quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16398: Manuscrito(s) (Luís Graça) (91): A ilha da praia do Caniçal...

A ilha da praia do Caniçal…


por Luís Graça





Chita,
em  homenagem 
aos nossos 40 anos de casados (1976-2016),
e ao teu aniversário natalício,
duas efemérides que ocorrem
no "nosso querido mês de agosto"…

Uma vida em comum
com os seus montes e vales,
as suas ilhas e mares,
os seus cabos das tormentas
e das boas esperanças,
os seus encantos e desencantos,
amores e desamores,
e dois filhos,
uma Joana e um João,
que são afinal as flores mais lindas do nosso jardim.

Hoje
só posso oferecer-te rosas,
meu amor,
vermelhas,
em celebração da vida e do amor.
Nunca te ofereci outras flores,
senão rosas,
vermelhas.
Espero que gostes deste poema
sobre (a ilha d)a praia do Caniçal
onde demos o nosso primeiro beijo, lembras-te ?

Teu, (e)terno amante e amado, Nhicas.


Praia do Caniçal…
Poderia ser a minha ilha,
afinal, aqui tão perto,
poderia ser a minha ilha,
sim, senhor,
se eu quisesse ser egoísta,
se eu pudesse, outrossim,
ter uma ilha só para mim,
registada em meu nome pessoal,
depois de  me ter perdido  na vida,  
e de ter sido achado por ti, algures no deserto!


A mais exclusiva das ilhas,
com muitas milhas em redor,
pintadas de azul marinho,
até perder de vista,
“ad nauseam”.


Não, não nasci,
nem gostaria de ter nascido numa ilha.
Se eu lá tivesse nascido, não duvido,
o sítio perderia todo o encantamento,
que é coisa que  está justamente ligada ao mistério.
Não, não quereria
nenhuma ilha como berço
e muito menos o oceano Atlântico
como cemitério.


Mas, confesso,
gostaria de ter tido um ilha,
só para mim,
como se eu fosse o Robinson Crusoé
do século XXI,
náufrago
apátrida,
sem lar nem  terra,
errático,
proscrito,
ex-veterano da guerra da Guiné
ou de outra qualquer guerra.


Robinson Crusoé
ou outro pobre diabo,
em busca de uma ilha,
porto de abrigo
ou tábua de salvação,
e a quem tivesse saído o Euromilhões
por um bambúrrio da sorte
ou tivesse sido nomeado
presidente do Goldman Saque Saque Saque,
por um dia,
por um um simples bug informático.


Não sei se há ilhas dessas
à venda,
ao desbarato,
aqui à porta,
na feira da ladra
ou da bolsa vazia de valores de Lisboa,
no meu país
que é Portugal
ou no que resta dele.
Yes, Portugal, my  Lord,
Portugal,
sítio, para quem não sabe,
que fica na ponta mais acidental da Europa.


Uma ilha rigorosamente exclusiva
e vigiada,
concentracionária,
com arame farpado
e neblinas matinais,
por causa dos meus medos irracionais,
a sul do cabo Carvoeiro,
e com um arco-íris grafitado
a anunciar a borrasca que aí vem,
para desencorajar os intrusos,
afastar os mirones,
intimidar os candidatos a refugiados,
ah!, uma tabuleta a (con)dizer,
um gigantesco outdoor,
em português, gente com fama de cortês,
em inglês, língua de corsário,
em alemão, a vingança dos godos e visigodos,
em árabe, por causa dos mártires de todos os islões,
em chinês, mandarim,
com muitos cifrões:
“Propriedade privada.
Cuidado com o cão
E com o tubarão.
Perímetro de segurança armadilhado”.


Para quê, ó estúpido,
tanto medo securitário ?
Haverá sempre um chinês
que não sabe mandarim,
ou um árabe analfabeto
ou um português,
xico-esperto,
tetraneto
dos grandes descobridores
dos mares e ilhas por achar,
e com a mania de espreitar
pelo buraco da fechadura do vizinho.
Ficarás deveras constrangido
quando ouvires a notícia de pobres diabos
eletrocutados
nas fronteiras de Schengen!
Virão da África subsariana
e o único árabe que terão aprendido
será o das tabuinhas das madraças
de contrafação.


Mas, que importa ?
Viva o cinismo, a ideologia dominante
deste tempo global!
Se eu fosse um milionário,
excêntrico,
idiota,
suicidário,
teria à minha direita, a norte,
o polo,
e mais ligeiramente, ao lado,
a estrela,
polar.
E o esplendor,
já não de Portugal,
mas de um dos seus últimos recantos,
a praia de Paimogo,
atapetada de algas,
e, sob a a areia, diamantes,
rubis, topázios, esmeraldas,
com sorte o forte,
setecentista,
com os seus soldadinhos de chumbo
e os seus canhões de bronze,
de pólvora seca e longo alcance.


