terça-feira, 19 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16318: Em busca de... (269): Alf mil médico, estomatologista, radioamador, CR8AK... Raul [Luís Vilhena Soares] Nobre, Guiné (1969) e Timor (1971/73) (Artur Marcos, professor, radioamador, escritor, especialista em cultura timorense, residente em Queluz)

1. Mensagem do nosso leitor Artur Marcos, professor do ensino do ensino básico, na Amadora, com residência em Queluz, escritor, especialista em cultura e sociedade timorenses:

Data: 8 de julho de 2016 às 16:44

Assunto: Localizar Alf Mil Médico CR8AK Guiné-Timor

Ex.mos Srs:

Votos de boa saúde. Há tempo que, ocasionalmente, leio o vosso  blogue, com admiração pelo vosso conseguimento e valor.

A razão de  entrar em contacto com os responsáveis de «Luís Graça & Camaradas da  Guiné» é um pedido de colaboração. Gostaria de entrar em contacto com  o ex-Alf Mil Médico Raul  Luís Vilhena Soares Nobre (cf. o post no  vosso blogue de 27 de março de 2007, respondido em 2009 por Manuel Resende) (*).

 Não conheço pessoalmente o senhor médico, que  actualmente terá oitenta e mais alguns anos de idade, suponho.

Considero que seria útil que nos encontrássemos para falar. Por razões  relacionadas com a memória social de Timor, radioamadorismo, história  do escotismo em Portugal e em Timor e alguns serviços bons por ele  prestados enquanto radioamador em Timor, que ficarão registados em  trabalho a divulgar oportunamente. 

Creio que seria possível que  reenviassem esta mensagem para ele e, se for da sua vontade,  poderíamos encontrar-nos. Sou professor numa escola estatal no  concelho da Amadora e durante largos anos, principalmente antes de  maio de 2002, desenvolvi ou promovi a feitura e publicação de  trabalhos diversos relacionados com Timor (entre esses trabalhos está  um dicionário Tétum-Português, da autoria do timorense Luís Costa, a  recolha da poesia de Fernando Sylvan e o título «Timor Timorense- com  suas línguas, literaturas, lusofonia...» [Imagem da capa, acima]. Todos editados na chancela Edições Colibri e referenciados internacionalmente, em meios  especializados. 

Sempre entendi que uma terra não se constrói só com  discurso político... E que materiais técnicos e culturais são muito  necessários, para qualquer futuro a acontecer ... 

Antecipadamente  grato pela ajuda que possam oferecer, fazendo « a ponte» para o doutor  Raul Nobre, reitero cordial saudação, Queluz, 8 de julho de 2016, Artur  Marcos.

2. Comentário do editor:

Artur, obrigado pelo seu contacto e pelas suas palavras de apreço pelo nosso blogue. Infelizmentre não tivemos mais notícias do dr. Raul Nobre. Sabemos quue tem consultório de estomatologia em Lisboa e página no Facebook. O nosso camarad Manuel Resende é amigo dele no Facebook. Vou dar conhecimento ao Manuel Resende desta sua diligência (**). Por certo que haveremos de conseguir "levar a carta a Garcia". O email dr. Raul Nobre, de 2007, pode já não ser válido mas sugiro que tente. Disponha do nosso espaço. Boa saúde, bom trabalho. Felicidade para os nossos povos e viva a lusofonia! LG
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Notas do editor:

(*) Vdf. poste d27 de março de  2007 > Guiné 63/74 - P1629: Lendo os vossos depoimentos com um nó na garganta... O que é feito da CCAÇ 2585 ? (Raul Nobre, ex-Alf Mil Médico)

(...) Mensagem de Raul Nobre, médico:

Meu Caro Luís Graça:

Tenho lido estes depoimentos com um nó na garganta. É muito importante em todos os sentidos, quer histórica quer emocionalmente.

Em 1969 fui incorporado como médico na CCAÇ 2585, comandada pelo Capitão Tomaz da Costa. Ainda fiz o IAO na Arrábida e gozei os 10 dias de licença antes do embarque. Entretanto deu-se o "atentado" ao Niassa e o embarque do Batalhão fez-se com atraso. Eu não cheguei a embarcar, pois deferiram-me o requerimento que fizera para poder terminar a especialidade de Estomatologia e em 1971 mandaram-me para Timor donde regressei em 1973.

Nunca mais tive notícias de ninguém. Recordo-me que havia um Alferes chamado Almendra, creio que natural de Trás-os Montes.

O meu contacto com os camaradas foi de curta duraçáo, pois tinha sido reinspeccionado, fizera uma recruta de um mês em Santarém e tinham-me colocado naquela Companhia que, por sua vez, tinha sido constituída a toda a pressa.

Gostava de ter notícias daqueles rapazes.

Um abraço e a minha admiração pelo trabalho que estás a fazer. Raul Nobre (...)


(...) Comentário de Manuel Resende   [ex-alf mil da CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71]

Olá,  Luís Graça: Só há dois dias é que descobri este maravilhoso espaço na Internet, onde se pode falar e desabafar de factos que recalcamos há 40 anos.

Sou ex-Alf Mil da CCaç 2585, BCaç 2884. Já li tudo o que está neste espaço e quero contribuir, para já, com uma informação para o nosso médico Raul Nobre, de que me lembro perfeitamente, pois era meu camarada de Companhia (2585). Foi substituído pelo médico Alf Mil Diniz Martins Calado.
Já agora, também para informação do camarada Raúl Nobre, aqui vão os nomes dos 4 alferes  da Companhia: António Camilo Almendra (mais tarde comandante da companhia por graduação em Capitão), Manuel Charraz Godinho, António Alberto Miguéis Marques Pereira e eu, Manuel Cármine Resende Ferreira.

Tenho muitas fotos que irei partilhar em outra altura. Também tenho algo a dizer em relação à morte dos MAJORES.
Um abraço, Manuel Resende
manuel.resende8@gmail.com
 
25 de março de 2009 às 22:47

Guiné 63/74 - P16317: Controvérsias (132A): Quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto... A morte do comandante Mamadu Cassamá,e as viaturas blindadas, em Copá, em 7/1/1974 (confrontando duas versões, a do guineense Bobo Keita, "o comandante dos tanques anfíbios" e a do escritor cubano Ramón Pérez Cabrera)

1.  Depoimento de Bobo Keita, comandante do PAIGC (1939-2009) sobre a morte de Mamadú Cassamá(*), em Copá, em 7/1/1974:


"Mamadú Cassamá morreu no ataque a Copá. Tomei parte nesse ataque, juntamente com o camarada Paulo Correia. O Mamadú era dos que ainda acreditavm na 'força' dos amuletos... Avançou muito e foi até aos arames  que circundavam o quartel,  Pegou nos arames e fez força para os arrancar. Foi localizado e um tiro cverteiro silecncoiu-o de vez. O Mamadú Cassamá era o camdante daqule zona".

In: Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011. (Impresso na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes. p. 244.


Bobo Keita, já antes, noutra passagem se tinha referido a Copá e à utilização de viaturas blindadas;(p. 193):

"Para o assalto a Copá, que fica a uns trinta quilómetros da cidade senegaleas de Wassadou,  peguei em dois dos meus tanques (sic), constitui um comando e fomos à emboscada.  A operação em Copá contou com Quemo Mané, comandante de infantaria. Copá também não foi fácil para os tugas, Alinhámos um número razoável de combatentes, menor que Guileje e Guidaje, e o objetivo era o de isolar os colonialistas. A tomada do quartel não nos interessava, queríamos somente convencê-los  de que não tinham mais nenhuma escapatória e que deviam partir da nossa terra".

