sexta-feira, 12 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11829: Os filhos do vento (12): "Em busca do pai tuga" ou "Os filhos que os portugueses deixaram para trás"... Reportagem de Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende, a sair no Público, domingo, dia 14






Guiné-Bissau > região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje (Bissua, 1-7 de março de 2008) > 2 de março de 2008 > Visita, inesperada, de duas irmãs, que vieram de longe (, de Bedanda, garante o Zé Teixeira), para estar com os tugas.

Estas duas mulheres, de olhar triste, irmãs, vieram de longe procurar-nos, uma delas com um filho às costas... Estariam na casa dos 30 e muitos anos... Queriam saber notícias de um tal Furriel Mil Mecânico Auto, de apelido Barros, que terá estado em Cacine em 1971/72... e que seria de origem madeirense ou açoriana. Por essa altura, entre 20 de Maio de 1970 até 15 de Fevereiro de 1972, sabe-se que passou por Cacine a CCaç 2726... Não fixei os seus nomes, nem soubei ao certo onde viviam, mas prometi divulgar as suas fotos, o que fiz na altura.  A jornalista do Público, Catarina Gomes, voltou a encontrá-las, em março de 2013, no sul da Guiné, carregadas de filhos...

Fotos  (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem que a jornalista do Público, Catarina Gomes, nos mandou, ontem, às 17h44, chamando atenção para uma reportagem que vai sair no Público, de domingo, dia 14, sobre o tema dos "filhos do vento". Ela deslocou-se recentemente á Guiné-Bissau, para efeitos deste trabalho de investigação e teve o apoio do nosso blogue e de diversos camaradas (como o Zé Saúde) e de amigos (como o Cherno Baldé). Está também a escrever um livro sobre o tema. Ela própria é filha de um ex-camarada nosso, alferes milicano, que esteve em Angola no final da guerra, e já falecido.

Boa tarde,

Só para vos avisar que já há na página do público, www.publico.pt, um videozinho de apresentação do projecto, que também terá 3 vídeos e uma página para debate e informações sobre os filhos que os portugueses deixaram para trás:

 http://www.publico.pt/multimedia/video/os-filhos-que-os-portugueses-deixaram-para-tras-20130711-142901

Mais uma vez, muito obrigada pela ajuda

Cumprimentos,

Catarina





Fotogramas do vídeo Em Busca do Pai Tuga, disponível desde ontem na página  Público Multimédia


"Em busca do pai tuga" é o título de uma série de reportagens que levou os enviados especiais Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende à Guiné-Bissau para contar as histórias de filhos que os ex-combatentes portugueses tiveram com mulheres guineenses e que ficaram para trás depois da guerra colonial ter terminado. Não tinham nascido ou eram crianças quando os pais deixaram o país, hoje têm entre os 40 a 50 anos e um sonho: conhecer o pai tuga. A reportagem foi feita no âmbito do projecto PÚBLICO+".

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Nota do editor:

Vd. aqui alguns dos muitos postes (, para além de centenas de comentários) que foram já publicados, no nosso blogue,  sobre a temática dos "filhos do vento" e do "sexo em tempo de guerra":

5 de julho de 2013 > Guiné 63/74 – P11807: Memórias de Gabú (José Saúde) (30): Rescaldo da apresentação de “As Minahs Memórias de Gabu", em Beja.



18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P9919: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte V : Depois de Piche: de novo em Bissau e Mansoa, a dar instrução a artilheiros, antes de ir para o sul (Bedanda, Gadamael e Guileje)

12 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11377: (Ex)citações (218): Sexo em tempo de guerra... e brancos mpelelé no pós-independência (Cherno Baldé / José Teixeira / António Rosinha)

8 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11360: (Ex)citações (217): Lavadeiras... e favores sexuais na Empada do meu tempo (José Teixeira / Arménio Estorninho, "maiorais" da CCAÇ 2381, 1968/70)
25 de março de 2013 > Guiné 63/74 – P11313: Guiné 63/74 – P11313: Memórias de Gabú (José Saúde) (26): Sexo em tempo de guerra. Tabu?
12 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8897: Filhos do vento (11): A filha da minha lavadeira (António Bastos)

11 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8888: Filhos do vento (9): Tenho por mim que são mais as vozes que as nozes (António Costa)


29 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8838: Filhos do vento (7): O infanticício não era uma prática tão generalizada quanto se pensa... O caso doBalanta-Tuga, de Bedanda (Cherno Baldé)




24 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8816: Filhos do Vento (2): Duas mães que eu conheci: Binta de Chamarra e Binta Bobo de Mampatá (José Teixeira)

23 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8813: Filhos do Vento (1): Nem branquear os casos nem culpabilizar ninguém (José Saúde)

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P11828: Parabéns a você (601): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista das CCP 122 e 123/BCP 12 (Guiné)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11818: Parabéns a você (600): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CART 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11827: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (5): Do "insucesso" do PAIGC à reacção das NT (Manuel Vaz)

1. Quinta e penúltima parte do trabalho elaborado e enviado, para publicação no nosso Blogue, pelo nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67). 

Lembremos a sua mensagem de apresentação:
Este trabalho que vai ser publicado em 6 Postes, correspondentes a outros tantos subtítulos, foi concebido como "peça única". 
Posteriormente foi seccionado e ilustrado, sem perder as caraterísticas iniciais.

Um abraço
Manuel Vaz 

UMA VISÃO ALARGADA DO ATAQUE A GADAMAEL

DOS ANTECEDENTES ÀS CONSEQUÊNCIAS

5 - DO "INSUCESSO DO PAIGC À REACÇÃO DAS NT

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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11774: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (4): Os Paraquedistas Desembarcam e Resolvem (Manuel Vaz)

Guiné 63/74 - P11826: Agenda cultural (278): Estreia hoje, nos cinemas, em Lisboa (Nimas) e Porto (Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo Alegre), o filme "A batalha de Tabatô", de João Viana. Os Super Camarimba, banda afromandinga do nosso amigo Mamadu Baio, atuam hoje no Espaço Nimas, em Lisboa




1. Estreia hoje nos cinemas, em Lisboa e Porto, "A batalha de Tabatô", segundo informação recolhida na respectiva página do Facebook, bem como Cinecartaz do Público.

