domingo, 22 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5316: Memória dos lugares (56): Reportagem fotográfica de Gadamael (Jorge Canhão)



1. – O nosso Camarada Jorge Canhão, ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa 1972/74, ao tomar conhecimento do poste P5308, com a mensagem do Daniel de Matos (Fur Mil da CCAÇ 3518 “Marados de Gadamael” - Gadamael, 1972/74), enviou-nos do seu álbum de memórias, uma série de fotografias daquele local, após o ataque do PAIGC, em Junho de 1973, com um curto texto:

Camaradas,
Estou a enviar estas fotos de Gadamael, porque segundo li num dos postes do blogue existem poucas ao dispor. Todas estas foram obtidas por mim.
Se algum camarada que lá esteve souber identificar qual era a função/destino das instalações fotografadas, antes da destruição pelo ataque do PAICGC, seria bom que nos informasse, porque eu não sei.
Abraços,
Jorge Canhão
Fur Mil da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72





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Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Jorge Canhão, Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, pontão e quartel.



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Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Jorge Canhão, Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, edifício das transmisões e "restos das instalações do aquartelamento de Gadamael", fortemente atacada pela artilharia do PAIGC.















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Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Jorge Canhão, Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, "restos das instalações do aquartelamento de Gadamael" e o Alf Mil Rocha junto dos destroços.















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Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Jorge Canhão, Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, o Alf Mil Rocha junto dos destroços e mais alguns "restos das instalações do aquartelamento de Gadamael".













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Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Jorge Canhão, Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, mais alguns aspectos dos "restos das instalações do aquartelamento de Gadamael".


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Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Jorge Canhão, Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, "restos das instalações do aquartelamento de Gadamael" e o Fur Mil Jorge Canhão.


Fotos: © Jorge Canhão (2007). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:


Guiné 63/74 - P5315: Estórias avulsas (16): O cão, o melhor amigo do homem (Armando Pires)


Eu e o Forcado, ambos em traje domingueiro, atravessando a ponte sobre o rio Armada, que separava Bissorã da Outra Banda. (Foto 2)

O Forcado e a Nazaré aos meus ombros, sendo o Forcado o da direita. (Foto 1)


O documento oficial que autorizou o embarque do Forcado (Foto 3)




Depois do regresso da Guiné, o inseparável amigo e companheiro do meu pai (Foto 4)


Fotos (e legendas): © Armando Pires (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem do Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70 (*), para quem ainda não consegui arranjar um bocadinho de tempo, para almoçar e dar dois dedos de conversa (apesar de praticamente vizinhos: eu, em Alfragide; ele, em Miraflores)


Eu na Guiné tive um cão. Melhor escrito, eu sempre tive cães e na Guiné também tive um. Dei-lhe o nome de Forcado.

Coisa inapropriada para um cão, já se sabe, mas longe de casa é que bate a saudade e eu, um clássico ribatejano, pespeguei-o ao meu passado juvenil, tão passado e juvenil que, por razões não vindas ao caso, se ficou por ali.

Portanto, ao cão dei-lhe o nome de Forcado tal como o Barbosa deu o nome de Nazaré à fêmea que ficou para ele.

Nazaré porquê, está visto. Só falta dizer que o Barbosa era (é) o (ex) furriel mil sapador da minha companhia.

Já agora, um e outra, cachorros, vieram do administrador de Bissorã.

A Nazaré, coitada, teve vida curta. Pariu ainda nova, em plena estação das chuvas, e quando demos por ela estava quase devorada pelos mosquitos atraídos pelo cheiro de leite.

Para a posteridade, deixo-vos uma foto (1) do Forcado e da Nazaré aos meus ombros, sendo o Forcado o da direita.

E também vos deixo uma outra (2) onde eu e o Forcado, ambos em traje domingueiro, atravessamos a ponte sobre o rio Armada, que separava Bissorã da Outra Banda.

O Forcado era muito cioso do seu território e não gostava de estranhos. Identificou todos os sargentos daquela casa e ali mais ninguém passava sem consentimento interno. Civil ou militar. De baixa ou de alta patente. Não entrava, e pronto.

