Recebemos do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) esta reportagem referente à Homenagem que Loures prestou aos seus Combatentes no dia 10 de Abril de 2011.
HOMENAGEM EM LOURES
Com a chegada da manhã, do dia 10 de Abril de 2011, chegava o dia “D”, ou melhor, dia “H”, de homenagem.
Tudo começara com o envio em 1 de Março, de um texto, datado de 23 de Fevereiro anterior, sobre o Monumento aos Mortos da Grande Guerra, do Concelho de Loures, para as páginas de Luís Graça e Camaradas da Guiné (publicado em 4 de Março (
Post 7897) e Ultramar Terra Web (publicado em 2 de Março), cujo texto também foi enviado aos Presidentes das Câmaras Municipais de Loures e Odivelas e Presidente da Liga dos Combatentes (anteriormente, Liga dos Combatentes da Grande Guerra).
Foi o Presidente da Câmara Municipal de Loures que, delegando no seu Chefe de Gabinete, Senhor António Baldo, e no seu Assessor, Senhor António Maurício, deu início à organização dessa homenagem.
Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures.
Inaugurado em 8 de Dezembro de 1929
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Quando nos encontramos, por convite telefónico dos mesmos no dia 1 de Abril, já tinham esquematizado a cerimónia, que, por deferência, não queriam dar como concluída sem trocar impressões connosco.
A partir desse momento, como havíamos escrito no final do texto já referido, tínhamos a certeza de que não estaríamos sós.
À chegada, fui informado pelo Assessor Sr. António Maurício que, por sugestão sua e prontamente aceite pelo Presidente da Câmara, competiria ao proponente da homenagem, proceder ao hastear da Bandeira Nacional, bandeira essa pela qual, quarenta anos antes, tinha combatido nas matas da Guiné.
A Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Loures, sob a direcção do Maestro Hélio Salsinha Murcho, executou o Hino Nacional, ao som do qual a Bandeira das Quinas subiu no mastro principal dos Paços do Concelho.
Chegada da Banda dos Bombeiros Voluntários de Loures, frente aos Paços do Concelho.
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Depois deste acto solene e, já junto ao monumento, tomaram lugar os senhores António Baldo, Chefe de Gabinete da Presidência e em representação do Presidente da Câmara, o vereador Paulo Piteira, o presidente da Junta de Freguesia de Camarate, Arlindo Cardoso, a representação da Liga dos Combatentes composta pelo seu presidente, Tenente-General Joaquim Chito Rodrigues e o Secretário-Geral, Coronel Adalberto Travassos Fernandes, José Marcelino Martins, sócio da Liga dos Combatentes e antigo Combatente na Guiné, representantes da Policia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana. As Corporações de Bombeiros fizeram-se representar com os seus Estandartes e Guiões, estando presentes, alem da Corporação de Loures, as Corporações de Fanhões. Moscavide-Portela, Sacavém e Camarate, demais convidados, representando as forças vivas do Município, assim como muito público.
O Reverendo Padre João Fernando Bento Inácio, que representava a Igreja Católica e a Paroquia de Santa Maria de Loures, proferiu uma oração pelos Soldados de Portugal caídos em defesa da Pátria, lembrando que o seu esforço e sacrifício seriam lembrados pelas gerações vindouras, como acontecia naquele momento.
Aqui também é de referir que, muitos sacerdotes foram incorporados nas nossas forças armadas, fazendo parte de diversas unidades, tendo como missão não só manter uma presença espiritual junto das tropas, mas também, com a sua palavra e sua amizade, ajudá-los a cumprir a sua missão de combatentes. Eles também corriam risco como os restantes militares, dado que percorriam os diversos destacamentos, ficando sujeitos à perigosidade do momento, e, muitos deles, recusavam, pura e simplesmente, serem portadores de arma, mesmo de defesa pessoal.
O Reverendo Padre João Fernando Bento Inácio a proferir a sua Oração.