Ver aqui o trailer oficial:  http://www.abatalhadetabato.com/pt_home.html

2. Ficha Técnica:

A Batalha de Tabatô
Título original:A Batalha de Tabatô
De: João Viana
Com: João Viana, Mamadu Baio, Fatu Djebaté, Imutar Djebaté
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: POR, 2013, Cores, 78 min.

Sinopes: "Depois de anos a viver em Portugal, o pai de Fatu regressa a África para assistir ao casamento da filha com Idrissa Djebaté. Ela é professora universitária e seu futuro marido é um músico conhecido. A festa de casamento é em Tabatô, um lugar extraordinário onde todos os seus habitantes são, há 500 anos, músicos djidius, cantores-poetas que narram contos e lendas representativos da vida africana. No caminho até lá, à medida que as recordações se avivam, o velho senhor começa a revelar traumas esquecidos da sua juventude, enquanto soldado mandinga na guerra colonial, décadas antes. Filmado na Guiné- Bissau, é a primeira longa-metragem de ficção de João Viana, que foi distinguido com uma menção honrosa na edição de 2012 do Festival Internacional de Cinema de Berlim."

Fonte: Público > Cinecartaz (Reproduzido com a devida vénia...)

Sessões:

Lisboa > Nimas >  Sala: Sala 1 >

 Sessões: 15h30, 18h30, 21h30

Av. 5 Outubro, 42B 1000-20 (GoogleMaps)

Telefone para Marcações: 213574362 >

Sessões: 18h30, 22h.

Morada: R. das Estrelas 4150-13 (GoogleMaps)

Telefone para Marcações: 226063000 > 

3. Concerto:

A banda Super Camarimba  (dirigida pelo nosso amigo Mamadu Baio, foto à direita) dá entretanto mais 2 concertos, em Lisboa,  hoje e no próximo dia 1 de agosto. 

11 de Julho > ESPAÇO NIMAS  (Avenida 5 de Outubro 42B - Lisboa, 1050-057 Lisboa, telef 21 357 4362)

1 de Agosto > B.LEZA

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11677: Agenda cultural (277): Lançamento do livro "Gente Com Coragem", do nosso camarada Castro Ferreira - Padrão, em Espinho, dia 22 de Junho. Convite.

Guiné 63/74 - P11825: (In)citações (53): Bem haja quem fundou o blogue, bem haja quem apreciou as crónicas do meu pai, e tu, pai, continua a escrever, peço-te. Da filha que te adora (Paula Ferreira)


Guiné > Bissau > 17 de dezembro de 1966 > O Veríssimo Ferreira, a esposa  e a filha Paula, de 2 anos e meio



Loures > Casa da família Ferreira > O pai, a mãe e a filha em dia de aniversário da filha-mais-que-tudo... Sabemos que ele é pai e avô babado. Escreveu ela, a Paula, aliás, Titau Ferreira,  na sua página do Facebook, no dia 6 deste mês: "50 anos - a responsabilidade de eu cá estar é destes senhores"... (Paula: o batalhão da Tabanca Grande, a 600 vozes, canta-te os Parabéns a Você, com uns dias de atraso!...Que sejam 50 anos de prata, ouro e diamante, a comemorar ao longo do 2º semestre de 2013!... Por outro lado,  há uma frase nossa que, contigo, ainda faz mais sentido: "Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são!").

Fotos: © Veríssimo Ferrea«iora (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem:  L.G.]


1. Comentário da nossa leitora Paula Ferreira ao poste P11821 (*)

Eu sou a menina que está na foto e que tinha dois anos e meio quando esteve na Guiné.

Sempre tive muito orgulho em dizer que o meu pai foi um combatente: não só na Guerra do Ultramar mas também na vida. Nunca nada lhe foi dado de mão beijada .Sempre trabalhou e lutou para ter alguma coisa na vida. É um exemplo de dignidade, integridade e muitos outros valores que tentei transmitir aos seus netos para quem ele é um ídolo e uma referência.

Não deixes de escrever, pai. Estas crónicas ajudam a exorcitar o passado cruel, e ajudam-nos a conhecer-te melhor. Respeitamos muito o sofrimento e a dor da guerra dos ex-combatentes, mas é importante que essas memórias sejam partilhadas para ficarem para as futuras gerações.

Ao meu pai, e a todos os que escrevem neste blogue deixo o pedido: continuem a escrever a història. Para os vossos filhos, netos e bisnetos. Só quem lá esteve a pode contar.

Bem haja quem fundou o blogue, bem haja quem apreciou as crónicas do meu pai, e tu, pai, continua a escrever. Peço-te. Da filha que te adora. Paula Ferreira. (**)

2. Comentário de Hélder Sousa (*):

(...)  A "cereja em cima do bolo" vem exactamente de onde certamente não esperavas, especialmente por aqui (confesso que também não esperava, fiquei até com alguma emoção), veio de uma tal 'menina' Paula que,  de uma forma cheia de amor filial, com grande empolgamento e com toda a razão, escreve as palavras certas e que subscrevo totalmente.

Já conhecia a foto da família em Bissau através do Facebook e aproveito a ocasião para te render homenagem quanto ao facto de teres podido proporcionar à tua família (existente à data) a possibilidade de conhecerem esse pedaço de África, mesmo em tempos de incerteza, para que pudessem "crescer", em conhecimento e riqueza interior.

Presumo que,  mesmo muito jovem, terá ficado alguma coisa na memória de infância que permita ter agora uma 'filtragem' quando surgem notícias depreciativas sobre a Guiné, as suas terras e suas gentes.

