terça-feira, 21 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13775: Inquérito online: Resultados preliminares (n=133): um em cada dois teve o paludismo... Mas só um um terço tomava sempre ou quase sempre a Pirimetamina, comprimido oral, de 25 mg, do Laboratório Militar (LM), como profilaxia... 40% tomava o medicamento e mesmo assim teve o paludismo

Foto; Cortesia de António Tavares (2014)
A.  Resultados preliminares da nossa "sondagem", em linha (n=133),  quando faltam dois dias para encerrar a votação (*):

SONDAGEM:  NO TO DA GUINÉ TIVE O PALUDISMO E TOMAVA O MEDICAMENTO... (Resposta múltipla. Vd. blogue, no canto superior esquerdo)


1. Não me lembro se tive paludismo  > 3 (2%)


2. Não me lembro do medicamento para o paludismo  > 7 (5%) (**)


3. Sim, tive paludismo  > 64 (48%)


4. Não, nunca tive paludismo  > 26 (19%)


5. Não,  nunca tomava o medicamento    > 2 (1%)


6. Sim, tomava sempre (ou quase sempre)  > 45 (33%)


7. Sim, tomava, mas só às vezes  > 26 (19%)


8. Tomava o medicamento e tive o paludismo  > 53 (39%)


9. Tomava o medicamento e nunca tive o paludismo  > 19 (14%)


10. Nunca tomei o medicamento nem nunca tive paludismo  > 9 (6%)


Votos apurados: 133 (até às 6h00 de hoje). Dias que restam para votar: 2




Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande  > 20 de Junho de 2009 >

Nada nos faltou, neste dia, nem o calor da Guiné (em sentido físico e figurado) nem o cheiro (inesquecível) do repelente anti-mosquito, da marca Lion Brand... Não sei quem trouxe a amostra, mas vi várias nas mãos do António Graça de Abreu e do José Casimiro Carvalho... Neste pequeno vídeo ouve-se várias vozes (Luís Graça, Joaquim Mexia Alves e sobretudo Álvaro Basto que conta aqui uma pequena história com um Lion Brand que pegou fogo aos lençóis da cama...).

Vídeo (1' 02''): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados

Mosquito Anopheles gambiae.
Foto: cortesia da Wikipedia

Como prevenção e proteção contra o temível Plasmodium Falciparum (o mais perigoso dos quatro parasitas da malária, e que era  e é endémico na Guiné-Bissau, transmitido pelo mosquito anopheles, foto à direita), usávamos várias medidas quer individuais quer coletivas, como o uso correto de vestuário (sobretudo à noite: roupas largas, calça  e camisa compridas, "à boa maneira colonial"), protetores e repelentes (ainda não havia ou não estavam vulgarizados os aerossois, pelo que usávamos pomadas LM, no mato, horrorosas, mal cheirosas...), rede mosquiteira na cama, portas e janelas fechadas ou protegidas com rede (não havia ar condicionado fora de Bissau!), fumigações, desinfeções, remoção e tratamento do lixo, etc., para além da quimioprofilaxia...

Como se sabe,  apenas as fémeas dos mosquitos se alimentam de sangue... E picam (picavam)  essencialmente durante a noite, e logo nas zonas do corpo mais frequentemente  expostas (face, orelhas, pescoço, braços e pés)... Alguns de nós, não sei porquê, atraíam mais mosquitos (fêmeas) do que outros... Havia  a crença que o álcool (gin tónico, uísque, etc.) era um "bom repelente"... Pobre fígado!... (LG)

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Notas do editor.

(*) Vd. poste anterior: 18 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13753: Sondagem: Quem não apanhou o paludismo, que ponha o dedo no ar ?!...

(**) Sobre a Pirimetamina (substância ativa), ver aqui a informação do INFARMED [, folheto aprovado em 13/1/2104]. Segundo alguns camaradas (e nomeadamente o dr Rui Vieira Coelho,  médico), o comprimido, do Laboratório Militar (LM), era tomado duas vezes por semana (às 5ªs e domingos, em Galomaro, em 1972/74), em doses de 25 mg, como quimioprofilaxia do paludismo. (***). Não sabemos durante quantas semanas, mas presume-se que era durante a toda comissão. O medicamento (preventivo) não era (nem é) 100% eficaz.

Sobre a doença, sintomas e tratamento, vd aqui o Manual Merck [Biblioteca médica "on line". Edição de saúde para a família]

(***) Vd,. poste de 16 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...


(...) Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina, ás quintas e domingo, para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.

Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual. (...)

Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate. (...) 

Guiné 673/74 - P13774: Os nossos camaradas guineenses (39): Calaboche Tchuda, apontador de bazuca do 4º pelotão da CCAÇ 13, e prémio Governador Geral...Preso e fuzilado de imediato, quando regressava da sua escola, em Nhacra, depois da independência... (Carlos Fortunato)


Guiné > Região do Oio > CCAÇ 13 (1969/71) > Viagem a Bissorã > 1970 > Da esquerda para a direita; Calaboche [Tchuda], Carlos Fortunato e Manuel Cuna na rua principal de Bissorã.

Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

1. Mensagem do editor LG enviada ontem ao  Carlos Fortunato  (ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71, e presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga) [, foto à direita]:


Carlos:

Excelente texto que não conhecia, e que reproduzi com a devida vénia e referência ao autor e fonte (*)...

Uma dúvida: O teu (e nosso) malogrado camarada guineense chamava-se Calaboche Tchuda ou "Calabouche" Tchuda ? Tens ideia de quando e onde foi morto (, possivelmente fuzilado, ) pelo PAIGC ? Pelo nome e apelido, seria balanta...

Outra coisa: Podes e deves utilizar o nosso blogue para mensagens solidárias da Ajuda Amiga. "Rezemos" para que o ébola não chegue à GB, o que me parece quase impossível... Parabéns pelo teu excecional trabalho. Um abraço do Luis.


Calaboche Tchuda, apontador de bazuca, do 4º pelotão
da CCAÇ 13. Morto pelo PAIGC , Foto: Carlos Fortunato
2. Resposta pronta do Carlos Fortunato

Assunto: Op Jaguar Vermelho

 Amigo e camarada Luís:

O Calaboche Tchuda [, foto à esquerda,]  foi morto em Nhacra, quando se dirigia para a escola onde dava aulas como professor.

Segundo me contaram,  o PAIGC apanhou-o no caminho para a escola, amarrou-o a uma árvore e fuzilou-o.

Não estava envolvido em qualquer ação contra o Estado ou outra entidade, foi um puro ato de vingança, contra alguém cansado da guerra, e que queria que acabasse uma luta entre guineenses a matarem-se una aos outros, pois eram todos irmãos, como ele várias vezes me afirmou.

Tenho um texto sobre este assunto, no meu site que infelizmente tem sido abandonado, à espera de tempo, para ser melhorado:

 http://destaques.com.sapo.pt/GuineSoldados.html [Os massacres em Bissorã - por Carlos Fortunato] (**)

Obrigado pela disponibilidade do Blog e pelo vosso apoio [à Ajuda Amiga].

Infelizmente deixaram o ébola atingir estas proporções, e só agora começam a tomar algumas medidas.

1 alfa bravo romeo alfa charlie oscar

Carlos Fortunato (***)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 20 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13766: (Ex)citações (240): Água da bolanha... quem a não bebeu ?!... Recordando aqui o pesadelo que foi a Op Jaguar Vermelho, no Morés, em 9 de junho de 1970... (Carlos Fortunato. ex-fur mil trms. CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONDG Ajuda Amiga)

(**) Alguns excertos, com a devida vénia:

(...) O crime pelos massacres é assim imputado a Luís Cabral, e a sua execução aos Serviços de Segurança,  dirigidos por Buscardini.

É do conhecimento geral que os fuzilamentos foram realizados por soldados, e nunca por elementos ligados à segurança.

A guerra era algo que os soldados africanos lamentavam constantemente, o seu desejo era que fosse feita a paz. Falavam que não podiam andar ali a matar os seus irmãos, e que todos se deviam sentar e conversar, para se chegar a um acordo.

A aspiração dos soldados africanos da CCaç 13 era apenas a de terem uma vida melhor, e o empenho de alguns deles para se desenvolverem era extraordinário. Apesar de apenas falarem balanta e algumas palavras de crioulo, dedicavam-se afincadamente ao auto-estudo, pegando em livros de leitura que decoravam, numa tentativa de aprender a ler.

Apresento a seguir uma imagem com o extracto de uma carta do soldado Calaboche, é apenas um exemplo de um homem simples, já cansado de guerra, que lutou leal e dignamente, na procura de um futuro melhor, acreditando que ele seria ao lado de Portugal.

