quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11027: Blogoterapia (222): Agradecendo os vossos mimos, as guloseimas (para a alma), em dia de aniversário com capicua... (Luís Graça)



Vídeo (2' 14'') > Lisboa > Mouraria > Quarta edição do Festival TODOS – Caminhada de Culturas 2012 > Terraço da Casa dos Amigos do Minho, R do Benformoso, nº 244 > 14 de setembro de 2012, 20h00 - 22h00 > Festa de abertura com a atuação dos Guents Dy Rincon (*). 

Vídeo: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


Reproduz-se aqui, com a devida vénia (a todos os participantes, a começar pelos músicos), um momento, muito bonito, deste convívio musical intercultural, numa das "aldeias" da Lisboa desconhecida para muitos lisboetas, habitantes, forasteiros, passantes, transeuntes, caminhantes,  enfim,  turistas apressados, que é a Rua do Benformoso e a lendária Casa dos Amigos do Minho...  Nesta rua vivem, trabalham, respiram, transpiram, passam, muitas centenas de pessoas das cerca de 30 etnias que residem na zona do Martim Moniz / Intendente / Mouraria, e onde decorre todos os anos, desde 2009,  o Festival Todos - Caminhada de Culturas, de que sou fã...

Este vídeo (em que se ouve e se dança um funaná para todas as idades, pesos e medidas!) é uma forma, singela, modestíssima, de retribuir os mimos, as guloseimas (para a alma), que me deram, ontem,  em dia de aniversário, os meus muitos amigos e camaradas com que me orgulho de contar aqui, e que convivem comigo à sombra do mágico e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. Em dia de aniversário, ainda para mais com capicua (, ou seja, número que se lê igualmente da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita e ao qual se atribui boa sorte)...

Das mensagens que me mandaram, através do nosso correio interno bem como dos comentários publicados  no poste P11021,  fui (re)pescar nomes e pequenos excertos que quero partilhar com todos os nossos leitores.

Os parabéns que me foram dirigidos vejo-os sobretudo como felicitações, em prosa ou em verso,  pela nossa obra comum, por este blogue e por tudo o que ele significa, para muitos de nós, portugueses, guineenses e outros que o fazem, que o editam, que o leem, que o comentam, que o divulgam... E também como um reforço adicional da nossa motivação (individual e coletiva) para prosseguir este projeto que é, primordialmente,  partilha de memórias (e de afetos) à volta da experiência de uma guerra e de uma terra, Guiné-Bissau, antiga colónia portuguesa. A todos/as fico muito grato.

(i) Recebe um abraço e os votos de muita saúde e boa disposição para levares em frente, e por muitos anos, esta tua tarefa de reunires ex-combatentes em teu redor (Carlos Vinhal);

(ii) Espero que tenhas muitos mais, e tenho a certeza que vais ter, porque tu mereces, pelo que tens feito pelos ex-combatentes da Guiné. Um até breve em Monte Real (José Manuel Cancela);

(iii) Que os futuros anos te continuem a proporcionar toda a saúde física e intelectual que desejares (Jorge Narciso);

(iv) Que tenhas saúde e muitos anos para comandar este Batalhão de Tabanqueiros (Agostinho Gaspar);

(v) Quero enviar-te um abraço, / Sincero, crê que o é,/ E agradecer-te teu espaço, / Onde se vive a Guiné (Manuel Maia);

(vi) Força para continuares a caminhada, para continuares a dar vida a esta grande casa da amizade e das lembranças (Felismina Mealha);

(vii) Comandante amigo, é um prazer para mim ter-te entre as pessoas que admiro e estimo (Zé Teixeira);

(viii) Manga de Ronco hoje, o chefe de tabanca faz anos.Muitos parabéns Luís, espero que tenhas saúde para continuares com estes atabancados (César Dias);

(ix) Que tenhas força, para continuar a nobilíssima missão em que te empenhaste (Vasco Pires);

(x) Que a alegria e o prazer, que proporcionas aos antigos combatentes e não só, quando repartes o teu blogue, te seja recompensada, um milhão de vezes mais! (Tony Borié):

(xi) O blogue agradece e eu também (Raul Albino);

(xii) Ao meu indefetível camarada e grande amigo Luís Graça, aqui, em Santa Maria da Feira, bato a pala e na posição de sentido, não num ritual militar mas sim num respeito e elevada consideração pelo homem que soube juntar os ex-Combatentes da Guiné numa grande e afetiva família (Rui Silva);

(xiii) Para o jovem Henriques e o velho Graça, a mesma Amizade! (Jorge Cabral);

(xiv) Um timoneiro jamais perde o rumo da sua navegação. Segue sempre na linha da frente. Força e um até breve (Zé Saúde);

(xv) Muita coragem (e paciência) para continuares a dar vida e a impulsionares este espaço que te ultrapassou, tenho a certeza (...). Produto de um esforço enorme. Pessoal (teu e dos incansáveis colaboradores directos) e também colectivo, já que o Blogue é a 'montra' dos trabalhos de tantos e tantos que colaboram com a sua participação. (Hélder Sousa);

(xvi) Parabéns para o Luís / Que faz versos a rigor. /Não sou só eu quem o diz: / Fá-los com Graça e amor! (Tó Zé Pereira);

(xvii) De Penafiel vai a palavra mágica que faz todo o sentido "Parabéns", neste dia (Joaquim Peixoto e Margarida);

(xviii) Gostaria também de albergar, nestes votos, a importante criação deste blogue e todo o conjunto daqueles que nele participam com rigor e paixão. (Mário A. Vasconcelos);

(xix) Parabéns ao menino Luis (Virgínio Briote);

(xx) Feliz Aniversário. Parabéns. Manga di Saúde para Bó. Longa Vida. Mantenhas. Alfa Bravo (Luís Borrega);

(xxi) Um grande abraço- igual ao que trocamos no dia 12 de julho de 2009 no palácio de cristal no Porto (A.Dias);

(xxii) Ainda com o meu navio cheio de água com o rombo, muito grande, que levou, aqui me apresento a dar-te um abraço de parabéns e desejar-te que continues com a tua obra que consegue juntar tanta malta ao teu redor na tua, nossa, Tabanca Grande. (Vasco A. R. da Gama);

(xxiii) Forte abraço para ti extensivo a todos que te acompanham, da Terra dos Bacalhaus Vivínhos do Aquário (Jorge Picado);

(xxiv) A avaliar pela quantidade (e qualidade) dos comentários que precedem este, é evidente que estás nomeado para cumprires muitas mais missões (José Câmara);

(xxv) Um dia em cheio, com muitos pecados, e que o champagne apresente muitas bolinhas em ascenção. E ainda te desejo muitas reincidências por muitos e felizes anos. [JD (Zé Manuel Dinis)]

(xxvi) Desejar parabéns depois do dia de aniversário não é chegar atrasado, é dar nas vistas e... desejar no princípio de um novo ano que continues por cá [jteix (Jorge Teixeira)];

(xxvi) E ainda muitos abraços, beijinhos e xicorações de parabéns de mais todos estes amigos e camaradas da Guiné, que se lembraram de mim (e não tinham nenhuma obrigação de se lembrar!), no dia dos meus 66 anos....

Abel Santos, Adriano Moreira, Amaral Bernardo, António Marques, António Melo, Berlarmino Sardinha, Carlos A. J.Pinto, Carvalho de Mampatá, Eduardo campos, Fernando Chapouto, Fernando Costa, Filomena, Henrique Cerqueira e Dulcineia (Ni), Henrique Matos, Hugo Guerra e Ema, J. Armando Almeida, JERO, João Manuel Félix Dias, Joaquim Mexia Alves, Joaquim Pinho, José Martins e Manuela, Juvenal Amado, Manuel Amaro, Manuel Carvalho, Manuel Marinho, Manuel Reis, Manuel Resende, Manuel Serôdio, Mário Miguéis, Miguel Pessoa e Giselda, Paulo Santiago, Rogério Cardoso, Torcato Mendonça, Valentim Oliveira, Vasco Ferreira, Veríssimo Ferreira. (**)

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Notas do editor:

(*) Sítio oficial MySpace > Guents dy Rincon > (... E porque tudo o que é lusofonia, divulgar é preciso!)