Caro amigo Veríssimo, dá-te uma 'folga', recupera o fôlego e sempre que possas e queiras... escreve! (...)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11824: Os nossos médicos (64): A propósito do nosso anedotário médico militar... (Rui Silva)


1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, BissorãOlossatoMansoa, 1965/67), com data de 3 de Julho de 2013: 

Estimados caros amigos Luís, Vinhal e Magalhães Ribeiro: 

Recebam um grande abraço e os maiores votos da continuação de uma boa forma para a sustentação deste querido Blogue.
Rui Silva



A propósito de médicos militares na Guiné

Ultimamente tem-se “falado” no Blogue de médicos incorporados nas tropas na Guiné e então fez-me lembrar um episódio; episódio que tem o valor que tem, ou que lhe queiram dar.

Não indico, por razões de princípio e óbvias, os nomes dos principais protagonistas: Médico psiquiatra no Olossato e Furriel com a cisma do “Paludismo crónico”.

A minha Companhia era das ditas independentes. Independente de quê, não cheguei a saber. Era, era bem dependente do Batalhão. Primeiro do BArt 645 os “Águias Negras” (águias com 3 cabeças!) e depois deste vir embora passou para a alçada do BCaç 1857.

Um e outro com sede em Mansoa. Zona de Ação: Oio, ou grande parte deste.

As Companhias ditas independentes eram assim como Companhias bastardas e ao que parecia as mais sacrificadas, para fazer jus ao epíteto. As do próprio Batalhão eram mais protegidas. Isto era o que bem parecia e o que se dizia. Terá sido bem assim? Bom, que a minha Companhia era quase sempre o Grupo de Assalto…

Não, não. Não pretendo fazer juízos de valor, e então lembrar-me dos que andaram por exemplo na operação Tridente, dos que estiveram em Guileje, Guidage, na fase final da guerra, entre outros lugares… Irra (!) por bons sítios ainda andei eu, afinal.

A minha Companhia não tinha médico próprio e, em Bissorã, quando estávamos ali com a 643 (Companhia de BArt 645) julgo que ali havia um clínico permanente e que pertencia ao efetivo do Batalhão. Não tenho a certeza porque, felizmente, não tive necessidade dos seus préstimos, isto em cerca de 5 meses que a Companhia 816 ali esteve.

No Olossato onde a Companhia 816 trabalhava já sozinha, a visita do médico era esporádica, mas, mais ou menos regular, convenhamos.

A messe dos Furriéis no Olossato. As portas da fachada, são as do refeitório e a primeira janela do lado esquerdo é a do meu quarto, onde ficava com mais 3 camaradas. Ali, no refeitório, comia-se menos mal, escreviam-se os aerogramas, ouvia-se a toda a hora o Roberto Carlos (quase sempre “Quero que todo o mais vá pr’ó inferno”) e jogava-se a batota à noite, e às vezes com batatada pelo meio (só ameaços).
Foto do álbum fotográfico do meu amigo José Augusto Ribeiro, ex-Furriel mil. da 566, que aqui reproduzo com a devida vénia.

E por falar de saúde, aqui se ilustra e se interroga se estávamos a tratar da saúde ou a dar cabo dela. Depois das “operações vaca” não faltavam uns miolos fritos bem regados com cerveja (bebia-se tipo trompete).  Era um pitéu que acontecia muitas vezes e ao meio da manhã. E tão bem que sabia! Dimais! Travessa e pratos da época: alumínio engelhado. Copos? não me lembro!

Estávamos então uns poucos de Furriéis na nossa messe no Olossato quando chega um Furriel camarada, da consulta no médico.
Perguntamos-lhe então qual era o problema.
- “O que é que o médico disse?”
- “Ele respondeu que isto passava, que, do que eu me queixo, ele anda bem pior, mas que não dá importância, que isso passa”.
- “Disse-lhe que me doía a barriga e ele aponta-me o sítio: “É aqui.?” “É mesmo aí Sr. Doutor”, ao qual ele me reponde: “É exatamente como eu, ando aí com umas dores…, mas, nem ligo, é melhor não tomar nada, que isto passa.”
- “Bom, como vi que o médico afinal ainda andava igual ou pior do que eu, vim resignado”.

Aqui então é que se despoletou a discussão.
- “Oh(!) caramba!!,” - disse outro após aquela queixa e ulterior resultado:
- “Ele também disse que andava pior do que eu. Queixei-me das costas e após algumas perguntas sobre outros sintomas ele diz-me”: 
- ” Olhe, eu também ando exatamente como você e não me queixo. Isto passa.”

Outros ratificaram o diagnóstico/ terapêutica quase taxativo do médico, sobre os seus casos, e chegamos à conclusão que era uma boa maneira psicológica de tratar os pacientes. Podia era não chegar. Não havia drogas, o que dava um certo conforto, e o pessoal queixoso esquecia o seu mal.

- “Afinal quando o médico se queixa mais do que eu…”. Nem sequer sinal dos tais comprimidos que “saravam tudo”.

Aqueles comprimidos brancos de cerca de um centímetro de diâmetro que eram dados dois, embrulhados num papel, que nos davam na tropa na metrópole. Os comprimidos LM. Estava ali tudo neles, o que era preciso para curar, tudo (ou quase tudo).

Na Guiné não dei por eles. Os micróbios, fungos, parasitas e outros seres microscópicos que por ali andavam eram bem outros e mais variados (à la carte).

- “Porque é que estes seres não são visíveis para que a gente possa dar conta deles antes que eles nos “cosam?” - como dizia um camarada meu, ajuntando que era um defeito da natureza.

Curiosa a imagem seguinte e legenda subsequente obtida e aqui reproduzida, com a devida vénia, do Blogue http://bart1914.blogspot.pt

Por que foi que deixaram de fabricar os comprimidos "LM"?... Acudiam a tudo - diarreias, cefaleias, bicos de papagaio, panaríssios, enjoos, malária, gripes, tremideiras, eu sei lá mais o quê?