Carta de 1971

"... Meu amigo Fortunato eu agora estou farto de guerra eu só quero tirar quarta classe depois foi em Bissau tirar carta de condução civil depois deu tropa cos pontapé..."

Calaboche nunca conseguiria ver os seus sonhos realizados, pois ele,  tal como muitos outros, foi abandonado à sua sorte, e fuzilado pelo PAIGC. Foi capturado e morto pelo PAIGC, quando se dirigia para a escola onde dava aulas como professor.

Houve quem fugisse para o Senegal, para salvar a vida, mas mesmo [aí] continuaram a ser perseguidos, e foram muitas as dificuldades por que passaram, alguns acabariam por morrer por lá.

Transcreve-se a seguir dois extractos de duas cartas relatando um pouco o que se passou em Bissorã, enviadas por outro ex-soldado africano que conseguiu escapar a esses massacres:


Carta de 1982


" ... Hora bem eu vou-te esplicar poucina en pouco . [explicar um pouco, ] de independencia da Guiné Bissau. O que se passou depois de independencia da Guiné, partido mata muitas pessoas na nossa grupo, mata Tenha Taga, Calabos Tchuda, Furrel Sora Nando, só na nossa grupo, também Caba Santiago, Sitafa Quebá, Bacai, José de mesa oficiais, cozinheiro Nhinde de Olossato. [Pontuei este parágrafo para ser compreensível, o nome do Tenha Taca, Calaboche Tchudá, Sitafá Camará, estão igualmente mal escrito, não consegui identificar se está correcto o nome do Furriel Sora Nando.]

Olha Fortunato eu não tem trabalho depois de independencia partido não deija nos trabalhar junto com eles partido disse que nosso tropa portuguesa luta contra eles. Se voce vem cá na Guiné com cooperante voce capaz de arranjar trabalho por favor amigo Fortunato. …"

Carta de 1988

" ... Os teus soldados chamados Jorge, Barra, Tancana  foi matados em furto em Senegal. ... "[ O 2º e 3º nomes estão mal escritos correctamente é: Birra e Tangana. Na primeira carta de 1982, é referido o nome de Cabá Santiago, conheci o Cabá Santiago, e posso contar um pouco da sua história, tendo por base aquilo que ele me contou, e o que eu conhecia a seu respeito.] (...)


(***)  Último poste da série > 1 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13676: Os nossos camaradas guineenses (38): Reportagem, com vídeo, da revista "Sabado", e tese de doutoramento sobre os comandos africanos, de Fátima da Cruz Rodrigues (Coimbra, UC, 2012) (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P13773: Parabéns a você (804): Manuel Moreira de Castro, ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13765: Parabéns a você (803): Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Mec da CART 643 (Guiné, 1964/66)

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13772: (Ex)citações (241): Carta Aberta ao camarada Mário Vitorino Gaspar sobre o livro "Guiné, a cobardia ali não tinha lugar" (José da Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, BráBachile e Teixeira Pinto, 1971/73), enviada ao nosso Blogue no dia 23 de Setembro de 2013:

Bom dia Carlos,
Recentemente o Beja Santos fez uma recenção sobre o livro do Fur Mil José Silveira da Rosa.(*)
Li o livro e só posso dizer que senti asco, para não dizer pior. O que lá está escrito é gravíssimo. Conheci o Rosa, mas não o Rosa que escreveu o livro. Quando escreveu o livro já era doente do foro psicológico.
Recentemente, nesta minha última deslocação à Horta, fui informado que o Rosa falecera numa instituição para doentes mentais. Verdade ou não, veio mais que de uma pessoa.
Porque eu estive envolvido no processo futebolístico dele, ainda antes de eu ir para a tropa, as acusações que ele faz aos dirigentes do Faial são no mínimo aberrantes. A verdade é que comentei o que ele escreve e mais alguns também o fizeram. Entre eles o nosso Hélder Sousa.
Agora aparece Mário Vitorino Gaspr, pela informação que tenho, talvez um furriel da mesma companhia ou especialidade, é boa pessoa, dizia, vem comentar mas é duro demais ao ponto de reclamar da veracidade do meu nome e da legitimidade do meu comentário. Esse que até é muito benovelente para com o Furriel Rosa, e até dou a entender que é bem possível que o livro já estando a ser escrito numa altura em que ele era acompanhado por um psiquiatra e psicologista podia conter inverdades que precisavam de esclarcimento. As acusações aos dirigentes do Faial Sport são inacreditáveis, mas isso seria uma longa história.
Eu junto o meu comentário aqui, mas não pretendo criar problemas no blogue, não é para isso que ele existe.

Abraço
José

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2. Para que o texto enviado pelo nosso camarada José Câmara seja comprendido pelos leitores, aqui ficam as (ex)citações:


i) Comentário do José da Câmara no Poste 13716:

Meus caros amigos,
Conheci o José Silveira da Rosa, o Káká dos Flamengos, natural da Ilha do Faial, jogador do Fayal Sport Club, que um dia tentou o profissionalismo no Belenenses, tendo passado por outros clubes. Após o serviço militar regressou ao Fayal Sport Club. Fui eu que fiz o processo da sua transferência de jogador profissional para aquele Clube amador, facto que julgo sem precedente na altura. O José Silveira da Rosa, foi extremamente exigente nas condições pedidas aos dirigentes daquele clube faialense, entre elas um emprego compatível com as suas habilitações literárias, o 2.° Ano dos Liceus.

O José Silveira da Rosa como jogador de futebol era dotado de uma grande técnica para o meio faialense. Civicamente bem educado, afável, simpático, jovial e brincalhão, fazia amigos com muita facilidade. Eu fui um deles.

Após o meu próprio cumprimento do serviço militar, voltei a encontrá-lo na Horta, era ele ainda jogador do Fayal Sport. Tanto quanto sei, ainda jogou futebol vários anos, sem limitações físicas visíveis. Levava o desporto muito a sério, mesmo no amadorismo puro da época. Era em tudo uma pessoa normal, ou pelo menos parecia. O seu estado traumático visível terá acontecido alguns anos após a sua experiência militar.

Foi numa das minhas deslocações ao Faial que li o livro “Guiné, a cobardia ali não tinha lugar”. Fiquei enojado com o seu conteúdo. Chocou-me a contradição entre o homem amável que um dia conheci e o azedume da escrita. Na abordagem que faz ao seu regresso ao Fayal Sport é por demais ingrato, para não lhe chamar outra coisa, para com o Clube e os dirigentes que o ajudaram e que em minha opinião pessoal cumpriram com o que lhe prometeram, arranjando-lhe o emprego possível e com o qual ele concordou. Numa ilha pequena como o Faial não era tarefa fácil. Muitos outros, nas mesmas circunstâncias, viram-se obrigados a procurar noutras paragens o emprego que a ilha não tinha. Porque não vivi as experiências do Fur. Mil. José Silveira da Rosa não me debruçarei sobre algumas afirmações que faz no seu livro e que o Beja Santos muito bem sublinhou, mas a necessitarem de corroboração para serem credíveis. Até porque os camaradas do Furriel Rosa se inocentes merecem bem melhor que esta bofetada.

Fui recentemente informado que o José Silveira da Rosa passou os últimos anos da sua vida numa instituição de saúde. Que no seu eterno descanso ele encontre o profissionalismo futebolístico com que tanto sonhou em vida.

José Câmara
sábado, Outubro 11, 2014

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ii) Comentário de Mário Vitorino Gaspar no mesmo Poste:

