramarinos, bem como o de “civilizar” populações chamadas indígenas.

É essa ideologia, digamos assim, que explica em grande medida a obsessiva recusa de Portugal em se sentar à mesa das negociações com os emergentes movimentos de libertação e, igualmente, a sua opção pela guerra colonial.

O PAIGC e outros movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas, não obstante terem inicialmente proposto negociações com vista à resolução pacífica do diferendo que os opunha a Portugal, no fundo, tinham já feito a sua opção pela guerra. Não apenas orque do seu ponto de vista era inquestionável a ntransigência com que o regime do Estado Novo lidava com a questão "colónias", mas igualmente porque era intrinsicamente doutrinária a convicção segundo a qual deviam responder com violência à violência colonial, a qual, aliás, consideravam própria e intrínseca ao sistema colonial português.

Aliás, por parte dos movimentos de libertação, a opção pela guerra é igualmente corroborada pela adopção das disposições internacionais que visavam legitimar aquilo a que Amílcar Cabral denominou “supremo recurso”, ou seja, o direito à revolta e ao recurso de todos os meios -violentos inclusivamente -, para fazer valer os direitos consignados da Resolução de 14 de Dezembro de 1960 das Nações Unidas. Uma resolução que, inequívoca e sintomaticamente, reconhecia o direito dos povos colonizados a disporem de si próprios pela via da concessão da independência dos territórios sob domínio colonial.

Em jeito de conclusão, podemos aferir, portanto, da inevitabilidade da guerra colonial/guerra de libertação, não apenas porque era enorme a influência geoestratégica introduzida pela partilha do Mundo pelas duas superpotências da altura, com a proliferação das chamadas “guerras por procuração”, mas igualmente porque quando se colocou na agenda internacional a questão da autodeterminação e da independência dos territórios sob domínio colonial, o posicionamento de dos movimentos de libertação e de Portugal (como potência colonial) revelaram-se diametralmente opostos e mesmo inconciliáveis, interpondo entre eles, inclusivamente, uma lógica de exclusão e uma clara opção pela guerra que ambos assumiram.

Aliás, não podia ser de outra maneira, na medida em que o discurso colonial, anacrónica, insistia paradoxalmente no direito/devermissão de “civilizar” (entanda-se colonizar), enquanto os emergentes movimentos de libertação aludiam, entre outros aspectos libertários – com maior ou menor razão – a necessidade de um regresso à história africana e a independência, com tudo o que de idílico ou de utópico esse sonho comportou e, emcerta medida, ainda comporta.


* Públicado em Os Anos de Salazar, nº 20 - "A guerra estende-se à Guiné e Moçambique, Plenata DeAgostini, Lisboa, 2008.

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Nota: ver artigo de

5 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3272: A novíssima literatura da Guerra Colonial (Leopoldo Amado)

Guiné 63/74 - P3340: Os nossos camaradas guineenses (1): O meu tributo (José Martins, ex-Fur Trms, Nova Lamego e Canjadude, CCAÇ 5, 1968/70)


Foto Google – Zona Leste – Sector L 3 (a zona a sul do Rio Corubal foi abandonada em 6 de Fevereiro de 1969, durante a Operação Mabecos Bravios).


Tributo aos Combatentes Africanos

por José Martins

Após terminado o 2º ciclo do CSM (Curso de Sargentos Milicianos), promovido a 1º Cabo Miliciano em 18Abr68, apresentei-me no Grupo de Artilharia Contra Aeronaves nº 2, em Torres Novas e, no regresso de umas breves férias intituladas “da Páscoa”, recebi a ordem de mobilização, gozei as férias da ordem e, após alguns adiamentos, em 28 de Maio de 1968 embarcava rumo à Guiné, a bordo do N/M "Alenquer".

Desembarcado a 2 de Junho de 1968 apresentei-me na Companhia de Caçadores nº 5, uma das três companhia africanas existentes na altura, no dia 9 desse mês, após uma viagem a bordo dum avião Dakota, até Nova Lamego (Gabu; 12º 15’ N 15º 35’ W).

Dois ou três dias depois enverguei o meu camuflado, ainda a cheirar a novo, para efectuar a minha primeira operação, integrado numa coluna militar que, a 15 de Junho, retirou a guarnição de destacamento de Beli (11º 55’ N 14º 12’ W) para o destacamento de Madina do Boé (11º 46’ N 14º 12’ W).

Não terminei a operação, já que fui evacuado, do Ché-Ché (11º 55’ N 14º 12’) para Nova Lamego, de helicóptero, com a primeira crise de paludismo.

Mas a nossa intenção não é contar a história de um dos muitos militares que estiveram num dos teatros de operações na época. Pretendemos, sim, prestar homenagem àqueles que, mesmo querendo, não conseguem fazer ouvir a sua voz ou publicar os seus escritos, talvez mais extensos do que outro qualquer militar metropolitano: os Militares Africanos.

Mas, na realidade, a referência às unidades do Exército, não esquecendo os outros ramos das Forças Armadas, deve-se à impossibilidade de referir todos e cada um dos cerca de 7.500 militares africanos que combateram ao lado dos metropolitanos. Também há que referir as unidades de milícias, uma força paramilitar mal armada e muitas vezes mal instruída, assim como os caçadores civis, os guias, os carregadores, os assalariados e outros, que também prestaram uma valiosa contribuição no esforço de guerra junto das unidades militares.

Quando passei por aquela terra, na unidade em que servi, conheci soldados cujo número mecanográfico terminava em 61, ou seja, tinham sido alistados em 1961 e, há poucos anos, ao ler relatórios sobre a minha companhia, datados de 1973 e 1974, lá constavam soldados alistados naquele ano. Isto quer dizer que houve homens – soldados africanos - que cumpriram 13 anos de tropa o que equivale a 13 anos de guerra, e que, na realidade, é muito tempo.

Em 1959/1960, com a nova orgânica das unidades nos territórios ultramarinos, foram atribuídas à Guiné três companhias de Caçadores Indígenas e um Grupo de Artilharia de Campanha, no que concerne a tropas operacionais.

Em 1960 já estavam criadas a 1ª CCaçI e a 4ª CCaçI, assim como o Grupo de Artilharia de Campanha 7. A 3ª CCaçI foi criada em Agosto de 1961. Estas unidades eram constituídas por praças africanas, enquadradas por oficiais, sargentos e praças especialistas europeus. Estima-se que nesta altura haveria cerca de 1.000 elementos africanos nas forças armadas

Com a chegada de unidades de reforço à província, muitos militares do recrutamento local foram atribuídos a essas unidades, transitando para as que vinham substituir as anteriores.

A partir de 1966, os africanos foram chamados a uma intervenção mais activa no esforço de guerra. Foi iniciada a constituição de Pelotões de Caçadores Nativos (Pel Caç Nat) tendo sido formados sete pelotões numerados de 51 a 57. Estas unidades eram comandadas por um oficial com a patente de alferes, coadjuvado por furriéis e praças especialistas europeias, uma estrutura adaptada à sua dimensão - entre 30 a 40 homens. Neste ano subiu, para 3.952, o número de tropas locais em serviço.

O ano de 1967 foi um ano de viragem. As companhias de Caçadores existentes foram redenominadas e transformaram-se nas CCaç 3 (ex-1ª CCaçI), CCaç 5 (ex- 3ª CCaçI) e CCaç 6 (ex- 4ªCCaçI), além da formação de mais um Pel Caç Nat, o nº 58.

Em 1968 foram criados 11 novos Pel Caç Nat, a quem foram atribuídos os números de 59 a 69, e em 1969 foram criadas as CCaç 11, 12, 13 e 14, a partir das CArt 2479 e CCaç 2590, 2591 e 2592, que já tinham uma constituição igual às anteriores companhias existentes do recrutamento local ou foram adaptadas.

No período entre 1970 e 1973 foram constituídas mais sete companhias de recrutamento local, as CCaç 15, 16, 17 e 18 (em 1970), a CCaç 19, (em 1971) e as CCaç 20 e 21 (em 1973). Em 1973 foi, também, constituído o Pel Caç Nat 70.

A partir das antigas equipas de comandos, nas quais já se integravam muitos militares africanos, foi constituída a 1ª Companhia de Comandos Africanos (1969) seguida da 2ª CCmds (1971) e 3ª CCmds (1973), constituindo, neste ano, o Batalhão de Comandos da Guiné.

Esses foram os verdadeiros heróis que, batendo-se nas mesmas condições de que qualquer militar metropolitano, já lá se encontravam quando chegávamos e lá continuaram quando partíamos, e a maioria lá ficou quando, ao abrigo do Acordo de Alvor, datada de 26 de Agosto de 1974, entregaram as armas [artigo 17º do anexo ao Acordo:

As forças armadas portuguesas obrigam-se a desarmar as tropas africanas sob o seu controle (A Republica da Guiné-Bissau prestará toda a colaboração necessária para o efeito) e, receberam um punhado de dinheiro [artigo 24º do anexo ao Acordo: A Delegação do PAIGC regista a declaração do Governo Português de que pagará todos os vencimentos até trinta e um de Dezembro de mil novecentos e setenta e quatro aos cidadãos da Guiné Bissau que desmobilizar das suas forças militares ou militarizadas, bem como aos civis cujos serviços às forças armadas sejam dispensados.]