Após alguma pesquisa viemos a saber que o médico ali no Olossato era um Psiquiatra.

Bom, de Psiquiatra também precisávamos e não era pouco, pois os neurónios da malta não andavam bem sincronizados, naquela situação, mas precisávamos mais alguma coisa da medicina, obviamente. E então de erupções na pele havia para todos os gostos. Logo as virilhas com a “flor do congo” à cabeça. Manga de erupções cutâneas, em forma de borbulhas de rosetas, de manchas, etc.

Aqui, os enfermeiros, com o 1214, também resolviam boa parte dos problemas de pele. Os alérgicos à tintura de iodo (raros), às vezes ficavam era ainda bem pior. O Ásterol era bom mas dava para chamar “oh da guarda!!”
Só que o 1214 não sarava tudo, o que era na pele, claro.

Mas que o Dr. Psiquiatra diagnosticou e “terapeuticou” muita gente, à custa de “boas palavras” e com (no mínimo) razoáveis resultados, lá isso foi uma boa verdade.

Tive um colega meu (julgo que o único caso do foro), que cismou que tinha o Paludismo crónico. Chegou a acordar-me alta madrugada com o “Simpósium terapêutico” na mão a apontar-me os sintomas do Paludismo crónico. E que era isso mesmo que tinha.
Os sintomas, que o livro preconizava, coincidiam precisamente c’os dele, isto na sua maneira de ver, claro. Chegou a comprar um termómetro e a andar com ele no bolso.

Um dia, em Bissau, andávamos juntos a passear, quando a certa altura dei por a falta dele ao meu lado. Olho para trás e ele estava encostado a uma árvore a medir a temperatura na axila.
Ao ler, olha para mim e diz-me:
- “Vês? Há pouco tinha 37.2 e agora já tenho 37.4. Vês? É uma característica do Paludismo crónico: oscilação da temperatura. Estou f…..”

Sei que após algum tempo recuperou, não sei se foi o aludido Psiquiatra que o curou. Se calhar até foi!

Passem bem!
Rui Silva
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Nota do editor:

Último poste da série de 9 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11820: Os nossos médicos (63): O dr. Sousa Fernandes, o VCC de Guileje, era de Coimbra e infelizmente já nos deixou em 2000 (José Crisóstomo Lucas)

Guiné 63/74 - P11823: Blogpoesia (349): O milagre do pão (J. L. Mendes Gomes)



Marco de Canaves > Paredes de Viadores > Candoz  > Quinta de Candoz > 1 de setembro de 2012 > O forno do pão que no passado também era "calafetado com bosta de boi"... E onde se coze o pão também se assa o anho...

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.



Lourinhã > Atalaia > Festa do Pão do Moinho > 1 de julho de 2012 > O famoso pão de milho com sardinhas, típico do oeste estremenho de há 50 anos atrás... São sabores da infância de muitos de nós...

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


O milagre do pão...


por J.L. Mendes Gomes


Desde pequeno, assistia de graça,
a um milagre semanal.
Quando minha Mãe,
que Deus tenha em bom lugar,
com um montão de farinha milha,
água da fonte, mexia...mexia...
e fazia uma pasta branca,
na gamela de madeira,
parecia um barco.

Juntava-lhe um pedaço doutra,
a que chamava fermento,
e voltava a mexer... a mexer.
Deixava-a a dormir,
em silêncio profundo,
durante um certo tempo.
Com uma cruz de bênção...

O forno de barro ardia em chamas...
até ficar rubro ao fundo.


Sobre uma pá de madeira,erguia montes de massa
que colocava lá dentro.
Até encher.
Fechava o forno com uma porta
e betonava bem,
com bosta de boi...


Depois era só esperar.Um milagre à vista ia romper:
Aqueles montões de massa,
quando se abria a porta,
tinham crescido tanto...
Que lindas boroas de pão
surgiam cheirosas...
Eram o nosso pão
p’rá semana inteira!...

Berlim, 10 de Julho de 2013, 
15h00

Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11759: Blogpoesia (348): Pedir desculpa é pouco (Ernesto Duarte)

Guiné 63/74 - P11822: Álbum fotográfico do Xico Allen: região do Boé, 1998: trágicos vestígios 'arqueológicos' da guerra colonial, entretanto já destruídos ou desaparecidos...

Guiné-Bissau > Região do Boé > > Boé > 1998 >   Embora esta zona seja pouco habitada, o Xico Allen encontrou e fotografou população civil quando lá esteve em 1998, com o António Camilo, o algarvio, e outros camaradas. Na época o grupo de portugueses que se deslocou ao Boé, partiu de Quebo (Aldeia Formosa), tomando uma picada existente sempre junto à fronteira com a Guiné- Conacri até á povoção do Boé, nas proximidades da antiga Madina de Boé, nosso aquartelamento e tabanca. No regresso vieram por Cheche onde atravessaram o Rio Corubal (onde lembraram os camaradas mortos e desaparecidos no trágico acidente de 6/2/1969, Op Mabecos Bravios) e seguiram para o Gabu (ex-Nova Lamego).


Guiné-Bissau> Picada de Cheche - Gabu > 1998 > Restos de viaturas das NT abandonadas...  [Julgo que entretanto, nestes últimos anos, foram retirados ou destruídos  todos estes vestígios "arqueológicos" da guerra colonial. L.G.]


Guiné-Bissau> Picada de Cheche-Gabu > 1998 >. Trinta anos depois da retirada de Madina do Boé (em 6 de fevereiro de 1969) ainda continuavam vísiveis os sinais das emboscadas e das minas...

Guiné-Bissau> Região do Boé  > Rio Corubal > Cheche > 1998 > Praia fluvial com rampa de acesso. Foto tirada a meio do rio, na viagem de Quebo (Aldeia Formosa) - Boé - Cheche- Gabu (Nova Lamego).



Guiné-Bissau> Madina do Boé > 1998 > A famosa fonte da Colina do Boé, com ornamentação de azulejo português, pintado à mão, de 1945. Parece(ia) haver vestígios de impacto de balas de armas automáticas (?).

