1. Segundo texto, de três, que o nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) enviou em mensagem do dia 26 de Março de 2012 para integrar os seus "Nós da memória":
NÓS DA MEMÓRIA - 20
(…desatemos, aos poucos, alguns…)
Leio
Leio, nesta segunda-feira de Carnaval, a recensão do livro “Os Últimos Guerreiros do Império”, feita pelo MBS.
Não li o livro antes. Eram tempos de “apagar a memória”, de não falar sobre o que vi e vivi. Podia ter falado mais mas, ainda hoje, prefiro ter contenção nas palavras. Li e falei pouco. Este e outros livros foram-se.
Agora leio esta recensão. Após a leitura, paro no tempo e altero a saída. Volto a ler algumas declarações e sinto uma disposição diferente.
E agora?
Tens que resolver o que fazer. Ou esperas a segunda parte da recensão, pois este assunto está a mexer demasiado contigo, ou comentas?
Faço um comentário, em nota breve. Depois se verá. Sou português deixo para depois…
Relevo agora, depois de ler a segunda parte, o que mais comigo mexeu então e agora.
O Coronel Hélio Felgas, diz:
…Neste final de 1968 a situação militar na Guiné chegou a um ponto tal que só muito dificilmente, e com muito optimismo, se poderá antever uma melhoria significativa…
…Realize-se uma operação em larga escala e veja-se o resultado: uns mortos e uns feridos, umas armas apreendidas, uns acampamentos destruídos e que mais? Mais nada. Se ao inimigo não convier o contacto, basta esconder-se no mato e esperar que as nossas tropas se retirem. Ele lá ficará e reaparecerá quando quiser...
Lembras-te?
Estive no Agrupamento Sul. Creio que estiveste no Agrupamento Norte. (Op. Lança Afiada)
Era uma operação de “dois em um”. Tive oportunidade de falar com o Coronel Hélio Felgas, quando fui evacuado para a “Base de Apoio” em Mansambo. Ainda hoje me irrita ter sido evacuado. Ainda hoje me irrita ter caído naquela emboscada, ao alvorecer, e termos sofrido quatro feridos a serem evacuados com urgência. Ficamos sempre amarrotados por nós mas, principalmente, por eles. Ao fim do dia fui eu, pouco me lembro. Recordo o héli ter aterrado em Mansambo e ser socorrido pelo 1.º Sargento e pelo médico. Deixemos isso.
Naqueles dois dias falamos um pouco, o Coronel e eu. Conheci-o melhor então. Claro que ele não falou sobre o que acima transcrevi. Falamos da Operação…
Depois voltei à Lança Afiada e ele também. Não sei se no mesmo dia se no seguinte. Era o Fiofioli e a sua mata cerrada. O santuário ou o tigre de papel, mas foi duro muito duro e veio a acontecer o que ele previu. O que ele aqui diz e eu atrevo-me a transcrever um pouco, aconteceu.
Transcrevi, com o respeito pelo autor do livro e da tua recensão. Só para dizer que tinha razão o Coronel. Ele sabia. O General também o sabia.
O tempo foi degradando tudo e continuo com dúvidas, muitas. Porque não foi feito algo diferente?
São dúvidas que, ainda hoje como outrora, me atormentavam e atormentam. Tocas nisso e eu reajo.
Assisto a certas discussões sobre a guerra na Guiné e não entendo. Talvez entenda e não valha a pena sobre isso falar. Irrita!
Ainda as declarações de João Seco M. Mané:
O Fuzileiro Comando João Seco Mamadu Mané, foi Segundo Comandante de um grupo de 25 homens na 3.ª Companhia de Comandos, queixa-se das barbaridades dos fuzilamentos dos Comandos:
…No mês de março de 1975 começaram as prisões. Foi um mês negro para os Comandos. Eu fui preso. E fui torturado. Como muitos outros camaradas. Obrigaram-nos a carregar pneus gigantescos, pneus de Berliet, com jantes e tudo. Era uma das torturas, mas havia outras: como pendurar uma pessoa pelos pés, e dar-lhe chicotadas. Dentro da prisão obrigavam as pessoas a andar despidas, só com as cuecas… Houve camaradas que estiveram presos, 6, 7 e 8 anos. Alguns já tinham sido fuzilados e os familiares continuavam a levar-lhes comida e cigarros. Às vezes, os guardas pediam cigarros, as famílias estranhavam, diziam que eles não fumavam e eles respondiam que tinham passado a fumar, já estavam mortos...
Revolta, não? É outro tema que me desagrada profundamente.
Foi bom não ter estado lá em 74. Aceitava o que o Poder Politico e a Hierarquia determinavam e a mais não era obrigado. Os meus camaradas portugueses eram os militares, nascidos aqui ou lá, os que comigo combateram. Os outros eram o inimigo. Podiam ser patriotas Guineenses, Portugueses não! A escolha foi deles e mais não digo. Não.
Acrescento só que respeito o Povo das Tabancas, outrora ou hoje, estando connosco ou os que estavam em áreas com forte implantação do PAIGC. As suas diferenças étnicas, culturais, o seu completo distanciamento da maneira de ser ou estar dos zés portugas mas a afabilidade, a sua compreensão pela situação e não só. Ia longe.
Agora espero a segunda parte da recensão. É aborrecido ler aos soluços …
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9710: Nós da memória (Torcato Mendonça) (19): Pare, Escute e Olhe
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Guiné 63/74 – P9724: Convívios (410): Encontro do pessoal da CCAÇ 2464, dia 28 de Abril de 2012 em Aveiro (António Nobre)
1. Mensagem do nosso camarada António Nobre (ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969/70):
Meu caro Carlos
Para teu conhecimento e publicitares no nosso Blogue se assim o entenderes, junto envio programa de mais um Almoço da “malta” da minha Companhia, que, desta vez, ocorrerá em Aveiro no próximo dia 28 de Abril.
Como atractivo e para fugirmos um pouco à rotina, este ano o Almoço será completado com um passeio na Ria de Aveiro através de Moliceiro.
Quem porventura estiver interessado, inscreva-se junto do nosso camarada Pereira da Costa, pois forçosamente serão bem vindos.
Um abraço para todos vós.
Saudações Camarigas do
António Nobre
Ex-Fur Mil da CCAÇ 2464
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9720: Convívios (330): Encontro/Almoço do pessoal da CCAÇ 412, dia 12 de Maio de 2012 na Mealhada (Alcídio Marinho)
Meu caro Carlos
Para teu conhecimento e publicitares no nosso Blogue se assim o entenderes, junto envio programa de mais um Almoço da “malta” da minha Companhia, que, desta vez, ocorrerá em Aveiro no próximo dia 28 de Abril.
Como atractivo e para fugirmos um pouco à rotina, este ano o Almoço será completado com um passeio na Ria de Aveiro através de Moliceiro.
Quem porventura estiver interessado, inscreva-se junto do nosso camarada Pereira da Costa, pois forçosamente serão bem vindos.
Um abraço para todos vós.
Saudações Camarigas do
António Nobre
Ex-Fur Mil da CCAÇ 2464
ALMOÇO/CONVÍVIO DO PESSOAL DA CCAÇ 2464
DIA 28 DE ABRIL DE 2012 EM AVEIRO
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9720: Convívios (330): Encontro/Almoço do pessoal da CCAÇ 412, dia 12 de Maio de 2012 na Mealhada (Alcídio Marinho)
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Guiné 63/74 - P9723: História da CCAÇ 2679 (48): Entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão (José Manuel Matos Dinis)
1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 2 de Abril de 2012:
Viva Carlos,
A propósito de um pedido de entrevista sobre memórias que envolvessem militares gay's durante a guerra de África, aqui partilho um texto que reflecte um triste acontecimento ocorrido na minha Companhia, e pode reflectir a podridão humana.
Abraços fraternos
JD
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (48)
Entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão
Os portugueses partiram à descoberta movidos pela expansão da Fé, e pela aventura de dar novos mundos ao mundo, mostrar-lhes a civilização do homem europeu, partilhá-la e desenvolver sociedades de progresso e justiça social. Era assim, quiçá ainda será, que a história era ministrada no jardim lusitano; não se referiam as estórias horrorosas sobre violações, roubos, raptos e esclavagismo, mortes e destruição. Como é comummente aceite, a história é escrita pelos vencedores; ou ainda, uma mentira é tantas vezes apregoada, até passar a ser considerada como verdadeira. Talvez, por isso, a fantástica odisseia de Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, é tão pouco divulgada entre nós. Notoriamente, não convinha ao regime, onde o governo desempenhava o papel de bom entre os bons, e o chefe apresentava-se como imaculado e imprescindível, donde, a verdade era de somenos. E, para melhor acentuar o poder, convinha que o povo não tivesse grande instrução, sentisse que os sacrifícios terrenos teriam compensação eterna, agradecesse a caridade como expressão de equilíbrio generoso, e que, sob um regime corporativo, os pobres não chateassem os ricos, sob pena de criarem fissuras no edifício social.
De facto, a manipulação da memória é obra de todos os tempos conhecidos (constitui uma técnica de sedimentação de grupo), das civilizações que exercem com superioridade o domínio sobre as mais fracas. E os povos, por inércia, por comodidade, por medo, por laxismo, aceitam-na, mesmo, quando essa manipulação é denunciada, como no caso recente da primeira invasão do Iraque, mesmo, quando os efeitos colaterais no Kosovo foram referidos como insuperáveis para que se atingisse a paz. É a alienação, tanto dos que praticam com bestialidade, como dos que não se incomodam com a verdade.
Esta introdução serve para ilustrar, que entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão e, modernamente, que a nossa deslocação para a Guiné correspondeu a um arrebanhar de pessoas, de muitas e diferentes formações de ordem moral e ética; que a instituição militar não tinha capacidade para descortinar em cada um as falências de que seria portador, bastando-lhe o Regulamento de Disciplina Militar para, na sua força coerciva, manter as tropas alinhadas, direita volver, de preferência acéfalas e obedientes.
Em Bajocunda, os militares não tinham praticamente nada, senão obrigações. No entanto, os vinte aninhos imberbes sempre descobriam diferentes actividades, mesmo quando resvalavam para a imoralidade, que permitiam desenvolver a chamada camaradagem, e, unidos na desgraça, arranjar as forças, que as refeições, e o cansaço moral e físico não proporcionavam. Jogava-se a isto ou aquilo, seguiam-se curiosamente as estórias de engates de lavadeiras, discutiam os benfiquistas com os sportinguistas e os portistas, descortinavam-se estórias da juventude, e comungava-se das experiências comuns a todos os jovens.
No entanto, cada um era diferente dos restantes, como acontece em todos os lugares e circunstâncias, se tivermos em conta, não só as diferenças genéticas, como as de educação, nível sócio-económico, instrução, e todas as que contribuem para a formação da personalidade e do carácter. Por isso, também havia os fracos de espírito, os mais facilmente alienáveis, e a consequente diferença de conceitos sobre a vida.