...tiveram que regressar às tabancas e iniciar uma vida para a qual não havia, e provavelmente ainda não há, futuro promissor.

Foram estes homens que, vivendo com as famílias a seu lado, se despediam delas sem saber se voltavam da operação de combate em que iam participar. Foram estes homens que faziam amizade com “o branco”, mas este terminada a sua comissão de serviço regressava, mas ele “o preto” ficava e continuava a luta.

Foram destes homens que se ouviu, muitos anos depois, frases como a que Assumane, um “mecânico de bicicletas” em Bissau, que tinha percorrido toda a região do Gabú quando foi soldado respondeu, quando lhe perguntaram porque não continuou no exército depois da independência: “Eu jurei bandeira do português, não pode jurar duas bandeiras”.

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O Autor




Nascido em Leiria em Setembro de 1946, foi recrutado em Julho de 1967 tendo frequentado o Curso de Sargentos Milicianos.

Foi mobilizado e embarcou para a Guiné em Maio de 1968, onde foi integrado na Companhia de Caçadores nº 5, unidade do recrutamento local do C.T.I.G., até Junho de 1970, data em que regressou, passando à disponibilidade no mês seguinte.



1968/1970 – Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria – Nova Lamego e Canjadude - Guiné.

2008 – Técnico Oficial de Contas – Grande Lisboa

Guiné 63/74 - P3339: O Nosso Livro de Visitas (38): José C. Pereira, ex-1.º Cabo de Serviço de Material, da CART 2773/BART 2924, Jabadá, 1970/72

1. Mensagem do nosso camarada José Carapinha Pereira, ex-1.º Cabo de Serviço de Material, CART 2773/BART 2924, OS POE-TE A PAU, Jabadá, com data de 21 de Outubro de 2008:

Nome: José Carapinha Pereira
1.º Cabo de Serviço de Material
CART 2773/BART 2924
Local Jabadá
Embarque para a Guiné no UÍge a 23 de Setembro de 1970 e regresso a 19 de Setembro de 1972.

Foi o 1.º Batalhão a fazer o IAO em Bolama. Tenho algumas fotos, só que neste momento tenho de as procurar.

Dei uma vista de olhos no vosso Blog, mas gostaria de ter mais conhecimentos sobre o que foi a guerra na Guiné, até porque estive em 1997 de visita com o Senhor Presidente da República General Ramalho Eanes, foi talvez dos maiores desgostos que tive.

Gostaria de poder conviver com mais pessoal que esteve na Guiné. Tenho pensado um encontro a nivel Nacional de todos os que connosco estiveram na Guiné.

Obrigado.
Cumprimentos aguardo resposta.

2. Foi enviada resposta ao nosso camarada nos seguintees termos:

Caro José Pereira
Muito obrigado pelo teu contacto.

Para responder à tua pergunta sobre os convívos, tens duas hipóteses.
Costuma haver um convívio organizado pelo camarada Isaías Peralta, destinado a todos os ex-combatentes da Guiné. Este ano foi no Pombal. Se quiseres podes contactá-lo pelos telefones 966 003 293 ou 232 183 926.

A outra hipótese é o encontro anual da Tertúlia do nosso Blogue que é aberto a quem quiser aparecer, desde que inscrito previamente, como é lógico. Podes ir acompanhando depois as notícias do próximo encontro que terá lugar lá para Abril ou Maio de 2009.

Com respeito a saberes mais sobre a guerra na Guiné, um bom meio é precisamente o nosso Blogue, onde as histórias são contadas na primeira pessoa e nunca no sistema de eu digo porque me disseram que alguém disse.

Poderás tu também fazer parte dos contadores da historia da guerra colonial na Guiné, utilizando este nosso espaço, onde sem excepção, desde soldados a generais, dos menos aos mais letrados, todos podem colaborar.

Se quiseres fazer parte da família do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, envia uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, em ficheiro JPEG e formato tipo passe, e começa a mandar os teus trabalhos acompanhados das fotos que tens.

Recebe um abraço da tertúlia.
Carlos Vinhal
Co-editor
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Vd. último poste da série de

Guiné 63/74 - P3338: O cruzeiro das nossas vidas (11): Viagem para a Guiné em época de Carnaval no N/M Alfredo da Silva (Jorge Picado)

N/M Alfredo da Silva pertencente à Sociedade Geral, Grupo CUF

Foto retirada do site Navios no Sapo (que já não existe), com a devida vénia.



1. Mensagem do nosso camarada Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, com data de 10 de Outubro de 2008, com um trabalho para a série O cruzeiro das nossas vidas (1).

Amigos

Aproveitando a onda revivalista que me atingiu, não sei por quanto tempo, deitei cá para fora esta prosa das minhas lembranças sobre a viagem de ida para a Guiné, um pouco fora do que era normal.

Se julgarem que tem interesse, apresentem-na aos camaradas.

Abraços
Jorge Picado.


MOBILIZAÇÃO E VIAGEM PARA O TO DA GUINÉ

por Jorge Picado


Tendo terminado o CPC/QC, entrei de licença registada em 21 de Dezembro, regressando para junto da Família em Ílhavo e ficando a aguardar as nefastas notícias que, mais tarde ou mais cedo haveriam de chegar, indicando-me qual o prémio que a tômbola da sorte me atribuiria.

Dado que já trabalhava nos Serviços Agrícolas em Aveiro, retomei as minhas funções civis, mantendo assim o espírito ocupado com os problemas fitossanitários que atormentavam os agricultores, procurando dar-lhes as respostas adequadas, ao mesmo tempo que bloqueava a esfera militar. Posso acrescentar que ainda me desloquei em serviço pelos concelhos de Vila da Feira, Oliveira de Azeméis, Oliveira do Bairro, Anadia e aos ensaios que mantínhamos nas terras arenosas da Vagueira e em freguesias de Aveiro.

Ao mesmo tempo tive de acelerar assuntos pessoais relacionados com um processo de empréstimo que tinha desencadeado para a remodelação dum prédio antigo que tinha comprado cerca de um ano antes de saber que ia ser chamado para o curso de Capitão, assunto que se arrastava face às demoras burocráticas de então.

Por isso, quando na sexta-feira 16 de Janeiro, recebi a nota para me apresentar na minha Unidade de origem – Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa de Queluz (RAAF-Queluz) – a fim de levantar a guia de marcha, já sabia que tinha chegado a minha vez de ir enfardar, mas não para onde.

Disso só tive conhecimento três dias depois, segunda-feira, quando me apresentei na secretaria dessa Unidade e recebi o escrito onde me comunicavam que tinha sido mobilizado para servir no CTI-Guiné, nos termos da Nota n.º 1503-P.º-HC, da RO/DSP/ME, de 15/01/70, para fazer parte da Companhia de Caçadores 2589/RI15. Ia pois em rendição individual, substituir o respectivo Capitão, algures na Guiné.

Logo ali me informaram de que entrava imediatamente na situação de licença a que tinha direito, para preparar a trouxa, tratar dos aspectos administrativos e da parte clínica no Hospital do Ultramar – actual Egas Moniz – de forma a embarcar no dia 9 de Fevereiro, em plena época carnavalesca.

Mas que grande partida de Carnaval me pregaram!!!

Assim que o Sargento da secretaria me deu a conhecer a nota de mobilização, fiquei como que em estado de choque.

Lembrei-me logo de certas aulas ministradas no referido curso (mais do género de, entra por uma porta um civil já com meia barriguinha enfarpelado de Tenente Miliciano e sai por outra quase na mesma, mas então enfarpelado de garboso Capitão Miliciano), onde vários instrutores nos tinham dado conhecimento que o pior que nos poderia acontecer era irmos malhar com os ossos para o célebre Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), pois aí se vivia o pior cenário militar das três Frentes da Guerra Colonial.

Foram tão honestos ao apresentar-nos os três possíveis cenários de guerra que iríamos enfrentar, sim só 3, que valha a verdade até eles não tinham dúvidas que para nós apenas Angola, Guiné e Moçambique contavam como destino de mobilização, que não tiveram pejo em usar as cores mais negras da paleta para pintar o da Guiné.

As razões eram simples: guerrilha bem preparada, melhor apetrechada, mais activa e aguerrida, circulando praticamente por todo o território (podendo dizer-se que não havia zonas livres de turras), até a capital já tinham atacado e o facto é que proporcionalmente às suas dimensões era onde se registava o maior número de baixas.

A acrescentar a tudo isto, informavam-nos que as condições ambientais eram as mais inóspitas, pois com um clima muito quente tinha apenas 2 estações – uma muito húmida e a outra seca -, a que se aliava um terreno muito baixo e alagadiço, proporcionando uma situação sanitária muito desfavorável para nós, metropolitanos nada habituados a estas extremas condições ambientais, onde as febres e o paludismo atacavam com maior intensidade do que nas outras duas Colónias.

