sábado, 19 de outubro de 2013

Guiné 73/74 - P12171: Tabanca Grande (410): João Paulo Diniz, ex-locutor do PIFAS (Bissau, 1970/72), nosso grã-tabanqueiro nº 630

1. O novo membro da nossa Tabanca Grande, nº 630, é o nosso já conhecido João Paulo Diniz  [, foto à esquerda, quando locutor do PIFAS, Bissau, c. 19790/72. Foto do  Garcez Costa]:


O João Paulo Dinis tem mais de um dúzia de referências no nosso blogue. Estava convidado para integrar a Tabanca Grande desde março de 2012, convite a que anuiu, tendo nós ficado à espera de uma foto do tempo de Bissau (que nunca chegou a mandar).

Ele era militar de engenharia, BENG 447, tinha o posto de 1º cabo, foi requisitado para o Com-chefe para trabalhar na rádio, por ser já "locutor profissional!"... Na realidade, ele era o único locutor profissional do PFA, no seu tempo (meados de 1970/ meados de 1972). Como é do conhecimento público, ele teve uma importante participação no 25 de abril de 1974, ao lançar a primeira senha dos Militares de Abril, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa (e não Rádio Clube Português, como já vimos escrito por aí), às 22.55, do dia 24 de abril. A senha era a canção "E Depois de Adeus", interpretada por Paulo de Carvalho. Foi agraciado, pelo Presidente da Repúbica,  no passado 10 de junho, com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade.

O João Paulo Diniz trabalhou na rádio e na TV durante 47 anos. O último programa de que foi responsável, "Emoções", na Antena 1, terminou recentemente em 29/12/2012. 



Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas > c. 1970/72 > Álbum de Garcez Costa > Foto nº 4 > Da direita para a esquerda: Garcez Costa e João Paulo Diniz, à porta das instalações do Comando-Chefe das Forças Armadas

Foto: © Garcez Costa (2012). Todos os direitos reservados


 2. Eis o essencial da informação publicada no nosso blogue, e que nos vem sobretudo da memória e dos apontamentos do António Garcez, membro da nosssa  Tabanca Grande 11/9/2012 (**), bem como do João Paulo Diniz com quem falámos várias vezes ao telefone, em Março de 2012 (***), antes de o conhecermos  pessoalmente no nosso VII Encontro Mvaiional em Monte Real, nesse ano:

(i) O PFA. - Programa das Forças Armadas tinha estúdios próprios  na Avenida Arnaldo Schultz, onde funcionava o Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, sob a tutela do Estado Maior do Exército, com uma tafefa específica que era a de fazer "Acção Psicológica";

(ii) O emissor era em Nhacra;  a sede da emissora oficial (a Emissor a Nacional) era no (ou em frente ao) edifício dos CTT, na avenida da sé catedral, onde foi locutor, repórter e chefe de produção o Joaquim Soarees Duarte;

(iii) Após a intervenção logística dos Chefes da Repartição da APSIC,  Otelo Saraiva de Carvalho e depois Ramalho Eanes,  foi remodelado de todo o equipamento técnico dos estúdios de gravação e directos, e foram aumentados e melhorados ps recursos humanos na área de Rádio e Imprensa;

 (iv) O primeiro locutor profissional a trabalhar no PFA foi  falecido Raul Durão; mas havia muito mais malta a trabalhar no programa...  Por exemplo, o  1º Sargento Silvério Dias e a sua esposa, Maria Eugénia (tal "senhora tenente", de que muita malta se lembra;  colaborava graciosamente a em tarefas administrativas e radiofónicas)... Havia uma vasta equipa, chefiadea pelo  1º  sargento Silvério Dias, com o furriel mil Garcez Costa,  o furriel mil Jorge Pinto... O Carvalhêda virá mais tarde...

(v) O programa, de 3 horas diárias, tinha o seguinte horário: 1º tempo: 12h-13h; 2º tempo: 18h30-19h30; 3º (e último) tempo: 23h-24h...

(vi)  A mascote do PIFAS, da autoria do Jorge Pinto (também conhecido por "Jorginho" e "Pifinhas", hoje com paradeiro desconhecido) e do José Avelino Almeidam  terá sido feita em Espanha... Era distribuída (gratuitamente) pela população e pelos militares...

  (vii) No tempo do João Paulo Diniz, o Chefe de Núcleo era p alf mil Arlindo de Carvalho, hoje figura pública político-partidária;

(viii) Outro Carvalho foi o António (Tony), carinhosamente tratado por engenheiro de som e do discotecário Carlos Castro;

(ix) O último a fechar as portas, em 1974, terá sido o José Manuel Barroso, sobrinho do casal Mário Soares/Maria Barroso.

(x) Nos quadros desta estação, enquanto militares, passaram, entre outros, os compositores Rui Malhoa e Nuno Nazareth Fernandes, e o açoriano António Lourenço de Melo, da actual RDP-Antena 1.


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Ao centro, o João Paulo Diniz (Lisboa), do PIFAS; à sua direita, o Álvaro Vasconcelos (Baião),. que lhe levava a chave do totobola para ser divulgado no Programa das Forças Armadas; e à sua direita, o nosso tabanqueiro sénior Belarmino Sardinha (Odivelas).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados

3. Currículo profissional, resumido, do João Paulo Diniz (JPD), enviado em 13 do passado mês de maio:

(i)  profissional de Rádio e TV;

(ii)  47 anos de actividade profissional "durante os quais nunca faltou um dia ao trabalho"; 

(iii) seis anos na BBC em Londres; 

(iv) director da Rádio Alfa em Paris; 

(v) director de Informação da Rádio Comercial;

(vi) dinamizou o Programa da Manhã da Antena 1 como apresentador;

(vii) colaborações várias na TVI, SIC e RTP (nomeadamente RTP-Memória);

(viii) entrevistou inúmeras personalidades nacionais e estrangeiras, "com destaque para o Papa João Paulo II e Nelson Mandela";

(ix) assessor de Imprensa do Alto Comissário para Timor-Leste; 

(x) assessor de Imprensa da Federação Portuguesa de Futebol, tendo trabalhado com a Selecção Nacional por alturas do Euro2004:

(xi) línguas: fluente em inglês e francês; fala espanhol e um pouco de italiano;

(xii) deuixou recentemente os quadros de pessoal da RPP / RDP mas quer continuar a ser útil  e trabalhar, eventualmente, como Assessor de Imprensa ou num Gabinete de Comunicação de uma empresa.

O João Paulo Diniz não precisa de mais apresentações. Já foi recebido de braços abertos na nossa Tabanca Grande, em Monte Real do penúltimo encontro nacional, em 21 de abril de 2012. Só tenho a pedir-lhe desculpa pelo atraso (administrativo...) na formalização da sua entrada neste "batalhão" de camaradas e amigos da Guiné. (LG)

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Vd. também poste de 23 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9645: O PIFAS, de saudosa memória (10): A mascote, um caso sério de popularidade (José Romão)... E até o 'Nino' Vieira ouvia o programa! (João Paulo Diniz)

Guiné 63/74 - P12170: Estórias do Juvenal Amado (49): Afinal era bala real - Lembrando João Caramba

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 13 de Outubro de 2013:

Caros camaradas
Lembrar os nossos é um exercício que se faz naturalmente, pois desse tempo que passámos juntos fica a necessidade de deles falarmos.
Parece que estão mais próximos, atenua o nosso sentimento de perda e prestamos-lhe uma homenagem que não tem preço, não é institucionalizada pois não se institucionalizam os sentimentos.
Juvenal Amado



AFINAL ERA BALA REAL

O Passos contou-me esta ocorrência na última vez que estive com ele, quando lembrávamos o nosso camarada João Caramba, onde fica demonstrado o voluntarismo e a noção de entreajuda que norteava o nosso saudoso amigo.

O caso passou-se quando ainda estávamos no Cumeré em treino operacional, antes de seguirmos para o Leste.

O Passos nunca dizia não a uma jogatana de futebol e embora com um calor pouco convidativo à sua prática, era raro o dia em que não houvesse jogos entre pelotões, ora da CCS ora das companhias operacionais.