Eu, Mário Vitorino Gaspar, Ex-Furriel Miliciano, Atirador com a Especialidade de Minas e Armadilhas da Companhia de Artilharia 1659 – CART 1659 (ZORBA), com o lema “Os Homens não Morrem”, e fiz a Comissão em Ganturé e Gadamael Porto, de JAN67 a OUT68.
Percorremos toda a zona do “corredor da morte”, ou “corredor de Guileje”; Sangonhá; Cacoca; Cameconde e Cacine.
Mais tarde veio a tragédia – mais para aqueles que lá ficaram destacados – de Gandembel.
Conheci, e bem o Ex-Furriel Miliciano José Silveira da Rosa e acompanhei de perto a evolução do Livro “Guiné - «a cobardia ali não tinha lugar», lendo-o inclusive, visto ter-me pedido uma opinião. Ao mesmo tempo ele quis que colaborasse com um capítulo da minha autoria e dei-lhe um texto já escrito sobre a “Operação Rinoceronte”, efectuada a 14 e 15 de Julho de 1967 no famigerado “corredor da morte”, tendo perdido o contacto com a NT o Soldado N.º 00458266, António Fernandes da Silva de Oliveira do Conde – Carregal do Sal e que após inúmeras operações nunca conseguimos localizar. Houve empenhos da Aviação e de todas as Companhias, e felizmente apareceu no fim de 11 longos dias.
A minha opinião sobre o Livro – e recordo-o como se fosse hoje – disse-lhe que ele tinha um Processo a decorrer para que fosse considerado Deficiente das Forças Armadas em Campanha – isto do Deficiente em Serviço e em Campanha é uma história que gostaria de abordar, ou se é ou não Deficiente, sendo Deficiente nunca pode existir este aborto, tem de ser Deficiente das Forças Armadas – e aquilo que denunciava era gravíssimo e lhe poderiam trazer danos.
Muito embora considerasse e considero que essas situações deveriam ser denunciadas. Ele contou até outras. Eu tinha sido um dos fundadores da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra em 1994 (cargo de Vogal e Secretário); em Novembro de 1996 eleito como Vice-presidente, e de Dezembro de1998 até Janeiro de 2005 fui Presidente.
Além de ter estado com ele, julgo que na Escola Prática de Engenharia em Vendas Novas, deve ter sido em 2002/3 que o reencontrei. Era acompanhado na APOIAR em Psiquiatria e Psicologia. Conversámos muito, e convidou-me para ir à cidade da Horta, no Faial ao Lançamento do Livro, talvez no Verão de 2003.
A APOIAR fez um Colóquio antes do Lançamento, que teve a presença da nossa Assistente Social, e Psicóloga Clínica, respectivamente Doutoras Sofia Pires e Susana Oliveira. Ainda houve um grande espectáculo, digno de se ver, antes do Lançamento, terminando com um beberete. Depois do Lançamento do Livro, foi poucas vezes à APOIAR e perdi o seu contacto.
Pelo que li, opiniões de camaradas, o Furriel Miliciano José Silveira da Rosa (trata-se de um Furriel Miliciano e não de um Furriel), não é mentiroso. Já passaram 11 anos desde o Lançamento do Livro, e ninguém se queixou.
Será que Portugal anda a dormir? Ninguém da CART 1688 falou. Agora é que se lembram de comentar o que desconhecem? Noto que nem todos, ou somente o Camarada Beja Santos e um anónimo (apanho sempre com os anónimos em cima), embora diga que é José Câmara leram o livro. Verdade que faz acusações gravíssimas.
Percebi hoje que ele entretanto morreu, gostaria que me informassem se é verdade. Sei que publicou dois livros, este e outro da sua vida como futebolista. Até me pediu uma opinião sobre se deveria fazer só uma edição ou duas, mas já tinha ideia formada sobre isso.
José Silveira da Rosa denunciou situações de cobardia básica. Perdi a minha oportunidade porque fui censor do meu próprio Livro. Risquei com um lápis azul, cobardias e incapacidades, não fui vítima da censura, mas omiti. E ao omitir sou censor, embora de mim próprio.
Para acabar também querem que eu fale de situações de pôr as mãos à cabeça. E não se esqueçam, embora um qualquer Governo tenha acabado com os Furriéis Milicianos eles existem, não são Furriéis. Quando éramos Cabos Milicianos, éramos Cabos no pré e Sargentos no serviço. Queríamos ser tratados pelo nosso posto. Agora é mais grave, sou Furriel. Repito, sou Furriel.
Um abraço ao José Silveira da Rosa.

segunda-feira, Outubro 20, 2014

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Anotações do editor:

- Em Vendas Novas a Escola Prática era de Artilharia e não de Engenharia. Esta estava sediada como toda a gente sabe, principalmente quem andou em Minas e Armadilhas, em Tancos.

- Para evitar mal entendidos, quem não tem conta no Google, sempre que faz um comentário aparece como anónimo, situação que se resolve escrevendo no fim o nome, o ex-posto militar e/ou residência.

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3. Passemos à "carta aberta ao camarada Mário Vitorino Gaspar", enviado ao Blogue pelo camarada José Câmara para publicação:

Camarada Mário Vitorino Gaspar,
Se me permite, vou por partes.
Depois de oitenta e duas intervenções neste blogue onde sempre me assinei por José Câmara, jamais pensei ser um anónimo nestas páginas. Nesse aspecto, para além da minha apresentação, de acordo com as regras ao blogue, aqui fica para que conste:
José Alexandre da Silveira Câmara, natural da Fazenda, concelho das Lajes, Flores, Açores.
Com a idade de dez anos fui morar para a ilha do Faial.
Fui Fur Mil na CCaç 3327/BII17 e no Pel Caç Nat  56, com comissão na Guiné entre Janeiro de 1971 e Janeiro de 1973.
Sou emigrante desde Julho de 1973, facto que, culpa minha e só minha, me impede de expressar com a fluidez linguística desejada.
Atesto não ter identificação no Google, daí o cabeçalho aparecer sempre como anónimo. E assim continuará.

Conheci muito bem o jovem cidadão José Silveira da Rosa, mas não conheci o Furriel Miliciano que ele foi. Tão pouco comentei o que desconhecia e desconheço da sua vida militar. Comentei, melhor questionei, algumas das acusações inseridas no livro que ele escreveu. Tenho toda a legitimidade para o fazer.
Fui seu amigo pessoal, jogámos futebol no mesmo clube, quase sempre em escalões diferentes, o Fayal Sport, da pequenina cidade da Horta. Ele era bem melhor atleta que eu. Pelo menos enquanto jovem, as mazelas físicas que ele afirmava terem sido impeditivas de uma carreira profissional, não o impediram de ter uma vida normal e de ser um desportista amador, diria o melhor do seu tempo. No amadorismo, o José Silveira da Rosa trabalhava como se fosse um profissional. Era um bom exemplo para todos nós.
Ao tempo, todo jogador do Fayal Sport era inscrito na FPF como amador e, como tal, ficava desvinculado do Clube no fim da época. O José Silveira só mudou de Clube anos mais tarde quando o Clube da sua terra, o F C dos Flamengos, se associou na Associação de Futebol da Horta.
Tão pouco acusei o José Silveira da Rosa de ser mentiroso, não o conheci por ser, ou de não sofrer de traumatismo provocado pela guerra. Apenas alertei que a visibilidade daquele traumatismo aparecera mais tarde na vida dele, situação que julgo ser normalíssima. E acrescentei as suas qualidades humanas e cívicas.
Tudo isso para fazer a clivagem entre o José Silveira da Rosa, o homem bom que eu conheci e atestarei em qualquer parte, e um irreconhecível, pelo menos para mim, José Silveira da Rosa, Furriel Miliciano com comissão militar na Guiné, Deficiente das Forças Armadas, que escreveu o livro em causa.

Os exércitos não são feitos propriamente de meninos de coro. São feitos por todo o tipo de jovens, com todas as consequências possíveis. Por isso mesmo, em todas as guerras sempre houve exageros em momentos pontuais de pouca lucidez, que normalmente a imaturidade ou mal formação ditava. E se é certo que todos os exageros são condenáveis, julgo que nenhum militar que se preze duvida disso, as acusações do Furriel Miliciano José Silveira da Rosa são gravíssimas, de acções premeditadas, de tortura, de fuzilamento em massa, de abusos sexuais em grupo. Põem em causa toda uma Companhia, a condecoração por ela recebida, o próprio Exército de Portugal.

Pedir credibilidade às acusações feitas pelo Furriel Miliciano José Silveira da Rosa, infelizmente um Deficiente das Forças Armadas Portuguesas, que estava a receber acompanhamento psiquiátrico e psicológico na altura em que o livro foi escrito, factos que o Mário Vitorino Gaspar reconhece e eu, pormenores aparte, não desconhecia, é um acto da mais elementar justiça. De qualquer justiça. Com todas as consequências que daí possam advir, não estão em causa as acusações, essas foram feitas, ou mesmo o bom nome do acusador, mas sim a presumível inocência dos acusados.

É verdade, eu li o livro numa das deslocações que fiz ao Faial, cerca de dez anos depois da sua publicação. Eu não julguei ou julgo as acusações do Fur Mil José Silveira da Rosa. Porém, como cidadão português que ainda sou, que fiz os possíveis para honrar o uniforme que um dia enverguei com dignidade, sem vergonha, julgo que tenho toda a legitimidade para pedir a verdade dos factos e não mais que isso.

Para que não restem dúvidas sobre a minha forma de pensar e estar na vida, é-me muito mais fácil engolir a inocência de um culpado do que a culpa de um inocente.