Infelizmente, Norberto Tavares de Carvalho, nas longas conversas com Bobo Keita, não explorou devidamente o fato de este ter sido nomeado, ainda em vida de Amílcar Cabral, " comandante dos tanques anfíbios" (sic) ou   "chefe dos blindados",  em substituição do Inocêncio Cani (1938-1973), antigo comandante da marinha do PAIGC, que iria ser o carrasco do  líder do PAIGC, em 20/1/1973 (vd. pp. 165 e ss.)...

No início do cap. XII, pode ler-se (p. 177): "Depois do funeral do Amílcar, realizado no dia 1 de fevereiro de 1973 em Conacri, fui tomar conta dos tanques anfíbios (sic)", tendo seguido depois  "de Boké para o Leste em março de 1973".

Em conclusão: o PAIGC já tinha viaturas blindadas anfíbias e vai usá-las contra Copá, em janeiro de 1974, de acordo com o testemunho (insuspeito) do nosso camarada António Rodrigues, um dos bravos de Copá (*). 

Mas fica a dúvida por esclarecer:  o PAIGC  tinha duas ou mais "viaturas blindadas" de tipo anfíbio  ? Eram mesmo do PAIGC ? Ou eram emprestadas pelo Sékou Touré ? Seriam do tipo  BRDM-2 ? Se sim, por que é que o Bobo Keita não se faz transportar nelas,  na "viagem triunfal" até Bissau,  em setembro de 1974 ?

2.Excerto de: Ramón Pérez Cabrera - "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba" (edição de 2005), p. 1979


[Com a devida vénia...Sublinhados nossos] [Extensas partes do livro podem ser consultadas, em modo de pré-visualização, no portal da Kilibro]


3. Aristides Ramón Pérez Cabrera (n. 1939) não é nem jornalista nem historiador, e muito menos um investigador independente.  É um "homem de partido", é um homem do regime castrista, que chegou ao comité central do Partido Comunista, pelo que se não pode esperar do seu livro "La historia cubana en África", publicado em 2003, uma obra isenta, objetiva, imparcial, crítica, etc. Tal como muita da tralha "chauvinista", "trauliteira e patrioteira" que todos  nós escrevemos e continuamos a escrever sobre o glorioso passado dos nossos países europeus (nós, os portugueses, os espanhóis, os franceses, os ingleses, os alemães, os italianos, os suecos, os russos, etc.).

Muito menos foi, tanto quanto sei, o nosso Cabrera,  um combatente "internacionalista" que tenha arriscado o coirão nas bolanhas da Guiné ou nas savanas do sul de Angola... Os elementos que juntou para escrever "La historia cubana en África" e as informações que publicou, devem ser tomadas com as naturais reservas... É um trabalho de pesquisa bibliográfica e de recolha de testemunhos, que tem alguém interesse documental.  

Não tendo formação (científica) em história, é natural que corra o risco de descambar para o panegírico, a propaganda, a tirada patrioteira, sem grande preocupação com o rigor factual e o respeito pela verdade, o contraditório, a triangulação, a exploração  de outras fontes documentais, etc.

É o caso, por exemplo,   do nome do comandante das forças que atacaram Copá em janeiro de 1974... O homem que morreu em 7/1/1974 não era Mamadou Cassamba (sic), mas sim Mamadu Camassá... E não terá morrido a tripular uma das "quatro" (sic)  viaturas  blindadas BTR (ou BRMD) que o PAIGC não devia ter na altura, mas sim de um tiro certeiro, talvez no coração ou noutro órgão vital... disparado pelo nosso António Rdorigues ou algum outro dos bravos de Copá.

O Ramón Pérez Cabrera estava a milhares de quilómetros de distância, provavelmente em Havana, não viu o horror e o heroísmo desses dias em Copá, nem cita fonte idónea... Inclino-me mais facilmente para aceitar, como versosímil,  a versão do  Bobo Keita, que afirma ter estado em Copá nessa noite, tal como o comandante da Frente Leste, o Paulo Correia, valente guerrilheiro balanta, com várias  e importantes funções políticas a seguir à independência, que irá morrer muito mais tarde, em 1986, fuzilado, depois de barbaramente torturado  pelos esbirros do 'Nino' Vieira, na sequência de uma inventona....

Enfim, tudo indica que o  Cabrera, ingénua ou deliberadamente,  terá inventado um versão "heróica" para a morte (estúpida) de um comandante de guerrilha que nem sequer devia ter "carta de condução" de BTR (ou BRDM)... 

Aliás, o Bobo Keita, velha glória do futebol no tempo dos "tugas", não parece ter grande consideração pelo seu camarada Mamadu Cassamá: dele diz, com ironia, que  "era dos que ainda acreditavam na 'força' dos amuletos", a exemplo do próprio 'Nino' Vieira (leia-se, dos "mésinhos" que tornavam o "corpinho de bó" impenetrável às balas do "tuga")...

Moral da história: quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto...  LG

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Vd. poste anterior:

Guiné 63/74 - P16316: Parabéns a você (1111): Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf das CCAÇ 2616 e CART 2732 (Guiné, 1970/72) e João Santos, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16311: Parabéns a você (1110): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492 (Guiné, 1971/74) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16315: Controvérsias (132): Blindados do PAIGC? Não os vi em Jemberem, ninguém os viu em Bissau, Gadamael, Cacine, Mansoa, etc... aquando da transferência dos nossos aquartelamentos, o que seria normal e expectável se o PAIGC os tivesse... (Joaquim Sabido, ex-alf mil art, 3.ª CART/BART 6520/73 e CCAÇ 4641/73, Jemberem, Mansoa e Bissau, 1974)

1. Comentário, ao poste P16309 (*), do nosso camarada Joaquim Sabido

[foto à direita, abaixo: Joaquim Sabido, ex-alf mil art, 3.ª CArt/BArt 6520/73 e CCaç 4641/73, Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974);  foto à esquerda: Joaquim Sabido, hoje, advogado, a viver em Évora;  é nosso grã-tabanqueiro desde 24/8/2010; tem uma dezena de referênciasno nosso blogue]



No meu modesto entendimento, este tema encontra-se estreitamente ligado à questão da "guerra perdida vs. guerra ganha".

Naturalmente que não podemos nunca deixar de equacionar que a situação não se poderia eternizar. Por vezes, há camaradas que aqui vêm quase pedir contas àqueles que, como eu, nos encontrávamos no TO do CTIG a 25 de Abril de 74 e que entregámos o território. Sinto-me quase na obrigação de pedir desculpa por ter nascido mais tarde e, por isso, de lá estar no ano de 1974 e não antes.

Quanto à temática dos blindados no terreno. Nunca dei conta de tal e, à época da alegada aparição de viaturas blindadas, estávamos, precisamente, em Jemberém. O buraco a que se chamava quartel, era mesmo em cima de uma estrada que foi alcatroada e que ia até Cadique (isso eu sei) e diz-se que fazia ligação com a Guiné Conakry (isso eu não sei).

Mas blindados só se eram como os que alegadamente o Sadam teria no Iraque.

De facto, o pessoal até dizia que os ouvia o IN noite dentro a circular. Isto apesar de lhes explicar e demonstrar que aquilo que efectivamente escutavam, com maior nitidez durante a noite, como é óbvio, tratava-se, a final da maré a encher ou vazar no braço de mar que ia ter ou que vinha do Cacine e que se situava a cerca de 3 kms do aquartelamento.