Autobio(grafia):

(i) A banda Guents dy Rincon define-se como um exército de pescadores multiculturais, pacíficos e pacifistas, sem armas mas com muita alma que zelam paulatinamente através das Belas Artes para um novo mundo emergente sem barreiras nem fronteiras;

(ii) Guents dy Rincon é um projecto world music que explora os diversos ritmos cabo-verdianos (Funana, Batuque, Coladeira, Finaçon, Morna, Mazurka, Samba, etc…), além das influências dos ritmos Afro-Latinos;

(iii) A Banda surgiu no inicio de 2007 através de Santos Cabral, cantor e compositor, originário da Ilha de Santiago Cabo Verde, que no inicio contou com o apoio de alguns amigos para levar adiante o seu projecto.;

(iv) Entre esses amigos do inicio estavam Eduardo Casal, percussionista Argentino, Marco Papain, acordeonista Francês e Maurício Lobão,  percussionista Brasileiro;

(v) A razão da escolha deste nome, Guents dy Rincon em crioulo cabo-verdiano, é pelo facto de Santos Cabral que é originário do concelho de Santa Catarina cujo centro é a cidade da Assomada da qual Rincon é uma freguesia com bastante influência cultural, decisiva na identidade do povo da ilha de Santiago, ao qual o projecto musical Guents dy Rincon pretende ser fiel;

(vi)  Actualmente Guents dy Rincon é formada por um quinteto de músicos experientes com currículos internacionais: Santos Cabral, Cabo Verde (Voz e Guitarra), Mauricio Lobão, Brasil/ Holanda (Percussão e voz), Luzia, Espanha (Guitarra e Bass), Zé Brás, Cabo Verde  (Guitarra e Cavaquinho), Zé Mário, Cabo Verde  (Percussão, Voz);

(vii) Todas as composições e estruturas musicais são originais da Banda;

(viii)  Guents dy Rincon já actuou em diversas salas conceituadas como: Goethe-Institut Portugal; Instituto Franco-Português; Onda Jazz; Chapitô; Braço de Prata; Festa do Avante 2009, entre outras… 

(ix) Guents dy Rincon é actualmente também um movimento cívico que zela pela convergência das belas artes a nível intercultural e internacional, participando intelectuais de várias vertentes entre esses: pensadores, líderes associativos, historiadores, antropólogos e artistas de diversas áreas;

(x) Esse movimento surge da necessidade do desenvolvimento de uma nova forma das relações humanas no espaço da CPLP no séc XXI com novos ideais necessários às novas mentalidades na renovação dos actuais moldes de orientação e desenvolvimento das relações humanas;

(xi) Uma nova visão justa e coerente na reflexão, no âmbito das culturas dos povos como meio de dispor novas verdades inerentes à evolução de uma nova corrente do espírito humano;

(xii)  Contatos: Santos Cabral 351-967859152 / Zé Mário (Direcção Musical) 351-963377248 / 
Mauricio Lobao (Holanda) 0031631967090  / www.mauriciolobao.com  / mauricio.unlimited@gmail.com

Guiné 63/74 - P11026: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (4): Um mal-entendido (?)

1. Em mensagem do dia 23 de Janeiro de 2013, o nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a quarta "Carta de Amor e Guerra" para dar continuidade à sua série.


CARTAS DE AMOR E GUERRA

4. Um mal-entendido (?)

Logo na segunda carta de Bissau disse à namorada que a minha vida se modificaria em muita coisa se, quando eu voltasse da Guiné, não encontrasse a minha Mãe viva. E rematava dizendo: “estou convencido que até tu me perderias”.

Ora, ao ler tal coisa, imaginou-me logo numa atividade política perigosa (lembre-se a época!), convencida que era o amor pela minha mãe que me tinha andado a impedir tal atividade. Até não andou longe do que eu indiciava no texto e que não era mais que uma previsão bastante radical e até, naquela altura, sem suficiente sustentabilidade ideológica. O eu dizer que a namorada me perderia era porque a via sem condições e sem bases ideológicas para me “acompanhar” em qualquer movimentação mais ativa, de cariz político.

Incompatibilizado com a situação de guerra no Ultramar aconteceu ter-lhe dito, pouco tempo antes de embarcar, que se não fosse a minha mãe eu não compareceria ao embarque pois tinha gente que me colocaria em França sem grandes problemas. Tinha a certeza que minha mãe não compreenderia tal atitude, vá-se lá saber porquê. Não seria pela fuga em si, meu pai estava em Paris, já lá tinha o filho mais novo e quase todos os mancebos da zona tinham feito o mesmo caminho. Talvez porque fugir equivaleria a perder-me de vista, logo eu, “figura prestigiada na aldeia e arredores” devido à minha profissão, professor do ensino primário, profissão que já exercia há dois anos e da qual os meus pais se orgulhavam. E tinham razão para isso, eu também me orgulhava de exercer tal função, apesar do vencimento ser escasso, para não dizer que mal dava para comer e vestir.

Cabe aqui dizer que entre todos os mais de 30 mancebos da minha freguesia e do meu ano, apurados para o serviço militar, só dois tinham estudos para além da 4ª classe e eu era um deles. Percebo o orgulho de meus pais com o resultado dos seus sacrifícios para pagarem os meus estudos. É que o único ensino público mais próximo, para além do da escola primária, era prestado em Leiria, Figueira da Foz e Coimbra (a distâncias de 35 a 50 Kms). Assim, quem quisesse estudar mais, tinha de pagar hospedagem numa daquelas cidades ou então pagava o colégio particular em Pombal. Não era de admirar tal situação pois o povo não precisava de saber mais do que “ler, escrever e contar”, frase justificativa do governo do Estado Novo para o recrutamento de “regentes escolares” em vez de professores diplomados, ao mesmo tempo que criava postos escolares em vez de escolas. E depois há para aí gente espantada com a falta de desenvolvimento económico e social deste país! A “coisa vem bem de trás” e não é de um momento para o outro que se resolve um atraso de séculos na sua política educativa.

Em 1967, pouco depois da chegada da Guiné: Com meus pais, José e Belmira. 
©Manuel Joaquim

Lisboa, 24/8/1965
(…) não deve passar-se nada com a tua mãe a não ser preguiça de teu pai para escrever. (…). (…) a tua mãe, oito dias depois do teu embarque, já andava bem-disposta, pelo menos conformada, e fisicamente também se sentia melhor embora ainda não tivesse ido ao médico. (…). Encontrá-la-ás com certeza quando voltares. Não penses que vai acontecer o contrário, (…). Mas se isso acontecesse? … Que farias?
Não preciso perguntar-to. Sei-o. Conheço-te bastante bem para descobrir o que pensaste ao falares-me em tal assunto. Agora que vejo que só o amor pela tua mãe (…) é capaz de te fazer renunciar ao que desejas acima de tudo, estou certa de que por nenhum outro amor serás capaz de sacrificar-te.
Falares abertamente contra isto e aquilo, expores as tuas ideias, fazeres valer os teus direitos e os de todos os que, contigo, estão subjugados seria a tua satisfação, a tua vitória. Mas seria o teu desaire, o teu aniquilamento completo, do mesmo modo.
Eu sei que não pensaste que me irias magoar com as tuas palavras, meu amor. Foste mesmo duro, (…). Em que contribuo eu para que a tua mãe viva ou não viva? Em nada. E no entanto tu sacrificar-me-ias. Estás ou não seguro dos sentimentos que nos unem? Creio que sim.
Disposta a dar tudo por ti, a lutar, a trabalhar como até agora porque a batalha nunca está ganha, serei vítima ou heroína, tu o decidirás já que me entreguei à tua disposição. De ti depende muito do que sou ou virei a ser. 
 (… … … )

Bissau, 1965/67: Entrada de Santa Luzia com duas bandeiras hasteadas. 
Foto e legenda de Henrique Cabral, CCaç 1420. © Rumo a Fulacunda, blogue de H. Cabral 

Bissau, Agosto 31/65
(… … …)
Minha querida, (…) sobre o que te provocou uma irritaçãozinha na última carta (…). É que tu viste a frase seca, brutal, com um significado único. (…). Foi assim que pensaste, não foi? E então vá de vociferares, de te lamentares, se calhar até de chorares. 
(…). 
A minha mãe criou-me com muitas dificuldades. (…). É razoável, humano, tremendamente humano que ela procure tirar, de todo o seu sacrifício passado, a satisfação (…) de me ver avançar na vida incluído num outro ambiente (…). Para quem viveu com tanto sacrifício, (…), sujeita a todas as vicissitudes da vida rural, colocar um filho fora daquele círculo vicioso é uma coroa de glória.
Embora me não sinta nada “grande”, não posso contrariar essa opinião que as pessoas simples do campo fazem da vida dos que se livram de cavar terra ou de a ela estarem sujeitos. (…)
Ora dizia eu na outra carta que, se voltasse aí e não encontrasse a minha Mãe, a minha vida modificar-se-ia completamente. (…) E então, esqueci-me de ti? Não.
[Se morresse] …a minha Mãe perderia tudo, nunca chegaria a olhar com orgulho a progressão do seu filho, (…), a sua vida teria sido um contínuo lutar sem resultados à vista. (…). Tudo aconteceria como se tivesse semeado uma seara com todo o carinho e sacrifício e, na hora da colheita, faltassem as forças (…) para colher os frutos do seu trabalho. (…). É mais que razoável esta comparação. 
 (… … …).
Aquilo (…) [em que pensava] ao dizer que a minha vida se modificaria era a (…) que a minha Mãe nunca conseguiria compreender mas sei que tu compreenderias e, ouso afirmar, até me ajudarias.
(…) nada temas. Eu velo por ti. (…) Talvez como tu nunca imaginaste nem imaginas. (…). Eu amo-te assim como és mas, (…), insisto que te cultives, que progridas ainda mais. (…).Tem calma e não te apoquentes.
(…). Sou um fala-barato? Não. Vejo os acontecimentos. Talvez por já ter passado por eles e te conhecer bem para poder afirmar-te isto. 
(… … …)


Bissau, Setembro-7/65
Sem dúvida que gostei muito da tua última carta. Não posso deixar de o dizer. Esta alegria de ver-te abrir os olhos, de corpo afeito ao mundo a arrostar com o que der e vier, sincera contigo e com o próprio mundo das coisas que te rodeiam, não podia deixar de me impressionar agradavelmente. 
O mundo, tu sabes, é tão complexo! O que é preciso é (…) decifrar os seus mistérios. Não, de maneira nenhuma se deve é declarar que estes são insolúveis e, temerosamente, deificá-los.(…).(… … …). 
(… … …)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10991: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (3): Em Bissau

Guiné 63/74 - P11025: Agenda cultural (253): Mesa redonda: reflexões sobre o devir guineense. Auditório CIUL, Picoas Plaza, 17h45, Lisboa, 30 de Janeiro de 2013

Ciclo de conferências sobre a Guiné-Bissau > "Guiné-Bissau: da multidimensional encruzilhada ao bem comum guineense"

Mesa redonda: reflexões sobre o devir guineense.
 

