quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12529: Manuscrito(s) (Luís Graça) (16): desejos

O desejo é um pudim instantâneo

Luís Graça

 Quando eu era puto sempre me ensinaram
o terrível poder do Desejo, com D grande:

 Diz três desejos e cala-te! 
Intimava-me o Brutamontes.

 Quero ser rei,
ter um exército invencível
e destruir todos os meus inimigos!
 

confessava eu, baixinho, aterrorizado,
no recreio da escola.

Cresci e perdi definitivamente a ilusão
de que um dia poderia ser Deus.
Omnipotente. 

Omnisciente. 
Omnipresente.
Nem sequer rei ou até general.

Sou simples soldado da própria minha guerra (existencial).
Em contrapartida, aprendi a conhecer (mal)
os quatro cavaleiros do apocalipse humano:
a estupidez, 

a arrogância, 
a ganância, 
a intolerância.

Quanto ao desejo, com d pequeno,
pu-lo no frigorífico, 

em caixinhas tupperware:
saúde, 

paz, 
amor, 
amizade, 
liberdade,
justiça,
dinheiro,
felicidade
Em doses generosas, fraternais.
Tudo pronto para ser exportado,
por terra, por mar ou by air.
Tudo pronto a ser usado
num próximo ensejo.

Mas o desejo tem um prazo 

de validade.
O desejo dá azo
a efeitos secundários e exige precauções,
antes de ser formulado.
Deve agitar-se, primeiro, antes de usar-se.
Nunca deve ser congelado, 

nem muito menos revalidado.
Em caso algum, deve ser sublimado.

Hoje o desejo é um pudim instantâneo
que se compra no hipermercado
e está sujeito a IVA 

e a controlo da qualidade.
Vem em dose individual
e o seu modo de administração é cutâneo.
Por mim, confesso, 

ao senhores do fascismo sanitário,
que sou um produtor artesanal
de desejos.
Que não estou homologado nem acreditado.
Que a minha produção é para autoconsumo,

meu e dos amigos.
E que às vezes tenho maus desejos.
E até maus pensamentos.

Alguns poderão ser  virtualmente criminosos, 
receio bem.
Como quando era puto, e queria ser rei,
e ter um exército invencível,
e matar o Brutamontes.



Hoje despeço-me do velho ano de 2013
e saúdo o novo ano de 2014.

Sei que é um mero truque de calendário.
Um dia sucede a outro.
Todavia, gostaria deveras 
de poder usar o terrível poder
do Desejo com D grande...
Mas tenho medo do risco totalitário.
Alguém disse que o desejo corrompe,
e que o desejo absoluto corrompe absolutamente.

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12485: Manuscrito(s) (Luís Graça) (15): A minha quadra... natalícia: Q'remos pedir este ano / À Troika e ao Pai Natal / Que volte a ser soberano / O nosso querido Portugal


terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12528: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (17): Doença do sono: investigação sobre conhecimentos, atitudes e comportamentos (Luís Costa, Universidade de Coimbra)


A mosca tsé-tsé  (vocábulo que vem do banto), transmissora da Doença do Sono. Fonte: Wikipédia (reproduzida com a devida vénia...)


1. Do investigador da Universidade de Coimbra, o antrópologo Luís Costa, com datas de  3 e 4 do corente:


(i) Bom dia.

Sou investigador da universidade de Coimbra a realizar investigação sobre a doença do sono na Guiné no tempo colonial.

Pedia se tem conhecimento ou conhece alguém no seu circulo de antigos combatentes na Guiné (enfermeiros, médicos, ou outros militares) que pudessem falar sobre a doença, a Missão do Sono, e os serviços de saúde (militares e civis) na Guiné colonial.

Peço-Lhe AJUDA, para poder aceder ao testemunho importante de pessoas importante para a minha investigação.

Cumprimentos, Luís Costa


(ii) Obrigado pela Vossa ajuda.

Esta investigação é de cariz histórico/ antropológico, pelo que todas as informações são importantes.

Prof. Luis Graça, sabe de alguma documentação/ arquivo onde possa ter acesso a como eram os serviços de saúde no tempo da Guiné colonial?

Agradecia a divulgação no vosso blogue, pois talvez encontre pessoas que me possam dar informações preciosas.
Muito obrigado, Luis Costa

2. Respostas do nosso editor L.G.:

(i) Luís Costa: OK. Obrigado. Vou ver o que há (**)...Podemos fazer um apelo à malta do blogue. Em Bambadinca, havia a "Missão do Sono", desativada. Passei lá muitas noites... com os meus soldados africanos... Depois do ataque a Bambadinca, em 28/5/1969, a "Missão do Sono" (uma morança, no reordenamento de Bambadincazinho) passou a ser, de noite, guarnecida por um Grupo de Combate, funcionando como segurança imediata do quartel de Bambadinca (que ficava a menos de 1 km)... Um abraço. Luis

(ii) Luís: Eu nessa altura não estava... na saúde. Mas vamos fazer o nosso melhor para encontrar fotos e documentos que são relevantes para o seu trabalho ou deem algumas pistas... Para já fica a saber que havia em certas circunscrições e postos administrativos, no chão fula (caso de Bambadinca) "Missõesdo Sono" (... mas já desativadas quando eu lá cheguei, em Julho de 1969)... Os fulas, como sabe, são grandes criadores de gado...

Um abraço. Luis Graça

3. Comentário final de Luis Costa

Bom dia Prof. Luis,

Bambadinca deveria ser o caso de uma Tabanca-Enfermaria, como outras existentes na Guiné. No que diz respeito aos antigos militares, interessam-me muito especialmente questões como: 

(i) o que sabiam da doença quando partiam de Portugal? tinham alguma preparação prévia? (já houve um militar que me disse que eram todos vacinados contra a mosca tsétsé...) (***):

(ii)  representações, medos e receios da doença no terreno;

(iii) se alguém teve/ ou viu a experiência da doença, etc, etc...

Devo ir no próximo ano à Guiné fazer investigação no terreno e decerto a zona dos fulas e mandingas (Bafatá e Gabú) será uma das minhas atenções, não só por a doença atingir as pessoas, mas também os animais....

Numa investigação antropológica, são todas estas representações sociais e práticas culturais em torno da doença que me interessam.

Muito obrigado pela sua ajuda, Luis Costa

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Notas de leitura:

(*) Último poste da série > 11 de novembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12277: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (16): Foto(s) do antigo edifício da Casa Gouveia, no Cacheu, precisa(m)-se... Agora em recuperação, nele será instalado o futuro Memorial da Escravatura... Cacheu foi também o berço do crioulo.

