sábado, 15 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

1. Mensagem do Santos Oliveira ( 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Como, Cufar e Tite, 1964/66) (1), enviada para Mário Fitas, em 11 de Novembro de 2007:

Revisão e fixação do texto: CV


Caríssimo Amigo Vicente [ou Fitas]:

De acordo com a nossa conversa telefónica de ontem, vou tentar escrever o que sei dizer, mesmo com imprecisões cronológicas, datas e ausência de muitos nomes, que durante cerca de 40 anos procurei varrer das minhas lembranças.

No entanto, os factos vividos jamais foram esquecidos, sobretudo os que foram menos maus, pelo que te narrarei e documentarei, sempre que possível, o que tu próprio testemunhaste, embora num período curto (do mesmo modo que todas as Unidades que por mim passaram, ou eu por elas passei).

Gostava ainda de referir que passei, entre a minha chegada e a despedida, cerca de 20 dias com o Pelotão Independente de Morteiros 912 e que não sei distinguir quem foram os militares (afora os 2 Cabos e 7 Soldados que sempre estiveram comigo) que pertenciam à minha Secção de 20 homens.

Após a apresentação no BCAÇ 599 e depois ao Pel Mort 912, foi-me ordenada a Missão de, por três meses, render a Secção da mesma Unidade que estava há 4 meses na Ilha do Como.

Na passagem por Bissau, foi-me ordenado, verbalmente, por Sua Ex.ª o CEM, Ten Cor Rebelo de Andrade, que:

1) - A posição do Cachil (Ilha do Como) era vital para as NT; por isso teria que usar todo o meu potencial material e humano, com os critérios que eu próprio estabeleceria;

2) - Operacionalmente, reportar-me-ia exclusivamente a Sua Ex.ª e que ninguém interferiria comigo;

3) - Que, no exterior, me aguardava um condutor para me fazer transportar ao Palácio do Governo, para receber o aval de Sua Ex.ª o Governador, Gen Arnaldo Schulz. Sua Ex.ª informou-me que, tudo quanto o CEM tinha dito, era para ser cumprido, mas que continuaria a ser ordem verbal.

Efectuei a instalação de três Morteiros, em posição adequada, após ter analisado todas as probabilidades da situação militar e do terreno, aliei os conhecimentos adquiridos e aperfeiçoados em Lamego.

Criei a minha própria Carta de Tiro para o local, inventei um transferidor de tiro (tudo tosco como o só o Português sabe fazer).


Foto 1 > Como> Carta de tiro para a Posição ocupada no do Cachil



Foto 2 > Como> Transferidor de tiro que parece ter sido adaptado oficialmente e agora se denominará M1o


Ensaiei e esperei. Nessa Noite não tivemos visitas. Passados sete meses (sem sequer ter obtido qualquer resposta, ou comunicação do Cmdt do Pel Mort 912, acerca do que quer que fosse, inclusivamente dos Vencimentos e Pré dos Militares que estavam sob o meu Comando, desloquei-me a Catió, sendo recebido pelo 2.º Cmdt do BCAÇ 616 (?), confrontando-o com os três meses de Missão, com os Vencimentos, com a Disciplina (já não cortava o cabelo há 4 meses) e com a ameaça de agredir um qualquer Oficial, porque se isso resultou com o meu antecessor colocado em Bissau, no BSM (Furriel Miliciano Contente – já falecido), certamente também iria resultar comigo.


Foto 3 > Como> Estava na moda ser Beatle, vejam o meu cabelo


Tive a promessa de que iria resolver o nosso problema da Ilha do Como e a meia verdade é que apenas fomos deslocados, dois meses depois, para Cufar. Já não era tão mau, embora durasse mais quatro meses...

No Como, se exceptuássemos as rendições periódicas de Unidades, éramos flagelados todas as noites. Já nem dávamos muita importância. Apenas era muito útil para o açambarcamento de munições de morteiro, já que eram fictícios os números de disparos, porque, raciocinava eu, estávamos completamente à nossa mercê; só podíamos ter LDM durante o dia e se houvesse maré; similarmente se passava com os meios aéreos que só faziam Missões de Apoio de Fogo de dia.

Fizemos abrigos subterrâneos e aí colocávamos as nossas reservas. Nas rotações das Unidades as coisas ficavam um pouco feias. Continuava a reclamar o Pré e Vencimento, até que, finalmente, talvez pressionado por outro alguém, o nosso Alferes Rodrigues, dito Comandante do Pelotão, nos deu o ar da sua graça e enviou-nos os nossos bem merecidos Vencimentos, mas … em cheque.

Ficamos perplexos e até o 1.º Sargento da Companhia (?) ficou abismado e andou pelo aquartelamento com o braço erguido a mostrar o cheque. Só não conseguia ter um encontro, de amigos, com o Comandante Nino para lhe pedir o favor de descontar, o dito, lá por Conacri, onde ia regularmente. É de loucos.

Outrossim, ouvíamos alternada e quase continuamente a Rádio Moscovo e a Rádio Portugal Livre, esta a emitir a partir de Argel e apresentada por um distinto militar português, que havia desertado [, o Manuel Alegre].

Oficialmente, era proibido escutar estas emissoras, mas o facto é que ali se ouviam algumas verdades; era uma questão de saber separar o trigo do joio.

A 16 de Novembro de 1964, avistei dois charutos estampados no escuro do céu, de forma difusa, que aparentavam dois cigarros acesos atirados ao ar, desde o fundo do aquartelamento. A recriação, mais ou menos fiel dos Fortes de defesa contra os Índios, em que a paliçada era construída de troncos de Palmeira, que, como se sabe, são moles e duram cerca de três meses; aquelas tinham mais que isso. Portanto, eram apenas uma defesa psicológica.

Acordei. A Rádio Portugal Livre havia sido extremamente suave e comedida no seu estilo linguístico.
-Fogo! Rápido!

Os objectivos estavam todos (todos, mesmo) planeados, para obstar a continuação do fogo de Morteiro. E assim foi. Mas o caso era muito mais sério, porque deslocaram para a orla da mata muitas metralhadoras pesadas (incluindo quádruplas, destinadas a tiro antiaéreo) que nos fizeram lembrar que o pior estava para vir. A densidade de fogo era tamanha que a iluminação e as antenas do Posto de Transmissões foram destruídas. Chegaram a ter metralhadoras pesadas no perímetro interior do arame farpado (havia duas barreiras aos 30 e 60 metros).