Auditório CIUL, Picoas Plaza, 17h45, 
Lisboa, 30 de Janeiro de 2013


Exmos./as Senhores e Senhoras,

Apresentando os nossos melhores cumprimentos temos o prazer de convidar para a 3ª conferência do Ciclo de Conferências intitulado "Guiné-Bissau: da multidimensional encruzilhada ao bem comum guineense".

A conferência, sob a insígnia Mesa redonda: reflexões sobre o devir guineense terá lugar no próximo dia 30 de Janeiro, com início agendado para as 17h45, no Auditório CIUL, Picoas Plaza.

Mais informamos que a conferência contará com a participação de:

(i) Mamadú Saibana Baldé (Projecto Tchintchor), 
(ii) Ednilson dos Santos (Presidente da Associação de  Estudantes da Guiné Bissau), 
(iii) Diana Lopes (Projecto Musqueba – Agricultura para Mulheres), 
(iv) Dr. Anaxore Casimiro;
(v) e  Professor Doutor Julião Soares.

A sessão será presidida e moderada pelo Professor Doutor Leopoldo Amado.
Contamos com a presença de V. Exa.
Com os nossos melhores cumprimentos,

Organização do Ciclo de Conferências

Contactos para informações adicionais:

Luís Vicente Barbosa: 968 469 223 / Eduardo Jaló: 965 744 737

"Guiné-Bissau: da multidimensional encruzilhada ao bem comum guineense"

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11017: Agenda cultural (252): Apresentação do livro "Guineidade & Africanidade: Estudos, Crónicas, Ensaios e Outros Textos", dia 3 de Fevereiro de 21013, em Lisboa

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11024: O Spínola que eu conheci (24): Alcunha, antonomásia, apodo, cognome ou epiteto... "Caco Baldé"... Qual a origem ? (Cristina Allen / Luís Graça / Jorge Cabral / Carlos Fabião / Cherno Baldé)


Alcunha  (do árabe al-kunia, sobrenome) s. f. > Epíteto, geralmente fundado nalguma particularidade física ou moral do indivíduo ao qual ele se atribui.
___________

O Velho, o Bispo, o Homem Grande de Bissau, o Aponta Bruno, o Caco, o Caco Baldé...

De todas estas alcunhas  já ouvimos falar, a propósito do homem que foi o comandante chefe de muitos nós, e em relação ao qual há (ou havia) uma estranha relação de amor-ódio: António de Spínola, ou Spínola, simplesmente. [, foto à esquerda]

Admirado por uns, idolatrado por outros, temido por muitos, odiado por outros tantos, caricaturado por alguns... Morreu como marechal do exército português, pertence agora à história, e como tal merece-nos o respeito de todos aqueles que da lei da morte se foram libertando.

Não sei como o PAIGC o tratava, em Conacri, na Rádio Libertação, por que alcunha (se é que a tinha, como devia ter,  já que todos na guerra têm alcunha, e por mais razão ele, objeto de especial ódio de estimação por parte do IN).  De qualquer modo, estamos ainda em  tempo de averiguar (ou simplesmente especular) sobre a origem da alcunha, antonomásia, apodo, cognome ou epíteto por que era mais conhecido, Caco Baldé,  não só entre os tugas como entre os fulas e outros grupos da população guineense que Spínola (re)conquistou com a sua política Por uma Guiné Melhor...

Fomos desencantar postes dos muitos que a ele se referem (são já cerca de 150)  como figura incontornável (quer se goste ou não) do cenário de guerra na Guiné, e nomeadamente durante o seu consulado (1968/73). Aqui vão alguns excertos. A amostra é de conveniência, não aleatória, logo não representativa...

Caco Baldé (ou simplesmente Caco)  era a a alcunha por que era mais conhecido o General Spínola entre os seus soldados. O Velho, era como ele era tratado entre o seu estado maior.  O Bispo era nome de código, e era assim  que o tratavam os nossos camaradas da FAP.

Caco Baldé... Caco queria referir-se ao vidrinho ou monóculo que ele usava... Baldé era um dos apelidos mais vulgares entre os fulas, aliados de Spínola... Esta é explicação commumente aceite por todos nós...Mas há outras teorias, como a do Cherno Baldé... 

2. Cristina Allen [, a ex-esposa de Mário Beja Santos, foto à direita, c. 1970]

(...) Dançando o tango com o Caco Baldé (...)

(...) Apressava-me, na saída, não fosse encontrar Spínola, que, diariamente, visitava os seus doentes. Atrasei-me três vezes e três vezes me aconteceu encontrá-lo à porta de armas (chamava-se assim?) do hospital. Andávamos, ao que parecia, cronometrados…

Havia um toque (A recolher? Por causa dele? Nunca perguntei). Mas via aquele homem passar para a mão esquerda o pingalim, encostá-lo firmemente à perna, pôr-se em sentido, crescer, enchendo o peito de ar, o ventre liso, o braço direito, o cotovelo, a mão, na mais perfeita continência que jamais vi. Ficava desmesuradamente imenso, desmesuradamente rígido, só o monóculo coruscava.

Estarrecida, não sabia que fazer dos pés, das mãos, da mala, da mini-saia, parava, cruzava as mãos, endireitava-me (postura por postura, não baixaria a cabeça, olhava-o nos olhos, ou, melhor dizendo, no olho e no monóculo). Acudiam-me ideias bizarras – que o meu avô materno fora lanceiro e, certamente, teria sabido fazer aquilo mesmo; que ele, Spínola, escorregara em Missirá, numas cascas de batata e fora ao chão, pose, pingalim, monóculo e tudo, soltando palavrões… que aquele homem era o… “Caco Baldé”! Apertava os lábios para não me rir: este é o Caco, Caco Baldé…

Mas este era apenas o primeiro acto desta farsa. O segundo, começava com a questão “Passas tu ou passo eu?”. No terceiro, resolvia eu recuar, só então ele passava e, perfeito cavalheiro, punha-se de lado e cumprimentava: “Muito boas tardes, minha senhora”. E eu respondia-lhe: “Muito boas tardes, Senhor Governador”. Afinal de contas, era fácil dançar o tango com Spínola. Dobrado contra singelo, diria que, em seus tempos, o teria dançado na perfeição, sem pisar os pés do par…

Deixemos, por ora, o Mário na sua cama, entre dois outros perturbados, que, continuamente, discutiam…

Quando, escassos anos volvidos, leria atentamente Portugal e o Futuro, fecharia o livro, e, olhos cerrados, para mim mesma o interpelava: “Então, meu Caco, só agora?!”

Para todas as coisas há o seu tempo. Nos anos de brasa que decorreriam, e, mais ainda, nos outros que vieram, ele seria, talvez, uma das mais contraditórias e inquietantes personagens.

Recordo, hoje, os quatro majores que, num gravíssimo erro de cálculo – ou num quase infantil erro de cálculo – ele enviou para o martírio e penso em tantos jovens anónimos que perderam suas desgraçadas vidas. Nos estropiados, nos cegos, nos perturbados, nas nossas lágrimas.

E, todavia, ele, feito Marechal António de Spínola, será sempre, para mim, a mais trágica figura do braseiro que outros atearam, sem ele, com ele, ou em seu nome.

Que Deus e a História sejam clementes para com este homem. (...)
cionário Priberam de Língua Portuguesa


3.  Luís Graça [, foto à esquerda, Bambadinca, 1970]

(...)  Excertos do Diário de um Tuga (L.G.)

Ponte do Rio Udunduma, 3 de Fevereiro de 1971

De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime, esteve aqui de passagem, com uma matilha de cães grandes atrás, Sexa General António de Spínola, Governador-Geral e Comandante-Chefe (vulgo, o Homem Grande, o Caco Baldé). Eu gosto mais de chamar-lhe Herr Spínola, tout court. De monóculo, luvas pretas e pingalim, dá-me sempre a impressão de ser um fantasma da II Guerra Mundial, um sobrevivente da Wermacht nazi.

Mas o que é que faz correr este velho soldado, como ele próprio gosta de se chamar ? É difícil adivinhar-lhe a sua paixão secreta, o seu móbil, sob a sua impassibilidade de samurai (ou de figura de cera?): a mitomania, o culto da personalidade ou, hélàs!, a presidência da república ?

Há qualquer coisa de sinistro na sua voz de ventríloquo, no seu olhar vidrado ou no seu sorriso sardónico: talvez seja a superioridade olímpica do guerreiro.

Cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspecto miserável. Eu e os meus nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapa de zinco. O coronel (?) que vinha atrás do General chamou-me depois à parte e ordenou-me que, no regresso a Bambadinca, cortasse o cabelo e a barba…

A visita-surpresa do Deus-Todo-Poderoso foi o meu único monumento de glória em toda esta guerra… Ao fim de vinte meses!... Só quero regressar, são e salvo, a casa, daqui a um mês e, se possível, levar comigo a barba que deixei crescer… na Guiné, longe do Vietname. (...)

4.  Jorge Cabral [foto à direita, Xime, c. 1971]

(...) Quando Sexa o Caco, em Missirá, ia perdendo o dito...

Poucos dias faltavam para o Natal, e a tarde estava quente. Todo nu no meu abrigo, fazia a sesta, quando sou despertado por enorme algazarra misturada com os ruídos do helicóptero.
-Alfero, Alfero, é Spínola! - gritam os meus soldados.

(Estou tramado, o quartel está uma merda. Que visto? Apresento-me em estado de nudez? Não há tempo a perder. O pássaro já poisou e o General avança. Enfio uns calções antigamente verdes, umas chinelas, e claro uma boina, para poder fazer a devida continência).

Eis-me assim, garboso Comandante, apresentando a tropa, e os milícias, todos eles mal fardados, como era habitual. Sua Excelência, pede um intérprete, pois vai botar discurso. E começa:
- Debaixo desta bandeira… - e aponta o braço na direcção onde pensava que a mesma existia. Fica-lhe o braço no ar, mas continua:
- ... A Pátria… - , e notando a atrapalhação do tradutor, pergunta-lhe:
- Sabes o que é a Pátria?
- Não - responde aquele.

(Lixei-me! Vou ser despromovido, talvez preso. Dentro de mim um turbilhão de maus presságios começa a fervilhar. Mentalmente preparo réplicas. Não é necessária bandeira, pois a Pátria está dentro de nós, e por isso, meu General, é indefinível, responderei).

Mas o Caco nada me pergunta. Vem acompanhado de três majores e um capitão. Querem ver tudo. Primeiro a Escola. Onde funciona?

(Escola? Qual Escola? Pensa rápido, Jorge! Inventa!)

- Sabe, meu Major, estas crianças também frequentam o ensino corânico, que decorre ao ar livre. Por isso considerei que a nossa escola não devia ser enclausurada, pois tal podia traumatizá-las.
- Ainda assim…- começou o Major, impedido de continuar por um olhar do Com-Chefe.
- E o Heliporto? - indagou um outro Major - Parece muito atrasado.
- É que, meu Major, faltam os materiais e também operários especializados.
- Operários especializados? Então e os seus soldados?!
- Todos homens de Fé, meu Major. Tirando a actividade operacional, dedicam-se à reflexão.

Nem respondeu este Major. Logo outro se adiantou, interrogando o Amaral, sobre as povoações mais próximas. Em sentido, sério, calmo, respondeu o Amaral:
- Mato a Norte, mato a sul, mato a leste, mato a oeste, meu Major.

(Ah! Grande Amaral, vais fazer-me companhia na porrada!)
Mas o pior estava para vir! Sua Excelência queria testar o plano de defesa:
- Qual o sinal, nosso Alferes?
- Uma granada - improvisei eu.

Tendo-me dirigido à arrecadação não encontrei nenhuma granada ofensiva. Peguei então numa defensiva, e zás, lancei-a. Tudo tremeu! Manteve-se de pé o General, mas o caco caiu. Entretanto os meus soldados, querendo mostrar heroicidade, encostaram-se ao arame, de peito descoberto, alguns mesmo sem arma.

(Agora sim, está tudo perdido! Que vergonha! E logo eu, neto de um herói de Chaimite).

Recomposto o Caco, olhou-me uma última vez e disse:
-Já vi tudo!.

Ao encaminhar-se para o helicóptero, ainda lhe ouvi comentar para a comitiva:
-Porra, que não é só o Alferes! Estão todos apanhados!

Deve porém ter ficado impressionado, pois três dias depois voltou. Eu não estava. Tinha ido a Fá, buscar uma garrafa dewhisky, prenda mensal do Capitão João Bacar Djaló (3). Contou-me o Branquinho (4) que quando o informaram da minha ausência, Sua Excelência exclamou:
- Ainda bem! (...)


5. Manuel Lucena / Carlos Fabião [, foto à esquerda, c. 1971/73, quando era comandante do Comando Geral de Milícias, na sua 3ª comissão no TO da Guiné]

(...) Manuel de Lucena: O general Bettencourt Rodrigues disse-me uma vez que tinha as mais vastas dúvidas sobre isso da popularidade do general Spínola na Guiné e estava a falar das populações. Um grande
chefe, mas …

Coronel Fabião: O Caco Baldé! [, Alusão irónica ao monóculo (caco …) do general e ao apelido mais comum na Guiné (Baldé), como se fosse «Silva»]. (...)



6. Cherno Baldé [, foto atual, à direita]

(...) “Caco Baldé” tem origens no meio e língua fulas, é uma alcunha bem conseguida e duplamente interessante. Caco,khaco ou haco, originalmente, quer dizer cor castanha (a cor das folhas secas), na língua fula, e servia inicialmente para designar a cor da farda das autoridades administrativas e/ou da tropa colonial.

Mais tarde, para simplificar, este termo seria simplesmente utilizado para designar, de forma disfarçada e caricatural, as autoridades coloniais ou seus representantes.

O apelido Baldé seria lindamente encaixado em acréscimo, certamente, seguindo a lógica da brincadeira muito habitual entre grupos que se consideram primos por afinidade (sanguínea ou territorial) - “Sanencuia”.

Por exemplo, os Djaló são primos dos Baldé por afinidade sanguínea, da mesma forma que o grupo fula, na sua generalidade, é primo do grupo etnolinguístico mandinga que abrange Saracolés, Soninqués, Bambaras etc., por afinidade territorial.

Também é bastante lógico se tivermos em conta que a maior parte dos chefes tradicionais fulas (régulos) e colaboradores das autoridades coloniais, no chão fula, ou pertenciam a esta linhagem ou tinham este apelido, de modo que é uma homenagem e, ao mesmo tempo, uma caricatura dirigida a linhagem dos Baldé, na minha opinião bem conseguida, por um primo, resultante da brincadeira entre grupos de afinidade, usando a figura da maior autoridade portuguesa, de então, no território da Guiné.

Não tenho a certeza e trata-se de uma conjectura da minha parte como pista para uma pesquisa mais aprofundada. (...)

___________

Nota do editor:

Último poste da série 30 de janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7697: O Spínola que eu conheci (23): No serviço de estomatologia, no HM 241, e eu a segurar-lhe o monóculo (Mário Bravo)

(...) Aproveito para contar um episódio ocorrido com o Marechal Spínola [, na altura general]. Como todos sabemos, o Marechal usava de modo constante um monóculo que era a sua imagem de marca. Um dia teve necessidade de consulta de Estomatologia e lá foi ao Hospital Militar. Era sempre um momento de alguma confusão e eu lá estava a tentar aprender a tirar dentes.

É evidente que quem o tratou foi o Chefe, mas havia necessidade que alguém tomasse conta do monóculo e logo me tocou a mim. É engraçado que senti aquele receio de ser o fiel depositário de tão solene objecto. Mas consegui não o deixar cair !!!

O Hospital Militar de Bissau, era na época um exemplo fantástico de modernidade e eficácia. (...)



Guiné 63/74 - P11023: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (34): Exame do 5.º ano, problema de matemática

1. Em mensagem do dia 22 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, QuinhamelBinta e Farim, 1964/66), enviou-nos mais uma memória do seu tempo de estudante.


HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (34)

Exame do 5º ano 
Problema de Matemática

Na prova escrita de Matemática do meu 5º ano, na Álgebra, havia um problema – a questão mais valorizada do exame – com o seguinte enunciado resumido: largado num plano inclinado, que velocidade atinge um carro ao fim do tempo tal e com a aceleração tal?

Determinado examinando, entendeu que aquela questão, devido, provavelmente, a descontrolo do “fazedor” da prova, estaria no local errado… àquela hora. Entendeu que se tratava muito simplesmente de um problema de Física, que, por lapso, aterrara na prova de Matemática.

O aluno, em absoluto, não se lembrou das “sucessões numéricas”. Assim sendo aplicou a fórmula que havia aprendido nas aulas de física: ; creio que a fórmula era mesmo esta; o resultado foi, fisicamente, correto – 1800m/m.

Acabada a prova, os alunos iam saindo para o corredor; como habitualmente o Sr. Almeida, mestre daquela disciplina, encontrava-se no local e a cada um dos seus alunos que aparecia, ia perguntando qual era o resultado do problema.

Chegada a sua vez, o tal aluno respondeu convicto: - 1800 metros por minuto.

- Está certo! Comentou o Sr. Almeida.

O mestre não imaginava qual havida sido a fórmula utilizada – erradamente – para atingir aquela conclusão cujos números eram corretos; de acordo com o velho rifão: atingiu o resultado certo… por linhas tortas.

