1. Continuação da apresentação do livro "Palavras de um senhor defunto", de autoria do nosso camarada Mário Serra de Oliveira* (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68).
PALAVRAS DE UM SENHOR DEFUNTO
O BATISMO DO VINHO
Foi assim que nasceu, à força, o ‘batismo do vinho’, como aqueles habitantes lá da minha aldeia que foram também forçados a batisarem–se, para uma religião que não era deles.
Como era Sábado e, como para muito ‘boa’ (?) gente o Sábado é mais importante que o Domingo - dia de o meu ‘querido’ tenente ir para a praia, eu, após verificar que os primeiros cinco barris não estavam cheios, decidi pegar num pedaço de mangueira - uma vez que não tínhamos torneira – decidi, dizia eu, pegar num pedaço de mangueira para extrair vinho do barril, chupando pela mesma, de modo a que cada barril ficasse com a mesma quantidade de vinho.
Por exemplo:
Se a varinha marcasse 97 litros num barril e 98 noutro, etc., etc., e tal, mais pinga, menos pinga, o certo é que tinham que ser ‘equalizados’, que é um termo técnico equivalente a ficarem todos por igual, com a mesma quantidade líquida.
O problema até era maior para mim devido a que, se começou a formar na minha cabeça, aquela ideia de que ‘eu deveria de evitar beber água’ – porque até diziam que a água da Guiné tinha micróbios - e, mais a mais que, para mim, até nem era bem por causa da água estar misturada com o vinho mas, sim, por causa do vinho estar misturado com água.
Melhor dizendo, digo o seguinte: Se eu quisesse beber água, não me importava muito se a mesma tivesse um pouco de vinho... mas, se eu quisesse beber vinho, aí sim, ou por outra, aí não, não via com bons olhos que o mesmo tivesse água.
Com esta ideia a ‘controlar a minha actividade’, decidi igualar todos os barris, de modo a ficarem somente com 95 litros de vinho pelo que, parando temporariamente com o batismo, procurei encontrar garrafões vazios e outro tipo de vasilhame, vazio também, para ‘armazenar’ o vinho que estivesse a mais dos 95 litros!...
Depois, já munido do vasilhame lavado e vazio, toca a ‘chupar’ pela mangueira, fazendo-me lembrar aquela coisa que já ouvi falar que soa assim como que ‘the equalizer’ que até creio que é um filme ou coisa parecida.
Contente que nem um alho, mais a mais que me fazia acompanhar de um copo de vinho misturado com ‘7-UP’ - que, por acaso lá na Guiné, eu até gostava desta mistura mas aqui nos EUA não vou ‘à bola’ com isso - assobiando aquela canção ‘cá vai Lisboa... a linda moura encantada... trái-lá-lá-la-rái...trái--lá-lá-la- rái’...etc., e tal, eu, encantado da vida, ia extraindo o vinho dos barris para os garrafões vazios.
Depois é só atestar de novo todos os barris com água.
Portanto, concentrando-me no batismo feito na Guiné ficávamos com uns barris de vinho de uva de Portugal, alguma água de Portugal também, e alguma água da Guiné, mais especificamente do rio Geba que, diziam, era de onde a água vinha para a abastecer a cidade de Bissau, local do batismo do vinho.
O conteúdo saído dos barris, para equilibrar o equilíbrio cúbico entre os mesmos, era colocado, como já disse, no vasilhame lavado e vazio que, depois disso, ficava quase cheios e, esta operação repetia-se para cada cinco novos barris, à medida que fosse necessário utilizar, para o consumo da Messe.
Até então, todos os barris estavam tapados com as serapilheiras molhadas, para ajudar a embuchar a madeira dos barris!... Não que eu tivesse medo que a madeira ficasse com os copos mas sim, para que as minhas contas ficassem certas no final, quando fizesse o balanço!...
Voltando ao eu estar ‘feliz da vida’, cantando o ‘trai-lá-lá-lá-la-rai’ ou lá o que era, e como era Sábado, eu, a pensar, pensando que o meu ‘querido’ Tenente, tinha ido para a praia com a senhora dele... a pensar na minha ideia-decisão de remediar o problema em frente do meu nariz enquanto que, ao mesmo tempo ponderava o facto de que lá porque o batismo ser ao Sábado, não implicava qualquer ‘facciosidade’ religiosa ou desportiva. Até era mais uma espécie de, eu a pensar e a falar para mim sozinho dizendo, sem dizer mesmo nada -’se puderes evitar que outros saibam disto, melhor para ti Mário".
