domingo, 18 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18430: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (52): Evocação da minha guerra no Leste da Guiné, para uso da jovem luso-francesa Adelise Azevedo, pela sua dedicação à memória da saga de combatente do seu avô, José Alves Pereira, da CCaç 727 (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 17 de Março de 2018, evocando a sua estada no Leste da Guiné no tempo da CCAÇ 727 do avô da nossa pequena amiga Adelise Azevedo:


Evocação da minha guerra no Leste da Guiné, para uso da jovem luso-francesa Adelise Azevedo, pela sua dedicação à memória da saga de combatente do seu avô, José Alves Pereira, da CCaç 727

A guerra independentista transformara a atractiva, acolhedora e então Guiné Portuguesa numa filial do inferno, Salazar e Amílcar Cabral os seus diabos…

Fui (e continuo a ser) camarada militar do teu avô: partilhámos das mesmas atribulações da guerra, no leste dessa ex-colónia do Império Português.

A Companhia de Caçadores 727 a que pertenceu o teu avô foi para o sector de Nova Lamego (actual Gabú) em princípios de 1964 e o meu batalhão (Batalhão de Cavalaria 705) foi em Maio do mesmo 1964. Amílcar tinha desencadeado a luta na Frente Leste, uma região de savana, e o PAIGC, reforçado com pára-quedistas da base de Kandica, do exército regular da Guiné-Conacri, a 1,5 km da fronteira de Buruntuma, manobrava à maneira de exército e com muito à-vontade, praticamente só importunados pela Força Aérea.

A minha Companhia de Cavalaria 703 foi largada em Nova Lamego, numa ponte aérea de 2 aviões Dakota, em missão de “intervenção às ordens do Comando-Chefe”, já a CCaç 727 e o teu avô penavam, em quase isolamento, por Canquelifá, Piche e Camajabá; depois de termos cumprido conjuntamente a missão de conter e refrear o ímpeto do PAIGC, a minha CCav 703 e eu fomos penar para Camajabá e Buruntuma.

A nossa primeira operação conjunta foi assim: a CCaç 727 mandou um pelotão (cerca de 30 elementos) em 2 Unimogs a Nova Lamego; fizera constar uma missão de reabastecimento, mas era um ardil, o PAIGC caiu nele e investiu toda essa força numa grande emboscada no itinerário Piche-Canquelifá, convencido que o aniquilaria, no seu regresso.


 Itinerário Piche-Canquelifá - © Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

Naquela noite reuniu-se-nos em Nova Lamego um grupo de combate do Batalhão de Cavalaria de Bafatá, creio que era o “Sete de Espadas”, dotado de uma autometralhadora Fox e um granadeiro White, formou-se uma força de combate de cerca de 150 amadurecidos operacionais e um comboio de viaturas, que foi escoltar o regresso dessa malta a Canquelifá, com a autometralhadora a encabeçar a coluna e o granadeiro a fechar-lhe a retaguarda.

Um bazuqueiro do PAIGC surgiu no eixo da via, disparou frontal à Fox, matou o seu condutor, quase lhe invertendo o sentido da marcha, foi logo cortado a meio pelo apontador da sua metralhadora 12.7, que continuou a varrer a zona, seguiu-se meia-hora de inferno de rajadas, explosões de granadas de mão e de RPG, visando o blindado e o camião que se seguia; mas o comandante da emboscada não se havia apercebido da dimensão da coluna (creio que seria o nosso ex-camarada Domingos Ramos, herói nacional da Guiné-Bissau) e a tropa infligiu-lhe uma implacável derrota, por uma rápida manobra de contra-emboscada.

O rebentamento das granadas dos bazuqueiros da tropa fazia saltar boinas vermelhas acima do capim, que pertenceriam aos pára-quedistas da Guiné-Conacri; a gritaria dos dois lados foi medonha; a manobra da exploração do sucesso foi diferida; e a Força Aérea encarregou-se de “acompanhar” a sua retirada de vivos, mortos e feridos, até além fronteira. Dizia-se que, a partir desse confronto, o presidente da Guiné-Conacri proibiu os seus militares de voltar a pisar a linha de fronteira.

A ressaca estava terminada e na valeta encontrou-se um atónito guerrilheiro, a tentar desencravar a sua Kalash, que se identificou como ex-soldado e filho de um régulo de Farim e como guerrilheiro por coerção; deu um bom faxina da messe dos Oficiais e a tropa promoveu-o a primeiro-cabo.

O pelotão e os 2 Unimogs regressaram a Canquelifá e a tropa da escolta regressou a Nova Lamego, com um morto e alguns feridos.

Esta narrativa é uma síntese do contado pelos camaradas intervenientes, porque não participei nessa operação: eu e a minha secção fomos destacados a fazer segurança à famigerada jangada do Ché-Ché.



Guiné > Região do Boé > Rio Corubal > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 > A famigerada jangada que servia para transporte de tropas e material, numa  das últimas travessias, aquando da retirada de Madina do Boé. 

A foto, histórica, é do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio [Augusto Esteves ] Felgas (1920-2008). Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, n.º 5,  abril-junho 1969, pág. 15 (publicação editada pelo Instituto Camões; o n.º 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).

 
Entre Maio de 1965 e Maio de 1966, desenvolvemos grande actividade operacional em conjunto, pela região de Canquelifá, Madina do Boé, Buruntuma e ao longo do rio Piai, na fronteira Senegal/Guiné-Conacri, o corredor por onde o PAIGC infiltrava guerreiros e os reabastecimentos para as frentes leste e norte; numa delas, que não nos correu muito bem, tivemos o reforço do Grupo de Comandos “Os Diabólicos”, comandados pelo camarada Virgínio Briote, co-editor do nosso blogue.


Guiné > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos, completo, em frente à camarata do Grupo. Ao centro, na 1.ª fila, o 6.º a contar da esquerda, o comandante do grupo, alf mil Virgínio Briote. Na ponta direita, de pé, o srgt mil Mário Valente. Na 2.ª fila, de fé, na extrema direita, o 1.º cabo Marcelino da Mata.

Na altura, nos nossos meios constava as quadrículas de Canquelifá e de Buruntuma, na área de comando de Domingos Ramos, como as mais violentadas e desassossegadas do dispositivo militar da Guiné, em paralelo com as de Guileje e Bedanda, na área de comando de Nino Vieira.

Rendo homenagem à malta da CCaç 727: mocidade fixe, hospitaleira, generosa e soldados de comprovada valentia; em dever, recordo que as nossas escoltas, no regresso de reabastecimentos a Nova Lamego, Bafatá ou Bambadinca faziam sempre alto em Piche: esperavam-nos uma cerveja fresca, um pão quente de excelente qualidade e palavras de incentivo, antes de nos fazermos, com o coração em altas palpitações, ao troço dessa “estrada do Vietname”, até Buruntuma, que era uma sementeira de minas anticarro e antipessoal.

Mas a CCaç 727 era também desafortunada, comparativamente à CCav 703; dizia-se que “por cada tiro cada morto ou ferido”. Nos dois anos que levamos de permanente actividade operacional, teve 18 mortos enquanto a nossa apenas 1 – e estava adido (em Cufar). Influência dos seus comandantes e das suas idiossincrasias?

Na altura conheci o comandante da CCaç 727, então capitão de Infantaria Evónio de Vasconcelos, alma de poeta e oficial de tratamento lhano, já falecido, que virá a ser um influente “capitão”, nos sucessos do 25 de Abril e de 25 de Novembro.

O Comandante da CCav 703 era o então Capitão de Cavalaria Fernando Lacerda, oficial de vocação, personalidade sólida, tinha feito uma comissão na Índia, fez essa e outra na Guiné, foi Comandante da PSP de Moçambique e comandou a segurança à construção da barragem de Cabora-Bassa, despediu-se cedo do activo, mas não se despojou do espírito da Cavalaria; está vivo e recomenda-se.