Cumprimentos.
José Câmara
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Notas do editor

(*) Vd. poste (e respectivos comentários) de 10 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13716: Notas de leitura (640): “Guiné, a cobardia ali não tinha lugar”, por José Silveira da Rosa, edição de autor, 2003 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 20 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13766: (Ex)citações (240): Água da bolanha... quem a não bebeu ?!... Recordando aqui o pesadelo que foi a Op Jaguar Vermelho, no Morés, em 9 de junho de 1970... (Carlos Fortunato. ex-fur mil trms. CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONDG Ajuda Amiga)

Guiné 63/74 - P13771: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (7): Quem seria a Maria Caela, cuja ascensão e queda o poeta Mário Lima cantou ? (António Medina / Amadeu Lopes da Silva)



Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).

Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição (, 700 exemplares, policopiados, a stencil, ) deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: (i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano funcionário do BNU, infelizmente já falecido:  e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo].




Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Cais de Pidjiguiti


Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Quem terá sido a Maria Caela, do poema  "Retrato de Maria Caela", do poeta Mário Lima ? Quem terá  sido essa mulher fatal, que destrolou corações, seguramente caboverdiana, e da ilha da Boavista, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ? E que percorreu a Guiné, de lés a lés ? E que viveu na opulência antes de cair na miséria ?  


(i) Resposta de nosso camarada Antonio C. Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA] [foto atual à direita]

8 de outubro de 2014


Olá,  Luis.


Continuo tentando procurar saber de Maria Caela, contactando ex-colegas do BNU, amigos intimos do Mario Lima, sem nada de palpável até agora. Haja paciência.
Em anexo mais alguma informacao do nosso Mario, caso queiras dar informações sobre ele.
Saúde e um abraço.

Medina


(ii) Nova mensagem do Antonio C. Medina, com data de 20/10/2014 (**)




Hello,  camarada e amigo Luís Graça:

Dando continuidade as minhas pesquisas sobre quem terá sido Maria Caela em que o poeta caboverdeano Mário Lima se inspirou, acabo de receber uma informação de colega e amigo que aproveito para remeter para teu conhecimento. Continuarei olvidando esforços para satisfazer a tua curiosidade e nãp só, a minha também.

Saúde e boa semana.

AMedina


(iii) Mail enviado pelo António Medina ao seu amigo Amadeu Lopes da Silva: 

Data:  9 out 2014 16:49:22 -0400
Assunto: : Retrato de Maria Caela


Olá,  camarada e amigo:

Deves ter conhecido o Mário Lima que foi empregado do BNU e irmão do Hermes e do Ângelo, naturais da Boavista.

Mário Lima,  além de outras qualidades,  se mostrou também como poeta, publicando alguns dos seus versos num pequeno livro, "Poilão",  em 1973/74. Entre eles o "Retrato de Maria Caela"  que penso se tratar de uma criola morena da Boavista que chegara a Bissau aquando da sua estadia na Guiné, ou então talvez se tratar de algum amor imaginaário ou platónico que sustentava (?).

Gostaria de saber se de facto existiu a tal Maria Caela, se por mero acaso na tua viveência tivesses ouvido falar desse nome, ou se se trata de alguma morna que o tempo levou, etc.
Desculpa este inconveniente.
Um abraço
AMedina


(iv) Resposta do Amadeu Lopes da Silva, com data de 19 do corrente, e que o António Medina fez o favor de chegar até nós [, Obrigado, amigo Amadeu]:

Boa tarde Amigo e votos para que estejas bem de saúde.

Finalmente posso afirmar-te que a Maria Caela existiu e seria da geração de Maria Barba. Portanto o que o Mário terá cantado em versos são passagens que lhe foram transmitidas pelos seus pais,ou quem sabe de, em crianca, ter ouvido falar dela.

De andanca em andanca,o que me agradou, depois de falar com alguma gente, nomeadamente com a irmã do Mário (, a Zinha, ),acabei por falar, por recomendação dela, Zinha, com Nhu Vão (Serapião) ,homem dos seus mais que 90 anos que me disse ser familia dos Limas e que se lembra de em pequeno ter cantado modinhas (mornas) ligadas à Maria Caela, mas nunca se preocupou em saber de quem se tratava.

Logo.  e por deducão,ligada à idade desse Sr. (Nhu Vão),acho que o Mário cantava,  nos seus versos,uma figura da cultura da Boa Vista.

Contudo, Nhu Vão ficou de colher mais informacões que, ao me serem passadas, não deixarei de as deixar chegar ao teu conhecimento.

Abraço

______________








Poema do Mário Lima, funcionário do BN, natural da Boavista,  Cabo Verde,  já falecido, um dos ozbe poetas que figuram nesta antologia (pp. 15/17). Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ? (LG)



(**) Último poste da série > 9 de outubro de 2014 >  Guiné 63/74 - P13713: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (6): Homenagem a Mário Lima e Aguinaldo de Almeida, já falecidos, meus colegas do BNU, em Bissau (António Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, vive hoje nos EUA)

Guiné 63/74 - P13770: Ser solidário (169): SOS, Ébola!... Campanha da ONG Ajuda Amiga: envio de um contentor em finais de janeiro de 2015; e ações de informação e prevenção, em colaboração com o Ministério da Saúde e a ONG AD... Todos os apoios serão bem vindos (Carlos Fortunato, diretor da AJuda Amiga, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71)

1. Segunda parte de uma mensagem do Carlos Fortunato, respondendo a um poste do
Carlos Fortunato
Cherno Baldé (*)



A Guiné-Bissau continua com problemas graves por causa da água, os surtos de cólera que ocorrem todos os anos são um deles.

Iongonclim é uma pequena povoação onde a Ajuda Amiga quer intervir para minimizar esses problemas, tem um poço mas a sua água está a ser contaminada pela água do rio, o que originou 2 casos confirmados de febre tifóide, e o cabelo das crianças ter mudado de cor, devido a uma má nutrição extrema, a que não são estranhos os parasitas que existem na água.

Dados os nossos fracos recursos financeiros, apesar da gravidade desta situação, tivemos que dar prioridade a outra situação mais grave, o ébola.

Se o ébola atingir a Guiné-Bissau será uma catástrofe e uma porta aberta para a sua chegada a Portugal, e isto não tem implicações apenas ao nível da saúde publica, mas também ao nível económico, quer na Guiné-Bissau, quer em Portugal. Se tivermos em Portugal o ébola o que acontece ao turismo? Não é difícil perceber a resposta e as consequências.






A Ajuda Amiga vai enviar mais um contentor no inicio do próximo ano, no fim de Janeiro, nele iremos enviar bens para uma campanha de informação e de prevenção contra o ébola.

A campanha de informação sobre o ébola irá abranger todas as Regiões da Guiné-Bissau, com particular incidência nas cidades de Gabú e Bafatá.

A campanha de informação sobre o ébola e medidas preventivas, irá ser realizada por 3 vias:

·(i) Escolas - tendo como alvo os alunos, tendo como alvo os alunos, com distribuição de folhetos informativos sobre o ébola, distribuição de sabão e outros artigos de higiene e desinfetantes; 

(ii) Rádios - onde serão difundidas informações e feitos concursos aos ouvintes versando este tema, esta ação;

(iii) Folhetos - distribuídos e afixados em pontos chave.

A campanha será realizada pela Ajuda Amiga em articulação com o Ministério da Saúde da Guiné-Bissau e com o apoio do nosso parceiro guineense,  a ONG AD.

Esta campanha irá atingir mais de 500.000 pessoas da população da Guiné-Bissau.

Neste momento estamos a recolher apoios e donativos, toda a ajuda é bem vinda.
O nosso site em http://ajudaamiga.com.sapo.pt vai dando noticias.

Um abraço

Carlos Fortunato (**)
____________

Nota do editor .

(i) Os donativos em dinheiro devem ser enviados para a conta da Ajuda Amiga no Montepio Geral com o:

NIB 0036 0133 99100025138 26
O IBAN é o PT50 0036 0133 99100025138 26


(ii) "Todos os elementos da Ajuda Amiga envolvidos nestes projectos são voluntários, que suportam as suas despesas, e mesmo no caso da Guiné-Bissau quando se deslocam elementos da Ajuda Amiga para acompanhar a descarga e distribuição do contentor, estas são feitas a expensas próprias."