(**) Vd. postes de:

27 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12511: Notas de leitura (547): "Portugal em África", por Richard Pattee (Mário Beja Santos)

30 de junho de  2011 >  Guiné 63/74 - P8492: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (6): A Doença do Sono (Rui Silva)
(***) Para saber mais sobre a doença do sono, procurar aqui, no sítio do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa

Guiné 63/74 - P12527: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (28): A TAP e a Guiné-Bissau ou... a Guiné "TAPdependente"





Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira > 29 de fevereiro de 2008 > Chegada de um grupo de amigos da Guiné, que vieram participar no Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). Na foto acima, o Pepito e o Carlos Silva. Na  foto anterior, a Alice Carneiro.  A TAP, companhia de bandeira portuguesa,  tem sido nestes anos todos, depois das independências das colónias portuguesas em África, um instrumento importante da lusofonia... E, seguramente, uma arma que a diplomacia portuguesa usa (mas de que não pode abusar)... A diáspora portuguesa estende-se por cerca de 200 países... (LG)

Fotos ( e legenda): © Luís Graça  (2008). Todos os direitos reservados.

1. Texto enviado, com data de ontem, pelo António  Rosinha, [, fur mil em Angola, 1961, foto à esquerda; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993]:

Assunto: A TAP e a Guiné-Bissau, ou a Guiné  "TAPdependente"


Com o fim do Império acabaram as Companhias de Navegação, a Colonial, a Nacional e a Sogeral (CUF), aqueles Vera Cruz, Império, Principe Perfeito, Ana Mafalda, enfim, aquele imaginário colonial que só podia existir com o tal Império.

Ora, se Salazar ao criar a TAP, foi a pensar no Império, porque o homem não ia investir em nada que não fosse bem justificado, porque a TAP resistiu ao fim do Império, ao contrário dos navios?

Sim, talvez sem Império não houvesse nunca TAP, porque Salazar era contra certas modernices e não tinha manias de grandezas.

Salazar era homem para mandar o Humberto Delgado, obreiro da TAP, trazer um foguetão da América, se Portugal tivesse uma colónia na Lua.

Com as colónias, Salazar era um "perdulário", e depois com Caetano também os melhores aviões do mercado a TAP adquiria.

Com a TAP, Portugal nunca até hoje virou as costas às ex-colónias, nem estas viraram as costas à antiga Metrópole.  De tal modo que no caso da Guiné a TAP está a ser motivo para uma guerra Portugal/Guiné, só porque em Lisboa o Governo acha que a Guiné ainda não manda na TAP, apesar dos "direitos adquiridos"  que a Guiné possa ter.

Salazar,  que sabe tudo, ou não tivesse a PIDE, não deve estar satisfeito com a suspensão dos voos Lisboa/Bissau. Sabe-se que,  já desde a independência, se a TAP hesitasse havia muitos guineenses e muitos vizinhos destes, que queriam a Air France a substituir a TAP.

E se hoje a Air France não estará muito interessada, é que por enquanto são necessários muitos aviões para transportar legionários por todo o lado onde se fala francês, onde está tudo numa roda-viva. Ele é cristão, ele é islão, é Lampeduza, é Ceuta e Cadiz e Grécia, e os guineenses que tenham juízo e sejam responsáveis, porque da Tuga, e da própria Europa que está mais virada para outros problemas, já pouco mais resta do que a sua querida TAP.

É que às tantas só lá vão com legionários estrangeiros (mas sem psico).

E a Guiné-Bissau sem TAP, que para a maioria dos guineenses não é apenas uma simples companhia de aviação, mas também um símbolo que muito os autonomiza e distingue dos "vizinhos-irmãos", que respeitem a sua Companhia de Aviação, porque quem fez esta, não faz mais.

Quando se diz e se lê constantemente quando da luta de libertação da Guiné que Amilcar Cabral, previa e predizia muitas coisas más que podiam ocorrer em África,  e na Guiné em particular, não passava pela cabeça dele nem de ninguem que uma suspensão da TAP Bissau/Lisboa fosse tão importante para a vida de um país.

E que, sem TAP,   pode alterar, qual nova independência, a vida total da Guiné-Bissau: no campo económico, socialmente, internacionalmente, culturalmente, e porque não, até no relacionamento tribal e colimiteiro (, tudo isto, fácil de explicar).

Ou não terá importância nenhuma?

Era melhor repor as ligações Lisboa/Bissau e acabar com os golpes e guerras internas. Guerras de kalash e catanas, mas também de feitiçarias.

E que os cristãos fiquem nas suas igrejas e muçulmanos nas suas mesquitas, e não façam como certos primos dos guineenses, que andam a "rezar" uns pelas almas dos outros.

Dizia o pessimista do Salazar que os africanos não estavam preparados para se governarem. Mas era só meia verdade, a Europa, velha e caduca e abandalhada,   é que preparou tudo mal e à pressa e,  até dos casos mais graves em África, nem será o caso da Guiné-Bissau.

Cumprimentos

Antº Rosinha

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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12424: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (27): Mandela só houve um, infelizmente só um... Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo, no país do oiro...

Guiné 63/74 - P12526: Fichas de unidade (9): Companhia de Caçadores N.º 2724 (Guiné, 1970/1972)





1. Em mensagem do dia 17 de Dezembro de 2013, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), a pedido do nosso editor Luís Graça, enviou-nos a Ficha da CCAÇ 2724.




COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 2724

Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores nº 2724
© Foto de José Casimiro Carvalho (2010) ¹

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria nº 15, de Tomar e, sob o comando do Capitão de Infantaria José Pinto Correia de Azevedo, adoptou como Divisa Non Nobis

Embarca em 04 de Abril de 1970, desembarcando em Bissau em 11 de Abril de 1970.


Síntese da Actividade Operacional:

Realizam o treino de aperfeiçoamento operacional, entre 16 e 22 de Abril de 1970, em sobreposição com a Companhia de Caçadores n.º 2401. Após o treino de aperfeiçoamento, assume a responsabilidade do Sector de Buruntuma, com um grupo de combate instalado em Camajabá. Fica integrado no dispositivo do Batalhão de Artilharia n.º 2857 e, mais tarde, do Batalhão de Cavalaria n.º 2922.

É durante este período que, ARNALDO ANTÓNIO MORAIS, Soldado Condutor Auto Rodas NM 10105369, casado com Maria Ernestina Alves Morais, filho de João António Morais e Cremilde da Conceição Cepeda, natural de Nuzedo de Cima, freguesia de Tuízelo e concelho de Vinhais, tombou vítima de ferimentos em combate num ataque inimigo ao aquartelamento de Buruntuma, em 5 de Setembro de 1970, sendo inumado no Cemitério Paroquial de Salgueiros e Tuízelo.

É rendida, em 17 de Fevereiro de 1971 em Buruntuma, pela Companhia de Cavalaria n.º 1747, sendo transferida para Nova Lamego, para dar protecção aos trabalhos da asfaltagem da estrada que ligava esta localidade a Piche.

Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores n.º 2724 
© Foto da colecção de Carlos Coutinho

Porém, a 24 de Fevereiro de 1971, inicia a deslocação para Bissau, tendo os grupos de combate ficado adidos à Companhia de Caçadores n.º 2571, até à chegada de todos os efectivos, que se verificou a 12 de Março de 1971.

A Unidade é integrada no Comando de Bissau e, em 13 de Março de 1971 assume a responsabilidade do subsector de Brá, substituindo a Companhia de Caçadores n.º 3327. Destacou forças para Safim e João Landim.

