Por Luís Graça
La vida és la movida.
É sagres.
É boémia.
É choco frito.
Tudo o que a gente gosta.
Uma esplanada à beira-mar.
O sol.
A maresia.
A boa vida.
A sorna.
O fado.
A morna.
O dolce far niente.
Com a gente de quem se gosta.
Mais a Nossa Senhora dos Milagres
que te acode, quando aflito.
enquanto a maré sobe,
e a noite espreita
e a morte não pré-avisa.
─ Olha a moreia da costa,
que é a melhor do mundo! ─
A vida é pregão,
a vida é merda,
a vida é sagres, é boémia,
a vida é hipoglissémia,
a vida é adrenalina,
a vida é prego a fundo,
a vida é stresse.
Sexta-feira à tarde, ao fim da tarde,
uma hora antes do pôr do sol,
no primeiro dia do nosso querido mês de agosto.
A vida é festa.
─ La fiesta, amigo.
Vengo de la altiva Castilla! ─
No TGVê espanhol que não paga imposto
único
de circulação.
Que o futuro não paga imposto,
nuestro hermano.
─ Pressupuesto, amigo.
Que viva la siesta!
Que viva la (mo)vida!
Mas agora que chegou a crise,
para ficar,
como é que tu chegas à ponta mais
acidental
da Europa ?
Para comer o teu choco frito,
no bar da Peralta,
a las cinco de la tarde.
Com navios negreiros,
fantasmagóricos,
na linha do horizonte,
a quinze milhas.
Com os jacobinos do Junot
na película da memória,
o Vimeiro aqui tão perto.
Com autos de fé,
mouros, judeus, corsários,
no teu ADN de português
sem história,
maçarico, maltrapilho, errante.
No mar onde naufragam
todas as boas consciências
e se afinam as ciências,
as ditas duras e as mais moles.
Com as Berlengas a afundarem-se
na plataforma continental.
E com elas o teu querido Portugal...
Um homem sorri com meia-cara,
o sorriso amarelo do cinismo.
Aqui, no cabo da terra,
onde se proclama a ditadura do sucesso,
e do novo riquismo.
Com o isco
da vã glória de ganhar
a medalha olímpica,
o minuto de fama,
o título de caixa alta,
a vida eterna,
o Nobel,
um lugar no paraíso ou na cama
a vida eterna,
o Nobel,
um lugar no paraíso ou na cama
da dama do regime,
ou o lugar de comissário
dos bons costumes e salamaleques.
Em última análise,
o Olimpo,
condomínio fechado dos deuses,
que dos perdedores não reza a História.
A vida é la movida no Peralta Bar,
que não vem na lista do Espesso
da Cama, Mesa & Roupa Lavada.
Haja lugar à mesa, comprida,
e valha-nos Baco, velho compincha.
─ Viva o Portugal do petisco!
Viva o nosso querido mês de Agosto!─
Quem disse que a vida é bela,
e que as mães é que dão cabo dela ?
Desliga o botão da televisão,
puxa o reposteiro da janela
donde vês o mundo a cor de rosa,
arruma o cavalete
e as tintas desbotadas do arco-íris,
e pede uma posta de moreia frita
e um copo de tinto.
É a hora da doce melancolia
e do leve sentimento de culpa
e da idiota reflexão sobre a idiossincrasia
de se ser velho, europeu e português,
na ponta da navalha
da economia,
da política,
da demografia,
da geografia
e da puta da sociologia que te calhou na rifa.
Não escolheste nascer,
não escolheste pai e mãe.
não escolheste o pedaço de chão onde foste parido.
Nem a língua com que expressas a angústia essencial
de ser livre, afinal.
E não sabes o que fazere com este poema,
que não vale um algoritmo
nem um simples teorema,
e que não conta para a contabilidade nacional.
E que não é de protesto
nem é manifesto,
ou o lugar de comissário
dos bons costumes e salamaleques.
Em última análise,
o Olimpo,
condomínio fechado dos deuses,
que dos perdedores não reza a História.
A vida é la movida no Peralta Bar,
que não vem na lista do Espesso
da Cama, Mesa & Roupa Lavada.
Haja lugar à mesa, comprida,
e valha-nos Baco, velho compincha.
─ Viva o Portugal do petisco!
Viva o nosso querido mês de Agosto!─
Quem disse que a vida é bela,
e que as mães é que dão cabo dela ?
Desliga o botão da televisão,
puxa o reposteiro da janela
donde vês o mundo a cor de rosa,
arruma o cavalete
e as tintas desbotadas do arco-íris,
e pede uma posta de moreia frita
e um copo de tinto.
É a hora da doce melancolia
e do leve sentimento de culpa
e da idiota reflexão sobre a idiossincrasia
de se ser velho, europeu e português,
na ponta da navalha
da economia,
da política,
da demografia,
da geografia
e da puta da sociologia que te calhou na rifa.
Não escolheste nascer,
não escolheste pai e mãe.
não escolheste o pedaço de chão onde foste parido.
Nem a língua com que expressas a angústia essencial
de ser livre, afinal.
E não sabes o que fazere com este poema,
que não vale um algoritmo
nem um simples teorema,
e que não conta para a contabilidade nacional.
E que não é de protesto
nem é manifesto,
muito menos panfleto promocional
do Bar da Peralta!
do Bar da Peralta!
Entre a ciência da morte
e a crença da ressurreição,
haverá sempre uma santa
que te valha.
Ou uma azinheira ou uma carvalha
onde possas pôr uma vela a uma santa aparecida
que te salve da má consciência
de la (mo)vida.
Lourinhã, Montoito, Praia da Peralta, 1/8/2014
Lourinhã > ; Montoito > Praia da Peralta > 2014 > O choco frito do meu amigo Vitor, do Peralta Bar...Acompanhe-se com broa de milho e Boémia...Aproveitem enquanto houver aéreos no nosso bolso... e moedas em Bruxelas.
e a crença da ressurreição,
haverá sempre uma santa
que te valha.
Ou uma azinheira ou uma carvalha
onde possas pôr uma vela a uma santa aparecida
que te salve da má consciência
de la (mo)vida.
Lourinhã, Montoito, Praia da Peralta, 1/8/2014
Lourinhã, Montoito/Atalaia, Praia da Peralta, Peralta Bar > 2014 > Cardápio e precário, mais contactos... Tomem boa nota, que eu gosto de partilhar as coisas boas que ainda há na nossa terra...
É um dos meus recantos favoritos na costa portuguesa... Felizmente que os gajos do Espesso, da Cama, Mesa & Roupa Lavada, ainda não o descobriram... (Ou já descobriram ?)
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Nota do editor:
Último poste da série > 22 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13428: Manuscrito(s) (Luís Graça) (37): O outono do nosso descontentamento...