Bem, chuva miudinha, molha tola, e as calças do camuflado completamente secas. Demos o nosso melhor, fazendo tiro, a olho, para os locais em que as pesadas cantavam e chegamos até ao incrível (perigoso e inseguro, embora tivesse a consciência disso) de fazer fogo para as pesadas, dentro do perímetro de segurança. Tínhamos os Morteiros sobreaquecidos, alaranjados…

O inesperado aconteceu. Uma granada não percutiu. Tirei o blusão do camuflado e fui afastado pelo cabo e dois soldados que me pediram para continuar com os outros dois Morteiros. A munição foi retirada com sucesso; no entanto, por precaução, colocamos a arma fora de serviço. Quando arrefecesse, logo se veria.

Foram 216 granadas, durante as duas e horas e vinte que durou o ataque. Depois, de repente, o silêncio expectante e caricato da noite africana.

Apenas nos restavam munições para, naquele rimo de fogo, mais cerca de 15 minutos. Se não fora a batota calculada... Aguardámos algum tempo e tentámos, mais vigilantes pela falha na iluminação exterior, retomar o nosso ritmo normal no meio dum escuro e sepulcral silêncio.

Voltamos ao Noticiário da Rádio Portugal Livre, que estava prestes a começar. Uma gargalhada geral ecoou por aquelas bandas. Não é que o ilustre locutor nosso conhecido, acabara de declamar: ”A Ilha do Como acaba de ser libertada. As tropas colonialistas foram completamente derrotadas. Não há sobreviventes.
- Então, eu estou morto!


Foto 4 > Como> Os que "morreram" na noite de 16 de Novembro de 1964. Em cima: Soldados, João Marçal, João Paulo, Manuel Pinto, 1.º Cabo António Gomes e eu. Em baixo: 1.º Cabo Abílio Marques; Soldados, Amélio Fernandes, Carlos Mosca, Eduardo Martinho e Artur Rodrigues.


Foto 5 > Como, Novembro de 1964> Pormenor do cartão onde, a giz, se indica foram só 216 granadas. Lê-se mal, mas com esforço percebe-se; na Op Tridente, em mais de 70 dias, apenas gastaram cerca de 500 granadas.


De Catió, soubemos depois, expectantes, viram os clarões, ouviram os rebentamentos e não fizeram nada; absolutamente nada, embora tivessem um Pelotão de Artilharia com duas Peças de 8.8cm e com alcance mais que suficiente para, pelo menos, desmoralizar o inimigo. Não havia comunicações, mas nada ???!!!...

Conjecturas foram mais que muitas, mas que caíam sempre no mesmo: Não se safou ninguém!”. Eu tinha um soldado que estava em Catió, porque havia ido ao médico.

O balanço do dia seguinte, era dantesco. Massa humana com fragmentos de armas, pedaços de armas, ausência do arame farpado nas duas fiadas, a orla da mata tinha recuado uns 30 a 40 metros, porque as palmeiras ou não tinham ramagem ou estavam partidas, apenas um corpo em muito mau estado, uma PPSH e o mais espantoso, entre três poilões dispostos em triângulo e que formavam uma espécie de salão inexpugnável e a que denominávamos Enfermaria, recolhemos 2 unimogues de ligaduras sanguinolentas e alguns apetrechos médicos.

Mais nada, porque quem conhecia a mata teve todo o tempo para efectuar a sua limpeza de corpos, feridos e armamento.

Em Tite, (estive a acumular operações no BCAÇ 1860, sob as ordens do Ten Cor Costa Almeida e Major Jasmim de Freitas) procurei e descobri que o Comandante Nino levara mais de três mil homens para aquela missão. Pouca sorte a dele...

Quando foram restabelecidas as comunicações, a Guiné, no seu todo, regozijou. Dezenas de mensagens de felicitações… A esta distância, no tempo, a minha gratidão a todos os que compartilharam da nossa alegria. Já havíamos sobrevivido...

Os louros foram todos para a Companhia residente. Afinal, duma Secção de Morteiros, de dois (2) morteiros e vinte (20) homens, apenas havia dez (10) homens e três (3) Morteiros.

Que falem os responsáveis da Companhia que lá estava na época. Sinceramente gostava de conhecer o teor ou o ponto de vista tida do lado da Companhia destacada. Já foram questionados, os meus subordinados, mas nenhum se lembra da identidade da Unidade (tantas foram, as que por nós passaram…)

Os meus três Morteiros estavam com a cor característica de terem sido destemperados (anéis azulados de tons vários) cerca da zona de percussão. Valeu-nos o Mec Auto da Companhia para nos desenrascar lixa de água (a única que dispunha) e tinta dos Unimog.

Nada grave se não se soubesse. Mas com aquela cadência de tiro, cerca de cinco vezes superior ao normal, era, além de anti-regulamentar para a especificação da Arma (disciplinar, também), era esperado acontecesse, mesmo visto por um leigo.

No entanto, com ferramenta improvisada, lá estivemos todo o dia, a rectificar (com lixa de água) o tubo da arma, porque havia apertado e riscado, com o forte aquecimento que teve, e a granada não descia ao percutor.

Para testar, retiramos a espoleta e o cartucho propulsor a uma granada; quando esta começou a passar livremente, demos por terminado o trabalho. Estava como nova, operacional, e foi reintroduzida no Serviço. Nada se soube a nível oficial.

Em Cufar, repeti o estudo pormenorizado do terreno, instalei os Morteiros no local que entendi ser o adequado, ensaiei e, à semelhança da Ilha do Como, elaborei uma Carta de Tiro para os objectivos assinalados.


Foto 6> Cufar> Carta de tiro de morteiro para a Posição de Cufar


A situação era incómoda para a CCAV 703 (?). Tivemos um primeiro ataque e, como o terreno era bem mais aberto que no Como, tudo resultou pela positiva. A guerra desvaneceu-se.

Tentaram jogar com a CCAÇ 763 (era sempre assim, quando rodavam as Companhias).

Para mim, já era tudo automático (não simplista), porque os trabalhos de casa eram feitos previamente. Sei que causava muita confusão, mesmo a Companheiros da Especialidade, verem-me fazer fogo sem colocar o aparelho de pontaria (só era utilizado quando se alterava a posição do Prato). Sempre foi uma questão Geométrica, de pontos de referência, estacas, etc.