Guiné-Bissau> Madina do Boé > 1998 > A famosa fonte da Colina do Boé é um sítio onde se concentra(va) alguma população civil da escassa que há (havia)  nesta região semidesértica, e a única da Guiné que é acidentada (com cotas que sejam quase aos 300 metros).


Guiné-Bissau> Picada Madina do Boé- Cheche - Gabu > 1998 > Fantasmas da guerra colonial que, de tempos a tempos, perturba(va)m a paisagem e o viajante... Mais uma viatura dos tugas abandonada à beira da picada...



Guiné-Bissau> Picada Cheche-Gabu > 1998 > Mais trágicas memórias da guerra...

Fotos (e legendas): © Francisco Allen / Albano M. Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e kegendagem complementar: L.G.,]


1. O Xico Allen [ex-1.º cabo at inf, CCAÇ 3566 - Os Metralhas, Empada, 1972/74, foto à direita], nosso tabanqueiro desde 2006, foi um dos primeiros camaradas a voltar á Guiné, depois da independência. E nos últimos anos chegou mesmo a lá viver. De acordo com as memórias da Zélia Allen, também nossa tabanqueira, o casal Allen visitou a Guiné do pós-guerra, em abril de 1992, eles os dois mais um outro casal, o Artur Ribeiro e a esposa. 

 Voltaram em 1994 lá voltaram, desta vez foram 3 casais e conseguiram ir a Empada, onde o Xico tinha feito a sua comissão. Uma terceira viagem foi em 1996 e uma quarta em 1998.

"Em Maio de 98, só os dois lá fomos e como costume, super carregados de roupas, brinquedos, medicamentos e alguns comestíveis, tudo para por lá distribuir. Xico sempre se zangava comigo na hora da partida pois parecia que eu desconhecia que de avião cada passageiro só pode levar 30 kgs de bagagem a não ser que pague o excesso. Mas eu, confiando sempre na minha boa estrela, deixava-o resmungar pois logo se veria, já que pagar é que não fazia parte dos nossos planos. Chegados ao balcão do chek-in e pesadas as malas, o peso total atingia quase 130 kgs. Que fazer?

"Enquanto ele resmungava pois sentia-se envergonhado perante tal situação, eu fui conversando com o gentil assistente, dizendo o que levava e porque o fazia, pois ia ao encontro de tantas carências quando as podia amenizar um pouco com tudo que ali estava, levando assim um pouco de felicidade e muita alegria sobretudo às crianças que nunca tinham tido um brinquedo de verdade. A minha argumentação conseguiu que a sua sensibilidade ultrapassasse o cumprimento das regras impostas e, já que não havia risco de perigo, pois se uns levam peso a mais outros levam a menos, o facto é que conseguimos levar tudo sem pagar mais por isso.

"Lá chegados, passamos uns 2 dias em Bissau e num jipe alugado viajámos para o interior, tendo como destino Empada, onde estivemos 2 dias. Aí sim, a experiência foi única até hoje, pois dormimos, comemos e tomamos alguns banhos na tabanca, onde luz só a da lua, das estrelas e da nossa lanterna pois desde a saída da tropa portuguesa não mais houve energia assim como outros bens essenciais, desde material escolar, medicamentos e alimentação. Os banhos, se assim se podem chamar, eram feitos despejando cabaceiras cheias de água retirada de um poço que gentilmente algumas mulheres nos iam entregando, fazendo-os passar por cima de um cercado e que funcionava como banheiro e não só...

(...)"No sábado regressámos a Bissau, onde outra grande aventura nos aguardava mas é demasiado longa assim como tantas outras para as inserir aqui, regresso esse devido a que no domingo à noite, com a chegada do avião,iria juntar-se a nós um grupo de 10 pessoas, 7 deles ex-combatentes, na sua 1ª romagem de saudade, que como todos os outros era a concretização de um sonho, sendo um deles o Sr. Casimiro, aqui do Porto, que se fez acompanhar pelo seu jovem genro, o Carlos, e outros seus amigos e companheiros de guerra, tendo então eu a oportunidade de conhecer o Sr.Armindo, de Moreira de Cónegos, o Sr. Camilo, do Algarve, o Sr. Pauleri, de Vizela, o Sr.Amílcar, aqui de Gaia, único que levou a esposa sendo assim eu beneficiada pois tive companheira para o resto da estadia e dos restantes lamentavelmente não me recordo dos nomes.

"O que não esquecerei nunca, foi poder ver a alegria misturada com a emoção, quando chegámos a Jumbembem, local bem conhecido deles, pois mais não me pareciam do que crianças irrequietas em pleno Portugal dos Pequeninos, tentando ver todo o canto e recanto onde viveram outrora." (...)


Julgo que para a Zélia aquela, a de 1998,  foi a sua última viagem à Guiné, mas não para o Xico, que continuou a lá ir rgulamente. As fotos que hoje republicamos, em formato "extra large", são dessa viagem de 1998, em que o Xico, o Camilo e outros camaradas foram até à região do Boé, a partir de Quebo, no sul, seguindo a estrada junto à fronteira. Estiveram em Boé, não sei se chegaram a ir a Beli,  e seguiram depois pela antiga picada que, indo por Cheche e Canjadude, ia dar a Gabu (Nova Lamego)... Fizeram, por isso, o mesmo percurso das NT,  Fevereiro, no âmbito da Op Mabecos Bravios (1-7 de fevereiro de 1969), ou seja a picada Madina do Boé-Cheche-Canjadude-Gabu. Estas fotos do Xico Allen têm um enorme interesse documental (tal como as fotos do álbum do Manuel Coelho, ex-fur mil trms da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68),  embora já tivessem sido publicadas, em formato reduzido, na I Série do nosso blogue, em 6/2/2006, no poste 500 (*).