Estou certo de que se tratava, mais de um mito "urbano". No mato nunca tal foi avistado.

Nem, posteriormente, em Bissau, ouvi a nenhum dos elementos do PAIGC com os quais contactei - por razões de passagem de testemunho da guarda ao Palácio do Governador e outras actividades de segurança na cidade - falar desse material de guerra.

Senão atentemos que, por exemplo, quando lhes foi entregue Gadamael, Cacine, Mansoa ou até mesmo Bissau, apareceu algum desse equipamento? Não seria de bom tom, se tivessem esses blindados, que os viessem apresentar? Parece-me que a resposta só pode ser que sim, que apareceriam com eles.

Então no relato do tal cubano [, Ramón Pérez Cabrera,] não se diz que se deram ao trabalho de resgatar o blindado inutilizado pela mina? Teriam lá também o reboque do ACP?

Num dos almoços do BART 6520/73, é que o meu Camarada Eiras (de Bragança e fur mil de transmissões da minha 3.ª CART) me recordou uma situação por ele vivida em Bissau, e que passo a relatar:
No quartel onde ele se encontrava colocado,  depois de termos regressado de Jemberém, e estando ele na parada,  acompanhado do seu adjunto também em Jemberém, o cabo das transmissões, foi abordado por dois elementos do PAIGC, e que lhes disseram de imediato: "Vocês estavam em Jemberém, não estavam?" A resposta não podia deixar de ser afirmativa.

Acontece que um desses elementos que até nem falava português, apenas o crioulo, disse através do outro que o cabo de transmissões, uma vez no cais de Jemberém, tinha tido a arma apontada à cabeça quando se encontrava em cima de uma Berliet - numa situação de reabastecimento e no transbordo da LDP (era só o que lá chegava).

Isto porque o nosso cabo de transmissões era facilmente reconhecido e identificável devido a umas malhas brancas que, aos 21 anos, já tinha no cabelo.

Concluíram dizendo que não dispararam nem nos atacaram ali, porque tiveram medo e não eram muitos, estavam a recrutar pouco. Afinal também tinham medo.

E estamos a falar de uma base importante na região, esta que eles tinham ali ao nosso lado. Que ao que se dizia até tinha hospital.

E cubanos também, meu caro Pereira da Costa. Sendo certo que entendo perfeitamente o que dizes e a vossa posição. E, pessoalmente, agradeço pelo 25 de Abril. Apesar dos níveis de adrenalina a que aquela terra, a guerra e o embrulhanço nos levavam, não podíamos manter a situação por muito mais tempo. Por esse andar já lá tinha ido o meu filho e um dia deste ia o meu neto. Não!

Concluindo: blindados nem vê-los. Estávamos à espera que entrassem por ali dentro e levassem as três fiadas de arame farpado que por lá tínhamos. Mas não.

Um grande abraço para todos e continuo a partilhar e a concordar com as opiniões expendidas nos textos (as quais já tive oportunidade de escutar atentamente e de viva voz) do nosso camarada e amigo AMM (*).

Joaquim Sabido


Uma das raras fotos de viaturas blindadas, alegadamente ao
ao serviço do PAIGC no final da guerra. Foto (pormenor) do
Arquivo Mário Pino de Andrade / Casa Comum /
Fundação Mário «Soares.
 Clicar aqui para ver o original
2. Comentário do nosso editor LG (*):

No Arquivo Amílcar Cabral, tratado e disponibilizado para o grande público pela Fundação Mário Soares, no portal Casa Comum, não há qualquer referência a viaturas blindadas entregues pelos russos no porto de Conacri... Estamos a falar de 10 mil documentos, que abrangem todo o período da guerra de "libertação",,,

Até finais de 1971, a ex-União Soviética só fornecia armas automáticas, RPG 7, munições, fardamento, medicamentos e coisas assim... E mesmo assim era preciso negociar com o "ciumento" Sekou Touré... que não perdoava a Amílcar Cabral o crescente prestígio e protagonismo a nível internacional e o leque de alianças e apoios (que ia da Suécia à China)...

Felizmente para nós, parte do armamento e das munições deviam ser "obsoletos"... São os próprios e "insuspeitos" cubanos que dizem que 40% das granadas lançadas contra Copá em janeiro de 1974 não rebentavam!... (As culpas tanto podiam ser dos fabricantes como, mais provavelmente, das condições de transporte, armazenamento e operação).

BRDM para o Amílcar Cabral? Devem ser fantasias dos burocratas da 2.ª Rep, para justificar o seu ordenado ao fim do mês e as horas de tédio (e de algum cagufe) passadas em Bissau... A gente sabe como funcionava a nossa "intelligentsia" na Guiné, incluindo os "broncos" da PIDE/DGS... que tinham a 4.ª classe mal tirada...

O PAIGC nunca teve, ao que parece, este tipo de veículos... Os russos terão oferecido, em 1969, 10 BRDM-1 (5 toneladas e meia + 4 tripulantes e depósito de 150 litros de gasolina)... "Sucata" que o Sekou Touré poderá ter disponibilizado, depois da morte de Amílcar Cabral, aos homens do PAIGC... que ele precisava de controlar... Mas aquela viatura devia gastar 100 aos 100!...

Como é que vocês queriam vê-la a passar o "arco de triunfo" em Bissau? Ou a passar a ferro as 3 fiadas de arame farpado de Jemberém?

Quanto às BRMD-2 (versão posterior, melhorada, 7 a 8 toneladas!), era muito menos provável que os guerrilheiros do PAIGC alguma vez lhes tenham posto a vista em cima... a não ser, já reformados, em 1998, quando a Ucrânia ofereceu à Guiné-Bissau quatro veículos desses, se calhar a cair de podres... É que até a caridade tem um preço!

Angola teve 50 destes veículos, mas já em plena guerra da chamada "2.ª independência"... E Angola tinha petróleo e diamantes, contrariamente à pátria de Amílcar Cabral...

O BRMD-2 era um "besta" de 7 a 8 toneladas, com uma tripulação de 4 elementos (condutor, adjunto, comandante apontador de metralhadora pesada...) e um depósito de 290 litros de gasolina, 5,75 metros de comprido, 2 metralhadoras (uma pesada e outra ligeira)... Onde é que o PAIGC tinha gente com unhas para manobrar um "anfíbio" destes? E sobretudo logística? E depois era um alvo fácil para a nossa aviação...

Ler aqui mais dobre o BRDM-2 (em inglês):

(...) O BRDM-2 (Boyevaya Razvedyvatelnaya Dozornaya Mashina, Боевая Разведывательная Дозорная Машина, literally "Combat Reconnaissance/Patrol Vehicle"[5]) is an amphibious armoured patrol car used by Russia and the former Soviet Union. It was also known under the designations BTR-40PB, BTR-40P-2 and GAZ 41-08. This vehicle, like many other Soviet designs, has been exported extensively and is in use in at least 38 countries. It was intended to replace the earlier BRDM-1, compared to which it had improved amphibious capabilities and better armament. (...)
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Nota do editor:

16 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16309: Controvérsias (131): Blindados do PAIGC ? Quem os viu de ver e não de ouvir ?... (António Martins de Matos, ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref)

Guiné 63/74 - P16314: Notas de leitura (860): “Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016 - Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Julho de 2016:

Queridos amigos,
A tese de doutoramento de António Inácio Correia Nogueira incidiu sobre quem eram e como se formaram os Capitães do Fim, e daí um registo de indiscutível importância de testemunhos dos protagonistas.
Escreve Maria Inácia Rezola que "um dos aspetos mais inovadores da tese de António Nogueira reside no facto de o autor ter concebido e preparado um minucioso questionário, combinando perguntas abertas e fechadas, que aplicou a cerca de uma centena e meia de capitães milicianos".
E, mais diante refere que o autor analisa "como um exército, cansado e esgotado pelo esforço de guerra, ao recorrer a incorporação de grande número de milicianos se torna bastante mais permeável à pressão social e contestação estudantil e política que se fazia sentir".
Um obra polémica, irá pôr em confronto aqueles que pugnam pela insustentabilidade contra os que ainda advogam que a guerra podia continuar, e ainda por muito tempo.