Lembro-me de uma ocasião em que um militar se gabava de ter feito sexo com um homossexual a troco de uma importância e, quando o interrompi, tratando-o de "panasca", para acabar aquela conversa, muito surpreendido, ripostou-me, que paneleiro era o outro, ele apenas teria tido ocasião para ganhar dinheiro. Era difícil transmitir ideias novas a quem tinha tido um desenvolvimento com outras coerências, mas proibi aquele género de conversas.
Mais tarde, já "velhinhos" com alguns meses de "guerra", durante uma paragem no mato surpreendi uma conversa muito animada, em que três ou quatro desafiavam um outro, a contar-lhes o que se tinha passado no abrigo onde dormia, e que metia cenas escabrosas de sexo. E o desafio prosseguia com grande à-vontade, a que o visado, talvez pela minha proximidade, respondia com sorrisos de quem não podia falar, mas sem problemas pessoais.
Interessou-me o assunto, e fiquei a saber que um graduado, individuo de fraquíssima personalidade e comportamento, um dos que pertencia à seita, que sacava do erário e enchia o bornal a coberto das contas da Companhia, tinha fama de colaborar com a PIDE, era medroso e embriegava-se mais do que devia, tinha participado e estimulado. Ao anoitecer, costumava levar bebidas para o abrigo onde pernoitava, e assim semeava um esquema de amizade conivente e colheita de informações, com que exercia a sua influência.
Dessa vez, provavelmente com alguns copos bebidos, e com o bolso a abarrotar de notas, a conversa terá enveredado para o sexo, em termos que nem me interessou esclarecer. Mas soube, que um militar mostrou uma erecção, e o graduado terá oferecido vinte "paus" a quem roçasse o traseiro no membro erecto. Para quem não tinha nada, e sugestionado pelo graduado "amigo", todo-poderoso naquele abrigo, houve quem possa ter dado ares de aceitar o desafio, e ganhou, ou ganharam, aquela importância. Depois, em crescendo, ofereceu cinquenta "pesos", que equivaliam a mais de dez cervejinhas, a quem beijasse. E pagou. Quase a atingir um climax emocional fácil de imaginar, o graduado subiu a oferta para cem escudos a quem se deixasse penetrar um bocadinho. Segundo o relato da época, esta importância foi recusada, porque, obviamente, feria a dignidade masculina da meia-dúzia dos presentes.
Foi tudo a "brincar", claro, muito provavelmente a raciocinarem conforme o álcool, o fumo e a javardice condicionavam, mas não tive conhecimento da motivação do graduado. Do que não restam dúvidas, é que, à bebedeira, à maluqueira, à falta de carácter dos intervenientes, temos que considerar o abuso de poder de um militar em tempo de guerra, que para gaudio pessoal, se permitia explorar daquela maneira abjecta as fragilidades humanas. Depois, as razões do costume foram suficientes para abafar o caso, onde eu só vislumbro um culpado.
JMMD
Nota: Título do texto da responsabilidade do editor
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9502: História da CCAÇ 2679 (47): Um Brigadeiro de visita a Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)
Viva Carlos,
A propósito de um pedido de entrevista sobre memórias que envolvessem militares gay's durante a guerra de África, aqui partilho um texto que reflecte um triste acontecimento ocorrido na minha Companhia, e pode reflectir a podridão humana.
Abraços fraternos
JD
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (48)
Entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão
Os portugueses partiram à descoberta movidos pela expansão da Fé, e pela aventura de dar novos mundos ao mundo, mostrar-lhes a civilização do homem europeu, partilhá-la e desenvolver sociedades de progresso e justiça social. Era assim, quiçá ainda será, que a história era ministrada no jardim lusitano; não se referiam as estórias horrorosas sobre violações, roubos, raptos e esclavagismo, mortes e destruição. Como é comummente aceite, a história é escrita pelos vencedores; ou ainda, uma mentira é tantas vezes apregoada, até passar a ser considerada como verdadeira. Talvez, por isso, a fantástica odisseia de Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, é tão pouco divulgada entre nós. Notoriamente, não convinha ao regime, onde o governo desempenhava o papel de bom entre os bons, e o chefe apresentava-se como imaculado e imprescindível, donde, a verdade era de somenos. E, para melhor acentuar o poder, convinha que o povo não tivesse grande instrução, sentisse que os sacrifícios terrenos teriam compensação eterna, agradecesse a caridade como expressão de equilíbrio generoso, e que, sob um regime corporativo, os pobres não chateassem os ricos, sob pena de criarem fissuras no edifício social.
De facto, a manipulação da memória é obra de todos os tempos conhecidos (constitui uma técnica de sedimentação de grupo), das civilizações que exercem com superioridade o domínio sobre as mais fracas. E os povos, por inércia, por comodidade, por medo, por laxismo, aceitam-na, mesmo, quando essa manipulação é denunciada, como no caso recente da primeira invasão do Iraque, mesmo, quando os efeitos colaterais no Kosovo foram referidos como insuperáveis para que se atingisse a paz. É a alienação, tanto dos que praticam com bestialidade, como dos que não se incomodam com a verdade.
Esta introdução serve para ilustrar, que entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão e, modernamente, que a nossa deslocação para a Guiné correspondeu a um arrebanhar de pessoas, de muitas e diferentes formações de ordem moral e ética; que a instituição militar não tinha capacidade para descortinar em cada um as falências de que seria portador, bastando-lhe o Regulamento de Disciplina Militar para, na sua força coerciva, manter as tropas alinhadas, direita volver, de preferência acéfalas e obedientes.
Em Bajocunda, os militares não tinham praticamente nada, senão obrigações. No entanto, os vinte aninhos imberbes sempre descobriam diferentes actividades, mesmo quando resvalavam para a imoralidade, que permitiam desenvolver a chamada camaradagem, e, unidos na desgraça, arranjar as forças, que as refeições, e o cansaço moral e físico não proporcionavam. Jogava-se a isto ou aquilo, seguiam-se curiosamente as estórias de engates de lavadeiras, discutiam os benfiquistas com os sportinguistas e os portistas, descortinavam-se estórias da juventude, e comungava-se das experiências comuns a todos os jovens.
No entanto, cada um era diferente dos restantes, como acontece em todos os lugares e circunstâncias, se tivermos em conta, não só as diferenças genéticas, como as de educação, nível sócio-económico, instrução, e todas as que contribuem para a formação da personalidade e do carácter. Por isso, também havia os fracos de espírito, os mais facilmente alienáveis, e a consequente diferença de conceitos sobre a vida.
Lembro-me de uma ocasião em que um militar se gabava de ter feito sexo com um homossexual a troco de uma importância e, quando o interrompi, tratando-o de "panasca", para acabar aquela conversa, muito surpreendido, ripostou-me, que paneleiro era o outro, ele apenas teria tido ocasião para ganhar dinheiro. Era difícil transmitir ideias novas a quem tinha tido um desenvolvimento com outras coerências, mas proibi aquele género de conversas.
Mais tarde, já "velhinhos" com alguns meses de "guerra", durante uma paragem no mato surpreendi uma conversa muito animada, em que três ou quatro desafiavam um outro, a contar-lhes o que se tinha passado no abrigo onde dormia, e que metia cenas escabrosas de sexo. E o desafio prosseguia com grande à-vontade, a que o visado, talvez pela minha proximidade, respondia com sorrisos de quem não podia falar, mas sem problemas pessoais.
Interessou-me o assunto, e fiquei a saber que um graduado, individuo de fraquíssima personalidade e comportamento, um dos que pertencia à seita, que sacava do erário e enchia o bornal a coberto das contas da Companhia, tinha fama de colaborar com a PIDE, era medroso e embriegava-se mais do que devia, tinha participado e estimulado. Ao anoitecer, costumava levar bebidas para o abrigo onde pernoitava, e assim semeava um esquema de amizade conivente e colheita de informações, com que exercia a sua influência.
Dessa vez, provavelmente com alguns copos bebidos, e com o bolso a abarrotar de notas, a conversa terá enveredado para o sexo, em termos que nem me interessou esclarecer. Mas soube, que um militar mostrou uma erecção, e o graduado terá oferecido vinte "paus" a quem roçasse o traseiro no membro erecto. Para quem não tinha nada, e sugestionado pelo graduado "amigo", todo-poderoso naquele abrigo, houve quem possa ter dado ares de aceitar o desafio, e ganhou, ou ganharam, aquela importância. Depois, em crescendo, ofereceu cinquenta "pesos", que equivaliam a mais de dez cervejinhas, a quem beijasse. E pagou. Quase a atingir um climax emocional fácil de imaginar, o graduado subiu a oferta para cem escudos a quem se deixasse penetrar um bocadinho. Segundo o relato da época, esta importância foi recusada, porque, obviamente, feria a dignidade masculina da meia-dúzia dos presentes.
Foi tudo a "brincar", claro, muito provavelmente a raciocinarem conforme o álcool, o fumo e a javardice condicionavam, mas não tive conhecimento da motivação do graduado. Do que não restam dúvidas, é que, à bebedeira, à maluqueira, à falta de carácter dos intervenientes, temos que considerar o abuso de poder de um militar em tempo de guerra, que para gaudio pessoal, se permitia explorar daquela maneira abjecta as fragilidades humanas. Depois, as razões do costume foram suficientes para abafar o caso, onde eu só vislumbro um culpado.
JMMD
Nota: Título do texto da responsabilidade do editor
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9502: História da CCAÇ 2679 (47): Um Brigadeiro de visita a Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P9722: Blogoterapia (207): O meu dia de aniversário, vivido na Sexta-feira Santa, foi especial (Joaquim Mexia Alves)
1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), fundador da Tabanca do Centro, com data de 20 de Março de 2012:
OBRIGADO!
Mais uma vez, (parece que faço anos todos os anos!), cumpro o grato “dever” de agradecer todas as mensagens de parabéns que me foram endereçadas pelos mais diferentes meios.
O meu dia de aniversário, vivido na Sexta-feira Santa, foi especial, porque a maior parte dele foi passado nas celebrações muito especificas desse dia, o que me fez viver de modo muito intenso a certeza do amor com que Deus me criou, e me ama todos os dias. Mas estas mensagens dos meus camarigos, foram/são um calor muito especial, um calor que só nós, combatentes entendemos, porque só nós vivemos essa experiência da guerra.
Quando me sentei para escrever estas palavras de gratidão veio ao meu pensamento o seguinte: Anda para aí tanta gente, (psicólogos, antropólogos, historiadores, pensadores, e outros terminados em “logos” e “dores”), que nos vêm pedir colaboração para fazerem estudos disto e daquilo respeitante à guerra, sobretudo sobre temas “negativos”, sobre temas que dão de nós muitas vezes uma imagem negativa ou de “coitadinhos”.
Obviamente que a guerra não é coisa boa e tudo o que lhe diz respeito é sempre de alguma forma, coisa negativa, coisa dramática, coisa triste, porque nunca haverá justificação para os homens andarem a matar outros homens. Mas há, chamemos-lhe assim, um “efeito secundário” que a guerra produz naqueles que a fizeram, (umas vezes mal dela saem, outras vezes passados alguns anos), e que é esta forte amizade e camaradagem, sem dúvida, camarigagem, que a todos une, independentemente do estado social, ou do pensamento politico de cada um.