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Seguiu-a uma homenagem à Mulher Portuguesa que, ao longo da nossa história, sempre esteve ao lado dos militares. Não posso esquecer, sobretudo nesta altura, o caso de minha Mãe que, com seis anos de idade se despediu do pai, quando este embarcou para França, integrado Batalhão do Regimento de Infantaria nº 7 de Leiria, do Corpo Expedicionário Português, e que, aos sessenta anos vê partir um dos seus filhos para a Guiné, para integrar a Companhia de Caçadores nº 5, da guarnição provincial.
“ Exmªs. Autoridades Civis, Militares e Eclesiásticas
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Caros Combatentes
Antes de prestarmos a nossa homenagem aos camaradas que, ao longo da nossa história tombaram em defesa da Pátria Portuguesa, não queremos deixar de homenagear, aqui e agora, a mulher portuguesa, na figura da Mãe, da Esposa, da Noiva, da Irmã, da Madrinha de Guerra, que sempre foram o apoio incondicional do combatente.
• Foram Elas que, no cais de embarque acenaram o lenço de despedida;
• Foram Elas que, no silêncio da noite, chorando, rezaram por todos e cada um de nós;
• Foram elas, muitas delas, que, com o coração desfeito, receberam a fatídica notícia;
• Foram elas que, com as suas cartas e aerogramas, alimentaram a nossa esperança no regresso;
• Foram elas que, quando regressamos nos ajudaram a encontra o caminho, pois tínhamos perdido o rumo da vida.
José Marcelino Martins, antigo combatente, lendo o seu texto de homenagem à Mulher Portuguesa.
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Prestemos também homenagem à mulher enfermeira, às Damas Enfermeiras que, durante a Grande Guerra permaneceram à cabeceira dos feridos e doentes, e às Enfermeiras Pára-quedistas, que na Guerra de África, sempre que solicitadas, desceram do céu ao campo de batalha, qual Anjo da Guarda, trazendo a esperança de vida, quando a morte tentava levar mais um camarada.
A Elas, às Mulheres que nos acompanharam em campanha e às Mulheres que nos acompanharam ao longo da vida, enfim, às nossas queridas Mulheres, o nosso terno e eterno reconhecimento.
Bem hajam!”
Cabe aqui, invocar numa breve resenha histórica a constituição da Liga dos Combatentes, anteriormente designada por Liga dos Combatentes da Grande Guerra. A ideia surge logo após o Armistício e o regresso dos combatentes à Pátria que, animados um forte espírito de fraternidade, sentem a necessidade de se associarem, não só para uma melhor defesa dos seus interesses, mas também para ajudarem os camaradas mais necessitados, assim como as viúvas e órgãos de guerra.
A tentativa feita por João Jayme de Faria Affonso, em 1919, sai gorada, mas não desiste. Em 1921, em conjunto com o 1º Tenente Horácio Faria Pereira e o Tenente Joaquim de Figueiredo Ministro, unem esforço para dar forma e constituir a Liga que, com o apoio dos Tenentes-Coroneis Ferreira do Amaral e Francisco Aragão conseguem, no ano de 1923, realizar uma reunião com diversos combatentes, de onde saem os primeiros corpos directivo.
A Liga dos Combatentes da Grande Guerra é oficializada em 29 de Janeiro de 1924 (Portaria nº 3888) e o seu estandarte aprovado e autorizado o seu uso em cerimónias oficiais em 16 de Março de 1929.
O representante da Direcção Central de Liga dos Combatentes, usando da palavra.
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Depois desta breve memória, retomemos a cerimónia que teve a intervenção do Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, Tenente General Joaquim Chito Rodrigues que, falando de improviso, realçou a
“instituição que se bate pelos valores históricos e pelo apoio e garantia dos direitos aos mais necessitados, destacando que a associação conta com 93 núcleos”, distribuídos pelo país e estrangeiro tendo, também,
“realçado a acção do Combatente Português ao longo do século XX, na Grande Guerra, na Guerra do Ultramar e nas Missões de Paz, lançando um apelo para a criação de mais um Núcleo da Liga e o levantamento de um Monumento aos Combatentes da Guerra do Ultramar, na cidade ou na região”.
