sábado, 8 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6347: Notas de leitura (103): Vindimas no Capim, do nosso camarada e tertuliano José Brás (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Maio de 2010:

Queridos amigos,
É com imensa alegria que li “Vindimas no Capim”.
Sem margem para exagero, um dos grandes livros dos anos 80, referentes à nossa guerra.
É um clamor de sofrimento, se bem que eu por vezes não posso entender a sua carga de acusações, a sua zanga. É um grande exercício de camaradagem. Fico-me por aqui.

Um abraço do
Mário


Filipe Bento, um camponês estremenho no Sul da Guiné

Beja Santos

Álvaro Salema, ao fazer a recensão de “Vindimas no Capim”, de José Brás (Publicações Europa América, 1987), na revista Colóquio/Letras, n.º de Julho de 1988, alude a uma narrativa quase oralizável em que episódios e figuras se sucedem em fluxo corredio de recordações da infância, da vida aldeã, do ambiente de quartel, das deambulações pelos mais perigosos territórios da guerra. E refere ainda, enaltecendo, a expressão popular, directa e sem cedências de intenção literária, geralmente áspera e crua em que mesmo o vocabulário obsceno surge com naturalidade no fluir do discurso. “Vindimas no Capim” é uma obra onde não falta originalidade, pela mistura bem doseada de vinhedos com mata, rendeiros com sargentos vagomestres, camponeses que se redimem nas truculências da guerra. É escusado regressar à estafada questão de querer apurar se Filipe Bento é um alter-ego de José Brás. Em qualquer medida, é o José Brás quem nos faz chegar a dor lancinante, nos entremezes pitorescos e coloquiais; estamos lá identificados e revistos: no sargento bandalho, no oficial prepotente, na memória do professor abrutalhado, na atmosfera rural, no orgulho de nos fazer chegar o entendimento das alfaias agrícolas. Basta um exemplo:

“E o que é isso do pescaz e da cunha?

Um pescaz é um pedaço de ferro alongado, com sete ou oito centímetros de comprimento por um e meio de largura, mais ou menos, com uma cabeça ligeiramente desbordada, onde assentará a porrada do martelo quando se for aplicar na enxada, pontiagudo para entrar melhor no olho, entre o cabo e o ferro, atrás. A sua função é graduar o ângulo formado pela pá da enxada e pelo cabo. E esse ângulo deve ser mais aberto ou mais fechado, consoante o trabalho que se for realizar: cava, descava, sachola, abrir rego para feijão, covacho de batata semear ou enterrar ceseirão, enterrar esterco, semear fava, tremoço ou tremocilha, ou grão preto ou branco, ou milho, ou trigo...

A cunha é isso mesmo, uma cunha. Um pedaço de ferro com as faces em triângulo agudo, com tantos centímetros de comprimento por tantos de largura na base, e que se espeta no cabo da enxada, de baixo para cima, na parte que fica dentro do olho, a fim de dar o aperto necessário para não se desencabar no trabalho.

Se vocês pensavam que uma enxada era assim uma coisa tão simples, só uma enxada, sem mais nada, desenganem-se! A profissão de ferreiro tinha muita ciência, meninos.

E tipos de enxada havia muitos!

Enxada de dois ferros, enxada de um ferro, enxada de dois bicos ou de terra seca, sachadeira, sachola... E até se faziam sachos para as crianças. Diziam que era para brincar, punham-lhe um cabo à medida, habituava logo o mamão à albarda”.

O que distingue a coloquialidade de José Brás é a forma elástica, enérgica e pujante com que salta os tempos e os espaços, as reminiscências antigas fundidas com as da guerra, tudo intercalado por uma linguagem increpada, dura e sentenciadora da instituição militar, muitas vezes posta no banco dos réus. Temos visto que outros autores desceram aos infernos na vida das casernas: basta pensar em “O Pé na Paisagem” de Filipe Leandro Martins. Só que da caserna se regressa à infância ou à juventude e de lá se parte para um batalhão de caçadores e daí para a Guiné. Depois há a espontaneidade de se descrever “os cus de Judas” e de hesitar em manter a expressão que já veio no romance do Lobo Antunes. Só que depois tudo parece natural ou sincero no contexto da recordação: as tripas à mostra na explosão das carnes, no fragor das minas; as raivas contidas no calor das tardes vazias, na lembrança da humidade linfática daquele ar irrespirável; os cus de Judas eram as idas a Buba ou a Gadamael, trinta quilómetros para cada lado, a caçar minas, a chupar emboscadas, atascados nas lamas das bolanhas todo o caminho a inventar pontes, camiões cavalgando troncos de árvores num prodígio de circo para repor o stock do vaguemestre e do bar com comes e bebes; e também cus de Judas daquela gente imigrante que tinha vindo, sabe-se lá por que razões, até estes oceanos de capim.

Para além desta vitalidade da escrita, há o aquém em que todos nos irmanamos, aquele exacto momento em que o nosso camarada foi atingido pelo raio da morte. Basta pensar no Barcelos, que tanto penou até morrer, deu pela morte, levou uma hora a esgotar-se, houve que lhe proibir os berros da dor, para tal enfiou-se-lhe na boca um rolo de ligaduras. O Barcelos seguia no palanque, toda a gente a pedir-lhe que aguentasse, aos poucos chegou a dormência, mas lá se ia mexendo dizendo que não queria morrer, queria ver o filho, depois o Barcelos cansou-se, não houve forma de o convencer a ficar naquela coluna fantasmática que procurava a sua salvação.

“Vindimas no Capim” é por estas razões e outras que ainda queremos mais adiante abonar uma obra de peso da literatura da guerra colonial guineense. Um Filipe Bento que vem à fala orgulhoso do pai barbeiro e da mãe costureira, orgulhoso das origens, da fossanga das vinhas, íntegro numa raiva desmedida à instituição militar com quem, tudo leva a crer, ficou definitivamente incompatibilizado. Enternece este regresso à juventude e depois saltar para Cutima-Fula, Camba-Jate ou caminhar até Guileje, nos entretantos deixar claro o que o pessoal da 4022 viveu em estafadeira. Há imagens que, de tão bem resumidas, nunca mais se esquecem: “Buba! Ao longe pareceu-nos um bairro de lata. O Prior Velho. O rio era a auto-estrada do norte e o barco a carreira dos Claras a caminho de Lisboa. As barracas iam crescendo e já se viam braços no ar à beira do espelho da estrada; um amontoado de troncos a entrar na largura da rota, em forma de cais, e uma mancha a alargar-se, a mexer-se, a gritar”.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6337: Notas de leitura (102): Guinéus, de Alexandre Barbosa (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6346: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (16): Milícias

Mais uma Estória de Mansambo, série do nosso camarada Torcato Mendonça*, ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

ESTÓRIAS DE MANSAMBO II - 16

MILÍCIAS


Torcato Mendonça acompanhado de Milícias

Um corte de cabelo com acabmento à navalha

Torcato Mendonça e o Sargento Milícia Mádia Baldé, um companheiro de jornada

O mandinga Seco, picador do Xime

Sem entrar em análises mas, num País devastado pela guerra, com agricultura praticamente sem expressão, as pescas reduzidas ao mínimo, com a economia paralisada, excepto a que era dirigida à “tropa” e esta na mão de comerciantes especiais, onde poderia a juventude, principalmente a que vivia fora de Bissau e de duas ou três pequenas cidades, encontrar meios de subsistência? O que fazer para ganhar algum dinheiro? Restava ajudar ou servir a tropa a troco de ordenados mínimos, ou ir para o PAIGC.

Claro que podem ser apresentadas outras razões. Podem. Mas paremos e relatemos só, o que eram as Milícias, os “picadores” e outros auxiliares das NT.

Mesmo antes da chegada do General Spínola à Guiné havia, Companhias, Pelotões de Caçadores Nativos e de Milícias. Focamos este aspecto porque, por vezes, parece só terem havido guineenses nas NT a partir da sua vinda. As ditas “tropas nativas” existiam à séculos. Era parte integrante da colonização.

Depois da sua chegada, meados de 68, houve, efectivamente, um incremento da participação de guineenses na guerra. Foram dadas melhores condições devido à insuficiência de militares metropolitanos e à politica – por uma Guiné melhor – criaram-se mais Companhias e Pelotões de africanos, enquadrados por metropolitanos. Posteriormente, só com africanos, apareceram os Comandos Africanos e os Fuzileiros, segundo creio.

As milícias, reunidas em pelotões, não tendo militares metropolitanos, só africanos e, geralmente, cada pelotão tinha só homens da mesma etnia. Continuaram no seu trabalho habitual: defesa das tabancas e ajudar a tropa no mato em operações, picagem de estradas e trilhos, guias e outras.