Com engenho e arte
faria parte
do meu condomínio
a enseada,
sereníssima,
nas tardes de fim de verão da minha civilização,
mais a velha rampa dos contrabandistas,
e dos mariscadores
e das tropas luso-britânicas
que aqui hão de desembarcar
no verão quente de 1808
e que na batalha do Vimeiro
se hão de cobrir de glória.


Pensando bem,
e tal como o Robinson Crusoé,
preferiria uma ilha sem história,
sem as brumas da memória,
sem qualquer inquietante peugada humana.
E, tanto quanto a minha geografia consente,
ao longe, em frente,
as Berlengas,
que, em dias de nevoeiro,
não são de ninguém,
ou são de quem as achar,
à deriva,
em alto mar…
Poderiam ser minhas,
por usucapião, ou não ?!


Sim, as Berlengas,
ali, quase ao alcance da tua mão,
que o teu braço,
diriam depois os teus inimigos,
seria tão comprido
como o abraço
com que se enforcam
os violadores da lei e da ordem.
Mas, para que é que tu, cretino,
querias ter mais uma ilha,
ao lado de outra ilha,
e às tantas um arquipélago,
uma metrópole,
um império ?
Terias, que chatice, pagar IMI,
de um extenso areal
do domínio público marítimo
e, nas marés vivas de setembro,
rodear-te de altas falésias,
caídas a pique.


E, imagina, que muda o governador
do reino d’aquém e d’além mar,
e que na sua fúria iconoclasta,
própria dos ex-proletários,
contra os milionários,
excêntricos,
idiotas,
suicidários,
acionava o princípio da retroatividade
da lei e da ordem ?


Diz o mapa do tesouro
que a ilha está datada
do tempo do jurássico superior
E foi cemitério de dinossauros,
corsários
e cetáceos.
Cento cinquenta milhões de anos!,
mas o que é isso, afinal,
na escala geocronológica
da tua galáxia,
da qual nem sequer sabes o nome,
só sabes que foi o pedacinho de universo
que te coube em sorte.


Sim, pensando bem,
para que quereria eu
uma enseada,
mesmo que sereníssima,
e, depois do sol posto,
a magia do luar de agosto ?
A insularidade é solidão,
e a solidão não se partilha,


Respondendo à minha consciência crítica,
para que quereria eu, de facto,
um forte militar
e um pelotão de milícias
com os seus bacamartes e arcabuzes ?
Só para brincar às guerras
do tempo em que Portugal
era ainda um país de brandos costumes,
no século das luzes.


Fica aqui desde já a minha declaração
de conflito de interesses
e, outra,  de objetor de consciência.
Não tenho licença de uso e porte de armas,
não gosto de brincar às guerras,
já fiz uma e não gostei,
e os seus fantasmas nunca os exorcizei.
Mais:
nunca achei a violência lúdica,
nem sexy,
nem muito menos romântica,
qualquer que seja a sua bandeira,
branca, negra ou vermelha,
A violência sempre foi uma má parteira
da história.


E, depois,
o que faria eu,
com o meu metro e setenta e dois de altura,
com uma ilha…  só para mim ?
Sem ti, meu amor?
Sem vocês, meus queridos ?
Sem todos nós e os nossos amigos ?
A insularidade não é só solidão,
é lonjura,
é amargura.




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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16389: Manuscrito(s) (Luís Graça) (90): Praia de Paimogo da minha infância

Guiné 63/74 - P16397: Parabéns a você (1120): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Coronel Inf Ref António Melo de Carvalho, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465 (Guiné, 1969/70)


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16394: Parabéns a você (1119): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Gã Garnes [ou Ponta do Inglês] > Novembro de 2010 > Viagem de Mário Beja Santos (Op Tangomau). Foto retirada do blogue.do poste P13898, do camarada Beja Santos, com a devida vénia, onde se lê: “a vista é extasiante, o que mais perturba o Tangomau é imaginar que se viveu naquele inferno e com aquele panorama edénico, pelo menos o que se avista em direcção a Quinara, a escassos quilómetros”.

Foto: © Beja Santos (2011). Todos os direitos reservados [Edição:Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Sétima parte, enviada em 15 do corrente, das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato, a especificidade e as limitações do blogue.



Foto acima: O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].



1.  INTRODUÇÃO

Caros tertulianos; agradeço os vossos comentários aos textos anteriores. De seguida, apresento-vos a sétima parte deste meu projecto relacionado com a divulgação de algumas das memórias transmitidas por três médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência, nos anos de 1966 a 1969, mantendo o mesmo propósito de que vos dei conta no poste P16224: o primeiro fragmento, publicado em 22 de junho último  (*).