Na altura, o Xico ainda não era nosso tertuliano (ou tabanqueiro), alegadamente por  não ter endereço de email...  Mas creio que já estava reformada da atividade bancária. Aliás, em conhecia-o, pessoalmente, a ele, ao Albano Costa , ao Hugo Costa e ao Zé Teixeira, em 31/12/2005, na Madalena... Foi o Albano Costa que, nesta transação,  serviu de intermediário: Teor da mensagem do Albano:

"Caro amigo Luís Graça: Envio sete fotos sobre Madina de Boé, a picada onde foram destruídas várias viaturas durante a guerra colonial, a fonte da Colina de Medina e a população civil de Madina. Luís, vou procurar nos meus arquivos para ofereceres essa imagem ao Mário Dias de uma placa que existe no Boé sobre o Domingos Ramos.

"Estas fotos são do arquivo do Francisco Allen: ainda hoje estive com ele, fica contente em saber que são úteis, as fotos. Um abraço, Albano Costa".






Guiné > Carta  da província > 1961 >  Escala 1/500 mil > Pormenor da região do Boé > .Pormenor do Gabu (Região de Gabu), passando pela antiga Madina do Boé, Cheche e Canjadude.  A independêmcia unilateral da Guiné-Bissau foi declarada em 24/9/1973, não em Madina do Boé (como se fez crer durante muitos anos), mas na região fronteiriça, a leste,  alegadamente em Orre Fello, perto de Lugajole, mas já em território da Guiné-Conacri. Por razões óbvias de segurança... Foi uma das maiores operações de propaganda, a nível interno e externo,  do PAIGC na época.

O antigo aquartelamento de Madina do Boé foi retirado em 6/2/1969 (Op Mabecos Bravios). O destacamento de Beli já sido retirado uns tempos antes, em 1968. Com retirada de Beli, Madina do Boé e Cheche, o aquartelamento mais a sul, de Gabu,  que nos restou foi o de Canjadude (guarnecido pela CCAÇ 5, onde esteve o nosso camarada e colaborador permanente José Martins, em 1968/70).

Foi também nesta região (desertificada) do Boé, "região libertada" (segundo a terminologia do PAIGC) que foram executados (por fuzilamento) uma boa parte das quase duas centenas de militantes e dirigentes do PAIGC acusados e condenados à morte pelo seu alegado envolvimento na conspiração e assassínio de Amílcar Cabral (em 22/1/1973). Todas as provas do seu julgamento, feito em Conacri,  desapareceram.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).



Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Ingoré > 1998 > Uma  foto que correu mundo... ou que , pelo menos, já deu a volta à Tabanca Grande... A legenda é do Albano (Costa): “Esta foto vale pela imagem, e os brancos em África converteram-se? Não é que ficaram a ver a Zélia a puxar o burro, mulher de armas!"... O Albano fez questão de me mandar esta e outras fotos da viagem do Xico e da Zélia, em 1998, com o seguinte recado: "... para ilustrares o que entenderes, com a devida autorização da Zélia" (sic).

Foto: © Francisco Allen / Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados.

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Nota do leitor:

(*) Vd. I Série, poste de 6 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - D: Madina do Boé, 37 anos depois

terça-feira, 9 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11821: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (41): 42.º episódio: Memórias avulsas (23): Em Bissau, adaptação e normalidade

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 4 de Julho de 2013, enviou-nos mais umas peripécias d"Os melhores 40 meses da sua vida", despedindo-se desta série, o que nós não acreditamos.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS

23 - EM BISSAU

A adaptação fez-se, tudo voltou à normalidade e acabei até para começar a ir ao médico, coisa que até agora não necessitara, pois que as pequenas mazelas, até então, resolviam-se com o Enfermeiro da Companhia.

No Hospital Militar conheci um Senhor Tenente-Médico, que depois voltei a encontrar "na" Lisboa e com quem aprendi o poder da mente. Imaginem só que certo dia e devido a excessos, senti que o meu órgão reprodutório estava a não reagir aos estímulos e isso colocava-me numa situação algo confusa, chegando até a temer que me estava a passar para "o outro lado".

Consulta marcada, apresentei o problema... o Senhor Doutor ouviu calmamente, ia tomando notas, questionou-me se era a primeira vez que tal me acontecia, mais isto... mais aquilo, etc... etc... etc... as frequências do acto... eu sei lá.
Depois dum enervante silêncio, ao mesmo tempo que ia rabiscando um papel, acaba por chamar o enfermeiro a quem segredou algo ao ouvido, este foi lá dentro e pomposamente voltou depois com um copo d'água e um comprimido, que deixou em cima da secretária e saiu.

É então que me explica que "isso pode acontecer, devido ao stress da função de que estás agora incumbido... e mais por isto... e mais por aquilo".

- Bom mas não fiques preocupado, vais tomar agora este comprimido e verás que hoje mesmo resolverás a questão que t'apoquenta" e voltas cá logo que queiras, para me dizeres como correu.

Cheio de fé fiquei, emborquei a pílula e raios m'a partam... resultou que nem ginjas, penso até que bati o meu record nessas tarde e noite.

Passados tempos encontrámo-nos, confirmei o bem da coisa e atrevi-me a pedir-lhe a receita, não fosse o diabo tecê-las e voltar a acontecer-me tão desagradável, senão incómoda situação.

- É pá isso não, não posso fazer isso mas se te acontecer semelhante tal, aparece que aqui na minha presença, tomarás tão mágica mezinha.

Por que insisti... insisti... e insisti, lá consegui que acedesse a dar-me mais uma daquelas milagrosas pastilhas. Chamou o enfermeiro, repetiu a cena do segredar-lhe ao ouvido, este ouvia religiosamente mas às tantas escangalhou-se a rir, (topei que estavam a gozar comigo) e diz:
- Ó Doutor, este gajo não é nenhum anjinho e mais vale dizer-lhe já que o que tomou foi uma aspirina.

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Entretanto chegou o Natal de 1966 e aquela noite prometia alguma paz e finalmente, algum divertimento.