Só faltava dizer-nos abertamente que uma mobilização para aí correspondia a um certificado de óbito... mesmo que este não resultasse de causas militares.

Portanto a sorte estava ditada. Logo havia de me ter calhado o pior TO.

Tinha apenas 20 dias até ao embarque para tratar das coisas e preparar-me mentalmente para o degredo como os antigos condenados…

Dei logo conhecimento telefónico à Família do meu destino e, ainda que fossem tão poucos os dias que entretanto me restavam para estar junto deles – estava casado há pouco mais de 8 anos e tinha já os meus 4 filhos, respectivamente com 7; 6; 5 e 2 anos –, não regressei antes de tratar de adquirir o enxoval e satisfazer os procedimentos burocrático-administrativos.

A parte clínica só a pude concretizar numa fuga a Lisboa, a 2 de Fevereiro, onde me ministraram as vacinas obrigatórias – varíola (revacinação) e febre amarela, já que contra a cólera, julgo pelos dados que possuo, fui vacinado e revacinado na Guiné em 3SET e 3OUT/70, 23MAI e 23NOV71 – e me forneceram os comprimidos de Daraprin com a indicação de que tinha de tomar 1 por semana.

Uma vez que o embarque era na segunda-feira de Carnaval, dia 9 de Fevereiro de 1970, tive de abalar para Lisboa no dia anterior onde pernoitei.

As despedidas ocorreram no almoço desse domingo em minha casa onde reuni toda a Família mais chegada. Afinal, ainda que não manifestássemos, não sabíamos se voltava-mos a rever-nos.

Chegada a hora e depois de todos fazerem das tripas coração como se costuma dizer, para não haver fracos, meti-me no carro dum tio de minha mulher (que por ironia do destino até fazia parte do colégio que elegia então o Presidente da República... por isso vejam lá com que prazer ele levaria o sobrinho que ia defender aquilo em que ele acreditava!!!), juntamente com o meu sogro e os meus 2 rapazes de 6 e 5 anos (já que o de 2 anos ainda era muito novo) e abalámos para Lisboa.

Viagem demorada e cansativa naquela época, pois ainda não havia as auto-estradas, desembarcando já ao anoitecer no Largo dos Restauradores, junto da Pensão do mesmo nome do largo, onde pernoitei.

O corte com os familiares foi feito logo ali no passeio, para não haver mais embaraços e retive a imagem que até hoje ainda não se apagou e muito me impressionou, da reacção estranha, para a idade, do meu filho de 6 anos, Jorge como eu, que depois de o beijar se atirou para dentro do carro a chorar. Não posso dizer o que sentiu ou o que pensou, mas julgo que soube que algo de anormal se iria passar com o Pai, isto porque ele estava habituado às minhas ausências, apenas por dias, sempre que tinha de ir em serviço para Lisboa.

Embarcado no N/M Alfredo da Silva da Sociedade Geral (Companhia de Navegação do Grupo CUF), no Cais da Rocha de Conde de Óbidos, pela manhã, conheci então vários camaradas que seguiam o mesmo destino, em rendições individuais como eu, com excepção dum Destacamento de Fuzileiros que se destinava a Cabo Verde. Julgo porém que, quanto a graduações, éramos 2 os Capitães, sendo o outro do QP da Arma de Transmissões destinado ao respectivo Serviço em Bissau e ocupávamos o mesmo camarote, com 2 beliches, havendo outros graduados de postos inferiores, mas que não posso já precisar.

Sendo este navio misto, isto é, de carga e passageiros e deslocando-se numa viagem normal, era como se fossemos em viagem de cruzeiro e portanto com bom tratamento. Pelo menos os graduados, porque em verdade não sei como iam instalados os Fusos.

N/M Alfredo da Silva pertencente à Sociedade Geral

Foto retirada do site Navios no Sapo (que já não existe), com a devida vénia.


A largada ocorreu cerca das 12h15m e pouco depois, já na saída do Tejo, foi servida a 1.ª refeição (almoço), das muitas que se revelaram um verdadeiro tormento.

Explique-se desde já o motivo. Sou um mártir com o enjoo. A viagem fi-la toda sob o efeito de fortes doses de comprimidos contra o dito mal, mas mesmo assim não podia observar o mínimo movimento oscilatório, sem correr o risco de lançar carga ao mar como se diz nesta minha terra de marinheiros. Para mal dos meus pecados à mesa das refeições apanhava com uma vigia pela frente (na realidade, com excepção dos lugares de cabeceira todos tinham a mesma vista), para a qual não podia olhar porque, ao fazê-lo, dava logo conta do movimento oscilatório do barco.

Mas, como ia dizendo, logo após essa 1.ª refeição foi com grande admiração que ao chegar à sala de estar, depois do repasto, verifiquei pela posição do navio que este não se dirigia para Sul, mas sim para Norte.

Sim, constatei logo este facto, mas não sei se os restantes deram conta disso. Se não fosse conhecedor das questões marítimas, apesar de ter traído as Gentes da minha terra e porque não, da própria Família, poderia julgar que os Deuses estavam loucos e tinham transferido a Guiné para qualquer região do Norte da Europa... só então compreendi o motivo. Inicialmente, como não vi qualquer civil como passageiro, julguei que o barco seguia como transporte de tropas, mas agora dava conta que ia numa das suas viagens normais e portanto não nos dirigíamos directamente para Bissau

Naquela época ainda estava bem a par das viagens deste tipo dos N/M da SG e em especial daquele em que me tinham embarcado e sabia bem que o seu trajecto era: Lisboa-Leixões-Cabo Verde-Guiné-Cabo Verde-Lisboa.

Por outro lado se fosse supersticioso até tinha encarado como bom augúrio o facto da minha viagem de ida para aquela guerra se efectuar naquele meio de transporte. E sabem porquê? Porque o meu irmão (uns anos mais velhos do que eu) tinha sido Piloto neste navio antes de 1954 e foi até por isso que tive de explicar ao Telegrafista de bordo, mal me sentei para o almoço, que de facto o meu nome (ele leu-o na respectiva placa identificativa que usávamos ao peito) não lhe era desconhecido.

"Era de facto irmão daquele que ele pensava e conhecia e, para maior espanto dele, também eu o conhecia de nome e sabia ser originário dos Açores, pois toda a minha estadia em Lisboa enquanto solteiro tinha habitado na mesma casa particular em que ele habitou durante a sua frequência da Escola Náutica".

Enfim coincidências da vida.

Saí portanto de Lisboa em plena época carnavalesca e como já o disse ao amigo Carlos Vinhal em plena doca de Leixões, considerei que me pregaram uma grande partida de Carnaval não me proporcionando mais 2 dias de vida familiar. Sabendo que morava em Ílhavo, logo, mais perto de Leixões, mandavam-me embarcar apenas na Terça-feira Gorda à tarde, neste porto e o trajecto até era muito mais curto.

Vista aérea do Porto de Leixões, reconhecendo-se as povoações de Leça da Palmeira e Matosinhos, respectivamente a Norte e a Sul da zona portuária.


A viagem foi tranquila, pois Neptuno apiedou-se da minha nula apetência marítima e decretou tréguas, subordinando-se igualmente Eolo, de modo que durante os dias que sulcámos os mares, tanto as ondas como o vento foram mandados para outras paragens onde, quiçá, navegava gente mais afoita... e assim, ao som do barulho continuo do motor, que mesmo a dormir me martelava a cabeça, passando as horas a jogar às cartas ou a ler, dando umas espreitadelas à monótona paisagem exterior onde nem uma simples embarcação se cruzou para animar os passageiros, apenas fomos surpreendidos uma vez ao cruzarmos uma zona onde apareceram peixes voadores. Apenas este acidente nos manteve cá fora durante mais tempo, observando a elegância dos saltos e planagens durante o curto e rápido voo feito por estes pequenos peixes, à frente e ao lado do navio.

Lá fomos passando o tempo o melhor que pudemos, apesar da disposição não ser lá muito boa e assim atracámos antes da meia-noite do dia 15 no cais do Mindelo, na Ilha de S. Vicente.

Panorâmica do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde

Foto retirada do site Cabo Verde


O dia seguinte foi dedicado à visita da cidade, almoçando em terra juntamente com alguns dos camaradas tendo a maioria aproveitado para percorrer as casas comerciais à procura do material fotográfico e de cinema de origem japonesa, que naquele tempo era muito mais barato do que na Metrópole. Houve quem se alambazasse nas compras, não só das máquinas fotográficas, mas também de filmar e projectar e, das duas uma, ou tinham já encomendas ou eram para negócio.

Tendo largado durante a noite de 16, após poucas horas de viagem aportámos à cidade da Praia, na Ilha de S. Tiago, cerca das 9 horas do dia 17. Aqui não havia cais e o navio fundeava ao largo, fazendo-se as cargas e descargas para pequenos barcos, que tivemos de tomar para passar o dia em terra.
Foi este o destino (pelo menos desembarcaram aqui) do Destacamento de Fusos que seguia a bordo e que, além deste escrevinhador, certamente outros invejaram.