Um abraço do
Mário


Para entender a pátria exausta: os Capitães do Fim do Império (1)

Beja Santos

“Capitães do Fim… do Quarto Império”, por António Inácio Nogueira, Âncora Editora, 2016, é o que se chama uma obra de leitura obrigatória para quem combateu na guerra colonial e pretenda conhecer ao pormenor o pensar daqueles a quem depreciativamente chamavam os capitães de proveta.

Na base deste livro está a tese de doutoramento de António Inácio Nogueira, licenciado em Ciências Físico-Químicas, mestre em Ciências da Educação e doutor em Sociologia. Foi comandante da Companhia de Cavalaria n.º 3487. O conteúdo é aliciante, não há razões para despegar a leitura: um vasto olhar sobre o enquadramento histórico e político da guerra, a seleção e formação destes oficiais milicianos destinados ao curso de comandantes de companhia, seguem-se testemunhos, notas de ocorrência, várias polémicas, provas documentais de indiscutível valia para conhecer mentalidades, formas de liderança e visões da guerra. Obra necessariamente polémica, divide radicalmente aqueles que continuam a teimar de que aquela guerra era sustentável e os outros que mostram pelo que passaram e puderam testemunhar que o conflito deixara de ter militarmente qualquer saída, a liderança fundamental daqueles capitães estava comprometida por uma incontornável descrença.

Primeiro, o enquadramento histórico e político, vamos ser precisos, grande parte desta narrativa aparece abordada em inúmeras obras. O autor releva a politização estudantil, o papel desempenhado pelo PCP e por organizações da extrema-esquerda, sublinhando as atividades do MRPP, o PCP (m-l) e alguns setores católicos progressistas. Não terá sido por acaso que Otelo Saraiva de Carvalho e Diniz de Almeida falam da participação destes Capitães do Fim nos preparativos do 25 de Abril. A partir de 1970, aproximadamente, estes capitães vão sendo integrados num exército predominantemente milicianizado. Quanto à importância da companhia, o autor acolhe o depoimento do Coronel Carlos Matos Gomes:  
“A função atribuída pelo Exército à companhia em quadrícula era de tal forma ampla que abrangia todos os aspetos inerentes à guerra e à missão do Exército. A companhia era um Exército em miniatura. O capitão da companhia era um general em miniatura: devia comandar, administrar e fazer política. Para além de tudo isto, as companhias tinham as suas missões, embora de caráter generalista, como, por exemplo defender a sua zona de ação, o que dava aos capitães a responsabilidade, solitária, de decidir o que fazer, onde fazer, como fazer”.
O autor lembra a ação dos milicianos na Guiné em torno do 25 de Abril, aí aparece uma mão cheia de dirigentes do movimento estudantil de Coimbra de 1969. “A decisão de criar o MAPOS (Movimento Alargado de Praças, Oficiais e Sargentos), em 4 de Maio de 1974 – o designado Movimento para a Paz, fio da sua quase exclusiva pertença e contribuiu, significativamente, para a resolução rápida do processo de paz na Guiné”.

Segundo, o recrutamento, e como eram selecionados e preparados estes comandantes de companhia. Anota o autor que em percentagem da população, Portugal tinha mais homens em armas que qualquer outro país Ocidental. Dera-se impulso à africanização dos contingentes, foram chamados os antigos oficiais subalternos que não tinham sido mobilizados e com a Academia Militar com escassos candidatos, o recurso encontrado foi o de estes capitães oriundos do curso de oficiais milicianos. A Escola Prática de Infantaria vai tornar-se num epicentro desta formação de oficiais milicianos. Ponderavam-se várias caraterísticas: medicação, sociabilidade, apresentação/aprumo, espírito de sacrifício, decisão e capacidade física, capacidade de comando, grau de conhecimentos militares. E havia as provas físicas: peso de 5 kg, salto em comprimento, 100 metros de obstáculos, lona ou galho, abdominais, paliçada, muro, vala, entre outras. Assim se formava um alferes miliciano ao fim de 900 horas, dividas por 22 semanas. Em dado passo da guerra a instrução de aperfeiçoamento operacional passou a ser ministrada já em África.

Até aos capitães proveta, ia-se buscar, com atrás se referiu, oficiais milicianos que não tinham ido a África. É em 1970 que o Estado-Maior do Exército define os critérios para seleção, formação e graduação de comandantes de companhia do quadro de complemento. Seriam feitos testes a todos, seguir-se-iam sessões de formação, abria-se a porta a voluntários e a propostos pelos formadores, era por aqui que se começava. Pezarat Correia esteve ligado a todo este processo de formação. É major em Mafra, em 1972, manifesta críticas aos seus superiores, logo à partida a carga horária de 8 horas. A convite o autor, testemunha:
“O ser um bom capitão, na altura, era fundamentalmente ser um comandante de tropas consciente da situação objetiva que estava a viver-se. A maior parte do tempo o capitão estava isolado com a sua companhia e tinha, muitas vezes, que tomar decisões que tornavam o seu poder quase discricionário. Não podia estar à espera de orientações. Vinha de um curso de oficiais milicianos onde era preparado para comandar um pelotão e, de repente, fazia-se uma extensão da sua preparação para comandar uma companhia e obviamente que à partida era um homem que estava mal preparado”.
Há uma certa polémica quanto ao facto destes Capitães do Fim, por falta de formação, terem contribuído para o agravamento do estado da guerra. Há inquiridos que se abstêm de responder e há mesmo quem recuse veementemente tal possibilidade. Segue-se um rol de depoimentos, destaco o de Manuel Monge, Major-General na reforma e que foi capitão na Guiné. Diz ter tido sob o seu comando vários Capitães do Fim e justifica:
“De Junho de 1973 a Fevereiro de 1974 comandei o COP 5, no Sul da Guiné, em Gadamael-Porto. Tive sobre as minhas ordens vários destes capitães. Eu, capitão de cavalaria do quadro permanente fui graduado em major para exercer esse comando. Era uma situação operacional muito difícil. Os meus capitães tiveram um desempenho notável. Depois do desaire de Guileje, segurámos a situação em Gadamael, Cameconde e Cacine e, aí, o PAIGC não avançou significativamente mais".