Curiosamente não é uma área que esses “estudiosos” queiram estudar, talvez porque é algo positivo, é algo de bom, e hoje em dia o que é bom e positivo não “vende”. Ou talvez porque incomode esta camarigagem, porque não a conseguem entender, porque se sentem fora da linguagem própria dos combatentes, linguagem verbal e corporal.
Enfim mistérios de uma sociedade que me parece muito gostaria de se ver livre de nós, combatentes, no antes, no agora e no porvir.
Embora o Carlos Vinhal, meu caríssimo amigo e editor tenha “diminuído” o meu “currículo militar!”, (isto é a brincar, claro), a verdade é que passei pela CART 3492, pelo Pel Caç Nat 52 e pela CCAÇ 15, todas Unidades diferentes umas das outras, mas em todas fiz amigos e deixei amigos, como aliás cada um de nós que teve esta dita de na Guiné, de “andar de Herodes para Pilatos”.
Mas hoje não estou a escrever para isso, mas sim, para agradecer do fundo do meu coração a todos sem excepção e abraçá-los com o meu maior camarigo abraço
Joaquim Mexia Alves
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9706: Parabéns a você (401): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1971/73)
Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9718: Blogoterapia (206): Para os amigos que fiz nestes encontros de ex-combatentes e para os que fazem parte de todas as Tabancas (Margarida Peixoto)
OBRIGADO!
Mais uma vez, (parece que faço anos todos os anos!), cumpro o grato “dever” de agradecer todas as mensagens de parabéns que me foram endereçadas pelos mais diferentes meios.
O meu dia de aniversário, vivido na Sexta-feira Santa, foi especial, porque a maior parte dele foi passado nas celebrações muito especificas desse dia, o que me fez viver de modo muito intenso a certeza do amor com que Deus me criou, e me ama todos os dias. Mas estas mensagens dos meus camarigos, foram/são um calor muito especial, um calor que só nós, combatentes entendemos, porque só nós vivemos essa experiência da guerra.
Quando me sentei para escrever estas palavras de gratidão veio ao meu pensamento o seguinte: Anda para aí tanta gente, (psicólogos, antropólogos, historiadores, pensadores, e outros terminados em “logos” e “dores”), que nos vêm pedir colaboração para fazerem estudos disto e daquilo respeitante à guerra, sobretudo sobre temas “negativos”, sobre temas que dão de nós muitas vezes uma imagem negativa ou de “coitadinhos”.
Obviamente que a guerra não é coisa boa e tudo o que lhe diz respeito é sempre de alguma forma, coisa negativa, coisa dramática, coisa triste, porque nunca haverá justificação para os homens andarem a matar outros homens. Mas há, chamemos-lhe assim, um “efeito secundário” que a guerra produz naqueles que a fizeram, (umas vezes mal dela saem, outras vezes passados alguns anos), e que é esta forte amizade e camaradagem, sem dúvida, camarigagem, que a todos une, independentemente do estado social, ou do pensamento politico de cada um.
Curiosamente não é uma área que esses “estudiosos” queiram estudar, talvez porque é algo positivo, é algo de bom, e hoje em dia o que é bom e positivo não “vende”. Ou talvez porque incomode esta camarigagem, porque não a conseguem entender, porque se sentem fora da linguagem própria dos combatentes, linguagem verbal e corporal.
Enfim mistérios de uma sociedade que me parece muito gostaria de se ver livre de nós, combatentes, no antes, no agora e no porvir.
Embora o Carlos Vinhal, meu caríssimo amigo e editor tenha “diminuído” o meu “currículo militar!”, (isto é a brincar, claro), a verdade é que passei pela CART 3492, pelo Pel Caç Nat 52 e pela CCAÇ 15, todas Unidades diferentes umas das outras, mas em todas fiz amigos e deixei amigos, como aliás cada um de nós que teve esta dita de na Guiné, de “andar de Herodes para Pilatos”.
Mas hoje não estou a escrever para isso, mas sim, para agradecer do fundo do meu coração a todos sem excepção e abraçá-los com o meu maior camarigo abraço
Joaquim Mexia Alves
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9706: Parabéns a você (401): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1971/73)
Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9718: Blogoterapia (206): Para os amigos que fiz nestes encontros de ex-combatentes e para os que fazem parte de todas as Tabancas (Margarida Peixoto)
Guiné 63/74 - P9721: Um Professor na guerra (Manuel Joaquim) (3): Na escola, com as crianças
1. Foi com esta mensagem de 28 de Março de 2012 que o nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) nos apresentou o seu trabalho de que hoje publicamos a terceira parte.
Meus caros Luís, Carlos e Eduardo:
Durante a minha vida militar na Guiné, tirando os quatro meses iniciais, sempre dei aulas, melhor dizendo, fiz alfabetização. Guardei sempre uma parte do meu tempo livre para proporcionar a muitos soldados a obtenção da quarta classe e, nos últimos quatro meses, trabalhei a tempo inteiro com soldados e com crianças. A minha "guerra" foi sublimada com este meu trabalho de que me orgulho e ao qual me dediquei. Talvez ingenuamente foi a procura dessa sublimação o que sempre me conduziu na minha atividade como combatente. Precisei desse objetivo mesmo sem saber ou pouco me importar qual o resultado final.
Titulei este trabalho com "Um professor na guerra". Professor e combatente fui de certeza. O título está para o"frouxo". Arranjam-me um melhor para este relato? Vai dividido em quatro partes. Se acharem por bem publicar é possível que prefiram uma outra divisão. Fica ao vosso critério.
Manuel Joaquim
UM PROFESSOR NA GUERRA
III - Na “escola”, com as crianças
Em 9 de janeiro de 1967 escrevia à namorada: “Já quase me faço compreender pelas miuditas a quem dou aulas todos os dias. É um trabalho que me está a agradar imenso. (...) Como sabes fui dispensado do serviço operacional. Aqui está com certeza a causa da minha maior satisfação (...).
Duas semanas depois: “Falar-te do meu dia a dia talvez tenha algum interesse para ti. Como já sabes não ando no mato. Sábados de tarde e Domingos não trabalho. Nos outros dias dou duas horas de aula da parte da manhã às crianças e outras duas da parte da tarde aos soldados. (...) Vistas bem as coisas é caso para andar bem satisfeito e ando, comparando a minha situação actual com a anterior. (...).
Fotos de F.G. Passeiro
Em 6 de fevereiro/67: (...)Há pouco estava a falar-te de barulho e é precisamente agora, já passa um pouco da meia-noite, que ele está a atingir um grau bastante chato. É a altura das bebedeiras. E o melhor é pôr-me pelo menos a fazer que durmo, já que tenho de me levantar cedo para ir aturar a minha catraiada. (...)
Vinte dias depois: (...)“A minha situação,(...), não é para grandes preocupações. Isto não quer dizer que esteja livre de perigo. No entanto ele é muito menor. Ainda agora chegaram os meus camaradas que passaram oito dias seguidos no mato sem vir ao quartel. Eu fiquei, está claro, em Mansabá, de volta das miuditas. E muito satisfeito, sem dúvida, livre desta prova de resistência e de perigo. (...)
Em seis de março/67 escrevi: “(...) às vezes tenho estados de espírito estranhos, tal como o de começar a ter saudades de alguma coisa que por cá existe. Refiro-me, muito em especial, às minhas pequenitas que todos os dias, eu a caminho da escola, disputam em corrida qual delas chega primeiro para me agarrar e dizer “bom dia!”. Elas ainda mal falam o português mas já me sabem dizer “adeus amor di mim”, “adeus querido di mim” e outras frases similares.(...)
Fotos de Manuel Joaquim
(...) Enfim, são uns tempos muito bem passados, estes em que lido com as crianças. Cá na terra toda a gente me conhece pelo nome. Passo pelas ruas e, às vezes, até chateia a frequência com que me dizem “Manuel Joaquim!” Não dizem, muitas vezes, mais nada e só esperam que me volte e sorria.Há pouco tempo aconteceu conversar com uma rapariga que me olhava um pouco intrigada e sem o à vontade que eu esperava. Soube que era nova cá em Mansabá. Quando lhe disse que era o Manuel Joaquim veio logo um “Ah, bó professor di bajuda” (...)”Manga di bom pessoal, bó mesmo” (...). Alegra-me saber que fiz algo de bom por aqui. E é, sim, com um pouco de saudade que vou deixar esta gente” (...).
Estas transcrições pretendem dar uma ideia do meu estado de espírito perante o trabalho que me obriguei a fazer. Tudo correu bem, o edifício escolar foi construído e os alunos ocuparam a sala de aula já equipada, todos contentes por terem saído da rua e eu ainda mais contente por não ser agora tão fácil distrairem-se face aos ruídos da rua. Aproximava-se a data da inauguração da escola. Não me lembro do dia mas foi num dos últimos dias de março/1967. Sei porque em 02/abril escrevi à namorada e referia-me ao facto de ter sido louvado pelo comandante de batalhão e este louvor ter tido como causa o que sucedeu na inauguração da escola, a que me referirei noutro capítulo. No final da inauguração, o repórter do PFA (o alferes milº M.F.Teixeira, meu amigo e companheiro de estudos), veio bisbilhotar-me que tinha ouvido o general perguntar, referindo-se a mim, “ já louvou aquele furriel?”
Tenho pena de não ter fotografias da escola e da sua inauguração. Não sei se foi erro meu, o mais certo foi ter sido. Temendo que algumas fotos pudessem infringir certos ditames político-militares da época, adiei a revelação dum rolo onde estavam também essas fotos para quando estivesse na “metrópole”. Ainda hoje me dói recordar a transparência do negativo quando quis levantar as fotos. Fotos, zero! Como diz o ditado castelhano “no creo en brujas mas que las hay las hay”.
(Continua)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9703: Um Professor na guerra (Manuel Joaquim) (2): Uma Escola em Mansabá
Meus caros Luís, Carlos e Eduardo:
Durante a minha vida militar na Guiné, tirando os quatro meses iniciais, sempre dei aulas, melhor dizendo, fiz alfabetização. Guardei sempre uma parte do meu tempo livre para proporcionar a muitos soldados a obtenção da quarta classe e, nos últimos quatro meses, trabalhei a tempo inteiro com soldados e com crianças. A minha "guerra" foi sublimada com este meu trabalho de que me orgulho e ao qual me dediquei. Talvez ingenuamente foi a procura dessa sublimação o que sempre me conduziu na minha atividade como combatente. Precisei desse objetivo mesmo sem saber ou pouco me importar qual o resultado final.
Titulei este trabalho com "Um professor na guerra". Professor e combatente fui de certeza. O título está para o"frouxo". Arranjam-me um melhor para este relato? Vai dividido em quatro partes. Se acharem por bem publicar é possível que prefiram uma outra divisão. Fica ao vosso critério.