Juntamente com o camarada das Transmissões e julgo que mais 2 outros, alugámos um carro e demos uma pequena volta pela ilha, visitando os lugares de Trindade e S. Domingos, almoçando durante o percurso e passando ainda por um Posto de Experimentação Agrícola, um autêntico oásis no meio daquela terra semi-árida, agreste e pobre.

No fim do dia lá abalámos para a última etapa, sabendo desde então que menos de 2 dias nos separavam da tão indesejada Província da Guiné, de modo que a partir da manhã do dia 19 começou o frémito e a ansiedade de observar no convés superior, a principio através duma ligeira névoa e depois já com limpidez, o aparecimento das ditas paragens.

A verdade é que só depois do meio da tarde nos foram apresentados os primeiros contornos de terras, quando navegávamos numas águas que há muito tinham perdido a transparência e a cor azul escura do oceano e passado, não digo a barrentas, mas meio leitosas talvez. Possivelmente já seria o Rio Geba.

Para mim foi uma surpresa quando, mais próximo, dei pela aproximação a um cais, sem que tivesse dado conta duma verdadeira entrada numa barra, como estava habituado a ver na minha terra ou mesmo em Lisboa. Começou aqui o meu espanto.

Desembarcámos no cais do Pidjiguiti cerca das 18h30m do dia 19 de Fevereiro de 1970, data a partir da qual o tempo de serviço militar começou a ter um aumento de 100%.


Zona portuária de Bissau. Foto de Carlos Silva


Havia já viaturas militares que nos aguardavam, não me recordando se todas para o mesmo destino. Sei que segui num jeep, juntamente com o Cap de Trms, directamente para o QG do CTIG no alto de Santa Luzia, onde após a apresentação me foi comunicado que ficaria a aguardar transporte para o destino, a tal CCaç 2589, pertencente ao BCaç 2885, com o SPM 5858 e sediada em Mansoa, que não fazia a menor ideia onde se situava, mas também não se deram ao trabalho de me dizer.

Só depois nas instalações do Clube de Oficiais, onde me alojei, alguém tratou de informar o periquito que estava tramado. Ia para o mato (que era o lugar indicado para os piras) onde a coisa estava preta. Era a psico a funcionar para os recém chegados lá do puto.

Entretanto devo confessar que logo após o desembarque sofri o verdadeiro primeiro choque civilizacional.

Apesar dos primeiros contactos com a realidade ultramarina no Mindelo e na Praia, aqui na Guiné é que se deu o verdadeiro choque. A diferença para pior, posso dizer que era enorme.
Descalços e praticamente nus assim se me apresentaram os nativos que trabalhavam na estiva. Mas não só. E as mulheres, jovens ou de idade, nuas da cintura para cima pseudo vestidas nas partes baixas com uns panos que em alguns casos mais se assemelhavam a trapos?

Foi a primeira machadada (ainda que não fosse virgem nestes conhecimentos, pois antes de 1954 já tinha ouvido o tal meu irmão contar em casa que, nas suas viagens pelos Portos Ultramarinos – e ele conheceu-os todos até Macau – distinguiam-se estes, de todos os outros das antigas Colónias Inglesas ou Francesas, precisamente pelo aspecto miserável que os nossos africanos apresentavam comparados com os outros. Mas isso tinha sido há mais de 16 anos antes!) nos célebres 800 anos da gloriosa gesta colonizadora Portuguesa. Se alguma admiração tivesse pela situação começaria aí o descrédito. A verdade é que não tinha, mas mesmo assim nunca julguei observar tal coisa e afinal Bissau era apenas o levantar... do véu. Maior estupefacção seguir-se-ia depois.
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Nota de CV:

(1) - Vd. último poste da série de 13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

Guiné 63/74 - P3337: Blogoterapia (65): 800 mil páginas visitadas em 21 de Outubro de 2008 (Carlos Vinhal)

Luís Graça, fundador e editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1. Caros camaradas e amigos tertulianos

No momento em começava a elaborar o rascunho que deu lugar ao poste que estais agora a ler, o contador de acessos ao nosso Blogue registava

visitas

Podem e devem ver as estatísticas apresentadas pelo Luís Graça no poste 3321, porque somos, e devemos dizê-lo com alguma vaidade, um caso sério.

Sendo nosso Blogue dedicado só à Guiné, é visitado por ex-combatentes de outros TO, facto que temos constatado pelas pessoas que nos contactam. Estudiosos da guerra colonial, estudantes dos diversos graus de ensino e pessoas que se interessam por esta parte da História recente de Portugal, nos contactam para solicitar informações sobre a guerra ou sobre a Guiné. A todos damos uma palavra, porque também é nossa missão ajudar quem se interessa pelo nosso passado de ex-combatentes.

2. No dia 20 de Outubro endereçava a seguinte mensagem a todos os tertulianos:

Caros camaradas e amigos tertulianos
Hoje ou amanhã vamos atingir a cifra de 800 mil visitantes no nosso Blogue.
Para mantermos, ou se possível aumentarmos a nossa perfomance, precisamos da colaboração de todos. Chamo a atenção dos camaradas e amigos mais antigos que por julgarem terem esgotado as suas ideias, deixaram de colaborar, não deixando no entanto, temos a certeza, de nos lerem. Estamos a cada passo a lançar séries novas para dar hipótese a que esses tertulianos possam reescrever as suas memórias.

Temos para convosco uma falha enorme que é a actualização da nossa fotogaleria. O Luís está à procura de uma solução técnica, pois eu e o Briote não podemos aceder, como é lógico, ao servidor da UNL onde está alojada a respectiva página, para que a possamos ir actualizando. No entanto as vossas fotos servem para personalizar os vossos trabalhos, porque os encimamos sempre com os vossos rostos actuais ou antigos, alternadamente.

Vamos em frente camaradas e mantenhamos vivo, activo e actual o Blogue da Tabanca Grande. Honremos o Luís Graça que com muito esforço e pundonor levou a efeito esta tarefa que cumpre agora a todos manter. Não posso deixar de incentivar os amigos e naturais da Guiné-Bissau para reforçarem a sua colaboração que é sinceramente bem-vinda.

Em nome dos editores deixo um público e sentido obrigado a todos, sem excepção. Chamada especial a quem, por qualquer motivo se sinta menos bem connosco, esqueçam coisas sem importância, desculpem-nos qualquer coisinha e venham trabalhar como se nada se tivesse passado.

Para todos, um abraço do tamanho da Guiné-Bissau, pequena em área, mas enorme na força de união que gerou entre nós.

O vosso humilde colaborador
Carlos Vinhal

Última foto de família da Tertúlia, tirada aquando do II Encontro em Pombal em 2007. Organização do camarada Vitor Junqueira.

3. Alguns retornos:

i - Do Chefe Luís Graça, cujas palavras não reproduzo, por motivos óbvios.

ii - Do nosso camarada José Colaço

Caro e humilde amigo C. Vinhal
O desculpem qualquer coisinha é de uma doçura.
Mas lembro que muitas das vezes as situações surgem: de a nossa geração mal sabemos o a,e,i,o,u do mundo informático, somos os próprios a cometer os erros e a seguir vamos para o mais fácil, culpamos quem está do outro lado.
Continuem com a vossa carolice e que a saúde os acompanhe por muitos e longos anos. Perfeito nem aquele a que chamam Deus.

É tudo.
Para toda a administração, direcção e colaboradores um grande Alfa Bravo
Colaço


iii - Do camarada Torcato Mendonça

Só agora li.
Deixa-me dar-te um abraço e agradecer a ti, ao Luis Graça e ao Virginio Briote todo o esforço e dedicação a esta causa. Prefiro nada mais dizer, mas senti as tuas palavras.

És um tipo do caraças pá. Abraço-te.
Um tri abraço e parabéns do TM


iv - Do camarada Vasco Joaquim

Força camarada... a humildade nunca fez mal a ninguém, antes pelo contrário, ajuda a reconhecer o trabalho que cada um efectua.

Bem hajam pelo esforço dispendido na forma como nos aproximam tornando-nos uma grande família que lutou em África, da qual guardamos a saudade daqueles que conhecemos e não voltaram.

Um grande abraço a todos,
Vasco J. Joaquim


v - Do camarada Mário Beja Santos

Carlos,
De mim não tens nem terás razão de queixa, começo amanhã a ler «Auá», talvez o melhor romance guineense do período colonial, sempre a pensar no blogue.
Espero que vocês tenham em conta as coisas que vos enviei. A propósito, vou 5.ª f.ª fazer a conferência sobre o meu 1.ª livro da guerra da Guiné, conto que vocês façam alguma promoção...

Um abraço cheio de amizade,
Mário


4. Sabemos que uma esmagadora maioria dos nossos tertulianos está em sintonia com estes camaradas que se expressaram por escrito, mas o seu silêncio é o reflexo da, relativa, pouca colaboração que temos tido no Blogue. Parece que temos medo de escrever as nossas memórias.