De 24 de Março a 6 de Abril de 1971, destacou um pelotão para reforço da guarnição de Nhacra, e de 14 de Abril a 7 de Junho, destacou dois pelotões para os reordenamentos de Jugudul Com e Changue Bedeta.

É substituído em Brá pela Companhia de Caçadores n.º 2658, seguindo para Quinhamel, para render a Companhia de Caçadores n.º 2617, onde assume a responsabilidade do subsector, com destacamentos em Ponta Vicente da Mata e Ondame.

A 23 de Fevereiro de 1972 é rendida em Quinhamel pela Companhia de Caçadores n.º 2796, recolhendo a Bissau. Iniciou a viagem de regresso a 13 de Março de 1972

(História da Unidade - Caixa nº 85 – 2.ª Div/4.ª Secção, do AHM)


Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores nº 2724 
© Foto de José Casimiro Carvalho (2010) ¹


(1) - Fotos de José Casimiro de Carvalho publicadas no P6708 de 10 de Julho de 2010 que teve o seguinte comentário:

Galileu disse...
Camarada José Carvalho
Fiquei bastante satisfeito em ver que o emblema da CCac. N.º 2724 que ficou em Buruntuma, ainda se encontra em perfeitas condições, embora já não esteja no mesmo lugar em que o deixámos. O molde do emblema foi feito por mim, e construído por um camarada do meu abrigo.
Aproveito esta oportunidade para cumprimentar a população de Buruntuma e agradecer a boa forma como sempre me trataram.
Obrigado e felicidades para todos.
O ex-furriel Acácio Lobo
acacio.lobo@sapo.pt
Sábado, Janeiro 15, 2011 11:34:00 PM

18 de Dezembro de 2013
José Marcelino Martins
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2010 > Guiné 63/74 – P7169: Fichas de Unidades (8): Batalhão de Caçadores N.º 4514/72 (Guiné, 1973/74) (José Martins)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12525: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (12): Foto aérea, nº 1 (Humberto Reis)







Guiné > Zona leste < Região de Bafatá > Bafatá > c. 1969/71 > Foto  nº 1 > Vista aérea, do álbum do fur mil op esp Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Foto aérea nº 1 (Humberto Reis) > Legendas de Fernando Gouveia

1 – Esquadrão de Cavalaria.

2 – Comando de Agrupamento.

3 – Secção de Engenharia.

4 – Cemitério.

5 – Casa do Comandante do Esquadrão.

6 – Igreja na avenida principal.

7 – Fim da pista.

8 – Tabanca da Rocha.

9 – Casas ao longo da estrada para Bambadinca.


Foto: © Humberto Reis (2006).

Todos os direitos reservados. 

[Edição: L.G.]

Legendas: © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto; foto atual à esquerda]

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Guiné 63/74 - P12524: Os Nossos Regressos (29): Chegados a 2 de Abril de 1974, mal podíamos imaginar que a guerra estava a acabar (António Eduardo Ferreira)


1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 28 de Dezembro de 2013:

Amigo Carlos
Votos de boa saúde extensivos a todos os camaradas que passaram pela Guiné.

Hoje vou falar da viagem mais desejada, o regresso a casa.


Aqui estava encostado a uma papaeira, no local onde passei os últimos meses de comissão, COMBIS, faltavam poucos dias para regressar à metrópole, mas a incerteza quanto ao regresso era total, o tempo “normal” de comissão já há muito que terminara. Só no dia, e com o avião no ar, nos convencemos que era mesmo verdade, estávamos a deixar a guerra e a regressar a casa, eram cerca de dez horas locais quando embarcamos no aeroporto de Bissalanca.

Antes, tinha aproveitado para gastar o resto dos pesos que tinham sobrado, eram poucos, depois foi o tão desejado embarque.

Durante cerca de vinte minutos o avião esteve sujeito a uma turbulência nada agradável, mas pensar que aquela era a viagem que muitos de nós chegamos a pensar que poderíamos não chegar a fazer…
Depois desses minutos agitados, a que fomos sujeitos, o resto da viagem decorreu normalmente, na tarde desse dia “2 de Abril de 1974” o avião aterrava no Aeroporto da Portela com saída por Figo Maduro e, dali para o RAL 1, (creio que se chamava assim) onde fizemos o resto do espólio, depois foi o regresso à vida civil.

A guerra já não viria a durar muito tempo porque tinha acontecido já o 16 de Março e poucos dias depois, a 25 de Abril, aconteceu o movimento dos capitães.

Com tantas ocorrências, em tão pouco tempo, fiquei de algum modo confuso.
A grande preocupação, e que bastante me afligia, era pensar se o material de guerra faltava, particularmente aos que nos tinham ido render a Cobumba, como seria que conseguiam dar conta do “recado… assim como todos aqueles que estavam nas piores zonas de guerra, que eram muitas.
Politicamente, não tinha nenhum conhecimento daquilo que estava a acontecer, daí que enquanto a maioria das pessoas vivia intensamente em clima de festa, eu, só depois de saber que os combates na Guiné tinham terminado, fiquei mais tranquilo, porque até então passei alguns dias bastante perturbado.

Felizmente aquilo que mais me preocupava, não aconteceu. Outras situações aconteceram, de que muitos se deviam de envergonhar, mas a guerra é assim, todos saem a perder, só que uns mais que outros…

António Eduardo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10169: Os Nossos Regressos (28): Gama Carvalho, 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 1973/74), autor do blogue Estrada Fora, surpreendido em Figo Maduro pelo ardina que vendia o jornal A Merda, em 11 de setembro de 1974...

Guiné 63/74 - P12523: Notas de leitura (548): "Tratado Breve dos Rios de Guiné", por Capitão André Álvares D'Almada (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Julho de 2013:

Queridos amigos,
Impossível estudar a história da Guiné sem apreciar a primeira peça historiográfica, o "Tratado breve dos rios da Guiné".
É incompreensível como nunca se tenha feito uma reedição com o português actualizado. É um documento cheio de detalhe, como se o autor, à luz dos conhecimentos actuais, possuísse a preparação de etnólogo e etnógrafo. Percorreu a muito pouco definida Senegâmbia, vê-se que sabe do que está a falar, desde a economia à religião. Dá para entender a frágil presença portuguesa, tirante alguns pontos dos rios, tudo pelo diverso comércio, percebe-se a importância do tráfico de escravos. asseguro-vos que nada há aqui de enfadonho, é uma peça historiográfica que deve encher de orgulho portugueses e guineenses.