Tive muitas cumplicidades com o Cap Costa Campos, com quem tive o gosto e a honra de partilhar pontos de vista acerca do modo de fazer a Guerra (firmeza, flexibilidade e humanidade). Foi um grande oficial (um dos poucos oficiais que, frontalmente, valorizava e apreciava o meu trabalho e era humilde para ser capaz, com a sua formação castrense, de mo dizer de viva voz).

O que se passou para a frente, enquanto estive em Cufar, considerava eu, serem pequenas escaramuças; 4 ou 5 granadas bastavam para fazer a paz (excepções para as intervenções que a CCAÇ 763 onde tive que fazer Apoio de Fogo).

Voltei a Tite, não por vontade própria, mas porque o tempo de regresso dos meus homens chegou ao fim.

Comparativamente com o Cachil (Como), a nossa estadia em Cufar, igualmente sem qualquer conforto, eram como que de férias, descanso, tranquilidade, paz interior.


Foto 7 > Cufar, Abril de 1965> Abrigo-Suite que através de trincheiras nos tinha em ligação com os abrigos de morteiros

Fotos e legendas: © Santos Oliveira (2007). Direitos reservados.

Tive saudades daquela gente, naquele lugar, que respeito e admiro muito e que igualmente muito me acarinharam (eles nem sabiam quanto…)

Do meu Cmdt de Pelotão, nem sequer a dignidade duma referência, no seu Relatório Final, pelo desterro de 10 homens de quem se deveria sentir responsável. Para ele, não existimos nunca.

Estas são amostras dos episódios por que passámos.

Santos Oliveira
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Nota de CV:

(1) Vd. post de 24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

A jornalista francesa (hoje, escritora, autora de romances históricos) Geneviève Chauvel terá sido uma das raras mulheres, jornalistas, estrangeiras, a testemunhar uma cena de combate no TO da Guiné, no período da guerra colonial, embebed (como se diz agora, depois da guerra do Iraque) numa unidade das NT...

Na sequência de contactos com o actual Coronel, na reforma, Sentieiro , o nosso co-editor, o ex-comando Virgínio Briote, localizou, na Internet, a bela e misteriosa jornalista francesa e tem-se correspondido com ela...

Hoje damos conta desse aventura... à procura do tempo perdido... Nas fotos, acima, a Madame Geneviève Chauvel (e não Chaubel, como erradamente procurámos na Net...), tal como pode ser vista na sua página pessoal...

Como editor do blogue, manifesto aqui publicamente o meu apreço pelas diligências feitas pelo VB, a sua persistência, a sua inteligência emocional, a capacidade de utilização da sua rede de contactos sociais (ou não tivesse sido ele um homem do marketing farmacêutico, a par de um andarilho da Guiné)...

E já agora, uma última curiosidade, talvez um pouco mórbida, ou roçando mesmo o mau gosto: será que em Bula ou em Bissau alguém se lembrou de traduzir, para a nossa amiga Geneviève, o nome da operação em que ela participou ? Ostra amarga, huître amère... com mais o irónico pormenor de, em França, em Paris, as ostras portuguesas, até aos anos sessenta/setenta serem conhecidas simplesmente como les portugaises: eram as melhores do mundo, para o exigente palato do parisiense...

Esta, na Guiné, foi mesmo uma ostra amarga para todos... Coincidência ou não, na mesma altura, ao virar da década de 1960, a portuguesa desaparecia dos viveiros dos ostreicultores de França e da mesa dos consumidores franceses, devido a uma estranha doença: (...) Portugaise ('crassostrea angulata') : Espèce d'huîtres creuses introduite dans le Bassin d'Arcachon au milieu du 19ème siècle. Les huîtres portugaises disparurent du Bassin au début des années 1970 à la suite d'une maladie ...(LG)


Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido no decurso da Op Ostra Amarga (também ironicamente conhecida como Op Paris Match)... As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo Capitão Sentieiro, hoje Coronel), caiem num emboscada do PAIGC... O combate é presenciado por jornalistas estrangeiros e registado em filme por uma equipa da televisão francesa... No fotograma, as NT prestam os primeiros socorros a um dos feridos graves. Um dos militares transporta, às costas, uma fiada de granadas de LGFog 3,7...

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote (1)


1. A Op Ostra Amarga é talvez o único documento filmado do que foi a guerra-tipo da Guiné.

Emboscadas mortíferas, uma dúzia de minutos de disparos de PPSH (costureirinha), de AK 47 ou de RPG, bem dirigidos para quem a sorte escolheu e que o destino traçou para que os restos de uma parte dos seus alvos ficassem, muitos deles até hoje, nas terras onde combateram.

Em Outubro de 1969, o BCAV 2868, comandado pelo Ten Cor Alves Morgado e enquadrado por oficiais experimentados, alguns deles os melhores alunos dos cursos da Academia Militar, estava destinado a outras paragens. Spínola, tendo em consideração o que sabia do comandante do Batalhão, conseguiu encurtar-lhes a viagem, poupando-lhes mais uns dias no mar.

Estava-se em plena era da chamada Por uma Guiné melhor, uma ideia do General António de Spínola, que, mais tarde, se veio a verificar infrutífera, mas que, na altura, foi uma esperança para muitos, até então habituados a serem dirigidos por Governadores-Gerais que a única ideia que tinham era a supressão pura e simples do então chamado IN.

A política de Spínola assentava num Portugal unido por uma confederação de Estados que poderiam evoluir, mais ou menos rapidamente, para uma autonomia progressiva. O general do monóculo (com vários nicknames ou alcunhas: o Caco, o Caco Baldé, o Homem Grande de Bissau...) tinha estado em Angola e a sua acção não tinha passado despercebida. Procurava manter-se a par da evolução dos tempos, a Argélia Francesa já não o era e o Vietname, apesar do poderoso envolvimento bélico dos Estados Unidos, estava a ter os resultados que se viam. Concluíra que, sem as populações do seu lado, qualquer guerra estava destinada ao insucesso.

Numa primeira fase apostou num maior envolvimento das populações na defesa dos seus chãos contra o que chamava o imperialismo comunista. Congressos anuais dos povos da Guiné, reordenamentos, libertação de prisioneiros, pavimentação de estradas e melhoria da prestação de cuidados de saúde às populações, foram algumas das etapas da sua governação.

Todas estas fases, segundo o pensamento do General, deveriam ser bem mostradas não só à população local mas especialmente à comunidade internacional. Estavam a ser tomadas e a ser postas em execução medidas importantes para a Guiné e havia que dar conhecimento delas ao mundo.

Várias diligências foram levadas a cabo na divulgação desta política.