O autor agora vai recolher depoimentos dos Capitães do Fim.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2016 Guiné 63/74 - P16308: Notas de leitura (858): “Costa Gomes Sobre Portugal, Diálogos com Alexandre Manuel”, editado por A Regra do Jogo, 1979 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16313: Álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (São Domingos, 1967/69) - Parte VI: gente(s)


Foto nº 1 > O José Salvado, com a bazuca, e outro furriel miliciano


Foto nº 2 >O José Salvado, à direita, com outro camarada, furriel miliciano


Foto nº 3 > Autometralhadora Daimler, com o milícia Eugôgo, designado por Inho


Foto nº 4 > Carregando cascas de outra (1)


Forto nº 5 > Carregando cascas de outra (2)


Foto nº 6 > Apanhados pelo clima (1)


Foto nº 6A > Apanhados pelo clima (2)


Foto nº 5 > Natal de 1968... Algumas senhoras à mesa...

Guiné > Região do Cacheu > S. Domingos > CART 1744 (1967/69)

Fotos (e legendas): © José Salvado (2016). Todos os direitos reservados


1. Sexta  parte do álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil arm pes inf, CART 1744 (S. Domingos, 1967/69). 

Recorde-se aqui o percurso militar do nosso camarada, grã-tabanqueiro nº 715 (*):

(i) assentou  praça no RI 5, nas Caldas da Rainha, no dia 16/05/1966, como soldado instruendo do CSM;

(ii) em 21 de agosto daquele ano foi, para o CISMI, em Tavira, tirar a especialidade de Armas Pesadas de Infantaria;

(iii) foi colocado no RI 15, em Tomar, como 1.º cabo miliciano;

(iv) no dia 28 de fevereiro de 1967 foi transferido para o GACA 2, em Torres Novas, para dar a escola de recrutas;

(v) é integrado na CART 1744, que a 20 de maio de 1967, embarca no T/T Uíge tendo como destino a Guiné;

(vi)  é graduado em furriel miliciano na data de embarque;

(vii) chega a Bissau, no dia 25 de maio de 1967, tendo embarcado numa LDM, onde é distribuído o armamento, e navegando toda a noite chega, com os seus camaradas, no dia seguinte ao Cacheu:

(viii) permanece no Cacheu até ao 27 de maio, de manhã,  embarcando depois  rumo até S. Domingos;

(ix) como Companhia de Intervenção, a CART 1744  esteve presente em operações em S. Domingos, Susana, Ingoré, Cacheu e o seu pelotão esteve 15 dias no Sedengal em emboscadas para os eventuais fugitivos de uma grande operação que decorria na mata da Coboiana, no Cacheu;

(x) de regresso a casa, embarquei no T/T Niassa, no dia 15 de maio de 1969, tendo desembarcado em Lisboa no dia 21 do mesmo mês.

(xi)  de 1971 a 1975, foi administrador de posto em Angola;

(xii) vive desde 1984 nas Caldas da Rainha: além de reformado da função pública,  exerce advocacia. (**)
 _________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16091: Tabanca Grande (486): José Salvado, ex-Fur Mil Armas Pesadas de Infantaria da CART 1744 (São Domingos, 1967/69); foi também Administrador de Posto em Angola, é hoje advogado, vive nas Caldas da Rainha, e passa a ser o nosso grã-tabanqueiro n.º 715

(**) Postes anteriores da série > 


30 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16145: Álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (São Domingos, 1967/69) - Parte IV: São Domingos (3): a capital do chão felupe

24 de maio de 2016 > .Guiné 63/74 - P16130: Álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (São Domingos, 1967/69) - Parte III: São Domingos (2): uma vila aprazível e com acessos

19 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16109: Álbum fototográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (São Domingos, 1967/69) - Parte II: São Domingos (1)

16 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16096: Álbum fotográfico do José Salvado, ex-fur mil, CART 1744 (São Domingos, 1967/69) - Parte I: Bissau e Bissalanca, 1968

domingo, 17 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16312: Blogpoesia (461): "Ó mar azul..." e "Brisa verde...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Dois belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos muitos que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós recebemos com prazer:


Ó mar azul!...

Que é feito de ti, extenso mar azul?
Perdi-te ontem, ao amanhecer.
O de Aragão é amplo, e árido.
Só areia e palha seca.

As ondas jazem dunas especadas,
frente aos dardos do sol.
Implacável.

Aqui e ali há oásis verdes,
graças à chuva artificial
que o Ebro dá.

Doce remanso puro
onde apetecia ficar.
Ficou para trás.
Se calhar, para o ano...

Desta janela larga,
Valadolid é urbe.
Em sono,
Ao raiar da aurora.
Já fervilham carros
pelas ruas dormentes.

Mais um pouco e lá irei também.
Rumo ao lar do sul
que deixei há muito.

É acre e doce este inesperado fim
que me trouxe a vida.
Como emigrante à força
e pelo bem dos seus.
Podia ser pior...

Valadolid, 11 de Julho de 2016
7h23m

a nascer o sol

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

************

Brisa verde...

Que boa brisa fresca
vem do mar ao pé.
Faz dançar o milho
a fabricar o pão,
enquanto lhe bate o sol.

Ao raiar da aurora.
Na maré do peixe.
Chegaram os pescadores.
Passaram a noite toda.
Trazem os barcos cheios.
Ó tão rica festa
vê-los a chegar...

Bar "Caracol" 15 de Julho de 2016
9h23m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16289: Blogpoesia (460): "Pintado a carvão..." e "A palmos...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16311: Parabéns a você (1110): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492 (Guiné, 1971/74) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16298: Parabéns a você (1109): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)

sábado, 16 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16310: Carta aberta a... (13): ...ao Senhor Presidente da Republica Portuguesa e Comandante Supremo das Forças Armadas (José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5)

Cemitério Militar de Bissau


1. Em mensagem do dia 14 de Julho de 2016, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos uma Carta Aberta dirigida ao Presidente da República Portuguesa e Comandante Supremo das Forças Armadas, a propósito da sua próxima deslocação à Guiné-Bissau.



CARTA ABERTA

14 de Julho de 2016

Senhor Presidente da Republica Portuguesa e Comandante Supremo das Forças Armadas 

Excelência 

Tomei conhecimento, pela comunicação social, que V. Exª em breve visitará a Republica da Guiné-Bissau que, antes de se tornar independente e reconhecida como tal, foi palco de vastas operações militares, onde tombaram soldados Metropolitanos e Africanos, julgando defender o Território Nacional, honrando o Juramento feito perante a Bandeira Nacional. 

Como antigo combatente naquele território, numa Companhia de Caçadores Africanos, encarecidamente lhe peço, e agradeço que, ao contrário do que os seus antecessores, no mesmo cargo fizeram, não deixe de colocar uma coroa de flores no Cemitério Militar de Bissau, em nome de todos os Combatentes de Portugal, que não o podem fazer pessoalmente, não só por razões materiais mas também económicas.

Nesse momento, quando colocar a coroa e se curvar perante a memória dos nossos camaradas tombados para sempre, terá, obrigatoriamente, centenas de combatentes, ainda que à distância, ao seu lado, perfilados e em continência.

Atentamente 
José Martins 
Fur. Mil. Trms. Inf. 
C.Caç 5 – Canjadude
____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14388: Carta aberta a... (12): ...aos meus netos, neste Dia do Pai (José Martins)

Guiné 63/74 - P16309: Controvérsias (131): Blindados do PAIGC ? Quem os viu de ver e não de ouvir ?... (António Martins de Matos, ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref)

1. Mensagem de António Martins de Matos  [ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref; membro da nossa Tabanca Grande]

Data: 10 de julho de 2016 às 16:03
Assunto: Blindados

Caro amigo:

Vi ontem no canal Memória da RTP a repetição de um episódio do Joaquim Furtado, onde refere a cerimónia da "Independência da Guiné", ocorrida na área libertada do Boé (dizem eles), no Boé da vizinha Guiné-Conacri (digo eu).