__________________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 14 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13733: (In)citações (69): Amigos das ONGD Ajuda Amiga e Tabanca Pequena, é importante abrir poços, mas se a água não for "Iagu Sabi", a população abandona-os (Cherno Baldé, Bissau)

(**) Último postea da série >  20 de outubro de 2014 > Guiné 634/74 - P13769: Ser solidário (168): SOS, Ébola!...Uma oportunidade única para restabelecer as melhores relações diplomáticas com a Guiné-Bissau, País Irmão (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé, 1973/74)


Vd. também poste de 19 de outubro de  2014 >  Guiné 63/74 - P13759: Os nossos médicos (83): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (15): Todos (ou quase todos) apanhámos o pé de atleta, a flor do Congo, onicomicoses, chatos, matacanhas... Mas o que me preocupa hoje, como amigo daquele povo, é a doença por vírus Ébola... Vamos ajudar a ONGD "Ajuda Amiga" a mandar um contentor suplementar no 1º trimestre de 2015, com sabão, sabonetes e lixívia!... NIB: 0036 0133 991 000 251 3826

Guiné 634/74 - P13769: Ser solidário (168): SOS, Ébola!... Uma oportunidade única para restabelecer as melhores relações diplomáticas com a Guiné-Bissau, País Irmão (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé, 1973/74)


1. Texto de Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé [, foto à esquerda, em 1973, no Saltinho] (*)
Data: 19 de Outubro de 2014 às 20:31
Assunto: Ebola

Francisco George,  Director Geral de Saúde, deslocou-se a Bissau, juntamente com o Director do INEM [, Instituto Naciional de Emnergência Médica,] e ainda bem, pois a porta de entrada [, em Portugal,]  do vírus Ébola, será indubitavelmente através da Guiné-Bissau.

Será pois necessário criar, [em Bissau,]  uma infra-estrutura local de detecção precoce e uma zona de internamento local para Suspeitos e Contaminados. Segundo me referiram será no Hospital Militar o que também é acertado dado o local ser vigiado por elementos das Forças Armadas para permitir um isolamento eficaz.

No entanto há que proceder á instrução de todo o pessoal de saúde:

 (i) como trabalhar laboratorialmente na identificação do vírus;

(ii) como utilizar todo o Kit de protecção;

 (iii)  como vestir toda aquela indumentária;

(iv) mas principalmente como despir para não haver contágio (criação de chuveiros com anti-sépticos específicos),chuveirada anti-viíica antes de retirar a fatiota de protecção.

Tudo isto está a ser articulado com sensatez pela ministra da saúde  Valentina Mendes que juntamente com o primeiro ministro guineense vão elaborar uma Carta de Intenções e Apoio ao  Governo Português.

Será uma oportunidade única para restabelecer as melhores relações diplomáticas com este País Irmão, não esquecendo que neste momento não deverá reiniciar-se a carreira aérea da TAP,e a vigilância aeroportuária terá que ser muito mais apertada para passageiros vindos da África Ocidental.

Desde há cerca de dois meses que a "Ajuda Amiga" e outras ONG, como a Viver 100 Fronteiras,  estão a fazer uma recolha de sabão e lexívia para enviar para a Guiné para aumentar a salubridade e as condições higiénicas e também a elaborar cartazes para afixar em centros de saúde e escolares em Português e Criolo para ensinar os procedimentos a seguir.

 O que é necessário é o tamponamento da Guiné- Bissau como forma preventiva para uma eclosão do Ébola.

Um Alfa Bravo do Rui
Enviado do meu iPad

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13756: Ser solidário (167): Diverso material carregado num contentor, no Porto de Leixões, com destino à Guiné-Bissau (Jaime Machado / José Rodrigues)

Vd. também:

15 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13737: Ser solidário (166): SOS, Ébola!... Uma epidemia que tem dIne ser levada a sério, só podendo ser prevenida e combatida por todos, a começar pelos mais ricos...

1 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13454: Ser solidário (162): SOS, Ébola!... Recomendações para viajantes com destino a regiões afetadas por doença por vírus Ébola (Portugal, Diretor-Geral de Saúde)

Guiné 63/74 - P13768: Notas de leitura (643): General Spínola ao Diário de Lisboa, em 9 de setembro de 1972: Não há que temer a autodeterminação (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Março de 2014:

Queridos amigos,
Esta entrevista fazia parte de um projeto pessoal em que Spínola buscava apoios junto de oposicionistas do regime. Não foi à toa que pediu apoio a Ruella Ramos para deslocar um repórter à Guiné.
Spínola visa negociações, o seu cordial entendimento com Caetano caminha para a maré-baixa, é a partir de agora que a correspondência entre os dois ganha tons patéticos.
Esta entrevista foi alvo de reparos pessoais de Caetano. Spínola abriga-se em fórmulas que de há muito vem defendendo mas não se coíbe de falar na autodeterminação, fala da perda de apoios do PAIGC e insinua até que há chefes que querem depor as armas. Importa não esquecer que à data desta entrevista já está em marcha um processo de consulta popular para se aprovar uma constituição para a Guiné-Bissau, seguida da declaração unilateral da independência. Havia que jogar com todos os trunfos, para contrariar esse desenlace.
Assim se entende melhor o núcleo desta entrevista.

Um abraço do
Mário


Spínola ao Diário de Lisboa, em 9 de setembro de 1972: 
Não há que temer a autodeterminação

Beja Santos

Na sequência de um conjunto de reportagens publicadas no mês de agosto de 1972, no Diário de Lisboa, assinadas pelo jornalista Avelino Rodrigues, cuja recensão está feita no blogue, em 9 de setembro o enviado especial do então vespertino da rua Luz Soriano entrevista o governador e comandante-chefe. Para se entenderem bem as respostas de Spínola, talvez seja útil dar o pano de fundo. Estamos em 1972, decorre com sucesso a reocupação do Cantanhez, Spínola encontra-se com Senghor, as relações com Marcello Caetano tendem a esfriar, esta entrevista, saber-se-á mais tarde, quando se publicar a correspondência entre os dois, foi censurada pelo próprio presidente do Conselho de Ministros, Spínola reagiu, Caetano irá redarguir que é muito tarde para se voltar a discutir a forma federal em que ele acreditara no passado.

Seguramente que o jornalista e o mediático militar se entenderam na perfeição para que a estrutura da entrevista fosse caminhando desde o inócuo para o explosivo, desde o consensual até ao polémico. Com efeito, Avelino Rodrigues começar por perguntar a Spínola se não existe uma militarização de funções civis na medida em que as forças armadas estão cada vez mais investidas na promoção agrária, cultural e assistencial, havia cada vez mais médicos, militares e familiares na cobertura sanitária das populações, no ensino liceal e até no fomento agrário. Spínola responde com serenidade, são missões de paz, o que interessa às Forças Armadas é captar a total participação dos guinéus, estimular a civilização civil. Mudando de registo, o jornalista pergunta a Spínola se se poderá dizer que as Forças Armadas dominam a maioria do território e controlam a maioria da população. Spínola chama a si os méritos da situação, tudo está a evoluir melhor desde 1968, no plano militar conseguiu-se um pleno aproveitamento do apoio da população, é por isso que está em curso uma revolução social que tirou argumentos ao inimigo, este está enfraquecido, o PAIGC foi desarmado pelo plano de desenvolvimento económico e social.

Sobe a temperatura das perguntas, vai falar-se de democracia, o que o jornalista viu foi a criação de estruturas democráticas, o Congresso do Povo é uma estrutura democrática. Com cuidado, Spínola responde: “Talvez seja racionalmente democrata, uma vez que baseei a essência das minhas convicções no conceito lapidar de que a soberania reside na Nação (…) É o que temos tentado fazer na Guiné, ao instituirmos um sistema de Governo baseado na vontade do povo”.

Nova inflexão, desta vez para a africanização dos quadros guineenses, Spínola já tinha afirmado que a africanização no Exército era um processo irreversível. Spínola não hesita na resposta, caminha-se para uma Guiné administrada por guinéus sob bandeira portuguesa. E arreda completamente o perigo de uma guerra sem controlo entre a Força Africana e o PAIGC: “Os africanos da Guiné sabem bem o que querem, o que elimina qualquer hipótese, mesmo remota, de descontrolo". A pergunta seguinte vem cheia de picante: “Afirma-se que vários grupos de guerrilheiros têm querido encontrar-se com V. Exa. É isto verdade?”. E Spínola, com blandicia, como se fosse detentor de uma posição estratégica firmíssima, responde que havia tentativas de aproximação no sentido de serem obtidas garantias quanto ao regresso de grupos de guerrilha em bloco ou de chefes individualmente, era gente que se propunha colaborar com o projeto “Por uma Guiné Melhor”. Assim se lançava a dúvida nas hostes do PAIGC e se explicava a pequenez dos resultados: “Todavia, o rígido controlo do inimigo sobre os seus elementos, a ação dos quadros estrangeiros e até, pois há que o reconhecer, certa desconfiança em relação a garantias de continuidade e à sinceridade dos nossos propósitos são razões que não têm levado à não concretização de algumas dessas tentativas”. Fala-se dos massacrados de 20 de abril de 1970, na estrada Pelundo – Jolmete, e Spínola responde: “Morreram como heróis, no sublime missão de paz pelo futuro do País e da Guiné”.