Deitado ou sentado, quer à porta da caserna quer à porta do bar, ele não tugia nem mugia..Deixava passar o afoito e, num ápice, filava-o pela perna e era aí que vinha o alarme. Mais nosso, certa vez, porque quem foi filado foi o 2ª Cmdt do Batalhão.

Nas flagelações ao aquartelamento não sei como se comportava. Sei que nunca desapareceu do seu lugar.

Chegados ao fim da comissão, o Forcado veio-o comigo para casa. Ainda guardo o documento oficial que autorizou o seu embarque. Podem vê-lo já de seguida (3).

Viemos no Carvalho Araújo, cujo comandante não recordo o nome, mas que se for vivo e estiver a ler esta história quero cumprimentar por ter compreendido o afecto que tinha (tínhamos) pelo cão e permitido que ele viajasse a nosso lado e não fechado no porão.

Do Forcado só me separei dois anos depois, quando, por razões profissionais, rumei a Lisboa. Então, tornou-se no inseparável amigo e companheiro do meu pai. Para onde ia um, ia o outro, onde se sentava um, ao lado estava o outro, e para meu orgulho, toda a cidade falava dos dois.

O meu pai, depois do almoço, gostava de fazer uma soneca num cadeirão instalado na marquise. Ao lado estava uma velha arca, dentro da qual tinha velhos pertences, entre eles o meu camuflado, sobre a qual o Forcado o acompanhava na sesta.

Uma tarde, vencido pela idade, o Forcado já não acordou. Não esqueço a profunda tristeza que li nos olhos do meu pai. Consintam que ainda me emocione e que tomado pela saudade publique a foto (4) dos dois.

Bem. Talvez perguntem vocês a que propósito vem aqui a história do meu cão. Primeiro, não sei se repararam, rematei a história com o meu pai. E recordar o meu pai, partilhar com amigos a memória do meu pai, é coisa que me faz muitíssimo bem ao espírito. Segundo porque, sendo certo que o meu cão não foi um antigo combatente, ele foi meu companheiro na Guiné. E os companheiros não apenas são para estimar e lembrar como “não se podem deixar para trás”

Mas há, todavia, uma outra razão para tudo isto. As conversas são como as cerejas (que haviam de ser todas como as do Fundão, mas não sendo ainda bem que há o Fundão), e se se derem ao trabalho de pesquisar no blogue, vão ver que me apresentei em Agosto, que anunciei ir 15 dias de férias e que depois voltava.

Foi o voltas, como se está a ver, e a justificação para tão longa ausência está… no meu cão. Sim, porque eu, que sempre tive cães e que na Guiné também tive um, continuo a ter cães.

Desta vez são dois Cocker Spaniel. Mãe e filho, que eu sou muito apegado à família. Ela toda dourada e ele todo preto. Saiu ao pai.

Deixemos nesta explicação a Pantufa a dormir, que ela com a idade já é mais de mandar o filho trabalhar, e sigamos o Júnior. Para quem conhece os Cocker, digo já que o rapaz herdou tudo quanto a raça pode dar. E de forma acrescida, o faro e o ouvido. E sem ter nada a ver com o Forcado, remotamente dele terá herdado o sentido de propriedade.

Pois estava eu de férias. A casa onde passo férias é um triplex. Salas em baixo, quartos em cima, frente voltada ao movimento, traseiras muito recatadas.

Certa noite, estava eu lá em baixo a ver televisão, sinto o Júnior disparar escadas a cima e depois uma refrega monumental. Tão rápido quanto a idade me consentiu, cheguei ao andar superior e só vi uma perna esfarrapada a esgueirar-se pela janela e o Júnior pronto para seguir o dono da perna.

Estamos no Algarve. No verão os larápios andam assanhados porque cheira a “fruta” fresca e gente distraída. Reis da distracção já se sabe que são os putos, e os meus (sim, eu tenho filhos e o mais novo conta com 15 anos) com a merda dos computadores abusam, de tal sorte que deixaram aberta a janela do quarto lá no segundo piso e que dá para a parte mais recatada da casa.

Perante aquela “janela de oportunidade”, a coberto da escuridão, um tipo galgou a portada, caminhou uns três metros sobre um lancil com não mais que dois palmos de largo, entrou pela janela onde coube à justa, e foi quando se preparava para a limpeza que o meu cão o ouviu e cheirou.