Nesse filme aparecem 2 viaturas de transporte de pessoal acompanhando o desfile das forças em parada.

Farto das conversas sobre Migs, (que sim, que não, que talvez…) e porque penso que, até agora, nunca se falou sobre a estória dos blindados PAIGC, talvez seja a altura de abordar o assunto.

Para inicio do tema, já sabemos que "alguém" lhes deu o diesel e um outro "alguém" lhes forneceu os mapas, (tudo pessoal amigo), aqui deixo o repto.

Blindados PAIGC:

Desde quando? Que tipo? Armados? Só para transporte de pessoal?

Empregues onde?

Quem os viu em operações? VIU DE VER e não de ouvir, que ruídos na noite... propagam-se facilmente (moro a 6 quilómetros do aeroporto de Lisboa e, de noite, oiço o C-130 da FAP a pôr em marcha)

Abraços
AMM


2. Comentário do editor:

António, obrigado pela tua sugestão. Boa sugestão de verão, em que é preciso continuar a alimentar o blogue, apesar da modorra e preguicite aguda que nos dá nesta estação do ano...

Na realidade, pouco se tem escrito, aqui,  sobre as tais viaturas blindadas do PAIGC.  Há uma ou outra referência.  Tudo indica que o PAIGC já as tivesse, no final da guerra, estacionadas do outro lado da fronteira (na Guiné-Conacri)... Teria uma ou a outra à experiência, e para "tuga ver" ou "sueco ver".... O problema devia ser a falta de unhas para as conduzir e manobrar... Terão sido usadas (mal) contra Copá (em 7/1/1974) e em Bedanda (em 31/3/1974).n Em Copá custou a vida aio comandante das forças atacantes, Mamadu Cassambá.

O alf mil António Graça de Abreu e o asp mil Miguel 
Champalimaud,  do CAOP1,  em janeiro de 1974, 
no aeroporto de Cufar.  Foto de A, Graça de Abreu (2012)
Uma dessas referências, às famosas viaturas blindadas do PAIGC,  é do nosso amigo e camarada (e grã-tabanqueiro de longa data) António Graça de Abreu, ex-al mil,  CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).

Ele estava perto, em Cufar, quando Bedanda foi atacada, em 31 de março de 1974,  com morteiros 120 mm, foguetões 122 mm, RPG2 e RPG7, armas automáticas e outras armas pesadas em duas viaturas blindadas do tipo autometralhadora:


(...) Cufar, 3 de Abril de 1974

A guerra está feia. Bedanda embrulhou durante todo o dia, um ataque tremendo, doze horas consecutivas de fogo. A festa só acabou à noite com uma espécie de cerco à povoação levado a cabo pelos homens do PAIGC.

Em Cufar, tão próximo, além de distinguirmos nitidamente as rajadas de metralhadora de mistura com os rebentamentos dos RPG, foguetões e canhão, à noite viam-se as balas tracejantes e as explosões no ar.

Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda. Existe uma estrada que vem da Guiné-Conacry, passa junto a Guileje – abandonada pela tropa portuguesa, – entra pela região do Cantanhez e termina em Bedanda. O IN está a utilizar esse percurso para deslocar camiões carregados com todo o tipo de armamento, em seguida é só despejar sobre os aquartelamentos portugueses mais expostos e fáceis de alcançar, como Chugué, Caboxanque, Cobumba, Bedanda, Cadique e Jemberém.

Bedanda é uma povoação grande, a maior do sul da Guiné depois de Catió. Terá uns cinco mil habitantes e ontem já se falava em abandonar o aquartelamento. A população africana saiu da vila, ficando por próximo.

Bedanda levou com mais de sessenta foguetões e centenas e centenas de granadas de RPG, morteiro e canhão sem recuo. Foi medonho, há muita coisa destruída, mas tiveram sorte, contam-se apenas dois feridos, um furriel e um negro que levou um tiro nas costas. A tropa passou mais de doze horas metida nas valas.

Espera-se novo ataque a Bedanda. As NT já foram remuniciadas e há promessa de se enviarem mais militares para defender a terra. Os guerrilheiros também devem ter ido descansar e reabastecer-se.

Todas estas flagelações, apesar de serem destinadas aos vizinhos do lado, deixam marcas em todos nós. São horas, dias, meses a ouvir continuamente o atroar dos canhões da guerra. Eu ando um bocado desconexo, excitado, “apanhado”. Quase não tenho dormido, são as sensações finais, o cansaço, o desamor à mistura com o alvoroço do regresso a casa. (...)

Fonte: António Graça de Abreu, Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007,  p.  220. (**) [Imagem da capa do livro, à direita]


Há um comentário ao Poste P9375 (*) do nosso leitor António Rodrigues (, de Vila Real, e que se apresenta como alferes mil, colocado em Bedanda naquela altura, e a quem convidadamos para "dar a cara" e um dia destes se sentar aqui connosco, à sombra do poilão da Tabanca Grande):

Caros camaradas: Estava colocado em Bedanda aquando do ataque com viaturas blindadas, onde era alferes miliciano. As viaturas com que fomos atacados eram as BTR 152 (soviéticas), equipadas com metralhadoras. A sua quase entrada no perímetro deveu-se ao facto de elas terem atacado a partir da zona onde se situavam as tabancas da população civil e isso impedir que quer as "bazookas" quer os canhões sem recuo [tenham ripostado]. Abraços, António Rodrigues.


Outro António Rodrigues, mas, esse, nosso grã-tabanqueiro, registado, e um dos bravos de Copá, ex-sold cond auto da 1ª CCAV / BCAV 8323 ( Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda, Copá e Buruntuma, 1973/74), autor da notável série "Memórias de Copá" (de que se publicaram pelo menos 6 postes), escreveu aqui o seguinte (**)

(...) Ora nós em Copá, no dia 7 para 8 de Janeiro de 74, enfrentámos o assalto do PAIGC ao nosso aquartelamento, precisamente com dois blindados, um dos quais chegou a entrar dentro do aquartelamento e nós na altura, só com 27 homens (bazucas uma) e muita sorte, lá os conseguimos repelir.

(...) Soube recentemente, através de uma pessoa que se deslocou à Guiné e a Copá e falou com os guerrilheiros da altura, que lhe disseram que, durante os combates na noite de 7 para 8 de Janeiro de 74, com carros de combate do PAIGC, lhes matamos o comandante que os comandava nessa noite. E a minha conclusão é que esta foi mais uma razão para eles retirarem ao fim de 01,10 horas e assim termos escapado a uma quase eminente captura. (...) .


Ramón Pérez Cabrera, em "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba" (edição de 2005), tem um capítulo sobre a guerra na Guiné (pp. 135-184) e a participação  dos "internacionalistas" cubanos.

A Op Abel Djassi [, nome de guerra de Amílcar Cabral], na sua 2ª fase (época seca de 1973/74) é descrita com detalhe: o início da operação começa justamente a 3/1/1974, com  a ofensiva contra Copá, por intermédio de forças de infantaria e artilharia, "apoiadas por quatro blindados (...) BTR".

O comandante das FARP era Mamadu Cassamba que, "tripulando um dos BTR, penetrou temerariamente na instalação militar"... Teve o azar do seu BTR  acionar uma mina A/C que lhe causou a morte instantânea. As forças do PAIGC conseguiram resgatar o veículo e, dentro dele, o cadáver do seu comandante.