Mal sabia eu o que me esperava porque...
Não só ficou a saber alguém mais (!) como ainda por cima, ficou a saber a pessoa que eu queria evitar a todo o custo, que viesse a saber. Sorte d’um cabrão (!) - apesar de ainda não ser casado. Um Mário saber do assunto, vá que não vá, mas logo dois Mários, eram muitos Mários juntos saber.
É que - até nem sei bem se já disse antes ou não mas, se não disse, digo-o agora - que ele, o meu ‘querido’ Tenente também se chamava Mário e, não sei o que raios é que ele tinha estado a fazer com a senhora dele toda a manhã, para - vejam só - acabarem por perder o avião que era "g" e "g" (grande e grátis) (!), para Bubaque, que é uma Ilha, no conjunto de outras lindas ilhas, pertencente ao arquipélago dos Bijagós, na costa Oeste da Guiné, com umas belíssimas praias onde, hoje, dizem por aí, que os Colombianos da Colômbia – não a nível oficial, penso eu – estabeleceram ‘uma espécie de trampolim’ para fazer saltar a ‘droga’ para a Europa.
Ora bem, como dizia eu ‘o meu querido (?) tenente tinha perdido o avião e, explicando melhor explico que, eu não tenho nada contra isso e, nem sequer quero saber, se ele perdeu um avião ou dois.
Primeiro - porque não eram nem são meus. Segundo porque, pois aí é que está ‘o segundo’ que se transformou quase num pesadelo por horas, durante toda a tarde. É que o raio do Tenente - que, se eu soubesse que ele ainda estava vivo, como eu ainda estou, aqui lhe mandava um abraço amigo porque, na verdade, ele até era realmente um amigo, facto que reconheci mais tarde e, continuando, não é que ele apareceu ali, lá mesmo no armazém, exactamente quando eu estava ‘no meio da cerimónia batismal’ do vinho o que, sem ser um sacrilégio religioso, foi uma grande afronta para mim?!
Como iria eu a adivinhar uma coisa daquelas?
Vejam só. Num Sábado, dia de ir para a praia e dia do batismo do vinho e do qual, ele – Tenente - não era o padrinho nem convidado sequer e, aparecer-me ali assim, sem mais nem menos, inesperadamente, mesmo no meio da ‘cerimónia batismal’.
Imaginem os leitores. Estando eu em calções, de alpercatas enfiadas nos pés, tronco nu, na companhia de um macaco-cão e de um copo daqueles que aqui - refiro-me ao facto de estar nos EUA, quando escrevo esta parte que estou a escrever - se chamam ‘high-ball’, de vinho misturado com ‘7-UP’, assobiando ‘cá vai Lisboa, blá, blá, blá’, aparentemente contente da vida com a miséria de vida que levava, quando de repente, vejo reflectida na parede em frente ao local onde me encontrava, uma sombra avultada de figura humana semelhante a alguém que, pelo tamanho, parecia ser de alguém que eu conhecia e que, eu não queria acreditar que fosse quem pensei que fosse porque, supostamente deveria de estar na praia.
O macaco-cão, deu um pulo que nem um macaco p’ró ar, e eu rodopiando, dei um pulo, que nem um cão, p’ró ar, primeiro, caindo p’ró chão de seguida. E, enquanto ia no ar, pensando com tanta força que até transpirei mais do que já transpirava, a pensar pensando: - ’de quem é que raio seria aquela sombra’ - quando, de repente, ainda sem estar totalmente rodopiado, ouvi aquela voz inconfundível.
O salto que dei, foi assim devagar, devagarinho, assim como que ao jeito de um golpe de ‘kung-fu’, sem fazer muita onda e, quando, surpreendido, encarei com ele, tentando mostrar a minha surpresa, expressei um ‘aiii’, primeiro porque tinha caído p’ró chão e, após levantar-me rápido, um ‘oooooh’, de espanto, ao deparar com a figura dele, o meu ‘querido’ Tenente.
Então ele, com uma voz ‘rígida e metálica’, assim um tanto ou quanto ‘áspera e ameaçadora’, atira a seguinte pergunta, de imediato: - ‘O que é que você está a fazer’?