Uma parte importante da população autóctone tinha aderido às ideias do novo governador e a direcção do PAIGC passou a ver o General como um inimigo mais importante que o próprio governo que o mantinha. A imagem do general do monóculo e do seu pingalim correu mundo, através das capas de revistas estrangeiras, então muito lidas.

Neste enquadramento, o governo de Spínola convidou e pagou as despesas de viagens e estadia de cerca de 2 semanas a vários jornalistas da ORTF (a estação pública, de televisão francesa) e da Agência Gamma (2), com o objectivo de mostrarem ao mundo a política que se estava a seguir e que mostrassem também a adesão entusiástica das populações à ideia Por uma Guiné Melhor (3).

É assim que o BCAV 2868 do Ten Cor Morgado entra nesta história e, com ele, o Cap Cav Sentieiro (4).

Em 17 de Outubro de 1969, o comando do Batalhão recebe instruções para desencadear acções na sua zona de quadrícula, acções estas que teriam o acompanhamento de enviados da imprensa estrangeira. A Op Ostra Amarga inseriu-se na série de acções descritas no quadro abaixo e já objecto de posts anteriores (4).
Referência a três Operações: Caça Ratos, Ostra Amarga e Gato Assanhado


2. Estávamos em 1969, em 15 de Novembro. Tal como muitos semanários e revistas o Paris-Match passava em revista os grandes acontecimentos da semana.
Cópia da capa do Paris-Match, nº 1071, de 15 de Novembro de 1969


No sumário do referido nº, o Paris-Match, entre os artigos do estrangeiro, escrevia sobre Nixon e a sua maioria silenciosa, a odisseia da Apolo XII (que se preparava para a 2ª alunissagem, a 19 de Novembro) e inseria um pequeno texto da autoria de Geneviève Chauvel, então uma jovem jornalista da Agência Gamma (2), sobre a guerra da Guiné Portuguesa.





Escrevia Chauvel:

Monóculo no olho, apoiando-se no seu pingalim, este oficial parece surgir de um filme dos anos 30. Não é o Pierre Renoir de 'La Bandera', nem o Von Stroheim de 'La Grande Illusion'. O general português Spínola faz verdadeiramente a guerra. Na Guiné. Imagem soberba e irrisória: um pequeno país que possuía, há quatrocentos anos, um império imenso, sobre o qual o sol nunca se escondia, esgota-se hoje no último combate colonial do século.
Entre a Gâmbia e a Guiné de Sékou Touré, a Guiné Portuguesa conta com um punhado de colonos, face a meio milhão de autóctones, num território do tamanho de um departamento francês. De há oito anos a esta parte está transformado num campo de batalha. A guerrilha dos rebeldes, armados pela China e muito organizados – revistas, instrução política, jornais de propaganda – absorve cada vez mais as tropas portuguesas.
Lançados num país muito quente, com uma vegetação muito densa, vigiados pelo inferno das emboscadas, os camponeses de Beja, os pescadores da Nazaré ou os estudantes de Coimbra cuidam da sua elegância, a exemplo do seu comandante-em-chefe: “Mais vale ir para o céu com um uniforme como deve ser”.
Paris-Match, nº 1071, L’étranger, pp. 30 e 31, texto de Geneviève Chauvel-Gamma. Tradução livre de V. Briote. (Com a devida vénia...).

O General Spínola, ladeado pelo Major A. Bruno (de G3 e luvas), Major João Marcelino (2º Comandante do BCAV 2868, então em Bissau e que apanhou boleia no heli) e o Ten Cor Alves Morgado, Comandante do BCAV 2868 que acompanhou o desenrolar da acção. Foto tirada momentos após a emboscada. Imagem extraída do Paris-Match.


Na mesma imagem, de costas, o Capitão de Cavalaria José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485, que por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregado de dirigir a Op Ostra Amarga. Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487. Cópia da imagem do Paris-Match.


Geneviève Chauvel e o Capitão Sentieiro, momentos após a emboscada. Foto cedida ao VB pelo Coronel Sentieiro.

3. Contactámos Geneviève Chauvel (5), solicitando-lhe que puxasse pela memória e nos dissesse onde poderíamos procurar informação sobre a sua estadia na Guiné em 1969.
Extractos da correspondência trocada:

(...) Madame,

Chamo-me V. Briote e fui militar do Exército Português na Guinée-Bissau. Vi um filme de Outubro de 1969, "Guerre en Guinée", que encontrei no site do I.N.A. (Instituto Nacional do Audiovisual).

Temos um blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde mais de 200 ex-combatentes contam a vida do conflito colonial.

Encontrei-me hoje com o Coronel Sentieiro, que me forneceu pormenores da operação “Ostra Amarga”, em que a Madame Chauvel participou como repórter da Gamma. Trata-se de um documento filmado que retrata a violência do conflito.

A Madame Chauvel ainda se lembra desta história? Pode fazer-me um pequeno texto deste infeliz episódio? Perdoe-me este pedido, Madame. Mas, estou certo que compreende que estamos a falar da nossa juventude e não nos esquecemos do que os poderes de então fizeram de nós.

E obrigado pelo magnífico trabalho que fez.
V. Briote


A resposta de Geneviève Chauvel não tardou:

Monsieur,

Votre mail réveille de vieux souvenirs parmi les plus forts de ma carrière de journaliste. À l'époque j'ai raconté cette opération en Guinée qui fut violente et a coûté la vie à un portugais qui fut déchiqueté par un mortier. Je vais rechercher dans mes archives afin de retrouver le ou les articles écrits à l'époque et je vous l'enverrai sur cette adresse mail.
A très bientôt.

Geneviève Chauvel


Tradução livre de V.B.:

A sua mensagem recorda-me antigas lembranças entre as mais fortes da minha carreira de jornalista. Na época relatei esta operação na Guiné que foi violenta e que custou a vida a um português que foi atingido por um morteiro (*). Vou procurar nos meus arquivos o ou os artigos escritos na altura e enviá-los-ei para o seu endereço.
Até breve,

Geneviève Chauvel


(*) Obs.: Na verdade, foi uma roquetada e as NT sofreram dois mortos. A jornalista não teve conhecimento da 2ª morte, porque o ferido tinha sido entretanto evacuado.

Na volta enviei-lhe nova mensagem:

Madame Geneviève Chauvel,

Veuillez excuser mon Français. Il est le Français que j'ai étudié il y a plus de quarante ans, pendant mes études sécondaires au Portugal.