Nesse dia o Passos torceu um pé. Não dando muita importância a verdade que após o fim do jogo e com o arrefecimento, a dor no artelho bem como em todo o pé, que apresentava já algum aspecto inchado, tornou-se incomodativa levando-o a procurar ajuda na enfermaria.

Aí levou uma pomada, uma ligadura na zona afectada e a troco de uns analgésicos LM tomados a horas certas, o Passos esqueceu-se da dor.

Mas a malta não estava lá para jogatanas e mesmo nessa tarde o Pelotão de Reconhecimento foi chamado para instrução de guerrilha e contra guerrilha.
A simulação de um golpe de mão a um pelotão de uma das companhias operacionais era a ordem. Estavam connosco as seis companhias operacionais desembarcadas do Angra do Heroísmo, 3 continentais e 3 madeirenses.

O resultado do insucesso desta operação, era ficar prisioneiro do pelotão “atacado” toda a noite e no outro dia, ser exibido como troféu pelos que eram para ser caçados e passavam assim a caçadores.
Embora fosse a brincar, ninguém do Pel Rec queria deixar os seus créditos por mãos alheias e passar por essa vergonha.

Foram feitas equipas de dois calhando numa delas o Passos e o Caramba.
Tinham sido informados de que os atacados tinham bala simulada e não deveriam responder ao fogo.

Lá se foram aproximando da força “inimiga” com todo o cuidado, e estando conscientes de que acabariam por ser detectados,  tinham após isso, tudo fazer para não serem feitos prisioneiros.

E assim foi. Quando foram detectados, pernas para que te quero pelo mato fora. Atrás deles ouviam os disparos.

Mas o pé do Passos não o deixava correr muito, uma vez que cada vez lhe doía mais, com a agravante de ter batido com ele ao saltar do Unimog que os tinha levado ao local onde se iniciaria a operação.

Os perseguidores ganhavam terreno a olhos vistos e o Caramba teimava em não deixar o Passos para trás, dizendo: ou fugimos os dois ou somos os dois apanhados.

Nisto o Caramba manda o Passos atirar-se pra o chão pois detectou que alguém estava a usar bala real. No chão o Passos por instinto meteu bala na câmara com o Caramba a gritar para não responder ao fogo e logo de seguida levantar os braços gritando que se rendiam.

Os perseguidores aproximaram-se todos risonhos e eufóricos da vitória, não esperavam que o Caramba desse um salto em frente para desancar o responsável pelos tiros, que lhe tinham assobiado aos ouvidos.

- Ou me tiram este gajo da frente ou eu parto-lhe as trombas.

No meio de enorme burburinho e acusações, foram ver o carregador da G3 e ele tinha de facto balas reais. Foi um momento de consternação para todos com o Caramba a jurar pela pele do atirador.

Do que se passou a seguir, o Passos disse-me que não soube mais nada sobre o resultado da ocorrência, mas pensa que aquilo foi abafado tendo ficado em nada.

A falta de preparação com saíamos da recruta/especialidade e eramos enviados para a Guiné, era muita e houve muitas tragédias que se poderiam ter evitado.

A sorte era escapar.

Entretanto o Batalhão 3872 embarcou numa LDG e na Bóro direito ao Xime e o episódio foi-se diluindo nos verdadeiros perigos que se avizinhavam daí para a frente.

Um abraço para todos
Juvenal Amado

João Caramba a bordo do "Angra do Heroísmo" ao largo da ilha da Madeira

A malta do Pelotão de Reconhecimento em confraternização
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11382: Estórias do Juvenal Amado (48): Fizeram-me lembrar os "Doze Indomáveis Patifes"

Guiné 63/74 - P12169: Os nossos seres, saberes e lazeres (58): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (5) (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 21 de Setembro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 5.º episódio da narrativa da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.





7000 milhas através dos USA - 5


Pela manhã deixámos o “Hotel das Côcas”, como dizem os nossos familiares, que é o Hotel “Stanley”, onde diziam que apareciam “fantasmas” de noite, em Estes Parque, nas montanhas do Colorado, onde nada apareceu ao Tony e sua companheira e esposa, portanto sem qualquer preconceito, com a sua mente limpa, pensando somente no tráfego e no próximo destino, voltaram à estrada número 25, tomando o rumo do norte.

Depressa cruzaram a fronteira com o estado de Wyoming, que dizem ser um dos estados mais escassamente povoados, e a palavra Wyoming, no idioma indígena significa “terra de vastas planícies”, onde se pratica a pecuária, a agricultura, mineração e claro, o turismo, onde existem grandes áreas desertas, tanto na montanha como nas planícies, que são considerados parques, como o “Grand Teton National Park”, o “Yellowstone National Park” e outros, pois mais de 48% do território é propriedade do estado, e que são administrados pelo Serviço Nacional de Parques ou outras agências do governo.

Duas curiosidades, este território de fronteira, em 1869, foi o pioneiro onde as mulheres podiam ter direito a voto, e o resultado foi que em 1924, Wyoming foi o primeiro estado onde elegeram uma mulher para governador! Só o “Yellowstone National Park” e o “Grand Teton National Park”, recebem ao ano mais de quatro milhões de visitantes!

Visitaram o centro de boas-vindas, onde os informaram do percurso que desejavam, e quais os locais mais importantes de acordo com o que queriam ver. Havia diversas maneiras de cruzarem o estado, podia ser por estradas rápidas, ou atravessando planícies quase desertas, onde podia aparecer um letreiro a dizer que a próxima aldeia ou vila era a 100 milhas de distância!



Optaram por o letreiro a dizer que a próxima aldeia ou vila era 100 milhas de distância, portanto na cidade de Cheyenne, que é a capital do estado, encheram o tanque de gasolina, compraram fruta, água e gelo, o GPS indicando o próximo destino, e sem dar por nada estavam sozinhos na estrada, rumo ao norte. De vez em quando passavam algumas pessoas de moto, o que é sinal que a paisagem deve de ser linda, pois essas pessoas que viajam por aquelas paragens de moto, são como antigamente os cowboys, gostam da paisagem e da solidão. Levantavam sempre a mão quando por nós se cruzavam, que devia de ser a dizer, “alô, tem calma, desfruta da paisagem”, isto foi por milhas e milhas, sem qualquer povoação, abandonada ou não, não se via sinais de vida, só algumas caravanas ou motos, até que chegamos muito perto da povoação do célebre “Forte Laramie”, onde a população ainda não ultrapassa as 250 pessoas. As ruínas do forte situam-se a poucas milhas, e que era um importante local de paragem para quem viajava nos “Trails”, ou seja, caminhos que iam dar a Oregon, Califórnia e mesmo a Mormon, também servia de ponto de paragem e abastecimento aos militares que iam fazendo a expansão do território por estas planícies onde havia muitas aldeias e tribos de índios.

Visitámos este forte que está situado quase quando se cruza o “North Platte River”, um pouco na entrada do “Laramie River”, onde ainda se podem ver as camaratas dos militares, algumas divisões das casas dos oficiais que viviam com as suas famílias, as cavalariças dos cavalos junto ao rio, a parada e algumas peças de artilharia usadas na época.

Daí continuámos na estrada número 85, rumo ao norte, com o GPS a falhar de vez em quando com falta de sinal, a paisagem sendo sempre a mesma, de vez em quando surgiam diversas alterações no terreno, com o aparecimento das “Badlands”, que é um tipo de paisagem ruiniforme de características áridas e extensamente erosada pelo vento e pela água, existem desfiladeiros, ravinas, barrancos, canais e outras formas que são comuns nas terras baldias e que é difícil caminhar por elas, aqui e ali viam-se alguns búfalos, pequenas manadas, mas viam-se.