Uma das raras fotos de viaturas blindadas, alegadamente ao
ao serviço do PAIGC no final da guerra. Foto (pormenor) do
Arquivo Mário Pino de Andrade / Casa Comum /
Fundação Mário «Soares. Clicar aqui para ver o original.
  

Face a esta grande contrariedade, o comandante da Frente Leste, Paulo Correia, mandou suspender os assaltos com a infantaria, continuando com as flagelações da artilharia, durante todo o mês de janeiro, até que as NT, como é sabido, abandonam Copá em 12/13 de fevereiro  de 1974, por ordem do Com-Chefe.

Nesta 2ª fase da Op Djassi (a primeira tem a ver como os três G - Guidaje, Guileje e Gadamael, maio / junho de 1973, ainda no tempo do Spínola), Ramon Pérez Cabrera diz que participaram "14 internacionalistas cubanos", um dos quais, um jovem oficial que tinha partido de Cuba por via aérea em 13/12/1973, e que vai  encontrar a morte nas imediações de Copá (ou de Canquelifá ?),  às 8 da manhã do dia 8 (ou 7 ?) de janeiro de 1974, surpreendido por tropas portuguesas.

O seu corpo terá do  "levado para Buruntuma", mutilado e exumado, diz Ramón Pérez Cabrera.   [Tratar-se-ia, quanto a nós,  da mesma emboscada em que terá sido apanhado vivo, o caboverdiano Jaime Mota, 1940-1974, alegadamente executado depois. Ramón Maestre Infante terá sido o último dos 9 internacionalistas cubanos a morrer na "guerra de liberación" da Guiné-Bissau. Enfim, mais um caso para alimentar a nossa série Controvérsias (***)], e o nosso Jorge Araújo vai, por certo, querer explorar, ele que agora tem em mãos o "dossiê médicos cubanos"..


Excerto de: Ramón Pérez Caberra - "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba" (edição de 2005), p. 1979 [Com a devida vénia...Sublinhados nossos]  [Extensas partes do livro podem ser consultadas, em modo de pré-visualização, no portal da Kilibro]
______________

Notas do editor:

(*) 20 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9375: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (5): ): "Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda [, em 31 de março de 1974]"...

(**) 23 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7320: Controvérsias (111): Copá: Quero aqui repor a verdade dos factos! (António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 8323)

Vd. também postes de:

4 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15327: Louvores e condecorações (10): Os bravos Copá, da 1ª C/BCAV 8323/73, que resistiram durante mais de um mês ao cerco do PAIGC

7 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14128: Memórias de Copá (3): Janeiro de 1974 (António Rodrigues, ex-sold cond auto, 1ª CCAV / BCAV 8323, Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda, Copá e Buruntuma, 11973/74)

(...) 7 de janeiro de 1974: o dia mais infernal por que já passei

(...) Novo ataque às 23h50 junto ao arame farpado, com apoio de viatura blindadas e artilharia... Mas Copá resistiu!

E as viaturas encaminhavam-se a toda a força na direcção de Copá e cerca das 23 horas e 50 minutos tudo parou e o ruído deixou de se ouvir, (a falta de iluminação facilitou-lhes as manobras e a instalação à vontade de todo o seu dispositivo) e ficamos na expectativa à espera de mais um momento terrível daquela noite e o meu pressentimento veio a concretizar-se, era exactamente meia noite e dez minutos quando se ouviu o já típico rebentamento que dava início aos ataques do inimigo.
Aí teve início mais uma hora e cinco minutos horrorosos, infernais e terríveis de enfrentar, aí o inimigo estava 10 metros à nossa frente e trazia uma táctica que estava muito bem montada, tinha junto ao arame farpado 3 secções, separadas alguns metros, o que lhe permitiu fazer fogo de armas ligeiras ininterruptamente durante 1 hora e 5 minutos, porque o fazia por secções e quando uma estivesse sem munições a outra estava já preparada para disparar e assim sucessivamente, mas para além destas secções de homens armados de metralhadoras tinham um auto-blindado (tipo ZIG Russo) junto a uma das secções a apoiá-la com os disparos do seu canhão e na retaguarda destas secções tinham toda a artilharia com que nos tinham atacado durante a tarde, esta encontrava-se a cerca de 1 Km também apoiada por outro auto-blindado do mesmo tipo. (...)

(***) Último poste da série > 8 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15832: Controvérsias (130): O "nosso Cabo Miliciano", que em 1965 ganhava 90 escudos de pré (34,24 euros, hoje), fazendo o serviço de sargento... (Mário Gaspar)

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16308: Notas de leitura (859): “Costa Gomes Sobre Portugal, Diálogos com Alexandre Manuel”, editado por A Regra do Jogo, 1979 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,
Este foi o primeiro livro em que o marechal Costa Gomes deu a cara a um entrevistador, falando da génese do MFA, da evolução da guerra colonial, dos acontecimentos da descolonização e de todas as vicissitudes maiores à volta dos 21 meses em que permaneceu em Belém. Continua por merecer um cabal esclarecimento quais as consequências que as instâncias superiores da hierarquia militar previam para a retração da manobra na Guiné, no fundo estava-se a aprovar uma retração também com consequências bem dramáticas para todas as populações que viviam na orla das duas fronteiras. Mas o que fica bem claro nesta documentação é que se diz sem ambiguidades que se vivia já numa completa exaustão de meios e recursos, não era possível, no curto prazo, responder à superioridade em armamento do PAIGC. Trata-se de um episódio que acompanha a agonia do regime e é explorado pelo descontentamento militar. Por isso mesmo, merecia ser estudado por peritos competentes sobre o que era a Guiné em 1973 perante o poder ofensivo do PAIGC.

Um abraço do
Mário


O Marechal Costa Gomes, a Guiné e a descolonização

Beja Santos

O livro “Costa Gomes Sobre Portugal, Diálogos com Alexandre Manuel”, A Regra do Jogo, 1979, foi a primeira obra que o ex-Presidente da República decidiu dar a cara para falar da criação do MFA, do colonialismo e da descolonização e dos seus 21 meses em Belém. A obra anexa, entre outros documentos, o texto sobre a situação militar na Guiné em 1973 e a tomada de posição de Costa Gomes no Conselho Nacional de Defesa.

Não vendo razão para se voltar aos dados biográficos do Marechal, vale a pena entrar diretamente nas questões coloniais e ouvi-lo falar dos acontecimentos associados à guerra da Guiné.

Começa o jornalista por perguntar-lhe se tentou negociar com Amílcar Cabral uma solução de compromisso, ao que ele responde: “Não tentei qualquer espécie de negociação com Amílcar Cabral. Fiz apenas alguns esforços para entrar em diálogo com ele, depois que, após uma visita à Guiné, tomei consciência da efervescência existente entre a população local. Avisei, então, o Governador de que algo de grave poderia acontecer de um momento para o outro, caso não fossem tomadas medidas apropriadas. Só posteriormente tentei entrar em contacto com o Engenheiro Amílcar Cabral". Questionado sobre a quem recorrer, também informou: “Amílcar Cabral tinha a mãe em Bissau. Foi através da mãe e do então encarregado do plano de construção de casas na periferia da Guiné com o Senegal que entrou em contacto com ele”. E confessa que as diligências não surtiram efeito.

Os acontecimentos de 1973 na Guiné foram diretamente acompanhados por Costa Gomes e transmitidos ao decisor político, em sede própria.