Um abraço do
Mário


"Tratado Breve dos Rios de Guiné": 
A “cédula pessoal” do encontro luso-guineense (1)

Beja Santos

Em 1594, o capitão André Álvares de Almada, natural da ilha de S. Tiago escrevia o documento mais importante sobre o encontro luso-guineense: "Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde"; desde o rio de Sanagá até aos Baixos de St.ª Ana; de todas as Nações de Negros que há na dita Costa, e dos seus costumes, armas, trajes, juramentos e guerras. Elementos mais valiosos, riqueza documental assim, não existiam na nossa historiografia. No entanto, o trabalho de André Álvares D'Almada andou esquecido. Deve-se a Diogo Köpke, em 1841, relevando trabalho de ter preparado a edição do Tratado, feita à base de um manuscrito que estava recolhido na Biblioteca Pública Municipal do Porto. Em 1946, no âmbito das comemorações do V Centenário do Descobrimento da Guiné, dava-se à estampa a edição nova do tratado.

Não percamos tempo naquilo que toda a gente sabe: a Guiné que aqui se descreve ia desde o alto Senegal até à Serra Leoa; a Guiné do Cabo Verde tem a ver não com o arquipélago mas com o cabo do mesmo nome, em território continental; Álvares de Almada percorreu a costa e entrou em diferentes rios, diz no prólogo que foi pelo rio Gâmbia 150 léguas; e os primeiros capítulos registam exatamente povos que não ocupavam o território que foi o da Guiné portuguesa e é hoje o da Guiné-Bissau, os Jalofos, o reino dos Barbacins e Mandingas, o reino da Gâmbia, o território dos Arriatas e Falupos, e por fim o reino do Casamança. É nesta complexidade de observações que se encontram elementos de indiscutível importância, mas para o conhecimento mais alargado de toda a região.

É a partir do chamado reino dos Buramos (não esquecer a então influente etnia Brame) e dos Falupos do rio de São Domingos que estamos chegados ao território atual. Diz o cronista: “A primeira povoação está com 8 léguas de entrada ao longo do rio de S. Domingos, chamado pelo nome de Farim. As casas da dita povoação são de taipa, como as de Casamança, com grandes cercas de paus fincados a pique feito um muro de palha a que chamam Tapadas”. Aqui havia artilharia numa fortificação para defender este território das intrusões de ingleses e franceses, forte mandado edificar por Manuel Lopes Cardoso, vizinho da ilha de S. Tiago. A povoação ao lado do forte teria 700 a 800 pessoas e imperava a fé cristã. Os ingleses e franceses queriam comerciar couros, cera e marfim. E tece um comentário: “Os negros nesta terra, os cortesãos que andam da corte dos reis com quem tratam os nossos, andam vestidos com umas roupetas compridas e uns panos cingidos, e por debaixo desses panos trazem uma pele. Os mais do sertão andam nus. As armas que trazem são espadas curtas, facas, azagais, adargas, frechas”. O rei dos Buramos ia ao forte assistir à missa, a presença cristã ao tempo era incontestável. E o autor insiste na necessidade de se fundar na ilha de S. Tiago uma casa de religiosos para vir aqui missionar. S. Domingos era terra dos Banhus, aqui havia uma aldeia grande e se praticava o tráfico de escravos. Temos aqui descrições primorosas sobre usos e costumes, descrevem-se também Casangas, caçadores de elefantes e explica a arte da caça. Observa que no rio de S. Domingos há mais escravos que em todos os outros da Guiné, porque nele participam Banhuns, Buramos, Casangas, Jabundos, Falupos, Arriatas e Balantas. Ficamos a saber que os Buramos são bons e serviçais escravos, e que limam os dentes.

E segue-se a descrição dos Bijagós e dos seus costumes: são muito guerreiros, pelejam com os Buramos e Beafares, não há rei entre eles, fazem as suas povoações ao longo do mar, atravessam muitas vezes mais de dez léguas e vão até o Rio Grande, terra dos Beafares e fazem grande destruição. Os homens não fazem mais que três coisas – guerra, fazer embarcações e tirar o vinho das palmeiras; as mulheres fazem as casas, e as searas, pescam e fazem todo o mais serviço que fazem os homens em outras partes. Os aspetos de retenção do pitoresco são de um grande observador, serve como exemplo: “As mulheres andam despidas da cinta para cima; trazem um modo de saias feitas das folhas da palma, que dão por cima dos joelhos. As paridas trazem os filhos nos braços, atados numas correias de couro cru, que trazem ao pescoço, com que sustentam e têm as crianças (…) Os negros Bijagós são mui pretos, deles gentis homens; não furam as orelhas; as mulheres sim. Alguns limam os dentes de maneira que fiquem abertos e não agudos”.

O registo muda agora de orientação, vai para o Rio Grande, Terra dos Biafares: “Esta terra dos Beafares é muito grande, e assim como é grande há muitos reis, uns metidos pelo sertão, outros ao longo do rio. No reino de Guinala, que é a primeira pernada, anda o reinado em duas gerações, na dos fidalgos e na dos plebeus. Há tempos que herdam os fidalgos e entram no reinado, e há tempos que herdam os plebeus – ferreiros ou sapateiros. E sabem os que governam quando cabe a qualquer destas gerações. E entram no reinado sem guerra nem dissensões, porque não elegem para haver de ser rei senão um muito velho, e nunca os fazem mancebos; e estes velhos vivendo muito os matam”. Depois de dizer que os Beafares são grandes ladrões, descreve a roupa: “Estes negros andam vestidos em umas camisas compridas que lhes dão pelos joelhos, e uns panos cingidos até meia perna, e por debaixo deles trazem umas peles de cabra curtidas sem cabelos”. A missionação é inexistente: “O bispo da ilha de S. Tiago manda todos os anos visitar neste rio como faz no de S. Domingos, mas nenhum fruto resulta de tal visitação. Se se pode dizer, tenho para mim que a causadora de viverem da maneira que vivem. Falo nisto outra vez, porque me pesa ver entre cristãos tanto desamparo. Nesta aldeia dos nossos estiveram no ano de (15)84 uns frades carmelitas descalços que com o seu modo de vida e doutrina faziam grande fruto; por onde me parece que por falta de quem pregue a Doutrina e Palavra de Deus não há hoje nestas paragens muita Cristandade”.

E o cronista discorre sobre a fixação de gentes, o comércio de escravos e a pacificação dos autóctones: “Não deixará de alterar-se o preço dos escravos e das outras mercadorias povoando-se esta terra, mas é necessário que se acuda mais ao serviço de Deus que ao proveito dos homens. Digo isto porque depois que os nossos se aldearam e se puseram todos a par do forte, compram-se os escravos e o mais que na terra há por mais preço do que soia ser; porque antigamente estavam afastados, aposentados em casas de fidalgos uma légua e meia, uns dos outros, e lhes acudia mais resgate, e não abatiam uns aos outros, e eram guardadas suas pessoas dos seus hóspedes e dos seus parentes. Hoje saindo os nossos fora da aldeia tratam-nos os negros mal, e não são seguros como dantes, dizendo que querem estar por força na sua terra. Chamo tratar mal, se fizerem os nossos ou seus escravos qualquer desaguisado não o sofrem os negros, e sobre isso há muitas brigas, e às vezes mortes; o que não era dantes”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12511: Notas de leitura (547): "Portugal em África", por Richard Pattee (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12522: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (3): Tenho pena de não ter, na minha posse, cartas que escrevi, onde narrava o nosso sofrimento.