Manuel Joaquim
UM PROFESSOR NA GUERRA
III - Na “escola”, com as crianças
Em 9 de janeiro de 1967 escrevia à namorada: “Já quase me faço compreender pelas miuditas a quem dou aulas todos os dias. É um trabalho que me está a agradar imenso. (...) Como sabes fui dispensado do serviço operacional. Aqui está com certeza a causa da minha maior satisfação (...).
Duas semanas depois: “Falar-te do meu dia a dia talvez tenha algum interesse para ti. Como já sabes não ando no mato. Sábados de tarde e Domingos não trabalho. Nos outros dias dou duas horas de aula da parte da manhã às crianças e outras duas da parte da tarde aos soldados. (...) Vistas bem as coisas é caso para andar bem satisfeito e ando, comparando a minha situação actual com a anterior. (...).
Eu (agachado, de boné) com um grupo de alunas. Atrás, o Fur Mil A.G. Correia
O Fur Mil F.G. Passeiro com o seu grupo e eu (de boné) à esquerda da foto
Fotos de F.G. Passeiro
Em 6 de fevereiro/67: (...)Há pouco estava a falar-te de barulho e é precisamente agora, já passa um pouco da meia-noite, que ele está a atingir um grau bastante chato. É a altura das bebedeiras. E o melhor é pôr-me pelo menos a fazer que durmo, já que tenho de me levantar cedo para ir aturar a minha catraiada. (...)
Vinte dias depois: (...)“A minha situação,(...), não é para grandes preocupações. Isto não quer dizer que esteja livre de perigo. No entanto ele é muito menor. Ainda agora chegaram os meus camaradas que passaram oito dias seguidos no mato sem vir ao quartel. Eu fiquei, está claro, em Mansabá, de volta das miuditas. E muito satisfeito, sem dúvida, livre desta prova de resistência e de perigo. (...)
Em seis de março/67 escrevi: “(...) às vezes tenho estados de espírito estranhos, tal como o de começar a ter saudades de alguma coisa que por cá existe. Refiro-me, muito em especial, às minhas pequenitas que todos os dias, eu a caminho da escola, disputam em corrida qual delas chega primeiro para me agarrar e dizer “bom dia!”. Elas ainda mal falam o português mas já me sabem dizer “adeus amor di mim”, “adeus querido di mim” e outras frases similares.(...)
Uma aluna leva-me a casa para me apresentar a mãe e os irmãos
Fotos de Manuel Joaquim
(...) Enfim, são uns tempos muito bem passados, estes em que lido com as crianças. Cá na terra toda a gente me conhece pelo nome. Passo pelas ruas e, às vezes, até chateia a frequência com que me dizem “Manuel Joaquim!” Não dizem, muitas vezes, mais nada e só esperam que me volte e sorria.Há pouco tempo aconteceu conversar com uma rapariga que me olhava um pouco intrigada e sem o à vontade que eu esperava. Soube que era nova cá em Mansabá. Quando lhe disse que era o Manuel Joaquim veio logo um “Ah, bó professor di bajuda” (...)”Manga di bom pessoal, bó mesmo” (...). Alegra-me saber que fiz algo de bom por aqui. E é, sim, com um pouco de saudade que vou deixar esta gente” (...).
Estas transcrições pretendem dar uma ideia do meu estado de espírito perante o trabalho que me obriguei a fazer. Tudo correu bem, o edifício escolar foi construído e os alunos ocuparam a sala de aula já equipada, todos contentes por terem saído da rua e eu ainda mais contente por não ser agora tão fácil distrairem-se face aos ruídos da rua. Aproximava-se a data da inauguração da escola. Não me lembro do dia mas foi num dos últimos dias de março/1967. Sei porque em 02/abril escrevi à namorada e referia-me ao facto de ter sido louvado pelo comandante de batalhão e este louvor ter tido como causa o que sucedeu na inauguração da escola, a que me referirei noutro capítulo. No final da inauguração, o repórter do PFA (o alferes milº M.F.Teixeira, meu amigo e companheiro de estudos), veio bisbilhotar-me que tinha ouvido o general perguntar, referindo-se a mim, “ já louvou aquele furriel?”
Tenho pena de não ter fotografias da escola e da sua inauguração. Não sei se foi erro meu, o mais certo foi ter sido. Temendo que algumas fotos pudessem infringir certos ditames político-militares da época, adiei a revelação dum rolo onde estavam também essas fotos para quando estivesse na “metrópole”. Ainda hoje me dói recordar a transparência do negativo quando quis levantar as fotos. Fotos, zero! Como diz o ditado castelhano “no creo en brujas mas que las hay las hay”.
(Continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9703: Um Professor na guerra (Manuel Joaquim) (2): Uma Escola em Mansabá
Guiné 63/74 – P9720: Convívios (409): Encontro/Almoço do pessoal da CCAÇ 412, dia 12 de Maio de 2012 na Mealhada (Alcídio Marinho)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9708: Convívios (329): 29.º Almoço do pessoal da CCAÇ 2317, dia 9 de Junho de 2012 em Paredes (Joaquim Gomes Soares)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9708: Convívios (329): 29.º Almoço do pessoal da CCAÇ 2317, dia 9 de Junho de 2012 em Paredes (Joaquim Gomes Soares)
Guiné 63/74 - P9719: Notas de leitura (349): Os Últimos Governadores do Império, coordenação de Paradela de Abreu (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 5 de Março de 2012:
Queridos amigos,
Nesta coletânea, a Guiné é contemplada com três entrevistados. Silva Tavares, que depois partirá para Angola e ali ficará até 1961, exalta com humildade e admiração o importante trabalho do seu antecessor, Sarmento Rodrigues; António de Spínola concede um depoimento para ler de fio a pavio, tudo aquilo que constitui o desentendimento com Marcello Caetano e a redução da área a defender quando passou a ser manifesta a possibilidade de defender povoações e aquartelamentos fronteiriços, aparece aqui descrito com curta margem para equívoco; e Bethencourt Rodrigues protege-se com dados factuais sem alguma vez explicar o que pretendia fazer ao longo de 1974.
São depoimentos que valem pelo que deixam insinuado nas entrelinhas.
Um abraço do
Mário
Os Últimos Governadores do Império
Beja Santos
“Os Últimos Governadores do Império” (coordenação de Paradela de Abreu, Edições Neptuno e Edições Inapa, 1994) acolhem o registo de Governadores que se dispuseram a desfiar as suas memórias no período em que estiveram à frente de parcelas do Império. No que toca à Guiné, o volume guarda os testemunhos de Álvaro da Silva Tavares (a partir de 1956 e até 1958), António de Spínola (de 1968 a 1973) e de Bethencourt Rodrigues (entre 1973 e 1974).
Álvaro da Silva Tavares foi magistrado do Ministério Público de 1945 a 1956 na Guiné, Moçambique, Angola e Estado da Índia, em que foi nomeado Secretário-Geral daquele Estado. Abandonou as funções de Governador da Guiné para tomar posse como Secretário de Estado da Administração Ultramarina e foi Governador-Geral de Angola de 1960 a 1961. O seu depoimento engancha no relevante trabalho no seu predecessor, Sarmento Rodrigues, não é por acaso que Silva Tavares recorda o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, a importante colaboração que a instituição estabeleceu com o Institut Français d’Afrique Noire, Dakar, e o seu incontornável Boletim e o manancial de monografias. Refere igualmente a Missão de Combate à Doença do Sono e a Missão Geo-Hidrográfica da Guiné. Discreteia sobre o ensino, pondo em paralelo com o trabalho das missões católicas e as escolas corânicas. No tocante à saúde, não esquece o que Raoul Follereau, a grande notabilidade na lepra escreveu sobre a Guiné, dizendo que era o primeiro território do mundo em condições de erradicar a lepra como endemia, e exalta o trabalho da Missão do Sono. Centra a sua memória na agricultura guineense.
Diz que a cultura do arroz conheceu uma alteração radical na gestão de Sarmento Rodrigues quando este mandou proceder à recuperação das bolanhas. E deixa uma crítica velada: “Depois dele, porém, o interesse dos serviços provinciais cessou e até surgiram certas críticas em relação a trabalhos feitos de lama, alvo de constante manutenção. De fato, os terrenos tinham de ser defendidos das marés por muros de lama, fortalecida por uma estrutura interna de vegetais e ramos de arbustos. O que se alterou foi o sistema regulador, que permite impedir a entrada de água salgada das marés altas e a saída da água das chuvas na maré baixa, e os métodos, visto terem sido utilizadas máquinas como as motoniveladoras”. Foi assim que se procedeu à recuperação dos terenos e se viveu o período áureo da cultura em que a Guiné era conhecida como exportadora de arroz. Refere igualmente as culturas de amendoim, palmeiras, mandioca, caju, manga e o desenvolvimento da granja de Bissau. Considera que as eleições do Presidente da República, em 1958, na Guiné, foram modelares, Américo Thomaz obteve 60 % e o general Delgado 40 %.
António de Spínola narra a extensa conversa que teve com Salazar em que expendeu os seus pontos de vista sobre o Espaço Português, a sua heterogeneidade e descontinuidade geográfica, propondo para a Guiné um novo estatuto, pelo que pretendia acelerar o desenvolvimento económico da província. Salazar não comentou esta exposição, limitou-se a dizer: “É urgente que embarque para a Guiné”. Considera que a sua política de promoção social foi um dos eixos bem-sucedidos da sua gestão, orientado para a justiça social, pleno respeito pelas instituições tradicionais africanas, incremento económico, participação na Administração Pública das gentes da Guiné, referindo concretamente os Congressos dos Povos.
Dentro desta visão reformadora do conceito de permanência em África, Spínola incentivou contactos com os chefes da guerrilha do PAIGC e encontrou-se com Senghor, este apoiou-o no processo de autonomia interna da Guiné com uma duração não inferior a 10 anos, seguida de uma consulta popular que, escreve Spínola, possivelmente conduziria à independência no quadro de uma comunidade luso-afro-africana. Esta proposta não foi aceite por Caetano. E escreve: “Perante a decisão do governo de Lisboa, foram suspensos os contactos com Senghor, sem que deixasse transparecer as verdadeiras causas de interrupção das conversações. O desconhecimento do facto e a situação de impasse que se seguiu levaram determinada fação do PAIGC a pressionar Amílcar Cabral no sentido de este se substituir a Senghor nas diligências iniciadas. E assim, na sequência do processo em desenvolvimento, Amílcar Cabral propôs, em Outubro de 1972, encontrar-se comigo em território português, eventualmente em Bissau. Informei pessoalmente o Presidente do Conselho da nova perspetiva que se abria, esgotando toda a gama de argumentação, para que não se perdesse a oportunidade oferecida por Cabral. Caetano opôs-se dizendo que estava fora de causa qualquer hipótese de acordo político negociado e que se encontrava preparado, para aceitar, se necessário uma derrota militar”.