E entra-se no mais escaldante da entrevista, a autodeterminação da Guiné, e Spínola é categórico: “Não há que temer a autodeterminação mas, antes, que construir sobre ela a autêntica unidade nacional; e, no caso particular da Guiné, a política que vimos prosseguindo a esta luz, vem-se afirmando pela continuidade de Portugal em África”. Então o jornalista questiona-o sobre a livre opção dos guineenses, será que Spínola aceitaria a forma plebiscitária? E Spínola responde que aceita o conceito universal de “livre opção dos povos”, mas que no caso da Guiné esta constitui parte integrante de uma nação independente, não era necessário qualquer plebiscito já que a esmagadora maioria dos guinéus dera a sua adesão à política da administração portuguesa. E de novo perguntado se sentiria desgosto se essa Guiné autodeterminada se orientasse no sentido da independência, mesmo ficado ligada a Portugal, Spínola responde que sim, já que tem procurado construir uma Guiné autodeterminada dentro do contexto do Portugal renovado.

Por fim, aborda-se o problema da liberdade de expressão e o jornalista pergunta-lhe se Spínola estaria disposto a aceitar uma imprensa livre em Bissau do mesmo modo que aceitava a liberdade de expressão nos Congressos do Povo. Com subtileza, Spínola torneia a questão, fala na verdade absoluta e que ninguém pode arrogar-se detentor da verdade, a imprensa livre prossupõe uma ética muito sólida, haveria que caminhar progressivamente no sentido de uma imprensa livre, responsável e consciente da sua função social.

Tudo vai mudar radicalmente depois desta entrevista. Após as férias no Luso, Spínola é confrontado com a total relutância de Caetano em negociações com Amílcar Cabral. Começa o afastamento. Amílcar Cabral está no auge das suas potencialidades, o seu reconhecimento internacional é indesmentível, anuncia que se prepara uma assembleia para aprovar uma constituição e a independência unilateral. A guerrilha está intensificada. A URSS fornece os temíveis mísseis terra-ar. Cabral é assassinado em Conacri, entrou-se num novo patamar da guerra, a partir de maio de 1973. Toda a argumentação de Spínola cai por terra quando é decidido reduzir o número de destacamentos e de população protegida, fala-se num recuo que deixa uma grande porção das fronteiras totalmente permeáveis, não há equipamento que contrarie os morteiros 120. Então Spínola desiste e deixa a Guiné.

A Fundação Mário Soares dá acesso ao Diário de Lisboa, todo ele está digitalizado e o leitor interessado pode encontrar aqui esta entrevista de 9 de setembro cujo grau de censura se ignora, talvez seja necessário consultar a documentação de Marcello Caetano para se saber a fraseologia que os pôs em confronto, o idílio Spínola-Caetano já esmorecera.


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13747: Notas de leitura (642): “Libertação Nacional - Manual Político do P.A.I.G.C.”, com intervenções de Amílcar Cabral, Edições Maria da Fonte, 1974 (Mário Beja Santos)

Guiiné 63/74 - P13767: Blogpoesia (393): "A minha comissão de serviço em verso", por Mário Alves, ex-1.º Cabo Corneteiro da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69 (Abel Santos)




1. Em mensagem do dia 13 de Outubro de 2014, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), enviou-nos mais um trabalho em verso do seu amigo e camarada Mário dos Anjos Teixeira Alves de quem já publicamos O Diário das CART 1742:




A minha comissão de serviço em verso

Por Mário Alves

Oh, tanto custa na Guiné
É a vida de um homem,
Muitos martírios se passam
E por vezes mal se come.

Oh Maio de 1967
Nunca te esquecerei,
Mobilizaste-me para a
Guiné onde eu tanto penei.

Nem te lembraste que eu tinha
Já tanto tempo de tropa,
Submeteste-me a tal martírio
Do que passou ninguém se importa.

Há 18 meses que servia o exército
Quando em Julho embarquei
De Lisboa para a Guiné
No barco Timor naveguei.

Foi em 22 do mesmo mês
Que no cais da Rocha embarquei
Ao meio dia em ponto
As terras metropolitanas deixei

A viagem foi bem longa
Por Cabo Verde passámos,
E nessa mesmo província
Em duas ilhas parámos

Em 30 do mesmo mês
À Guiné em Bissau chegámos,
Às 2h da tarde
Nesse cais desembarcamos.

No quartel de S. Luzia
Nessa cidade de Bissau ficámos,
Mas em 14 de Setembro
Nova viagem recomeçámos.

A 16 chegámos a Nova Lamego
Onde nos foi entregue um destacamento
E melhor ficámos a saber
Que vamos lá ficar por muito tempo.

Em 23 de Abril de 68
Nova Lamego deixámos
Fomos então para Buruntuma
Mesmo junto à fronteira ficámos.

A minha CART 1742
Aí terminou a comissão
Sonhando com os ataques dos turras
Vivendo assim na solidão.

A vida em concreto
Teve outros pontos em suma.
Em Novembro vim para Bissau
E tratei não voltar a Buruntuma.

De Março para Abril 69
Fui passar uns 20 dias à companhia,
Mas em 14 deste último mês
A Buruntuma dei a despedida.

De novo vim para Bissau 
E lá terminei a comissão, 
Vivendo mais tranquilo 
E tratando da minha situação.

O que através da comissão passei 
Toda a gente pode imaginar, 
Pois na Guiné há guerra 
E estará para continuar.

A minha guerra não fui das piores 
Disso vos dou a certeza, 
A minha missão era quarteleiro 
Ter o material em acção de defesa.
____________


Nota do editor

Último poste da série de 5 de Outubro de 2014 > Guiiné 63/74 - P13693: Blogoesia (392): Boca seca ... [Mafra, 5 de outubro de 2014, 4h14] (J. L. Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P13766: (Ex)citações (240): Água da bolanha... quem a não bebeu ?!... Recordando aqui o pesadelo que foi a Op Jaguar Vermelho, no Morés, em 9 de junho de 1970... (Carlos Fortunato. ex-fur mil trms. CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONDG Ajuda Amiga)

Carlos Fortunato
1.  Mensagem enviada ao Cherno Baldé (*)  pelo Carlos Fortunato (ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71, e presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga):


Data: 18 de Outubro de 2014 às 14:44

Assunto: Poste do Cherno Baldé sobre a água


Caro amigo Cherno


Sei o que é passar sede na Guiné, a pior situação que passei foi numa operação ao Morés,  em 9-6-1970, chamada de Jaguar Vermelho. Mandaram 2 pelotões da CCaç 13 para junto da mata numa patrulha que durava 10 dias, sem existir reabastecimentos, só alguém sentado a uma secretária é que poderia pensar que seria possível levar comida, água e munições para combater numa zona controlada pelo inimigo.(**)

Fomos carregados que nem burros, mas a nossa prioridade foram as munições, assim, dado não existirem nascentes de água na zona, a falta de água mandou 11 soldados para o hospital, caíam para o lado inanimados. Perante isto mandaram um heli com 2 barris de água e munições, mas a água estagnada das bolanhas foi a única fonte de abastecimento regular que encontramos, havia uns comprimidos de cloro que nos davam para colocar na água.

Era para colocar 1 por cantil, eu usei um lenço para filtrar e coloquei 2, e só bebi a água 2 horas depois para dar tempo a fazerem efeito, mas de nada serviu, um mês depois as dores de estomago não paravam, os parasitas faziam no meu estômago um festival gastronómico, que me deixou de rastos.

Ao fim de 7 dias já tínhamos poucas munições e do resto nada, e como não tinham hélis para nos reabastecer, deixaram-nos ir a Bissorã para reabastecer e depois voltamos para lá outra vez.

Carlos Fortunato (***)



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCAÇ 13 (1969/71) > O Calaboche Tchuda,  exímio e bravo apontador de bazuca, do 4º pelotão. Foi contemplado com o Prémio Governador da Guiné pela sua acção na Op Jaguar Vermelho, e morto pelo PAIGC após a independência. Foto de Carlos Fortunato, reproduzida com a devida vénia

Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13733: (In)citações (69): Amigos das ONGD Ajuda Amiga e Tabanca Pequena, é importante abrir poços, mas se a água não for "Iagu Sabi", a população abandona-os (Cherno Baldé, Bissau)

(**) Sobre a Op Jaguar Vermelho, ler aqui mais, no sítio da CCAÇ 13 - Os Leões Negros > Bissorã > Morés:

(...) Morés - Operação Jaguar Vermelho - 9/6/1970
A mata do Morés era um dos nomes míticos da guerra na Guiné, tratava-se de uma mata muito densa, no meio a Guiné, na qual se encontrava situado o quartel general da zona norte do PAIGC.