Aprés mon commission militaire obligatoire à la Guinée-Bissau, j'ai travaillé à Ciba-Geigy (Pharmaceutique), où j'ai fait ma carrière dans le département de Marketing. Et le Français était seulement parlé comme langue non officielle. Mais les paroles me manquent, non seulement en Français, aussi en Portugais. Vous comprenez bien ce que je veux dire, il n' y est pas seulement une question de vocabulaire.

Ils ont été des temps trés difficiles pour des garçons de 20 ans, comme moi. Et si tout s'est passé il y a presque quarante ans, nous n'avons pas oublié cette guerre, injuste pour tous.

Flora Gomes (directeur-cine, de la Guinée-Bissau) et Diana Andringa (journaliste portugaise) ont produit un documentaire de presque 100 minutes, nommé 'Les deux faces de la Guerre'(en Portrugais, 'As duas faces da Guerra'), où nous pouvons entendre les voix des élements de la guerilla et ex-militaires de l' Armée Portugaise. Les images que vous avez filmé, près de Bula, au Nord de Guinée, font partie du documentaire. Le commandant de l' opération du coté portugais c'ést l'actuel Colonel Sentieiro, capitaine à ce temps-lá. Je l'ai rencontré la semaine dernière et nous avons parlé de cette mission, comme je vous ai déjà dit. Et aprés ça je vous ai cherché et trouvé dans Google.

Nous attendons donc l'envoi du texte que vous avez écrit à 1969 et vous remercions en avance par la permission de sa publication dans notre blog. Vous avez été trés gentille et nous vous en remercions beaucoup.

Merci, Madame.

V.Briote


Tradução livre desta mensagem:

Senhora Geneviève Chauvel,

Desculpe o meu francês. Foi o que estudei há mais de quarenta anos, durante o ensino secundário em Portugal.

Depois da minha comissão militar obrigatória na Guiné-Bissau trabalhei na Ciba-Geigy Farmacêutica, onde fiz a minha carreira no departamento de Marketing. E o francês era então falado como língua não-oficial. Mas as palavras faltam-me, não só em Francês, também em Português. Compreende bem o que quero dizer, não se trata só de uma questão de vocabulário.

Foram tempos muito difíceis para jovens na casa dos 20 anos. E se tudo se passou há quase quarenta anos, não esquecemos esta guerra, injusta para todos.

Flora Gomes (realizador de cinema da Guiné-Bissau) e Diana Andringa (jornalista portuguesa) produziram um documenhtário de cerca de 100 minutos, chamado “As duas faces da Guerra”, onde podemos ouvir as vozes do conflito, de um lado e do outro. As imagens que a vossa equipa obteve, perto de Bula, no Norte da Guiné, constam do documentário. O comandante da operação, do lado português, é o actual Coronel Sentieiro, Capitão nessa altura. Encontrei-me com ele a semana passada e falámos dessa missão, como já lhe contei na mensagem anterior. Depois procurei o seu nome no Google e encontrei-a.

Esperamos então que nos envie o texto que escreveu em 69 e agradecemos desde já que permita a sua publicação no nosso blogue.
A Senhora foi muito gentil (….)

vb


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Notas de vb:

(1) Vd . post de
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

(2) Agência de fotografia, fundada em 1966 por alguns fotógrafos, como Raymond Depardon. No final dos anos 90, a Gamma foi adquirida pelo grupo Hachette Filipacci Médias.

(3) Vd. post de 13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)

(4) Vd. posts de:

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)

(5) Geneviève Chauvel, jornalista e escritora, francesa : vd. a respectiva página pessoal (em francês)

Resumo biobliográfico:

(i) Infância passada na Síria e depois na Argélia;

(ii) Estudos de Direito e Ciências Económicas em Argel e em Paris;
(ii) Casou, em 1961, com Jean-François CHAUVEL (filho do embaixador Jean CHAUVEL), jornalista, escritor, produtor televisivo;

(iv) Como jornalista, trabalhou, de 1967 a 1982 , para as agências GAMMA e depois SYGMA, tendo estado em diversos palcos de guerra (Vietname, Angola, Moçambique, Guiné Portuguesa, Biafra; guerra dos Seis Dias na Síria e na Jordânia, Setembro Negro em Amã, Israel...);
(v) Tem fotos publicadas em grandes revistas internacionais (Time Magazine, Newsweek, Paris-Match, Le Point, L'Express, Stern, Manchete, Actualidad, Europeo);

(v)De 1973 a 1981, trabalhou como jornalista e realizadora de televisão, tendo feito diversas reportagens (Egipto, Koweit, Guerre du Kippour, Montes Golã, Sinai, Suez, Guerre civil em Angola);

(vi) Fez o "retrato" de diversos chefes de Estado ou de importantes personalidades como Yasser Arafat, o Rei Hussein da Jordania, o presidente vietnamita Nguyen Van Thieu, o imperador da Etiópia Haïlé Sélassié, o General Spínola, o coronel Kadhafi, o presidente Sadate, o general Dayan, o rei Constantino da Grécia, o Xá do Irão, Chapour Bakhtiar, os emires do Golfo...

(...) É autora de numerosos romances históricos, sobre grandes mulheres, mas também sobre um grande herói muçulmano, Saladino, Saladin (1999), traduzido em alemão, espanhol e árabe.

Contacto por e-mail: chauvel.genevieve@orange.fr

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2350: Estórias cabralianas (28): O Hipopótamo, as Formigas e o Prisioneiro (Jorge Cabral)

O Jorge Cabral, nosso querido amigo e camarada, foi Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, primeiro em Fá Mandinga e depois em Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71.

É autor da série Estórias Cabralianas (1), uma das mais populares do nosso blogue.


Hoje mandou-nos mais uma das suas deliciosas short stories em que é especialista.


O Hipopótamo, As Formigas e o Prisioneiro
por Jorge Cabral


Guiné-Bissau > Áreas Protegidas > Parque Nacional de Orango, na parte sul do Arquipélago dos Bijagós > Um hipopótamos e a sua cria (2).


Fonte: Guiné-Bissau, página da AD - Acção para o Desenvolvimento (2006) (com a devida vénia...)


Nem me lembro qual o Periquito que se apresentou naquele dia em Fá. Mas sei que ao anoitecer, saiu, equipado e armado, cumprindo a minha ordem. Objectivo: caçar um hipopótamo.

Levámos morteiro, bazuca, e para impressionar o novo combatente, até picámos o curtíssimo trajecto, que nos separava do rio. Perto da margem, emboscámos, vigiando as águas.