Quando comandei o destacamento de Camajabá, em Abril/Maio de 1966, interagi com o alferes que comandava o destacamento da CCaç 727, na Ponte Caium, um lisboeta muito prestável, cujo nome não me recordo.

Talvez tenha sido monitor do malogrado alferes da 727, António Angelino Teixeira  Xavier, na 1.ª recruta de 1964, em Janeiro e Fevereiro, no RI 13, Vila Real.

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PS - Se a Adelize (ou a mãe, Isabel Pereirea) me comunicar o endereço postal, terei o gosto de lhe enviar, pelo correio,  o livro sobre a guerra da Guiné, da minha autoria, como oferta. [Imagem da capa, à direita]
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18422: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (51): O nosso camarada Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) propõe-se ajudar a jovem luso-francesa Adelise Azevedo, de 14 anos, com materiais para o seu trabalho de EPI sobre "La guerilla en Guinée (1963/74)"... E quem mais pode dar uma mãozinha?

sábado, 17 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18429: Convívios (843): 36º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 22... Há já 42 inscrições, o prazo termina 3ª feira, 20, de manhã... Recorda-se a ementa: cabrito (, certificado...não, não é o "cabrito-pé-rocha" dos tascos do Pilão!)



Gráfico - Nº de inscritos por concelho (=n42)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)



Lista provisória dos inscritos no 36º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, a realizar no próximno dia 22, 5ª feira, em Algés, no restaurante "Caravela de Ouro"



1. Mensagem do régulo adjunto da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende:


Caros amigos Magníficos, como já tinha anunciado, aqui a lista (provisória) dos inscritos para o nosso 36º Convívio, a realizar no próximo dia 22 de Março, quinta-feira. 

Vejam se estão inscritos e quem quiser participar poderá fazê-lo até terça-feira de manhã. 

Além do nosso Magnífico António Alves que não come cabrito, se mais alguém quiser outro prato, diga. Neste momento somos 42, mas penso que ainda  iremos chegar à meia centena.

Um abraço e até lá,

Manuel Resende


2. Ementa, preço e inscrições (até 3ª feira, 20, de manhã)

Guiné 61/74 - P18428: Os nossos seres, saberes e lazeres (257): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 19 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
O viandante programou associar um passeio por artérias bem conhecidas e visitar exposições discretas mas que lhe suscitaram enorme interesse: a vida e adaptação dos imigrantes que aqui batem à porta à procura de vários sonhos, desde o trabalho, uma vida em paz, um futuro para os filhos, e percorrer em grandes passadas a história da civilização e da cultura à volta do livro, da escrita e das bibliotecas.
Um itinerário que garantiu uma enorme satisfação. Sempre que se detém junto de um edifício que se viu tantas vezes, há sempre a descoberta de diferentes pormenores. Como diz José Saramago, a viagem nunca acaba, o que se vê no Verão não é o que se vê no Inverno, daí o aliciante de viajar todo o ano, em mangas de camisa ou de gabardine, é o sobressalto da descoberta que empolga e dá ânimo para partir e regressar, enquanto temos forças e a curiosidade toma conta de conta de nós.

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (7)

Beja Santos

O viandante confessa as suas limitações: nunca vira algo de tão singelo, de uma modéstia tão tocante, e de tão grande dignidade no chamado diálogo intercultural, a exposição “Bruxelas: terra de acolhimento”, patente no Museu Judaico da Bélgica. Em menos de dois séculos a antiga capital do Brabante transformou-se numa cidade-mundo, por ali cirandam gentes de 184 nacionalidades. Quem organizou a exposição andou a remexer nos arquivos da polícia dos estrangeiros que conservam dois milhões de dossiês individuais de estrangeiros chegados à Bélgica depois de 1839; mas bateu-se à porta de muita gente, pois exibem-se objetos pessoais, múltiplos testemunhos provenientes de quatro cantos do mundo. Uma exposição que abre campo à reflexão das migrações contemporâneas, à fixação dos diferentes povos pelos bairros de Bruxelas e por outras regiões do país, testemunha-se como é viver em Bruxelas ou noutro ponto do país, não se foge ao tabu colonial belga e à vida terrível de minorias perseguidas como os albaneses e os republicanos espanhóis e os judeus que acabaram deportados. Vejam-se estes refugiados políticos albaneses a chegar à gare de Namur em 1954 e um casamento judaico em Bruxelas, em 1942.



Antes dos judeus serem martirizados chegaram à Bélgica famílias de republicanos espanhóis, com o franquismo atravessaram os Pirenéus, nem sempre foram bem acolhidos em França, aqui chegaram e constituem hoje uma das maiores comunidades de emigrantes. A exposição permite observar onde, nesta terra de acolhimento, vive, por que bairros se repartem. Porque há os bairros pobres, caso de Molenbeek ou Schaerbeek. Marroquinos, cipriotas ou turcos procuram alojamento e viver em comunidade. Como em tudo na vida, assim que os emigrantes começam a prosperar abandonam os bairros pobres e escolhem as comunas exteriores, a pobreza permite redes de socialização, de trabalho e até de coesão religiosa. A exposição tem pesquisas inteligentes como o estudo de uma imigração espanhola gravada em vinil, os restaurantes espanhóis, dos anos 1950 para os anos 1960 fervilhavam de flamencos, eram espetáculos abrilhantados por trabalhadores como canalizadores ou gente da construção civil que à noite vinha aqui ganhar uns cobres.



Anoitece, aquele céu aguarelado deixa o viandante eufórico, a igreja em frente é a de Notre Dame de la Chapelle, não é a primeira vez que se diz que aqui está sepultado um dos maiores génios da pintura europeia, Bruegel, o Velho. Como estamos em maré de peregrinação, de ver o que já está muito visto mas que é eternamente belo para quem ama esta paisagem citadina, avança-se agora para o centro, para contemplar aquela arquitetura onde há sempre um pormenor a descobrir, mais não seja a elegância de uma fachada onde destoa uma vitrina, pelas formas ou pelo colorido. É este o caso, não é dos piores, há muitíssimo mais agressivo, mas dá que pensar porque não existem regras que permitam aos comerciantes escolher modelos de vitrinas e portas compatíveis com o esplendor arquitetónico.



No Monte das Artes há um edifício muito pouco procurado pelos turistas, é a Biblioteca Real da Bélgica, o viandante vem à procura de uma exposição intitulada Librarium, é um espaço de descoberta único, uma aliciante viagem pela história do livro, das escritas e das bibliotecas, selecionaram documentação espantosa, percorremos a civilização e a cultura com os seus livros, códices e manuscritos, moedas e tudo o mais que tem a ver com a história do livro e até o seu restauro. É um espaço cheio de vida, com pequenos concertos, muitos colóquios, visitas guiadas às áreas de restauro. O viandante não pode deixar de visitar as recordações aqui depositadas de um Prémio Nobel da Literatura, Maurice Maeterlinck, o único belga galardoado. Para quem já veio de outras exposição singela e talentosamente apresentada, sai-se daqui com a barriga cheia.



Monte das Artes! Também por aqui se passou vezes sem conta, seja para ir ao Palácio das Belas Artes, um pouco mais abaixo ou subir até ao Museu de Arte Moderna, onde tem autonomia o Museu Magritte, ou passear pelos jardins da Albertina. Veja-se o que está escrito neste guia que acompanha o viandante sobre os percursos de Bruxelas: “Familiarize-se pouco a pouco e olhe com uma outra perspetiva para os jardins da Albertina. À beira do Boulevard l’Empereur, que cerca o Monte da Artes, aperceba-se da transformação urbana e arquitetónica provocada pela construção da ligação que aproximou a estação de Midi à estação do Nord. Volte para trás, torne a subir os jardins e siga pela rua Ravenstein para chegar ao n.º 23 e descobrir o Palácio das Belas Artes”.