A mata do Morés era um dos "santuários" da guerrilha, apenas superado pelas zonas junto à fronteira sul, pois ai com forte apoio do exterior, e com boas linhas de abastecimento vindas do território da Guiné-Conakry, o seu poder de fogo era inesgotável, transformando num inferno os aquartelamentos junto à fronteira. Na fronteira norte o problema na altura ainda não era tão grave, pois o apoio do Senegal, ainda não era um apoio declarado.

Nesta mata, segundo as informações existentes na altura, a guerrilha possuía uma força estimada em 900 homens bem equipados, onde se incluíam forças especializadas, cubanos, armas pesadas, anti-aéreas, abrigos subterrâneos contra bombardeamentos, hospital subterrâneo, etc.

Apesar de ser uma certeza de que possuía forças consideráveis na zona, era sempre difícil avaliar a dimensão das forças que iríamos enfrentar, pois a guerrilha facilmente as dispersava pelos vários acampamentos existentes, ou as concentrava se existisse um alvo que quisesse destruir.

No centro desta mata existia a tabanca do Morés, mas sem grande importância, e sem grande possibilidade de defesa, pois encontra-se em terreno aberto.

As bases do PAIGC estavam espalhadas pela mata, bem camufladas e era frequente a sua mudança, para evitar a sua localização.

O sucesso de uma operação nesta mata, dependia muito das informações conseguidas por dissidentes do PAIGC, nomeadamente quando se conhecia a localização de depósitos de material, não era este o caso da nossa "visita", pois creio que se queria apenas afirmar ao PAIGC, que não existia nenhum local onde não pudéssemos ir.

Pelo que nos foi dado observar na nossa rápida "visita", a mata possuía caminhos muito estreitos e alguns deles minados, ladeados por um mato tão cerrado que era impossível passar, ou lançar uma granada, nos lados desses caminhos trincheiras, para ninhos de metralhadoras, nas copas de algumas árvores algumas uma placa de madeira e uma caixa, indicavam locais de vigia e talvez a existência de um sistema de comunicações, os abrigos anti-aéreos eram muito rudimentares, e consistiam num enorme buraco cavado no chão, sem qualquer estrutura que o suportasse. (,,,)

Combater no meio da mata do Morés, colocava grandes dificuldades, o primeiro era que ficávamos privado de apoio aéreo (a vegetação é de tal modo cerrada que não se consegue sinalizar a nossa posição, para a aviação nos dar apoio, são escassas as clareiras e normalmente estão sobre a mira de morteiros), as progressões são difíceis (tem que se caminhar agachado ou a rastejar, para conseguir passar entre as árvores), a alternativa de seguir pelos trilhos existentes tinha os problemas referidos anteriormente, pois existia um sistema defensivo implementado, que mesmo sendo rudimentar, dava-lhes vantagem uma grande vantagem num confronto com as nossas tropas.

Apesar de a actividade da guerrilha se caracterizar por acções de flagelação e fuga, a verdade é que nalguns casos excepcionais esta começava a defender terreno, como o caso do Morés.

Uma ocupação deste tipo de terreno, implicava muitas baixas, e a guerrilha acabaria sempre por fugir e regressar mais tarde.

O PAIGC considerava-se invencível nesta mata. (...)

A Operação Jaguar Vermelho

A operação "Jaguar Vermelho" (decorreu durante 17 dias de 25/5 a 10/6/1970), iniciou-se com bombardeamentos de artilharia e aviação (napalm), e patrulhas à volta da mata, nomeadamente pela CCaç 13, CCaç 14, Comandos e Pára-quedistas (durante 15 dias), o seu objectivo era fazer sair da mata mais cerrada os guerrilheiros, e combate-los em terreno mais propicio.

Encontramos mais à frente, um acampamento abandonado à pressa, no qual existia um abrigo antiaéreo rudimentar cavado no solo junto a um poilão de grande dimensão.

No meio deste acampamento estava uma construção sem paredes, apenas coberta com folhas de palmeira, suportada por alguns troncos, a qual devia servir de escola e de local de reunião, à sua volta outras construções de lama, cobertas com capim serviam de habitação. As fotos tiradas pelos "páras" nesta operação, a um acampamento da guerrilha por eles encontrado no Morés, dão uma ideia clara desses acampamentos.
O acampamento era invisível para a aviação, graças à cobertura dada pelas árvores, o chão estava varrido.

Após recolhermos algum material, (uma arma, munições, tambores de metralhadoras DP-27), abandonámos o local e o trilho, seguindo pela densa mata, o que nos obrigou a rastejar ou andar de cocaras, durante quase todo o tempo.

O PAIGC dispersou-se pela mata, procurando formar uma linha para bater o terreno, esta disparava rajadas curtas, tentando provocar uma resposta e localizar-nos. Era obvio que pretendia cercar-nos na densa mata.

Para não sermos cercados, tínhamos que sair da mata sem disparar um tiro, pois pelo som conseguia-se facilmente distinguir de que tipo de arma é que este foi disparado, e isso iria denunciar a nossa posição, o que nos seria fatal dada a desproporção das forças em presença, assim foi dada ordem que apenas poderíamos utilizar facas para lutar.

O facto de fechar o fim da nossa coluna, colocou-me a mim e aos soldados que ai vinham, uma situação muito delicada, pois por diversas vezes ouvíamos o som inconfundível das "costureirinhas" por perto, e as balas a assobiarem junto às nossas cabeças. (...)

Dei ao último homem da coluna a missão de ir disfarçando o nosso rasto, o que ele fez habilmente com um ramo.

Pouco depois um dos soldados que ia à minha frente disse-me a sorrir, que um dos grupos de "turras" que vinha muito perto de nós, nos tinham passado à frente sem nos ver, e que agora íamos nós atrás deles, era a melhor maneira de não sermos detectados.

Felizmente conseguimos sair do interior da densa mata sem sermos detectados, tendo os combates sido travados já numa zona menos densa da mata. Um dos grupos que nos seguia de perto, caiu logo na nossa primeira emboscada (descrita a seguir), eram apenas 6 elementos, mas esta acção denunciou a nossa localização, e deu tempo a outro grupo de nos emboscar logo a seguir.

Apercebi-me que o soldado do meu pelotão a quem estava confiado o morteiro se tinha deixado ficar para trás, pelo que fui ao fim da coluna saber qual era o problema, explicou-me que tinha estado a abotoar a bota, dei-lhe ordem para retomar a posição, mas nesse momento paramos.

Estávamos a atravessar uma clareira, era um terreno de cultivo, provavelmente milho, o resto da coluna tinha entrado no capim, e estava dissimulada no mesmo, apenas eu que vinha em último, tinha ficado ali totalmente a descoberto, na clareira.

Quando me preparava para me reposicionar, o homem do morteiro fez-me um sinal, para olhar para o lado oposto.

Um grupo de 6 elementos, surgia do capim e caminhava directamente ao encontro dos soldados emboscados do outro lado da clareira (2 pelotões), à sua direita estava eu, iam cair numa emboscada com fogo de frente, e do flanco direito.

Nunca tinha tido um alvo tão nítido, e apenas a 30 m de distância, praticamente sem me mover limitei-me a apontar ajoelhado. O ultimo da coluna tinha apenas um saco, os restantes estavam armados, seleccionei como alvo o penúltimo, que tinha uma AK 47, calculando que os da frente, seriam mais facilmente eliminados, apenas havia que deixar que estes entrassem na zona da morte.

Um tiro disparado da frente da coluna, alertou os guerrilheiros, que pararam e olharam com mais atenção para a frente, acabando por perceber que estavam a cair numa emboscada, disparei um tiro, mas saiu uma rajada, e o guerrilheiro foi projectado com o impacto para o lado oposto, mas o disparo não foi mortal, pois conseguiu recuperar o equilíbrio, e recuar abrigando-se num grupo de palmeiras, bem como os restantes elementos. (...)

Percebi que a G3 se tinha avariado e apenas disparava em rajada, o que me dificultava a precisão dos tiros. Abrigado atrás da palmeira, o guerrilheiro ferido, resolveu pagar na mesma moeda o meu tiro, e fez pontaria cuidadosamente na minha direcção, mas antes de ele o conseguir concluir, voltei a disparar na sua direcção, obrigando-o a abrigar-se melhor.

Os dois pelotões que estavam emboscados no capim disparavam furiosamente, mas mesmo assim fiquei surpreendido de nenhum dos guerrilheiros ter ficado logo morto, dado não estarem a mais de 20m de distância de nós.