Recordo que esta espontânea iniciativa surge na sequência de ter tido acesso ao livro escrito em  castelhano pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch [, foto atual à esquerda], uma coletânea de memórias e experiências divulgadas pelos seus diferentes entrevistados, a que deu o título de «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.] ou “on line” em formato pdf, em versão de pré-publicação. disponível em http://www.centropablo.cult.cu/libros_descargar/historiamedicos_cubanos.pdf

Neste livro, para além dos depoimentos desses três clínicos que estiveram na Guiné-Bissau (Domingo Diaz Delgado, Amado Alfonso Delgado e Virgílio Camacho Duverger), podemos ainda conferir e/ou comparar outros relatos sobre experiências vividas na primeira pessoa por outros médicos cubanos presentes em diversas missões africanas como foram os casos da Argélia, do Congo Leopoldville, do Congo Brazzaville ou de Angola.

Recordo, igualmente, que por estar perante uma tradução e adaptação do castelhano, onde procurei respeitar as ideias expressas nas respostas dadas a cada questão, entendi não fazer juízos de valor sobre o seu conteúdo, colocando entre parênteses rectos, quando possível, algumas notas avulsas de reforço sócio-histórico ao que foi transmitido, com recurso a imagens desse contexto retiradas da Net e dos arquivos do nosso blogue, na justa medida em que cada facto relatado ocorreu num tempo e num espaço (que não é o meu!), logo único, vivido por cada um dos sujeitos.

Contudo, esta minha decisão não significa que não se possa realizar, em cada situação concreta, o competente contraditório (ou acrescentar algo mais), uma vez que neste conflito bélico existiram dois lados, daí o título com que baptizei este trabalho: “d(o) outro lado do combate - memórias de médicos cubanos”.

Cada um julgará o que é credível  ou é ficção…

 2.  O CASO DO MÉDICO AMADO ALFONSO DELGADO [III]

Esta sétima parte corresponde, com efeito, ao terceiro de quatro fragmentos em que foi dividida a entrevista ao dr. Amado Alfonso Delgado, médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia, natural de Santa Clara, capital da província de Villa Clara, a cidade mais central de Cuba.

No que concerne aos dois postes anteriores [P16357 e P16380] (*) neles se dão conta dos antecedentes que influenciaram a sua decisão de cumprir uma "missão internacionalista", tendo por cenário desejado o Vietname, o que não se concretizou, acabando por surgir outro destino alternativo, neste caso a Guiné Portuguesa (hoje Guiné-Bissau).

A sua missão africana inicia-se na véspera de Natal de 1967, tinha então vinte e sete anos de idade, na companhia de outro médico, voando de Havana até Conacri, com escala em Gander [Canadá], Praga, Paris e Senegal.

Os primeiros três meses passou-os na Guiné-Conacri, prestando serviço médico no Hospital de Boké na companhia de mais quatro clínicos cubanos: o cirurgião militar Almenares, um ortopedista, um analista de laboratório e um técnico de raio X.

A integração na guerrilha ocorre, somente, em abril de 1968, quando segue para a frente Leste para substituir o seu companheiro Daniel Salgado, médico-cirurgião militar que entretanto adoecera com paludismo.

Vai entrar em território da Guiné-Bissau, pela fronteira sul, corredor de Guileje, vindo de Boké e Kandiafara: nesta base, encontravam-se na altura  vinte combatentes cubanos. Seguiram-se outras etapas ao longo de oito dias, com caminhadas cada vez mais duras, pois não estava preparado para esse desempenho. Nesse período de tempo passou por diversas aldeias onde se alimentava com farinha e carne que lhe ofereciam, afirmando ter passado fome, habituando-se, desde então, a comer pouco.

Ao quarto dia disseram-lhe que tinha chegado à Mata do Unal, na região do Cumbijã, um local onde “o tiro era abundante”. Continua a sua “viagem” a pé, chegando à foz do Rio Corubal / Rio Geba onde lhe foi transmitido que naquele lugar havia um problema mais perigoso que a tropa portuguesa, chamado “macaréu”. Quando chegou à outra margem [?], encontrou um homem branco em calções, com gorro na cabeça e uma camisa. “Olhou-me com alguma indiferença perguntando-me: tu pensas aguentar esta ratoeira? “Esquece, pois não duras nem três meses”. Perguntei-lhe porquê? Ao que me respondeu: “tu verás como isto é”.