Os grupos de milícias eram geralmente da mesma etnia, como já dissemos. Nas operações os carregadores pertenciam também do mesmo grupo étnico. Curiosamente na operação Lança Afiada tivemos, com grande desgosto e protesto das milícias fulas, carregadores balantas e com óptimos resultados. Sempre a fazer vida aparte mas, devido à sua robustez, conhecimento do mato e mesmo, porque não, por auxiliarem o IN, foram importantes no transporte de material e não só. No final foram recompensados. Sobre a sua ajuda ou não ao IN constatamos uma tomada de posição que nos levou a acreditar nisso. Logo ao segundo dia caímos em forte emboscada. O meu Grupo teve quatro feridos, alguns com alguma gravidade. Pois os balantas rapidamente se dirigiram para junto das diversas armas pesadas, conforme a carga que transportavam. Ajudavam ainda na localização do IN. Ninguém lhes disse ou pediu nada. Ora como ninguém nasce ensinado… depreende-se que… faziam aquele “trabalho”, não para nós mas para outros.

Dependente de Mansambo, estava na Tabanca de Moricanhe o Pel Mil 145. Armados com G3, tinham ainda algumas Mauser, além de granadas e posteriormente dilagramas. Saíram de Moricanhe para Amedalai (Xime), quando da ofensiva do IN em Junho/Julho de 1969.

Foram preciosos auxiliares das NT. Aprendi muito com estes homens, pois tinham, além do conhecimento do mato, a experiência de alguns anos de guerra. Sempre da parte deles senti amizade e colaboração. Confiava neles. Tanto assim que o meu bornal era transportado, não por um milícia do 145, mas um “picador” de Mansambo, podendo, se fosse caso disso ser transportado por um da milícia. O bornal levava dilagramas e respectivos carregadores (a introdução de uma bala real era o meu fim), material, simples, de sapador, mapas, bússola e diversos apetrechos. Só gente de confiança lhe tocava. Claro que o Serra, o eterno guarda-costas, estava sempre presente. Mas eram, picadores ou milícias que o transportava. Só recordar dois casos, que atestam a dedicação destes homens. A saudade que ainda hoje sinto aumenta a revolta, quando tive conhecimento do que aconteceu a alguns. A diferença entre picadores e milícias era mínima. O fuzilamento cobarde de alguns deve ter sido igual…

Na operação Lança Afiada fui evacuado. Nas duas ou três horas antes da partida fui auxiliado pelos homens do 145. Claro que tinha os homens do meu grupo mas eles fizeram questão de me ajudar. Em Galomaro (COP 7), fui destacado para Nova Camsamba. Passados dias tive um forte ataque de paludismo e o Furriel Rei avisou a base. O Capitão Jerónimo apareceu lá e tive que vir com ele. Fiquei num barracão aos cuidados de um médico. Só que junto de mim estava sempre um de dois milícias ou picadores que tinham vindo comigo. Mudavam o colchão, davam-me água e no delírio da febre afastam alguma “visita”. Alfero tu diz manga de chatice… talvez os Camaradas da 2405 se lembrem dessa enfermaria. Quando a febre se foi… toca a ir ter com a malta à Tabanca de Nova Camsamba… tinha sido, talvez o quinto ataque de paludismo.

Havia no entanto um cuidado a ter: a disciplina de fogo. Ou seja, tinham o dedo do gatilho “pesado” e o gasto de munições era grande. Com um pouco de treino, uma conversa, verem a nossa actuação em resposta ou em ataque servia de exemplo.

Recordo ainda hoje, o nome de muitos. Outros esqueci ou tenho receio de trocar os nomes. Mas realço o Alferes Uro Baldé, falecido, vítima de mina A/P, quando perseguia o IN depois do rapto do Soldado Monteiro. O Sargento que depois de ferido persegue o IN pois tinham-lhe raptado um homem. Tinham caído numa emboscada, a 2 de Abril de 69. Cerca de dez homens passam sobre uma mina anti – carro accionada à distância, dois são mortos e projectados em pedaços para a copa das árvores, dois ou três ficam ligeiramente feridos e sem reacção. Os outros reagem forte, sofrem mais um ferido grave (sargento) e um é raptado. O IN, retira devido a uma coluna estar perto e a emboscada ser para ela – Grupo da CCAÇ 2405 – e a sentirem a ajuda de Mansambo. O Sargento persegue-os mas esgotado volta para Mansambo. O prisioneiro, Cabo Lamine, consegue fugir, perde-se e, só três ou quatro dias depois entra no quartel. Dá-nos boas informações. Mas o melhor, o que interessa realçar é a coragem, a determinação destes combatentes e o exemplo por eles dado. Não recordo o nome do Sargento, não era o Mádia esse matava rolas com a G3 com a alça nos 400 metros. Porquê Mádia? Ká sabe…

Gente boa! Quando passei por Amedalai perto do Xime, já a caminho da LDG para o regresso a Bissau e à metrópole, entreguei os meus galões ao Sargento que ia ser promovido e uma promessa: eu volto… não cumpri porque deixei a vida militar… vidas!

Como te disse, era gente que ia connosco nas muitas “operações” que fizemos. Um “santuário” do IN muito conhecido era o Poidom ou Poidão.

Fomos lá mais que uma vez. Vou contar-te uma.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6333: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2330) (15): Abrigo tipo de Mansambo - A sua construção

Guiné 63/74 - P6345: Em busca de ... (130): Três militares, três velhos amigos do meu tempo de infância, em Bissau: os gémeos Mário e Chico e o futebolista Lino (Nelson Herbert, filho de Armando Duarte Lopes, atleta da UDIB)

 1. Mensagem do nosso amigo, nascido na Guiné, e hoje residente nos EUA, jornalista da VOA (Voice of America), Nelson Herbert, ou Nelson Lopes, filho do futebolista, de origem caboverdiana, Armando Duarte Lopes, que jugou no UDIB - União Desportiva e Internaconal de Bissau e depois foi funcionário da administração dos portos da Guiné, em Bissau  (tendo estado destacado dois anos  em Bambadinca por volta de 1969 e depois em  1971/72) (*)

Data: 6 de Maio de 2010 14:45
Assunto: Perdidos e Chados !

Já que nisso de "perdidos e achados", no bom sentido é claro, o blogue tem sido profícuo, a vez desta é minha! E o propósito é o de tentar localizar três velhos amigos, referências da minha infância na Guiné.

Quanto aos dois primeiros, ignoro pois a respectiva graduação na altura. São gémeos de nome de baptismo Mário e Chico (Francisco, obviamente). Foram meus vizinhos na antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro, a mesma da messe dos sargentos da Força Aérea e do famoso Cabaret ou Boite Chez Toi... Também a rua dos Serviços Metereológicos !

Desconheço se terão estado numa outra "Frente" [de guerra], conheci-os pois em Bissau e ambos habitavam um quarto alugado numa residência mesmo em frente da Messe dos Sargentos.

De tal forma afectos aos vizinhos e à minha familia em particular, ainda me recordo de, nos anos 70 (72/73), a familia toda, na altura de férias em Lisboa,  ter sido presenteada com uma visita dos irmãos gémeos (na altura já com a comissão militar concluída na Guiné), acompanhados pela respectiva mãe...que no fundo quis conhecer a família africana que tanto afecto tinha dedicado aos filhos na Guiné. Um gesto simpático de gente nobre ! 

Foi pois a última vez que os vi... tinha eu uns 10/11 anos!  E,  como devem calcular volvidos todos esses anos, nunca é demais reaver o requinte de amizades do género... Para que no mínimo se fique a saber ... que nem tudo o tempo levou !

Mas a propósito deste par de gémeos e relativamente ao que vou apelidar aqui de "critérios de chamada à tropa",  uma dúvida andou por todos estes anos "apipocando-me" a mente. Tal qual a experiência do Private Ryan [, referência ao filme Saving Private Ryan, de Spielberg, 1998] como é que funcionavam as coisas, quando tal "dever" se via confrontado com casos de irmãos, (neste caso, por sinal gémeos),  em idade de incorporação militar ? "Apanhavam" todos pela mesma bitola, como foi o caso ?


Guiné-Bissau > Bissau > s/d > O emblemático edifício da sede da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau onde jogou à bola o pai do Nelson Herbert, Armando Duarte Lopes.