Filado pelo Júnior, ouvindo correria escada a cima e sem saber quantos eram, o larápio precisou de ambas as mãos para manobrar na janela, ser rápido no lancil para não cair e meter-se ao fresco.

Tudo perfeito, como nos filmes. Excepto que o sacana levava debaixo do braço O MEU COMPUTADOR. E, precisando de levantar o braço para usar a mão, deixou-o cair.

Pimba, bonito serviço. No computador estavam textos passados e recentes, sons e fotos que fazem a minha profissão e que ainda não copiara para outros suportes, e estavam, também, digitalizadas montes de fotografias que hei-de ir seleccionado para publicação na Tabanca, mais as notas que fui tirando para ajudar a memória nas histórias que tenho para vos contar.

Valeram-me os engenheiros da Toshiba. Não sei como, porque não sou engenheiro. Sei que conseguiram recuperar tudo quanto estava no disco rígido do meu computador.

Só que estas coisas levam tempo.

PERCEBEM AGORA PORQUE SÓ HOJE VOLTO À ESCRITA?

O Carlos Vinhal, Editor de serviço à época da minha apresentação, até me escreveu algo parecido com “Ó homem, entra, acomoda-te, senta-te aí a uma janela, come um pastelinho de bacalhau, bebe um copo e lança-te à escrita que tu, que foste enfermeiro, hás-de ter muito para contar”.

Pois tenho. Mas como acho, com texto e fotos, já estar a ocupar muito espaço no livro da Tabanca e, sobretudo, para não misturar alhos com bugalhos, fico hoje por aqui e prometo voltar à escrita para a semana.

Abraços e até lá.
Armando Pires
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)

Guiné 63/74 - P5314: Em busca de... (103): Procuro informações sobre Camaradas que estiveram em Nhacra - 1972/74 (Firmino Ruas Mendes)


1. No passado dia 20 de Novembro, o nosso Camarada Luís Graça recebeu do Firmino Ruas Mendes, ex-Fur Mil do Pel Mort 4581, Nhacra - 1972/74, a seguinte mensagem:

Bom dia Camarada,

Hoje, por mero acaso, ao assistir a uma entrevista ao Camarada Manuel Rebocho, na televisão, descobri este site.

Foi, para mim, uma surpresa.

Estive na Guiné, de Dez 72 a 31 Agosto 74, como Furriel Miliciano no Pel Mort 4581 em Nhacra.

Há muito que tento encontrar Camaradas desse tempo, incluindo Os GRINGOS DE GUILEGE com quem privei durante alguns meses.

Ate aqui não me tem sido fácil.

Hoje, penso que descobri a maneira de chegar ate eles.

Vou ler atentamente tudo o que está escrito.

Abraço,
Firmino Ruas Mendes
Fur Mil do Pel Mort 4581

Aqui ficam os meus contactos:

Av. S. Silvestre, Bloco Dtº - 2º Esqº
3320-201 Pampilhosa da Serra
Telemóvel - 966 029 382
Telef. fixo - 235 598 004
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, em:

sábado, 21 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5313: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (14): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Rotinas perigosas IV


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos a 14ª fracção das suas memórias. Esta sua série foi iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67
Rotinas perigosas IV

Chegado a Cantacunda foi tempo de conhecer os cantos à casa, denotando, desde logo, que as instalações eram muito precárias. Pior só BANJARA, aonde me havia deslocado uma ou duas vezes para jogar futebol, após o que regressávamos a Camamudo.

Conhecidas as instalações, fomos visitar a Tabanca, contactar com os usos e costumes do pessoal na localidade (especialmente o das bajudas como é óbvio) e arranjar lavadeira.

Cantacunda era uma Tabanca muito estranha, notamos que a maior parte da população era muito desconfiada, de tal modo que não consegui, durante o mês e meio que lá estive, chegar a uma conclusão sobre as origens que motivavam essa desconfiança.

Detectamos a presença de várias pessoas estranhas à nossa tropa, que por ali circulavam, uns a apeados, outros de bicicleta, que habitualmente se juntavam sob os mangueiros a conversar, debandando quando nos aproximávamos. Perguntei aos soldados nativos, quem eram e donde vinham, mas ninguém me sabia, ou não queria, responder, em nítida posição de cumplicidade.