Ainda hoje, cada vez que me lembro, fico com os ouvidos a ‘zunir’ e um ‘pipi’ leve humidifíca o meu ‘underware’ ou, como se diz em português, humidifica as minhas cuecas. Imaginem os leitores, mas imaginem mesmo bem, como ‘não fiquei’ naquela ocasião.
Naquele momento eu, sem falar, pensei: – ‘Com uma inteligência destas, como é que este gajo chegou a Tenente’? Claro, era só eu a pensar, pela estupidez (sem ofensa) da pergunta, porque ele, o Tenente, quando me esteve a observar, teve tempo mais que suficiente de ter visto - e bem - o que é que eu estava a fazer, antes de fazer a pergunta que fez.
- ‘Enfim... dá Deus (?) nozes a quem não tem dentes’ - disse eu entre dentes. E, convém dizer ao mesmo tempo, que se ali estivesse um buraco para me enfiar por ele adentro de certeza que me tinha enfiado nele, na vertical ou na horizontal que, para o efeito, tanto se me dava, desde que desaparecesse. Mas, perante tal situação, e à falta do buraco, só me restava ter calma e coragem para enfrentar ‘o bicho’ de frente, sem medo.
E, quando digo ’bicho’ é somente uma expressão e não com a intenção de ofender porque, mais tarde, tive oportunidade de confirmar que ele, até era boa pessoa conforme já referi noutro local destas linhas. Então, após o meu ‘ooooh’ inicial e, ‘olhos nos olhos’, sem compaixão alguma para com ele, pensando só e somente em mim, não tendo nada a esconder - nem podendo esconder tão-pouco porque ele já tinha visto ‘o meu jogo’ - respondi-lhe, como que perguntando_ - ‘Que raio de pergunta é essa’? - Continuando, continuei: – ‘ O meu Tenente não estava a ver’?
Frente a frente ‘dois Mários’ – lembram-se daquela parte onde eu refiro antes, que raramente um Leão ataca o outro, a não ser que se sinta ameaçado? Pois, aqui, ainda por cima, essa frase tinha ‘dupla consonância’ porque não só eram ‘dois Mários’ como, por cima ou por baixo, ambos éramos adeptos do Sporting e, por isso, ‘Leões’, pelo que, um ataque frontal seria muito remoto.
Desta forma, numa situação, se não semelhante, poderia ser análoga e, eu, recordando-me disso, acalmei e fiquei à espera que ele ‘engolisse em seco’, a minha pergunta, em resposta à pergunta dele.
Com um ar surpreendido, volta à carga outra vez, mas num tom um tanto ou quanto diferente: - ‘Então você está a pôr água no vinho’?
- ‘Ah pois’ – respondi-lhe e, acrescentando, acrescentei: – ‘Então o meu tenente não sabe’?
O tom da minha voz, quando lhe chamei ‘Tenente’, era como que estivesse a diminuir o tê de ‘T’ grande para ‘t’ pequeno da palavra Tenente numa espécie de diminuir o valor do significado da mesma, já que a ele não podia diminuir porque era bem forte.
Então volta ele à carga. - ‘Você quer desgraçar a minha vida’?
- ‘Não senhor’ - disse eu - ‘Nem a do meu tenente, nem a minha’ - E, continuando, continuei - ‘Então o meu Tenente não sabe que os barris não vêem cheios’? - ‘Quer ver? - insisti sem lhe dar tempo a falar, avançando para um dos barris que ainda não estavam abertos, usando o martelo, chave de fendas, e sevina, para extrair o batoque.
Batoque tirado, peguei na varinha medidora, e meti-a no barril, retirando-a em seguida e, ‘bingo’, ali estava a prova do que eu dizia. Faltavam cerca de 3 litros.
Com um sorriso forçado, assim como quando o Sporting ganha mas joga mal, sorrindo com ar de estar a ganhar ‘a batalha’ mas, cujo resultado final ‘da guerra’ ainda não sabia, virei-me para ele e disse-lhe: - ‘O meu Tenente bebeu algum vinho deste barril’? – e, sem esperar a resposta dele, voltei a dizer: - ‘pois eu também não’.
- ‘Mas - disse ele – ‘você nunca me disse nada sobre isto’.