Imagem: Cortesia de Nelson Herbert (2009)

A terceira figura de referência incontornável da minha infância foi,  por sinal,  um dos meus ídolos da arte de jogar a bola. Militar e futebolista da UDIB, destacou-se na arte da marcação de cantos directos... ao golo ! Era quase que infalível, quando Lino (assim o ficámos a conhecer) era chamado a bater tais lances de bola parada, como soi hoje dizer-se na gíria desportiva !
Meu vizinho nos anos 70, nos tempos livres sempre arranjava tempo para organizar e orientar o time da meninada do meu bairro. Terminada a comissão militar, ainda chegou a ser futebolista profissional em Portugal. Integrou, com Lemos (ex-futebolista do Futebol Clube do Porto, então em comissão militar na Guiné) a celebre selecção da Provincia da Guiné, na altura reforçada por militares da então "Metrópole" que se bateu, sem complexos com a então equipa principal do Futebol Clube de Porto, do peruano Teófilo Cubilas, Rudolfo e Rolando !

Estarão porventura estas três personalidades navegando pelo blogue ou porventura alguém que saiba do paradeiro dos mesmos ?

Mantenhas

Nelson Herbert
USA
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)

(...) 1- O meu velho entrou para a tropa a 15 de Agosto de 1943. Fez a recruta e o treino militar em Chã de Alecrim [, a nordeste da cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde].,

Depois do juramento da bandeira (será esse o termo ?) é transferido para Lazareto e São Pedro [, na parte oeste, sudoeste da ilha].

Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metrópole. Termina o serviço militar em Janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos chegavam...

Participou de forma rotineira nos tais exercicios físicos da tropa, na Praia da Matiota ... (que melhor lugar para um exercício matinal!). Já naquela altura era futebolista do Amarante Futebol Clube, um dos históricos clubes de Mindelo. Ainda se recorda, e bem, da argumentação semanal para conseguir a devida licença da tropa, para os treinos e jogos do fim de semana...

Alias, é pois o futebol que o acaba por levar à então Guiné Portuguesa, para jogar na UDIB - União Desportiva e Internaconal de Bissau.

2- Sobre a passagem dele, por Bambadinca... Mandatado pela JAPG [, Junta Autónoma dos Portos da Guiné,], foi ele quem implanta e organiza a administração local (serviço de escrituração -seré esse o termo) do porto local. Finda essa fase de estruturação da funcionalidade do porto local, é chamado à sede (Porto de Bissau) e em substituição é despachado um outro colega.

Lembra-se do batelão Poana , de umas 100 toneladas, e que, sob escolta da tropa, fazia o trajecto Bambadinca-Bissau e vice-versa com carga militar e civil (esta último sobretudo gado para os matadouros em Bissau). E, era segundo ele, na gestão "da hora e da vez de cada um " na utilização da embarcação, que surgiam os inevitáveis "atritos" com a tropa .

Durante esse período (uns dois anos passados em Bambadinca entre 1969 e 1971/72 ) nós, os filhos (seis), por questões de segurança, tivemos que nos manter em Bissau. Lembro-me entretanto da nossa mãe, tê-lo visitado uma ou duas vezes em Bambadinca e de lá ter regressado, de avião, um dia após um ataque da guerrilha! [, em 28 de Maio de 1969]. (...)


(**) Vd. último poste da série: 2 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6293: Em busca de... (129): Valente de Sousa, ex-Fur Mil da 3.ª Equipa do Grupo Comandos "Os Centuriões" (Luís Rainha)

Guiné 63/74 - P6344: Convívios (234): Pessoal da CCS, CCAÇ 2366 e CCAÇ 2367 do BCAÇ 2845, ocorrido no dia 1 de Maio em Buarcos (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 5 de Maio de 2010:

Olá Carlos, Olá Tabanca Grande.
Aqui esta o chato do Albino.

Gostaria que toda a malta visse este poste do convívio da CCS e das CCAÇs 2366 e 2367.

Quero aqui esclarecer os Camaradas da CCaç 2368 que este convívio não foi a nível de Batalhão ou teriam feito parte do mesmo.
Acontece que como eu tinha a meu encargo a realização do Encontro da CCS no Dia 1 de Maio, da 2367 em 22 e da 2366 em 29 de Maio, e como eram no mesmo Restaurante em Buarcos, consegui que se juntassem as três Companhias no mesmo dia, para evitar assim ter de fazer a astrada três vezes no mesmo mês. Foi usto que aconteceu.

Sim, convém esclarecer esses meus camaradas da 2368, pois não vão eles julgar que o Albino Silva os desprezou, porque isso nunca eu o faria por muitos motivosos, principalmente pela consideração que tenho por esses Camaradas de quem me orgulho que são também do mesmo Batalhão.
Tenciono estar com eles no dia 30 de Maio, mas desde já quero deixar um grande abraço a todos.

Desculpem o incómodo pelo trabalho que dou.
Um grande abraço para a Tabanca Grande
Albino Silva


GRANDE RONCO

1 de Maio de 2010

Depois de mais um ano passado, fizemos de novo Ronco.

Neste, comemoramos os nossos 40 anos de regresso da Guiné, e juntamente com a CCS estiveram presentes também a CCaç 2366 Periquito Atrevido, e a CCaç 2367 Vampiros.

Como surgiu a ideia? Fácil.

Cabendo-me a mim fazer parte da organização da CCS, neste dia 1.º de Maio, também é verdade que eu seria o organizador dos Convívios da CCaç 2367 que seria em 22 de Maio, e da CCaç 2366 no dia 29 de Maio no mesmo local, Buarcos, e como o restaurante tinha capacidade para as três Companhias no mesmo dia, então, para evitar de fazer a estrada 3 vezes no mesmo mês, aproveitei de matar três coelhos com um só tiro, com pena de não estar presente a CCaç 2368, Feras, porque então seria a nível de Batalhão, e não era eu o organizador.


Ainda não eram 10 horas, já chegavam camaradas que assim iam trocando os primeiros abraços e se iam concentrando na Parada, saboreando a frescura da manhã, e olhando o mar.
Aquele mar imenso da Praia de Buarcos, onde os nossos olhares se estendiam nas águas, bem ao longe, mas sem nunca vermos o Niassa navegando.

O tempo ia assim passando e cada vez éramos mais a engrossar a formatura. Por volta do meio-dia lançaram o primeiro ataque ao inimigo do Colesterol, na Esplanada da Tabanca, mas sempre com o olhar na bolanha, (oceano) para não o perder de vista, já que este nos maravilhava com aquela excelente paisagem em toda a sua orla, que mais não era que as magníficas praias, incluindo a Figueira da Foz.

Depois do primeiro ataque aos carapaus e companhia, ia-se preenchendo as listas com riscos quando mais um efectuava o pagamento, e ainda foram bastantes.
Depois desta operação terminar, deu-se ordem para atacar à mão armada, com rocketes e tudo o que estivesse nas mesas, pois eram muitas naquela Tabanca ao pé do mar.
Enquanto o ataque durou, deu-se pela falta de muitos camaradas e em todas as Companhias.

Por aqueles que já faleceram, fizemos uma singela homenagem com um minuto de silêncio, e depois falamos daqueles que por qualquer motivo não quiseram estar presentes, e por isso, em comparação com outros anos, fomos muito menos, o que me levou a pensar se esses camaradas só vem se outros vierem, ou se desprezam aqueles que vem.

Caro companheiro de armas e de guerra, a Guiné está ainda nas nossas mentes, logo também não estás esquecido, pois na Guiné, naquela guerra fomos um por todos e todos por um.

Há 40 anos deixamos aquela Guiné onde sofremos bastante, uns talvez mais que outros, mas no fundo todos sofremos.

Foram lutas e tiroteios intensos, foram caminhadas a pé entre matas e capim, picadas e bolanhas, foi a fome, a sede, a chuva e o calor, os mosquitos e as abelhas, as minas, muitas noites sem dormir e o ouvir rebentamentos constantes que faziam tremer aquele chão de terra já de si vermelha.

Foi o terror e a coragem por ver camaradas feridos, e foi dor em ver outros que pela Pátria perderam a vida, alguns deles junto de nós, encostados a ti.

E agora camaradas, será que vos esquecestes que foi na Guiné onde criamos uma amizade que apenas para alguns só terminará quando passarem à disponibilidade da vida.

Não somos todos iguais, eu sei bem, e é pena, pois conheço alguns que não vem a este Ronco, simplesmente porque já não querem aquele abraço do camarada que por vezes lhe deu tanta coragem e em determinadas situações até repartiu com eles a ração de combate e até a pouca água de seu cantil.

Será que estás esquecido?

Talvez, pois são quarenta anos de saudades de quem teima em não aparecer para aquele abraço amigo de bom camarada.


Agradecimento

Camaradas em geral. Esteve presente entre nós o 2.º Sargento, Luis Rafael dos Santos.

Sabemos que estiveram alguns ex-Oficiais, mas convém lembrar que este camarada com 83 anos, fazia toda a questão de vir ver a malta que ele já não via há 41 anos, pois veio embora mais cedo um ano que nós.