O sr. Almeida, ao proferir o seu comentário, não imaginou – nem podia – qual havia sido a fórmula usada (erradamente naquele caso) para chegar a uma conclusão que até estava certa. Temos de concluir que a Física também é uma ciência de precisão.

O mestre nunca recebeu, mesmo a posteriori, tal informação; ele poderia reagir – reagiria mesmo – imprevisivelmente.

Mais vale prevenir… nunca se sabe o que podia acontecer em tal situação.

Janeiro 2013
BT

P.S a quem não se apercebeu, informo que o tal examinando... é o autor do texto
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10994: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (33): A pior turma em cada ano lectivo

Guiné 63/74 - P11022: Do Ninho D'Águia até África (48): Guiné... Minho e... Algarve (Tony Borié)

1. Quadragésimo oitavo episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, chegado até nós em mensagem do dia 26 de Janeiro de 2013:


DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA (48)


No Arizona, Novo México, Colorado e em outros estados dos Estados Unidos, houve aldeias de naturais, foto recente do Tony, em baixo, a que chamavam “Indios”, e nas histórias dos livros de quadradinhos, que o Cifra lia, quando criança e nessa altura se chamava To d’Agar, e que o Carlos, filho do Santos dos correios, que tinha vindo dos lados de Leiria, lhe trazia, e aí, até “Peles Vermelhas” lhe chamavam, eram os “Cheyennes”, “Apaches”, “Comanches”, “Navajos”, “Seminoles” e outras tribos, que viviam de produtos que a natureza lhes oferecia.


Todos eram guerreiros, embora uns fossem caçadores, outros pescadores, outros agricultores, outros feiticeiros, e alguns até eram única e simplesmente chefes, com uma grande coroa de penas na cabeça, e um grande pau na mão representando a cabeça de uma águia, ou qualquer outro animal, com que indicavam o norte ou o sul, onde iriam caçar os búfalos, com um arco e uma flecha, e com uma pontaria que fazia inveja a qualquer campeão olímpico de tiro.

Quando o Cifra esteve na nossa então província da Guiné Portuguesa, também havia exactamente o mesmo, embora em menos área de terreno, e com muito mais etnias, ou seja, havia “Papeis”, “Balantas”, “Fulas”, “Bijagós”, “Mandingas”, “Felupes”, “Manjacos”, “Biafadas” “Nalus”, diziam na altura que havia quase vinte e quatro diferente etnias. Embora houvesse mais percentagem de uma etnia do que outra em algumas áreas, se verificarmos bem era quase uma etnia por vila ou aldeia, desculpem o exagero. Todas tinham, ou o Cifra pensava que tinham, o seu chefe, a sua língua, para se expressarem, e se deviam reger pelas suas leis, pelo menos era o que o Cifra pensava.


Onde o Cifra esteve estacionado por dois anos, foto em baixo, havia os “Balantas”, que eram guerreiros, caçadores, pescadores, pastores e agricultores, e normalmente viviam em agregado familiar. Tinham uma cultura muito própria, só deles, que o Cifra tentou aprender, e seguir com todo o respeito, a princípio foi difícil aceitarem-no, mas com o tempo, foram vendo as suas intenções e começaram a acreditar, e como eram um povo que vivia com muito pouco contacto com europeus, e como o Cifra já explicou de outras vezes, era preciso primeiro, cheirar o corpo, sentir o sabor da pele e então sim, se acreditassem, dedicavam-se, e consideravam essa pessoa como família, o Cifra, sempre admirou este povo e esta cultura, mas era muito diferente daquela a que estava acostumado, a ver no seu Portugal, que era um país europeu.


Um homem tinha três, quatro e cinco mulheres, que viviam todas em comunidade, debaixo do mesmo tecto, tratavam dos filhos umas das outras, ajudando-se, o homem exercia uma espécie de “escravatura”, nas suas mulheres, pois elas é que trabalhavam nos serviços mais duros na cultura do arroz, muitas com os filhos pendurados nas costas, e baixadas na bolanha, tratando da planta do arroz, por vezes enterradas até aos joelhos, creio que todas essas bolanhas eram propriedade do homem, que o Cifra nunca soube se era o seu marido, ou simplesmente “dono”, pois por mais perguntas que fizesse, a resposta não tinha tradução, ou ele não compreendia, que consoante a sua riqueza, mais mulheres podia adquirir, iam apanhar lenha na floresta, cozinhavam, algumas até subiam às palmeiras, para irem apanhar o fruto e fazer aguardente, que os homens bebiam, enfim eram uma espécie de “escravas”, desses mesmos homens, que a maior parte do tempo, ficavam deitados na rede, mascando cola, e com uma espécie de bengalim nas mãos, com que afugentavam algumas moscas do seu corpo, por vezes batiam nas nádegas, dessas mesmas mulheres, para que se movimentassem um pouco com mais rapidez.

Pelo que o Cifra observava, a mulher, só depois de uma certa idade, quando já o marido não a usava mais, passe o termo, é que teria uma vida mais pacata, pois normalmente, iria viver numa morança com outras da sua idade, sempre próximo da morança do seu marido, ou “dono”, pois o Cifra nunca soube qual era o estatuto dessa mulher, e aí tomava conta dos filhos das suas companheiras mais novas, cozinhava a panela do arroz, fumava o seu tabaco, bebia o seu trago de aguardente de palma, que fazia, e que normalmente estava a curtir num balaio, coberto com umas folhas de bananeira, em qualquer lugar da morança, mas à sombra, sem apanhar sol, e descansava, berrando e dando conselhos às suas companheiras mais novas, que nessa altura eram as eleitas, e estavam na companhia do seu antigo marido.


O Cifra sempre acreditou, pelo que via, que os filhos e as filhas, foto em cima, eram propriedade do marido, que normalmente, “vendia”, passe o termo, ou única e simplesmente cedia, as filhas, ao amigo “homem grande”, ou talvez a quem melhores garantias lhe desse. Quando uma rapariga atingia a idade de catorze, quinze, pois desasseis anos já era um pouco tarde, tinha que arranjar marido, ou talvez “dono”, pois se não o fizesse, já não era bem vista, e perguntavam, o que é que estava de mal com ela, que ainda não tinha parido. Isto foi o que o Cifra observou na região onde esteve estacionado por dois anos.

Em Portugal, e na província da Beira Litoral, portanto na Europa, de onde o Cifra era oriundo, isto não era possível, mas sim, na então província da Guiné, que estava situada na África, que tinha os seus usos e costumes não europeus, mas que o Cifra sempre respeitou, e afinal não era, como ele tinha aprendido na escola primária da vila, a que a sua aldeia do vale do Ninho D’Aguia pertencia, onde lhe diziam que a província da Guiné tinha as mesmas leis, tal como a província do Minho, do Alentejo, ou do Algarve, pois tudo eram províncias de uma só nação, que era Portugal.


O Cifra, depois de frequentar outras escolas no estrangeiro, verificou que tanto ele, como a maior parte da sua geração, na escola primária que frequentou em Portugal, de proveito para o seu futuro, única e simplesmente retirou de bom, alguma disciplina forçada, saber ler e escrever em português com algum rigor, fazer algumas operações com algarismos, mas num estilo complicado, como por exemplo contas de somar, diminuir, multiplicar e dividir, conhecer o mapa de Portugal, onde havia algumas cidades e vilas, alguns rios, estradas e caminhos de ferro, e o orgulho por ter nascido nesse cantinho da Península Ibérica, que é Portugal, com um povo sofredor, sol brilhante, à beira mar plantado, tudo o resto que o professor Silvério lhe explicava por horas, e exigia que a sua mente jovem absorvesse, porque de outro modo lhe batia com uma régua de madeira nas mãos, e com uma cana fina e seca nas orelhas, eram assuntos sem qualquer interesse para o seu futuro, alguns até nem eram verdadeiros, que induziam a sua mente jovem, num tremendo erro, que o futuro veio mostrar, alguns anos depois.

O Cifra, só agora verificou que já está a ir longe de mais, perdoem lá.
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11007: Do Ninho D'Águia até África (47): Iafane, o barqueiro (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11021: Parabéns a você (529): Luís Graça, fundador deste Blogue, ex-Fur Mil da CCAÇ 2590 /CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11010: Parabéns a você (528): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Escriturário (BA 12) (Guiné, 1967/68)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11020: Facebook...ando (21): Joaquim Ruivo, ex-1.º cabo mec obus 8.8, BAC 1 (Santa Luzia, Bissau, out 61/ fev 64): Tocando os "Olhos Negros", no seu bandolim...




Vendas Novas > 23 de dezembro de 2012 > O Joaquim Ruivo, tocando no seu bandolim, os "Olhos Negros... Fonte: Página pessoal no Facebook (reproduzido com a devida vénia...)



"Com o Sancho do meu amigo Alfredo. O que tem piada é que nós íamos daqui, com a ideia de que os macacos eram uns animais muito espertos e os guineenses nenhum queria ser parecido com eles. Queriam antes ser parecidos com as gazelas"...




"Eu, ao lado do homem que extrai o vinho de palma. O instrumento que ele tem à volta do pescoço, serve para subir às palmeiras e é feito de materiais recolhidos da natureza, mas que lhes dá total segurança".