Para o Periquito era certo. Brancos e negros, já o tinham convencido, que todos os meses, caçávamos um enorme bicho.
- Ainda no mês passado, foi um elefante - afiançara-lhe o Monteiro.

Uma hora se passou porém, sem qualquer vislumbre do hipopótamo, embora o pira continuasse atentamente a espiar o rio, animado pelos incentivos dos outros, que inventando indícios e sinais, lhe garantiam:
- Está quase!

Eis quando em vez do paquiderme, surgem as ferozes formigas, cuja predilecção testicular era nossa conhecida. Atacado nos ditos, o Periquito uivou de dor, aos saltos, e obedeceu aos nossos conselhos
– Entra na água... Entra na água... senão eles caem!

O espalhafato, o barulho, a confusão, foram tão grandes que um turra acabado de cambar o rio, se entregou, julgando-se descoberto.

No dia seguinte, frente ao Sampaio (3), relatei com pompa e circunstância, a captura. Sim, com base em informações fidedignas, montara a emboscada. Do Hipopótamo, das Formigas, do Periquito, nem uma palavra.
- O Cabral é assim, um operacional de mão cheia - confidenciou depois o Major, ao Comandante (4)…


Jorge Cabral

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. último post da série:

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2204: Estórias cabralianas (27): Turra desenfiado encontra Alferes entornado (Jorge Cabral)


(2) Nunca vi um hipopótamo na Guiné, morto ou vivo... Não tive/tivémos tempo para fazer... turismo. Mas não creio que existissem no Rio Geba, pelo menos no Geba Estreito... A sua existência era referenciada no Rio Corubal, onde seriam abundantes, mas onde nós, pelo menos no meu/nosso tempo (1969/71) não punhamos os pés... a não ser armados até aos dentes e com apoio aéreo...

Passados estes anos todos, os hipopótamos são uma das muitas espécies ameaçadas na Guiné-Bissau e em muitos outros países africanos ... O nosso camarada A. Marques Lopes acaba de nos mandar uma notícia, da Angola Press, que refere o risco de extinção dos hipótamos e outras espécies de grande porte... Aqui vai a notícia, com a devida vénia (e a nossa preocupação: porque sem o hipopótamo da Guiné, ficamos todos mais pobres, ao planeta, a África, a Guiné, nós e os nossos amigos guineenses, que já são pobres de tudo):


Guiné-Bissau: Mamíferos de grande porte em vias de extinção, diz especialista

Bissau, 13/12 - Mamíferos de grande porte, que até há pouco tempo existiam na Guiné-Bissau em abundância, estão em vias de extinção devido à pressão do homem, disse, quarta-feira, Cristina Silva, especialista em espécies.

Cristina Silva é a coordenadora para a acção de seguimento das espécies no Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP), da Guiné-Bissau, que hoje comemorou o seu terceiro aniversário, tendo como pano de fundo a preocupação sobre a protecção da fauna e flora do país.De acordo com a especialista, os "grandes mamíferos" como o leão, a onça e oelefante, são hoje espécies "extremamente ameaçadas" de extinção devido à acção dos seres humanos. Por exemplo, os poucos elefantes que restaram são vistos esporadicamente nas florestas de Boé, no leste e em Cantanhez, no sul, explicou Cristina Silva, sublinhando que estes apenas aparecem nas épocas chuvosas.

"O último recenseamento apontava para a existência de apenas três casais de onças na zona do Boé", declarou Cristina Silva, um registo que contraria os dados de há dez anos, indicando que havia entre 50 a 100 seres dessa espécie.

Em 2004, foi realizado um registo nacional dos hipopótamos, em seis das sete áreas protegidas na Guiné-Bissau, tendo sido recenseados entre 500 a 1000 seres daquela espécie, mas o último recenseamento realizado recentementeapontou para menos de 500, adiantou Cristina Silva.

De todas as sub-espécies de animais, os ungulados, isto é, búfalos e cabras do mato, "são as que correm o risco de extinção" por constar da dieta alimentar de grande parte da população rural guineense, afirmou aespecialista.

O director do IBAP, Alfredo António da Silva, lamentou o facto do país não estar ainda dotado de legislação para a protecção das áreas protegidas eespécies ameaçadas de extinção.

in Angola Press, 13.12.07


(3) Major Sampaio, oficial de operações do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), a que estava adido o Pel Caç Nat 63.

(4) Ten Cor Jovelino Corte Real.

Guiné 63/74 - P2349: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (13): Na despedida de Missirá, em que me tornei um Soncó

Guiné <> Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Missirá > Pel Caç Nat 52 (1968/70) > "O mais controverso cozinheiro do mundo, Quebá Sissé, o Doutor (fotografia de Luis Casanova).

"O nosso querido Doutor, colega de quarto de Luis Casanova. Sempre gentil e sorridente, conheci-o a preparar as refeições mais abomináveis que imaginar se pode. Estagiou nas messes de oficiais, sargentos e praças e tornou-se muito exigente. Cozinhava, fazia reforços, ia a Mato de Cão, patrulhava e emboscava. A 1 de Janeiro de 1970, num acidente estúpido, desferiu vários tiros no peito de Uam Sambu, que morreu pouco depois. Fui testemunha de defesa do Doutor, que sofreu horrivelmente com a morte do camarada".

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Cuor > Missirá > Pel Caç Nat 52 > O Alf Mil Beja Santos, rodeado das autoridades civis e religiosas de Missirá: O régulo Malan (à sua direita); o Keban e o padre Mané (à sua esquerda).

Fotos e legendas: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Região Leste > Bambadinca > Missirá > 1970 > O Pel Caç Nat nº 54, comandado epl Alf Mil Correia Alves, que veio subtituir o pel Caç Nat 52, do Alf Mil Beja Santos. Foto do Fur Mil Mário Armas de Sousa, açoriano, que é o terceiro da primeira fila, a contar da esquerda para a direita.

Foto: © Mário Armas de Sousa (2005). Direitos reservados.


Texto enviado, em 31 de Outubro último, pelo Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70).


Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (13): A reunião de despedida com os Homens Grandes do Cuor em que me tornei um Soncó

por Beja Santos


(i) A última reunião com os homens grandes do Cuor: o dia e a hora em que me tornei um Soncó e me despedi de Missirá

A 10 de Novembro [de 1969], mesmo sem saber ainda a data da nossa transferência para Bambadinca (1), convido para um almoço o régulo, os chefes de tabanca, o padre Lânsana, Quebá Soncó, o nosso picador, os comandantes das milícias ou os seus substitutos (é que o Príncipe Samba, Albino Mamadu Baldé continua em Bissau, em consequência dos ferimentos da mina anti-carro, e Bacari Soncó ainda está muito debilitado depois das ocorrências dos armadilhamentos de Canturé).