Dada a impossibilidade de poder fazer a viagem com a esposa, desde o Laranjeiro (Almada), ligou-me lamentando o facto, mas notei nele a força de vontade de querer estar presente.
Assim e por isso quero agradecer a sua filha a gentileza e amabilidade por trazido o seu pai até junto de nós, porque também ela viu a força de vontade que seu pai tinha em nos ver, e tal foi sua alegria quando se encontrou no meio desta camaradagem.

Obrigado minha senhora pela alegria que deu a seu pai, porque vi nele uma pessoa feliz, mas também pela alegria que nos deu a nós, em especial a mim.

Dado todo o trabalho que tive e que a senhora pôde ver isso mesmo, nem sequer lhe pude agradecer o amor demonstrado pelo seu pai.

Obrigado por o ter feito, e pelo lindo gesto, pois devia haver mais filhos a trazerem seus pais a estes encontros, porque certamente lhes dariam mais vontade para viver, os últimos anos de uma vida dura e traumatizada como tiveram. Bem haja.

Para vós camaradas, quer da CCS quer de outras Companhias que estais espalhados pelo mundo sem possibilidades de poderem estar presentes, é em especial para vós que faço este trabalho, para que estejam ao corrente daquilo que ainda fazemos, depois da Guiné e estarei sempre disponível para tudo aquilo que quiserem saber ao nível do BCaç 2845, dentro das minhas possibilidades.

Vejam em baixo meus endereços.

Para os camaradas que não comparecem.
Juntem-se e venham, pois tenho a plena certeza que irão dizer como todos os que vêm a primeira vez:

- Se soubéssemos que era assim tão saudável, já teríamos vindo há mais tempo.

De facto é saudável conviver, pois aliviamos a memória ao descarregar aquilo que temos acumulado em nós, e ficamos mais jovens quando falamos e contamos as nossas aventuras do passado.


QUARENTA ANOS COMEMORAMOS NÓS,

BATALHÃO DE CAÇADORES 2845

Para acesso ao Blogue do Convívio, escreva:

Batcac2845guineteixeirapinto.blogspot.com

Albino Silva
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6174: In Memoriam (39): Baixa na CCS/BCAÇ 2845 - morreu no dia 21 de Março de 2010 o ex-1.º Cabo Cardoso (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6325: Convívios (147): Pessoal da CCS do BCAÇ 4612/72, conviveu no dia 01 de Maio de 2010, em Gondomar (Jorge Canhão/Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P6343: Dando a mão à palmatória (24): Alpoim Calvão (e não Galvão...)

1. Alpoim CALVÃO (e não Galvão) como aparece, erradamente, em vários postes do nosso blogue (na I e II Séries) bem como  noutros sítios, na Net, por vulgar erro de simpatia. Uma simples pesquisa no Google com o marcador "Alpoim Galvão" deu-nos mais de 7 mil referências...

As nossas desculpas ao próprio, capitão de mar e guerra , na reforma, e hoje empresário na Guiné-Bissau,  de seu nome completo Guilherme Almor de Alpoim Calvão. Como é do domínio público, foi o comandante da Op Mar Verde (Conacri, 22 de Novembro de 1970), operação em que participou o nosso camarada Amadú Djaló, autor do livro Guineense, Comando, Português (Lisboa, 2010). Curiosamente, Alpoim Calvão esteve recentemente em duas sessões de lançamento de livros relartivos à guerra colonial na Guiné: o livro do Amadu, e a biografia de Spínola, da autoria de Luís Nuno Rodrigues.

Julgamos já ter corrigido, tão rápido quanto possível,   esse lamentável erro, pelo menos na II Série do Blogue (*).

Vd. Wikipédia > Guilherme Almor de Alpoim Calvão

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Nota de L.G.:


(*) Vd. alguns dos postes onde é referido o marcador Alpoim Calvão, já corrigido::

21 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5138: O segredo de... (9): Fur Mil J. S. Moreira, da CCAV 2483, que feriu com uma rajada de G3 o médico do BCAV 2867 (Ovídio Moreira)

5 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3272: A novíssima literatura da Guerra Colonial (Leopoldo Amado)

20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)

1 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2398: Evocando os furriéis da 1ª CCA, João Uloma e Carlos França : Acreditas que ainda sonho com aquela cabeça ? (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P6342: Ser solidário (69): Sementes e água potável para o Cantanhez - Faltam-nos 500€ para o primeiro poço, em Amindará (José Teixeira)

1. Com a devida vénia à Tabanca de Matosinhos, e no sentido de sensibilizar a tertúlia do nosso Blogue para a campanha ali levada a efeito, transcrevemos o seu poste 413

P413 - Sementes e Água Potável para a Guiné – Bissau

Campanha para abrir dez poços de água e construir fontanários em tabancas do interior da Guiné – Bissau.

Já só faltam cerca de 500€ para abrir o primeiro poço na Tabanca de Amindará no interior da mata do Cantanhez.

Registe-se o nome para quem sabe um pouco de crioulo – a mim dará, ou seja - eu darei.

O Nome da tabanca é um desafio a todos nós para doarmos uma pequena quantia e completar a verba necessária para dar seguimento ao projecto.

Acabo de receber o seguinte Mail do nosso amigo Pepito, que na Guiné se dedica de alma e coração à causa do bem estar da população, nas mais diversas situações, dando corpo ao projecto da AD- Acção para o Desenvolvimento.


Amigo Zé

Conforme prometido, eis os custos de um poço (elementos comprados em vários fornecedores para ser mais barato):

construção de um poço (1.200.000 CFA):
- mão-de-obra: 500.000 CFA
- material (anilhas, cimento, ferro, etc.): 700.000 CFA

sistema solar (1.230.000 CFA):
- bomba de água + painel + tubos: 1.230.000 CFA

diversos (200.000 CFA):
- transporte e combustivel: 200.000 CFA

O total dará cerca de 2.630.000 CFA (cerca de 4.000 euros).

A ideia é avançar já com o primeiro poço na tabanca de Amindará, em pleno Cantanhez e que sofre enormemente com a falta de água.
Temos de tomar a decisão até ao final deste mês de Maio, pois logo a seguir começam as chuvas e nada feito, até Março de 2011.
abraço
pepito


O saldo actual é de 3.457.10 € conforme se pode verificar no mapa que segue.



OBS:- A lista completa pode ser consultada no poste da Tabanca de Matosinhos.

Devagar, devagarinho. Tão devagar que me faz lembrar o regressar ao quartel ou acampamento depois de uma coluna de 24 horas pelas picadas da mata do Cantanhez lá vamos conseguindo algumas “migalhas” para esta causa – água potável para as populações da Guiné.

Um especial agradecimento para os camaradas que acreditaram e deram algo de si, sobretudo para os reincidentes, que com a sua oferta vão alimentando esta fonte.
Não podemos parar.

Só faltam 500 € para abrirmos o primeiro poço, na Tabanca de Amindará. Há no mínimo mais nove para abrir, dentro do projecto da Tabanca Pequena, mas...

Há muitos mais poços que têm de ser abertos com a nossa pequena ajuda, se queremos que os nossos irmãos da Guiné usufruam de um bem tão precioso como é a água.

Zé Teixeira

Nós não damos valor a estes gestos, porque só nos falta a água quando há avarias na rede de distribuição. E se nos falta água um dia, entramos em desespero. E quem não a tem nunca?
CV

__________

Notas de CV:

Vd. último poste de 28 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5907: Ser solidário (59): Precisa-se de dinheiro para abrir 10 poços na Guiné-Bissau (José Teixeira)

Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6338: Ser solidário (68): Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade Social e de Apoio ao Desenvolvimento (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P6341: Antropologia (18): Elogio ao nosso blogue em comunicação sobre Régulos, almamis e mouros durante a guerra colonial, do Prof Eduardo Costa Dias

 Cortesia do amigo e colega Eduardo Costa Dias, grande especialista da cultura e da história da Guiné-Bissau, professor de Estudos Africanos, Departamento de Sociologia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) (foto à direita, Bissau, 2008).


1. Resumo de uma comunicação científica, em francês [, com a respectiva tradução, em português, ] do nosso amigo Eduardo Costa Dias, professor e investigador no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, e em que se faz uma elogiosa referência ao nosso blogue.


Colonial auxiliaries or advocates of colonial subjects? A comparative view on chiefs and ‘traditional rule’ during the colonial period

Régulos, Almamis et Mouros pendant la guerre coloniale dans l’ex- ‐Guinée portugaise: à chacun son rôle, ses convenances et ses fidélités 


Eduardo Costa Dias
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa


L’avènement de la guerre coloniale, en 1963, dans l’ex- ‐Guinée portugaise non seulement a profondément transformé le modus vivendi des populations africaines et européennes, comme, un peu partout, a basculé les relations tissues entre les autorités traditionnelles et l’administration coloniale.