Éramos cinco à mesa: eu, a minha filha então com dois anos e meio, a minha mulher um pouco mais velha, (haviam chegado para me fazerem companhia por um ou dois meses) e um casal amigo, ele também Furriel Miliciano.

Comida opípara, bebidas nos conformes e a boa disposição reinava.  Os contrastes da porca da vida, porém não deixaram que tudo fosse normal.

Cerca da meia-noite e quando a visita do Pai Natal já se anunciava, chegou o mini-moke que me procurava sempre que necessário e colocado ao serviço dos funestos acontecimentos, que me competiam após acontecidos, começar a acompanhar.
E lá fomos para o Hospital Militar.

Tragédia das tragédias, cinco dos nossos jaziam ali. Liguei para o Céu e perguntei: Porquê?

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Até que naquele dia 16 de Abril de 1967, determinaram e mandaram publicar, que eu devia embarcar no Uíge, a saudade começou aí, mas livrava-me finalmente do horror.

Voltei para a vida civil e um ano depois abandonei a Santa terrinha para vir para a Capital do Império.
Perdi coisas de que muito gostava, refiro-me ao Conjunto Sôr-Ritmo (onde fui o vocalista)... deixei as minhas mais que muitas fãs... a arbitragem de futebol e as saudações com pedras e até bocados da bancada com que me perseguiam em campo.



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P.S. -  "SE A TANTO ME AJUDAR O ENGENHO E ARTE" 

Ora aqui está uma frase que inventei agora e que decerto já leram em "Os Lusíadas", esse poema épico, escrito pelo nosso ENORME Luís Vaz de Camões.

Vem isto a propósito de que e não havendo PARA JÁ, mais a acrescentar, termino os melhores 40 meses da minha vida, mas pretendo regressar com o pós-Guiné, "Se a tanto me ajudar o engenho e arte", repito.

Grato estou aos que leram e gostaram, mais ainda aos que comentaram, aos que criticaram construtivamente.
Agradeço a todos vocês, meus novos amigos, que me "obrigaram" e mantiveram activo, vivo de verdade e rindo (também chorando) com as memórias que julgava não mais querer avivar.

Ao meu Caro Editor, SENHOR Carlos Vinhal que tão bem ilustrou e até titulou algumas crónicas, vai um especial obrigado.

Abraços para todos os que me fizeram sentir, de novo, o valor da amizade e aguardem-me porque no baú, velho como eu, ainda existem coisas para contar.

Até lá
Veríssimo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11781: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (40): 41.º episódio: Memórias avulsas (22): Alô Guiné... estou a chegar

Guiné 63/74 - P11820: Os nossos médicos (63): O dr. Sousa Fernandes, o VCC de Guileje, era de Coimbra e infelizmente já nos deixou em 2000 (José Crisóstomo Lucas)


1. Comentário do nosso editor, Luís Graça, ao poste P11815 (*)


Lucas: Estamos a falar de quem ? Do dr. António Sousa Fermandes, fisiatra, de Loulé ? E o vosso enfermeiro, Silva Pinto, por onde pára ? Traz esses camaradas até à Tabanca Grande... Um abraço. LG


2. Mensagens, de 8 do corrente, de J. Crisóstomo Lucas


(i) Abri o Blogue que já há algum tempo não lia e vi que o que fotógrafo   "anónimo" é o meu ex-furriel Durana Pinto. Só para que conste. Um abração / J.C Lucas.

(ii) Não, meu caro, estamos a falar de um camarada já falecido, natural de Coimbra, de seu nome Sousa Fernandes que faleceu há alguns anos (**) e que passou grande parte do tempo em Guileje: era o VCC da companhia (VCC queria dizer Velhinho Vomo o C..alho) com direito a chapéu colonial

Por curiosidade, tinha eu acabado de fazer um exame em Coimbra (onde acabei o curso após a minha vinda da Guiné ) e foi com ele que fui jantar, para depois regressar a Lisboa. Nessa noite soubemos do golpe (do 25 Abril). Claro que só vim para Lisboa no dia seguinte e ficámos toda a noite a ouvir rádio. já que a TV nada transmitia .

Enfim, belos tempos que também passámos em Guileje, motivo também de discussão nessa noite Onde foi realçada a situação em que o General Spinola me ofereceu o seu Helicóptero para eu ir para o PAIGC (um dia eu conto!)...

Relativamente ao Enfermeiro Silva Pinto mantém-se em Aveiro perto da sua terra natal, Talhadas, onde de quando em vez fazemos os nosso petiscos ( por curiosidade telefonou hoje a saber como eu andava; o grande amigo do Furriel Silva Pinto, é o vosso bem conhecido Furriel Assunção que também não perdoa uns petiscos; diga-se de passagem que nenhum de nós perdoa: coronel Chagas, todos os alferes com excepção infelizmente do Mendes Ferreira e praticamente todos os furriéis).

Estas petiscadas nada têm a ver com o almoço anual da companhia a que infelizmente este ano não pude ir por andar em tratamentos (e que só agora acabei).

Um abraço, J.C.Lucas (***)

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Notas do editor:

(*) 8 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11815: Os nossos médicos (61): Lembrando o médico dr. Sousa Fernandes e o enfermeiro Silva Pinto (J. Crisóstomo Lucas, ex-alf mil, CCAÇ 2617, Magriços de Guileje, 1969/71)

(**) (...)  "9. FALECIMENTO DO DEPUTADO MUNICIPAL DR. JOSÉ RODRIGUES DE SOUSA FERNANDES .