Por hoje já chega, o viandante sente-se consolado por continuamente ter a felicidade de percorrer estas ruas, ruelas, avenidas e boulevards, praças e pracetas, largos e impasses da desconcertante Bruxelas. Há quem diga que a cidade tem muito pouco a oferecer, é pura mentira, como estas imagens ilustram.
Anoiteceu profundamente, o viandante regressa a penates, melancólico, dentro em breve terá de partir desta cidade que lhe dá doce acolhimento.




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18398: Os nossos seres, saberes e lazeres (256): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18427: Parabéns a você (1405):José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Março de 2018 > Guiné 61/74 - P18421: Parabéns a você (1404): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 16 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18426: Fauna & flora (14): quando os animais emigram para o vizinho Senegal... (Cherno Baldé)


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > A caminho de Djufunco > 9 de maio de 2013 >  O deserto do Cacheu

Foto (e legenda): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cherno Baldé, Bissau
1. Comentários de Cherno Baldé, nosso colaborador permanente,  ao poste P18410 (*):

Caros amigos,

É muito triste, mas é verdade, torna-se cada vez mais difícil encontrar animais selvagens, de um modo geral e em particular macacos, no território da Guiné-Bissau. O caso dos babuínos deve ser mais evidente mas não é único.

Para além das razões apontadas por Luís Graça no seu comentário ao poste anterior, com os quais concordo plenamente, deve-se ter em conta, também, a emigração dos mesmos para os territórios vizinhos, nomeadamente para o vizinho Senegal (Casamança, Parque Niokolo-Koba e outros) onde foram criadas condições favoráveis para a vida dos animais selvagens, com infraestruturas de retenção de águas da chuva bem como poços equipados com painéis e outros equipamentos (sistemas solares) de água,  disseminados em vários pontos do território inclusive na savana. 

A propósito deve-se dizer que o Senegal é um pais com uma visão económica e política virada para o futuro e que trabalha com uma estratégia de longo prazo desde os anos 70/80. Mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, são algumas dessas realizações (construção de barragens e pontos de retenção das águas fluviais e das bolanhas) aliadas à incúria e à ausência de Estado digno desse nome no país que se chama República da Guiné-Bissau,  é que estão a contribuir para aniquilar a vida selvagem (fauna e flora) das terras baixas mais ao sul das suas fronteiras e os efeitos são por demais evidentes e cada vez suas consequências serão mais alarmantes.

2. No passado mês de Fevereiro, o antigo Presidente do Senegal [Abdoulaye Wade,]  publicou uma carta aberta sobre a questão da construção de uma barreira de proteção  na zona marítima da cidade de St. Louis, antiga capital do Senegal, ameaçada de destruição pelas vagas marítimas que já consumiram parte importante da velha cidade. A publicação da carta tinha sido feita na sequência da visita do presidente francês, Emanuel Macron,  que prometeu o financiamento do empreendimento com largos milhões de euros a fim de recuperar e proteger a antiga capital.

A carta foi publicada no site senegalês www.seneweb.com, tendo sido alvo de muitos comentários a nível do Senegal. Na altura e aproveitando a deixa, inseri um comentário mostrando a incoerência das autoridades do Senegal relativamente aos argumentos postos em relevo para mostrar as sua preocupações ecológicas e dos cuidados a ter em relação à natureza a nível planetário quando na verdade nem se preocupavam com os vizinhos mais próximos, como é o caso da Guiné-Bissau, cujas regiões do Norte e do Leste sofrem as consequências de ações humanas realizadas no outro lado da fronteira, cujo conteúdo vou copiar em baixo seguido da sua tradução em português.

Comentário inserido no site www.seneweb.com, a propósito de uma carta aberta de Abdoulaye Wade, antigo Presidente do Senegal, sobre os problemas ecológicos na nossa sub-região e no mundo:

"Le sage conseil de M. Abdoulaye Wade, ancien Président du Sénégal, semble refléter une préoccupation écologique d'une grande dimension humaine et universelle, mais il oublie que des importants barrages de rétention d'eau ont été construites le long de la frontière sud du Sénégal, en Casamance, qui ont déjà des effets qui se font sentir durement sur le territoire de la Guinée-Bissau, avec la mort des rivières et bas-fonds, causant de grands dommages à la nature, la faune et la flore qui meurent lentement à cause de l'insuffisance de l'eau qui, du territoire sénégalais (Casamance), en route jusqu'à la mer, alimentait en chemin toutes les espèces de vies qui habitaient ces territoires, et qui aujourd'hui sont simplement obligés d'aller tres loin pour trouver les éléments vitaux qui constituent le base de leur survie.

Les effets combines des barrages d’Anambé et de Ndiandouba sont en train de tuer la vie naturelle au-delà de la frontière et je ne crois pas qu’ont été effectué des études scientifique d'impact environnemental sérieux, comme il tente de nous démontrer, et non plus de préoccupation humanitaire légitime par rapport au partage équitable des eaux afin de sauvegarder la vie animale, forestière et humaine de l'autre côté.

Tout ça pour démontrer que le discours de l'ancien président du Sénégal dans sa lettre ouverte ne peut qu'être hypocrite et populiste, imprégné d'un faux humanisme qui n'a en réalité rien. D'ailleurs, je ne crois pas que leurs préoccupations soient partagées avec les autres pays, notamment occidentaux, qui ont déjà fait mille et une constructions le long des côtes de l'Atlantique sans se préoccuper des effets qui pourraient en résulter dans les côtes africaines et autres.


3. Tradução em português:

"Os sábios conselhos do Senhor Abdoulaye Wade, ex-Presidente do Senegal, parecem reflectir uma preocupação ecológica de uma grande dimensão humana e universal, mas o mesmo esquece que foram construídas importantes barragens de retenção de águas ao longo da fronteira sul do Senegal, nomeadamente em Casamança, cujos efeitos já se fazem sentir duramente no território da Guiné-Bissau, com a morte dos rios e correntes de água das bolanhas, causando grandes prejuízos à natureza, à fauna e à flora que estão a morrer lentamente em consequência da insuficiência de água que, do território senegalês (Casamança), corria para o mar, alimentando no caminho todas as espécies de vidas que habitavam naqueles territórios e que hoje, simplesmente, são obrigados a deslocar-se para longe a fim de encontrar os elementos vitais que constituem a base da sua sobrevivência.

As barragens de Anambe e de Ndiandouba estão a matar a vida natural do outro lado da fronteira e não creio que tenham sido efectuados estudos científicos sérios de impacto ambiental, como ele tenta demonstrar, nem da legítima preocupação em relação à repartição equitativa das águas de forma a salvaguardar a vida animal, florestal e humana do outro lado. 

Isto para demonstrar que o discurso de antigo presidente do Senegal na sua carta aberta só pode ser hipócrita e populista, imbuído de um falso humanismo que na realidade não tem nada. Para além de que, não acredito que as suas preocupações sejam partilhadas com os países ocidentais que já fizeram mil e umas construções ao longo das costas do Atlântico sem que tivessem a mínima preocupação com os efeitos que daí poderiam advir."
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 13 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18410: Fauna & Flora (13): De Cassumba, na ponta mais a sul de Quitafine, até Bissau, em 300 km, de um lado e do outro da estrada, não encontrei um único macaco-cão... Até há poucos anos atrás, era capaz de encontrar meia dúzia de bandos, alguns com dezenas de indivíduos (Patrício Ribeiro, Bissau)

Guiné 61/74 - P18425: Fotos à procura de... uma legenda (103): Malta do Pel Rec Daimler 1129, do meu tempo de Nova Lamego (Virgílio Teixeira, alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > Sector L3 > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 1967 > Malta do Pelotão de Reconhecimento Daimler 1129 que estave em N Nova Lamego,

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Camaradas: segundo o nosso colaborador permanente, José Martins, trata-se do Pel Rec Daimler 1129... Vamos então lá saber: (i) quem era o comandanteue?; (ii) quem tem mais elementos sobre a história da unidade?; (iii) que legenda merece esta foto? (iv) alguém reconhece alguém?... 