- ‘Bem - disse eu – nunca lhe disse nada, nem sobre isto nem sobre outras coisas porque, para eu lhe dizer tudo o que seria necessário, o meu Tenente não poderia ir todos os fins de semana para a praia - e, de propósito, não referi ‘com a sua senhora’ porque eu não gosto de misturar a família com negócios privados. Continuando, insisti: - ‘Estamos em Guerra, não é’? Então a Guerra é para todos ou é só para alguns’?
Então, o meu ‘querido’ Tenente, olhando assim com ‘ar de vencido’ mas com o olhar de orgulho no ‘primeiro Cabo’ (eu) que tinha à frente dele, disse: -‘E os oficiais não reclamam’?
-‘Não senhor - respondi eu, mas dei-me explicar melhor e continuei: - ‘É o seguinte’, eles, os oficiais, põem gelo no copo grande – tipo ‘highball’ – e, depois, deitam o vinho em cima do gelo que está dentro do copo e, alguns deles ainda misturam com limonada ou 7-UP. Já está a ver a coisa’? - rematei eu.
E, continuando: - ‘Portanto, no final, tanto sabem eles se a ‘água é do gelo ou se é do vinho, daquela que eu lhe pus aqui, ou se é da água que já lhe puseram, lá em Portugal’.
Insistindo, insisti: - ‘Não me diga o meu Tenente que acredita - ou pensa, agora já não me lembro se foi uma ou se foi outra – ‘que lá em Portugal não lhe puseram água’?
Foi aqui que eu refraseei aquela coisa que já referi antes duas ou três vezes e, que é o seguinte – continuando eu no ataque, embora quando jogo à bola, até gosto mais de estar na defesa, mais, até para não me cansar muito.
‘Percebeu, o meu Tenente ou não percebeu’?
Se não percebeu percebesse porque
Eu, quando não percebo
Faço por perceber
Que é para as outras pessoas perceberem
Que eu percebi.
Percebeu?
Ali, com ele quase ‘convertido ao meu batismo’ sem sequer lhe ter mencionado os 10% de $$$ que outros, de outras religiões querem, eu já sabia que a ‘batalha estava ganha’ embora a gente continuasse em guerra.
Mas, parecendo ‘ferido nos galões que tinha ao ombro’, voltou à carga: – ‘Então, e o nosso Comandante não reclama’?
Eu, vendo que ele não podia ir mais para acima do que além ‘do nosso Comandante’ – que era um General - respondi-lhe: - ‘O nosso Comandante é uma homem igual aos outros todos, somente com mais umas tiras de farrapo, ou com uma estrelas aos ombros, feitas por alguém que nem sequer deve ter sido a mulher dele’.
Convém mencionar que o ‘nosso Comandante’ – Manuel Diogo Neto que, após o 25 de Abril, fez parte da Junta de Salvação Nacional – até era boa pessoa porque, uma vez, como eu tinha direito a viajar ‘grátis’, nos aviões da FAP (Força Aérea Portuguesa) – na maioria compostos por aviões que os americanos ou outros países já não usavam - lhe pedi uma boleia para a filha menor de uma pessoa amiga e ele aceitou, recomendando-me que dissesse que ela era minha sobrinha, o que diz algo a seu favor.
Porra que o homem não desiste, pensei eu. Pergunta novamente o Tenente: - ‘Que vinho é que você me serve a mim’?
Aqui, ‘queridos’ leitores e leitoras, tenho que explicar que, naquela ocasião eu já andava a aprender inglês, cujo professor era um alferes do Exército e como tal, para ir treinando o meu ‘english’, respondi-lhe: - ‘Wait a minute’ - continuando: – ‘aaah isso é outra coisa’. Do you see this empty garrafões’? (eu, na ocasião, não sabia ainda como se dizia garrafões, em inglês) - ‘Quer ver’? - ‘Mas – disse eu - para melhor, deixe-me pegar na mangueira, para ‘fixar’ este barril que acabei de abrir agora mesmo.
Já eram seis.
Com ele a observar, meti a mangueira no barril, chupei e engoli um pouco, que até quase me ia engasgando, fazendo uma espécie de ‘aaaaaah’ - de propósito, mais até para o irritar um pouco mais - deixei correr mais ou menos dois litros e meio para um garrafão que ainda não estava cheio e, meti outra vez a varinha para garantir que o barril não tinha mais que 95 litros. Se tivesse um pouco menos, melhor ainda.