Para Spínola, estava perdida a última oportunidade de se resolver com honra e dignidade o problema da Guiné. E continua: “Arreigou-se profundamente no meu espírito a convicção de que Portugal, em contradição com a sua própria vocação, caminhava para um fim trágico”. Descrevendo os acontecimentos críticos de 1973, depois do aparecimento dos mísseis Strella e da operação “Amílcar Cabral”, foi enviado ao Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas um memorando com três alternativas: redução da área a defender; conservação do atual dispositivo sem qualquer reforço, à luz de um espírito de defesa a todo a custo; reforço do teatro de operações em ordem a manter a superioridade sobre o inimigo. O General Costa Gomes visita a Guiné em Junho de 1973 e emitiu a opinião de que, perante a impossibilidade de dotar a Província com os meios necessários à sua defesa, a única alternativa seria a de um retraimento do dispositivo com o abandono de largas áreas do território ao longo da fronteira. Spínola escreve ao ministro do Ultramar comentando que não será ele a abandonar as áreas e as populações em cuja proteção se empenhara pessoalmente e termina assim: “Agudiza-se o problema da minha substituição, que peço a Vossa Excelência seja considerado a tempo de possibilitar a alteração do dispositivo militar que é mister fazer”.
O General Bethencourt Rodrigues tomou posse em 14 de Setembro de 1973, chegou a Bissau em 29 de Setembro. O texto de caracterização da situação político-económico-social da Guiné é praticamente o mesmo que publicou no livro de testemunhos “África, vitória traída” (Editorial Intervenção, 1977). Fala no V Congresso, na viagem do ministro do Ultramar à Guiné, de 15 a 20 de Janeiro, de que aumentara o orçamento da Província, de que estavam em construção as estradas Jugudul-Bambadinca, Piche-Buruntuma, Catió-Cufar e Aldeia Formosa-Buba, que entrara em laboração a CICER, que aumentara o preço do arroz e que em Março de 1974 estavam desviados para fins exclusivamente civis 37 oficiais, 50 sargentos e 182 praças. Entende que estavam a funcionar bem os órgãos do governo, a rede administrativa que cobria o território e que a produção agrícola satisfazia em grande parte as necessidades da população. E afirma: “Não cuidei de interesses pessoais ou de grupos e tive sempre como objetivo único o interesse da Guiné”. Bethencourt Rodrigues foi forçado a abandonar a Guiné em 26 de Abril de 1974. Neste seu depoimento não carateriza a evolução político-militar enquanto que em “África, vitória traída” afirmara que estava em curso a retração do dispositivo, supõem-se na linha aprovada pelo general Costa Gomes.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9707: Notas de leitura (348): Les Batisseurs D'Histoire, de Gérard Chaliand (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Nesta coletânea, a Guiné é contemplada com três entrevistados. Silva Tavares, que depois partirá para Angola e ali ficará até 1961, exalta com humildade e admiração o importante trabalho do seu antecessor, Sarmento Rodrigues; António de Spínola concede um depoimento para ler de fio a pavio, tudo aquilo que constitui o desentendimento com Marcello Caetano e a redução da área a defender quando passou a ser manifesta a possibilidade de defender povoações e aquartelamentos fronteiriços, aparece aqui descrito com curta margem para equívoco; e Bethencourt Rodrigues protege-se com dados factuais sem alguma vez explicar o que pretendia fazer ao longo de 1974.
São depoimentos que valem pelo que deixam insinuado nas entrelinhas.
Um abraço do
Mário
Os Últimos Governadores do Império
Beja Santos
“Os Últimos Governadores do Império” (coordenação de Paradela de Abreu, Edições Neptuno e Edições Inapa, 1994) acolhem o registo de Governadores que se dispuseram a desfiar as suas memórias no período em que estiveram à frente de parcelas do Império. No que toca à Guiné, o volume guarda os testemunhos de Álvaro da Silva Tavares (a partir de 1956 e até 1958), António de Spínola (de 1968 a 1973) e de Bethencourt Rodrigues (entre 1973 e 1974).
Álvaro da Silva Tavares foi magistrado do Ministério Público de 1945 a 1956 na Guiné, Moçambique, Angola e Estado da Índia, em que foi nomeado Secretário-Geral daquele Estado. Abandonou as funções de Governador da Guiné para tomar posse como Secretário de Estado da Administração Ultramarina e foi Governador-Geral de Angola de 1960 a 1961. O seu depoimento engancha no relevante trabalho no seu predecessor, Sarmento Rodrigues, não é por acaso que Silva Tavares recorda o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, a importante colaboração que a instituição estabeleceu com o Institut Français d’Afrique Noire, Dakar, e o seu incontornável Boletim e o manancial de monografias. Refere igualmente a Missão de Combate à Doença do Sono e a Missão Geo-Hidrográfica da Guiné. Discreteia sobre o ensino, pondo em paralelo com o trabalho das missões católicas e as escolas corânicas. No tocante à saúde, não esquece o que Raoul Follereau, a grande notabilidade na lepra escreveu sobre a Guiné, dizendo que era o primeiro território do mundo em condições de erradicar a lepra como endemia, e exalta o trabalho da Missão do Sono. Centra a sua memória na agricultura guineense.
Diz que a cultura do arroz conheceu uma alteração radical na gestão de Sarmento Rodrigues quando este mandou proceder à recuperação das bolanhas. E deixa uma crítica velada: “Depois dele, porém, o interesse dos serviços provinciais cessou e até surgiram certas críticas em relação a trabalhos feitos de lama, alvo de constante manutenção. De fato, os terrenos tinham de ser defendidos das marés por muros de lama, fortalecida por uma estrutura interna de vegetais e ramos de arbustos. O que se alterou foi o sistema regulador, que permite impedir a entrada de água salgada das marés altas e a saída da água das chuvas na maré baixa, e os métodos, visto terem sido utilizadas máquinas como as motoniveladoras”. Foi assim que se procedeu à recuperação dos terenos e se viveu o período áureo da cultura em que a Guiné era conhecida como exportadora de arroz. Refere igualmente as culturas de amendoim, palmeiras, mandioca, caju, manga e o desenvolvimento da granja de Bissau. Considera que as eleições do Presidente da República, em 1958, na Guiné, foram modelares, Américo Thomaz obteve 60 % e o general Delgado 40 %.
António de Spínola narra a extensa conversa que teve com Salazar em que expendeu os seus pontos de vista sobre o Espaço Português, a sua heterogeneidade e descontinuidade geográfica, propondo para a Guiné um novo estatuto, pelo que pretendia acelerar o desenvolvimento económico da província. Salazar não comentou esta exposição, limitou-se a dizer: “É urgente que embarque para a Guiné”. Considera que a sua política de promoção social foi um dos eixos bem-sucedidos da sua gestão, orientado para a justiça social, pleno respeito pelas instituições tradicionais africanas, incremento económico, participação na Administração Pública das gentes da Guiné, referindo concretamente os Congressos dos Povos.
Dentro desta visão reformadora do conceito de permanência em África, Spínola incentivou contactos com os chefes da guerrilha do PAIGC e encontrou-se com Senghor, este apoiou-o no processo de autonomia interna da Guiné com uma duração não inferior a 10 anos, seguida de uma consulta popular que, escreve Spínola, possivelmente conduziria à independência no quadro de uma comunidade luso-afro-africana. Esta proposta não foi aceite por Caetano. E escreve: “Perante a decisão do governo de Lisboa, foram suspensos os contactos com Senghor, sem que deixasse transparecer as verdadeiras causas de interrupção das conversações. O desconhecimento do facto e a situação de impasse que se seguiu levaram determinada fação do PAIGC a pressionar Amílcar Cabral no sentido de este se substituir a Senghor nas diligências iniciadas. E assim, na sequência do processo em desenvolvimento, Amílcar Cabral propôs, em Outubro de 1972, encontrar-se comigo em território português, eventualmente em Bissau. Informei pessoalmente o Presidente do Conselho da nova perspetiva que se abria, esgotando toda a gama de argumentação, para que não se perdesse a oportunidade oferecida por Cabral. Caetano opôs-se dizendo que estava fora de causa qualquer hipótese de acordo político negociado e que se encontrava preparado, para aceitar, se necessário uma derrota militar”.
Para Spínola, estava perdida a última oportunidade de se resolver com honra e dignidade o problema da Guiné. E continua: “Arreigou-se profundamente no meu espírito a convicção de que Portugal, em contradição com a sua própria vocação, caminhava para um fim trágico”. Descrevendo os acontecimentos críticos de 1973, depois do aparecimento dos mísseis Strella e da operação “Amílcar Cabral”, foi enviado ao Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas um memorando com três alternativas: redução da área a defender; conservação do atual dispositivo sem qualquer reforço, à luz de um espírito de defesa a todo a custo; reforço do teatro de operações em ordem a manter a superioridade sobre o inimigo. O General Costa Gomes visita a Guiné em Junho de 1973 e emitiu a opinião de que, perante a impossibilidade de dotar a Província com os meios necessários à sua defesa, a única alternativa seria a de um retraimento do dispositivo com o abandono de largas áreas do território ao longo da fronteira. Spínola escreve ao ministro do Ultramar comentando que não será ele a abandonar as áreas e as populações em cuja proteção se empenhara pessoalmente e termina assim: “Agudiza-se o problema da minha substituição, que peço a Vossa Excelência seja considerado a tempo de possibilitar a alteração do dispositivo militar que é mister fazer”.
O General Bethencourt Rodrigues tomou posse em 14 de Setembro de 1973, chegou a Bissau em 29 de Setembro. O texto de caracterização da situação político-económico-social da Guiné é praticamente o mesmo que publicou no livro de testemunhos “África, vitória traída” (Editorial Intervenção, 1977). Fala no V Congresso, na viagem do ministro do Ultramar à Guiné, de 15 a 20 de Janeiro, de que aumentara o orçamento da Província, de que estavam em construção as estradas Jugudul-Bambadinca, Piche-Buruntuma, Catió-Cufar e Aldeia Formosa-Buba, que entrara em laboração a CICER, que aumentara o preço do arroz e que em Março de 1974 estavam desviados para fins exclusivamente civis 37 oficiais, 50 sargentos e 182 praças. Entende que estavam a funcionar bem os órgãos do governo, a rede administrativa que cobria o território e que a produção agrícola satisfazia em grande parte as necessidades da população. E afirma: “Não cuidei de interesses pessoais ou de grupos e tive sempre como objetivo único o interesse da Guiné”. Bethencourt Rodrigues foi forçado a abandonar a Guiné em 26 de Abril de 1974. Neste seu depoimento não carateriza a evolução político-militar enquanto que em “África, vitória traída” afirmara que estava em curso a retração do dispositivo, supõem-se na linha aprovada pelo general Costa Gomes.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9707: Notas de leitura (348): Les Batisseurs D'Histoire, de Gérard Chaliand (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P9718: Blogoterapia (206): Para os amigos que fiz nestes encontros de ex-combatentes e para os que fazem parte de todas as Tabancas (Margarida Peixoto)
1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Margarida Peixoto, chegada ontem ao nosso Blogue:
Para todos os amigos que fiz nestes encontros de ex-combatentes da Guiné e para todos que fazem parte de todas as Tabancas.