Assim, conhecidos os cantos da casa e da Tabanca, juntamos o pessoal necessário e procedemos ao reconhecimento da periferia, para nos certificarmos da vivência nos arredores da Tabanca, nomeadamente em algumas picadas. Numa delas verificamos sinais de movimentação humana, muito pouco vulgar, já para além da bolanha.

Regressados ao destacamento fui dar conhecimento ao Furriel Paio das minhas desconfianças, sugerindo-lhe que aquela picada mais movimentada fosse armadilhada. Ele concordou comigo e no dia seguinte, a seguir ao pequeno-almoço, falei com o Furriel Paio para que me cedesse nove ou dez soldados da companhia e um soldado nativo conhecedor desta ZO, equipados com o armamento usual, para efectuarmos um reconhecimento mais atento e pormenorizado à citada picada e montarmos então as tais armadilhas.

Muni-me de duas granadas defensivas e lá saímos. Passamos a bolanha e caminhamos mais um ou dois quilómetros. Escolhi um local que me parecia mais discreto, junto a uma pequena árvore com vegetação em volta, para colocar uma das armadilhas usando uma das granadas que eu transportava. Montei um círculo de segurança no perímetro, enquanto executava a montagem, acerca de um palmo do solo, dissimulada pelos arbustos que ali existiam dos dois lados do caminho (seguindo as instruções e conhecimentos que recebera nos “ranger’s”).

Para quem não sabe ou já esqueceu, estas colocações obrigavam a fazermos uma descrição da montagem da armadilha, com a sua localização exacta (indicando pelo menos um ponto de referência evidente e EXACTO do local), e, se necessário, elaborarmos um esboço ou esquema da colocação.

Tal se devia a que, posteriormente, serviria não só para comunicação a todo o pessoal da nossa Unidade, desta perigosa e mortífera existência, bem como em caso de nova decisão, se proceder à sua EXACTA desmontagem.

Cumprindo então as normas aprendidas, seleccionei uma árvore seca de grande porte com uma bifurcação enorme e utilizando a orientação possível e o medidor habitual (contagem de passos), elaborei o croqui (que aperfeiçoei quando cheguei ao destacamento), contendo todos os pormenores, para que, como foi dito, caso não fosse accionada a granada pelo IN, quem tivesse que executar a desinstalação não tivesse qualquer dúvida da sua exacta localização.

Escusado seria dizer aqui, que o mínimo erro na elaboração de um croqui desta natureza, poderia significar um drama humano fatal à NT.

Mais uns dias passaram, gastos em voltas pela Tabanca para conhecimento mais intestino dos movimentos de alguns elementos, que me pareciam esquisitos e na tentativa de compreender e assimilar o dialecto empregue pelos nativos, que foi coisa de que nunca consegui entender patavina (nem de fula, nem de mandinga), exceptuando apenas algumas palavras em crioulo, nada mais.

Digo que, também a minha, nossa, missão não era essa, mas sim defender e proteger a população, para que, com a nossa presença, se sentisse mais segura.

Aos fins de tarde, com o sol ameaça desaparecer, davam-se uns pontapés na bola, sem nunca conseguirmos onze “artistas” para cada lado, a que se seguiam os indispensáveis banhos, no belo “balneário” ali existente.

Foto do lavatório típico das péssimas condições existentes em Cantacunda

Mais uns dias de descanso se passaram, a que se seguiu um novo reconhecimento das picadas e, especialmente, a verificação do estado da armadilha que havíamos colocado, se tudo estava como deixáramos. Quando cheguei à árvore de referência, ordenei aos soldados que se dividissem em dois grupos e penetrassem para dentro do mato, ao longo da picada, até ao local da armadilha.

Toca a contar os passos seguindo o rumo da montagem, com cuidado, pois podia haver alguma surpresa até à armadilha e, para meu espanto, quando cheguei ao sítio da armadilha verifiquei que o fio estava partido, ou cortado. Analisei a armadilha e tudo estava normal, pelo que, pensei aqui há “gato”. Como levava a outra granada comigo, andei mais um quilómetro aproximadamente e montei-a num lugar muito estreito, com mato muito denso e com indícios de passagem de pessoas.