1. Mais um texto do nosso recém membro da Tabanca Grande, Mário Gaspar (*):

Eu,  Mário Vitorino Gaspar, ex-Furriel Miliciano de Artilharia Nº 03163264, com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas da CART 1659 – “A Zorba” e com o lema “Os Homens não Morrem”, que cumpriu a Comissão de 1967 a 1968 em Gadamael Porto e Ganturé, em relação à sondagem [sobre o que a malta lia nas 'horas vagas'] (**), embora tenha enviado já uma primeira resposta, como solicitado, interessa talvez completá-la.

Tanto em Gadamael Porto, como em Ganturé nada existia. A luz que havia era improvisada, com garrafas de cervejas repletas de gasolina, um pavio de gaze enfiado num orifício de uma carica. À noite, e através de um motor, tínhamos luz principalmente para iluminar o espaço que ia da paliçada ao arame farpado.

Não havia nada, nem possibilidades de tomar um banho, senão através de um púcaro, feito de uma lata de óleo com uma asa de arame. Os copos eram feitos de garrafas de cerveja, cortados com um ferro em brasa, depois de cheios até à zona que pretendíamos aproveitar. Os armários, mesas, bancos, etc. feitos de madeiras dos caixotes de munições. As cadeiras – e que luxo – feitas das madeiras dos barris de vinho. Como é sabido, tudo improvisado portanto.

Não existiam nem bibliotecas com livros, nem sem livros. Os jornais e revistas que lia eram enviados pela minha mãe, que aproveitava a embalagem no envio dos mesmos para que recebesse uma ou duas postas de bacalhau, fazendo um embrulho que só uma mãe é capaz de fazer. O bacalhau era partilhado por todos. Quando chegavam à minha mão as notícias, já eram de um passado muito remoto.

Quanto aos livros que lia, levei-os de casa, e ficaram sobre um caixote de munições, que era simultaneamente a minha mesa de cabeceira. Um livro de contos, que continha um intitulado “Crescei e Multiplicai-vos” de Urbano Tavares Rodrigues; “A Fanga” de Alves Redol; “Zorba o Grego” de Nikos Kazantzákis;  e “A Mãe” de Máximo Gorki. 

Quando os relia, voltava a relê-los visto não ter mais nada para ler. E eu que tanto gostava de me deliciar na leitura. Outros livros que acabei por ler foram emprestados, e até comprados quando gozei licença. Lia alguns quando me deslocava a Unidades onde habitualmente me deslocava para intervenções operacionais, livros do Furriéis Milicianos que tão bem conhecia. Leitura e bebida que era partilhada, quando “visitávamos ou éramos visitados pelos Furriéis Milicianos”. 

Recebi também das Madrinhas de Guerra alguns livros. Lembro-me, já no final da Comissão, em Bissau receber de uma Madrinha de Guerra um livro, que adorei, e não recordo o título, de Rainer Maria Rilke. Acabei de o ler quando fazia Serviço de Sargento da Guarda, no Forte da Amura. Lia a revista “Seara Nova”, nunca conseguindo a sua assinatura, disseram-me em Lisboa que não a podiam enviar para a Guiné. Recebia-a mas enviada por um amigo.

Quanto à música, na Messe em Ganturé tínhamos um gira discos, que era de um dos furriéis, mas só ouvíamos uma canção dos Sony and Cher - “I got you Babe”. Parecia mais estarmos nos “rangers” em Lamego, massacrados com as músicas “O sambinha chato”, nunca cheguei a saber de quem,  e “Et maitenant”, que acho que é de Gilbert Becaud. Música ouvia e mal na rádio: Bissau e Guiné ex-Francesa – Mornas e Coladeiras – principalmente.

Joguei à bola em Gadamael Porto, na zona que denominávamos de pista, cheia de torrões e buracos.

Jogávamos aos jogos de paciências, e a determinado momento começámos a jogar outros jogos a dinheiro. Isso provocou algum descontrolo, mas depressa acabámos por pôr cobro a tal. Joguei muitas vezes ao king no Comando mas o máximo que se perdia era uma coca cola.

Não ia à caça nem à pesca.

Frequentemente deslocava-me para junto das tabancas, convivendo com as populações, e mais ainda com os camaradas da Companhia, com todos eles, independentemente dos postos.

Quanto aos copos, era uma desgraça. Depois de regressar das operações – que eram muitas – bebias sete cervejas previamente encomendadas ao cantineiro. Bebia-as, e por vezes, quando tinha a triste ideia de depois do banho e do jantar voltar à cantina eram mais, pagas por mim e até mais, pagas pelos militares (principalmente Soldados e Primeiros Cabos). Nos dias em que não existiam saídas, começava o dia a beber cervejas ao pequeno almoço, ao almoço, no jantar e nos intervalos. Portanto, quando existia uma peça de caça, uma galinha de mato, bacalhau ou um franganote, lá me chamavam para um abrigo. E estávamos até esgotar as cervejolas.

Dormir a sesta estava fora de causa. Tinha os dias bem ocupados.

Quanto à escrita, havia sempre tempo no intervalo dos copos e das operações. No princípio da comissão – e em Ganturé – iniciei um trabalho sobre os usos e costumes da população. Mas desisti, queimando tudo o que conseguira recolher junto das populações. Escrevia principalmente cartas para a família, amigos e madrinhas de guerra. Era o meu principal alimento escrever e, depois aguardava pacientemente pelas respostas, olhando para o céu esperando a avioneta. E ao receber correio, que vinha quase sempre atrasado, sentia uma frustração ao assistir ao desespero de quem não recebera correio. 

Tenho pena de não ter na minha posse, cartas que escrevi, onde narrava o nosso sofrimento. Para os meus familiares, eu simplesmente passava férias em terras de África. Um amigo ainda me devolveu as cartas que lhe escrevi.

Também fui professor da 3ª e 4ª classes, tanto dos Soldados que compunham a Unidade, como os que nela estavam integrados: Praças “U” e Caçadores Nativos.


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Notas do editor:


Guiné 63/74 - P12521: Convívios (556): Almoço de Natal dos bedandenses do sul, com homenagem ao Tony Teixeira (1948-2013) (Hugo Moura Ferreira / Manuel Lema Santos)



Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013>  O lugar (vazio) deixado em memória do Tony Teixeira (1948-2013)


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Da esquerda para a direita, Gualdino da Silva, o lugar (vazio) deixado em memória do Tony, e o Joaquim Pinto Carvalho


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 >  Aspeto parcial da sala (que tem uma lotação de 40 lugares)... Ao fundo, vê-se o Hugo Moura Ferreira, de pé, a falar com o Pinto Carvalho,



Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Em primeiro palno, o veteraníssimo Rui Santos...


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 >  Em primeiro plano, o João António Carapau (médico reformado) e o João Martins... Ao fundo,   Renato Vieira de Sousa (. cor ref) e o Gualdino Silva e o Pinto Carvalho.


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 >  Da esquerda para a direita, o Guerra, o Victor Luze e o José Vermelho (, de camisola amarela...).