Depois de muitas milhas rumo ao norte, encontrámos um dos destinos que nos fizeram mover para estas paragens, que era a “Devils Tower National Monument”. Ao longe, umas milhas antes já se pode ver, dizem que é um vulcão cilindrico, extinto há milhões de anos, com 275 metros de altura. Está localizado na região nordeste do estado de Wyoming, nas “Black Hills”, próximo de Hulett e Sundance, no distrito de Crook, um pouco acima do rio “Belle Fourche”. A Torre do Diabo, é famosa por ter aparecido no filme de ficção científica “Encontros Imediatos de Terceiro Grau”, de Steven Spielberg. O presidente Theodore Roosevelt, declarou a Devils Tower com Monumento Nacional dos Estados Unidos em 1906. Muitas tribos de índios, referem-se à Devils Tower, com um local sagrado e de meditação, a nós mereceu-nos respeito e curiosidade, fazendo-nos pensar, como a terra que habitamos tem tantas maravilhas e tantos segredos.

Ainda era dia, o sol não ia muito alto, ainda havia tempo de rumar a outras paragens, pois este local foi o mais distante do estado da Flórida, por onde andámos, tanto para oeste como para norte. Junto de nós estava uma família que nos pediu para tirar uma foto juntos, com a Devils Tower ao fundo, o que fizemos, e também pedimos o mesmo, andavam na “estrada” ia para um mês, tinham vindo da povoação de Deadwood, em Dakota do Sul, que era o nosso próximo destino, eram oriundos da cidade de Montreal, no Canadá, quando souberam que éramos europeus, queriam falar francês, dizendo que os seus avós eram franceses, pensando que na europa todas as pessoas falavam francês, enfim, disseram-nos que tinham passado quase uma semana em Deadwood, acampados nas colinas, aconselhando-nos a cruzar as montanhas de “Black Hills”, e seguirmos o trajecto de montanha, pois o sol ainda ia alto, e havia grandes cascatas de água, e montanhas lindíssimas, com vales onde existia grandes lagos. Foi o que fizemos, com um roteiro desenhado por essa família, com a ajuda do GPS, que às vezes dava algumas falhas de sinal, atravessando montanhas, parando aqui e ali, não querendo abandonar alguns cenários, atravessámos a fronteira, entrando em Dakota do Sul.

Foi em 1858 que o governo americano criou o “Território de Dakota”, que incluia o que é actualmente os estados de Dakota do Norte e Dakota do Sul, que até então eram parte do “Território de Minnesota”. Era escassamente povoado até ao século XIX, quando as primeiras linhas do caminho de ferro começaram a atravessar o território e com elas vieram milhares de famílias que incentivaram a prática da agricultura na região, tornando as planícies da Dakota do Sul, nuns dos líderes nacionais na produção de trigo. Em 1889 o “Território de Dakota” foi dividido nas actuais Dakota do Sul e Dakota do Norte, e elevadas à categotia de estados. A parte oeste, onde atravessámos a fronteira, é a região de “Black Hills”, uma região montanhosa que é visitada por milhões de turistas, e onde abriga o “Monte Rushmore”, que falaremos mais à frente. O nome Dakota na língua “sioux”, significa “amigo”.

Continuando com a nossa rota, estava já a anoitecer, quando chegámos à povoação de Deadwood, em Dakota do Sul. É uma povoação diferente, está situada nas colinas das montanhas de “Black Hills”, tem uma história que vem de algumas centenas de anos, e não nos querendo alongar muito, dizem que o assentamento ilegal de Deadwood começou em 1870 no território concedido aos índios americanos no “Tratado de Laramie”, em 1868, que na opinião do Tony, registe-se que nada vale, já era deles. O tratado dava a posse garantida do “Black Hills” ao povo Lakota, e as disputas sobre as colinas continuaram, e tinham que continuar, pois outra vez na opinião do Tony, havia lá ouro, tendo atingido a Suprema Corte dos Estados Unidos, em diversas ocasiões. No entanto, em 1874, o coronel George Armstrong Custer, liderou uma expedição a essas montanhas, e anunciou a descoberta de ouro no “French Creek”, que era um ribeiro que por lá passava, muito perto da povoação do actual Custer, no estado de Dakota do Sul. O anúncio do coronel Custer desencadeou a corrida ao ouro na “Black Hills”, e deu origem à cidade sem lei de Deadwood, que rapidamente chegou a uma população de cerca de 5000 pessoas, onde antes existiam apenas umas dezenas. Com a nova população, cresceram estábulos, casas e barracas, vendendo tudo o que era necessário para os novos exploradores de ouro, salões de jogo, bares, vieram aquelas raparigas a quem chamam da “vida fácil”, o álcool corria nas gargantas, sendo tudo pago com “pepitas de ouro”, não havia lei, ou se havia não se respeitava, matava-se por uma pá, uma bacia de limpar a terra do ouro, ou por um burro de carga, enfim, era a lei do mais rápido.

Foi onde, no célebre “Salon N.º 10”, assassinaram o famoso cowboy, que também serviu de guia militar e explorador, “Wild Bill Hickok”, que usava uma grande faca e duas grandes pistolas, dizia-se que tinha lutado sozinho contra muitos ursos, matado muitos “peles- vermelhas”, tinha ganho umas dezenas de duelos, era forte e audaz, conhecia todo o território, em especial as “Black Hills”, e um dia um garoto, que se lembrava da sua cara por ter morto o pai, que o desafiou num duelo, lhe disferiu dois tiros nas costas, assim de repente, à queima-roupa, acabando com toda a sua audácia e rapidez, e dizem que está sepultado no cemitério, nas colinas de Deadwood, ao lado da sua também irreverente “Calamity Jane”.

Deadwood foi protagonista de uma longa série televisiva que apaixonou milhares de pessoas, hoje a sua população anda à volta de 1300 pessoas, as ruas e a estrutura da povoação mantêm-se, é considerada “Nacional Historic Landmark District”, em todos os bares e restaurantes existe casinos com máquinas de jogo, a bebida continua a correr, algumas raparigas ainda andam pela porta dos bares, principalmente à noite, há música e festas em tudo o que é esquina, é visitada todos os dias por centenas, talvez milhares de pessoas, principalmente motares que fazem desfile, a ver quem tem a sua moto mais bonita e mais bem limpa.

Dormimos aqui, depois de andar pela rua principal, junto de centenas de pessoas, de cerveja na mão.

Tony Borie,
Agosto de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12067: Os nossos seres, saberes e lazeres (57): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (4) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12168: Parabéns a você (641): Carlos Filipe Coelho, ex-Soldado Radiomontador do BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12163: Parabéns a você (640): Luís Nascimento, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71)

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12167: Blogoterapia (238): Descansa em paz, Luís Faria (1948-2013), meu amigo, meu camarada (António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)

1. Comentário do António Matos (ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72) (*):


À laia de discurso fúnebre e para os amigos e conhecidos comuns, deixo aqui a minha homenagem póstuma ao Luis Faria que a emoção não permitiu verbalizá-la in loco.

"Luís,

A bombástica e surpreendente notícia do teu falecimento tolhe-me o discernimento para articular as palavras que gostava de te dirigir aqui e agora.

Contudo, recordo que bastos foram os bons 
e os menos bons momentos que passaram a constituir o acervo da nossa amizade.

Foram várias as fases das nossas vidas que, ao se cruzarem, alicerçaram essa amizade e a tornaram muito sincera, verdadeira, fraterna e sempre condimentada com o sal das nossas diferenças comportamentais, os feitios e a postura face às agruras e felicidades do momento.

Recordo-te desde os tempos liceais em Guimarães onde, um dia, te "contratei" para fazeres parte dum número musical numa récita de finalistas atendendo à tua mestria no domínio da viola...


Posteriormente, viemos a encontrar-nos aquando dos nossos tempos militares...

Apresentámos-nos ambos nas Caldas da Rainha mas logo nos separámos com o meu ingresso em Mafra...

Com os preparativos da ida para o ultramar, fui para os Açores de onde embarquei.

Um dia, na viagem a bordo do Carvalho Araújo, alto mar, descubro que seguias também nessa odisseia ...




Uma vez na Guiné, fomos para locais diferentes; tu para Teixeira Pinto e eu para Bula mas em 1971/72, voltamos encontrar-nos fazendo parte da equipa de montagem (e posterior desmontagem) daquele imenso campo de minas ao longo de cerca de 10 kms ...

Foram tempos terríveis mas que executámos com a perícia, a garra e a sorte que só a frescura dos nossos 20 anos permitiu ...