Quebá Sissé e Umaru Baldé esmeram-se num bacalhau cozido com batatas, couves e ovo, vem tudo a fumegar, a pratada é recebida com sorrisos e apetite voraz. Enquanto se servem as laranjadas Fanta, e os dentes de alho, e circula o pimenteiro e a malagueta, agradeço a todos o acolhimento que ofereceram ao Pel Caç Nat 52, informo que toda a documentação sobre a população existente no Cuor, os locais armadilhados em torno de Missirá e Finete, os planos de abastecimento de arroz, os autos de justiça envolvendo a população civil, constam de um dossiê que irei entregar ao alferes Alves Correia assim que o Pel Caç Nat 54 chegar a Missirá.

Dirigindo-me a Lânsana, mostro-lhe o meu caderninho viajante e peço-lhe para ainda conversarmos antes da minha partida sobre as lendas do Geba e o arvoredo do Cuor e do Oio. Apresento desculpas por ter adaptado a vida da população civil às contingências militares, eliminando culturas e as cercas que sempre fizeram parte das vidas das famílias dentro da tabanca.
Imprevistamente, o régulo põe-se de pé, manda chamar Domingos Silva, enxota com voz cortante os cozinheiros e as crianças que rondam à volta dos fogareiros e lança-se num arrebatado discurso.

Pelo Domingos, fico a saber que os laços de sangue dos Soncó passaram a ser os meus; que chegara ontem uma carta de Lisboa em que o seu filho Quebá, a tratar de nova prótese no Hospital Militar Principal, falava com entusiasmo da Cristina, da Mãe e da irmã de alfero, a família portanto ia-se conhecendo aos poucos; que eu ficava responsável por dar aos Soncó toda a ajuda possível, mesmo quando a guerra acabasse; que confiava que Bambadinca mandasse fazer um monumento a Infali Soncó, em Sansão, e que me confiava um anel que pertencera ao seu avô. E com o mesmo entusiasmo e arrebatamento com que este discurso fora proferido, como se tivesse havido um prodigioso ensaio geral, assim que o régulo findou a sua jaculatória, a multidão dos Soncó e dos Mané, à porta da messe, alindados ou engalanados, formaram um semicírculo onde entrei de braço dado com o régulo e fui cumprimentar a mulher grande a quem entreguei pacotes de chá, à falta de melhor lembrança.

Findo o cerimonial do acolhimento a este novo Soncó, o régulo e a sua comitiva convidam-me a ir à mesquita. É neste ínterim que o Domingos me informa que os soldados pretendem uma cerimónia especial do arriar da bandeira e guardei a frase em que ele explicava a razão da homenagem: “para lembrar e agradecer àqueles que não podem partir connosco”.

Só parto ao anoitecer para Mato de Cão, recordo-me que é preciso mostrar ao Alves Correia todos os itinerários alternativos desde Caranquecunda até Gambana ou Chicri, ocorre-me igualmente que tenho de mostrar ao Pel Caç Nat 54 os perigos do percurso entre Cancumba e Morocunda, onde começa a mata densa que vai até Biassa local onde por duas vezes a gente de Madina/Belel montou emboscadas mortíferas, em 1966 e 1967.


(ii) O banimento de Dauda Seidi da milícia de Missirá


Volto a reunir-me com Malã para discutir a expulsão de Dauda Seidi da milícia de Missirá. Dauda é um militar com qualidades mas agiu brutalmente com a mulher, espancou-a de tal maneira que se fez uma coluna de urgência para a levar para tratamento a Bambadinca, a vítima exibia hematomas e ferimentos vários das chicotadas e pontapés, pelo que este procedimento desumano não pode passar impune.
Comprara em Bissau um livro sobre a justiça dos mandingas, ficara a saber que estes comportamentos são castigados com o banimento. Ora, eu não podia aplicar um castigo invocando o regulamento de disciplina militar, era-me indispensável saber a opinião do régulo. Ele não hesitou em responder-me:
-O que Dauda fez, ainda por cima na presença das crianças e das outras famílias, merece a condenação, mande-o de volta para Madina Bonco.
Mesmo sabendo que íamos perder um valoroso soldado, não tive contemplações, pedi ao Pires para se fazerem as contas e avisei o Dauda que amanhã abandonaria o Cuor.


(iii) A última viagem a Mato de Cão

É noite escura quando saímos de Missirá, pela porta de Sansão. Temos o luar a nosso favor, toda a bolanha entre Caranquecunda e Sansão está seca, atravessamo-la sem nenhuma dificuldade, descemos até Maná, contornando a velha tabanca e flanqueando sempre a estrada até Canturé, como se fôssemos até Gambana. O picador, Cibo Injai, chama-me a atenção para as pegadas de vacas bem visíveis na terra seca, o que atesta abastecimento recente da gente de Madina, sabe-se lá se dos Nhabijões, sabe-se lá se de Mero.

É uma noite graciosa, o ar respira-se sem dificuldade, basta a camisa do camuflado, só uma camada de suor é perceptível, mas cedo se evapora e logo o suor oleaginoso regressa. Sempre guiados por essa luz coada, atravessamos o palmeiral de Chicri e subimos para o planalto de Mato de Cão, o amanhecer ainda está muito longe. Tomamos posição em meia lua, sempre com dois observadores nos extremos, de pé, para detectar possíveis movimentos de aproximação de gente de Madina.

É uma noite quase silenciosa, ouve-se o Geba caudaloso, as águas a subir até ao tarrafe, é a maré cheia fundamental para as embarcações civis. Aqui e acolá as hienas soltam os seus gemidos, ouve-se o restolhar dos porcos de mato, o piar lúgubre das aves nocturnas, a ver se pergunto ao Barbosa se este piar das corujas não lembra as da nossa terra. Entre as duas e as três da madrugada, somos despertados pelo ronco dos motores, primeiro um zunido quase suave e persistente, depois em crescendo os barcos aproximam-se. Todos de pé, vemos passar três embarcações fantasmas, são batelões da Casa Gouveia, trazem mantimentos e vão regressar com matérias primas.
O Geba está enluarado e reverbera os mesmos tons enluarados, metalizando-se. É nesse preciso instante que olho à volta, como a despedir-me deste glorioso planalto de Mato de Cão, os seus palmares silenciosos com árvores de grande porte, pergunto-me quantas vezes vim a este local sempre com o coração contrito, à espera de uma emboscada infernal. Penso no Enxalé e na belíssima estrada que nos leva daqui através de Saliquinhé e São Belchior, sempre a beijar o rio, até essa tabanca, na fronteira do Cuor, com a sua aproximação angustiante de um arvoredo denso e anárquico, entregue às leis da natureza.