En effet, les autorités traditionnelles ont été confrontées, en plus de l’exigence de « faire vite » allégeance à un des deux belligérants, avec le besoin de composer presque inopinément avec de nouveaux interlocuteurs coloniaux. Plus la guerre s’étendait à de nouvelles zones du territoire guinéen et les combats regagnaient d’intensité, davantage, localement, les commandants militaires remplaçaient de facto et de jure, comme interlocuteurs des autorités traditionnelles, les administrateurs civils (administradores de circunscrição, chefes de posto, etc.). Dans plusieurs sens, pendant la guerre coloniale, dans la majeure partie du territoire, « l’ (vraie) autorité portugaise » était l’armée.

Dans l’étude de cas qu’adosse cette communication – le cas des autorités mandingues et, surtout, peuls des cercles administratifs de Bafatá et de Nova Lamego (Gabú) – , toutefois, plus que le renforcement « rayonnant » ou la rupture brutale de la très ancienne collusion stratégique entre les chefs musulmans et l’État colonial, on a assisté principalement à la multiplication, en nombre et en « qualités », des interlocuteurs locaux des autorités portugaises et, naturellement, à une plus grande diversité des prises de position des dignitaires politiques e religieux mandingues et peuls.

Un almami ou un mouro (marabout) n’avait nécessairement, par rapport aux autorités portugaises ou au PAIGC, le même positionnement que « son » régulo, même si celui- ‐ci, en plus de musulman et mandingue/peul comme lui, était son frère. Au contraire, parfois, il y’ avait même grands avantages en aménager des positions différentes dans une même famille, tabanca (village) ou zawiya (délégation locale d’une confrérie); dans des situations complexes comme celles vécues pendant la guerre coloniale pour beaucoup de peuls et mandingues de Bafatá et du Gabú, la bonne utilisation de la réinterprétation ouest- ‐africaine de l’institut du muwalat – « accommodation sur réserve avec l’infidèle »/ « acceptation d’un compromis provisoire avec l’infidèle » - presque le prescrivait!

Dans l’essentiel, l’information travaillée pour cette communication a été obtenue à partir des entrevues faites dans les années 1990 et 2000 à des dignitaires musulmans des régions de Bafatá et du Gabú, de la compulsation de documentation dans des archives portugaises (AHM, AHU, ANTT) et de la lecture systématique d’un blog d’anciens combattants portugais dans l’ex-Guinée portugaise.

Le blog « Luis Graça & Camaradas da Guiné », en plus de sa « mission » fondatrice, est actuellement, malgré le caractère « témoin personnel » de la plupart des posts, un important répertoire des activités des militaires portugais en Guinée, entre 1963 et 1974.





Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 16 de Dezembro de 2009 > O almami local...  Foto do médico e músico João Graça, membro da nossa Tabanca Grande.

Foto:  © João Graça (2009). Direitos reservados





2. Tradução de L.G.:


Auxiliares coloniais ou advogados dos súbditos coloniais ? Uma análise comparativa dos chefes e do sistema de autoridade tradicional durante o período colonial  [Título em inglês]


Régulos, Almamis e Mouros durante a guerra colonial na ex-Guiné-Português: a cada um a sua função, sua conveniência e sua lealdade

Eduardo Costa Dias
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa

O advento da guerra colonial em 1963, na ex-Guiné Portuguesa, não só mudou o modus vivendi das populações africanas e europeias, como, um pouco por toda parte, mexeu com as relações mantidas entre as autoridades tradicionais e a administração colonial.

Com efeito, as autoridades tradicionais,  para além da exigência de rapidamente se posicionarem ao lado de uma das duas partes beligerantes, foram confrontadas com a necessidade de lidar, quase inesperadamente, com novos interlocutoers coloniais.

Quanto mais a guerra se estendia a novas zonas do território guineense e os combates aumentavam de intensidade, mais, a nível local, os comandantes militares se substituíam, de facto e de direito, aos administradores civis (administradores de circunscrição, chefes de posto, etc.) como interlocutores das autoridades tradicionais.

Em diversos sentidos, durante a guerra colonial, na maior parte do território, “a (verdadeira) autoridade portuguesa ", foi o exército.

No estudo de caso a que se reporta esta comunicação - o caso das autoridades mandingas e, sobretudo, fulas, dos círculos administrativos de Bafatá e de Nova Lamego (Gabu), no entanto, mais do que o reforço “fulminante” ou a ruptura brutal da velha coligação estratégica entre os chefes muçulmanos e o e Estado colonial, assistiu-se principalmente à multiplicação, em número e em "qualidades", dos interlocutores locais das autoridades portuguesas e, naturalmente, a uma maior diversidade das tomadas de posição dos dignitários políticos e religiosos mandingas e fulas.

Um almami ou mouro (marabú) não tinha, necessariamente, em relação às autoridades portuguesas ou ao PAIGC, a mesma posição que o “seu” régulo, mesmo se este, para além de ser muçulmano e mandingo / fula como ele, fosse seu irmão.

Pelo contrário, às vezes, havia mesmo grandes benefícios em tomar posições diferentes numa mesma família, tabanca (aldeia) ou zawiya (delegação local duma confraria); em situações complexas, como aquelas vividas durante a guerra colonial por muitos dos fulas e mandingas de Bafatá e do Gabu, o uso adequado da reinterpretação oeste-africana do instituto da muwalat – "acomodação, sob reserva, com o infiel” / “aceitação de uma compromisso provisório com os infiéis” –  que obrigava a isso!

No essencial, a informação tratada nesta comunicação foi obtida a partir de entrevistas realizadas nos anos de 1990 e 2000 a dignitários muçulmanos das regiões de Bafatá e Gabu, da consulta de documentação em arquivos portugueses (AHM, AHU, ANTT) e da leitura sistemática de um blogue de antigos combatentes portugueses na ex-Guiné Portuguesa.

O blogue "Luis Graça  & Camaradas da Guiné ", para além da sua “missão" fundadora, é hoje, apesar do carácter de “ testemunho pessoal" da maior parte dos postes,  um importante repertório das actividades dos militares portugueses atividades, na Guiné, entre 1963 e 1974.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6340: Controvérsias (74): Enfermeiros… mas não por opção (Armandino Alves)


1. O nosso Camarada Armandino Alves (ex-1º Cabo Auxiliar de Enfermagem na CCAÇ 1589 - Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé -, 1966/68), enviou-nos uma mensagem, em 6 de Maio, que a seguir publicamos:

Enfermeiros… mas não por opção
Camaradas,

Como toda a gente sabe, a selecção dos soldados no fim da recruta, para as diversas especialidades era feita de forma aleatória, não havendo qualquer inquérito a fim de se saber a função que cada um gostaria de desempenhar.
Vais para “isto” e bico calado.
Por isso, muitos foram para enfermeiros sem qualquer propensão, para desempenhar esse cargo.
Depois, no Serviço de Saúde em Coimbra, as aulas eram todas teóricas e dadas por Sargentos ou Cabos RD. Quanto a Médicos, que eu me lembre, só lá apareceu um – tenente -, 1 ou 2 vezes, em todo o curso.
E, pelo menos no meu curso, nunca se falou em teatros de guerra.
Era mais um curso para se integrar nos Hospitais, e depois íamos aprender para os mesmos. Mas, aprender o quê?
Tirando aqueles que tiveram a sorte de ir para enfermarias de Ortopedia e Traumas, o que aprenderam os outros?
A dar injecções!
Quanto ao resto eram autênticos “ceguinhos” e só foram aprendendo, com o tempo e a experiência, desenrascando-se o melhor que podiam e sabiam.
Na época 1966-68, não se notou muito essa pecha, pois quando era solicitada uma evacuação ela era feita, fosse por helicóptero nas operações, fosse por DO nos aquartelamentos ou destacamentos com pista de aviação.
A falta de evacuações é que veio pôr a nu esse desiderato.
Haviam enfermeiros, mas não havia o material necessário.
O que eram os garrotes fornecidos com a Bolsa de Enfermeiro?
Um simples tubo de borracha maleável, que era muito bom para tirar sangue e nada mais. Um garrote a sério teria que ser improvisado com ligaduras e um pau, para fazer o torniquete.
Como já aqui se falou a Marinha tinha o último grito em garrotes e não sei se a Força Aérea também os tinha (mas para isso ninguém melhor que a Enfermeira Giselda para melhor nos informar).
Quanto aos atrelados sanitários, tinham muito material lá dentro, mas não era para mexer. Eles estavam apenas à nossa guarda e isto nos aquartelamentos que os possuíam.
O atrelado sanitário era um hospital de campanha e, portanto, pertencente ao Hospital Militar. Certo é que o que lá estava armazenado era intocável.
Vem isto, que acabo de escrever, a propósito do poste P6315.
Tenho a certeza que tanto o Furriel Enfermeiro como o Cabo Maqueiro não iam munidos com soro, pois não o possuíam, e se houvesse lá um atrelado sanitário com soro, com certeza que o prazo de validade já teria caducado há muito tempo.
E quanto tempo aguentaria um soldado ferido?
Que quantidade de sangue já não teria perdido entretanto?
Sem o soro não havia possibilidade de o estabilizar e mesmo que houvesse a remota possibilidade de uma transfusão directa, com outro camarada com sangue do mesmo tipo, no meio daquele inferno, seria quase impossível.
Eu tive um camarada que morreu com um tiro no abdómen, por falta de evacuação, por ser de noite.
À noite não haviam meios aéreos e também não se podia usar o garrote.