No regresso, ao passar pelo local onde se encontrava a primeira armadilha, introduzi uma cavilha em segurança na granada, mudei o fio de esticar, retirei a cavilha novamente e regressei ao destacamento, pois já estava na hora do almoço.

Aproximava-se o domingo de Páscoa e tínhamos agendado um jogo de futebol com a equipa de Capé, da parte da manhã. Era preciso ir à lenha para a cozinha e como o condutor estava atrasado, pediu-me que conduzisse eu a viatura. Lá fui eu num Unimog “dançarino”, até poucos quilómetros de Cantacunda, perto da bolanha, na direcção de Camamudo. Carregou-se a viatura e regressamos.

Eu carregava no acelerador e os nativos gritavam: - Força furriel!

E eu, extasiado, cada vez acelerava mais. O pior foi quando entrei num terreno arenoso e o Unimog, que já de si era muito instável e inseguro, guinou para um lado e para o outro e saiu da picada, obrigando-me a virar e a revirar o volante. Tive sorte, o veículo não saiu da picada e como não havia nada nas bermas, consegui dominar a direcção da viatura. Fiz uma tangente a uma árvore e retomei a picada. Milagrosamente chegamos todos inteiros ao destacamento, não ganhei para o susto mas ficou-me a experiência para o futuro. Aprendi a ter mais cuidado, pois com a carta de condução há apenas dois meses, não tinha qualquer noção de condução no mato.

Descarregada a lenha, subiram os jogadores da nossa equipa seleccionados para a viatura, pois o jogo era às dez horas. Capé distava cerca de 20 kms, cujo trajecto percorremos rapidamente, chegando antes da hora prevista. Como o pessoal já ia meio equipado, apenas tiramos o camuflado e começamos o jogo. Tudo correu bem excepto o resultado final do jogo. Fomos derrotados por 1-0.

Acabado o jogo regressamos a Cantacunda, tomamos banho e fomos almoçar com o restante pessoal da companhia, que já estava à nossa espera.

Foto da equipa de futebol de Capé capitaneada pelo bem conhecido Carlos Barbosa, filho do patrão da refinaria de cana de açúcar local. É o primeiro em pé, a contar da direita.

(Continua)

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Foto: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:

Guiné 63/74 - P5312: Historiografia da presença portuguesa em África (31): José Henriques de Mello, o primeiro fotógrafo de guerra português (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos*, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2009:

Malta,
Resolvi separar as fotografias da guerra das da paz. É um álbum muito expressivo, revela-nos um fotógrafo excepcional. É claro que para mim o mais tocante passa pelo Cuor, está lá tudo desde Mato de Cão, as campanhas dentro do regulado, o ataque a Madina (será, mais de 50 anos depois, um dos santuários do PAIGC), pela primeira vez vi a corte de Infali Soncó, o mais rebelde entre os rebeldes.

Um abraço do
Mário


O PRIMEIRO FOTÓGRAFO DE GUERRA PORTUGUÊS:José Henriques de Mello

Retratos da Guiné antes dos conflitos de 1907 – 1908

Por Beja Santos



Numa edição da imprensa da Universidade de Coimbra (Novembro de 2008, 500 exemplares), fomos surpreendidos pela notícia de que o primeiro fotógrafo de guerra português operou na Guiné entre 1907 e 1908 tendo deixado um álbum com cerca de uma centena de imagens, provavelmente obtidas em 1907 e que deveriam estar destinadas a comercialização. Os organizadores não escondem a sua surpresa pelo tesouro cultural, histórico e etnográfico que representam estas fotografias, agora digitalizadas. O que nos enternece é a proximidade da câmara, fornecendo-nos admiráveis registos estáticos que desvelam usos e costumes dos colonos, a natureza das habitações indígenas, a vida clânica de diferentes etnias, com as suas hierarquias, a europeização e cristianização, as danças, a azáfama nas casas comerciais, as digressões do poder (como sua excelência o Governador a embarcar), as práticas católicas em Bolama, a vida do mercado na capital da colónia, por exemplo.