Havia tempo para tudo, até para se beber um copo entre bons amigos e camaradas...

Segundo o José Martins, Pelotão de Reconhecimento Daimler 1129 foi mobilizado pelo RC 6 - Porto, e esteve sempre em Nova Lamego, desde o início (agosto 66) até ao fim da comissão (maio 68). Foi rendido pelo Pel. Rec Daimçler 1258, também mpobilizado pelo RC 6 - Porto. Esteve em Nova Lamego, de abril 68 a agosto 69 (Fim da comissão).

Um Oscarbravo (OBrigado) dos editores.

Guiné 61/74 - P18424: Agenda cultural (634): Comemoração dos 50 anos da Fundação da Comunidade Islâmica de Lisboa (1968-2018): Mesquita de Lisboa, Praça de Espanha, Lisboa, 16-17 de março: Convite e programa



1. Convite de Abdool Vakil,  líder da Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL):

Vimos por este meio informar que no dia 16 de Março pf pelas 15h-30 terá lugar na Mesquita de Lisboa a celebração do Cinquentenário da constituição da Comunidade Islâmica que foi a primeira a reaparecer em Portugal e mesmo na Península Ibérica desde 1497 quando os Muçulmanos saíram destas paragens deixando uma rica herança cultural e artística que ajudou a fertilizar o período do Renascimento que se seguiu e que todos conhecemos. 

Vamos ter a presença de Sua Excelência o Senhor Presidente da República, Prof Doutor Marcelo Rebelo de Sousa; Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República Dr Ferro Rodrigues; Sua Excelência o Secretário Geral das Nações Unidas, Eng António Guterres, Sua Excelência Primeiro Ministro Dr. António Costa,​ Sua Eminência o Núncio Apostólico, Dom Rino Passigato e Sua Eminência o Cardeal Patriarca, Dom Manuel Clemente. Também teremos a presença de Sua Eminência Sheikh Ahmed Mohamad El-Tayyeb da Universidade de Al-Azhar, e de outras altas personalidades.

Segue em anexo o Programa Provisório do Evento que decorrerá durante os dias 16 e 17, terminando com um jantar comemorativo com inscrição.
Respeitosos cumprimentos
Fraternalmente

Abdool Vakil 

2. História da CIL:

(...) "A Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL) foi constituída em 1968, (Diário do Governo, nº 83, III Série, de 6 de Abril de 1968) por um grupo de jovens estudantes muçulmanos, oriundos das ex-colónias, que na altura se encontravam a estudar aqui em Portugal, nomeadamente em Lisboa.

Nessa época sentiram a necessidade de formarem uma associação, onde pudessem reunir-se e principalmente fazerem as suas orações em conjunto.

Mas, ainda antes da constituição da comunidade, mais precisamente em 1966, uma comissão composta por 10 elementos (5 muçulmanos e 5 católicos), solicita à Câmara Municipal um terreno para a construção de uma Mesquita (...).

No entanto, só após o 25 de Abril, mais precisamente em Setembro de 1977,  é que foi aprovada a proposta de cedência de um terreno situado na Avenida José Malhoa.

A cerimónia de lançamento da primeira pedra teve lugar em Janeiro de 1979 e a inauguração da 1ª fase da construção da Mesquita, a 29 de Março de 1985". (...)

Fonte: Comunidade Islâmica de Lisboa (com a devida vénia)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18423: Notas de leitura (1049): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (26) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,

Permito-me destacar, em primeiro lugar, o notável contributo da Drª Lúcia Bayan, investigadora do povo Felupe, pelo documento que generosamente nos ofereceu, bem como as imagens que são da sua propriedade. Nunca ouvi qualquer referência a este monumento comemorativo do V Centenário do Descobrimento da Guiné, ainda mais em Chão Felupe. Não se pode deixar de ler o documento que a estudiosa elaborou, é um documento surpreendente. Bolama declina mas recebe de 30 para 31 de Maio de 1942 D. Duarte Nuno de Bragança que chegou num Clipper, seguirá depois para o Rio de Janeiro, irá casar-se com uma princesa brasileira.

Atenda-se, por último, aos pormenores do relatório sobre o mercado em tempo de guerra.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (26)

Beja Santos

A mudança da capital para Bissau e os acontecimentos relacionados com a II Guerra Mundial merecem acento tónico nos relatórios da agência de Bissau, em 1941. Falando da filial de Bolama, escreve o gerente de Bissau:

“À data que fazemos este relatório ainda Bolama não nos enviou cópia do seu relatório semestral, motivo porque nenhuma análise se lhe pode fazer. A praça de Bolama continua no seu natural declínio, e este irá acentuar-se, em Setembro futuro, logo que passem para Bissau as direções dos serviços que ainda ali estão e o próprio governo da colónia. Tirando um ou dois estabelecimentos comerciais que se equilibram, o resto do comércio não vale nada. Vegeta e prejudica, talvez, os que estão equilibrados.

Passados os serviços do Tesouro para Bissau, não há razão para que não se reorganize o serviço da filial da Bolama, de modo a que esta deixa de ser o pesadíssimo encargo que é, há tanto ano, isto se não se considerar melhor que feche totalmente.

Não podemos deixar de registar a falta de educação, de disciplina e de correcção que tem manifestado o encarregado, senhor Baptista, para com a gerência geral, da qual, nunca recebeu o menor agrado pessoal. Verifica-se um propósito firme de magoar e desrespeitar, rasando insolência no modo de escrever e até no modo propositado de fazer com que as suas incorrecções sejam conhecidas dos nossos subordinados. É de notar que o senhor Baptista, incorrecto em extremo, no procedimento e correspondência, é perfeitamente subserviente – sem necessidade nenhuma de o ser – quando está na nossa frente e isto atribuímos à duplicidade de carácter”.

E regista-se a situação da praça, nada lisonjeira:

“Como consequência da guerra, parte das casas estrangeiras têm afrouxado os seus negócios e estão impossibilitadas de despertar. Por esta última razão, têm reduzido as suas compras de produtos. A casa alemã Ringel, impossibilitada de trabalhar, visto não poder importar nem exportar, fechou os estabelecimentos que tinha na colónia. Como é excepção, as casas sírias têm desenvolvido uma actividade notável em que devem ter ganho imenso dinheiro. Movimentam-se com uma considerável actividade, quanto à aquisição de produtos da colónia e têm-nos vendido bem. Encheram-se de mercadorias estrangeiras, enquanto puderam e depois de mercadorias nacionais, compradas ainda a bons preços. A maior parte desta mercadoria tem sido passada para o território francês que é paga por todo o preço, não se importando as casas sírias de receber o pagamento em francos senegaleses pois deles carecem para o giro, ou de casas próprias que têm no Senegal ou para o encontro das suas compras com outras casas sírias estabelecidas em território francês.

Não se têm estas firmas importado com as sanções inglesas, visto que estão a trabalhar de um modo que não foi afectado pela vigilância. A única maneira desta vigilância os poder prejudicar seria proibindo-lhes as importações. Mas estas vêm de intermediários que só entregam as mercadorias depois de, em seu nome, as levantarem da Alfândega. Se não nos enganarmos, é de esperar que, para não saírem mercadorias para o território francês, os ingleses lancem mão de uma medida de violência extrema, tal seja a de tolher toda a importação de fazendas, mesmo das nacionais, para esta colónia. Os negócios referentes à mancarra têm mostrado certa actividade e os preços têm subido bastante, embora haja grande incerteza na exportação e colocação do produto. No final, é provável que venha a ser a Casa Gouveia a ficar com a quase totalidade da produção.