Não posso acreditar que haja alguém que não tenha algo para contar, por exemplo, da sua viagem de ida e volta para a Guiné, da primeira vez que esteve debaixo de fogo, de mil e uma reacções que todos tivemos nas mais diversas situações que se nos depararam. Não queremos só histórias de guerra, de acções de bravura...
Vejamos os exemplos de dois camaradas, de que me lembrei assim de repente, o Jorge Cabral e as suas histórias surrealistas, que se fossem inventadas não seriam tão estranhas. Desmontam completamente a nossa visão mais catastrófica da guerra.

O outro exemplo, o do Zé Teixeira que a miúde nos delicia com as suas histórias mais viradas para a parte humanitária, desempenhada pelo nosso Serviço de Saúde Militar, do qual ele é um digno representante.

Para finalizar, não quero deixar no ar a ideia de que o nosso blogue não tem participação. Pelo contrário. Só queremos é que todos participem. Não se preocupem, porque se for preciso daremos uma ajuda a compor o texto.

Atentem às nossas palavras de ordem: Queremos trabalho.

Um abraço para todos e marcamos já encontro para quando atingirmos o milhão de visitas. Será breve.

Saudações da equipa editorial

Luís Graça
Virgíno Btiote
Carlos Vinhal
__________________

Nota de CV

Vd. poste de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3321: Blogoterapia (64): 800 mil páginas visitadas (400 mil num ano), 270 membros, 3320 postes, 42 meses, 2 + 1 comissões na Guiné...

Guiné 63/74 - P3336: Memórias literárias da guerra colonial (8): Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, de Mário Beja Santos


Diário da Guiné, 1968-1969: Na terra dos Soncó

Conferência do Mário Beja Santos, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, 23 de Outubro de 2008, às 19h.


Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > Memórias Literárias da Guerra Colonial > 23 de Outubro de 2008 > 19h00 > Mário Beja Santos fala do seu Diário da Guiné, 1968-1969: Na terra dos Soncó.


Mário Beja Santos, ex-Alf Mil,Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca,1968/70, é actualmente assessor principal do Instituto do Consumidor e professor universitário.

Entre numerosas obras publicadas sobre a temática do Consumo, tem actualmente em trabalhos finais um novo livro respeitante à comissão na Guiné, Tigre Vadio:Diário
da Guiné, 1969‑1970
.

__________

Nota: artigo relacionado em

14 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3315: Memórias literárias da guerra colonial (6): Capitães do Vento e O Último Inferno, de Leonel Pedro Cabrita

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3335: Controvérsias (6): O acidente aéreo de 25 de Julho de 1970 (Carlos Ayala Botto)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Março de 1969 > Op Lança Afiada > Um Helicóptero Allouette III. Em primeiro plano, o nosso camarada e amigo Paulo Raposo, na altura Alf Mil da CCAÇ 2405 (Mansoa e Dulombi, 1968/70) uma unidade que dois meses antes tinha perdido 17 dos seus homens no desastre de Cheche, no Rio Corubal, na retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969.

Foto: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados .

1. Mensagem, com data de hoje, do Cor Cav Ref Carlos Ayala Botto, prezado membro da nossa Tabanca Grande desde Janeiro de 2007 (*):


Caro Luís Graça:

Na semana passada enviei um mail com mais alguns pormenores do acidente de helicóptero na Guiné e onde morreram os deputados e os militares que os acompanhavam. Devo ter enviado para um endereço errado, pois ele nunca foi publicado no nosso blogue e eu penso que tem interesse (**).

O acidente ocorreu no dia 25 de Julho de 1970, quando os deputados regressavam a Bissau, onde o avião da TAP já os esperava no aeroporto para virem para Lisboa. O tempo estava péssimo, mas foi decidido fazerem a viagem.

Eram 3 helicópteros e, quando se viram no meio de grande borrasca, 2 ainda conseguiram aterrar numa pequena ilha no meio do rio Mansoa, mas o 3º não o fez e despenhou-se, morrendo não só os deputados, o piloto e o mecânico como também o Capitão de Cavalaria José Carvalho de Andrade (era do meu curso) que os acompanhava.

Sei que o Comandante da esquadrilha e piloto de um dos helicópteros era o hoje Coronel Cubas a quem, se o localizarem, poderão pedir mais esclarecimentos.

Um abraço

Carlos Ayala Botto

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, coronel, pelo seu contributo. Confirmo que não recebi o seu mail anterior. Continua a haver, entre nós, uma pequena divergência quanto às datas. Na Liga dos Combatentes, na lista dos Mortos no Utramar, consta o nome do Cap Cav José Carvalho de Andrade, morto, por acidente, na Guiné, em 25/7/70. O nosso pesar pela perda deste seu camarada de curso e nosso camarada da Guiné, e que até agora ninguém referira.

3. Em data posterior a este poste, em 20 de Outubro de 2008,e em resposta ao meu comentário, Ayalla Botto mandou o seguinte mail:

Caro Luis Graça:

Não tenho dúvidas que a data certa foi 25 de Julho. Lembro-me perfeitamente que na manhã desse dia tentei contactar telefonicamente o Cap Carvalho de Andrade e fui informado de Bissau que ele estava fora acompanhando os deputados. Se calhar àquela hora já tinha morrido…

Ele estava de fim de comissão e tinha-me pedido para receber em Lisboa o carro dele que estava a chegar a Lisboa. E eu fui de propósito nesse sábado ao Regimento de Lanceiros 2, onde estava colocado... Nessa mesma tarde fui informado do acidente.

São coisas que não esquecem pois ele era muito meu amigo.

Um grande abraço

Carlos Ayala Botto

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1407: Tertúlia: apresenta-se o Coronel de Cavalaria Carlos Ayala Botto, ajudante de campo do General Spínola

(**) Vd. postes de:

11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3296: Controvérsias (4): O acidente aéreo de 26 de Julho de 1970 (Jorge Picado)

10 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3292: Controvérsias (3): O acidente de helicóptero que vitimou Pinto Leite (J. Martins / J. Félix / C. Vinhal / C. Dias)

domingo, 19 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3334: O meu baptismo de fogo (14): Cachil, Ilha do Como, meia-noite, 25 ou 26 de Janeiro de 1964 (José Colaço)

Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > 1964 > CCAÇ 557 (1963/64) > Quartel do Cachil > O José Colaço no seu "posto rádio fixo que era meu posto de trabalho. Todos os dias tinha 12 horas de serviço e o meu camarada Dias outras 12. Este posto rádio, como se pode vêr era protegido por terra pelos camaradas de armas e pelo ar por todas as estrelas do céu" (JC) (*).

Foto e legenda: © José Colaço (2008). Direitos reservados.

1. O meu baptismo de fogo
(**)

por José Colaço, ex-soldado de transmissões, Ilha do Como, Operação Tridente

Os factos são de memória porque os apontamentos que tinha foram destruídos num daqueles momentos em que o pensamento deve estar bloqueado e só consegue assimilar o presente.

Como fui destacado para Ilha do Como, tinha que ser no Como. Desculpem o empata, mas tenho que fazer um pequeno preâmbulo.

Nós chegámos à ilha do Como na tarde de 23/01/1964, nessa noite acampámos numa zona onde o capim tinha sido queimado pelo inimigo para dificultar a nossa progressão. No dia seguinte mudaámos de local e assentámos praça na pequena mata do Cachil e que nós crismámos por mata Chata, distava aí cerca de duzentos a trezentos metros da grande mata do Cachil.

Na noite de 25 ou 26 aí por volta da meia-noite começa a festa, o inimigo instalado na grande mata do Cachil e nós na pequena mata do Cachil (mata Chata).

O inimigo com as celebres costureirinhas, possivelmente uma ou duas metralhadoras e os cartuxos luminosos, estes não matam mas criam um estado psicológico que não é possível descrever... Estar metido num buraco em que não se vê um metro de distância e de momento tudo iluminado por segundos com várias cores que quase faziam lembrar o arco-íris.

Nós: as munições que dispúnhamos era o normal que um militar leva, num máximo sete carregadores de G3 e já vai bem carregado.

Havia de facto mais uns dois ou três cunhetes de munições, umas poucas granadas de morteiro 60 e bazuca. Material que era transportado por secção de carregadores negros, (os desgraçados chamados burros de carga).

O meu receio (ou mais correcto, medo) era que com tanto fogo as munições se esgotassem. E nós éramos apanhados a mão numa luta de corpo a corpo.

Fugir, como? Numa ilha com um rio juncado de jacarés nem o Baptista Pereira conseguia sair de lá com vida.

Recordo vozes que se ouviam à meia língua: Estamos cercados de fogo por todos os lados.

Nessa noite não sofremos nenhum ferido, porque as nossas amigas palmeiras protegeram-nos bem.

Passado cerca de uma hora mais ou menos, o inimigo deve-se ter cansado ou esgotou as munições e seguiu para a mata do Cassacá, porque quando rompesse a manhã já ele tinha que estar à defesa porque o ataque das nossas forças tanto do lado de Caiar como do Cachil era constante.

Eis aquele que eu considero o meu baptismo de fogo, porque desde o desembarque da LDM até ao Cachil já tinha apanhado uns salpicos de água benta, quer dizer uns tirinhos isolados de aviso e também uma ou duas rajadas isoladas.