Muito pouco se sabe sobre José Henriques de Mello, que partiu da ilha de Santiago, onde trabalhava em fotografia na cidade da Praia e de onde partiu para a Guiné para acompanhar a expedição militar. Certo e seguro é que a sua ida à Guiné o transformou no primeiro fotógrafo de guerra português, o primeiro a estar presente numa frente de combate e a enviar para os jornais os seus instantâneos. Há provas de que ele se encontrava na Guiné em pelo menos fins de 1907, daí o apaziguamento das imagens, os momentos de doce convivência que antecedem os conflitos que irão abrasar o Leste e a região de Bissau. Mello é nome que não consta no nome da fotografia em Portugal e historiadores como António Pedro Vicente ficaram surpreendidos com a elevada qualidade destes disparos fotográficos. Sabe-se que Mello emigrou para os Estados Unidos mas perdeu-se-lhe o rasto.

Neste livro surpreendente, Mário Matos e Lemos descreve a actividade do Governador Muzanty, as fricções que teve com os comerciantes da Guiné, dá-nos um quadro da situação política e económica da colónia depois da desafectação de Cabo Verde refere os massacres conhecidos por o “desastre de Bolor” em que foram massacrados mais de 100 soldados e grumetes ao serviço da bandeira portuguesa por guerreiros Felupes, em 29 de Dezembro de 1878. Dois historiadores acidentais irão depor sobre a natureza dos conflitos que irão por em confronto as tropas portuguesas e os seus aliados contra os régulos sublevados: Nunes da Ponte e Pinheiro Chagas. Observa ainda Mário Matos e Lemos que no final do século XIX os dirigentes monárquicos encaravam a possibilidade de entregar a exploração da colónia a companhias soberanas ou majestáticas, como forma de travar a presença do comércio internacional na região (sobretudo belgas, alemães, franceses e ingleses) as instalações militares ou eram muito fracas ou estavam degradadas. A Conferência de Berlim (1884 – 1885) reclamara como princípio essencial da legitimidade da soberania a ocupação efectiva do território, o que vai desencadear campanhas de pacificação na Guiné, em Angola e Moçambique. As campanhas anteriores às do Governador Muzanty foram, regra geral, mas sucedidas, perpetuando-se os problemas com os Papéis de Bissau, os levantamentos na região do Oio, os resultados eram sempre provisórios, ninguém queria pagar o imposto de palhota. E assim chegámos às campanhas de 1907 e 1908, iremos ver as fotografias de José de Mello no Cuor e na região de Bissau.

Quem pretender obter este álbum que é uma verdadeira preciosidade, pode contactar a Livraria Ferin, a obra custa 25 euros (Livraria Ferin, telefones 213424422 / 213469033 ou e-mail livraria.ferin@ferin.pt).


Régulo de Fulas e seus Ministros

Teatro de Bolama

Costume de europeus estrangeiros. Aperitivo (antes do jantar)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5287: Notas de leitura (34): As Lágrimas de Aquiles, de José Manuel Saraiva (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5269: Historiografia da presença portuguesa (30): O primeiro fotógrafo de guerra português andou no Cuor, Guiné, em 1908! (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5311: Tabanca Grande (189): António Manuel Tavares Oliveira, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4615/73 (Os Pifas), Bassarel, 1973/74

1. Mensagem do nosso novo camarada António Manuel Tavares Oliveira, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4615/73, Bassarel, 1973/74, com data de 19 de Novembro de 2009:

Bem haja quem dá continuidade ou conhecimento dos nossos camaradas.

Descobri o teu site, que considero muito bom e com muita importância de conteúdo.

Estive na Guiné de Outubro de 1973 a Setembro de 1974, em Bassarel, Teixeira Pinto, na 3.ª Companhia do BCaç 4615 (Os Pifas)

Tenho feito todas as diligências para encontrar maralhal que lá tenha estado e para isso já contactei o quartel de Évora, mas não possuem dados nenhum do pessoal.

Evidentemente que reconheço que deverá ser difícil, pois já o foi assim em 1973, quando formamos o Batalhão e verificámos que os soldados e cabos presentes não constavam nas listas dos que iriam embarcar no Niassa. Viemos a saber mais tarde que esses elementos estavam em Elvas e os que estavam connosco iriam para Angola. A caminho de Lisboa, mais concretamente em Vila Franca de Xira é que se deu o encontro e a troca de tropas. Só no Niassa é que se fez a chamada e então ficamos a saber quem era quem. Coisas da nossa guerra.