Quanto a negócios de borracha, têm-se registado uma actividade fora de vulgar. Negócio quase abandonado, ainda há dois anos activou-se de tal modo que, no fim do ano, existia na colónia um depósito aproximado a 600 toneladas deste produto cuja exportação tem sido dificultada pelo regime de contingentes imposto pelos ingleses. Os negócios de arroz seguem sem alteração sensível, a não ser quanto aos preços, elevados a demasiada altura pelo sócio da Sociedade Arrozeira da Guiné, Sr. Mário Lima, cujas intenções não se percebem, ao registar-se a concorrência deslealíssima e desinteligente que vem fazendo à Sociedade Comercial Ultramarina e de que resulta, principalmente, a alta que prejudica todos. 

 Os negócios de coconote e azeite de palma seguem com certa fraqueza de preços, o que resulta das dificuldades de exportação. Neste negócio, como no da mancarra, deve ficar em campo a Casa Gouveia. Criou-se um organismo especial para fiscalização de preços, mas estes têm sofrido aumento verdadeiramente criminosos, sem a menor sanção exemplar, por parte da autoridade administrativa, positivamente falha de autoridade moral para agir. Uma vergonha.

Deste modo, torna-se incomportável, relativamente aos ordenados, a vida de quem por aqui moureja e aqueles, dentro em pouco serão insuficientes se é que o não são já, na maioria dos casos”.

Recorde-se que nenhumas operações militares atingiram esta região da África Ocidental. Neste ano de 1941, a suceder Carvalho Viegas apresentou-se em Bolama o major de artilharia Ricardo Vaz Monteiro. Traz a incumbência, sem mais tergiversações, transferir a sede do governo para Bissau. A decadência de Bolama acentua-se. Em termos de orgânica militar, a Guiné tinha um chefe de Estado Maior, agora surge uma nova figura, a do comandante militar da Guiné. Como vimos atrás, o transporte aéreo veio acompanhado de uma enorme expectativa e, entretanto, chega a radiodifusão.

Em 1942, um acontecimento inédito ocorre em Bolama: D. Duarte Nuno de Bragança, a caminho do Brasil, onde se vai consorciar com uma princesa brasileira, é acolhido nas instalações do BNU, com muita afabilidade e discrição. O ministério das Colónias não podia envolver-se directamente. Deram-se horas confidenciais para que o gerente da agência de Bissau e sua mulher fossem receber D. Duarte Nuno na casa do BNU em Bolama. D. Duarte Nuno viajava com D. Filipa de Bragança, sua irmã, e uma comitiva composta pelos condes de Almada e de Castro e o Dr. João do Amaral. A missão discreta era de os receber, alojar e alimentar durante a sua estadia em Bolama, oferecendo-lhes inteiramente a casa, na qual não ficaria mais ninguém.

O Clipper chegou na manhã de 30 de Maio. Escreve o gerente para Lisboa em 9 de Junho:

“Fomos a bordo receber os ilustres hóspedes e conduzi-los à casa do banco, transmitindo ao Senhor Dom Duarte Nuno as instruções que tínhamos quanto ao seu alojamento e recepção.

Convidou então o gerente desta agência, sua esposa e filha a não mais os deixarmos, acompanhando-os nas refeições.

Para que nada faltasse, tivemos que nos instalar numa das dependências do rés-do-chão, deixando totalmente livre aos hóspedes o primeiro andar.

O governo da colónia forneceu louças, roupas, talheres e criados e a Pan-Am emprestou camas.
Os ilustres hóspedes almoçaram e jantaram no dia 30 e tomaram o pequeno-almoço no dia 31.
No dia 30 estava projectada uma caçada no continente, que foi substituída por um passeio a Fulacunda.

No dia 31 de manhã cedo, o Senhor Dom Duarte Nuno solicitou-nos que déssemos um passeio por Bolama, a pé a sós com ele, o que fizemos mostrando-lhe toda a cidade. Partiu no mesmo dia, pelas 10h30, com destino ao Brasil.

Estamos totalmente convencidos que cumprimos a missão de que fomos encarregados, tão bem quando era possível cumprir-se e de modo a ter em pleno cumprimento as ordens que vieram para a colónia e a ficarem satisfeitas as pessoas que hospedámos. De todos ouvimos palavras de agradecimento pelo modo como tinham sido recebidos.

Em 2 do corrente, dirigido pessoalmente ao gerente desta agência, chegou um telegrama do Senhor Dom Duarte Nuno, expedido do Rio de Janeiro, dizendo: ‘Muitos gratos generosa hospitalidade enviamos lembranças sua mulher e filha’ Duarte.

O governo da colónia, alheio oficialmente à recepção do Senhor Dom Duarte Nuno pôs já Sua Excelência o Ministro das Colónias com o detalhe desejado e telegraficamente, a par de tudo o que se passou e como tudo correu e que, na verdade foi o melhor que se podia arranjar.

Não telegrafamos a pedir instruções a V. Exa. sobre todo este assunto, porque pensámos que tudo que nos foi solicitado foi aí conhecido de V. Exa. por intermédio do ministério das colónias.

A despesa que fizemos foi de 732$00, que a filial adiantou sob a nossa responsabilidade pessoal, e que vamos receber do governo da colónia, ao qual já prestámos a respectiva conta”.

(Continua)


D. Duarte Nuno de Bragança e a sua mulher


“Foi aqui que o primeiro Felupe ergueu a sua casa da tradição” 

Estas são as palavras inscritas num marco implantado no chão Felupe para comemorar o V centenário da chegada dos portugueses à Guiné-Bissau.

Desde que, em 1446, Álvaro Fernandes desembarcou na praia de Varela e pela primeira vez contactou com os felupes, que estes são conhecidos pelo seu espírito guerreiro e aversão a qualquer tipo de poder externo. Nos primeiros séculos, eram temidos pelos seus ataques aos navios portugueses e pelas suas setas venenosas, aivadas nas palavras dos cronistas.

No século XVI, dizia Valentim Fernandes que os felupes tinham impedido a entrada dos portugueses na foz do rio Casamansa durante 25 anos. Uns séculos depois, em 1878, infligiram uma desastrosa derrota ao exército português, um episódio que ficou conhecido como “desastre de Bolol”. Na década seguinte, com as fronteiras delimitadas iniciam-se as campanhas de pacificação que se prolongam pelo século XX.

São várias as acções militares portuguesas efectuadas no chão felupe. René Pélissier, no 2.º volume da História da Guiné, portugueses e africanos na senegâmbia 1841-1936, descreve as várias campanhas, mostrando como foi difícil “pacificar” os felupes. O último grande confronto deveu-se ao desaparecimento do avião francês Potez-Salmson, em 30 de Junho de 1933. Este incidente, denominado Affaire Gaté, vai provocar, de 1933 a 1935, diversos e violentos confrontos entre portugueses e felupes.

Depois desta data, os felupes “sossegam”. Compreendendo que não serão capazes de impedir que outros, neste caso Portugal, dominem o seu chão, mudam de táctica adoptando “aquela resistência passiva mais difícil de vencer que a rebeldia”, como bem referiu Amadeu Nogueira (1947:716).

A mais brilhante acção dessa resistência passiva acontece quando a administração colonial decide comemorar o V centenário da chegada dos portugueses à Guiné-Bissau. Para isso, a administração colonial decide implantar um marco comemorativo no local onde, segundo o mito fundador dos felupes de Suzana, Emit-ai (Deus) deitou à terra um casal felupe, que construiu a primeira casa felupe e deu origem à primeira tabanca felupe, denominada Sabotul. Situada perto de Suzana, Sabotul terá sido destruída, provavelmente no século XIX, por Ambona, o herói felupe que fundou Suzana.