Páscoa!!!...
Ressurreição !!!...
Mistério !!!...
Verdade !!!...
Não importa o que seja. Importa sim, que seja o que for mexe connosco. Cria-se um ambiente de solidariedade, de paixão, de carinho, de amizade, de perdão, de alegria. Esquecem-se as mágoas.
E num Ovo de Páscoa, embrulhado num lindo papel colorido, as crianças saltitam, esperando com entusiasmo e expectativa a surpresa que sairá lá de dentro.
A mesa, coberta com uma toalha branca, é enfeitada com iguarias alusivas a esta quadra: Amêndoas, Pão-de-ló, folar, etc…
A Família vai-se reunindo numa casa ou noutra, para beijar a Cruz.
Lá longe, os sinos tocam e as campainhas do “ compasso “ fazem-se ouvir numa melodia calma, transmitindo Paz e Alegria.
Então, queridos amigos, que magia é esta, que nos faz sair do quotidiano para celebrarmos, em harmonia, a Ressurreição de Jesus ?!!! ´´
E a Fé, a crença que, mesmo não queiramos admitir, está bem lá no fundo de todos nós.
É a vontade de ser feliz, é a vontade de abraçar os familiares e amigos, é a vontade de voltar às origens. É tempo de redenção.
Que todos os corações estejam abertos e receptivos à entrada de Jesus.
Nesta Páscoa, estão todos reunidos por laços que fizeram na Guiné, por laços que só vós ex-combatentes conseguem sentir, explicar e unirem-se cada vez mais. Laços que se fizeram de mil e uma cores, conforme o vosso espírito se encontrava nesse momento. Laços, que ninguém conseguirá desamarrar.
Por isso, quero desejar a todos vós, uma Páscoa feliz, recheada de mistérios, sonhos e tudo aquilo que vos une, dizendo bem alto:
Aleluia, Aleluia, Aleluia…
Margarida Peixoto
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9293: Tabanca Grande (315): Margarida Peixoto, Professora do Ensino Básico Aposentada, esposa do nosso camarada Joaquim Carlos Peixoto
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9712: Blogoterapia (205): O Cateterismo de Deus (Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P9717: Parabéns a você (403): Jorge Canhão, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 e Miguel Pessoa, Coronel Pilav (R)
Para acederem aos postes dos camaradas Jorge Canhão e Miguel Pessoa, clicar nos seus nomes
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9713: Parabéns a você (402): Fernando Manuel Belo, ex-Soldado Condutor Auto da 3.ª CCAV/BCAV 8323 (Guiné, 1973/74)
domingo, 8 de abril de 2012
Guiné 63/74 - P9716: In Memoriam (116): O senhor Luís Henriques (pai do nosso editor Luís Graça), faleceu hoje, dia 8 de Abril de 2012, aos 91 anos, na Lourinhã (Tertúlia)
Morreu o senhor Luís Henriques (1920-2012)
Estava muito debilitado desde há alguns dias. Seu filho Luís Graça, fundador e editor principal do nosso Blogue, há dias que esperava este triste desenlace.
Já num poema publicado no dia 19 de Março no nosso Blogue*, dizia Luís Graça, naquela que seria a sua última homenagem pública a seu pai:
[...]
Meu pai,
Meu velho,
Meu camarada…
Sinto que estás a chegar ao fim,
Sinto que estás a desistir,
Sinto que estás com poucas ganas de lutar
Contra o inexorável fim…
[...]
Porque todos os dias são dias para nascer e morrer, quis a vida que o senhor Luís Henriques se despedisse dela no dia da Ressurreição de Cristo. Paz à sua alma.
Numa simples mas sincera homenagem ao senhor Luís Henriques, aqui ficam umas quantas fotos que lembram momentos marcantes da sua vida:
Luís Henriques, ex-1.º Cabo Inf nº 188/41, do 1.º Pelotão/3.ª Companhia do Batalhão do Regimento de Infantaria 5, expedicionário na cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde, 1941/43 (Vd. aqui o poste P4059, com uma seleção das suas memórias desse tempo)
Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Em 18/5/43, junto às flores pois o mês indica ser primavera. Os 3 sinceros amigos são fotografados como recordando a sua expedição em C. Verde: António, José e Luís. Lazareto, S. Vicente".
Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Luís Henriques em 10 de Maio de 1942. Na praia do Monte Branco, Lazareto, S. Vicente".
No dia do seu casamento com a senhora D. Maria da Graça, na Lourinha, em 2 de Fevereiro de 1946
Lourinhã, 1947 > O senhor Luís Henriques com sua esposa D. Maria da Graça que tem ao colo o filho primogénito de ambos, Luís Manuel da Graça Henriques
Dois instantâneos recentes do senhor Luís Henriques que hoje partiu para outra dimensão, mas que certamente estará sempre presente nos corações dos seus familiares mais próximos.
Em nome da tertúlia, o editor de serviço envia as sentidas condolências ao nosso querido amigo Luís Graça, às suas três irmãs irmãs e demais familiares.
Embora, infelizmente, a senhora D. Maria da Graça, de 89 anos, pouco se aperceba da realidade que a rodeia, mandamos-lhe um respeitoso e sentido beijinho pelo desaparecimento do seu companheiro de vida.
Para quem puder e quiser prestar uma última homenagem ao pai do nosso enlutado camarada e amigo Luís Graça, o funeral do senhor Henriques será amanhã, dia 9 de Abril, na Lourinhã pelas 14h30.
Para consultar todos os postes referentes ao senhor Luís Henriques, cuja memória queremos honrar também na nossa Tabanca Grande, clicar aqui.
Vd. também a série Meu pai, meu velho, meu camarada, de que já se publicarm cerca de 3 dezenas de postes.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9628: Meu pai, meu velho, meu camarada (25): Bo vida ta na balança... (Luís Graça)
Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9699: In Memoriam (115): A CART 3494 do BART 3873 está de luto, pelo falecimento do Fur Mil Inf Raul Magro de Sousa Pinto (Sousa de Castro)
Guiné 63/74 - P9715: Agenda cultural (194): Lançamento do livro de Joaquim Mexia Alves, Orando em Verso, dia 14 de Abril de 2012, pelas 15 horas no Pavilhão do Museu Joaquim Correia, na Marinha Grande
CONVITE
O nosso camarigo Joaquim Mexia Alves convida a Tertulia a assistir ao lançamento do seu livro "Orando em verso", a ter lugar no dia 14 de Abril de 2012 na Marinha Grande. A apresentação da obra estará a cargo do Prof. Mário Pinto:
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9709: Agenda cultural (193): Seminário Guerra de África - Actividade Militar (1961-1974), dias 12 e 13 de Abril de 2012 no Instituto de Estudos Superiores e Militares, em Lisboa (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P9714: Memória dos lugares (179): Eu e o João Barge na Ponte Balana, em dezembro de 1968 (Hugo Guerra)
Guiné > Região de Tombali > Ponte Balana > Dezembro de 1968 > Da esquerda para a direita, os Alf Mil Hugo Guerra e João Barge (1945-2010), com os respetivos "lavadeiros"...
Foto: © Hugo Guerra(2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. Mensagem de Hugo Guerra (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70, hoje Cor DFA reformado), com data de 4 do corrente:
Caro Luís:
Só há dias fiquei a saber que existia um Cancioneiro de Gandembel e que um dos seus autores seria o João Barge, grande companheiro de abrigo em Ponte Balana onde ambos nos encontrávamos com os respectivos Pel Caç Nat no final de 1968 e até à retirada, para outros ares menos poluídos.
Eu fiquei na Chamarra e ele acompanhou a CCAÇ 2317 e, como não o voltei a ver antes de 2000, e na altura não falamos disso, continuei na ignorância.
Na foto que junto, estamos os dois na Ponte Balana com "as nossas lavadeiras", dois rapazes que já acompanhavam o meu Pelotão quando eu aportei a Gandembel.
Tinham algumas missões espinhosas, nomeadamente a de tentar manter com algum ar os colchões de borracha onde tentávamos dormir,tarefa inglória porque os buracos de estilhaços eram muito mais do que os poucos remendos que conseguíamos sacar aos amigos da ferrugem.
Levavam cerca de meia hora a assoprar para que os "alferos" tivessem cinco minutos de consolo... O resto das noites eram passadas com os ossos em cima dos cunhetes de munições.
Um abraço do
Hugo Guerra
__________________
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9625: Memória dos lugares (178): Sobre a ponte da estrada Canchungo - Cacheu, ao Km 6 (Carlos Schwarz/Pepito)
Último poste da série > 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9625: Memória dos lugares (178): Sobre a ponte da estrada Canchungo - Cacheu, ao Km 6 (Carlos Schwarz/Pepito)
sábado, 7 de abril de 2012
Guiné 63/74 - P9713: Parabéns a você (402): Fernando Manuel Belo, ex-Soldado Condutor Auto da 3.ª CCAV/BCAV 8323 (Guiné, 1973/74)
Vd. postes de Fernando Belo clicando aqui
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9706: Parabéns a você (401): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1971/73)
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Guiné 63/74 - P9712: Blogoterapia (205): O Cateterismo de Deus (Joaquim Mexia Alves)
1. Aquando de um exame médico a que foi submetido, o nosso camarada Joaquim Mexia Alves publicou no seu Blogue "Que é a Verdade?" um texto intitulado "O Cateterismo de Deus" que deixámos propositadamente para publicar nesta época da Páscoa no nosso Blogue.
Nestes últimos dois dias, (regressei há pouco a casa), por causa de algumas “suspeitas” com a minha saúde, tive de fazer um cateterismo no hospital.
Retirado daqui: http://hmsportugal.wordpress.com/2011/05/20/sabe-o-que-e-o-cateterismo-cardiaco/
Marinha Grande, 7 de Março de 2012
JMA
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9667: Blogoterapia (204): Não tenho palavras para agradecer o calor que trouxeram ao meu coração (Joaquim Mexia Alves)
O CATETERISMO DE DEUS
Nestes últimos dois dias, (regressei há pouco a casa), por causa de algumas “suspeitas” com a minha saúde, tive de fazer um cateterismo no hospital.
Um
cateterismo, em palavras muito simples, é um exame médico, que também
pode servir de tratamento, e que é, “grosso modo”, a introdução de um
cateter numa veia para poder examinar o estado das artérias, bem como do
coração.
Para
além do exame, por contraste, esse mesmo cateter também pode introduzir
medicamentos onde necessário e desobstruir os vasos sanguíneos que
possam estar de alguma forma obstruídos, pelas “gorduras”, etc.
Que
me perdoem os profissionais de saúde pela explicação “bacoca”, mas o
meu fim não é explicar o que é um cateterismo, mas sim a reflexão que
fiz sobre o que o Espírito Santo me quis “dizer” acerca de tal facto na
minha vida.