Regressados e com arraiais montados na zona de Lisboa, cada um a seu tempo casou, apareceram os filhos, e partilhámos vidas ...

Integrámos os nossos familiares no núcleo duro do nosso habitat ...

Conheci os teus pais, os teus sogros, conheço os teus irmãos, cunhados, sobrinhos ...Apadrinhei o teu filho ...

O tempo passava ...

Mantivemos sempre o contacto quer pessoal quer através das redes sociais quer mesmo através das intervenções que ambos fazíamos no blog da Guiné ...

Hoje, sem aviso prévio, de surpresa, com a saudade a instalar-se em todos nós, foste embora ...

Descansa em paz, Luis Faria !" (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12157: In Memoriam (162): Faleceu ontem, dia 15, o Luís Sampaio Faria, que foi Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72; tinha 65 anos (1948/2013), era natural de Felgueiras, vivia em Paranhos, Porto. O funeral é 5ª feira, dia 17, pelas 15h00, na igreja de Paranhos (Magalhães Ribeiro)

(**) Último poste da série >  14 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12149: Blogoterapia (236): Sê feliz, Cátia (Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P12166: In Memoriam (163): Joaquim Soares Duarte (1933-2013), voz inconfundível da antiga Emissora Oficial da Guiné Portuguesa (João Paulo Diniz, ex-locutor do PIFAS, 1970/72)

1. Mensagem do João Paulo Diniz [, foto à esquerda],  acabada de chegar:

Grande Luis,

Decerto te recordas do Soares Duarte, voz inconfundível da "Emissora Oficial da Guiné Portuguesa". 


Também ele foi militar e acabou por ficar por lá na vida civil.

Soube anteontem do seu falecimento, no sábado passado, e escrevi a mensagem que junto a 'pessoal' amigo no Hotmail e no Facebook.

Se achares que tem algum interesse falar dele, tudo ok?

E estás bem? 
Grande abraço, JPD-


2. Porque morreu um homem bom

por João Paulo Diniz

[, ex-locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, mais popularmente conheccido como o PIFAS;  pertenceu originalmente ao BENG 447, 1970/72;  foi responsável do programa "Emoções", na Antena 1, cuja última emissão passou a 29/12/2012; foi agraciado, no passado 10 de junho, com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade, pela sua participação no 25 de abril de 1974]


Hoje fiquei triste, logo de manhã, quando consegui confirmar o falecimento de um Amigo de há mais de 40 anos. Conheci-o na Guiné - eu fazia o serviço militar, ele era a grande voz da então chamada "Emissora Oficial da Guiné Portuguesa". E ia a todas: reportagens no Palácio do Governador, relatos de futebol, locução de todo o tipo de programas, directos no aeroporto de Bissau na chegada/partida de alguém de mais peso, publicidade.


Na Guiné ele viveu uns bons anos, trabalhou muito. Mas não dispensava o seu 'whisky' com água e, muito especialmente, nunca se esquecia de privar com os muitos amigos que foi conquistando, graças à sua simpatia e boa disposição.

Agora resolveu ir-se embora. Partiu no sábado, discretamente como sempre o foi na sua vida. E hoje não pude deixar de ir a Leiria para dar um abraço à Luisa, sua Mulher de uma vida inteira - mais de 50 anos de casados, celebrados ainda não há muito tempo. Filhas e netas constituem a herança feliz deste casal, daqueles que, como diz alguém que conheço, "já não se usam"...

Para quem não saiba, o homem a quem me refiro é para se escrever com maiúscula. Porque, JOAQUIM SOARES DUARTE era, acima de tudo, um Homem Bom!

Que o Senhor te conceda a Paz que mereces, querido Amigo!!

[Foto acima, à direita, de Joaquim Soares Duarte, a dizer poesia do peota açoriano Álamo Oliveira, em Alcanena. Cortesia do blogue Caminhos Entrelaçados, de AS Nunes, 30/10/2011]


3. Informação adicional, recolhida na Net,  sobre o antigo radialista da RDP-Centro, Soares Duarte:

(i)  Faleceu, aos 80 anos, no passado dia 12, em Leiria, vítima de cancro;

(ii)  Era natural da Nazaré;

(iii) Trabalhou como profissional da rádio em Goa, na Guiné (como chefe de Produção da Emissora Nacional) e ainda nos estúdios em Lisboa da Emissora Nacional;

(iv) Terminou a carreira profissional em Coimbra, na então RDP-Centro;

(v) Aposentou-se como Realizador de Programas;

(vi)  Foi um dos fundadores da Associação de Reformados da RDP/RTP, de que era sócio;

(vii) Poeta e declamador,  editou o livro de poesias de sua autoria “Pedaços de Vida” (Leiria: Folheto Edições & Design, 2004,  32 pp).

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12157: In Memoriam (162): Faleceu ontem, dia 15, o Luís Sampaio Faria, que foi Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72; tinha 65 anos (1948/2013), era natural de Felgueiras, vivia em Paranhos, Porto. O funeral é 5ª feira, dia 17, pelas 15h00, na igreja de Paranhos (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P12165: Notas de leitura (526): "Um Novo Caminho: Os Congressos do Povo da Guiné", por Manuel Belchior (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Junho de 2013:

Queridos amigos,
Nunca vi devidamente tratada a questão ideológica dos Congressos do Povo como neste trabalho de Manuel Belchior, supostamente um dos assessores que terá carreado argumentos favoráveis ao novo significado destas assembleias Povo/Governo.
Belchior parte da noção que a sociedade tradicional foi maltratada nos países independentes, havia que demonstrar à comunidade guineense que o Governo apoiava o diálogo, tinha o ouvido à escuta para todos os reparos construtivos. Os movimentos nacionalistas eram controlados por elites de formação europeia que desprezavam as hierarquias tradicionais, iriam erradicá-las. Era preciso demonstrar a essas sociedades tradicionais que o Governo da Província não só promovia a sua existência como era o garante da sua respeitabilidade. Ao que parece, foram importantes mas chegaram tarde, a capacidade de armamento do PAIGC e a população apoiante revelaram-se superiores aos olhos da comunidade internacional, que caucionou, sem hesitar, a independência sob a égide do PAIGC.

Um abraço do
Mário


A ideologia dos Congressos do Povo da Guiné

Beja Santos

Manuel Belchior foi um funcionário colonial que se distinguiu pelos seus trabalhos de recolha de contos e narrativas dos povos Mandinga e Fula. Trabalhou ativamente nos conceitos que deviam suportar os Congressos do Povo, gizados por Spínola e mantidos por Bethencourt Rodrigues, no seu breve mandato ainda se realizou o 5.º Congresso. Em 1973, a editora Arcádia deu à estampa a sua obra “Um Novo Caminho: Os Congressos do Povo da Guiné”. É indubitável que Belchior lançou mão de um suporte ideológico para uma das mais temíveis armas que Spínola usou contra o PAIGC, a consulta popular em assembleias primeiro regionais e depois provinciais. Belchior questiona mesmo se o sucesso da experiência não devia ser aferido em Angola e Moçambique. E explica que este seu trabalho de reunião entre o Povo e o Governo é a única via capaz de congregar entusiasmo e determinação dos povos para enfrentar os sacrifícios da guerra. Daí explicar a argumentação ideológica subjacente à às boas práticas e aos ensinamentos havidos com os Congressos do Povo.

Primeiro, a iniciativa do Congresso nasceu numa necessidade real e urgente de permitir uma expressão direta de comunicação entre as diferentes etnias (mediante representação) e o Governo da Província. Concebeu-se o Congresso como um amplo espaço para dar voz aos representantes das sociedades tradicionais. As elites africanas de cultura europeia, por vezes dominadas pela lógica ocidental, rejeitam valores culturais das sociedades tradicionais, tratando-as como primitivas. Acontece que estas sociedades são o esteio da vida agrícola, se não forem respeitadas cederão aos cantos da sereia da guerrilha, jamais confiarão no Governo da Província e participarão sem sinceridade no esforço de guerra. Para ganhar a guerra é fundamental mostrar que se restituiu a dignidade de todas as etnias e de todas as culturas num projeto de sociedade multicultural. E essa política de respeito tem a sua expressão no Congresso do Povo.