Entre maio de 1968 e setembro de 1969 [dezassete meses], movimentou-se nas matas do Unal e do Fiofioli [Sector L1 - Bambadinca], com destaque para esta última frente, aonde esteve os primeiros nove meses de 1969, que foram os últimos da sua missão, durante os quais viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga, que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas enfermarias, por quatro vezes.

Devido a todas estas ocorrências, por efeito da intervenção dos militares portugueses em diferentes acções naquela região, e das tensões a elas associadas, pensou não ser possível sobreviver. Mas, conseguiu concluir a sua missão, regressando a Cuba em outubro desse ano.

Eis a continuação de outros relatos revelados pelo médico  Amado Alfonso Delgado tendo por base o guião da sua entrevista que  tem com 25 questões. Hoje apresentamos a resposta (em itálico) às questões de 12 a 15 com a devida vénia ao autor, o conhecido jornalista cubano Hedelberto López Blanch (n. 1947).


Entrevista com 25 questões [Parte III, da 12.ª à 15.ª]

“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo” 
(Cap XI, pp. 136 e ss)



(xii) Viveu muitas tensões nesses ataques?

Durante o segundo ano que ali estive [, em 1969, no triângulo Bambadinca- Xime - Xitole, corresponte ao nosso Sector L1 - Bambadinca] realizam-se muitos desembarques de tropas portuguesas helitransportadas, por exemplo, o hospitalito [enfermaria de colmo] da Mata de Fiofioli o/a queimaram em quatro ocasiões. Cada vez que uma avioneta [DO-27] nos sobrevoava duas vezes, logo nos atacavam. Primeiro realizavam um bombardeamento, para depois desceram os militares.


Os últimos seis ou sete meses que ali estive [com início em janeiro de 1969] [os portugueses] efectuaram uma operação muito grande e demorada.




[O entrevistado faz referência à “Op Lança Afiada”, realizada pelas NT no setor L1, entre 8 e 19 de março de 1969, uma das maiores operações levadas a cabo no CTIG, movimentando cerca de 1300 efectivos, dos quais 36 eram oficiais, 71 sargentos, 699 praças, 106 milícias e 379 carregadores civis. Nesta operação, comandada pelo então coronel Hélio Esteves Felgas (1920-2008), participaram as seguintes onze Unidades Orgânicas: CART: 1743, 1746, 2338, 2339 e 2413; CCAÇ: 1791, 2403, 2405 e 2406; Pel Mil da CCAÇ 2314 e Pel Caç Nat 53 (vd. poste P11575)].

[Quinze dias após esta operação, mais duas foram realizadas no mesmo sector com o objectivo de “se completarem as destruições dos meios de vida naquela região”, cada uma delas com a duração de dois dias. A primeira, “Op  Baioneta Dourada”, decorreu em 2 e 3 de abril de 1969, envolvendo a CART 1746 e as CCAÇ 2314 e 2405, num total de sete Gr Comb; a segunda, em 4 e 5 de abril de 1969, na “Op Espada Grande”, estiveram envolvidas as CART 2339 e 2413 e a CCAÇ 2406, com nove Gr Comb: as bases do PAIGC percorridas foram as situadas na zona de Satecuta, Galo Corubal e Poindom (P9095) )***)].

[Três anos depois, também de dois dias, em 26 e 27 de fevereiro de 1972, foi realizada a “Op Trampolim Mágico” (infogravura abaixo), envolvendo o meu BART 3873, com as CART 3492, 3493 e a minha 3494, o BCAÇ 3872, com as CCAÇ 3489, 3490 e 3491, a CCAÇ 12, dois GEMIL, 309 e 310,  e a Companhia de Caçadores Paraquedistas, CCP 123 / BCP 12, num total de vinte e oito Gr Comb, equivalente a um efectivo de cerca de setecentos elementos, missão que contou com a presença no terreno do Comandante-chefe general António de Spínola (1910-1996).]

[Esta operação contou, ainda, com o apoio da FAP, com uma parelha de Fiat  G91, uma parelha de T-6, dois Hélis e um Heli-canhão, e da Marinha, através do desembarque anfíbio na margem direita do Rio Corubal, da CART 3492 (Xitole; 4GC), CART 3493 (Mansambo; 4GC), CCAÇ 3489 (Cancolim; 1GC), CCAÇ 3490 (Saltinho; 1GC) e CCAÇ 3491 (Dulombi; 2GC), respectivamente na Ponta Luís Dias e em Tabacuta, tendo estas forças realizado acções de ataque a aldeias controladas pelo PAIGC atravessando as matas do Fiofioli até Mansambo (vd. poste P13359) (***)].