"Trepando à palmeira para a recolha do vinho de palma. (eu nem com um cabo de aço de 20mm, me atrevia a estar naquela posição àquela altura)"...




Foto sem legenda...  [O Joaquim e a sua "pasteleira"]... Esta e as outras fotos acima  devem ser dos primeiros  tempos de Bissau,  Santa Luzia, c. 1961/62.


Fotos (e legendas): © Joaquim Ruivo (2013). Todos os direitos reservados



1. O Joaquim Ruivo já aqui foi apresentado. Foi 1º cabo mecânico de obus 8.8. É um dos nossos camaradas mais velhos... Ele é mais velho do que a guerra! Ou melhor, como ele diz, tem "mais tempo de paz do que de guerra".

Em boa verdade, chegou à Guiné em outubro... de 1961. Já a guerra tinha rebentado em Angola. E o seu amigo e conterrâneo Domingos Samúdio, passados dois meses, ficaria prisioneiro na Índia (em, 19 de dezembro de 1969). O Joaquim teve mais sorte: colocado na BAC (Bateria de Artilharia de Campanha), em Santa Luzia, passou a maior parte do tempo em Bissau (, presumo eu). Nas vésperas da Op Tridente, esteve em Catió a "afinar" os obuses 8.8. Não sei se chegou a ir ao Como, julgo que não. Logo a seguir regressou a casa, em fevereiro de 1964.

Sente-se honrado por  pertencer à Tabanca Grande. E nós também,. É natural de Brotas, Évora. Nasceu em 1939, e vive em Vendas Novas. Tem uma página no Facebook (desde 6 de novembro de 2010), é um ativissimo feicebuqueiro...

É um homem que parece estar bem na sua pele, é uma fonte de inspiração, para todos nós, pela sua sabedoria,  alegria de viver, sentido de família, sociabilidade, participação na vida da sua comunidade... Enfim, é também um bom exemplo daquilo  a que nós, em saúde pública, chamamos o "envelhecimento ativo" . (Segundo a Organização Mundial da Saúde, é o o processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, com vista à melhoria da qualidade de vida das pessoas que envelhecem). 

Em suma, temos que aprender com ele. E, a esse propósito,  eu não resisti a incorporar, com a devida vénia, o vídeo, acima, em que ele mostra as suas habilidades com o bandolim (não, não  é a viola campaniça....). É, de resto, um homem que gosta de música e sabe ler pautas de música!... Mas que belíssimos 73 anos! (Carlos, aponta aí, ele faz 74, no próximo dia 3 de agosto!)...

 Publicamos mais algumas fotos singelas do seu álbum. E que são testemunhas também da pacatez da vida em Bissau (e arredores) no seu tempo... Com um abraço de homenagem ao Joaquim Ruivo e a todos os cmaradas da "farda amarela" que ainda conheceram a Guiné,  em 1961 e 1962, de antes da guerra... Não serão muitos, mais uma razão para serem aqui justamente lembrados e homenageados... Somos todos "piras" por comparação com eles... LG

PS - Já agora ouçam aqui uma versão coral dos Olhos negros (Trad. dos Açores / Ilha Terceira), com arranjo do nosso querido amigo e camarada, herói do Como, Mário Roseira Dias... ´É linmda a música (e a letra!)... Como veem, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

Olhos negros (Trad. dos Açores / Ilha Terceira)

Os teus olhos, negros, negros,
São gentios, são gentios da Guiné. (Bis)

Ai da Guiné, por serem negros,
Da Guiné por serem negros,
Gentios por não terem fé. (Bis)

Os teus olhos são brilhantes,
Semelhantes
Aos luzeiros que o céu tem. (Bis)

Os olhos negros, que eu preferi
E que nunca vi
De côr mais linda a ninguém (Bis)

Os teus olhos, negros negros...

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Guiné 63/74 - P11019: Ser solidário (141): Primeiro almoço solidário na nova Tabanca Ajuda Amiga, dia 31 de Janeiro de 2013 na cantina da Associação de Comandos, em Oeiras

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Fortunato (ex-Fur Mil da CCAÇ 13), dirigente da ONGD Ajuda Amiga, com data de 28 de Janeiro de 2013:

Amigos e Camaradas
Junto envio uma noticia sobre mais uma tabanca, a Tabanca Ajuda Amiga, pedindo o favor de divulgarem a mesma no Blog.

Obrigado e um alfa bravo 
Carlos Fortunato 
(CCaç. 13)



I ALMOÇO SOLIDÁRIO DA TABANCA AJUDA AMIGA

Caros amigos e camaradas 
À semelhança de outras "tabancas" de amigos da Guiné, que foram criadas inspiradas nas amizades e convívios gerados a partir do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, nasceu agora a Tabanca Ajuda Amiga, criada com o apoio da ONGD Ajuda Amiga (http://ajudaamiga.com.sapo.pt).

Na próxima 5ª feira dia 31-01-2013 pelas 13h00 será efectuado o primeiro almoço da Tabanca Ajuda Amiga, na cantina da Associação de Comandos, sediada no Regimento de Artilharia de Costa, 3ª Bataria, na Laje, em Oeiras, o caminho para a mesma é por Paço de Arcos, pela Avenida Engº Bonneville Franco (junto à Marginal perto da Escola Naval), no fim da avenida segue-se por uma estrada de terra batida, que termina na referida antiga unidade.

É um almoço de convívio entre associados da Ajuda Amiga, antigos combatentes e amigos da Guiné, imbuído do espírito de solidariedade que tem caracterizado estas Tabancas.

O almoço é Coelho à Caçadora ou Bacalhau à Minhota e tem o custo de 8 euros. 
Devem ser feitas reservas até amanhã 3ª feira, para o 917 248 557 Sra. Marilia ou 934 125 679 Sra. Sónia, indicando o prato pretendido.

Um alfa bravo e até 5ª feira
Carlos Fortunato





Sítio oficial, na Net, da ONGD Ajuda Amiga.
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10799: Ser solidário (140): A Tabanca Pequena de Matosinhos - Mais uma Tabanca do sul com água potável, Cautchinké, na Mata de Cantanhez.

Guiné 63/74 - P11018: Efemérides (120): 23 de Janeiro de 1963 - O fim do princípio ou o Princípio do fim - 50 anos depois (II Parte) (José Martins)

1. Segunda parte deste trabalho de pesquisa o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviado ao nosso Blogue em mensagem do dia 24 de Janeiro de 2013:


23 de Janeiro de 1963
O Fim do Princípio ou o Princípio do Fim
50 anos depois

II Parte


No inicio do ano de 1960, a Província da Guiné tinha, como unidades da Guarnição Normal da província, duas Companhia de Caçadores Indígenas, a 1ª e a 4ª, uma Bateria de Artilharia de Campanha e um Centro de Instrução Militar. Os quadros eram oriundos da metrópole e as praças do recrutamento local.

Além das referidas forças, encontravam-se em reforço das mesmas, uma Companhia Expedicionária do Batalhão de Caçadores nº 5 (Lisboa), mais tarde Companhia de Caçadores nº 52; o Esquadrão de Reconhecimento do Regimento de Cavalaria nº 3 (Estremoz), mais tarde Esquadrão de Reconhecimento nº 54; e um Pelotão de Polícia Militar, oriundo do Regimento de Lanceiros nº 2 (Lisboa).

O regime recusa uma vez mais discutir, quaisquer que sejam as questões, com os “movimentos de libertação” dos povos das colónias portuguesas. Na linguagem usada, trata-se, apenas, de “organizações terroristas a soldo de potências estrangeiras”.

Numa directiva do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, de 20 de Janeiro de 1960, são alterados os objectivos estratégicos da defesa nacional, apontando para uma futura guerra no Ultramar.

A 25 de Janeiro de 1960 tem inicio a II Conferência dos Povos Africanos, em Tunes, em que representantes dos movimentos de libertação de Angola, Guiné e Moçambique. Dissolvem o MAC - Movimento Anti-Colonial e formam a FRAIN - Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas.

Em Fevereiro é publicado em Londres, o texto de Amílcar Cabral “Factos acerca das Colónias Africanas de Portugal”, sob o pseudónimo de Abel Djassi.

Amílcar Lopes Cabral (Abel Djassi) 19.09.1924 – 10.01.1973 
 © imagem: http://www.didinho.org/amilcarcabral.htm

O dia 4 de Abril de 1960 é o dia da independência do Senegal. O território da Guiné faz fronteira, com este país, em cerca de trezentos quilómetros a Norte.

A 22 de Abril de 1960 são publicadas as normas para as comissões de serviço dos militares no Ultramar.

Parecer, emitido em 29 de Abril de 1960, do Governo português sobre o artigo 73º da Carta das Nações Unidas, não reconhecendo competência à Assembleia-geral para exigir que os Estados membros iniciem a transmissão de informações sobre os territórios ultramarinos.

O PAIGC envia uma declaração ao governo português, datada de 25 de Setembro de 1960, reclamando a autodeterminação da Guiné e de Cabo Verde e propondo negociações para a concretização, por meios pacíficos, desse mesmo objectivo.

Nova reorganização territorial das forças terrestres, em 24 de Novembro de 1960, com a criação de cinco regiões militares, incluindo Angola e Moçambique, e sete comandos territoriais independentes, entre os quais o da Guiné.