Mas nessa noite foi mesmo a sério.

Um alfa bravo

Colaço

PS - Ao ler a homenagem do Vírginio Briote, ao batalhão 490, onde se lê "e tinham razão aqueles que, já naqueles primeiros anos de guerra, diziam abertamente que estávamos a travar uma guerra errada e sem sentido"... Subscrevo e assino.

Mas isto relembra-me uma pequena estória passada na minha companhia, a CCAÇ 557.

O furriel Abreu, vago mestre que para tal especialidade não tinha vocação e acabou por fazer uma troca com o furriel Estrela.

Mas o Abreu tinha o bichinho da representação teatral e naquela pequena mata do Cachil, Mata Chata, tendo por fundo o pé do Poilão ou embondeiro do Cachil, representava para um núcleo restrito de militares de confiança, (não fosse o diabo tecê-las): O Salazar a fazer através da RTP a última comunicação ao País, porque já tinha perdido todo o império colonial.

E terminava mais ou menos assim, imitando a vós do Salazar:
- Portugueses, nesta hora dramática uni-vos todos e vamos defender as Berlengas!

As Berlengas naquele tempo nem no valor turístico que têm hoje se falava.

E assim se passavam uma parte dos dias no isolamento do Cachil.

_________

Notas de L.G.:

(*) José Colaço, ex-Sold de Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65:

Vd. postes de:


2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2912: Tabanca Grande (73): José Botelho Colaço, ex-Soldado de Trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)

29 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3099: Os Nossos Regressos (13): Fundeámos ao largo, com as luzes de Cascais...(José Colaço, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65))

9 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3287: Controvérsias (2): Repor a realidade vivida, CCAÇ 557, Cachil, Como, Janeiro-Novembro de 1964 (José Colaço)

(**) Vd, últimpo poste da série:

18 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3327: O meu baptismo de fogo (13): Tite, 1964 (Santos Oliveira)

Guiné 63/74 - P3333: Controvérsias (5): Fimes e Constantes: era possível dois batalhões terem mesmo lema ? (Júlio César)

1. Mensagem do nosso camarada Júlio César. membro da nossa Tabanca Grande desde Julho de 2007, ex-1º Cabo, CCAÇ 2659 / BCAÇ 2905 (Cacheu, 1970/71) (*):

Caro amigo Luís Graça
Estou a ler o Poste P3330, em que se dá a conhecer à tertúlia um novo camarada da Guiné, no casa Arménio Vitória, que esteve em Cacine integrado na CCAÇ 799 (**).

Já fiz um print para o meu amigo Boaventura Videira (**), para que saiba que o pedido dele não foi em vão, embora, como é dito, não foi propriamente em Cacine que ele tinha estado, mas sim em Buba, que era a sede o batalhão e seria com os elementos deste, com quem ele mais gostaria de privar.

Feita esta introdução, a minha questão é a seguinte: Verifico que o lema deste batalhão 1861 era: FIRMES E CONSTANTES. Era possível que um outro batalhão formado posteriormente, pudesse usar o mesmo lema? É que, como se pode verificar, o Batalhão 2905, ao qual pertenci, também tem como lema: FIRMES E CONSTANTES.

Esclarece-me... se for possível
Muito obrigado

Um Alfa Bravo a toda a Tertúlia
Júlio César


2. Comentário de L.G:

Amigo e camarada Júlio, tu mesmo deste a resposta a esta intrigante questão (***): duas unidades podiam ter, de facto, o mesmo lema... A prova disso são os exemplos que tu apresentas, os BCAÇ 1861 e 2905, ambos... Firmes e Constantes. Afinal, quem controlava a criação de brasões e lemas das nossas unidades ? A máquina burocrática do exército não era, afinal, tão eficiente quanto nós a julgávamos... Mais difícil era um mancebo, no nosso tempo, escapar à malha da apertada rede dos recrutadores militares... Tu não escapaste, eu não escapei... Obrigado pela pertinência e opotunidades da tua pergunta. Pode ser que alguém, mais conceituado e melhor informado do que eu sobre estas matérias militares, te possa dar uma resposta convincente.
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1931: Tabanca Grande (24): Júlio César, ex-1º Cabo, CCAÇ 2659 do BCAÇ 2905 (Cacheu, 1970/71

(**) Vd. poste de 13 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3309: Em busca de... (44): Camaradas do BCAÇ 1861, Buba, 1965/67 (Boaventura Alves Videira)

(***) O último poste desta série Controvérsias foi o de 11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3296: Controvérsias (4): O acidente aéreo de 26 de Julho de 1970 (Jorge Picado)

sábado, 18 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (13): Tite, 1964 (Santos Oliveira)


1. Mensagem de Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66 (*), com data de 16 de Outubro de 2008, com a sua contribuição para a série O meu baptismo de fogo:

Vinhal

Não sei se o meu ou os meus baptismos de fogo interessarão a alguém. Estão encadeados noutros episódios e isso (ainda bem) parece ter diminuído todo o impacto que a cada um de nós causou (ou causava).

Se bem te parecer não tenhas qualquer relutância em fazeres censura. Eu entendo. Talvez por isso não tenha escrito nada.
Não estou distraído com o Blogue nem com o que por lá se vai passando. Quando tiver de intervir, bem sabes que o farei.

Um abraço a esse nosso Mundo
Santos Oliveira

PS: Depois dá uma qualquer dica sobre o que se te oferecer dizer

2. Comentário de CV

Peço ao Santos Oliveira e a todos os camaradas que não usem a palavra censura. É ofensiva a quem, por carolice, mantém o Blogue activo, dando voz a quem talvez não tenha outro meio para poder trasvazar os seus recalcamentos, desabafar e criar amizade com aqueles que sentiram os mesmos problemas, que melhor os compreendem, os seus camaradas.

Volto a repetir o que tantas vezes já disse. Se não dermos seguimento a alguma mensagem portadora de textos ou fotos para publicação, mandem outras de protesto, de lembrança, mas não nos acusem de censura. O que não publicarmos não é por motivo de censura, mas por esquecimento ou incompetência.

OBS:-Sublinhados da responsabilidade do co-editor


3. O meu baptismo de fogo
por Santos Oliveira

Se der para sorrir, já é um grande serviço prestado à nossa Comunidade de Veteranos.

Cheguei a Bissau a Bordo do N/M Manuel Alfredo, no dia 19 de Setembro de 1964.
Após a transmissão de poderes de Comando das mais de 60 Praças (como eu, em Rendição Individual), lá fui encaminhado, com o meu assessor, Fur Mil At Infª Carlos A.S. Costa Brito (Pel Ind Caç 956) paro o QG, a fim de fazer as Apresentações da praxe.



Próximo, como foi, da hora de jantar, lá me apressei, com as condicionantes ridículas de ainda não poder ser contemplado com o devido repasto. Depois de algumas fricções lá tive direito à minha refeição de... muitas espinhas e pouco bacalhau.
Novo problema surgiu quando me foi comunicado que só pelas 6 horas da manhã do dia imediato é que teria maré e barco, para me levar na travessia do Geba, até ao Enxudé (mais ou menos 14 Km).

Do mesmo modo também não havia alojamento para nos receber por uma noite.
Puxa para aqui, puxa para ali e lá nos foi disponibilizado um colchão para que pudéssemos encostar a um qualquer canto. Isto demorou imenso e a noite já começava a ser longa.

O primeiro ataque, o grande ataque, foi dos mosquitos, que nos mantinha, obrigatoriamente alerta; é que nem dava para se ter a cabeça debaixo do lençol, pelo calor e pela inabituação climática.

Eis que se começam o ouvir os primeiros rebentamentos e tiros isolados, depois umas quantas rajadas, toda a gente a correr numa desordem mais que caótica, mais uns rebentamentos e... o silêncio.

Parece que os Camaradas do BCAÇ 600, ou da Companhia que lá estava (agora não recordo) já estavam habituados a estas recriações.
No final, quase na hora de ter que vir para o barco, fiquei a saber que as Tropas Nativas levavam para a Tabanca as suas armas e munições e o Copilão não era um local muito sossegado pela noite.

E estive eu a interrogar-me que se o IN era assim no QG e em Bissau, como seria quando chegasse ao Mato?

Lá embarquei para Tite, cheguei ao Enxudé e logo tive contacto com os que seriam os meus Companheiros do Pel Mort 912 que aí estavam em Destacamento; mas havia que fazer as formalidades de apresentação ao CMDT do BCAÇ 237/599, Ten Cor Hipólito e Maj D Gama. Para isso teria que aguardar a coluna que, diariamente, fazia aquela ligação.

Tite > Na foto, a messe de Sargentos reporta a 1964, ainda com o BCAÇ 599.

Apresentado em Tite, logo se me deparou o mesmo improviso tanto na alimentação como no alojamento. Desta feita, nem tive direito a um colchão, mas a uma maca de enfermaria.