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Ao fundo, o   Renato Vieira de Sousa e o Gualdino Silva; em primeiro plano, o Rui Santos e o  Carlos Jesus Pinto (Pel rec Daimler, Bissau e Bissorã) (sobre o quaL diz o Hugo Moura Ferreira: "Ao ver o teu anúncio no Blogue de imediato se associou; e por ser um tipo simpático vai passar a ser convidado!... Não tem, obviamente nada a ver com Bedanda").


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Mais um aspeto da sala em que é visível Maria Helena "Salazar" (, esposa do Eduardo Cesário Rodrigues "Salazar"), o Fernando Sousa, a Maria dos Anjos Sousa, a Manuela Carronda Rodrigues, e Cor Carronda Rodrigues. (que andou a pisar a bolanhas de Bedanda como Alferes).


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 >  Ao centro, o Carlos Silva, preparando-se para tirar uma foto.


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > O Manuel Lema Santos e o Carlos Silva.


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013> Algumas esposas de camaradas bedandenses do sul ... A do canto do lado direito parece-me ser a esposa do Hugo Moura Ferreira, a Lorena (que viveu 4 meses na Guiné, no tempo da comissão do marido).


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013> Da esquerda para a direita, o João Martins, Carlos Carronda Rodrigues (coronel, que se Reformou há poucos meses) e o Carlos Silva.



Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013>  Da esquerda para a direita, o Fernando Sousa, o Pinto Carvalho e o Hugo Moura Ferreira



Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > O Pinto Carvalho lendo o seu texto poético de homenagem ao Tony, seu camarada e amigo
do peito (**).


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Um das imagens-ícones do Tony.


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Aspeto parcial da sala, com a projeção dos "slides" do Pinto Carvalho de homenagem ao Tony.



Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > Moura Ferreira e Sónia, do Restaurante O Gomes.


Fotos: © Manuel Lema Santos (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.; legendas; L.G. e Hugo Moura Ferreira]



 
1. Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica, 19 de dezembro de 2013... Como previsto realizou-se, no sul, o anunciado almoço de Natal, tão desejado pelo António Teixeira (Tony), ainda em vida (*)...

Foi um convívio maravilhoso, no dizer do Hugo Moura Ferreira, que foi o chefe de orquestra. Foram também recordados o Fernando Roque, açoriano da diáspora, a viver no Canadá, bem como o Alberto Rocha,alferes do pelotão de artilharia, em Bedanda.



2. Estas fotos, do Manuel Lema Santos,  foram-nos gentilmente disponibilizadas pelo autor e pelo João Martins que, em 21 do corrente, nos mandou a seguinte mensagem:

Com um grande abraço, envio as excelentes fotografias da autoria do Manuel Lema Santos que, muito provavelmente, já vos enviou.

Aproveito para desejar a todos um Santo Natal e um excelente Ano Novo. Grande abraço, João Martins.

Por sua vez, em mensagem, no Facebook, na página do grupo (secreto...) Bedanda / CCAÇ 6, o Manuel  Lema Santos escreveu,  para o Hugo Moura Ferreira, o seguinte:

Considera as fotos que realizei do almoço,  como pertença da 'comunidade bedandense'. Publica as que quiseres da forma que melhor entenderes, sem problemas! Fica o meu agradecimento a todos pela participação no agradável convívio havido.


3. Mensagem, posterior,  do Hugo Moura Ferreira, respondendo a um pedido meu para corrigir e completar as legendas:


(...) Só te peço mais uma coisa. Para colocares mais uma foto, referenciando o Salazar (podes chamá-lo assim, simplesmente). Ele é o único que não aparece em nenhuma das que aqui estão. Mesmo que apagues uma das que pretendias colocar. Não têm a melhor qualidade mas servirão para o fim em vista. En mando-as aqui em anexo. Uma é dele apenas e outra é visto ao fundo da foto numa imagem geral da sala.

E por aqui me fico. Um abração e MUITO OBRIGADO, pela forma como tratas estes Bedandenses "loucos por aquela terra e aquelas gentes" (...)



Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 >  Aspeto geral da sala.


Amadora, Venda Nova, Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 > "O Eduardo Cesário Rodrigues, mais comnhecido por Salazar. Este nome que lhe é dado desde os anos 50, faz quase parte do nome dele. Eu costumo colocar no final do nome dele Salazar entre aspas. Como se fosse um títítulo! (HMF).


Fotos (e legendas): © Hugo Moura Ferreira (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

domingo, 29 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12520: Em busca de... (233): Pessoal do Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Moçambique, Tete, 1964/66) (António Ferreira Carneiro, o "brasileiro", ex-1º cabo magarefe, DFA, residente em Custoias, Matosinhos, e membro da Tabanca de Candoz)


Moçambique >  Tete > 25 de fevereiro de 1964 > Pessoal do Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66) > Almoço do 25º aniversário do António Carneiro, 1º cabo magarefe, natural de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses... Este destacamento cheha a Moçambique uns meses antes do inícío oficial da guerra colonial em Moçambique. As primeiras ações armadas da FRELIMO datam de agosto de 1964.

Foto: © António Carneiro / Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Já aqui falámos do António Carneiro, a propósito da Tabancas de Candoz... É o mano mais velho de seis irmãos, três rapazes e três raparigas, uma das quais a Alice Carneiro, nossa grã-tabanqueira.  Nasceu em 25/2/1939, filho de José Ferreira e Maria Ferreira.  Esteve imigrado no Brasil entre 1957 e 1963, para grande desgosto do seu pai, que era um proprietário rural conceituado na sua terra.  Em 1957, com 18 anos, o António obteve dispensa do serviço militar para se fixar, a título definitivo, no Brasil.  Pagou, em Viseu, no RI 14, duzentos escudos de emolumentos, em selos, pela sua dispensa militar.

Acabou, por acompanhar, em 1963, um tio materno, emigrado, de regresso à terra. No aeroporto, em Lisboa, o seu passaporte leva logo com o carimbo da PIDE. E é notificado de que deverá regularizar de imediato a sua situação militar. Faz a recruta, aos 24 anos, e é de seguida mobilizado para Moçambique.   Viaja no T/T Niassa. Chega a Tete, em janeiro de 1964, integrado numa subunidade de intendência. A sua experiência profissional (era magarefe no Brasil) é devidamente aproveitada pela tropa.

Seis ou sete meses depois de chegar a Tete,  sofreu em julho de 1964 um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, disparada acidentalmente por um camarada que acaba de fazer o seu serviço de sentinela...

O 1º cabo Carneiro irá estar  mais de um mês em estado de coma. Só um milagre o salvou. Hoje tem uma enorme cicatriz, um autêntico fecho 'éclair', de alto a abaixo, do peito à barriga... O tiro perfurou-lhe sete órgãos. É um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade)... Acabou por ser evacuado para o Hospital Militar Principal, em Lisboa,  em dezembro de 1964... Esteve dois anos em convalescença...