Na sessão de 30 de Novembro de 1960, o Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, faz uma intervenção, dirigida à Assembleia Nacional, sobre a questão da unidade nacional, isto é, território do Minho a Timor.

Numa conferência realizada em Londres a 6 de Dezembro de 1960, os principais dirigentes dos movimentos de libertação dos povos das colónias portuguesas apelam uma vez mais ao governo de Salazar para que se disponha a encetar negociações. Caso tal não aconteça, restará apenas o cominho da luta armada.

A Assembleia-Geral da ONU aprova em dois dias, duas Resoluções e uma Declaração, sobre Portugal. A 14 de Dezembro de 1960, a Resolução 1514 (XV), conhecida como Declaração Anticolonialista; em 15, dia seguinte, a resolução 1541 (XV), constituída pelo Relatório dos Seis, elaborado pelo respectivo comité, contendo a definição de território não autónomo. No mesmo dia aprova a declaração sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos Coloniais – Resolução 1542 (XV). As colónias portuguesas são, explicitamente, abrangidas pelas declarações das Nações Unidas.

E o “ano de todos os acontecimentos” de 1961, começa com a recusa do governo em aceitar a eleição democrática, pelos próprios estudantes em Janeiro de 1961, da direcção da Associação da Casa dos Estudantes do Império, várias iniciativas de protesto são concretizadas na Academia de Lisboa. Fundada em 1945 acabou por se tornar num pólo do colonialismo português, de onde emergem alguns quadros dos futuros movimentos de libertação de Angola, Guiné e Moçambique.

Niassa – Um dos navios que transportou muitos militares portugueses. 
© Imagem: http://navios.no.sapo.pt/niassa.html

Ainda no mês de Janeiro de 1961, foram mobilizados para reforço da Guiné, quatro Pelotões de Morteiros, ao quais foram atribuídos os nºs 16, 17, 18 e 19, oriundos dos Regimentos de Infantaria nº 1 (Amadora), nº 3 (Beja), nº 5 (Caldas da Rainha) e nº 6 (Porto), respectivamente.

No inicio do mês de Fevereiro de “ano em que tudo acontece”, mais propriamente no dia 4, em Luanda, com o ataque concertado à Casa de Reclusão Militar, à Cadeia da 7ª Esquadra da polícia, à sede dos CTT e à Emissora Nacional de Angola. A 15 de Março tem inicio os massacres no norte da província. No dia 17 Salazar reage, indignado, designando de “terroristas” não só os intervenientes, mas também as organizações e países que os apoiam.

O Batalhão de Caçadores nº 5 (Lisboa) mobiliza mais uma companhia expedicionária, que embarca em Lisboa a 13 de Março de 1961 chegando a Bissau no dia 18, para substituir a Companhia de Caçadores nº 52, que termina a sua comissão de serviço. A companhia é redenominada de Companhia de Caçadores o nº 74, a partir de 8 de Abril seguinte.

Na cidade do Cairo, capital do Egipto, tem início a 23 de Março de 1961 a Conferência dos Povos Africanos, em que foi aprovada uma resolução política respeitante aos territórios portugueses.

Aprovação do decreto, datado de 24 de Março de 1961, que define a condução da política de defesa nas províncias ultramarinas.

Por Decreto, de 30 de Março de 1961, a responsabilidade da condução da política de defesa de cada Província Ultramarina, é da responsabilidade dos Governadores-Gerais, mas dentro das directrizes recebidas do governo central.

Em 6 de Abril de 1961 embarca com destina à Guiné a Companhia de Caçadores nº 84, mobilizada no Regimento de Infantaria nº 1, aquartelada na Amadora, para reforço da guarnição normal.

Aprovação, em 20 de Abril de 1961 pela Assembleia-geral da ONU, da Resolução 1603 (XV), incitando o Governo português a promover urgentes reformas para cumprimento da Declaração Anticolonialista, tendo em devida conta os direitos e as liberdades fundamentais.

Em 27 de Abril de 1961 embarca com destina à Guiné a Companhia de Caçadores nº 90, mobilizada no Regimento de Infantaria nº 7, aquartelado em Leiria, assim como a Companhia de Caçadores nº 91, mobilizada no Regimento de Infantaria nº 15, aquartelado em Tomar, para reforço da guarnição normal.

Guião da Companhia de Caçadores nº 153 do Regimento Infantaria nº 13 
© Colecção de Carlos Coutinho

Em 2 de Junho de 1961 concretiza-se a fuga de Portugal, para o estrangeiro, de estudantes ultramarinos, muitos dos quais virão a desempenhar papel importante na luta nacionalista nos movimentos a que pertenciam.

Em 15 de Junho de 1961 embarca com destina à Guiné a Companhia de Caçadores nº 154, mobilizada no Batalhão de Caçadores nº 9, aquartelado em Viana do Castelo, para reforço da guarnição normal.

A 28 de Junho de 1961 embarca com destina à Guiné o Batalhão de Caçadores nº 238, mobilizado no Batalhão de Caçadores nº 8, aquartelado em Elvas, assim como o Batalhão de Caçadores nº 239, mobilizado no Batalhão de Caçadores nº 9, aquartelado em Viseu, com comando reduzido, para implementar e comandar as zonas operacionais.

Em 30 de Junho de 1961 embarca com destina à Guiné a Companhia de Artilharia nº 240, mobilizada no Grupo de Artilharia Contra Aeronaves nº 2, aquartelado em Torres Novas, para reforço da guarnição normal.

Em 14 de Julho de 1961 são difundidas as Novas Directivas Gerais de Censura, que exigem atenção especial aos títulos e subtítulos referentes a acontecimentos do Ultramar.

A 18 de Julho de 1961 embarca com destino à Guiné o Batalhão de Caçadores nº 236, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 3, aquartelado em Beja, assim como o Batalhão de Caçadores nº 237, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 6, aquartelado no Porto, com comando reduzido, para implementar e comandar as zonas operacionais.

Na noite de 20 para 21 de Julho de 1961, um grupo de guerrilheiros do Movimento de Libertação da Guiné ataca o aquartelamento português de S. Domingos, na fronteira da Guiné com o Senegal, que provocou quatro feridos militares. Há fontes que referem que a acção sobre São Domingos foi efectuada pela FLING, mas esta só veio a “aparecer em 1962.

A 27 de Julho de 1961, o Senegal corta as relações diplomáticas com Portugal.

Em 28 de Julho de 1961 embarca com destina à Guiné a Companhia de Caçadores nº 152, mobilizada no Regimento de Infantaria nº 8, aquartelada em Braga, para reforço da guarnição normal.

Guião do Hospital Militar nº 241 - Bissau 
© Colecção de Carlos Coutinho

No mês de Agosto de 1961, são criadas novas unidades para a guarnição normal: o Hospital Militar nº 241, é criado a partir do Destacamento Sanitário e da Equipa Cirúrgica, que tinha sido mobilizada no 1º Grupo de Companhias de Saúde (Lisboa) e é constituída a 3ª Companhia de Caçadores Indígenas, que vai criar destacamentos na Zona Leste. Estas unidades são de rendição individual

Acções de sabotagem na Guiné, efectuadas pelo PAIGC, no dia 3 de Agosto de 1961, para recordar o massacre de Pidjiguiti.

Em 10 de Agosto de 1961 embarca com destina à Guiné a Companhia de Artilharia nº 250, mobilizada no Regimento de Artilharia Pesada nº 2, aquartelado em Vila Nova de Gaia, assim como a Companhia de Cavalaria nº 252, mobilizada no Regimento de Cavalaria nº 3, aquartelado em Estremoz, e a Companhia de Polícia Militar nº 257, mobilizada no Regimento de Lanceiros nº 2, aquartelado em Lisboa, para reforço da guarnição normal.

Procurando diluir os vectores legais e institucionais que contribuíam para a reafirmação da natureza colonial da dominação exercida pelo Estado Português sobre as populações das diversas províncias ultramarinas, através do decreto-lei número 43.893 de 6 de Setembro de 1961, é abolido o Estatuto dos Indígenas Portugueses das Províncias da Guiné, Angola e Moçambique, que havia sido promulgado pelo decreto-lei número 39.666 de 20 de Maio de 1954, concedendo a “plena cidadania portuguesa” a todos os habitantes daqueles territórios.

Criação do SPM - Serviço Postal Militar, em 9 de Setembro de 1961, que passa a assegurar a recepção e distribuição de correspondência e encomendas de e para os militares em serviço nas Províncias Ultramarinas.

Guiné – Guião do Comando Chefe 
© Colecção de Carlos Coutinho

Em Outubro de 1961, o Regimento de Infantaria nº 14 (Viseu) mobiliza o Pelotão de Canhões sem Recuo nº 29, o primeiro a ser enviado para o Teatro de Operações da Guiné, e em carta aberta ao governo português, datada de 13 de Outubro de 1961, Amílcar Cabral, presidente do PAIGC, reclama a independência da Guiné e de Cabo Verde, se possível em resultado de negociações. A resposta foi negativa.

Condenação, pela Comissão da Tutela da ONU em 13 de Novembro de 1961, da política colonial portuguesa.

Abandono por Portugal da sessão de 14 de Novembro de 1961, da 4ª Comissão da ONU, em protesto pela audição de dois dirigentes do Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde.