Conhecendo esta história, a administração colonial decidiu homenagear o mito felupe, quem sabe, provavelmente acreditando que a instalação do marco em Sabotul poderia ajudar a apaziguar a resistência felupe. Engano!

Mandou então arrebanhar um grupo de homens para desbravarem a floresta até ao local onde se teria situado Sabotul. Durante alguns dias os felupes abriram caminho pela mata até que um dia, cansados do trabalho e irredutíveis na sua resistência, disseram que já tinham chegado ao local e o marco foi aí instalado. Daquilo que se sabe as cerimónias decorreram pacificamente. No entanto, esta celebração foi mais uma derrota infligida pelos felupes, pois o marco não foi colocado em Sabotul, mas a alguns, muito poucos, quilómetros de distância, na estrada que liga Suzana ao porto de Buadje, onde os jovens suzanenses pescam deliciosas ostras.


Hoje, quase tapado pela floresta, o marco passa despercebido servindo apenas para provocar sorrisos nos felupes quando desperta a curiosidade de algum estrangeiro mais atento.

Lúcia Bayan
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Notas do editor

Poste anterior de 9 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18395: Notas de leitura (1047): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (25) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18406: Notas de leitura (1048): “A History of Postcolonial Lusophone Africa”, autor principal Patrick Chabal, com participações de David Birmingham, Joshua Forrest, Malyn Newitt, Gerhard Seibert e Elisa Silva Andrade, Hurst & Company; Londres, 2002 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18422: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (51): O nosso camarada Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) propõe-se ajudar a jovem luso-francesa Adelise Azevedo, de 14 anos, com materiais para o seu trabalho de EPI sobre "La guerilla en Guinée (1963/74)"... E quem mais pode dar uma mãozinha ?


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > Sector L3 > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Fevereiro de 1968 > O alferes mil Azevedo, alentejano de Évora, com o seu boné, à porta da sua Tabanca (a que eu chamava a Tabanca dos Morteiros), e eu a conduzir o seu jipe, pois ele tinha direito a essa mordomia: Era ‘El Comandante’!... Também tive umas lições de condução neste jipe... A rua chamava-se General Arnaldo Schulz. O Azevedo era o comandante do Pel Mort 1200 ou 1200 e qualquer coisa, já não posso precisar. Tivemos lá cinco meses juntos e fizemos uma bela amizade. Depois eu segui para São Domingos, na região do Cacheu.

[Segundo o nosso editor Jorge Araújo, o pelotão de morteiros que esteve em Nova Lamego no período de maio de 1966 a maio de 1967 foi o n.º 1029. Foi substituído pelo Pel Mort 1191, que esteve em Nova Lamego entre abril de 1967 e março de 1969, às ordens do Batalhão de Cavalaria 1915. O alf mil Azevedo deveria, pois, ser o comandante do Pel Mort 1191.]


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário ao poste P18417 (*),  do Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Luís, sobre a ajuda para a nossa pequena Adelise Azevedo em França, é preciso um poder de síntese para ela poder fazer algo sobre a história deste terrível período da guerra na Guiné. Eu não tenho esse poder, e não sei quase nada, ou muito pouco, mas gostava de ajudar, pelo menos não ando a perder tempo e sim a ajudar a construir a verdadeira história da nossa guerra que muitos teimam em não acreditar.

Aqui eu posso entrar com alguma ajuda, o avô dela - digo com emoção, uma neta de 14 anos a fazer um trabalho destes, quando nem os meus filhos e netos se preocupam com isto, é obra e merece tudo o que eu possa contribuir para a ajudá-la na sua obra - esteve,  segundo parece,  no meu sector L3 de Nova Lamego, Canquelifá, Piche, onde eu estou um pouco à vontade para dar algum contributo.

Já ando há muitos dias a fazer um trabalho sobre precisamente o Sector L3 de Nova Lamego, mas estou a andar devagar, porque estava à espera ainda de mais 200 fotos digitalizadas, que não chegam tão rápido. Então eu já tinha pensado em fazer este trabalho em duas partes, NL1 e NL2, e vou avançar com a NL1, já.

Eu estou a fazer uma recolha de alguns dados que retiro da História da Unidade do meu Batalhão, comentários, factos, coisas que se passaram e estão escritas, e muitas vividas também por mim.
Neste trabalho vou incluir umas páginas que retirei do meu livro, escritas já há uns 6 anos ou mais, e não altero nada, preciso que leias e ver se interessa para alguma coisa, é a minha história e mais nada.
Já tenho neste tema mais de 300 fotos, mas ainda faltam muitas, e as que faltam são as preto e branco que são dos primeiros 6 meses de Guiné, por isso coincidem com NL [Nova Lamego].

Vou pegar numas 30 a 50 fotos, tenho de as selecionar, datar, localizar, legendar e escrever algo sobre as mesmas, incluindo algumas histórias. 

Para teres uma ideia é uma coisa do tipo que fiz para São Domingos I Parte - que ainda não foi nada editado, mas tem tempo - mas esta já está mais elaborada, também se trata de um sector com outra dimensão e história.

Podes contar com esta ajuda, e para a nossa Adelise, que seja muito feliz com o seu trabalho, e aqui lhe envio as minhas mais sinceras e humanas felicitações por esta ideia de louvar.

Diz-me alguma coisa.
Virgilio Teixeira


Localização de Wattrelos, Hauts-de-France. Fonte: Wikipedia
2. Mensagem envaida à Adelise Azevedo, neta do nosso camarada  José Alves Pereira (CCAÇ 727, Canquelifá, Nova Lamego, Piche, 1964/66), e que vive em Wattrelos, junto à fronteira com a Bélgica, na região de Hauts-de-France.

Adelise, há aqui um camarada nosso, que esteve também em Nova Lamego, como o teu avô Pereira, mas já em 1967/68 (durante cinco meses), é economista, está reformado, é do Porto, vive em Vila do Conde, tem também netos, ficou muito sensibilizado com o teu pedido de ajuda, e quer mesmo ajudar-te a tirar uma boa nota... Ele tem um excelente álbum de fotografias, que temos vindo a publicar no nosso blogue.

Como a gente diz, na nossa comunidade de antigos combatentes, a que chamamos Tabanca Grande ("tabanca" é aldeia, em crioulo da Guiné), os filhos e os netos dos nossos camaradas, nossos filhos e netos são... Tu já és nossa neta...

Vê, com ele, com é que  e em quê), ele te pode ajudar: por exemplo, arranjar-te fotografias de Bissau, de Nova Laemgo, etc. O seu nome é Virgílio Ferreira. Vou-lhe dar conhecimento desta mensagem e do teu endereço de email (que é o da tua mãe Isabel).

Já agora toma boa nota da história terrível da companhia de caçadores do teu avô, a CCAÇ 727, que teve 18 mortos em campanha, andou por sítios terríveis como Madina do Boé. 

Podes usar eles elementos para falares do teu avô e preparar a entrevista com ele... Podes gravar, por exemplo, no teu telemóvel uma entrevista com ele. É um registo que também fica para memória futura... Preparas umas tantas perguntas... E ele vai-te respondendo e tu estás a gravar...

O telemóvel tem um bom  gravador de som. Mas primeiro faz o teste, a ver se o teu gravador de som funciona bem e tem carga... Eu uso muito o gravador de som e o vídeo... Sabes, sou professor e investigador, na área da saúde pública e da sociologia da saúde... Entrevisto pessoas e depois transcrevo o que foi gravado... Claro que é um trabalho moroso, e tu agora não tens tempo... Mas podes, para já, e para o teu trabalho de EPI fazer um resumo da entrevista com o teu avô... Daqui a uns largos anos, quando ele já não estiver cá, voltas a emocionar-te ao ouvir a voz dele e a sua história de vida na tropa e na guerra...