Guiné > Setor L1 > Mapa do Fiofioli > 1972 > Zona de mato denso onde estavam diversas palhotas que serviam de refúgio a elementos do PAIGC e população que os apoiava e que foram destruídas pela nossa passagem.  (Foto de Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491, Dulombi, 1971/74,vd. poste P13359)

Foto (e legenda): © Luís Dias (2014). Todos os direitos reservados.


A intensa actividade operacional registada no início de 1969 ocorre pelo facto de se ter verificado uma mudança de governador em maio de 1968, com a chegada do general António de Spínola,  o qual disse que ia acabar com os revoltosos.

Por esse motivo passei um período de vários meses que não tive contacto com o comando, nem com o mundo, porque nos tinham cercado. Todos os dias éramos atingidos pela artilharia, pelo fogo de armas ligeiras e pelas bombas dos aviões, sobretudo de manhã quando cozinhávamos, devido ao fumo que saía e se via de muito longe. Havia que fazer a fogueira ao ar livre para dispersar o fumo e que não nos denunciasse.


Aquilo esteve muito tenso, porque durante algum tempo eles andaram atrás de nós até que nos cercaram. Pensámos que iam acabar connosco, pois estávamos entre dois rios, com aviões e barcos à volta, destruindo quase todas as canoas em que podíamos fugir. 

Na última semana deste cerco, os bombardeamentos eram constantes na mata e tínhamos de sair e pormo-nos mais perto de onde nos estavam a atacar com a artilharia para poder esquivar do ataque. Tínhamos vários feridos e não havia alternativa senão dar-lhes as armas, e escondermo-nos em abrigos com árvores e folhas e tentar romper com o cerco. Éramos cerca de quarenta elementos [bigrupo].

Na última noite, quando aguardávamos o dia seguinte ao ataque final, fomos para a mata muito devagar,  tomando todas as precauções. Vimos um grupo que vinha na direcção contrária e acreditámos que iriam abrir fogo sobre nós, mas o que aconteceu é que era um grupo de guerrilheiros de outra zona que surgiram em nossa protecção. No princípio fez-me confusão porque não sabia que eram nossos e, embora não tivessem feito disparos, durante o corre-corre chocamos com uma enorme colmeia, tendo sido picado por cerca de trezentas abelhas e estive mais de três dias a tirar os seus ferrões.

A experiência de médico ensinou-me de que,  se isso acontecesse hoje eu teria morrido, uma vez que uma dezena de picadas são perigosas, podendo provocar um choque na pessoa, mas quando se está perante uma tensão tão grande, produzem-se esteroides que é precisamente o tratamento que usamos contra a alergia. Nenhuma me infectou, o mesmo aconteceu com os outros seis que tiveram igual sorte.

Nesse dia, depois de termos escapado ao primeiro cerco, voltaram a cercar-nos e o comandante da guerrilha informou-me que iam levar-me. Disse-lhe que queria ficar por ali com os feridos, ao que me respondeu que depois de mim logo seguiriam os feridos. Assim sendo, numa pequena embarcação, levaram-nos, a mim e a outro cubano que andava comigo, que era sargento e que me dava apoio, através de um rio mais pequeno que o Corubal. Levava já mais de uma semana em constante tensão, e depois de sair do cerco, empapado, cheguei de noite a um acampamento na outra margem [?]. Pendurei a maca numa árvore, despi toda a roupa e fiquei nu. Pelas cinco da manhã, quando me estava a vestir, senti um som por cima de mim; era uma explosão. Aviões estavam-nos a atacar com napalm. Se não corro desenfreadamente tinham-me atingido, pois as bombas estavam a cair muito perto.



[Os resultados obtidos pelas NT nesta operação, Op Lança Afiada,  foram os seguintes: 5 mortos confirmados; capturados 17 nativos na sua maioria mulheres; 1 carabina “Mosin Nagant”, 7,62, modelo de 1944; 1 espingarda “Mauser”, 7,92, modelo K98K; 1 espingarda “Mauser”, 7,9, modelo 904; 1 espingarda semiautomática “Simonov”, 7,62; 2 metralhadoras pesadas “Goryonov”, 7,62; 2 pistolas-metralhadoras “Shpagin”, 7,62; 1 granada para LG P-27 “Pancerovka”; 12 granadas para LG, RPG-7; 85 granadas para LG, RPG-2; 1 granada de morteiro 60; 19 granadas de morteiro 82; 1 mina A/P de salto e fragmentação (bailarina); 1 mina A/P de fragmentação PPMI; 1 mina TMB; 2 petardos de trotil de 1,2 kg.; 24 cargas suplementares para morteiro (caixas); 42 espoletas de granada de morteiro 82; 3 bolsas para carregadores PPZSH; 1 bolsa para carregadores “degtyarev” e cerca de 10 mil cartuchos 7,62 e 7,9 (60% dos quais impróprios). Vd. poste P11740

Estranha-se a não referência, neste inventário, a material de enfermagem e a medicamentos, na justa medida em que a enfermaria (o tal "hospitalito" do dr. Delgado) foi destruída por quatro vezes, segundo o insuspeito testemunmho do médico cubano.]