Lembro-me que me valeram os Fur Mils Miguel Silva e José Manuel Concha, ao improvisarem um mosquiteiro para que não fosse mais comido por esses malfadados amigos picadores e zumbidores.

Quando, finalmente tudo parecia ir dar uma boa noite de sono, o IN fez a rebentar, a festa do costume.

Lembro ter dito ao Miguel:

- O que fazemos, pá? Eu nem tenho arma distribuída!

Ele disse para o seguir e ficar próximo.

Lá corremos para trás dos bidões cheios de terra até tudo terminar.
Ou não tive medo ou não tive consciência da gravidade do que se passava.
Mas foi extremamente útil para mim ver que a impreparação militar e psicológica das NT e, isso, eu teria de corrigir. Até se me tornou muito positivo.

Tite > Foi por trás destes Bidões que me fiquei com o Miguel.

Fotos: © Santos Oliveira (2008). Direitos reservados.


E foi assim que entendo ter sido um (ou dois?) baptismo de fogo, onde outros factos mais marcantes, apagaram toda a expectativa desse momento solene.
_______________

Nota de CV:

Vd. poste de 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

Guiné 63/74 - P3331: O meu baptismo de fogo (12): Aldeia Formosa, 23 de Abril de 1970: realiza-se a premonição de um furriel enfermeiro (Manuel Amaro)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71 (*)

Caro Luís Graça,

Com o meu pedido de desculpas por ocupar este espaço, que estará mais adequado às histórias dos nossos camaradas operacionais, atrevo-me a relatar à Tabanca, o meu baptismo de fogo (**).

É o baptismo de fogo de um furriel enfermeiro, destacado no Posto Escolar.

No final de 1969, Aldeia Formosa era um lugar pacífico. Situação que se manteve até 20 de Março de 1970. Por vezes, à noite, ouviam-se uns rebentamentos, mas sempre à distância, mais para sul.

Até que um dia, há sempre uma primeira vez para tudo, o Pelotão do Alf Martins sofreu três emboscadas de que resultou um milícia morto (roquetada no tórax) e cinco feridos ligeiros.

Terminei as aulas mais cedo para que os alunos não assistissem à chegada do pelotão com os feridos e o morto e dirigi-me para o posto médico. Enquanto a equipa de saúde tratava dos feridos, o Keba Sanhá entregou-me o morto que tinha transportado às costas, embalado num pano de tenda. Missão: utilizar uma maca como suporte para recolocar cada órgão no seu lugar, de forma que o corpo fosse entregue à familia para efectuar o funeral.

Duas horas depois, com muito trabalho, silêncio absoluto, algumas lágrimas, a missão estava cumprida.

A vida continuou e passadas quatro semanas, a 18 de Abril [de 1969], nova emboscada: dois soldados mortos. (Os primeiros e únicos mortos em combate, da CCaç 2615).

Desta vez fui "poupado" pela equipa de saúde e fiquei livre para dar apoio moral ao meu amigo Jorge Leitão, furriel de Operações Especiais, a imagem da raiva e do desespero, sem encontrar explicação para o que lhe tinha acontecido.

O ambiente ficou pesado. As conversas na messe e nos quartos giravam sempre à volta do mesmo assunto. Finalmente, aos seis meses de comissão, tinha começado a guerra.

(Na noite de 22 para 23 de Abril, tive um sonho/pesadelo. Eu, que dormia sempre tranquilamente, acordei em sobressalto. Nesse sonho, surgia um avião IN, voando baixo, com um foco de luz para localizar os alvos. E onde é que eu me protegi contra o avião? Nos abrigos de Aldeia Formosa? Não. O meu esconderijo era um tanque/piscina, protegido por uma frondosa nogueira, numa quintinha, com uma casa amarela, que ainda hoje existe, perto do antigo CISMI, na estrada Tavira/Santa Luzia, onde eu passei as férias de verão de 1962.)

Entretanto, a vida no quartel de Aldeia Formosa continuava com uma rotina de paz. Até o corneteiro tocava para o almoço. E no dia 23 de Abril de 1970, poucos minutos depois das 11h30 começou o toque para o primeiro turno ir almoçar. Quase em simultâneo o IN inicia o ataque ao quartel, com armas ligeiras e pesadas, muito perto do início da pista de aviação.

Corri para o abrigo com uma turma de cerca de trinta alunos, previamente treinados.
A resposta das NT foi um pouco lenta, pois naquele momento, mais de metade do efectivo estava de marmita e não de G3.

Lembro-me de ouvir o Alferes do Pelotão FOX gritar: Vou fazer tiro directo... e pensei que com o Obus a disparar, a situação estava controlada. E assim aconteceu...

Foi um baptismo duro. Senti alguma raiva por saber que o IN estava ali tão perto, mas já estava preparado... e depois, aquele sonho/pesadelo alertou-me ainda mais para a possibilidade de acontecer algo semelhante...

Concluindo, o baptismo foi a única vez que estive debaixo de fogo. Durante toda a comissão, não tive oportunidade de disparar um único tiro. A última vez que disparei a minha G3 foi, algures, nos arredores de Évora, um tiro certeiro, como deve fazer um bom atirador, para destruir o prato que tinha utilizado na semana de treino.
A minha missão nesta guerra... foi de paz.

Um dia destes eu escrevo mais um capítulo.

Um Abraço
Manuel Amaro
Fur Mil Enf
CCAÇ 2615
___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de 22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3223: Convívios (85): Pessoal da CCAÇ 2615, no dia 18 de Setembro de 2008 em Benavente (Manuel Amaro)

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2895: Tabanca Grande (72): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2895 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)

(**) Vd. poste de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3325: O meu baptismo de fogo (11): Mampatá, 20 de Fevereiro de 1973 (António Carvalho)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3330: O Nosso Livro de Visitas (37): Arménio Vitória, CCAÇ 799/BCAÇ 1861, Cacine, 1965/67


Mensagem, com data de 14 de Outubro, do nosso camarada Arménio Vitória (*) para o tertuliano Júlio César, com conhecimento ao nosso Blogue:

Caro amigo:

Estive na Guiné, em Cacine, no período 1965/67, integrado na CCAÇ 799, que pertencia ao Batalhão que refere: 1861.

No entanto:

1 - Não fui com a Companhia; só me integrei nela indo em rendição individual (acho que era assim que se dizia) para substituir um militar que pisou uma mina e..., não participando portanto no processo de formação da Companhia;

2 - Entretanto e recentemente, por alguma pesquisa que fiz, soube que a Companhia 799 era independente, formada no RI 15, e foi já na Guiné que foi mandada para Cacine, integrando-se então no Batalhão 1861;

3 - Não havia portanto grande ligação entre a CCAÇ 799 e o BCAÇ 1861, embora obviamente dele dependesse;

4 - Aliás nem grande nem pequena; a única coisa de relevante de que me recordo do BCAÇ 1861 é do seu Comandante (Ten Cor ?) e do desejo imediato que todos tínhamos de sair em patrulha para o mato quando, em duas ou três vezes, visitou Cacine. Preferíamos arriscar... do que aturá-lo. Tinha um conceito muito especial da disciplina e qualquer porradita, como se lembra, lixava a vinda de férias. Chamavam-lhe D. Dinis, julgo. Preocupava-se mais com as couves do que com o resto;

5 - Portanto nunca tive qualquer ligação com pessoal desse Batalhão, a não ser claro com o da minha Companhia, não o podendo ajudar;

6 - Para terminar: organizo regularmente o encontro do pessoal da minha Companhia, que aconteceu no sábado passado, e é com essa experiência que o incentivo fortemente a empenhar-se no seu objectivo que, como se diz militarmente, é muito remunerador.

Em termos de ajuda aconselho um contacto com o Jornal ELO [jornal.elo@adfa-portugal.com]; por vezes fazem também a ponte nestas situações.

Por mim fico à sua inteira disposição. Já agora e como incentivo anexo uma foto do pessoal da minha Companhia que se reuniu no sábado passado.

Abraço
Arménio Vitória

2. Mensagem enviada no dia 16 de Outubro de 2008 a Arménio Vitória

Caro Arménio:

Após este segundo contacto, não podemos deixar de te pedir para te juntares a nós.

Já deves ter percebido quais os nossos objectivos e os nossos princípios. Se quiseres pertencer ao nosso Blogue, também conhecido por Tabanca Grande, manda uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, para a nossa fotogaleria, e para acompanhar os teus trabalhos a publicar na nossa página.

Estamos receptivos às tuas histórias e às tuas fotografias.

Por uma questão de registo, diz-nos qual foi o teu posto militar e a tua especialidade. Por falar em postos, aqui não se fazem distinções entre antigos postos militares, posições sociais actuais e até idade. Pisámos o mesmo chão, passámos as mesmas dificuldades e isso é suficiente para nos tornarmo-nos verdadeiros camaradas e tratarmo-nos por tu.

Se estiveres de acordo, a porta está aberta à tua espera.