Pego na outra mangueira, dobro-lhe a ponta, desenrosco a agulheta, e acabo de encher o barril e, com a varinha medidora, remexo o conteúdo do barril. Pego num copo vazio que lá tinha sempre a mais - porque aos fins de semana apareciam sempre dois ou três amigos que andavam no Exército e, como lá no Exército, não havia tanta fartura – ou os sargentos do Exército roubavam mais - quase sempre me iam visitar, – tiro com a mangueira, um pouco de vinho do barril acabado de ‘batisar’ depois de remexer o conteúdo com a varinha somente para lhe dar a provar.
Depois, para que não ficasse com um sabor errado na boca, deitei um pouco de vinho no mesmo copo, retirado de um dos garrafões que estavam ao lado, mais até para ver se ele notava que o vinho que eu lhe dei na véspera, era de um ou de outro devido a que, na véspera, eu ainda não sabia deste problema e, como tal, o vinho da véspera não tinha sido batisado por mim, cuja religião, garanto-lhes é a melhor de todas. Neutral.
Bem, mesmo que a diferença não fosse muita, ela existia pelo menos, em dois ou três (+ - ) litros de água.
Coloquei aquele copo perto de onde eu tinha o meu e, de seguida, coloco o batoque de volta, prego a chapinha novamente, deito o barril no chão, dou-lhe umas duas voltas para misturar a mistura e volto a colocá-lo na vertical, etc., etc.
Peguei no meu copo que tinha ao lado, deitei mais um pouco de vinho no mesmo, estendi a minha mão com o outro copo para ele – meu querido tenente - disse-lhe: - À nossa saúde, para que as nossas mulheres não fiquem viúvas. - Isto, apesar de eu ainda ser solteiro – naquela ocasião - disse-o ‘anyway’ porque eu gosto de pensar de avanço.
Voltando um pouco atrás, eu, ao mesmo tempo que falava, utilizando o pedaço da mangueira, a sevina, para tirar o batoque do barril que ainda estava ‘virgem’, conforme ia mostrando ao Tenente como é que se fazia ‘o batismo à minha maneira’, e não à maneira desses grupos religiosos, que até andam ‘à caça dos 10% do ‘tithe’ por se ser membro da religião deles que, convém sublinhar, e segundo eles ‘é sempre a melhor de todas’ e que, é por isso, que eu não pertenço a nenhuma, como ia dizendo, conforme falava, gesticulava muito sendo até por isso que há pessoas que já me têm dito que é um defeito mas, ‘eu estou-me nas tintas’ desde que ‘acomplish’ os meus objectivos.
A terminar disse-lhe: - ‘Para o pessoal da casa usa-se este vinho que está aqui nestes garrafões ao lado porque, se tiver água, é água de Portugal.
E, aqui, na frase ‘é água de Portugal’, utilizei um tom de voz assim, como que um tanto ou quanto, com emoção ‘nacionalista’, como uma espécie de orgulho, por ser português.
Ele, o meu ‘querido Tenente’, quando viu (?) ‘o meu patriotismo’ assim mesmo quase (?) ‘à flor da pele’, foi-se embora sem sequer dizer uma ‘Avé-Maria’ e, que eu saiba, nunca mais falou no assunto, pelo menos para mim mas, que falou, falou.
A razão porque digo o que digo quando digo: ‘mas que falou, falou’ - é derivado a que, já depois de eu sair da tropa, passando à disponibilidade, como se diz ao facto de terminar o serviço militar – tendo ficado lá na Guiné – e já, portanto na vida civil, aconteceu que, o Tenente substituto do outro - que até foi também meu chefe, após substituir o primeiro - visitou o local onde eu trabalhava, chamado Solmar e, dirigindo-se a mim, chamou-me à parte, dizendo: - ‘Oh cabo, faça-me um favor' - e continuou - ‘vá lá acima à Messe a ensinar aquele “cabrão” do cabo Zé António – palavras do ‘Senhor Tenente’, embora eu é que as escreva – ‘senão vou eu e ele para a “Choupa".
A propósito, lembram-se da ‘choupa’.
Fim, por agora porque continuará numa próxima vez!...
Estejam alerta.
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Nota de CV:
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Guiné 63/74 - P9019: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (37): Palavras de um senhor defunto, um livro de Mário Serra de Oliveira (4): Autobiocómica: Passatempo, traquinices, enquanto teen-ager