Segundo, a essência do Congresso não reside na apresentação de teses escritas mas na capacidade de comunicação dos congressistas face a um conjunto de temas que são postos à discussão, de natureza transversal. Por exemplo, o que pensam todos dos novos reordenamentos. É por isso que existe uma fase regional, onde se faz o levantamento dos problemas tidos como prioritários. Citando o régulo Mamadu Bonco Sanhá, régulo de Badora, apelando a uma grande participação, ele fê-lo nos seguintes termos: “Nós não devemos pedir ao Governo que nos defenda. O que nós devemos pedir são armas porque devemos ser nós a poder defender com sucesso o nosso país, nós conhecemos bolanha por bolanha, árvores por árvore”. Mais adiante, o autor refere que no 4.º Congresso, um congressista de Catió censurava a conduta daqueles que se prestavam a fazer o jogo duplo. Logo no 1.º Congresso um orador Balanta tinha criticado certos ordenamentos cuja localização passara ao arrepio da consulta popular, tinham ficado longe das bolanhas, é nestas que está a fonte da alimentação, havia reordenamentos muito interessantes em termos de condições de vida mas que se saldavam em canseira nas idas e vindas e nos perigos das razias dos guerrilheiros. Esta crítica surgiu no Congresso Regional de Bissorã onde um orador observou que havia aquartelamentos mal implantados por estarem distantes das populações, que se sentiam inseguras. O autor sobreleva exatamente a sinceridade usada e quando se obtém resposta e se soluciona um problema, o amor-próprio dos intervenientes aumenta, sentem utilidade na participação.

Terceiro, a liberdade de expressão é uma regra de ouro. Belchior refere que numa reunião havida em Bafatá, a preceder o 4.º Congresso, um chefe religioso chamado Al Hagi Zacarias Jau declarou que a guerra não acabaria enquanto os brancos não abandonassem o território, o que deu origem a uma vaga de indignação, o régulo de Ganadu exigiu que o homem lhe fosse entregue para ser executado. Replicou-se que os congressistas tinham direito à liberdade de expressão. E na discussão que estalou na assembleia foi referido que os chefes hereditários e os chefes de tabanca tinham sido eliminados na República da Guiné e no Senegal. Belchior chama a atenção que a África tradicional é uma gerontocracia, autoridade aumenta com a idade, impõe dar um sinal público de profundo respeito por tais instituições, só assim se pode validar e conferir dignidade ao Congresso do Povo.

Quarto, os Congressos do Povo surgiram para resolver o grave contencioso entre Mandingas e Fulas, etnias que constituíam o pilar de apoio das sociedades tradicionais aos portugueses. Foi daqui que se evoluiu para outra estrutura, os congressos regionais que contemplavam cinco grupos de etnias, nunca se descurou a base étnica, ponto de partida para a assembleia de todos os povos. E cedo se definiu o objetivo dos congressos: reconhecimento da dignidade dos guineenses e das suas culturas; encorajamento do diálogo; deteção dos erros do governo ou dos seus agentes; deteção dos casos em que as leis portuguesas se revelam manifestamente inaptas para as sociedades tradicionais; conhecimento da existência de conflitos entre etnias; encorajamento da colaboração entre os nativos e a administração da Província. É com base nestas linhas que o autor discreteia sobre a dignidade guineense, a necessidade da sua progressiva integração cultural e do conhecimento das culturas tradicionais. Para Belchior, os congressos são uma escola de diálogo e um exemplo a seguir em todos os escalões mais baixos da administração, como ficou anteriormente dito, confere-se ao Congresso a capacidade de deteção dos erros da administração e a capacidade de deteção de incompatibilidade entre o direito português e as sociedades tradicionais. O exemplo escolhido foi da pensão de sangue dos militares africanos mortos em que a lei consagra que devem ser pagas às viúvas, daí a ampla discussão sobre quem deveria ser o verdadeiro beneficiário da pensão de guerra na medida em que a viúva pode ser entregue a outro membro da família e as injustiças que tal procedimento pode acarretar.

À laia de conclusão, Belchior lembra que a situação da Guiné tem diferenças pronunciadas de Angola ou Moçambique. Isto a propósito de uma minoria de autóctones dispor de uma cultura europeia quem nem sempre está atenta à cultura tradicional. Acontece que os portugueses não têm preconceitos raciais, não fazem distinção entre o africano evoluído e o mais comum dos metropolitanos estão abertos ao diálogo entre as duas sociedades e a dinamizar o seu respeito mútuo. A lógica do Congresso permite ao Governo conhecer os sentimentos da população africana de igual modo que os barómetros permitem avaliar a pressão atmosférica. E termina dizendo que a guerra que nos é imposta em Angola, na Guiné ou em Moçambique não é uma guerra de carácter nacional como foi a da Argélia ou da Indochina. Isto porque o inimigo tem do seu lado uma minoria da população, a maioria deseja a paz. Essa minoria pretende dinamitar as estruturas tradicionais. Ora os chefes dos movimentos de libertação sonham com um grande mercado de consumo para África o que para Belchior é um erro trágico já que a economia de subsistência torna indispensável a conservação das estruturas tradicionais, incompatíveis com esse grande mercado de consumo, o sonho daqueles que pretendem ver instaladas grandes sociedades industriais em África.

Em suma, essas sociedades tradicionais, devidamente respeitadas pelas autoridades portuguesas são o mais forte travão do ímpeto da guerrilha.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12148: Notas de leitura (525): "Do Estado Novo ao 25 de Abril", por Mário Matos e Lemos (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12164: Álbum fotográfico do Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71 (Parte IV): Tempo(s) de lazer(es)... "Chorei, sofri, lutei mas venci"...



Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Pessoal de transmissões... O 1º cabo cripto Luís Nascimento, mais conhecido  pela alcunha  (ou nome de guerra...) "Assassin" (soletre-se: "a-ssa-ssã")... É o primeiro a contar da direita... O cartaz, ao fundo, diz: "Canjambari CCAÇ 2533. Chorei,  sofri,  lutei mas venci. Os rouxinóis do micro. Guiné 69-71. Farim".


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Os nove magníficos das transmissões...  O 1º cabo cripto Nascimento é o primeiro, da segunda fila, a contar da direira para a esquerda.


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > Os tempos de lazer (1)... O nosso 1º cabo cripto Nascimento, em primeiro plano, à esquerda... Instalações do aquartelamento ao fundo...


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >  Tempo de lazer (2)... Uma beldade local.


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >  Tempo de lazer (3)... Também havia intervalos na guerra... Diz a lacónica legenda:  "Parque auto. O cripto e o furriel (presume-se) da "ferrugem" (ou das "transmissões" ?)...


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >  Tempo de lazer (4)... Diz a (lacónica) legenda: "Três lisboetas em Canjambari"... Descubram o "assassino"...


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >  Tempo de lazer (5)... Diz a (lacónica) legenda: "Cantina de oficiais e sargentos" (sic)... Descubram onde está o nosso herói...


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >  Tempo de lazer (6)... "Leitura a dois", diz a (lacónica) legenda... O que será feito deste puto, que aprendeu as primeiras letras com o nosso "Assassã" ?

Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição / Legendagem complementar: L.G.]



1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do nosso camarada, Luis Nascimento, o ex-1º Cabo Operador Cripto Nascimento (também conhecido, na tropa por Assassã, do francês "assassin", assassino, alcunha que ganhou no tempo em que era... júnior do Académico de Viseu) [, foto atual à esquerda].

O nosso grã-tabanqueiro Luís Nascimento, que faz hoje anos,  pertenceu à CCaç 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71). As fotos foram-nos enviadas pela sua neta, Jessica Nascimento em 1/10/2013.

Deve ser uma ternura de miúda, que deixa qualquer avô... babado.  Foi ela quem, no passado dia 12,  nos pediu o seguinte favor:

"Boa tarde, sr. Luís Graça; Gostaria de lhe pedir um pequeno favor, é o seguinte: No blogue, costuma fazer uma pequena surpresa às pessoas que fazem anos.  Eu gostaria de fazer a mesma coisa com a foto do meu avô, seria possível?