Recebe um abraço dos camaradas da Tabanca Grande.
Carlos Vinhal
Co-editor

Nota de L.G.:

Arménio, sê bem vindo a esta Tabanca Grande. Já trocámos mails sobre Cacine. Em tua honra e dos teus/nossos camaradas da CCAÇ 799, hei-de publicar mais umas fotos de Cacine que tirei em Março de 2008, quando lá estive. Hoje o rio e as suas margens têm outra beleza que era difícil de descortinar no teu tempo.

Certamente por lapso, mandaste-nos não a foto do pessoal da tua companhia, mas sim a do galhardete. Ficamos a saber que vocês eram Firmes e Constantes, era rapaziada fixa, com a excepção da ovelha ranhosa que há em todos os rebanhos, e que tu acima referiste...

Cá no nosso blogue evitamos fazer juízos de valor sobre o comportamento (nomeadamente operacional) dos nossos camaradas, e inclusive sobre a liderança dos nossos antigos superiores hierárquicos... Mas, eu estou de acordo contigo: esta regra não nos deve inibir de chamar os bois pelos cornos... E depois Deus manda ser bom, mas não ser parvo, manda perdoar mas não pode mandar esquecer...

Na volta do correio, mandas então a foto do grupo... LG
_____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3020: Notícias da CCAÇ 799 (Cacine, Cameconde, 1965/67) (Arménio Vitória)

Guiné 63/74 - P3329: Breve resumo da História do BCav 490 (1963/65) (Virgínio Briote)

Batalhão de Cavalaria 490 (II)

Sempre em Frente




4. Actividades no CTIG

Não é vocação do nosso blogue enumerar em detalhe todas as actividades desenvolvidas pelas unidades que operaram no território da Guiné. Para além de ser fastidioso, nem a própria História do BCav 490 as descreve na totalidade. Assinalarei, assim, as que o Batalhão considerou:

- Após o desembarque foi-lhe atribuída a missão de intervenção à ordem do Com-Chefe.
- Manteve-se em Bissau até 2Agosto 1963, escoltando embarcações e efectuando patrulhamentos.
- A região do Oio, na altura, uma das zonas sob maior pressão da guerrilha estava à responsabilidade do BCaç 512, com a sede em Mansoa. A partir de 2 Agosto e até 29 Dezembro de 1963, duas Companhias do BCav 490 passaram a colaborar em permanência nesta região. Eram rendidas uma de cada vez pela outra Companhia estacionada em Bissau.
Bissorã e Mansabá, principalmente, foram as zonas onde as Companjias mais actuaram, levando a cabo patrulhamentos, emboscadas, remoção de abatizes e operações de maior envergadura.

Entre estas, destacam-se:

27 Setembro, op “Adónis”, na zona compreendida entre as povoações de Mindodo-Sansabato-Iracunda-Fajonquito-Maca, efectuada pela CCaç 487.

Depois da divisão das forças executantes, foi cercada, ainda de noite, a povoação de Sansabato. Capturados diversos elementos que estabeleciam a ligação à guerrilha. O chefe da tabanca de Sansabato era um dos guias. População e sentinelas fugiam à aproximação das tropas.
À entrada da mata de Mindodo foram recebidas com fogo nutrido e a curta distância (o relatório refere a cerca de dez metros). Os prisioneiros não amarrados escaparam-se no meio da confusão. As tropas recuaram para a orla da mata, espalhando toalhas brancas para assinalar a posição ao apoio aéreo que tardava. Deficiências da ligação rádio impediram a comunicação com uma Auster que sobrevoava a área.
Às 11h15, sem apoio aéreo, foi decidido pelo Cmdt das forças, o Cap Cav Romeiras da CCav 487, retirar em direcção ao Olossato. Durante a retirada manteve-se a troca de tiros. Dois quilómetros andados apareceu uma parelha de T-6. Assinaladas as posições, foi decidido regressar. Sob fogo intermitente do IN as NT entraram na mata. Emboscadas à queima roupa, reagiram, abatendo quatro guerrilheiros e capturaram uma PM e uma pistola. Nesse mesmo local foi encontrado morto o chefe da tabanca de Sansabato.

2 Novembro 1963, op “Adónis B-3”. Zona de Morés, a cargo da CCav 489, sob o comando do Cap Cav Pais do Amaral, participando ainda na acção o Cmdt do BCav 490. Trata-se de um relatório com 8 páginas.
Saída de Mansabá às 23h00 de 2 Novembro. Repartidas as forças, enquanto umas emboscavam, as outras marchavam em busca do acampamento de Morés. Cerca das 04h30 os dois homens da frente da força atacante abriram fogo de G-3. Progredindo encontraram um ferido armado com uma PM. À medida que lhe prestavam os primeiros socorros sacavam-lhe informações. Avistado outro guerrilheiro ferido em fuga, a uma distância que não foi possível tentar a perseguição.
Na progressão foram encontradas várias munições e carregadores. Debaixo de fogo intermitente as tropas penetraram na tabanca de Morés às 08h30. Encontrado um casal idoso, ele acamado e a mulher ao lado. Informações obtidas no momento confirmaram as anteriormente recolhidas. O acampamento situava-se junto ao caminho que de Morés conduzia a Talicó, a meio de duas bolanhas. Às 10h00 um heli recolheu o guerrilheiro ferido. Uma hora depois chegou também de heli o Com-Chefe.


A Bandeira Portuguesa subiu em Morés pelas mãos da CCav 489

Na presença do Comandante-Chefe fez-se uma pequena cerimónia, foi hasteada a bandeira portuguesa e alguns militares aproveitaram para tirar chapas. Foram destruídas cerca de 60 barracas nas imediações.

Com a prisioneira como guia as tropas continuaram a progredir em direcção à casa de mato que se pensava ser o QG dos grupos que nos últimos tempos têm desencadeado acções sobre a tropa e população. O IN aguardava-os pacientemente. Atacados pelos flancos as tropas atacantes reagiram com tiros de bazuca trazendo acalmia momentânea. A cada passo reacendia-se a refrega. Momentos houve, que o relatório minuciosamente descreve, em que quase se combateu tiro a tiro, individualmente. As nossas tropas tinham feridos e corpos de guerrilheiros espalhavam-se pela mata. O 1.º Cabo Enf Carvalho de Brito foi atingido quando estava a socorrer um soldado ferido. Os alf mil Rui Ferreira e furr mil Covas transportaram para a retaguarda um dos feridos mais graves.

45 minutos de inferno de fogo e sangue, é desta forma que o relator resume estes acontecimentos.

Morés foi atingida às 16h00 e foi a esta hora que chegaram os helis para procederem à evacuação dos feridos. Evacuação inútil para a vida do 1.º Cabo Enfº Carvalho de Brito.
O TCor. Cavaleiro decidiu que se devia permanecer em Morés até ao dia seguinte. Preparou-se a noite. Escolheram-se os locais para as sentinelas, limparam-se alguns arbustos e improvisaram-se abrigos.
Às 19h00 recomeçou o tiroteio, interrompido pela reacção das NT e recomeçando às 22h00. Elementos INs, ao abrigo da escuridão, aproximaram-se do improvisado aquartelamento e arremessaram granadas de mão. Às 01h00, 2h00 e 3h00 os ataques foram feitos com mais força e as flagelações vinham de vários lados. Ouviam-se claramente palavras de incentivo, “por aqui”… ”vamos”.. ”vamos embora”…
Uma noite que o relator diz ter sido interminável.

Pela manhã mais dois feridos foram levados pelo heli que trouxe água, munições e alimentação.
Foram rendidos cerca das 12h00 por 2 GrComb, um da CCav 489 e outro da CCaç 461. Estes grupos tiveram a marcha atrasada pelo rebentamento de um fornilho com flagelação de tiros de PM e remoção de abatizes.

A CCav 489 (-) retirou então, não sem se deparar com 24 abatizes no trajecto Morés-estrada de Bissorã e ter sofrido uma emboscada nesse local. O condutor de uma das GMCs foi atingido nas pernas por estilhaços de GM (oito furos foram contados na porta da GMC). Por várias vezes a fuzilaria interrompia-se subitamente e da mesma forma se reacendia, causando mais dois feridos às NT. Foi abatido de uma árvore um elemento In. Eram 16h30 quando viram finalmente Mansabá.

A constante actividade das Companhias do BCav 490 obrigou o IN a nunca pernoitar noites seguidas no mesmo local. A operação realizada em 2 Novembro pela CCav 489, que se manteve no local duas noites seguidas, deu os frutos no imediato. A actividade IN reduziu-se significativamente, ao ponto de em Dezembro, as escoltas nos principais itinerários do Sector, Mansoa-Mansabá e Mansoa-Bissorã, passarem a ser feitas com efectivos de secção.


As baixas do BCav 490 no Oio
Mortos: 2
Feridos: 19

As baixas do IN
Mortos: 36
Feridos: 80
Prisioneiros: 12

Material Capturado
2 PM
1 Pist
2 Longas
3 Minas A/C
10 GM
1 Armadilha com 3 petardos de trotil
2 Fornilhos
2.000 munições e
Documentação vária
__________

Notas:

1. Artigo extraído da História do BCav 490

2. Artigo relacionado em 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3326: Breve resumo da História do BCav 490 (1963/65).