(xiii) Andava sempre com apoio?

Durante esse período tive três ajudantes cubanos, o primeiro era técnico de raios X, adoeceu e foi transferido, o segundo trabalhava como técnico de gastroenterologia do Hospital Naval em Havana e que substituíram por este companheiro que era um sargento, de sobrenome Arrebato, e que falava muito pouco.


(xiv) Teve algum problema com ele, 
o srgt Arrebato?



Com este sargento passei todo o tempo do cerco fugindo. Parece que tinha uma personalidade alterada e isso acabou por o descompensar. 

Depois do bombardeamento com napalm, apareceu o chefe da zona, que era um comandante guineense, jovem, forte e muito bem-disposto. Como estavam a cair bombas por todo o lado, chamou um guerrilheiro a quem faltava um braço e pediu-lhe para nos levar dali, a mim e ao sargento através da margem do rio, que era uma zona lodosa [tarrafo] cheia de raízes aéreas. 

Para chegar ao rio era preciso passar por zonas de terreno abertas,  sem vegetação, e no meio existiam três palmeiras. Chegados às palmeiras parámos para descansar. nesse momento ouvimos o barulho dos hélis e ficámos parados. De imediato, começaram a baixar quinze [?]  hélis donde saíram militares portugueses com armas modernas e de impecáveis uniformes, que passaram a poucos metros das palmeiras onde estávamos.

Apercebi-me que um dos hélis estava a cerca de quinze metros e sinceramente pensei que ali mesmo iria morrer
.

(xv) O que aconteceu depois?

Não nos detectaram. Passaram muito perto de nós mais de sessenta militares. Estávamos vestidos de verde e encostados em redor das três palmeiras. 

Nesse momento pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos. Mas, não. Alguns ramos das palmeiras caíram-nos em cima, por efeito dos hélis estarem a participar no ataque, e os militares portugueses passavam por outro lado em direcção ao local onde haviam caído as napalm. Depois os hélis começaram a retirar.

Entre o ruído dos aparelhos e das bombas, fiquei com muita vontade de urinar, para não dizer outra coisa. Os três nos levantámos, vimos que continuávamos vivos e corremos até à margem do rio. Creio que nos viram quando chegámos ao rio, pelo que nos procuraram atingir com os morteiros. Mas quanto mais granadas nos atiravam mais nós corríamos por cima do lodo.

O sargento Arrebato, porque corria muito rápido, ia à frente. De imediato acabaram-se as raízes aéreas mas a vinte metros existiam outras. Arrebato continuou a correr e quando passava entre as duas caiu a um pântano e começou a afundar-se. Com o impulso que levava foi parar tão longe que nem com a arma o podíamos alcançar. Os troncos das matas eram muito pequenos e, entretanto, uma avioneta sobrevoava-nos. Pensámos que ele iria morrer diante de nós, pois já estava muito enterrado e gritava «tirem-me daqui». O guineense, que tinha um só braço e que estava connosco, não podia fazer uma corrente. Entretanto chegam dois guerrilheiros, embora as morteiradas continuassem a cair perto. Estes elementos foram buscar vários troncos e os atiraram para ele caminhar por cima do lodo, até que finalmente ficou a salvo.


Quando o ataque começou eram sete da manhã e estivemos correndo até às cinco da tarde. Eu não podia nem respirar da secura da garganta, pois não tínhamos água. Chegámos a uma aldeia desolada e no centro havia uma espécie de nascente com lodo e muitos bichos, e assim mesmo a bebemos. Eu levava uma lata de leite condensado, e essa foi a comida: água com lodo e leite condensado para poder seguir.

Cerca de vinte guerrilheiros juntaram-se, depois, a nós e disseram que já podíamos regressar, uma vez que já não se ouviam os rebentamentos. Quando chegámos a um arrozal larguíssimo, a que chamavam lala, sentimos o ruído dos hélis. Tiraram-nos o sono, e os aparelhos passaram-nos por cima. Não sei como não nos viram, pois o terreno era verde e a fila de homens, deitados por terra, usavam uniformes amarelos que receberam de oferta. 


