1. Mensagem de Natal do nosso camarada Hélder Sousa, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche eBissau, 1970/72:
Caros amigos Editores
Em anexo envio-vos um texto diferente do costume mas que pretende, ao meu modo, comemorar a 'época festiva' que vivemos e, ao mesmo tempo, referir-me à vida do nosso Blogue.
Desejo, muito sinceramente, que consigamos resistir ao temporal que se avizinha ameaçador e que se ganhem forças para enfrentar os próximos tempos.
Por isso, apenas deixo aqui expresso o meu desejo que se tenham umas "Festas Felizes".
Abraços
Hélder Sousa
Mercado do Livramento em Setúbal
“A PEDRA DA ODETE”
Nesta época é costume enviar-se votos de “Bom Natal”, “Festas Felizes” e desejar um “Bom Ano Novo”. Mas, sinceramente, dadas as circunstâncias e os tempos que se vivem, não me sinto muito identificado com esse ‘espírito’, pelo que então resolvi fazê-lo à minha maneira, ao mesmo tempo que procurarei reportar-me ao nosso Blogue e às coisas que lhe estão inerentes.
“Está bem” - dirão alguns dos atentos vigilantes da estrita observância dos ‘pressupostos’ do Blogue – “mas o que é que isso tem a ver com o título? Certamente que não terá nada a ver”…
Bem, entre o “não ter nada a ver” e o ter “tudo a ver” há um vasto terreno onde as coisas se podem encaixar e com certeza que alguma coisa se arranjará.
Comecemos então por explicar o que é isso da “Pedra da Odete”.
Acho que será comum aos vários Mercados existentes nas nossas povoações que os espaços em que se apresentam os artigos para venda estejam organizados, normalmente divididos nos locais de venda de carne e derivados (os talhos, charcutarias e similares), os espaços para venda de frutas e legumes, genericamente referidos como ‘bancas’ e os locais de venda de peixe, que aqui em Setúbal se chamam de ‘pedras’ tendo como referência o facto de ser em pedra mármore ou outra do género que os diferentes vendedores utilizam para a exposição dos seus produtos.
À data da minha vinda para Setúbal e até finais dos anos 90 ensinaram-me que o melhor local para comprar peixe, sempre de qualidade garantida, era numa banca de venda de peixe, uma “pedra”, que era dum casal simpático, o Reinaldo, que tratava de comprar o melhor, e a Odete, que tratava de nos vender. Se se queria bom goraz, peixe-espada, pescada, sargo, sardinha, besugo, ‘massacote’, carapau-manteiga, etc., era certo e sabido que se ia à “Pedra da Odete”.
E tanto assim era que se chegavam a fazer 5 linhas de fila a seguir à frente da ‘pedra’, o que representava uma pequena multidão de, às vezes, 20 a 25 pessoas. Nessas circunstâncias gastava-se algum tempo (compensado pela qualidade) e, ou se conversava com o vizinho de ocasião que se encontrava ao lado (conhecido ou não), ou se ia ouvindo (sem querer, ou por distração) as conversas que outros iam fazendo atrás de nós. Conversas sobre a vida, das empresas, da política, do Governo, do Mundo. Manda o decoro que não se seja bisbilhoteiro e por isso raramente se olhava para trás e deste modo quase sempre se ignorava a identificação de quem falava ou dizia o quê.
Tendo isto em atenção era perfeitamente corrente que quando na empresa onde trabalhava se ‘ouvia dizer’ que ia acontecer ‘isto e aquilo’, que já se sabia o patrão preparava ‘esta ou aquela acção’, se alguém perguntava, ‘como é que soubeste?’ a resposta invariável era “ouvi na Pedra da Odete” e, já se sabe, era impossível descortinar o autor da ‘informação’.
"Pedra" de venda de peixe no Mercado do Livramento em Setúbal
Pois, nestes dias, ocorreu uma coisa interessante: voltei à “Pedra da Odete” (agora explorada pela filha do casal) e voltaram a acontecer conversas significativas….
Então não é que havia atrás de mim quem estivesse a conversar, coisa que ao princípio não liguei mas depois fiquei atento, porque falavam do Blogue?!
Eram talvez três, ou mais, que falavam. Dois deles, um com voz cavernosa e outro com uma voz melíflua, sibilina, diziam, ditavam, sentenciavam, à vez, que o “Blogue do Graça”, o “foranada”, “tinha os dias contados”, que “estava a definhar”, que “estava ferido por dentro”, que “as intrigas tinham surtido efeito”, que “as campanhas de intimidação, de maledicência, de deturpação de conteúdos, de processos de intenção, tinham minado o suficiente para afastar contributos”. Diziam que “havia menos comentários” (como se isso tivesse sido um critério desde sempre), diziam que “havia abandonos, deserções, afastamentos ostensivos”, que “o tema estava esgotado”.
Parecia até que aquilo tudo, mais do que uma sentença, correspondia a um desejo…
Um outro, um terceiro personagem, lá foi argumentando que “não senhor, o tema não está esgotado, as memórias da guerra vão perdurar”, que “o espólio já conseguido vai permitir recuperar essa memória mas que ainda há bastante para aparecer”. Que “se alguns dos contributores iniciais não se têm feito notar, apareceram mais uns quantos com novos relatos, novas memórias, casos por exemplo das “
histórias do Cifra” e dos relatos dos “
melhores 40 meses da vida” de um jovem militar português”. E que o Vasco da Gama e o Mexia Alves tomaram a iniciativa de remeter para o Blogue, para publicação, textos, com reflexões suas, bastante oportunos. Que os comentários de apoio surgiram em grande número e até de leitores que normalmente não são interventores.
Fiquei muito satisfeito! Foi uma boa “prenda de Natal”! Afinal, os detractores tiveram o tiro pelo culatra, o ‘povo do Blogue’ uniu-se mais e certamente irá fortalecer-se.
E mais satisfeito ainda fiquei quando ouvi ‘outro alguém’ dizer que para o ano é capaz de haver uma ou duas conferências geradas a partir do Blogue sobre o alegado “esgotado” tema da guerra de África.
Não sei se será verdade ou não, mas lá que ouvi na “Pedra da Odete”, isso sim e costumava ‘bater certo’!
Portanto, caros amigos, aqui está como a “Pedra da Odete” tem a ver com a época pois foi lá, agora, por estes dias, que ouvi o que ouvi e tem a ver com o Blogue, com todo o assunto acima indicado. Tinha ou não razão quando escrevi que haveria de se encaixar?...
Um abraço para toda a Tabanca!
E “Festas Felizes”
Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2012 >
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