Uma restolhada de algo a atravessar as folhas dos troncos de uma árvore que estavam por cima da minha cabeça, alertou-se que uma possível granada de morteiro, que me iria cair em cima, larguei a arma e cobri a cabeça com os braços, com a certeza de que ia ser atingido.

A granada caiu mesmo ao meu lado a cerca de 0,5m, teria sido mortal se aquele terreno, não fosse um terreno de cultivo recente, pois apanhando terreno muito macio a granada não rebentou logo e enterrou-se no solo, o qual absorveu a sua explosão e os estilhaços.

Este fogo de morteiro obrigou-me a dar uma folga aos guerrilheiros, e o rebentamento chamou mais a atenção para a minha posição, assim vi-me sobre a mira de duas AK 47, uma era do guerrilheiro que vinha à frente da coluna e estava agora abrigado atrás de uma palmeira que o protegia do fogo de frente, mas não o suficiente para se conseguir colocar em boa posição de tiro, sobre a minha posição sem correr riscos, o segundo do guerrilheiro que tinha ferido, o qual bem protegido com uma palmeira de frente e outra de lado, fazia pontaria mas muito escondido.

Apontei rapidamente e em tiro instintivo disparei contra o primeiro guerrilheiro, que estava totalmente a descoberto, pois este parecia mais determinado a mandar-me para o outro mundo, expondo ao fogo da frente o braço esquerdo que apoiava a AK, apenas para conseguir fazer um bom tiro, assim disparei rápido para evitar que este pudesse concluir o tiro; o disparo atingiu-o pois fê-lo desequilibrar-se para o lado oposto, mas não foi mortal, porque se conseguiu equilibrar e fugir para o capim de onde tinha vindo, e o resto do grupo seguiu-o, debaixo de uma chuva de balas.

Tentei localizar as saídas das granadas de morteiro, para responder às mesmas, mas apercebi-me que os "pofs" da saída vinham da frente da nossa coluna, eram rebentamentos do morteiro 60mm, e ocorriam num circulo à volta, do local de saída, como não existia outro fogo de resposta na frente da coluna, conclui que devia ser "fogo amigo".

Fui falar com o alferes Joshua, sobre o que se tinha passado para da frente da coluna dispararem contra nós, explicou-se que tínhamos ido ao encontro de dois pelotões de "periquitos", que andavam por ali. Tinha sido um deles que tinha disparado granadas em todas as direcções.

Já a noite ia alta quando parámos para dormir (continuávamos a andar durante parte da noite para ser mais difícil seguir o nosso rasto), no meio de uma zona com bastante vegetação, em Larom, o sono profundo era breve, pois havia sempre uma sensação de perigo. (...)

Era uma noite muito escura. A meio do sono fui acordado por uma sensação de perigo, sem me mexer apurei o ouvido, e um ligeiro ruído de passos leves e muito vagarosos atrás de mim, alertou-me para um animal que se aproximava, olhei para o vigia que estava mesmo a meu lado, e pelo seu vulto percebi que olhava fixamente na direcção do ruído, mas nada fazia ... e o animal aproximava-se cada vez mais de mim, pelo ruído devia estar mesmo muito perto.

Lentamente tacteei à procura da G3, destravei-a e virei-me para disparar, mas na mesma altura o vigia fez ruído mexendo com as mão nas folhas secas que cobriam o chão, e o animal deu um salto no ar e desapareceu na escuridão.

Estava apenas a um metro de mim, mas estava demasiado escuro e só consegui vislumbrar um vulto indefinido, seria provavelmente uma hiena, mas para dar aquele salto talvez fosse um leopardo, o que quer que fosse vinha à procura de jantar.

O vigia disse-me sorrindo "Este vinha comer o furriel", furioso perguntei-lhe porque tinha deixado o animal aproximar-se tanto, respondeu-me que era para ver o que era . (...)

Depois de mais uma noite dormida em Larom, no dia seguinte conforme planeado, ao raiar do sol iniciamos a marcha de regresso a Bissorã, estávamos absolutamente arrasados com operação, e a marcha foi penosa, deslocamo-nos primeiro em direcção a Dandu, e pelo caminho passou por nós uma avioneta, que nos confirmou que podíamos regressar, devendo aguardar em Mansabadim a ordem de regresso a Bissorã, a qual nos seria dada ao meio dia.

Ao meio dia conforme planeado apareceu a avioneta, e com ela um sorriso de alegria em todos os rostos, finalmente tinha chegado o fim da operação e podíamos regressar.

O Alferes Pimenta que comandava a coluna correu para uma pequena bolanha, onde colocou um pano vermelho sinalizando a nossa posição, e entrou em contacto pela rádio com a avioneta, mas a fúria com que ficou, deu logo para perceber que eram más noticias.(...)

Foi-nos dado ordem para voltarmos para trás e regressarmos a Dandu, o comando das operações tinha mudado, agora não era um major, mas um coronel que dava as ordens, e era evidente ter havido alguma descoordenação com a passagem de comando, sem água e sem comida (não era suposto continuarmos ali), absolutamente arrasados, lá nos arrastamos debaixo de um sol abrasador para Dandu, e ficamos a aguardar.

As horas foram passando, e a fome e a sede apertando, não havia ali nada que se pudesse comer ou beber, e ninguém tinha previsto ficar ali tanto tempo, apenas o humor se mantinha, ninguém encontrava justificação para nos manterem ali, uns diziam que se tinham esquecido de nós, outros que o coronel está a comer um grande almoço e que só depois é que nos mandava regressar, outros diziam que era só depois dele dormir a sesta.

Finalmente pelas 16h30, chega a ordem de que podemos regressar, e lá iniciamos a penosa caminhada de regresso a Bissorã, que nos parecia tão longínqua, apesar de estar apenas a 10 Kms (do centro de Bissorã até à tabanca do Morés em linha recta eram 20 Kms, e até Dandu 10 Kms), pelo caminho passamos por uma poço que existia em Mansabadim, onde saciámos a sede, e enchemos os cantis.

A primeira coisa que fizemos no regresso foi tomar um banho, a água fria do chuveiro teve um sabor inesquecível, que só quem passou o calor e a sede que passamos consegue perceber. (...)

O saldo final foram 10 combates, em que morreram vários combatentes do PAIGC, e foi capturado algum material e armamento, da nossa parte apenas alguns doentes pelo desgaste da operação.  (...) 

Apenas uma palavra final de elogio, aos soldados africanos que serviram lealmente ao nosso lado, e que se distinguiram sempre pela sua extraordinária coragem, como o soldado Calaboche do meu pelotão, de que passo a relatar um episódio ocorrido nesta operação:

Atravessávamos uma pequena bolanha a norte de Larom, a qual estava seca formando uma clareira, o terreno era ligeiramente inclinado e rodeado de alta vegetação, os guerrilheiros estavam emboscados na orla mais alta, sabíamos que eles estavam por perto, e eles sabiam que nós vínhamos a caminho, quer pelos tiros dos confrontos anteriores, quer pela rajada de G3 que deviam ter ouvido um pouco antes, quando eliminamos à queima roupa um vigia com uma "Simonov", que se aproximou demasiado, do trilho que seguíamos.

A guerrilha deixou passar todos os Grupos de Combate pela pequena clareira, com excepção dos 3 últimos homens, que vinham atrás de mim, e mal entrei no capim deu-se o ataque. (...)

Os 3 soldados que ficaram na clareira, estavam totalmente a descoberto, o que os tornava um alvo fácil, tentei voltar para trás para os apoiar, mas o fogo de uma metralhadora ligeira (penso que era uma DP-27) concentrou-se onde eu estava, e só ouvia zumbidos de balas e vegetação a partir-se à minha volta, rastejei de modo a regressar à bolanha onde estavam os 3 soldados para os poder ajudar, uma granada de RPG rebentou ao meu lado, os soldados respondiam ao ataque em clara inferioridade como facilmente se percebia pelo som dos disparos. (...)

Quando cheguei à bolanha o Calaboche já estava lá, apercebendo-se da situação ele tinha regressado rapidamente à bolanha, recolhendo pelo caminho algumas granadas de bazuca, e ai de peito a descoberto fez frente aos guerrilheiros, exímio atirador de bazuca, aquela distancia não falhava um tiro, e arrasou as posições inimigas, indiferente aos disparos que faziam contra ele. Foi contemplado com o Prémio Governador da Guiné pela sua acção, e morto pelo PAIGC após a independência. (...)

[Publicado no site em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2006 por Carlos Fortunato]

Guiné 63/74 - P13765: Parabéns a você (803): Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Mec da CART 643 (Guiné, 1964/66)


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Nota do editor

Último poste da série de Guiné 63/74 - P13758: Parabéns a você (802): Carlos Filipe Coelho, ex-Soldado Radiomontador do BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/74)