E
perdoem-me também os conceitos que possam envolver a medicina no
seguimento do texto, mas que são apenas para fazer a analogia que me foi
suscitada pela minha reflexão.
Podemos
então entender que o cateterismo, ao servir para “examinar, tratar e
curar” o que possa estar mal no coração, bem como em todo o processo de
afluxo sanguíneo no corpo humano, acaba por “tocar” todas as vertentes
do mesmo, visto que nenhum órgão pode viver sem o sangue que lhe dá
vida.
Temos
no nosso corpo vários sistemas, dos quais saliento o sanguíneo e o
nervoso, por serem aqueles que, de uma forma simplista, mais tocam toda a
nossa existência.
Tenho
então para mim, que temos também um “sistema espiritual”, e que esse
sim, toca toda e qualquer parte do nosso corpo, porque é aquele que nos
faz exactamente o que somos e como somos, «feitos à imagem e semelhança
de Deus», ou seja, a presença de Deus em nós é no todo que nós somos, e
não apenas numa parte específica do nosso corpo.
Ora,
se para tratar do coração e do nosso sistema sanguíneo Deus deu ao
homem a capacidade de descobrir o cateterismo, sem dúvida que Deus
também tem para o homem um “tratamento” para o seu “sistema espiritual”!
E é claro que tem e todos nós o conhecemos muito bem, pois chama-se Confissão.
Para
fazermos um cateterismo, temos que ir ao hospital, colocarmo-nos nas
mãos de um médico, e disponibilizarmo-nos para receber o tratamento,
para além de nos comprometermos a seguir as indicações do médico quanto à
nossa vida futura, o que por vezes irá implicar alguns sacrifícios de
mudança de vida, no que diz respeito a hábitos alimentares, de
comportamento, etc.
Para
recebermos o “cateterismo de Deus”, a Confissão, temos que nos dirigir à
Igreja, (e não me refiro a um edifício), colocarmo-nos nas mãos de um
sacerdote, aceitarmos o perdão que nos é dado e fazermos um firme
compromisso, um firme propósito de emenda, que também nos irá exigir
vigilância contínua e o desistirmos de algumas práticas mundanas que põe
em causa os efeitos perenes do “tratamento”.
No
cateterismo, o cateter percorre o “sistema sanguíneo”, até ao coração,
(“fonte” do nosso sangue/vida), tudo examinando para descobrir problemas
que possam existir, e, se for necessário, vai deixando o medicamento
apropriado para curar, tratando o que é necessário tratar.
Podemos
então reflectir que na Confissão, o cateter é o amor de Deus, que
percorrendo o nosso “sistema espiritual” nos vai fazendo examinar a nós
próprios, até chegarmos ao coração, receptáculo e fonte do amor de Deus.
Perante
a evidência de alguma “doença”, (rancor, falta de perdão, vícios
vários, etc.), é necessário o “medicamento” apropriado, pelo que, o amor
de Deus, (o cateter da Confissão), leva o perdão a todos os pontos
doentes de modo a que, libertos do mal que os envolvia, possam então
cumprir a sua missão de, (fazendo o homem completo), ser testemunhas do
amor de Deus.
Tal
como no seguimento de um cateterismo é necessário que a pessoa tome
muito cuidado com o modo de viver no seu futuro, também após a Confissão
o homem deve ficar vigilante e fugir do pecado, resistindo-lhe com
todas as armas que Deus lhe der.
Obviamente
que as diferenças entre um cateterismo e a Confissão são imensas, (não
são aliás comparáveis), mas este texto serve apenas para meditarmos mais
um pouco neste tempo de Quaresma, (como se fossemos ao hospital fazer o
tal cateterismo!), e por isso mesmo gostaria de salientar pelo menos
duas dessas diferenças:
O
cateterismo tem sempre, apesar de tudo, um risco para a saúde do
doente, e até alguns possíveis efeitos secundários, por força da
“invasão” a que sujeita o paciente, bem como, não pode ser repetido
demasiadas vezes ou muito frequentemente.
A
Confissão não tem qualquer risco para a saúde espiritual, mental ou
física do homem, (antes pelo contrário), não tem quaisquer efeitos
secundários que não sejam bons, (até porque nunca se trata de uma
“invasão”, mas de uma aceitação), pode ser repetida sempre e até o deve
ser muito frequentemente.
O
cateterismo, embora muito bem feito e com todas as condições, pode não
resultar, e o doente ter que ser sujeito a outros tratamentos mais
complicados e perigosos.
A
Confissão bem celebrada alcança sempre o melhor resultado, pela graça
de Deus, e o homem fica totalmente curado, até que, por sua exclusiva
vontade, volte a pecar.
E
no mundo tão materialista em que vivemos, ainda podemos perceber que,
enquanto o cateterismo tem custos financeiros para o doente e para o
estado, a Confissão é fruto gratuito do “imensamente” infinito amor de
Deus.
Por
isso mesmo, preparei o cateterismo que fui fazer, com uma prévia
Confissão, pois de uma coisa tenho a certeza: o “cateterismo de Deus”
não falha, e por Sua graça, alcança-me a salvação.
Deus seja louvado!
Nota:
«O
cateterismo cardíaco é um procedimento no qual é inserido um pequeno
tubo (cateter) através de um grande vaso sanguíneo no braço ou na perna,
que, em seguida, é dirigido até ao coração. Os médicos utilizam o
cateter para medir a pressão e os níveis de oxigénio dentro das câmaras
cardíacas e, assim, avaliar o funcionamento do coração. Através do
cateter, os médicos podem igualmente injectar um corante especial que
proporciona uma imagem radiológica da estrutura interna do coração e dos
padrões de fluxo de sangue. Em alguns doentes, o corante radiológico é
igualmente injectado nas artérias coronárias para identificar áreas que
se tornaram estreitadas, procedimento denominado angiografia coronária.
Os
cateteres cardíacos podem ser utilizados para transportar instrumentos
cirúrgicos especiais até ao coração, possibilitando abrir artérias
coronárias estreitadas (um procedimento denominado angioplastia
coronária) ou corrigir determinados defeitos cardíacos congénitos (de
nascença) nas crianças.»
Marinha Grande, 7 de Março de 2012
JMA
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9667: Blogoterapia (204): Não tenho palavras para agradecer o calor que trouxeram ao meu coração (Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 – P9711: Tabanca Grande (328): António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf do BCAÇ 2930, Catió e Quartel General, Bissau (1972/74)
1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, (1972/74), com data de 1 de Abril de 2012:
Camarada Luís
Venho pedir com humildade que me aceitem para fazer parte do vosso blogue pois ando há cerca de dois anos a lê-lo e nunca tive coragem para me alistar neste batalhão.
Hoje, depois de ler o comunicado do dia 1 de abril fiz um comentário ao mesmo. Tinha quase a certeza de que era mentira mas mesmo assim fi-lo. Agora que fui descoberto pelos amigos, que estou a mercê de ser tiroteado ou de um golpe de mão, dou a cara, e que façam justiça, mas por favor peço que me poupem a vida. Já que na Guiné nada me aconteceu e andando pelo mundo me tenho defendido razoavelmente, não queria morrer nas mãos amigas.
Camarada Luís, não cumpro com todos os requisitos para poder ingressar no blogue porque de momento não tenho scaner para poder mandar as fotos, mas prometo que no mais breve espaço de tempo cumprirei a dívida e para que não haja dúvidas a meu respeito aqui vai a minha identificação e alguns pormenores das minhas férias na Guiné.
Sou António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf
Pertenci ao BCAÇ 2930 e estive em Catió.
Fui de rendição individual substituir o 1.º Cabo Coelho que foi apanhado num golpe de mão na pista de Catió.
Fui para a Guiné em 26 de fevereiro de 1972 e regressei a 16 de março de 1974.
Como disse antes, fui para Catió e quando o Batalhão regressou à metrópole fiquei em Brá nos Adidos, sendo posteriormente colocado no Quartel General. na 1.ª Repartição - Secção de colocação de oficiais, onde estava o Major Mota Freitas e o Alferes Moutinho de quem guardo muitas e boas recordações e de quem não mais voltei a saber nada. Também estavam lá o Primeiro Sargento Martins, o Furriel Freitas, o Cabo Castanheira (desenhador) e um fascina, o Soldado Montoia, bom amigo também.
Camarada, contarei mais coisas porque a minha vida na Guiné foi fértil. Posso adiantar que estava ao mesmo tempo que eu na Guiné o meu irmão Jaime, que é mais velho do que eu um ano. Dele falarei noutra oportunidade assim como da minha mulher que mandei ir para lá quando fui colocado no QG, tinha ela apenas 17 anitos. Enviarei fotos como prova, pois vivíamos ao lado do Bar Arganilense, em frente ao edifício do Sindicato.
Camarada como te disse antes, a minha vida na Guiné foi muito fértil e haverá tempo para contar-te. Por hoje vou cumprir com parte do que tenho que pagar que é uma pequena historia.
No ano de 1972, pelo Natal, estando eu colocado no QG, o Chefe de Repartição era o Major Mota Freitas que estava incumbido de preparar a festa de natal para os oficiais e familiares.
Ao chegar à Repartição chamou ao 1.º Cabo desenhador Castanheira e pediu-lhe para fazer de Pai Natal para os filhos dos oficiais, ao que este respondeu que não. De seguida chamou o soldado fascina Montoia e recebeu a mesma resposta. Quando chegou a minha vez respondi afirmativamente. Seguidamente chamou o Castanheira e o Montoia e ordenou que naquela tarde estariam os dois de castigo de serviço na repartição os dois castigados. Eu pensei para comigo que daquela me tinha livrado.
Perguntei ao Major Mota Freitas se podia levar a minha mulher comigo uma vez que ela estava em Bissau. Ele sabia, mas eu por diferença de estatuto nunca havia tido essa conversa com ele. Respondeu que sim, que levasse a minha mulher e que fosse vestido à civil que ele logo me arranjaria uma farda, mas de Pai Natal. Verdade se diga que a minha mulher e o Alferes Moutinho me mascararam muito bem, estava irreconhecível. Gostei da experiência e foi para mim um gosto pois passei uma tarde linda, diferente e irrepetível. A dada altura dirigiu-se a mim o Chefe do Estado Maior, Cor Henrique Gonçalves Vaz, com muita cordialidade e educação, estando eu vestido de Pai Natal, me perguntou quem era eu, e eu fazendo que não havia percebido a pergunta, lhe respondi que era o Pai Natal. Ele sorriu e disse-me:
- Não essa a resposta que eu quero, quem és tu na vida militar?
Então com a mesma educação com que se havia dirigido a mim, mas sem qualquer vénia militar lhe respondi correctamente quem era, o que ele me agradeceu. Fez-me mais algumas perguntas e desejou-me um Feliz Natal.
Depois foi a saída para junto da piscina e a entrega das prendas aos filhos dos oficiais, que correu como eu pude. Era a primeira vez que estava diante de um microfone mas como se diz na tropa, desenrasquei-me.