Afetado por um AVC, muito recentemente, está a ser tratado no Hospital militar do Porto. Gostaria muito de poder  identiificar alguns dos camaradas que aparecem aqui nesta foto (*). Não tem contactos de ninguém (**). Pediu-me, encarecidamente, enquanto cunhado, que divulgasse esta foto no nosso blogue, apesar de ele saber que é um blogue exclusivamente dedicado à Guiné e aos camaradas que por lá andaram nos anos de 1961/74...

Por ele, por um camarada como ele que muito sofreu, e que é DFA,  e pela Tabanca de Candoz, anui a editar-lhe este poste, também na esperança de que possa aparecer alguma pista que nos leve a esta rapaziada retratada na foto acima... (Muito provavelmente já nem todos estarão vivos, e a probabilidade de lerem este pedido é muito baixa; mas pode haver algum filho,  neto ou vizinho que nos visite; vamos também divulgar este apelo pelo Facebook da Tabanca Grande).

Já não é o primeiro apelo dele  que aqui publicamos... O António Ferreira Carneiro era na altura conhecido, no seu pelotão,  como o "Brasileiro". Ao todo, o pelotão era constituído por 25 militares, sendo os graduados 2 cabos, 2 furriéis, 1 2º sargento e 1 alferes.

Pelo que o António me informou, o seu pelotão de intendência era comandado pelo alf mil Patrício, e tinha um 2º sargento, o Touguinha,  além de  dois furrieis (um dos quais açoriano) de cujos nomes  já não se lembra.  O outro cabo, além dele, era minhoto: chamavam-lhe o Cabinho... O camarada que está defronte dele, na foto, era um alentejano... de que também não sabe o nome. São quase 50 anos passados...

Uma análise da foto (, digitalizada, a partir de um original de formato reduzido,) mostra-nos doze jovens, em tronco nu, à volta de um mesa comprida, comendo e bebendo. Há, para além de um garrafão, 15 garrafas de cerveja, das grandes, da marca Mac Mahon, uma das bebidas produzidas em Moçambiquem, na época... Também era conhecida pela 2 M.  A marca rival era a Laurentina. (Recorde-se que, em Angola, eram as marcas Cuca e Nogal).


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz> c. 1966 > O António Carneiro, na ponta esquerda, seguido do 2º sargento Touguinha... Ao centro, o patriarca da família, fazendo as honras à casa.

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


2. Depois do regresso do António, do Hospital Militar Principal, em Lisboa, a família recebeu a visita de um camarafa do seu destacamento, o 2º Sargento António Teles Touguinha.  Era natural da Póvoa ou de Vila do Conde, não sei ao certo. O Touguinha foi para o António um verdadeiro anjo da guarda e para a família um grande amigo.  Infelizmente, o Touguinha já morreu (, aos 55 anos, em 1992).

Na foto, podemos ver da esquerda para a direita, o António, de cigarro na boca, o Touguinha e a esposa... O dono da casa, o pai Carneiro (sentado, fazendo as honras à casa, com o copo e a caneca de vinho verde tinto na mão), tem por detrás, de pé, a Alice.. Tudo indica que a foto tenha sida tirada no verão, na época das férias. Além disso, o pai Carneiro (1911-1996) estava com os socos com que costumava andar no campo, a regar o milho. A foto deve ter sido tirada com tripé e temporizador.

Ao fim destes anos todos (meio século!), o António ainda hoje procura malta da sua subunidade bem como o médico que o operou em Tete ("Era a maior alegria que me podiam dar, saber do paradeiro dos meus camaradas de Intendência bem como do médico que me salvou").

 Ele vive em Custóias, Matosinhos. Aqui fica o seu nº de telemóvel: 916 511 550, bem como o telefone fixo: 22 953 4610.  Quaisquer boas notícias a este respeito também podem ser encaminhadas para o endereço de email do nosso blogue. As melhoras para o António, e votos de um ano de 2014 cheio de esperança.  (LG)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de outubro de  2013 > Guiné 63/74 - P12220: Em busca de... (232): Ex-alf mil cav Alexandre Costa Gomes e ex-fur mil cav Manuel Vitoriano, José Soares, Joaquim Manso, José António Barreiros e António Rio, do Pel Rec Fox 2260, Gadamael, 1970/72 (Manuel Vaz, ex-alf mil, CCAÇ 798, Gadamael, 1965/67)


(**) Vd. poste de 24 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6780: Os nossos seres, saberes e lazeres (23): O Grupo de Bombos 4 Estações, na Tabanca de Candoz (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P12519: Tabanca Grande (417): Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974) (2): Informações complementares

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974), com data de 14 de Dezembro de 2013:

Caros camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal
Cordiais saudações,

Começo por enaltecer e louvar a vossa competente e generosa dedicação à vida deste Blogue Colectivo de mais de 630 homens e mulheres que têm a Guiné como traço de união e que se manifestam como uma (quase) Comunidade. – Tabanca Grande.

Foi uma boa e feliz inspiração a sua criação, mas só o muito trabalho, dedicação e amor à causa tem levado a bom termo os seus objectivos ao longo dos quase 10 anos. O mínimo que posso dizer ao Luís é muito obrigado e parabéns, que torno extensivos a todos os co-editores, camaradas e amigos que o têm engrandecido com as suas participações.

Começa a ser penoso para mim continuar a adiar o envio de mais informações, que melhor me descrevam como ex-combatente na Guerra Colonial da Guiné, partilhando um pouco da minha vida aí passada nos anos de 1973 e 1974 e também dando-vos conta da minha vida presente, isto é, dando-me a conhecer um pouco mais. A minha responsabilidade ética e o respeito que sinto pelos camaradas e amigos de tertúlia assim o exigem.

As circunstâncias da minha vida presente, ainda muito ocupado com o trabalho profissional com que me esforço para “sobreviver à crise” não me concede o tempo disponível de que necessitava para escrever as minhas memórias da Guiné. Por outro lado, a minha ainda recente descoberta do blogue e a admissão como Tabanqueiro, aliada à falta de hábitos, destreza e até alguma relutância atávica no uso desta via (internet), de relações virtuais nas redes sociais, tem-me condicionado e impedido de cumprir o que era expectável. Mesmo assim, apresento as minhas sinceras desculpas.

Tinha a intenção, manifestada no acto de admissão, de iniciar de imediato uma participação efectiva enviando para publicação textos e fotos da Guiné que testemunhassem a minha vida nesses 2 anos. Cheguei a elaborar mentalmente o tipo de posts que iria propor e que intitulei de (Re)flexões onde abordaria, em episódios, vários aspectos pela minha vida militar e pela Guiné. Reflexões críticas, politico-militares, com que partilharia a minha posição e entendimento sobre as instituições políticas e militares que nos empurraram para a guerra e para o seu desfecho desastroso de que ainda hoje sofremos as consequências, mas procurando reflectir e considerar outras posições não concordantes. Escreveria como vi e senti a vida militar, cá e lá, mas também a vida das populações e territórios da Guiné, do pouco que conheci. Os meus preconceitos originais para com a instituição militar, ou antes com o militarismo classista, pernicioso, balofo e estéril, mas também da minha evolução descobrindo que entre os militares e na instituição militar também há homens bons. Partilharia alguns dos meus sofrimentos e perigos vividos em ambiente hostil, mas também algumas aventuras, camaradagem, amizades, esperanças e alegrias; uma história de 2 anos de vida que não considero perdidos e onde também fui feliz.