Recuperou o último capítulo do texto acima referido
“Se mais ninguém estiver presente, eu, pelas 11 horas da manhã do dia 10 de Abril deste ano, no dia seguinte ao Dia do Combatente, deixarei junto ao monumento que perpetua a presença dos Portugueses na Grande Guerra na Europa e em África, uma flor e a minha oração em memória dos que tombaram pela Pátria desde 1139, desde a vitória de D. Afonso Henriques na batalha de Ourique”, terminando a sua intervenção com um poema de Sofia de Mello Breyner:
“Nem terror
Nem lágrimas
Nem tempo
Me separarão de ti
Que moras para além do vento”.
Vivam os Combatentes por Portugal, Viva Portugal!
O orador seguinte foi António Baldo, Chefe de Gabinete da Presidência da Edilidade que, dirigindo-se às entidades convidadas e demais pessoas presentes, disse:
“Em primeiro lugar quero que saibam que é uma honra estar aqui, hoje e agora, nesta simples mas significativa cerimónia, a representar o Senhor Presidente da Câmara, o Engenheiro Carlos Teixeira.
“…AQUELES QUE POR OBRAS VALOROSAS, SE VÃO DA LEI DA MORTE LIBERTANDO…”, escreveu Camões na intemporal obra “Os Lusíadas”, traduzindo o Valor e o Heroísmo dos homens que se imortalizaram na construção e na conquista de novos mundos e na defesa da Pátria.
Recordamos, hoje, a memória daqueles que enfrentando as dificuldades e privações, culminaram a sua dádiva com a maior entrega que um homem pode fazer: O SACRIFICIO DA PRÓPRIA VIDA!
Exalto, também, a solidariedade entre irmãos de armas, e convido-vos a elevar o pensamento para todos os militares que representaram e defenderam Portugal e a sua independência naquela que então foi chamada como a Grande Guerra.
Saudemos o extraordinário sentido de Missão, e de cumprimento do Dever, dos Militares Portugueses que, agora como nesse tempo, cumprem as obrigações decorrentes das determinações do poder político.
O Chefe de Gabinete, em representação do Presidente da Câmara de Loures, proferindo a sua alocução.
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Os Militares Portugueses são reconhecidos internacionalmente, alvo dos mais rasgados elogios dos nossos aliados e, sobretudo, credores do integral respeito de toda a comunidade nacional.
Foram treze anos, em África, em que as Forças Armadas Portuguesas estiveram envolvidas numa guerra que terminou. A liberdade que então chegou pôs fim a uma terrível época, mas que deixou, em terras de África, honra e brilhantismo fundamentais para o reconhecimento e abertura a uma cooperação fraterna, com os países irmãos que falam a mesma língua, e cujos soldados verteram, também eles, o seu sangue no campo de batalha, sofrendo, como os nossos, a dor da perda.
Hoje é dia de homenagear os Combatentes.
Cooperaremos com aqueles que, um dia, estiveram do outro lado, mas que hoje dão as mãos num espaço de partilha de valores, cultura, língua, laços familiares e de interesses comuns, na batalha por um futuro melhor, assente na democracia, no desenvolvimento e na construção da paz.
Aproveito esta circunstância para referir, também, todos os militares que cumpriram e cumprem missões no além fronteiras, no âmbito dos compromissos internacionais do Estado Português, como o processo de Cooperação Técnico-Militar com países africanos lusófonos ou, a presença, mo Iraque, no Afeganistão, no Kosovo, na Bósnia, no Saara Ocidental ou Líbano, fora de Portugal em cumprimento de Portugal.
A Nação está sempre em primeiro lugar para o Soldado, e é em nome dessa Nação que combate.
É assim no Afeganistão, no Iraque ou na Líbia. Foi assim em África, como também em São Mamede, Em Badajoz, na Flandres, nas Linhas de Torres e também, com certeza, em Aljubarrota.
Mas nenhum argumento justifica qualquer falta de respeito por aqueles que combateram, e que correram riscos em nome do Estado que honradamente representam. Merecem, e sempre merecerão, o nosso respeito e a perpetuação da sua memória.
T
emos uma divisa para com estes homens e mulheres. O Estado e a Sociedade estão em dívida para com estes soldados, e nunca será suficiente a homenagem que possamos prestar-lhes.