Em 22 de Maio, Spínola escreve a Silva Cunha uma carta alarmante: “Aproximamo-nos, cada vez mais, da contingência do colapso militar”. No seu todo, a carta tem um teor lancinante. Depois de referir o “súbito agravamento da situação militar” e a sua “constante deterioração” a um ritmo de consequências muito graves, Spínola não deixa de aludir que a solução do problema estava de longe de situar no campo militar, “onde o In manterá sempre a supremacia em potencial de guerra”, mostrava-se também altamente preocupado “pelo rumo que o problema vai tomando”.

Poucos dias depois (26 de Maio), “face ao momento muito crítico”, perante a ofensiva geral em que o PAIGC se apresentava “forte em todas as frentes”, Spínola considerava indispensável que os chefes militares evitassem, por todas as formas, “segundas Índias e consequente desprestígio das Forças Armadas”.

A correspondência entre Spínola e Costa Gomes assume também tons patéticos. O Governador e Comandante-Chefe regressado de uma visita a Gadamael-Porto e Cacine, insistia, uma vez mais, no estado “confrangedor” de “desmoralização da parte dos quadros e tropa de linha”.

Na véspera, Lisboa tinha sido informada do “bombardeamento maciço” de que havia sido alvo Gadamael-Porto, designadamente o quartel.

Costa Gomes desloca-se à Guiné e confirma a opinião do Comandante-Chefe. Regressa a Lisboa e convoca de urgência uma reunião do denominado Conselho Nacional de Defesa e sobre a situação da Guiné faz com que fique exarado em ata:
“O desenvolvimento da manobra em curso com base na manutenção do atual dispositivo só seria possível mediante a disponibilidade de volumosos meios adicionais que permitissem o reforço adequado das guarnições de fronteira e o oportuno empenhamento e recuperação de reservas em ordem a equilibrar o potencial nos pontos sobre maior pressão do In. Todavia, o teatro de operações não poderá contar com reforços adequados de meios, por absoluta impossibilidade de os fornecer atualmente; e em tais condições, a conservação da iniciativa e da liberdade de ação indispensáveis à defesa da soberania nacional no teatro de operações só é possível à custa de uma conversão da manobra, modificando o dispositivo em ordem à economia de meios por concentração de forças, a que por tal forma seria conferido um maior dinamismo e mais ampla capacidade de reação”.
Continuando, Costa Gomes acentuou a importância, em qualquer situação, da liberdade de ação e da iniciativa, salientando que na perda da iniciativa está sempre a origem do insucesso militar, pelo que não poderão ser dadas interpretações menos corretas nem pessimistas a qualquer manobra que, adotada de plena consciência e decidida com oportunidade, antes constitui uma manifestação de iniciativa tendente a conservá-la.

Obviamente que Costa Gomes discutira detalhadamente esta retração em Bissau com Spínola, que inicialmente a aprovou e mais tarde a contestou, e com tal pretexto pediu a sua substituição a Marcello Caetano. Nesta reunião magna de militares e de políticos, Costa Gomes valorizou esta manobra como a única consistente para resistir ao crescente ritmo do aumento de potencial do In. E ficou igualmente exarado em ata:
“A redução do número de guarnições do dispositivo, dando-lhe dimensão adequada em termos de potencial, apresenta-se como imperativo da economia de meios não só terrestres como navais e aéreo. Por tudo isto não vê outra alternativa se não a adoção de uma manobra visando o encurtamento da área efetivamente ocupada com vista ao aumento da capacidade defensiva das Nossas Forças pela dinamização daí resultante para as posições do novo dispositivo, evitando deste modo a contingência de aniquilamento das guarnições de fronteira que se impõe a todo o transe evita, atentas as suas repercussões militares e políticas, externas e internas”.

Tirando um documento subscrito por Carlos de Matos Gomes acerca desta retração, não conheço quaisquer outros comentários sobre os efeitos de tal retração que nos afastaria ao longo das centenas de quilómetros das fronteiras da Guiné-Conacri e do Senegal, com o corolário de migrações maciças de todas as populações para longe do alcance dos morteiros 120. Mas seria bom conhecer as conjeturas dos peritos em estratégia para os efeitos que teria igualmente tanto território abandonado para que o In explorasse novas formas de guerra semi-convencional, trazendo os seus cargos para lançar mísseis sobre os aquartelamentos e reordenamentos. A par deste problema tínhamos um outro, que não pode sair do domínio da especulação: a Organização da Unidade Africana preparava um chamamento para se criar um exército que expulsasse o “invasor” de um país independente e reconhecido pela generalidade das Nações Unidas.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16304: Notas de leitura (857): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte IV: depois de 3 meses em tratamento do paludismo, em Conacri, o médico vai para a frente leste, em junho de 1967, regressando a casa em janeiro de 1968

Guiné 63/74 - P16307: Convívios (761): Convívio do pessoal das CCAÇs 3327 e 3328, a levar a efeito no próximo dia 23 de Julho de 2016, na Batalha (José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327)



CONVÍVIO DO PESSOAL DAS CCAÇs 3327 E 3328

DIA 23 DE JULHO - BATALHA

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 14 de Julho de 2016, dando-nos notícia do Convívio do pessoal das CCAÇs 3327 e 3328, a levar a efeito no próximo dia 23, na Batalha.
 
Amigos e camaradas,
Os meus cumprimentos

A CCaç 3327, em parceria com a CCaç 3328, leva a efeito no próximo dia 23 de Julho o seu convívio anual.

Os interessados em participar neste convívio podem-no fazer até ao dia 19 (Terça-Feira), através dos seguintes contactos do ex-Fur Mil João Cruz:
284 947 081 e 967 070 680
casapintocruz@sapo.pt

Restaurante Pérola do Fétal
Estrada Nacional 356
Celeiro 2440-208 Reguengo do Fetal
Batalha - Portugal

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Ementa

Aperitivos:
Martini, Águas, Sumos, Porto, Favaios, Vinhos

Entradas no jardim:
Grelhados da matança (temos uma churrasqueira onde grelhamos morcela de arroz, febras e lentrisca), Presunto, Queijo e Enchidos, Pataniscas de Bacalhau, Salada de Feijão-Frade com atum, Orelha de Coentrada e Salada de Polvo

Sopas:
Sopa de Peixe e Sopa de Nabiça

Prato de Peixe:
Bacalhau à Casa (Bacalhau Assado no Forno à Posta, em Crosta de Broa de Milho, acompanhado com Batatas a Murro e Migas)

Prato de Carne
Medalhões de Vitela no Tacho

Doces:
Bolo de Chocolate regado com molho de Frutos Silvestres

Bebidas:
“Real Batalha” Tinto, “Ala dos Namorados” Branco, “Neto Costa” Verde, Águas, Refrigerantes e Cerveja

Café e digestivos

Bolo de Comemoração e Espumante

Concentração e Hora Social: 10:30
Preço: 25,00 euros por pessoa

Sugestões para chegar ao local:
1 - Tomar a estrada mais conveniente para chegar a Leiria. Tomar a estrada 356 (Estrada de Fátima) para o Celeiro, Reguengo do Fétal)
2 – Tomar a estrada mais conveniente para Fátima. Tomar a estrada 356 para o Celeiro, Reguengo do Fétal.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de julho de 2016 Guiné 63/74 - P16280: Convívios (760): Almoço/Encontro do pessoal da CART 564 (Guiné, 1963/65), dia 16 de Julho de 2016, em Paramos - Espinho (Júlio Santos, ex-1.º Cabo Escriturário)