Esta foi outra das coisas inconcebíveis que me sucederam. Os hélis recolheram os militares portugueses e retiraram-se. (**)

Continua…

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14 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16304: Notas de leitura (857): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte IV: depois de 3 meses em tratamento do paludismo, em Conacri, o médico vai para a frente leste, em junho de 1967, regressando a casa em janeiro de 1968

24 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16234: Notas de leitura (851): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte II: a vida dura nas base de Sara, na região do Oio (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974)

Guiné 63/74 - P16395: Os nossos seres, saberes e lazeres (169): Eu fui ao Faial e não vi os Capelinhos (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Março de 2016:

Queridos amigos,
Ainda me pedem colaboração para as coisas que têm a ver com a política dos consumidores. Sempre que reclamam a minha presença dos Açores, não sei dizer que não, forjou-se uma ligação profunda desde que por li andei a dar recrutas, entre 1967 e 1968. Fiz grandes amizades e gosto muito da afabilidade açoriana. Foi mesmo uma "visita de médico", mas deu para registar impressões que me são muito gratas e aqui estou a partilhá-las convosco. Hoje em dia não há maior satisfação que me pedirem sugestões sobre o quer ver nessas ilhas de bruma, de verde constante e acachoada das ondas em fragas e penedios, e poder desfiar propostas para visitas e passeios, não escondo que sou um cicerone altamente comprometido com estas venturas e desventuras arquipelágicas.

Um abraço do
Mário


Eu fui ao Faial e não vi os Capelinhos (1)

Beja Santos

Tratou-se de uma visita de médico, só faltou ida e volta no mesmo dia. O pretexto foram as comemorações do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, a celebrar na Horta. Com os organizadores, acordei em partir de Lisboa ao nascer do dia, já que havia paragem obrigatória de algumas horas em Ponta Delgada, aqui vivi seis meses, fiz amigos, tenho lembranças indestrutíveis. Decorre uma exposição de um dos meus escultores preferidos, Ernesto Canto da Maya, um modernista sem rival, deixou-nos pares amorosos inultrapassáveis. Era segunda-feira, esperava encontrar o Núcleo de Santa Bárbara aberto, a deceção foi mais que muita, ainda pedinchei uma visita excecional, negada. Pude comprar imagens de obras expostas, vejam, caso não conheçam, como este senhor que triunfou em Paris lavrou obras-primas em terracota. À entrada do núcleo de Santa Bárbara imortalizaram um dos seus referenciais em bronze. Para que conste.




Quanto a Canto da Maya, missão cumprida. Houvesse tempo e ia visitar a exposição sobre a história do chá em S. Miguel, pelo livro que comprei é evento cultural com várias estrelas. E atiro-me à cidade, recordo o aspirante a oficial miliciano que calcorreou estas ruas, que se enamorou destes sítios onde predomina a rocha vulcânica que dá estas harmonia de preto e branco dos passeios elaborados ao melhor gosto da calçada portuguesa.



Mudei de passeio atraído pelo anúncio de uma refeição a 2€ em tempos de crise. Estou habituado a ver sopa e sandes a 3,40€, o fast food a cerca de 5€, este é o menu mais barato que até hoje vi.


Atalhei por uma transversal a caminho da Igreja Matriz, era um dia de céu forrado, se tem muitos inconvenientes tem também a vantagem de olharmos para os interiores dos prédios e ressalta o seu conteúdo. Umas boas décadas atrás que eu não via este vitral, associado ao nome de uma empresa lendária da região, a Corretora. Bisbilhotei para o interior dos escritórios, uma bela arquitetura cheia de vidro e latão, tudo fechado, oxalá que um dia reapareça para fruição pública, eu estava ali especado a pensar nos dias prósperos destes escritórios, com guichês e balcões bem ataviados e lembrei-me da redação do jornal O Século, outra beleza, felizmente intacta, no edifício que é hoje o Ministério do Ambiente.



Outra lembrança perdurável é a flora, há pouco menos de meio século só pude conhecer a micaelense, deslumbrante nos seus jardins e parques. É certo que estamos em Março, que aqui chove abundantemente e humidade não falta, aqui são-se perfeitamente as árvores, os arbustos e as plantas de quase todo o mundo. Era um dia baço mas as flores estavam resplendentes para me receber.



Há também arquitetura religiosa manuelina noutros locais, caso de Vila Franca do Campo, mas a Matriz de Ponta Delgada tem direito ao que há de mais significativo. Estes elementos exteriores excedem em importância todo o miolo do tempo que tem, no entanto, um pequeno e atrativo museu, quando disponho de tempo ali vou em revisitação, não sei que por artes ali estão expostas uma casula e uma dalmática que vieram de Inglaterra, ao tempo em que o protestantismo triunfou. Virei-me no Largo da Matriz, mesmo em frente à porta lateral, não havia visita a Ponta Delgada que eu não visitasse um camarada da Guiné muito especial, o oftalmologista José Luís Bettencourt Botelho de Melo, foi ele que me limpou os olhos depois de uma mina anticarro em que andei em bolandas, em Outubro de 1969. Olhei com nostalgia, já não há consultório em frente a esta porta lateral, há muito que ele me dobrou os 80 anos, não tenho coragem de lhe ir bater à porta na rua Bruno Tavares Carreiro, era uma insensatez e indelicadeza sem limites dizer-lhe que venho com os minutos contados.