É portanto com humildade e gratidão que hoje, eu, em nome do Senhor Presidente da Câmara de Loures, do Município e em nome de todos os Munícipes, deposito estas flores aqui, no Monumento aos Mortos da Grande Guerra, numa homenagem sentida a todos os Combatentes que deram a vida pela Pátria, e, em especial, aqueles cujo nome está inscrito neste monumento e a todos os Munícipes de Loures que combateram em nome de Portugal.
Perdoem-me a ousadia, mas neste momento sentido, para mim que sou militar, permito-me evocar dois combatentes e militares, ainda vivos, que admiro e respeito como exemplo constante e sempre presente: o meu pai ANTÓNIO MARTINS BALDO e o meu sogro CONSTANTINO TEIXEIRA.
Para todos os que partiram na defesa de um ideal maior, cujo nome é Portugal, o meu respeito, admiração e a certeza de que partiram com as palavras de Camões no pensamento:
“ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA”.
Viva Portugal!
Terminada a intervenção das entidades promotoras da Homenagem, foi efectuada a deposição de flores pelas mesmas entidades presentes e pelo público em geral, junto do Monumento.
Colocação de flores na base do Monumento pelos representantes da Edilidade e Liga dos Combatentes.
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Foram colocadas duas coroas de flores:
* Uma da Câmara Municipal, como tributo e homenagem do Povo de Loures, aos seus militares caídos durante os conflitos e aos que, tendo regressado, deixaram o nosso convívio;
* A outra, da Liga dos Combatentes, como preito de homenagem aos camaradas de armas caídos nos conflitos que Portugal teve que enfrentar, desde a sua nacionalidade até aos nossos dias. Teremos que referir que muitos dos que regressaram, ou já nos deixaram ou ainda estão entre nós, mas alguns, muitos, feridos na alma e no corpo.
Após a colocação das flores junto do Monumento, deu-se início aos “toques de Ordenança” previstos para estas ocasiões:
Foi executado o “Toque de Silêncio”. É o último toque que se ouve em cada dia nas unidades militares. Convida-nos ao silêncio e ao descanso. Alerta ficam as sentinelas, que velam pelo sono dos camaradas que dormem, sendo ouvido apenas, espaçados, o grito de “sentinela alerta” e a respectiva resposta. Com este toque é como se os que ficaram velassem pelo sono dos camaradas, que “adormeceram pela Pátria”. Os vivos velam pelo descanso dos que partiram.
De seguida foi executado o toque de “Mortos em Combate”. Homenagem, sentida, àqueles que entregaram á Pátria o seu bem mais precioso: a própria vida. É altura de louvar aqueles que, jurando defender a Bandeira da Pátria, levaram ao extremo o seu sacrifício. Neste momento, as forças presentes, encontram-se em continência.
Mas, quando a noite termina, vem um novo dia e uma nova esperança. É com esta forte convicção que a evocação dos “nossos mortos” termina com o “Toque de Alvorada” que mais não é que o acordar para um novo dia e o renascer de uma nova esperança. Ouviram-se, de seguida, os acordes de “A Portuguesa”, executada pela Banda dos Bombeiros e o Nosso Hino foi entoado pelos presentes.
Toque de “Mortos em Combate”.
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Num ambiente mais informal, foram trocadas medalhas comemorativas, entre a Liga e a Edilidade, sendo que a Câmara ofereceu à Liga dos Combatentes a medalha comemorativa dos 100 anos da Republica, que foi proclamada, em Loures, no dia 4 de Outubro de 1910, um dia antes da proclamação em Lisboa e no país.
Estava terminada a cerimónia, com a convicção de que o momento que se vivia ainda, fosse o reavivar de uma gratidão e lembrança aos que, desde 1139, tombaram pela Pátria, sempre que esta nos chamou.
Troca de Medalhas Comemorativas
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
Pormenor do Monumento aos Mortos da Grande Guerra - Loures
© Foto José Marcelino Martins
José Marcelino Martins
Loures, 7 de Junho de 2011
josesmmartins@sapo.pt
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 10 de Junho de 2011 >
Guiné 63/74 - P8400: Efemérides (50): Penamacor inaugura Memorial evocativo dos antigos Combatentes da Guerra do Ultramar (Carlos Pinheiro)