A comissão da ONU responsável pelo acompanhamento dos territórios ainda sob dominação ou tutela colonial condena explicitamente, no mês de Novembro de 1961, por oitenta e três contra três votos, o governo português pela atitude de intransigência que mantém no que diz respeito à possibilidade de negociação dos processos de autodeterminação e independência das respectivas províncias ultramarinas.

No mês de Janeiro de 1962, são mobilizadas novas unidades de pequeno escalão ou elementos para instalar novos serviços. O 1º Grupo de Companhias de Administração Militar (Lisboa), mobiliza o Destacamento de Intendência nº 223; o 1º Grupo de Companhias de Saúde (Lisboa), mobiliza elementos para a Delegação do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos e para a Chefia do Serviço de Saúde, e mobiliza o Destacamento de Inspecção de Alimentos nº 258; o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (Póvoa do Varzim) mobiliza elementos para a Chefia do Serviço de Intendência; o 2º Grupo de Companhias de Saúde (Coimbra) mobiliza o Pelotão de Auto Macas nº 15; e a Companhia Divisionária de Manutenção de Material (Entroncamento) mobiliza elementos para a Chefia do Serviço de Material e mobiliza os Destacamentos de Manutenção de Material com os nºs 243, 244, 245 e 246. Na província são reestruturados o Tribunal Militar Territorial e a Casa de Reclusão, e criados o Serviço Postal Militar nº 8 e a Delegação do Serviço de Fortificação e Obras Militares.

Guião do Centro de Instrução Militar – Bolama 
© Colecção de Carlos Coutinho

Em 17 de Janeiro de 1961 embarca com destino à Guiné a Companhia de Caçadores nº 273, mobilizada no Batalhão de Infantaria Independente nº 17, aquartelada em Angra do Heroísmo, assim como a Companhia de Caçadores nº 274, mobilizada no Batalhão de Infantaria Independente nº 18, aquartelada em Angra do Heroísmo, para reforço da guarnição normal.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Dr. Franco Nogueira, entrega ao Presidente do Conselho de Ministros, Dr. Oliveira Salazar, em 12 de Janeiro de 1962, um documento intitulado “Notas sobre a Política Externa Portuguesa”. Neste Documento, de dezoito páginas, era preconizada a entrega de Macau à China e Timor à Indonésia, enquanto à Guiné e São Tomé e Príncipe seria dada a autonomia e independência. Os territórios de Angola, Moçambique e Cabo Verde seriam mantidos como colónias essenciais.

Em 12 de Fevereiro de 1962 embarca com destino à Guiné o Batalhão de Caçadores nº 356, mobilizado no Batalhão de Caçadores nº 5, aquartelado em Lisboa, formado por Comando e Companhia de Comando e Serviços.

Em 1962, aproveitando a data do 31 de Janeiro, numa manifestação no Porto há gritos de ordem contra a guerra colonial, o que acontece pela primeira vez.

Durante o mês de Fevereiro de 1962 para seguirem para a Guiné, são mobilizados no Batalhão de Telegrafistas (Lisboa), a Delegação do Serviço de Telecomunicações Militares; no Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa (Queluz), o Pelotão de Artilharia Antiaérea nº 43; e no Regimento de Infantaria nº 2 (Abrantes) o Pelotão de Morteiros nº 41.

A Rádio Portugal Livre, emissora clandestina instalada em Argel, capital da Argélia, inicia em 12 de Março de 1962 as emissões regulares, em onda curta, que serão emitidas até ao ano de 1974.

Em 13 de Março de 1962 são presos em Bissau, pela PIDE, os dirigentes do PAIGC Rafael Barbosa e Fernando Fortes.

Carta do Comité dos Sete da ONU de 13 de Março de 1962, ao Governo português, solicitando informação sobre as condições de uma visita do Comité aos territórios sob administração portuguesa.

Em 23 de Março de 1962 o Governo português responde à carta do Comité dos Sete da ONU, recusando a visita do Comité aos territórios sob administração portuguesa.

Procurando diminuir os motivos de contestação à dominação colonial portuguesa, o governo liderado por António de Oliveira Salazar aprova o decreto-lei número 44.309 de 27 de Abril de 1962, através do qual se promulga o Código do Trabalho Rural, aplicável em Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor. Simultaneamente é revogado o Código do Trabalho Indígena, aprovado em 6 de Novembro de 1928 pelo decreto-lei número 16.119.

Repressão de manifestações de rua em Lisboa com palavras de ordem contra a guerra colonial, de que resulta um morto e várias dezenas de feridos em 1 de Maio de 1962.

Durante Junho de 1962, Amílcar Cabral apresenta, perante a Comissão da ONU para os territórios administrados por Portugal, de um relatório intitulado “O Nosso Povo, O Governo Português e a ONU”.

José Marques Ferreira - Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCaç 462 – Ingoré 1963/1965, a bordo do navio Sofala, na sua ida para a Guiné. 
© Foto do próprio, com a devida vénia.

O Regimento de Cavalaria nº 8 (Castelo Branco) mobiliza, durante o mês de Junho de 1962, o Pelotão de Reconhecimento nº 42. O Regimento de Cavalaria nº 8 (Castelo Branco) mobiliza, durante o mês de Junho de 1962, o Pelotão de Reconhecimento nº 42.

No mês de Agosto de 1962 são mobilizados e chegam à província seis pelotões de caçadores, que se destinam a reforçar unidades já instaladas no terreno, ficando dependendo, operacional e administrativamente dessas unidades: o Regimento de Infantaria nº 2 (Abrantes), mobiliza os Pelotões de Caçadores nºs 857 e 858; o Regimento de Infantaria nº 7 (Leiria), mobiliza o Pelotão de Caçadores nº 859; o Regimento de Infantaria nº 8 (Braga), mobiliza o Pelotão de Caçadores nº 860; e o Batalhão de Caçadores nº 5 (Lisboa), mobiliza os Pelotões de Caçadores nºs 870 e 871.

Fundação, em Dacar, da FLING - Frente de Libertação Nacional da Guiné, em Setembro de 1962.

Em 12 de Dezembro de 1962 é aprovada uma moção na ONU, recomendando um programa especial para educação e treino de dirigentes nacionalistas dos territórios sob administração portuguesa. No dia 13, Amílcar Cabral é apresentado na Comissão de Curadorias da ONU como representante do PAIGC.

Debate pelo governo português, em 18 de Janeiro de 1963, de um projecto de Lei Orgânica do Ultramar.

Início, em 23 de Janeiro de 1963, da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite pelo PAIGC. Amílcar Cabral tentou fazer-se ouvir, com propostas e apelos ao diálogo, mas é com pelas armas que a Guiné se torna na segunda frente de combate africana.

Nessa madrugada em que se deu o combate de Tite tombou o primeiro militar português, desconhecendo-se se por causa do fogo inimigo ou fogo amigo, sendo ele VERISSIMO GODINHO RAMOS, Soldado Condutor Auto Rodas nº 834/59, do Batalhão de Caçadores nº 237, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 6, no Porto, solteiro, filho de Joaquim Ramos e Ricardina Joaquim Godinho, natural da freguesia de Vale de Cavalos e concelho de Chamusca. Faleceu no dia 23 de Janeiro de 1963 durante o ataque a Tite, vitima de ferimentos em combate, Foi inumado no Cemitério de Vale de Cavalos.

Damos nota, também, dos dois últimos militares que tombaram, já no ano de 1976, sendo eles um africano e um metropolitano:

MALIQUE DJATA, Soldado Atirador nº 82018765, do recrutamento provincial, solteiro, filho de Jaime Djata e de Indangue Mané, natural de Ingoré concelho de S. Domingos, foi vítima de ferimentos em combate, na zona de Buruntuma, em 27 de Dezembro de 1967. Foi evacuado para o Hospital Militar Principal em 19 de Janeiro de 1968, onde veio a falecer, cerca de oito anos depois, em 15 de Fevereiro de 1976, tendo sido inumado no Cemitério do Lumiar, em Lisboa. Na altura que foi ferido, estava em serviço na Companhia de Caçadores nº 1588 / Batalhão de Caçadores nº 1894, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15 em Tomar, embarcando para a Guiné em 30 de Julho de 1966 e regressando a 9 de Maio de 1968.

JOAQUIM FARIA GONÇALVES, Furriel Miliciano Atirador nº 07231271, solteiro, filho de Albino Ferreira Gonçalves e Maria de Jesus Miranda Faria, natural da freguesia de Faria concelho de Barcelos. Faleceu em 12 de Outubro de 1976, vitima de doença no Hospital Militar Principal, onde esteve internado cerca de dois anos, vindo a ser inumado no Cemitério de Faria. Fazia parte da Companhia de Comando e Serviços do Batalhão de Caçadores nº 4612/74, mobilizado pelo Regimento de Infantaria nº 16 em Évora, que embarcou para a Guiné em 12 de Julho de 1974 e regressou a 14 de Outubro de 1974.

José Marcelino Martins
19 de Janeiro de 2013

(Fim)
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Nota de CV:

Vd. poste da I parte de 27 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11014: Efemérides (119): 23 de Janeiro de 1963 - O fim do princípio ou o Princípio do fim - 50 anos depois (José Martins)