Um Abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Aux Enf da CCAÇ 1589 (1966/68)
____________
Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P6339: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (2): Vida




1. O nosso camarigo Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, em mensagem do dia 4 de Maio de 2010, enviou-nos esta "Vida" para a sua série, 20 depois da Guiné, à procura de mim:





DEPOIS DA GUINÉ, À PROCURA DE MIM


20 ANOS DEPOIS (2)

VIDA

Acho tão pouco,
Quando olho para trás,
O que até agora fiz.
Apetecia-me correr como louco
Ao longo da vida futura
E construir, refazer, edificar,
Tudo o que tenho para dar.
Tenho o peito tão cheio desta ânsia incontida
De querer acabar
Tudo o que ainda nem comecei.
De querer viver com vida
Tudo o que não vivi.
De escrever,
Com fúria e alegria,
Os sentimentos que ainda não conheci.
De dizer a toda a gente,
Estou aqui,
Estou presente,
E deixar o mundo espantado
A dizer de boca aberta:
Que diabo
Afinal o homem,
Ainda não estava acabado.
De olhar a todos nos olhos,
Bem de frente e sem medo,
E gritar-lhes aos ouvidos:
Vocês vão ver,
O que eu sou capaz de fazer!
Abanar-lhes as almas,
Romper-lhes as cadeias,
Enchê-los a todos de inveja
A verem-me ser feliz.
E quando daqui a muitos anos,
Tantos quantos eu quiser,
Me apetecer chegar ao fim,
Olhar para o passado e dizer,
Com o orgulho posto na vida:
Tudo isto que está para trás
É muito feito por mim…


91.11.20

Um abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6313: O 6º aniversário do nosso blogue (31): Tiraram-me a G3, mas fiquei com uma caneta (Joaquim Mexia Alves)

Vd. primeiro da série de 27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6258: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (1): A viagem

Guiné 63/74 - P6338: Ser solidário (68): Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade Social e de Apoio ao Desenvolvimento (Carlos Silva)


1. O nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71, enviou-nos um pedido de publicação do seu apelo a que consignemos, nas respectivas declarações, os 0,5 % do IRS anuais, a que temos direito pela lei, em prol da ajuda à Ajuda Amiga. Assim, não custa nada a dar. Dando todos um pouco se juntará… uma "pipa de massa".

Consignação de 0,5% do IRS a favor da Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade Social e de Apoio ao Desenvolvimento

http://ajudaamiga.com.sapo.pt/

Uma nova e importante fonte de receitas foi conseguida pela Ajuda Amiga, ou seja a consignação a seu favor de 0,5% do IRS a partir de 2011 [incide sobre os rendimentos de 2010], assim na declaração de IRS basta indicar o nome da Ajuda Amiga e o seu NIPC 508 617 910 no campo reservado à "Consignação Fiscal".

Uma decisão simples e sem quaisquer encargos para o doador que permitirá que 0,5% do imposto liquidado, seja destinado pelo Estado à Ajuda Amiga.

Campo da Declaração do IRS a preencher em 2011


Deste modo, Camaradas & Amigos daqui faço um apelo para que ajudem a nossa Associação a cumprir os objectivos a que se propôs e estão consagrados nos Estatutos.


Para verem a acção por nós já desenvolvida poderão visitar o Site da Ajuda Amiga e o meu onde é visível a ajuda levada por nós até à Guiné-Bissau incluindo o nosso Sector de Farim.

http://ajudaamiga.com.sapo.pt/

http://carlosilva-guine.i9tc.com/site/

No Site lancei mais de 300 fotos relacionadas com a nossa actividade.

Com um grande abraço pela vossa solidariedade,

Carlos Silva

Fur Mil At Inf da CCaç 2548/Bat Caç 2879

____________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

3 de Maio de 2010

Guiné 63/74 - P6304: Ser solidário (67): Maria Buinen e Rosa Mota 'correm' pelo Projecto Viva (água para 85 mil pessoas na Região de S. Domingos) (Bernardino Parreira, CCAV 3365, 1971/73)

Guiné 63/74 - P6337: Notas de leitura (102): Guinéus, de Alexandre Barbosa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Abril de 2010:

Queridos amigos,
O José Brás, nosso confrade, honrou-me com a oferta de “Vindimas do Capim”, livro importante dos anos 80, época em que ando a navegar, e sempre a suplicar em voz alta ajudas ordinárias e extraordinárias.
Insisto: por favor, quem tenha livros publicados nos anos 80 e 90, ao menos tenham a gentileza de me indicar título e autor da obra (não obstante, terei muito gosto em que me emprestem tais obras...).

Um abraço do
Mário


A Guiné dos feitiços, dos irãs e de outros exotismos
Beja Santos

Foram sobretudo os funcionários coloniais os que mais procuraram registar aspectos etnológicos e etnográficos, sinceramente surpreendidos pela vastíssima cultura guineense, pródiga de narrativas orais, danças multicolores, paisagens deslumbrantes, usos e costumes impossíveis de esquecer, e de difícil comparação com outras paragens. Alexandre Barbosa publicou “Guinéus, contos narrativas e crónicas” em edição de autor, estávamos em 1962. A colectânea é dedicada aos seus pisteiros, o que deixa antever que o autor se dedicava às artes venatórias. Ele, aliás, rememora os seus amigos nestes termos: “Meus fiéis pisteiros e ideais companheiros durante centenas de digressões venatórias através do mato guineense sob o sol acutilante, o cacimbo envolvente, a rija chuva e a fúria dos tornados, cenário de tantos momentos de satisfação, de desalento e, por vezes, de perigo, que sucederam para marcar os motivos mais saudosos dos dezoito anos que vivi em terras guineenses”.

Leopoldo Amado, intelectual guineense que nos honra na nossa tertúlia, tem estudado com grande rigor e apuro os fundamentos desta literatura, indispensável para compreender todo o contexto colonial que preludia a eclosão no movimento nacionalista e da luta armada. Já aqui falámos de José Augusto Silva (tio do Pepito), de Francisco Valoura, de Fausto Duarte, de Manuel Belchior e de outros nomes que são incontornáveis entre os anos 30 e 60, nas letras guineenses. Todos eles aparecem irmanados pela satisfação em narrar uma África de luares, batuques, paganismo, a vida na floresta, a luxúria da fauna e da flora. Há momentos patéticos como a descrição daquele Arafan cujo filho se esvai em sangue e tenta, numa maratona delirante, percorrer longos quilómetros à procura do médico e de um milagre que lhe salva o seu querido Lássana. É interessante atender aos pormenores da escrita:

“Lássana dorme no chão, sobre a esteira. Tinha uma cama em madeira feita pelo Domingos, o carpinteiro cristão, mas só passaria a servir-se dela quando ele e o pai concluíssem a nova palhota de paredes já erguidas, em adobes, com janelas e traçado como as dos civilizados.

Durante o dia estivera no mato na colheita de látex das trepadeiras e árvores borrachíferas e, pela tarde, quando regressou, o pai ainda o incumbiu de ir a Buba-Tombó pedir ao caçador Bácar umas cargas de pólvora por empréstimo enquanto não viesse o gila do chão francês com encomenda clandestina.

Cá fora o caçador repousa na cama de rede suspensa das pilastras de pau-carvão da varanda. Passa tempo. A lua ainda vem alta e só cairá pela meia-noite. A tralha da caça está preparada. Renovara o carboreto do farolim e a velha longa já estava com a primeira carga. Pólvora, buchas e zagalotes acamados com esmero sonhado êxito para o primeiro tiro da noite. Levara a tarde a acertar com a têmpera das novas molas do gatilho. Há pouco a sua mulher pusera o farnel na sua sacola de caça”.

Para tornar mais compreensível toda a narrativa, Alexandre Barbosa prepara um pequeno glossário de expressões de uso local e falares crioulos. Exemplos: Baguiche (planta comestível preparada à maneira de esparregado), Cabeça-de-Morança (chefe de família), Cacho ou Cacho Caldeirão (pássaro), Dondom (pequeno tambor), Fotan (apito de bambu que os caçadores fulas usam para o chamamento de hipopótamos), Fritambá (pequeno antílope), Gato-Lagar (gato selvagem), Malila (bracelete feita de fibras vegetais com que o balanta enfeita os pulsos e artelhos).