18-10-1947 > Luis Nascimento ( Ex.1º Cabo Op. Cripto)

Obrigada,
Jéssica Nascimento
"

2. Comentário de L. G.:

Digam lá se não havia cabos criptos com sorte...  Lá no cu de Judas, a milhares de quilómetros de Viseu, lá onde acabava (provisoriamente) o deserto do Sará, lá naquela terra verde e vermelha a que chamávamos Guiné ?!

Pois eu, até agora só conhecia o sortudo do meu amigo e camarada da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambandinca, 1969/71), o GG, Gabriel Gonçalves, também conhecido pelo "Joselito de Bambadinca", o "rouxinol do setor L1" ou ainda a "voz de ouro do chão fula"...

Luís Nascimento, estima muito a tua neta... E vive muitos anos para a ver a crescer, e continuar... a apaparicar-te!.. Parabéns, camarada! Muita saúde e longa vida.  (LG)

PS - Luís Nascimento, depois da festa, e com tempo, vê se consegues completar as legendas e sobretudo identificar os teus camaradas que aparecem nas fotos...
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12144: Álbum fotográfico do Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71 (Parte III): O dono da bola...

Guiné 63/74 - P12163: Parabéns a você (640): Luís Nascimento, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12143: Parabéns a você (639): Mário Ferreira de Oliveira, 1.º Cabo Condutor de Máquinas Ref (Guiné, 1961/63)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12162: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (1): A asfixiante e inadiável ideia de voltar

1. Apresentação da nova série do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), dedicada às suas viagens de saudade à Guiné-Bissau, a primeira efectuada em 1998.




CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS À GUINÉ-BISSAU

A PRIMEIRA VIAGEM - 1998

A explicação possível para o que me motivou 

1 - A asfixiante e inadiável ideia de voltar à Guiné

Após o regresso da guerra em 1972, o passar dos anos foi tornando cada vez mais vivas as memórias de todas as minhas vivências em terras da Guiné, de tal forma que, cada dia se tornava mais claro aquilo que há muito eu sentia; Eu tenho de voltar à Guiné. É uma necessidade, é a saudade, uma paixão, sei lá.

Eu tinha que voltar a sentir a magia do contacto com as pessoas, o cheiro acre das formigas, os odores exalados da terra quente, o calor do sol e do solo qual frigideira que nos castiga, o bálsamo da frescura no abrigo das sombras das suas frondosas árvores e, a sua paisagem única que penetra os nossos sentidos. A ideia de voltar ia-se tornando imperiosa, asfixiante e inadiável. Mas como? Com quem? Estávamos em 1997. Nessa época, poucos de nós haviam regressado à Guiné. A evolução política em Portugal e a Guiné independente com uma imagem de estabilidade, ajudavam a sonhar com a primeira viagem de retorno à terra que, apesar de tudo, marcou a minha evolução como ser humano.

Ultrapassadas as dificuldades materiais, obtidos parceiros para a viagem e, conseguido um contacto com dois casais que já haviam feito a viagem e me deram indicações preciosas, deitei mãos à obra e organizei os detalhes do programa da viagem. Escolhidos os locais de alojamento, garantido o transporte para todas as visitas, decidi-me por Abril de 1998. Praticamente no fim da época seca, em que os mosquitos são menos agressivos, as picadas estão mais transitáveis, e as mangas, as papaias, as bananas e o caju estão quase maduras, pareceu-me ser a época que seria mais adequada para dois casais se lançarem à “descoberta” da Guiné independente.

Estava consciente de que tinha resolvido o lado prático da ansiada viagem. E aqueles inconscientes afloramentos de dúvida? Como seremos recebidos? Que riscos vamos correr? Encontrarei o registo das memórias que carrego? Encontrarei as pessoas que desejo abraçar? O que vou encontrar ajudar-me-á a entender as mudanças que vão acontecendo?

E neste estado de alma fui gerindo a espera até à data da partida.

Em próxima oportunidade farei o relato da minha primeira viagem de retorno à Guiné-Bissau após o fim da guerra.

(Continua)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12161: Memórias da CCAÇ 2616 (Buba, 1970/71) (Francisco Baptista) (1): Falando de colunas de reabastecimento e de amizade

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista*, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 27 de Setembro de 2013:


Colunas de reabastecimento

De fins de Março de 1970 a Setembro de 1971 estive na CCaç 2616 em Buba, para onde fui em rendição individual.

A companhia pertencia ao BCAÇ 2892 que tinha o comando em Aldeia Formosa a cerca de 32 km de Buba.
Na estrada, de terra batida entre Buba e Aldeia Formosa estava a CCaç 2614 em Nhala a 7 km de Buba e a Cart 2519 em Mampatá a cerca de 20 Km.
A sudoeste fora deste percurso, em Empada, estava outra companhia independente que pertencia ao mesmo comando. O acesso era mais dificil, só de avioneta ou de barco através do rio Grande Buba.
Com excepção de Empada, os outros aquartelamentos e tabancas eram reabastecidos através de Buba onde as LDG (lanchas de desembarque grandes) vindas pelo rio Grande de Buba, acostavam e descarregavam todo o tipo de mantimentos e consumíveis.
Entre muitas outras coisas lembro-me bem dos enormes sacos de arroz que eram a base da alimentação das populações. Os estivadores fortes e musculados pareciam pertencer a uma etnia diferente de todas as outras.


Na estação seca penso que ainda antes da hora do almoço chegava a coluna de reabastecimento de Aldeia Formosa, engrossada pelo pessoal de Mampatá e Nhala. Nós fazíamos proteção à coluna entre Buba e Nhala, penso que com 2 pelotões. Dois bombardeiros T6, aviões antigos que pareciam pássaros enormes e lentos a sobrevoar a coluna, a baixa altitude, normalmente também faziam proteção.

A coluna em si era enorme. De Aldeia Formosa vinham militares da CCaç 2615 e da CArt 2521 (não sei quantos pelotões), o pelotão Fox do alferes Maia, mais pessoal dos vários serviços, manutenção, auto e outros.

De Mampatá e Nhala vinham mais pelotões. Muitas viaturas para o transporte da tropa e para levar os mantimentos de volta. Camiões Berliet, robustos e relativamente novos, as velhinhas camionetas GMC, que pareciam da 1.ª guerra mundial, mas que apesar disso resistiam sempre, unimogues, jipes só com tropa, outros com auto-metralhadoras. A coluna estendia-se por 1000 metros à vontade. Tinha bastantes militares e um potencial de fogo razoável, talvez por isso nunca tenha sido atacada, pelo menos que eu me lembre.
De tarde depois de carregados os camiões os nossos camaradas regressavam às suas origens.

Vila de Buba, 1969 - Foto de José Teixeira

Na época das chuvas porém tudo se complicava. A estrada era de terra batida e nalguns sítios passava perto de bolanhas. A água que escorria do céu longos dias a fio, abria crateras e valas na estrada, noutras acumulava terra solta e movediça, noutros sitios formava grandes charcos.
As viaturas atascavam avariavam, ficavam empanadas. Depois para as desatolar e pôr operacionais era o cabo dos trabalhos. Nessa época as colunas chegavam já tarde, por vezes já noite cerrada, com os camaradas todos molhados e cansados dos percalços da viagem. Comiam Ração de combate ou rancho.

Conviviam um bocado connosco, enquanto bebíamos umas bazookas (cervejas grandes) pois apesar do cansaço, todos estávamos interessados em conhecer o dia a dia de uns e doutros. Com meios de comunicação quase inexistentes a palavra falada era quase a única forma de comunicação possível e a melhor forma de nos sociabilizarmos. Deitávamo-nos muitas vezes já tarde, tendo os camaradas da coluna ter que dormir em cima do cimento nos nossos quartos e camaratas.
No dia seguinte levantavam-se cedo para o regresso, tal como nós para lhes fazer proteção. Regresso aos respectivos aquartelamentos que seria uma odisseia igualmente difícil.
Desses dias recordo sobretudo a grande camaradagem que se estabelecia entre todas as Companhias do Batalhão e sob o seu comando. Conheci muitos e bons amigos. Cada qual tomou o seu próprio caminho, levados pela vida profissional e familiar, e fomo-nos perdendo de vista uns dos outros. Mas as boas recordações desses convívios continuam vivas na minha memória.

Hoje quando alguém me fala que esteve na Guiné nalgum sitío por onde andei, como aconteceu há dias com o Arménio Estorninho que me deu ainda notícias do José Grade que esteve comigo em Buba, fico sempre muito sensibilizado. Esses lugares, lá longe, onde estivemos, durante meses foram a nossa terra, a nossa casa. Aprendemos a amar aquelas florestas, aquelas bolanhas, o enorme espelho de água do Rio Grande Buba, em frente ao quartel onde o sol ao nascer, se reflectia com todo o seu esplendor, e os pores-do-sol produziam no céu ao longo do rio uma aguarela com todos os cambiantes de rosa e vermelho. No diálogo que fomos estabelecendo com o rio, com as árvores, com as gentes e essa grande terra africana, trouxemos um pouco do seu espírito e da sua beleza.
Houve também o outro lado desagradável da moeda, a guerra, que nos deixou algumas mágoas.
É isso Arménio e José que nos irmana e aproxima.

É a mesma disposição animica que senti quando encontrei o Carlos Vinhal, o Inácio Silva e o Jorge Picado, que estiveram em Mansabá. Por uma razão semelhante à evocação que acabei de fazer, vou recordar desses tempos das colunas o 1.º Cabo Paulo da CCS, em Aldeia Formosa, que se bem me lembro era o encarregado da cantina lá. Éramos, espero não errar, os únicos naturais do nordeste transmontano, do mesmo concelho, eu de Brunhoso e ele de Brunhosinho
Não nos conheciamos antes mas ele soube da minha chegada e procurou-me. Quando havia colunas ele por vezes vinha e e encontrávamo-nos sempre, para cavaquear um pouco.

Aquele encontro era muito saudável, era um pouco como se voltássemos aos montes e vales de Trás-Os-Montes, esse reino maravilhoso de que fala Miguel Torga. Ele regressou, de barco, com o Batalhão, sete meses antes de mim. Fez-me o favor de me trazer uma grande caixa de madeira com garrafas de whisky que entregou em minha casa na aldeia.

Hoje, pensando que ele de certeza terá ido de Lisboa para a terra de comboio, tendo que mudar 3 ou 4 vezes de linha, não sei se o maior parvo fui eu em lhe fazer esse pedido ou ele em ter aceitado. Pela vida fora temo-nos encontrado muitas vezes tanto no Porto como na sede do nosso concelho. Ele já foi polícia, dono de restaurantes e por fim construtor civil e sempre soube orientar bem a vida dele.
Eu tenho sempre uma enorme satisfação quando o encontro.

Atenção que o rigor do relato sobre as colunas de reabastecimento é diminuto. Não tenho certezas sobre a sua periodicidade, sobre o número de pelotões que lhe faziam escolta e sobre outros pormenores importantes.
Verdade se diga que isto não é história, isto, pela imprecisão de dados, é uma estória.

Peço desculpa por essa razão e agradeço qualquer comentário que torne o texto mais conforme a realidade.

Um grande abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista

Guiné 63/74 - P12160: Tabanca Grande (409): Joaquim José Nogueira Alves, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4514/72 (Cadique e Contuboel, 1974)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Joaquim José Nogueira Alves (ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4514/72, Cadique e Contuboel, 1974), com data de 12 de Outubro de 2013:

Camaradas:
Desde que tomei conhecimento do vosso Blogue, senti uma saudosa nostalgia do pouco tempo (para mim foi uma eternidade! ) que estive na Guiné. "Um dia vou-me associar" - pensava, mas... "Um dia,..." até hoje!

Não tanto pela "guerra" em si, mas pelas memórias dos sentidos que permaneceram ao longo deste tempo todo passado!... Não foi um tempo fácil mas não tão difícil como para os camaradas que lá estiveram mais tempo que eu. Recorde-se que fui em rendição individual, em 16 de Março de 1974, e, por isso, "beneficiei" do regresso da minha Companhia à metrópole, no dia 8 de Setembro do mesmo ano, com pouco tempo de estadia na "GUERRA".

Agora, embora lamentando o que aconteceu aos alferes que me antecederam no comando do 4.º Pelotão da 1.ª Companhia do BCAÇ 4514/72, recordo os tempos difíceis de viver na frente de uma guerra...

De tudo, o bom e o mau, quero aqui deixar uma palavra de agradecimento aos meus dois FURRIÉIS (escrevo c/ letra grande porque assim os devo classificar) que me ajudaram, imenso, a comandar um Pelotão Valoroso que, mercê das circunstâncias que os mesmos sabem e não cabe aqui referir, considero formado por HOMENS com um verdadeiro sentido de responsabilidade, entreajuda, camaradagem e... todos os predicados que se lhes possam, adequadamente, adjectivar. 

Não posso deixar de, aqui, lembrar a AMIZADE dos restantes Alferes da Companhia, mais "velhos" do que eu e que, desde o primeiro dia, me acarinharam, ensinaram, e nos últimos tempos, me deram as "baldas" como Alferes novato.

Recordo os petiscos, as "bazucas", os convívios até altas horas e muitas, muitas coboiadas!

A memória não dá para mais e os nomes escapam-se-me, com pena minha. Retenho alguns: Alferes "Tony", Santos (com quem me cruzei, fugazmente, já na vida social no Porto), Policarpo e Ferreira. Havia um que, suponho, pertencia à Engenharia e era o "Fotógrafo de Serviço" de excelente qualidade, por sinal.

Para terminar, não poderia deixar de falar na tripla, única, de enfermeiros que, com o seu humor, até faziam sorrir os doentes, dos quais apenas me recordo dum nome : O Cunha, com o qual tive alguns encontros de fugida e que morava no Porto.
A todos eles, e ao amigo Comandante da Companhia Capitão Miliciano Antunes, o meu reconhecido agradecimento de terem feito o favor de terem sido meus amigos.

Um abraço.
Joaquim José Nogueira Alves
Alferes Miliciano Atirador
1.ª Companhia do BCAÇ 4514/72

P.S.:- Como depois de regressar da vida militar, fiz uma vida de "saltibanco" , as poucas fotografias referentes à minha estada na Guiné, foram ficando pelo caminho e, as que ainda escaparam, encontram-se em muito mau estado.

Cadique, 1974 - A aguardar transporte de luxo, uma canoa indígena

Cobumba, 1974 - A quilómetros da civilização


2. Comentário de CV:

Caro camarada Joaquim Nogueira Alves,
Bem aparecido no nosso Blogue.
Como te disse na nossa troca de mensagens, foste um sortudo em ires em rendição individual para o BCAÇ 4514/72 quando a guerra estava mesmo a terminar.
Como não adivinhavas o desfecho tão breve, foste como qualquer um de nós com a ideia de cumprir minimamente o que nos era pedido, mas com o objectivo principal de voltar vivo. Felizmente que aconteceu o 25 de Abril para terminar com aquela maldita guerra, que na Guiné, principalmente, estava muito complicada.

Dizes que algumas das tuas fotos se perderam e as que tens estarão em mau estado. O que não se estragou ou perdeu, foram as tuas memórias pelo que as poderás enviar por escrito.
Apesar de tudo viveste aqueles tempos incertos depois de decretado o fim da guerra e o antes da independência, tempos esses complicados, achamos nós os que lá estivemos antes.
Poderás confirmar se as cadeias de comando se mantinham operacionais e se a disciplina foi, ou não, mais difícil de manter.
Por outro lado, as relações com o PAIGC nem sempre seria isentas de alguma tensão porque eles nos veriam, cada vez mais, como intrusos e nós nos sentiríamos a mais naquele território destinado à independência.

É disto que nos podes falar, até porque, sendo oficial, terias acesso a determinadas informações não do conhecimento mais geral.

Partindo do princípio que vais aceitar o nosso desafio, ficamos na expectativa da tua colaboração.
Resta-me deixar-te o habitual abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

Ao teu dispor
O camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11957: Tabanca Grande (408): Francisco Maria Magalhães Baptista, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)

Guiné 63/74 - P12159: Convivios (539): Pessoal da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Empada, 1964/66), em Fátima, nos dias 19 e 20 do corrente (Joaquim Jorge, ex-alf mil, natural de Ferrel, Peniche)


Lourinhã, Ribamar > Festa anual em honra de N. Sra. Monserrate > 14 de outubro de 2013 > Almoço anual de convívio de amigos do Oeste > O Joaquim da Silva Jorge, natural de Ferrel, Peniche, ex-alf mil, CCAÇ 616 / BCAÇ 619, que esteve em Empada (1964/66).

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do meu amigo e nosso camarada Joaquim da Silva Jorge, com data de hoje:



Vai realizar-se no próximo fim de semana, dias 19 e 20 de Outubro, o convívio anual da CCAÇ 616.

O encontro será em Fátima no Hotel Pax. 

A receção será a partir das 14 horas de sábado. Ás 18h30 será a missa, seguindo-se o jantar. Depois do jantar teremos um animado serão com música e baile.

Um abraço do Joaquim Jorge.


2. Comentário de L.G.:

Estive, há dias, em Ribamar, por ocasiões da festa anual da terra, em honra de Na. Sra. Monserrate com uma série de amigos e camaradas da região Oeste, uma boa parte dos quais passou pelo TO da Guiné, durante o período da guerra...

O convívio (, a pretexto de um boa caldeirada, ou não estivessemos nós em terra de gente do mar, terra dos meus antepassados Maçaricos,) foi organizado mais uma vez pelo Eduardo Jorge Ferreira, nosso grã-tabanqueiro, ,ex-alf mil da Polícia Aérea (BA12, Bissalanca, 1973/74), natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, e que está connosco na Tabanca Grande desde 31/8/2011.

No grupo de convivas, de várias zonas do oeste (Lourinhã, Peniche, Cadaval, Torres Vedras, Mafra, Caldas da Raínha, Alcobça, etc.), fui encontrar alguns "velhinhos" da guerra da Guiné, gente dos primórdios, mas também "periquitos", gente que fechou a guerra e as portas do império...

O Joaquim da Silva Jorge, ou simplesmente oaquim Jorge,   é dos "velhinhos". Reformado da banca (onde foi prospetor, trabalhando muito em Ribamar nessa qualidade...), o Joaquim Jorge é natural de Ferrel, Peniche, tendo sido all mil na CCAÇ 616 / BCAÇ 619, que esteve em Empada (1964/66).

De espírito jovial, o Joaquim Jorge contou-me alguns dos episódios que marcaram a história da sua companhia. Num dada altura, ele teve mesmo que assumir o comando, em substituição do capitão. por razões que já não fixei. Vem, desse tempo,  um forte ligação ao pessoal da companhia, que todos os anos se encontra.

O Joaquim Jorge visita o nosso blogue, conhece os nomes de camaradas que estiveram em Empada depois dele (o Zé Teixeira, o Xico Allen...) mas ainda arranjou pachorra para pedir a sua integração na nossa Tabanca Grande, com direito a guarda de honra e tudo. Aproveito o ensejo para o convidar. Pedi-lhe também para me mandar a notícia do próximo convívio, o que prontamente já fez.


3. Informação complementar:

 O BCAÇ 619 esteve sediado em Catió, ao tempo de camaradas nossos como o J.L.Mendes Gomes (ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil e Catió, 1964/66).

Deste batalhão também é o nosso tabanqueiro João Sacôto (ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, CatióIlha do Como e Cachil, 1964/66), que muito provavelmente conhece o Joaquim Jorge. O seu nome completo  é João Gabriel Sacôto Martins Fernandes. Entrou para a Tabanca Grande em 29/12/2011. E já aqui contou uma série de histórias da sua unidade. O nosso grã-tabanqueiro nº 532 era amigo do João Bacar Jaló.

Da mesma CCAÇ 616 / BCAÇ 619 [ e não da CCAÇ 617, como aparece por erro num dos nossos postes] também era o já falecido 1º Cabo Fernando Ferreira [foto à direita]... 

O 1º Cabo nº 2514, Fernando das Neves Ferreira, da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como, Bafatá, 1964/66), mais conhecido por Cabo 14, está representado na nossa Tabanca Grande pela sua filha Ana Paula Ferreira, desde 2006.

O Cabo 14 morreu precocemente aos 48 anos, em 1991. A filha escreveu sobre ele um texto comovente, em 9/4/2006, e dedicou-lhe um blogue... Foi desenterrar também problemas da vida militar e disciplinar do pai. (Talvez por isso, o Joaquim Jorge, que ficou a comandar a companhia, desde 17/7/65, me tenha pedido o mail da Ana Paula Ferreira, o que já lhe facultei).

Do mesmo batalhão, mas da outra companhia, a CCAÇ 618, temos o João Henrique Pinho dos Santos. Ex-Alf Mil Inf da CCaç 618 / BCAÇ 619,  o João esteve em Susana e Binar no período 1964/66.

Falta-nos, portanto, e se não erro,  um digno representante, vivo,  da CCAÇ 616 (que veio substituir a CCAÇ 417). O Joaquim Jorge vai-nos dar essa honra, a  de aceitar o nosso convite para desempenhar  esse papel, o de primeiro representante da CCAÇ 616. Joaquim, fico à espera de uma foto desse tempo, e de um pequena história, como é da praxe, para complementar os procedimentos para a tua entronização. Pode ser a/s) história(s) do Cabo 14. Gostei de te ver. Um Alfa Bravo. Luis. (**)

PS - Da CCAÇ 616 temos aqui um história contada  pelo Toni Borié, que vive nos States. Será que o Joaquim  Jorge se lembra do 1º cabo Fialho, que era natural Rio Maior, e que depois da peluda  foi emigrante na América   ?  (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1148: Cabo 14, um blogue de homenagem de uma filha a seu pai (Ana Ferreira)
  
(...) Entretanto nas minhas diligências, e através do esforço impagável do Sr. Ilídio Costa, sei agora com todos os detalhes qual a companhia de meu pai, Fernando das Neves Ferreira: Companhia de Caçadores nº 616, 3º Pelotão, 1ª secção, atirador, soldado nº 2514/63. Os castigos disciplinares foram alguns e as despromoções também, tendo posteriormente sido transferido para a CART 676/RAP 2,  em Setembro de 1965.

No documento que me foi tão gentilmente fornecido dizia ainda que "esta Companhia, após o desembarque do Batalhão nesta Província em 15.1.64, ficou em Bissau às ordens do Quartel General. Passou novamente a pertencer ao Batalhão em 8.4.64 quando rendeu em Empada a CCAÇ 417. Nesta altura veio comandada pelo Sr. Capitão Mil António Francisco do Vale. Em 2.5.64 este Capitão foi rendido no Comando da Companhia pelo Sr. Capitão José Pedro Mendes Franco do Carmo. Presentemente está sendo comandada desde 17.7.65 pelo Alferes Mil Joaquim da Silva Jorge, em virtude do Sr. Capitão Franco do Carmo ter sido evacuado para a metrópole por doença". (...)


(**) Último poste da série > 14 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12151: Convívios (536): Almoço de confraternização no passado dia 14 de Setembro em Salicos e XX Convívio dos Combatentes do Ultramar, a levar a efeito no próximo dia 20, iniciativas do Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes (Arménio Estorninho)



(...) Também esteve por um pequeno período de tempo na povoação de Catió, onde encontrou pessoal de Rio Maior, lembra-se do seu grande amigo, o Zé de Alfruzemel, pois juntos cozinhavam grandes “patuscadas” para todo o pessoal. Nunca mais lhe saíram do seu pensamento os chuveiros do aquartelamento em Empada, que traziam água quente a cheirar a enxofre, e “encarnada”!.

De uma vez andaram trinta quilómetros de noite, carregados, chegando pela manhã, em auxílio de um batalhão que estava em dificuldades. Os guerrilheiros quando souberam que estavam a chegar os militares da companhia de Empada, fugiram, pois os caçadores da Companhia 616, já eram famosos.(...)