A necessidade de “conhecer o terreno” onde iria caminhar levou-me a percorrer um pouco a vida de mais de 9 anos do blogue e de muitos milhares de posts. Nesta busca vim a encontrar relatos impressionantes de muito sofrimento e morte que a guerra gerou, apenas uma parcela mas que eu não conhecia na sua frieza e rudeza. Compreendi melhor os efeitos da guerra em tantos camaradas que hoje sofrem no seu espírito as suas consequências; do pouco que sabia da Guiné e dos seus casos, tomei contacto com alguns relatos de grande heroísmo, coragem e valor, grandes gestos e atitudes de abnegação, de camaradagem e amor. Isto para além do manancial de informações e de relações de amizade que emana do blogue que me tem cativado, tornando-me um permanente leitor, dentro do possível, ávido de mais informações e de conhecimentos. Isto para dizer que perante o que conheço agora do blogue o que iria escrever segundo o meu projecto inicial, se me afigura irrelevante e em alguns aspectos a evitar, podendo vir a melindrar algumas sensibilidades e a última coisa que quero é que o meu contributo e participação fosse causa de sofrimento para qualquer daqueles camaradas que participaram naquela guerra, porventura entraram em combate, mataram e viram morrer quaisquer que fossem as suas motivações, convicções e razões. Para seu sofrimento já bastou o que tiveram e têm; para todos, o meu respeito, compreensão e solidariedade no seu pesar.

A seu tempo e dentro das minhas possibilidades procurarei propor alguns posts que sinta como úteis para os objectivos do blogue, dando assim o meu contributo na tertúlia. Até lá, procurarei comentar alguns dos posts que mais me interpelam, dentro da escassez dos recursos de que disponho; algumas vezes já o tenho feito e mais teria feito se tivesse mais tempo livre ou se os posts permanecessem na página durante mais algum tempo.

Desde já darei alguma informação com que estou em falta desde o meu acto de admissão (peço desculpa ao Carlos Vinhal).

Estive na CCaç 3461, do BCaç 3863, de Janeiro a Dezembro de 1973. Depois de uma passagem pelo Cumeré, onde o Batalhão aguardou embarque para a metrópole, fiquei colocado no Depósito de Adidos, em Brá, onde fiquei a exercer as funções de Oficial de Justiça. Aí, vivi bons e maus momentos e conheci pessoas interessantes com alguns momentos de algum relevo, sendo bem-sucedido até ao meu regresso, em 9 de Outubro de 1974.

Tinha casado em 30 de Setembro de 1973 aquando das férias que vim passar à metrópole. Em Fevereiro de 1974 a minha esposa foi viver comigo em Bissau, onde apesar das circunstâncias, fomos muito felizes. Ela regressou em Julho, grávida da nossa filha Margarida.

Tenho quatro filhos, três raparigas e um rapaz, e quatro netas.

Tenho exercido a minha actividade profissional desde o regresso, no ramo da industria de moldes para plásticos, como técnico de desenho e projecto, desde 1981 por conta própria com um gabinete de Engenharia e Projecto ( CEPMOLDE LDA).

Sou natural de Maceira, concelho de Leiria, nascido a 30 de Julho de 1951.

Filiação: Joaquim Fernandes e Matilde Luísa (já falecidos).

Sou cristão católico e tenho para com a Guiné sentimentos de saudade e solidariedade, alimentando sonhos e projectos de desenvolvimento, e o desejo de um dia lá voltar. Tenho uma enorme pena pelo rumo que a Guiné tem tido no pós-independência, dos crimes perpetrados, da violência que tem grassado, da falta de entendimento político e de liderança.

E por hoje não me vou alongar mais. Agradeço toda a vossa atenção e dedicação à causa. Expresso os meus votos de um Feliz Natal e Bom Ano Novo, que gostaria de tornar extensivos a toda a equipa editorial e às vossas famílias.

Um abraço fraterno.
Joaquim Luís Fernandes

PS: Envio 2 fotos que documentam a minha vida em Teixeira Pinto.

1- Como operacional em patrulhamento de carácter ofensivo, em áreas de contacto eminente, nas matas da Península do Balanguerez até Ponta Costa, bem junto à Caboiana.

2- Visita de Acção Social e Psicológica em Caió, com o camarada tabanqueiro, Alf. Méd. Mário Bravo e outros camarada da CCaç 3461, Alf Mil Moreira que estava “atabancado” em Carenque e o Alf Mil Teixeira da CCS, aquando da visita às ilhas de Jeta ou Peciche.




2. Nota de CV:

Caro camarada  Joaquim Fernandes, em primeiro lugar quero pedir-te desculpa por ter retido a tua mensagem por aqui sem a resposta atempada. A determinada altura do mês de Dezembro a correspondência é de tal modo volumosa, que se não se está atento, alguma fica para trás, ou pior ainda, sem resposta.

Agradecemos as palavras que diriges ao editores e aos camaradas em geral, afinal todos somos operários nesta missão de registo de factos escritos e por imagem daquela guerra que não quisemos, mas que fizemos na convicção de que estávamos ao serviço de Portugal.

Muito obrigado pelo complemento à tua apresentação no Poste 11742(*). Ficamos a conhecer-te melhor.

Compreendemos a tua indisponibilidade para colaborares, no blogue, com as tuas memórias, tanto mais que ainda exerces actividade profissional, como empresário, logo com responsabilidades acrescidas.

Se e quando quiseres escrever algo, não precisas de fazer auto-censura. Escrevemos de acordo com a nossa formação cívica e moral, não tendo que escrever para agradar a este ou àquele. As reacções subsequentes até são saudáveis desde que dentro da cordialidade e do respeito mútuo. Cada um de nós teve a sua guerra e até viu a sua Guiné. Não tem de haver unanimidade.

Tenho aí na zona (Pataias) um amigo, o Ismael Santos, desenhador, também ligado à indústria dos moldes. Ainda há bem pouco tempo trabalhava. Foi meu camarada no RI 5 (Caldas da Rainha), EPA (Vendas Novas), GACA 2 (Torres Novas), BAG 2 (Funchal) e CART 2732 (Guiné). Curiosamente só nos separamos enquanto fui fazer o curso de Minas e Armadilhas a Tancos (EPE).

Termino desejando-te um bom 2014, tanto no plano pessoal como profissional.
Abraço
Carlos Vinhal
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 21 DE JUNHO DE 2013> Guiné 63/74 - P11742: Tabanca Grande (402): Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74), residente em Maceira / Leiria, tabanqueiro nº 621

Último poste da série de 28 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12516: Tabanca Grande (416): Armando Teixeira da Silva, ex-Soldado Atirador da CCAÇ 1498/BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Bula, Binar e Ponate, 1966/67), Grã-Tabanqueiro nº 636