Peço ao leitor que se debruce sobre a fotografia deste livro. Tem a ver com a dança do peixe-verga (tubarão-martelo). No rito animista dos Bijagós, o bailarino vai abater o todo-poderoso dos mares quentes com uma lança de bambu. A fotografia permite ver alguns dos aspectos impressionantes das poses baléticas: o bailarino que simboliza o peixe-verga, a garça pescadora (ave) e o peixe-verga propriamente dito. Escreve Alexandre Barbosa: peixe-verga, pescador e garça evoluem no terreiro em atitudes, gestos e mímica até que o pescador consegue ferir de morte o peixe-verga, procedendo a uma degola apoteótica”.


E com que orgulho não descreve Alexandre Barbosa o rio Corubal, referindo os rápidos de Cusselinta e Saltinho, a ponte que permite a ligação entre o norte e o sul da Guiné, a colheita do âmbar, o macaréu, as belezas da lagoa de Cufada e a mata do Cantanhês: “No rio há variedade de peixes e os descomunais mas graciosos hipopótamos. Nos mangais a orlar o rio e no arvoredo próximo é numerosa a fauna aviária. Garças ribeirinhas, pelicanos, maçaricos e uma imensidade de passarada multicolor. No mato aparecem a cabra selvagem, a gazela, o sim-sim, o javali, o porco-espinho, a onça, o búfalo e, por vezes o portentoso elefante. São muitos os patos selvagens, as chocas (perdizes) e as galinhas do mato. Enfim, um mundo diferente para os desportistas metropolitanos que se decidam a visitar-nos e até para os que vivem na Província que não tenham ainda contactado com o mato, tão cioso a ocultar-nos o seu exotismo e uma vida animal que nos evita e receia”. Mal sabia Alexandre Barbosa as actividades não turísticas que se iriam desenvolver a partir de 1963 em regiões como o Cantanhês...

“Guinéus” foi-me gentilmente emprestado pelo Armor Pires Mota. Renovo o meu pedido a todos aqueles que possuam livros desta época, são títulos que deverão obrigatoriamente constar no repertório da literatura guineense.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6329: Notas de leitura (101): Spínola, a biografia de Luís Nuno Rodrigues (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6336: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (10): Em Empada, o caso do borrego furtado

1. Última parte da narrativa referente à estadia de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) em Empada:


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte V

Por Arménio Estorninho

O caso do borrego furtado


Conforme o exposto no poste Empada - Bissau, (Parte 1 e Foto 2), sobre o furto de um borrego, que testemunhei presencialmente e lembro-me como se hoje fosse. Sendo o animal morto e confeccionado, só para a classe dos Oficiais e Sargentos, dado que a população se recusava a vender mais e assim as praças acalmaram-se porque já tinham um grãozinho debaixo da asa.

Por conseguinte, depois de ouvidas as partes, o processo terá sido arquivado, devido ao dito furto ter sido perpetrado pelo Oficial Instrutor do Processo, que se tratava do companheiro e camarada José Belo, prova fotográfica (21), há… há.

Aquando tiradas as fotos, se bem me lembro, fora dito ao Bertino Cardoso para não colocar o chapéu na cabeça devido ao suor, mas ele colocou-o por cima da mesma, (a foto confirma).

Companheiro e amigo José Belo, agora tomo também a liberdade de te chamar irmão Maioral, porque fizemos parte do puzzle da CCaç 2381 - Os Maiorais, pisamos as mesmas picadas, bolanhas, tarrafos, Tabancas e Aquartelamentos, o que não foi pouco, mas tive muito menos assiduidade e também claro está excluindo-me de ser voluntário para acções militares ao objectivo In.

Foto 21 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Foi pedida para exaltação do furto do borrego, idealizado pelo próprio Alferes Belo.

Dado que o Posto Administrativo de Empada tinha um telefone público, tinha a possibilidade de entrar em contacto telefónico com a minha namorada, dando-lhe notícias todos os meses pela importância de 100$00 (cem pesos).

Fazendo lembrar que também foram feitos telefonemas para a Rádio Bissau, até em directo para o programa de discos pedidos. Uma vez alguém solicitara em nome da lavadeira do Furriel Taco Taco, “deu cá uma bronca e que belos tempos.”

No Aquartelamento fiquei em parte também instalado em abrigo de defesa como lugar de camarata, para isso era o meu sócio o “Cabo Escritas” quem mexia os cordelinhos e arranjava autorização, depois passando para mim o controlo da gestão e dos trabalhos fotográficos. Diga-se em abono da verdade que em determinadas horas do dia nos servíamos da electricidade do Posto Administrativo, o que facilitava-nos a vida.
Paralelamente às fotografias, também cambiava os escudos da Metrópole com os pesos à taxa de 10%, não tendo concorrência.

E assim, foram apresentados alguns extractos da minha passagem por Empada.

Com cordiais saudações guinéus deste camarada e amigo,
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais”
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6316: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (9): Em Empada, O IN em acção, as minhas amizades e uma visita do COMCHEFE

Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)



Guiné > Região Leste > Mansambo > CART 2339 (1968/69), Os Viriatos > 1969 > O Humberto Reis, Fur Mil Op Esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71),junto ao monumento aos mortos da CART 2339   pertencente ao BCAÇ 2852 (1968/1970), e que foram os construtores de Mansambo.  Em Novembro de 1970, aquando da visita de inspecção do Gen Spínola, a subunidade de quadrícula era a CART 2714, pertencente ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72),  reforçada com um 1 Esq do Pel Mort 2106, e com menos um pelotão (que foi reforçar o Xime).

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.









Guiné > Região Leste > Mansambo > CART 2339 (1968/69), Os Viriatos> Fotos Falantes II > S/ legenda > O nosso general adorava andar de helicóptero... Mas possivelmente não nunca terá ido numa simples coluna auto,como esta, na Estrada (?)  Bambadinca- Mansambo - Xitole, na época das chuvas...  O inferno, na terra... 


Fotos: © Torcato Mendonça  (2006). Direitos reservados.


Continuação da publicação do  Despacho do Com-Chefe, de 7/1/1971,  relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (*)


5. Visita a Mansambo em 18Nov70 

- Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em
Mansambo.

Foram notadas as seguintes anomalias:

-O Alferes Comandante interno da Companhia desconhecia em absoluto o plano de defesa, a actuação do IN na área e a própria situação de alguns postos de combate.

- As casernas abrigos apresentam-se totalmente inoperacionais; não há postos de combate nem tão pouco valas.

-As metralhadoras estão mal instaladas e em posições que não lhe permitem tirar rendimento de tiro.

- As bazookas e os morteiros estavam igualmente mal instalados, não se podendo de forma alguma extrair deles rendimento aceitável.

- O plano de fogos de morteiro está deficientemente elaborado. No campo da execução de tiro a ligação telefónica PC/abrigos apresenta-se totalmente inoperante; no interrogatório feito à guarnição depreendeu-se que em caso de ataque o tiro era feito “a olho”, dado que a guarnição não acreditava na eficácia do planeamento.

- Ainda no âmbito da defesa, verificou-se a construção dos balneários à frente dos abrigos, o que elimina totalmente a já precária utilização destes.

- Em resumo: a defesa do aquartelamento está estruturalmente errada na concepção e apresenta-se inoperante na execução.

-No âmbito das instalações do pessoal, verificou-se a existência duma sala de oficiais bem instalada e com requintes de decoração, a contrastar flagrantemente com a acomodação dos soldados. Foi ordenada a imediata resolução deste problema.

Neste particular o comportamento do comando da Companhia revela-se francamente negativo, tanto mais que foi chamada a atenção de todos os Comandos para a constante atenção que deve merecer o bem-estar dos soldados.

- No tocante à alimentação foram detectadas várias deficiências, nomeadamente batatas e frescos estragados (pp. 3/5).


6. Visita a Afiá e Candamã em 18Nov70 (**)

- Estas duas tabancas encontravam-se totalmente abandonadas.

Os respectivos comandantes da milícia responsáveis pela defesa não têm a mais pequena noção do que lhes compete fazer em caso de um ataque organizado. Estas tabancas encontram-se praticamente entregues a si próprias, guarnecidas por pessoal inapto e sem instrução.

- Na revista de armamento, as armas apresentavam-se em péssimas condições de limpeza, pelo que foram retiradas algumas como castigo.

- A rede de amare farpado encontra-se destruída e os campos de tiro tapados com capim.

- Não há abrigos para as populações e os antigos abrigos abatidos não foram reconstruídos.