Mas esta história irei contar mais adiante.
Agora gostaria de encontrar mais alguém, além do J. J. Rodrigues, que por sinal esteve comigo e era o Baga.

Sou António Manuel Tavares de Oliveira, morador em Vila Nova de Gaia e fui furriel Miliciano.
Cheguei a Lisboa no dia 13 de Setembro de 1974 e veio comigo uma gazela, a bordo do Niassa.

Os nossos carros tinham a pomba pintada e éramos “Os Errantes”.

Companheiro Luís Graça. Agradeço que me coloques nessa maravilhosa página.

Contacto: antavol@hotmail.com

Um abraço
A. Tavares


2. Comentário de CV

Caro António Oliveira, peço que te assines assim porque já cá temos um António Tavares. Sê bem aparecido na nossa Caserna Virtual que é este Blogue do Luís Graça, destinado aos camaradas que, à sua maneira, combateram na Guiné e que querem de boa fé contribuir na feitura deste espólio de estórias/histórias e experiências vividas e contadas na primeira pessoa.

Partimos do princípio que quem fazer parte desta comunidade, e a ela se apresenta, lê e aceita as normas afixadas no lado esquerdo da nossa página.

Porque nunca é demais lembrar, aqui as deixo:

O que nós (não) somos... Em dez pontos!

(i) Os amigos e camaradas da Guiné têm como maior denominador comum a experiência de (ou a relação com) a guerra colonial, a guerra do ultramar ou a luta de lilbertação na Guiné, entre 1963 e 1974.

(ii) Muitas outras coisas os podem separar (a ideologia política, a religião, a nacionalidade, a origem social, a etnia, a cor da pele, as antigas patentes e armas, etc.), mas essas não são decisivas.

(iii) Quanto ao seu blogue, não é nenhum porta-estandarte, nenhum porta-voz, nenhuma bandeira de nenhuma causa...

(iv) Somos independentes do Estado, dos partidos políticos e das associações da sociedade civil que de uma maneira ou de outra possam representar e defender os direitos e os interesses dos ex-combatentes portugueses (ou guineenses).

(v) Somos sensíveis aos problemas (de saúde, de reparação legal, de reconhecimento público, de dignidade, etc.) dos nossos camaradas e amigos, incluindo os guineenses que combateram, de um lado e de outro. Mas enquanto comunidade (virtual) não temos nenhum compromisso para com esta ou aquela causa por muita justa ou legítima que ela seja.

(vi) Em todo o caso, a solidariedade, a amizade e a camaragem são valores que procuramos cultivar todos os dias.

(vii) Cada camarada e amigo que aqui escreve, compromete-se a respeitar a orientação editorial e as normas éticas do blogue, mas representa-se apenas a si próprio.

(viii) Não somos historiadores. Também não somos nenhum portal noticiososo, não temos jornalistas profissionais, não temos a obrigação de cobrir a actualidade dos nossos dois países, Portugal e a Guiné-Bissau.

(ix) Somos apenas um grupo de amigos e camaradas da Guiné, incluindo familiares de camaradas desaparecidos ou mortos, durante e depois da guerra.

(x) Publicamos narrativas, histórias, estórias, documentos, relatórios, fotos, vídeos, etc., relacionados com a nossa vivência comum, a guerra, de que fomos actores e vítimas, protagonistas e testemunhas.

Tabanca Grande; As Nossas 10 Regras de Convívio
O nosso blogue é também uma Tabanca Grande Originalmente, chamámos-lhe Tertúlia. Tabanca é um termo mais apropriado: nela cabem todos os amigos e camaradas da Guiné.

Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a violência verbal);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.

Caro António Oliveira, já que te instalaste, convido-te a começares a escrever e a enviar os teus textos (em formato Doc), assim como as tuas fotos (em formato JPEG) devidamente legendadas para poderem figurar na nossa página.

Em nome da tertúlia, deixo-te um abraço de boas-vindas.

Teu novo camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5305: Tabanca Grande (188): Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esp MMA, BA 12, Bissalanca, 1968/69