E pronto, regressei ao aeroporto, espera-me um voo Lajes-Horta, mas não resisto em fixar esta azálea, um verdadeiro cíclame, passa-se algo de estranho e labiríntico nas minhas recordações, neste preciso instante em que tirava a fotografia lembrei-me de um juramento de bandeira, nos Arrifes, em Dezembro de 1967, mandaram-me fazer o discurso e falei das criptomérias e nas azáleas, na doçura da natureza açoriana, tratei as coisas militares como meras adjacências. A verdade é que o amor incondicional às terras açorianas já estava entranhado. E para todo o sempre.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16377: Os nossos seres, saberes e lazeres (168): Visita à Igreja do Convento de Jesus, de Setúbal (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16394: Parabéns a você (1119): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16391: Parabéns a você (1118): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16393: Facebook...ando (40): Sou açoriano, nasci em janeiro de 1955, fui à inspeção em dezembro de 1970, com 15 anos... Em abril de 1971 fui para a tropa, e em setembro, com apenas 16 anos, parti para o CTIG... (ex-1º cabo Alcides, da CCÇ 3476, "Bebés de Canjambari", Canjambari e Dugal, 1971/73; emigrante no Canadá, desde junho de 1974)


Guiné > Região do Oio > Farim >  Canjambari > CCAÇ 3476 (Canjambari e Dugal, 1971/73) >  Os "Bebés de Canjambari" era uma companhia açoriana...

Foto: © Manuel Lima Santos (2013). Todos os direitos reservados.


1. O nosso editor de serviço, Carlos Vinhal, mandou-nos, em 14 do corrente a seguinte mensagem, com conhecimento a alguns colaboradores permanentes do blogue:


Camaradas

Grande novidade para mim.

Conheciam este caso ou semelhante?

Esta mensagem caiu no facebook da Tabanca Grande Luís Graça (**):


Caro amigo e ex-combatente, eu escrevo pouco em português, porque só tirei a 4ª classe.

O meu comentário é a respeito do Fernando Andrade Sousa (*), que não sabia que se podia para ir para o exército com menos de 18 anos. Pois eu fui à inspeção para a tropa em dezembro de 1970, e só tinha 15 anos. Fiquei apurado para todo o serviço Militar, e em abril de 1971 fui para a tropa, em setembro de 1971 fui para a Guiné, com a  CCac 3476, "Bebés de Canjambari" [Canjambari e Dugal, 1971/73]. 

Hoje estou no Canadá, razão de ir voluntário e tão novo. Meus Pais imigraram para aqui e o governo português disse que eu não podia vir sem cumprir o serviço militar, foi a razão de ir mais cedo. Em dezembro 1973 regressei da Guiné com 18 anos, livre do serviço militar, que como vês aqui eu sou de janeiro de 1955. 

Em junho de 1974 vim para o Canadá. e aqui me encontro, continuo a trabalhar porque sou tenho 61 anos e me sinto com saúde.

Eu fui Primeiro Cabo, talvez o mais novo do exército! 

Um bem haja para ti e toda a equipa da Tabanca Grande!
O [Manuel] Lima Santos [, membro da Tabanca Grande,] foi meu Furriel do meu Pelotão [, foto atual à direita], só para se quiseres confirmar, e podes ver o meu álbum da tropa!

Bem Haja,
Alcides.


2. Comentário do António José Pereira da Costa no mesmo dia:

Olá,  Camaradas

Desconhecia esta ou outra situação similar. Estava convencido que só se poderia ser voluntário aos 18 anos.  Recebi na minha companhia um miúdo com essa idade que ficou com essa alcunha por isso mesmo. Mas só a lei do tempo o poderá confirmar.

Um Ab.
Tó Zé


3. Comentário do editor

Em contacto telefónico com o camarada Lima Santos, este disse que se lembra perfeitamente do Alcides, com quem ainda hoje mantém contacto. Disse ainda que julga ter havido mais duas situações semelhantes na Companhia, combatentes com 18 anos ou menos, assim com provavelmente o mesmo se terá passado com a Companhia irmã, a CCAÇ 3477 (Gringos do Guileje).
Os mancebos açorianos, para poderem mais rapidamente juntar-se aos pais, emigrados por terras do continente americano, ofereciam-se como voluntários para servirem o exército antes da idade normal.