- Os professores queixam-se da carência de cadernos, esferográficas, lápis, quadros pretos e cola.

-Os comandantes da milícia queixaram-se da falta de catanas para procederem à capinagem; quanto à limpeza de armamento queixaram-se que a Companhia não lhes fornecia óleo para o efeito.

- Em resumo: Estas duas tabancas encontram-se à mercê de ataques IN reunindo as melhores condições para serem totalmente aniquiladas.

Salienta-se que estas duas tabancas já estiveram devidamente instruídas e mentalizadas parta uma eficiente defesa. (p. 5)



[ Revisão / fixação de texto: L.G.]

Próximo ponto > 7. Visita a Xime em 12Dez70

Observ. de L.G.:

 É estranho que, na véspera da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22 de Novembro de 1970), Spínola ande a fazer "visitas de rotina" em pleno interior do CTIG...

De qualquer modo, depois de 18 de Novembro (visita a Mansambo, Afiá e Candamã), há um interregno... O general volta a zona leste, para estas visitas de inspecção, no dia 12 de Dezembro de 1970 (Xime), Dembataco, Taibatá,  Enxalé, Nhabijões  (a 15), e por fim Amedalai, Finete e Missirá (a 19)... 

Spínola fará, no Xime, duras críticas ao Comando do BART 2917, por causa da violentíssima emboscada que tivemos (a CART 2715, a CAÇ 12 e outras forças) na Ponta do Inglês, causando-nos 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Candente).


____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) Tinham cerca de 200 habitantes cada uma. Candamã era a sede do regulado de Corubal.  Mansambo não tinha população, a não ser os guias e as suas famílias.

Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados

Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XV


por Daniel de Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74)


Hino de Os Marados de Gadamael


Escuta, Irmão
Nós somos Os Marados de Gadamael
Vivemos dias maus, Irmão
Dias amargos como fel
P´ra ti cantamos, nosso Irmão
Para o povo todo da Terra
Viver em Gadamael
É o máximo da guerra!
(refrão)
Mas chegará o dia, Irmão
De partirmos da Guiné
Com fé e confiança, Irmão
O que é preciso é estar de pé!
A comer “bianda” com chouriço
Isto é só emagrecer
Queremos ir p’rà nossa terra
Onde podemos comer
(repete refrão)
Mas chegará o dia, Irmão
De partirmos da Guiné
Com fé e confiança, Irmão
O que é preciso é estar de pé!


Dedicatória

Dedico estas páginas à memória dos camaradas que morreram na Guiné, mas igualmente aos Marados de Gadamael que já nos deixaram após o regresso (que eu tenha conhecimento, o Quaresma, o Pessoa, o Jaca e, mais recentemente, o Moutinho (o “Emerson Fitipaldi” das Berliet), grande entusiasta dos nossos convívios anuais no Continente. Por vezes, há outras notícias que nos chegam, mas como não estão confirmadas, não há que especular... Mas temos de nos ir habituando à ideia deste número ir crescendo paulatinamente, pois hoje estamos todos na casa dos 60 anos e a lei da vida é irreversível.

Não sei se para aqueles que de alguma forma participaram na guerra será positivo ou negativo este reacendimento das memórias. Voluntária ou involuntariamente, todos acabamos por dar connosco a reviver excertos do passado (não apenas deste passado, também da infância e de outros períodos da nossa vida). Reagir às recordações da guerra é sempre diferente. Podemos sempre voltar à vivência dos anos em que começámos a crescer e compreender as diferenças, mas é impossível de reconstituir dois a três anos no mato, o sofrimento e os bons momentos de lazer e diversão que também retivemos para todo o sempre. No quotidiano das nossas vidas deparamo-nos com imensos camaradas que ainda hoje é como se nunca tivessem saído da Guiné (de Angola, de Moçambique) e na maior parte dos casos não passaram o que nós tivemos a infelicidade de passar. Então, porquê reavivar esses tempos? Ajuda a espantar fantasmas? Não creio que existam, mas acredito que sejam (perdoem-me o lugar-comum) como as bruxas: “que las hay, las hay”!...

Um dia a SIC patrocinou o regresso de um ex-combatente à localidade onde havia estado durante a guerra (Moçambique). Em contacto com autóctones do seu tempo (já com muitos filhos à mistura) e com ex-combatentes do “outro lado” (FRELIMO), conviveu sem problemas, reviveu momentos, contou e ouviu histórias dos tempos idos. De repente, fez-se silêncio e, como quem não tem mais nada para dizer, pediu humildemente desculpa a todos os presentes. Desculpa de quê? De uma coisa de que não foi o principal culpado: ter lá estado, naquele tempo… E eu, nesse instante, desatei a chorar convulsivamente, de tal modo que não conseguia dominar-me, sendo essa a única manifestação espontânea, que me lembre, que tive relacionada com a minha primeira presença em África, de G3 numa mão e de cavilhas de segurança, mais cordão-de-tropeçar para as armadilhas, na outra. Que complexo guardei em mim durante tantos anos, até ver essa reportagem? Depois do regresso, por razões da minha vida pessoal, tive contactos com inúmeros ex-guerrilheiros e mesmo com dirigentes do PAIGC, MPLA, FRELIMO, MLSTP e FRETILIN, ao mais alto nível, tornei-me amigo de vários e nunca senti que tivesse que apresentar desculpas pessoais a ninguém, por nada deste mundo, nem eles admitiriam que o fizesse; tal como a mim, enquanto cidadão português, nenhum combatente pela liberdade tem motivos para me pedir desculpa. Mas voltar aos locais onde estivemos, encarar de frente os olhos tristes ou indiferentes das pessoas… De todos os programas televisivos, reportagens, foi o mais difícil para mim… Porquê tamanho complexo de culpa?

Quando pus pela primeira vez os pés em África, eu já tinha alguma consciência política, embora não muita informação: lembro-me de gravar um texto que me forneceram no momento, no Funchal (num programa da Estação Rádio da Madeira), em que Amílcar Cabral era tratado como um assassino… O texto era tão mau que o li aos bochechos, gravando-o de primeira, sem o perceber. Quando ouvi o resultado final já não pude evitar que fosse para o ar e, mesmo sem grandes argumentos para o contestar, recriminei-me por não ter recusado liminarmente a leitura.

Lembrar tudo isto, agora? É patético, mas até quando escrevo este texto tenho momentos de emoção e a reacção primeira é a da escrita compulsiva, é a de contar as histórias rapidamente, antes que se esgote o tempo e temendo que já ninguém se interesse por as ouvir (ler). O que de início se pretendia ser um texto sobre os dias de Guidaje já leva a dimensão de um pequeno livro, escrito nos tempos livres de não mais que quatro semanas e sem o intuito de grandes revisões nem cuidados literários: chegado ao fim, amigos, foi contar que foi assim e pronto…

Nesta dedicatória, não resisto a transcrever na página seguinte um poema de Mário Dionísio (16/07/1916 – 17/11/1993, ex-professor da Faculdade de Letras, poeta, conferencista e tradutor, que colaborou na Seara Nova, Vértice e Diário de Lisboa; prefaciou autores como Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires e Alves Redol). Embora publicados em 1945, estes versos adaptam-se na perfeição ao estado de espírito com que recordamos todos estes camaradas.


Balada dos Amigos Separados

Onde estais vós Alberto Henrique
João Maria Pedro Ana?
Por onde anda agora a vossa voz?
Que ruas escutam vossos passos?
Ao norte? Ao sul? Aonde? Aonde?
José António Branca Rui
E tu Joana de olhos claros
E tu Francisco e tu Carlota
E tu Joaquim?
Que estradas colhem vosso olhar?
Onde agora a vossa vida repartida?
A oeste? A leste? Aonde? Aonde?
Olho prà frente, prà cidade
e pràs outras cidades por trás dela
onde se agitam outras gentes
que nunca ouviram vosso nome
e vejo em tudo a vossa cara
e ouço em tudo o som amigo
a voz de um a voz de outro
e aquele fio de sol que se agitava
sempre sempre
em todos nós
Dançam as casas nesta noite
ébrias de sombra nesta noite
que se prolonga em plena angústia
aos solavancos do destino
e não consegue estrangular-nos
Sigo e pergunto ao vento à rua
e a esta ânsia inviolável
que embebe o ar de calafrios
Onde estais vós? Onde estais vós?
E por detrás de cada esquina
e por detrás de cada vulto
o vento traz-me a vossa voz
a rua traz-me a vossa voz
a voz de um a voz de outro
toada amiga que me banha
tão confiante tão serena
Aqui aqui em toda a parte
Aqui aqui e tu aonde?

Mário Dionísio
in As Solicitações e Emboscadas
Vértice n.º 58, Janeiro de 1994
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira