Guiné > Região de Tombali > Setor S2 (Aldeia Formosa) > Nhala > c. abr/maio 74 > 2ª CCaç / BCaç 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74) > O alf mil António Murta, em primeiro plano sentado no capô de um Berliet.
Foto: © António Murta (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) António Murta, da Figueira da Foz, ex-alf mil, 2ª CCaç / BCaç. 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba - 1973-74), actualmente reformado, e a quem fiz, o convite para nos honrar com a sua presença, à sombra do poilão da Tabanca Grande:
Caro Luís Graça:
Antes de mais, quero felicitar-te pelo 10º Aniversário do nosso Blogue, felicitações extensivas aos teus colaboradores mais próximos e a todos os “assíduos”, camaradas que vão dando corpo, com o seu contributo, à resenha histórica da Guerra Colonial que o Blogue incorpora, dando-lhe proporções monumentais.
Há dias, ao ler no Blogue aquela célebre pergunta do Batista-Bastos, «Onde é que você estava no 25 de« Abril?», veio-me à memória o sítio onde eu próprio estava. E ocorreu-me que teria desse dia uma fotografia intimamente ligada ao acontecimento, pois estava emboscado no mato, algures entre Nhala e Buba, junto à estrada nova que liga as duas povoações, quando me foram buscar de viatura, interrompendo a minha finalidade ali.
1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) António Murta, da Figueira da Foz, ex-alf mil, 2ª CCaç / BCaç. 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba - 1973-74), actualmente reformado, e a quem fiz, o convite para nos honrar com a sua presença, à sombra do poilão da Tabanca Grande:
Caro Luís Graça:
Antes de mais, quero felicitar-te pelo 10º Aniversário do nosso Blogue, felicitações extensivas aos teus colaboradores mais próximos e a todos os “assíduos”, camaradas que vão dando corpo, com o seu contributo, à resenha histórica da Guerra Colonial que o Blogue incorpora, dando-lhe proporções monumentais.
Há dias, ao ler no Blogue aquela célebre pergunta do Batista-Bastos, «Onde é que você estava no 25 de« Abril?», veio-me à memória o sítio onde eu próprio estava. E ocorreu-me que teria desse dia uma fotografia intimamente ligada ao acontecimento, pois estava emboscado no mato, algures entre Nhala e Buba, junto à estrada nova que liga as duas povoações, quando me foram buscar de viatura, interrompendo a minha finalidade ali.
Fui ao meu arquivo à procura da dita fotografia (digitalizada de um slide) e, para meu espanto, verifico que, embora seja posterior ao 25 de Abril e de uma data próxima, não é do próprio dia. Memória traiçoeira!
Lá estou eu, lenço inseparável ao pescoço, sentado na frente da Berliet numa ocasião em que também me foram buscar ao mato, mas sem relação com aquela data. Aliás, o camarada que está à esquerda, também de bigode, é um alferes “periquito” de quem não recordo o nome, que estava sediado em Nhala, e não o furriel que cito no texto. Apesar disto, e porque também esta fotografia está a fazer 40 anos, envio-ta na mesma. De seguida transcrevo um pequeno apontamento, tal como o redigi no 25 de Abril, por ser mais verdadeiro e fugaz:
«25 de Abril de 1974 – Estava no mato a uns quilómetros de Nhala. Eram umas 3 ou 4 horas da tarde quando chegou numa Berliet um furriel “periquito” (i) com uma escolta, aos berros, para que regressássemos porque a guerra ia acabar. Na Metrópole tinha havido uma revolução!
(i) – Este furriel, encarregado de me ir buscar, fora enviado pelo meu CMDT de Companhia de Nhala e fazia parte do pessoal que, na altura, a reforçava com três pelotões. Não recordo a que Unidade pertenciam. Portanto, ao todo, estavam nessa altura sete pelotões em Nhala.
__________
Nota do editor:
Último poste da série > 9 de anril de 2014 > Guiné 63/74 - P12955: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (19): Na guerra colonial, Guiné, numa aldeia do fim do mundo chamada Cancolin (Manuel Vitorino)
«25 de Abril de 1974 – Estava no mato a uns quilómetros de Nhala. Eram umas 3 ou 4 horas da tarde quando chegou numa Berliet um furriel “periquito” (i) com uma escolta, aos berros, para que regressássemos porque a guerra ia acabar. Na Metrópole tinha havido uma revolução!
Fiquei doido. O pessoal do meu grupo parece que não percebeu muito bem a notícia. Mas subiram alegres para a viatura. Eu e o furriel “periquito”, sentados nos guarda-lamas da Berliet, à frente, berrávamos para o ar e agitávamos as espingardas. Os soldados riam-se e faziam barulho. Pergunto ao furriel por mais pormenores e ele:
— Não se sabe mais nada. Houve uma revolução em Lisboa e prenderam os Pides. Não se sabe mais nada.
“...e prenderam os Pides”. O meu coração quase rebentava. A comoção perturbava-me. Chegámos ao quartel e estava tudo na maior confusão, agarrados aos rádios, mas pouco se adiantava. Quis ver e interpretar as caras das pessoas, ver as suas reacções e, de facto, elas eram diferentes, embora a generalidade estivesse radiante. Ainda era cedo para as pessoas se definirem e manifestarem, quer pela sua despolitização, quer pela incerteza dos pormenores dos acontecimentos».
A desinformação era tal, que os acontecimentos só me mereceriam nova referência em 5 de Maio, onde dou conta de ocorrências graves em Bissau: rebentamentos nas ruas, perseguições a Pides e, até, a agressão à esposa de um deles, frente ao Mercado de Bissau, em que a senhora foi completamente despida. A tropa interveio e impediu coisas certamente mais graves. Eram os rumores que iam chegando.
— Não se sabe mais nada. Houve uma revolução em Lisboa e prenderam os Pides. Não se sabe mais nada.
“...e prenderam os Pides”. O meu coração quase rebentava. A comoção perturbava-me. Chegámos ao quartel e estava tudo na maior confusão, agarrados aos rádios, mas pouco se adiantava. Quis ver e interpretar as caras das pessoas, ver as suas reacções e, de facto, elas eram diferentes, embora a generalidade estivesse radiante. Ainda era cedo para as pessoas se definirem e manifestarem, quer pela sua despolitização, quer pela incerteza dos pormenores dos acontecimentos».
A desinformação era tal, que os acontecimentos só me mereceriam nova referência em 5 de Maio, onde dou conta de ocorrências graves em Bissau: rebentamentos nas ruas, perseguições a Pides e, até, a agressão à esposa de um deles, frente ao Mercado de Bissau, em que a senhora foi completamente despida. A tropa interveio e impediu coisas certamente mais graves. Eram os rumores que iam chegando.
António Murta
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(i) – Este furriel, encarregado de me ir buscar, fora enviado pelo meu CMDT de Companhia de Nhala e fazia parte do pessoal que, na altura, a reforçava com três pelotões. Não recordo a que Unidade pertenciam. Portanto, ao todo, estavam nessa altura sete pelotões em Nhala.
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Nota do editor:
Último poste da série > 9 de anril de 2014 > Guiné 63/74 - P12955: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (19): Na guerra colonial, Guiné, numa aldeia do fim do mundo chamada Cancolin (Manuel Vitorino)