Terminada a entrega de prendas foi a vez de ir para a mesa, mas como eu como estava à civil, quero dizer, mascarado de novo, ninguém me conhecia a não ser o Major Mota Freitas e o Alferes Moutinho que muito me apoiou para eu me integrar no convívio. Comemos alguma coisa sem restrições, mas quando vi que era a hora apropriada, retirei-me pela calada com a minha mulher.
É esta a minha historia.
2. Comentário de CV:
Caro camarada António Melo, sê bem-vindo à Tabanca Grande. Recebe desde já um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
Começaste a narrar as tuas memórias com uma história passada em Bissau e num tempo que noutras circunstâncias seria de paz, a quadra natalícia. No papel de Pai Natal fizeste feliz algumas crianças que até certo ponto viviam a tensão de uma guerra, porque Bissau ficava quase à porta do conflito que se fazia sentir naquela província. Outras terás, como por exemplo os encontros programados ou ocasionais com os teus conterrâneos que, vindos da metrópole, passavam por Bissau a caminho do mato ou o contrário.
Pelas minhas contas deves ter estado cerca de 10 meses em Catió, espaço de tempo em que terás vivido algumas situações que poderás contar neste Blogue.
Quando tiveres digitalizador manda as tuas fotos para publicarmos, algumas das quais poderão servir para ilustrar as tuas histórias.
Termino desejando para ti e para os teus uma boa Páscoa com saúde e em família.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9694: Tabanca Grande (327): José Carlos Santos Pimentel, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 2401/BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70)
Camarada Luís
Venho pedir com humildade que me aceitem para fazer parte do vosso blogue pois ando há cerca de dois anos a lê-lo e nunca tive coragem para me alistar neste batalhão.
Hoje, depois de ler o comunicado do dia 1 de abril fiz um comentário ao mesmo. Tinha quase a certeza de que era mentira mas mesmo assim fi-lo. Agora que fui descoberto pelos amigos,
Camarada Luís, não cumpro com todos os requisitos para poder ingressar no blogue porque de momento não tenho scaner para poder mandar as fotos, mas prometo que no mais breve espaço de tempo cumprirei a dívida e para que não haja dúvidas a meu respeito aqui vai a minha identificação e alguns pormenores das minhas férias na Guiné.
Sou António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf
Pertenci ao BCAÇ 2930 e estive em Catió.
Fui de rendição individual substituir o 1.º Cabo Coelho que foi apanhado num golpe de mão na pista de Catió.
Fui para a Guiné em 26 de fevereiro de 1972 e regressei a 16 de março de 1974.
Como disse antes, fui para Catió e quando o Batalhão regressou à metrópole fiquei em Brá nos Adidos, sendo posteriormente colocado no Quartel General. na 1.ª Repartição - Secção de colocação de oficiais, onde estava o Major Mota Freitas e o Alferes Moutinho de quem guardo muitas e boas recordações e de quem não mais voltei a saber nada. Também estavam lá o Primeiro Sargento Martins, o Furriel Freitas, o Cabo Castanheira (desenhador) e um fascina, o Soldado Montoia, bom amigo também.
Camarada, contarei mais coisas porque a minha vida na Guiné foi fértil. Posso adiantar que estava ao mesmo tempo que eu na Guiné o meu irmão Jaime, que é mais velho do que eu um ano. Dele falarei noutra oportunidade assim como da minha mulher que mandei ir para lá quando fui colocado no QG, tinha ela apenas 17 anitos. Enviarei fotos como prova, pois vivíamos ao lado do Bar Arganilense, em frente ao edifício do Sindicato.
Camarada como te disse antes, a minha vida na Guiné foi muito fértil e haverá tempo para contar-te. Por hoje vou cumprir com parte do que tenho que pagar que é uma pequena historia.
No ano de 1972, pelo Natal, estando eu colocado no QG, o Chefe de Repartição era o Major Mota Freitas que estava incumbido de preparar a festa de natal para os oficiais e familiares.
Ao chegar à Repartição chamou ao 1.º Cabo desenhador Castanheira e pediu-lhe para fazer de Pai Natal para os filhos dos oficiais, ao que este respondeu que não. De seguida chamou o soldado fascina Montoia e recebeu a mesma resposta. Quando chegou a minha vez respondi afirmativamente. Seguidamente chamou o Castanheira e o Montoia e ordenou que naquela tarde estariam os dois de castigo de serviço na repartição os dois castigados. Eu pensei para comigo que daquela me tinha livrado.
Perguntei ao Major Mota Freitas se podia levar a minha mulher comigo uma vez que ela estava em Bissau. Ele sabia, mas eu por diferença de estatuto nunca havia tido essa conversa com ele. Respondeu que sim, que levasse a minha mulher e que fosse vestido à civil que ele logo me arranjaria uma farda, mas de Pai Natal. Verdade se diga que a minha mulher e o Alferes Moutinho me mascararam muito bem, estava irreconhecível. Gostei da experiência e foi para mim um gosto pois passei uma tarde linda, diferente e irrepetível. A dada altura dirigiu-se a mim o Chefe do Estado Maior, Cor Henrique Gonçalves Vaz, com muita cordialidade e educação, estando eu vestido de Pai Natal, me perguntou quem era eu, e eu fazendo que não havia percebido a pergunta, lhe respondi que era o Pai Natal. Ele sorriu e disse-me:
- Não essa a resposta que eu quero, quem és tu na vida militar?
Então com a mesma educação com que se havia dirigido a mim, mas sem qualquer vénia militar lhe respondi correctamente quem era, o que ele me agradeceu. Fez-me mais algumas perguntas e desejou-me um Feliz Natal.
Depois foi a saída para junto da piscina e a entrega das prendas aos filhos dos oficiais, que correu como eu pude. Era a primeira vez que estava diante de um microfone mas como se diz na tropa, desenrasquei-me.
Terminada a entrega de prendas foi a vez de ir para a mesa, mas como eu como estava à civil, quero dizer, mascarado de novo, ninguém me conhecia a não ser o Major Mota Freitas e o Alferes Moutinho que muito me apoiou para eu me integrar no convívio. Comemos alguma coisa sem restrições, mas quando vi que era a hora apropriada, retirei-me pela calada com a minha mulher.
É esta a minha historia.
2. Comentário de CV:
Caro camarada António Melo, sê bem-vindo à Tabanca Grande. Recebe desde já um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
Começaste a narrar as tuas memórias com uma história passada em Bissau e num tempo que noutras circunstâncias seria de paz, a quadra natalícia. No papel de Pai Natal fizeste feliz algumas crianças que até certo ponto viviam a tensão de uma guerra, porque Bissau ficava quase à porta do conflito que se fazia sentir naquela província. Outras terás, como por exemplo os encontros programados ou ocasionais com os teus conterrâneos que, vindos da metrópole, passavam por Bissau a caminho do mato ou o contrário.
Pelas minhas contas deves ter estado cerca de 10 meses em Catió, espaço de tempo em que terás vivido algumas situações que poderás contar neste Blogue.
Quando tiveres digitalizador manda as tuas fotos para publicarmos, algumas das quais poderão servir para ilustrar as tuas histórias.
Termino desejando para ti e para os teus uma boa Páscoa com saúde e em família.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9694: Tabanca Grande (327): José Carlos Santos Pimentel, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 2401/BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70)
Guiné 63/74 - P9710: Nós da memória (Torcato Mendonça) (19): Pare, Escute e Olhe
Mansambo > Monumento aos mortos da CART 2339
1. Texto do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória", enviado em mensagem do dia 26 de Março de 2012:
NÓS DA MEMÓRIA - 19
(…desatemos, aos poucos, alguns…)
Pare, Escute e Olhe
Placa do passado em aviso ao perigo do comboio que se aproximava e tudo à frente levava.
Pare, clique no “rato” e leia. Aí vêm as letras, as frases e mais frases atreladas como se um comboio fosse. Tudo atropelam, tudo à frente levam.
Paro, releio e penso. Penso mas nada digo, nada comento. Para quê e porquê? São outros saberes ditos, melhor, escritos. O meu intelecto não os domina. Terá sido sempre assim? Talvez não. É a degradação dos neurónios que penso ter dentro da cabeça.
Mas voltemos às letras, às frases e mais frases atreladas em enorme sapiência, a aconselharem, criticarem, informarem, louvarem, bajularem, denegrirem, corrigirem e muito mais. São frases de arremesso, de alívio, de ego ofendido ou de sua ausência. Talvez ausência. Porque o dito aumentou, inchou, avolumou e, não rebentando se derramou em pastosa mancha.
Pare, escute e olhe.
Não! Por favor, não. Não pare, não escute, não olhe. Deixe-se ir devagar. Tente parar a máquina enorme, hoje quase silenciosa no seu deslizar. Deixe-se ir e, pela frente dela, ser levado. Mal ouvirá o apito premido freneticamente pelo condutor aflito. Menos ouvirá o baque e o “frenar guinchante” de metal sobre metal. Tudo pára… então… Então que foi? Foi aquele fulano que… Sei. Conhecia… sujeito vaidoso do seu saber e a pouco entender.
Nem agora, nem agora a não compreender que era o comboio das dezoito e dez… Teimoso! Desculpe. Teimoso não. Um pensador e, como tal, um ser distraído. Pois, pois… foi-se. Feliz… mente…
Mansambo > Torcato Mendonça e Sargento Baldé
Na Guiné havia comboios? Não! As gentes andavam por estradas, picadas e trilhos. Com mais segurança andavam, quando se deslocavam por rios grossos e outros mais finos mas todos entrelaçados. Nas marés cheias a Guiné encolhia. O macaréu era onda forte a subia rapidamente, tudo enchia e a terra rapidamente diminuía, por aqueles rios, afluentes e sub afluentes.
Como os neurónios… como os neurónios… Como quê? Neurónios. Bolas o tipo teve um curto-circuito.
That’s possible.
É possível?
É possível porr…a.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9697: Nós da memória (Torcato Mendonça) (18): O Dia - Fotos falantes IV
Guiné 63/74 - P9709: Agenda cultural (193): Seminário Guerra de África - Actividade Militar (1961-1974), dias 12 e 13 de Abril de 2012 no Instituto de Estudos Superiores e Militares, em Lisboa (Mário Beja Santos)
1. Em mensagem do dia 5 de Abril de 2012, o nosso camarada Mário Beja Santos deu-nos notícia do Seminário Guerra de África - Actividade Militar (1961-1974) a decorrer nos dias 12 e 13 de Abril de 2012 no Instituto de Estudos Superiores Militares, Rua de Pedrouços - Lisboa.
OBS: - Clicar nas imagens para permitir a leitura dos textos.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9687: Agenda cultural (192): Aqui em baixo tudo é simples... Com os Melech Mechaya (hoje, em Lisboa, no Cinema São Jorge, às 21h30)
C O N V I T E
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9687: Agenda cultural (192): Aqui em baixo tudo é simples... Com os Melech Mechaya (hoje, em Lisboa, no Cinema São Jorge, às 21h30)
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