Também fiz muitos pequenos vídeos do meu pai que já morreu, com quase 92 anos: também foi militar, em Cabo Verde, entre 1941 e 1943, durante a II Guerra Mundial...

Aqui tens o link com a história da CCAÇ 727:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2018/03/guine-6174-p18420-consultorio-militar.html

Dá-a a ler ao teu avô para ele refrescar a memória. Tem os nomes todos dos camaradas que morreram em campanha, na Guiné, uns por doença e acidente mas a maior parte em combate. O capitão dele, Joaquim Evónio Vasconcelos, já faleceu em 2012. Era também poeta e escritor.

Temos aqui um contacto de um camarada do teu avô, natural de Barcelos: vou ligar-lhe um dia destes, talvez amanhã. Organizou um dos encontros anuais do pessoal da companhia. Toma nota:

Joaquim Esteves Ferreira, vive em  Balugães, Barcelos: telef + 351 258 107 204 / telemov + 351 963 306 491

Um beijinho. O editor Luís Graça
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de março de 2018 >  Guiné 61/74 - P18417: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (50): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) agradece a nossa ajuda para a realização de um trabalho escolar sobre a história do conflito que opôs o PAIGC e as Forças Armadas Portuguesas entre 1963 e 1974

Vd. também poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné

Guiné 61/74 - P18421: Parabéns a você (1404): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Março de 2018 > Guiné 61/74 - P18412: Parabéns a você (1403): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)

quinta-feira, 15 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18420: Consultório militar do José Martins (35): elementos para a história da CAÇ 727 (Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que teve 18 mortos em campanha, incluindo o alf mil inf António Angelino Teixeira Xavier, natural de Carrazeda de Montenegro, Valpaços


Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938- Lisboa, 2012): antigo comandante da CCAÇ 727 (Canquelifá, out 1964/ ago 66), subunidade que teve 18 baixas em campanha.

Seria gravemente ferido em combate em 1969, na área de Mejo/Guileje, no decurso da Op Bola de Fogo, quando comandava a CCaç 2316. Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia e  à escrita. Era um grande cultor da língua portuguesa. Reformou-se como coronel de infantaria.

Imagem da sua página pessoal, www.joaquimevonio.com, alojada no Sapo, e que já não está disponível.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)


Aveiro > Gafanha da Encarnação > 11 de outubro de 2008 > Foto de família: XV Encontro da CCAÇ 727 (Guiné, 1964/66), enviada pelo ex-1º cabo Carmelindo Guerreiro, através do Miguel Oliveira, ex-combatente em Angola. Ao centro, de barbas brancas, aparece o cor inf ref Joaquim Evónio Vasconcelos. Na primeira fila, à esquerda, há um camarada que segura a bandeira da companhia.

Foto (e legenda): © Miguel Oliveira (2008) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Elementos recolhidos nosso camarada e colaborador permanente José Marcelino Martins (ex-fur mil trms,  CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):

Companhia de Caçadores n.º 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66 (*)


Subunidade independente, mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 16, em Évora, sob o comando do capitão de infantaria Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos [, falecido 2012, no posto de coronel, reformado] (**), embarca para a Guiné em 6 de outubro de 1964, onde chega a 14 do mesmo mês.

Permanece no sector de Bissau para instrução de adaptação operacional, na região de Có-Pelundo e Prabis, tendo destacado em 18 de novembro um pelotão para reforço da guarnição de Madina do Boé, integrada no dispositivo do BCAÇ 506.

Segue em 5 de dezembro de 1964 para Nova Lamego, como unidade de intervenção e reserva do sector, atribuída ao BCAÇ 506, com sede em Bafatá,  e seguidamente ao BCAÇ 512, por divisão do Sector D, que se instalou em Nova Lamego.

Reforçou as guarnições de Madina do Boé, que já vinha do antecedente, e as guarnições de Buruntuma e Piche.

Tomou parte em operações nas regiões de Nova Lamego, Buruntuma e Madina do Boé, em que foi emboscada na estrada de Madina do Boé - Cobige, em 30 de janeiro de 1965, que causou elevado número de baixas ao IN, mas também houve a lamentar sete mortos nas NT.

Foi substituída na missão de intervenção e reserva, pela CART 731, em 19 de fevereiro de 1965.

Inicia o deslocamento para Canquelifá, a fim de substituir um pelotão da CCAÇ 509, vindo a assumir a responsabilidade do subsector de Canquelifá, criado em 25 de fevereiro de 1965, continuando integrada no dispositivo do BCAÇ 512 e, posteriormente,  no BCAV 705, que substituiu o anterior Batalhão.

Entre 25 de fevereiro e 20 de maio de 1965, destacou forças para o aquartelamento de Dunane e, entre 20 de maio e 22 de agosto de 1965, destacou forças para Sinchã Joté, além de ter destacado efectivos pelos destacamentos de Cantire e Sinchã Joté, por períodos curtos e variáveis.

Mantendo-se no mesmo Sector, Nova Lamego, foi substituída em Canquelifá pela CCAÇ 817, em 22 de agosto de 1965, para assumir a responsabilidade do subsector de Piche, com destacamento na Ponte Caium e, temporariamente, em Dunane.

A 5 de agosto de 1966, foi substituida em Piche por dois pelotões da CCAÇ 1567, até à chegada da CCAÇ 1586, recolhendo a Bissau, onde veio a embarcar com destino à metrópole em 7 de agosto de 1966.



Bravos da CCAÇ 727 que tombaram em campanha
 
(i) Por doença (difteria)

António Caeiro Combadão, soldado apontador de metralhadora, n.º 782/67, solteiro, filho de Manuel Caeiro Combadão e de Joaquina Cândida Fialho, natural da freguesia de Alqueva, concelho de Portel, faleceu no HM 24,  de Bissau, em 08DEZ64. Foi inumado no cemitério de Évora.

António Henriques Oliveira Marques, fur mil at inf, n.º 1374/63, solteiro, filho de Abílio Marques e de Etelvina Pessoa, natural de Vila do Mato, freguesia de Midões, concelho de Tábua, faleceu no HM 241, em 13DEZ64 -  Foi inumado no cemitério de Bissau - Campa 1270.

Anastácio Vieira Domingos, soldado apontador de metralhadora, n.º 688/67, solteiro, filho de Jacinto Domingues e de Guiomar Vieira, natural de Portela dos Caídos, freguesia de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, faleceu no HM 241 de Bissau, em 13DEZ64. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1271.

(ii) Em combate:

No sábado, 30Jan65, encontrando-se já sob comando operacional do BCaç 512, sendo Oficial de Informações e Operações o Major de Infantaria António Ribeiro Farinha,  é montada por um pelotão daquela CCaç 727 acantonado desde 18Nov64 em Madina do Boé, uma emboscada no itinerário Madina do Boé - Rio Gobije, no decurso da qual ocorre uma contra-emboscada IN que causa às NT cerca de uma dezena de feridos e as seguintes sete baixas mortais:

António Angelino Teixeira Xavier, alf mil inf, nº 60-I-3064, comandante de Pelotão, solteiro, filho de António Augusto Xavier e de Angelina da Luz Teixeira Xavier, natural da freguesia Carrazeda de Montenegro, concelho de Valpaços. Foi inumado no cemitério de Carrazeda de Montenegro. Foi agraciado com a Cruz de Guerra 4.ª Classe, a título póstumo (O.E. 20/II.ª/66), porque, colocado como Comandante do Pelotão num destacamento fronteiriço, saiu voluntariamente numa patrulha onde faleceu em combate, sabendo de antemão tratar-se de uma zona onde era provável o contacto com o inimigo.