O Sr. Presidente referiu-se ao falecimento do cidadão de Coimbra Dr. Sousa Fernandes, ocorrido quando se encontrava de férias no Algarve. Para além do seu envolvimento nas cerimónias fúnebres o Sr. Presidente referiu-se à relevância do falecido médico para a cidade, pessoa sempre presente nas várias iniciativas importantes do município, quer na qualidade de deputado municipal quer como presidente da Liga dos Amigos dos HUC [Hospitais Universitários de Coimbra] ou ainda da Associação Nacional de Apoio ao Idoso [ANAI], onde desempenhava as funções de reitor da Universidade dos Tempos Livres. Referiu-se ainda à Oficina do Idoso, iniciativa conjunta da Câmara Municipal e da ANAI  em que a sua abertura está prevista para Setembro, e que não gostaria que a mesma não fosse comprometida, até porque seria uma boa forma de homenagear a sua memória. Por fim Sr. Presidente apresentou aos Senhores Vereadores a sua intenção de perpetuar o seu nome numa das artérias de Coimbra, fazendo assim parte integrante da toponímia da cidade, como acto de cultura e civismo. " (...)


(***) Último poste da série > 8 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11816: Os nossos médicos (62): A minha CCAÇ 5, de recrutamento local, não tinha médico... Lembro-me, isso, sim, do saudoso srgt mil enf Cipriano Mendes Pereira (José Martins, Canjadude, 1968/70)

Guiné 63/74 - P11819: Bom ou mau tempo na bolanha (18): Aqueles olhos azuis! (Tony Borié)

Décimo oitavo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Hoje até estava fresco pela manhã, bom para sair e ir dar um passeio pelas redondezas. O agora Tony assim fez. Caminhou à beira do canal onde existe um passeio longo que o contorna, com algumas flores e alguns bancos colocados estrategicamente, para os mais idosos e não só, se sentarem, e de onde se avista parte do canal e algumas terras alagadiças, selvagens, que se parecem muito às nossas conhecidas bolanhas. Vendo passar um grupo de pessoas, onde iam algumas raparigas afro-americanas, logo lhe veio à memória outras,uma das quais se chamava Cumba, e que era a sua lavadeira, que mais tarde veio a saber serem guerrilheiras, e que eram naturais, mas com olhos azuis, que diziam que talvez fossem descendentes dos padres, que antes dos militares, estavam estacionados na vila de Mansoa, num convento de uma ordem religiosa francesa, que mais tarde os militares ocuparam já em ruínas, mas que recuperaram, e onde estava instalado o comando do Batalhão de Artilharia “Águias Negras”.

Nessa altura, também andava por lá uma rapariga, que vivia entre a vila e a aldeia com casas cobertas de colmo, que existia perto do aquartelamento e da estrada que seguia para Mansabá, que pouco mais era do que um carreiro, filha de uma guineense e de pai era natural de Cabo Verde. Este tinha a profissão de marceneiro, e de um tronco de madeira fazia tábuas, tirantes, ripas, tudo a poder de um grande serrote que as suas mãos manuseavam. A rapariga, que devia de andar pela idade de quinze ou dezasseis anos, tinha uns olhos azuis com uma tonalidade verde, que sobressaiam e os cabelos eram entre o preto e o loiro, era bonita e alguns militares ficavam admirados com a sua beleza e comentavam no aquartelamento.

O Tony caminhou mais um pouco e sentou-se num desses bancos, e lá vem de novo ao seu pensamento aquela que quase todos vocês já conhecem. Sim, a menina Teresa, que deu muitas canseiras ao então Cifra, e que quando este chegou a Portugal lhe dava algum trabalho e “muitos favores”, pois era uma desavergonhada, como quase todos vocês se lembram. Mas voltando ao seu pensamento em Mansoa, o então Cifra foi ter com esse marceneiro para resolver o problema da menina Teresa, que era a execução de um “Falo”, ou seja um “Phallus”, ou mais propriamente um “Pénis” em madeira de ébano preta, que ela lhe pediu, e dizia que era para lhe dar melhor sorte na vida, pois era uma “solteirona”, que já tinha passado dos “cinquentas”. O marceneiro acabou por resolver o problema para alívio do Cifra e contentamento da menina Teresa.

Quando foi à oficina do artista não queria crer no que viu. A tal rapariga bonita, olhos azuis, com tonalidade verde, cabelos pretos e loiros, era um “esqueleto”, cara e corpo, seco e mirrado, sentada num banco, amparando-se com um pau, já sem parte dos pés, as pernas embrulhadas em farrapos e com feridas, alguns dedos das mãos estavam tesos e falava aos soluços, pois dava a entender que não podia mover a língua. Contudo os olhos ainda com algum brilho, estavam lá. O Cifra questionou o marceneiro sobre o estado deplorável da sua filha, e este contou-lhe que ela tinha muitas doenças, entre as quais a “lepra”. Que estava à espera de morrer. Que no aquartelamento já sabiam do seu estado de saúde, estando a ser medicada, embora se sabendo que não havia cura possível.

O Cifra ainda foi questionar o Pastilhas, que depois de saber de onde ele tinha vindo e do que tinha encomendado ao marceneiro, mostrou um sorriso malicioso e provocativo.

Depois do Cifra lhe perguntar se ele já sabia daquele caso, ele, então sim, olhou o Cifra, não com os tais olhos azuis, com tonalidade verde, da rapariga bonita, com cabelos pretos e loiros, que agora estava quase a morrer, com muitas doenças mais a doença da “lepra”, mas sim, com os seus olhos bondosos, que escondiam algumas lágrimas, e encolheu os ombros.
Devia de saber deste e de muitos casos, mas nada podia fazer, pois a falta de recursos naquele tempo era evidente, morria-se única e simplesmente, e como era seu hábito e sempre que via o Cifra, puxou-o para fora da enfermaria, talvez julgando que o Cifra tinha fumado algum cigarro feito à mão e que lhe ia roubar o frasco do álcool.

O agora Tony, com estes pensamentos, levantou-se, caminhou mais um pouco, olhou o horizonte, viu as horas, e pensou como o relógio, às vezes é tão lento.

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11801: Bom ou mau tempo na bolanha (17): O 4 de Julho nos Estados Unidos (Toni Borié)

Guiné 63/74 - P11818: Parabéns a você (600): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CART 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11811: Parabéns a você (599): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)