António Joaquim da Graça Viegas, soldado atirador, n.º 819/64, casado com Maria Manuela dos Santos Bárbara, filho de José Joaquim Viegas e de Dorila da Graça, natural da freguesia Moncarapacho, concelho de Olhão. Foi inumado no cemitério de Nova Lamego, região de  Gabu, Guiné

Avelino António Martins, 1.º cabo atirador, n.º 708/64, solteiro, filho de Miguel António e de Perpétua Martins, natural de Canano, freguesia de Alferce, concelho de Monchique. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego região de  Gabu, Guiné.

Domingos Moreira Leite, f
ur mil op esp, n.º 1714/63, comandante de secção, solteiro, filho de Avelino Maria Leite e de Maria Rosa Moreira, natural da freguesia de Rebordosa, concelho de Paredes. Foi inumado no Cemitério de Rebordosa.

Foi agraciado com a Cruz de Guerra 3.ª Classe, a título póstumo (O.E. 22/II.ª/65), porque, especialmente dotado para as funções operacionais de Comandante de Secção de Caçadores, que desempenhou com notável acerto e entusiasmo, [...] faleceu em combate quando a pequena coluna, de que fazia parte a sua secção, caíu numa violenta emboscada.

José Maximiano Duarte, soldado atirador, n.º 749/64, solteiro, filho de Sabino José Duarte e de Maria Celeste, natural da freguesia e concelho de Monchique. Gravemente ferido, foi evacuado de Nova Lamego para o HM 241, onde veio a falecer antes de findar esse dia. Foi inumado no Cemitério de Monchique.

José Pires da Cruz, soldado condutor auto rodas, n.º 937/64, solteiro, filho de Joaquim Pires da Cruz e de Maria dos Prazeres Pires, natural da freguesia de Cernache, concelho de Coimbra. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego, região de  Gabu,  Guiné.

Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo Atirador, N.º 707/64, solteiro, filho de José Francisco e de Gracinda Guerreiro, natural da freguesia de Alte, concelho de Loulé. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné

Na Terça-feira 08Jun65, encontrando-se aquela subunidade instalada em Canquelifá (com um destacamento em Sinchã Jidé e pequenos efectivos deslocados em Cantiré e Sinchã Joté), estando desde 01Jun65 operacionalmente dependente do BCav 705 [sendo Oficial de Informações e Operações o Capitão de Cavalaria Ramiro José Marcelino Mourato], quando em deslocação no itinerário Canquelifá - Sinchã Joté e a cerca de 2km da bifurcação para Nhumanca, morrem naquele, em combate os seguintes dois militares:

António Custódio Coelho, 1.º cabo apontador de morteiro, n.º 804/64, solteiro, filho de Francisco Coelho e de Clementina Rosa, natural da freguesia de Coruche, concelho de Coruche, faleceu no Hospital Militar n.º 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Coruche.

António Dias Martins, 1.º cabo atirador, n.º 689/64, solteiro, filho de João Martins e de Maria Inácia Macia Dias, natural de Monte Alto, freguesia de Odeáxere, concelho de Lagos, faleceu no Hospital Militar n.º 241. Foi inumado no Cemitério de Odeáxere.

No domingo 04Jul65, no subsector de Nova Lamego morrem em combate os seguintes três militares:

Adelino Castanheira Dias, soldado atirador, n.º 722/64, solteiro, filho de António Dias Martins e de Maria Rosa Castanheira, natural da freguesia de Monsanto, concelho de Idanha-a-Nova. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

Filipe Rosa Camacho, soldado atirador, n.º 775/64, solteiro, filho de Luís Camacho e de Virgínia Rosa, natural da freguesia e concelho de Ferreira do Alentejo. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

Francisco João Beirão, 1.º cabo de armas pesadas, n.º 807/64, solteiro, filho de Casimiro Beirão e de Olinda Jesus Henriques, natural da freguesia de Veiros, concelho Estremoz. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

(iii) Em acidentes:

No domingo 22Ago65, momento em que foi substituída por troca com a CCaç 817, quando no aquartelamento de Canquelifá um sentinela ia ser rendido, aquele inadvertidamente atingiu gravemente a tiro o militar da CCaç 727 que naquele posto o iria render:

Mamadu Said Jaló
, soldado atirador, N.º 471/64, solteiro, recrutado do CTIG, filho de Alarba Sibide e de Malan Jaló, nascido na freguesia de Santa Isabel, concelho de Nova Lamego, evacuado para o HM241 onde veio a falecer. Foi inumado no cemitério de Bissau - Campa 1884.

Na Segunda-feira 25Abr66, encontrando-se a citada Subunidade desde há cerca de oito meses em Piche, a 15km de Nova Lamego e de regresso ao acantonamento ocorre um acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:

Manuel Gertrudes Guerreiro, 1.º cabo atirador, N.º 691/64, solteiro, filho de Isabel Gertrudes e de Daniel Salvador Guerreiro, nascido na freguesia de Alte, concelho de Loulé, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Segunda-feira 09Mai66.

Na Sexta-feira 06Mai66, ocorre em Piche um outro acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:

Manuel Joaquim de Sousa Martins, soldado condutor auto rodas, n.º 1270/67, solteiro, filho de Rosa de Sousa Martins e de Domingos Lima Martins, nascido na freguesia do Carreço, concelho de Viana do Castelo, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Quarta-feira 11Mai66.

Ver aqui, no portal Ultramar TerraWeb, a lista dos bravos da CCAÇ 727, mortos em campanha (18 no total)


Sabemos que o pessoal da companhia se reúne, todos os anos. Em 2010, por exemplo, realizou o seu XVII encontro, em Barcelos (***)

Contactos:

(i) Joaquim Esteves Ferreira, Balugães, Barcelos: telef + 351 258 107 204 / telem + 351 963 306 491

(ii) 1.º cabo escriturário (, de que se desconhece o nome)  Telem + 351 914101833

(iii) Virgílio João dos Santos, Setúbal (, sem nº de telefone / telemóvel).

(iv) 1º cabo Carmelindo Guerreiro, Aveiro (?)  (, sem nº de telefone / telemóvel).
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Notas do editor:



(...) Faleceu, em 23 Junho de 2012, em Lisboa, o coronel de infantaria reformado Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (...).

Comandou a CCaç 727 (Canquelifá, out 64 / ago 66) e, em 1968, quando comandava a CCaç 2316, foi gravemente ferido em combate na área de Mejo/Guileje.

Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia, à escrita.

Nascido em 1938, no Funchal, era director do núcleo da Ordem Nacional de Escritores, em Portugal, desenvolvendo um trabalho muito meritório na recolha de obras de poetas, artistas e escritores locais.

Grande cultor da língua, profundo conhecedor do nosso vernáculo, era um exigente revisor de provas de poesia e literatura em geral. Um verdadeiro intelectual e um talentos diseur de poesia. (...)


Guiné 61/74 - P18419: Agenda cultural (633): Colóquio: Refugiados em Portugal - História e Atualidade | Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Telheiras, Lumiar, Lisboa, hoje, das 14h às 18h




1. Chegou-nos, "just in time", a notícia deste evento que se divulga.  A iniciativa é de um grupo de moradores de Telheiras,  com o apoio da Junta de Freguesia do Lumiar. Entrada Livre. Inscrição prévia em vidaculturaarte@gmail.com

Obrigado à nossa amiga Luísa Tiago de Oliveira e ao Gabinete de Comunicação e Planeamento do CIES - Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) / ISCTE - IUL













Avenida das Forças Armadas,
Edifício Sedas Nunes, Sala 2W10,
1649-026 LISBOA Portugal

Tel.: 210 464 018 / 210 464 192 (ext. 291802)

www.cies.iscte-iul.pt | www.mundossociais.com

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18394: Agenda cultual (632): Casa do Alentejo, Lisboa, sábado, 10 de março, às 14h30: comemorando o Dia Internacional da Mulher, com vozes no feminino, plurais e lusófonas, na arte e na música