E regressamos com os primeiros alvores ígneos, como se uma mata incendiada estivesse a anunciar-se, bem lá ao longe. Regressamos por um percurso diferente, desta feita descemos até à tabanca abandonada de Mato de Cão, flanqueamos Chicri e passamos ao lado de Mato Madeira, atravessamos Flaque Dulo e subimos por Gã Gémeos até Caranquecunda. A manhã rompe em todo o seu esplendor quando Missirá nos acolhe, partem homens e mulheres para as culturas e lavagens ou abluções, a vida recomeça dentro do perímetro vegetal. Nem o cansaço subtrai o êxtase deste momento, só diminuído pela dor a tão contraditória dor, de quem vai partir desta terra tão amada.


(iv) Um último poemacto para Lisboa

Tem a data de 11 este aerograma que escrevo no regresso de Mato de Cão. A correspondência da Cristina está cada vez mais triste, evasiva, é como se a sua autora estivesse a perder energia, o sonho e a esperança, a soçobrar ao peso de tanta questiúncula nos meus meios familiares. Então escrevo, ainda alimentando a ilusão de um sopro poético:

Amanheceu sobre os palmares, há o sussurro dos regatos para lá das hortas de caju. Procuro levar um cadinho de calor às tuas mãos, ver renascer um sorriso trocista, um sinal da tua felicidade, confundir o perfume da terra deste trópico, galgando este oceano, com o perfume dos teus cabelos, avisar-te em primeira mão que a guerra acabou. Com o ribombar desta notícia, com o sol transformado em bola de fogo, estamos prontos a partir neste primeiro dia anónimo em que tu já não choras à espera do meu regresso. Missirá chegou ao fim, vão-se seguir meses de dias dobrados fora dos subterrâneos de cimento e das chapas de ferro. Não chores mais e confia na notícia, trago-te o desmentido da guerra, passei uma noite debaixo de uma abóbada coalhada de estrelas e exalto-te provisoriamente neste dia multiplicado, ao arrepio das cinzas, sim, meu amor, vamos recomeçar tudo aquilo que a guerra suspendeu.

Leio e releio, risco, volto a riscar, depois emendo ainda e assino, sem antes deixar de informar que venho de uma noite funda e despeço-me com ternura, garantindo um até amanhã. Escreverei ainda a 13, já anunciando a excitação da partida, prevista a partir do amanhecer seguinte, com viagens ininterruptas do Sintex, levando e trazendo através do Geba. Pela estrada fora, os civis transportaram trouxas e animais, o burrinho levará no bojo as cargas mais pesadas como sacos de arroz que seguirão directamente para a tabanca de Bambadinca.
Escreverei igualmente a 16, nesse dia sairão de madrugada dois pelotões na operação Truta Vivaz, à procura da presença de gente de Madina entre Sinchã Corubal, São Belchior e Finete, com emboscada nocturna. Ficarei em Missirá com duas secções de milícias e apontadores de morteiro, a cumprir o que me pedira Jovelino Corte Real: patrulhar e mostrar todos os locais onde o inimigo camba o Geba e pode montar as emboscadas mais temíveis. Guardo silêncio sobre os patrulhamentos que fiz aos locais mais arriscados com 30 homens quando agora a mensagem é de que nunca se deve sair havendo o risco de contacto com menos de 60 homens.
Só regressarei definitivamente a Bambadinca a 21 de Novembro, vou estrear-me como oficial de dia, vou ficar ligado às mais abomináveis emboscadas nocturnas de que há memória, às estadias no rio Udunduma e ao reordenamento dos Nhabijões, tudo de uma assentada.

Vou sentir-me muito mal em Bambadinca de que tanto gosto, agora é outro mundo, são peripécias novas, como aquela que vos contar a seguir e que envolve um dedo mindinho dentro de um tapa-chamas.


Capa do livro de António José Saraiva, A Inquisição Portugues, 2ª edição revista. Lisboa: Publicações Europa-América, 1956. (Colecção Saber, 31).



(v) Leituras: A Inquisição Portuguesa, um cavalo espantado, alguns policiais

A Inquisição Portuguesa de António José Saraiva, é um livro de divulgação que me impressionou profundamente. É o relato rigoroso de uma das instituições mais funestas da nossa história. A pretexto dos cristãos-novos continuarem a praticar secretamente a sua antiga religião, instalou-se no século XVI o Tribunal do Santo Ofício. Os judeus foram fundamentais no Portugal que se lançou na epopeia marítima, foram tesoureiros-mores, técnicos, médicos, astrónomos, peças singulares na formação de uma nova burguesia que vai abalar o senhorialismo do tipo feudal.
Cedemos aos Reis Católicos e sacrificámos o país, diminuindo-o na cultura, nos negócios, no desenvolvimento. Vai começar um período de perseguições, de esbulhos e confiscos, de intolerância e denúncias que destruíram famílias, fizeram perder obras literárias e científicas monumentais, tudo à base do terror inquisitorial e dos autos-de-fé. Saraiva produziu uma pesada reflexão que se insinua até à actualidade, ao abordar a censura inquisitorial, a limpeza de sangue, que no nosso tempo se traduz na desconfiança por todos aqueles que estão ligados por laços de sangue aos perseguidos e inquiridos da polícia política.

O Cavalo Espantado, de Alves Redol [Lisboa: Portugália, 1960; Col. Contemporânea, 17; 324 pp], é uma outra leitura surpreendente. Um casal de judeus austríacos ruma a Lisboa, à beira da Segunda Guerra Mundial. Um funcionário consular garante um visto, um compasso de espera até os refugiados atravessarem o oceano. O que há de comovente é o encadeado de monólogos que destapam os estados de espírito daquele casal em naufrágio e em ruptura em que Pedro, o funcionário consular terá um papel primordial. O Redol neo-realista dos Gaibéus ou Avieiros dá aqui lugar a pungente relato dramático da Lisboa pobre e acolhedora, trampolim para o sonho americano. É um Redol que eu desconhecia, a fugir ao épico das fainas populares e das sagas da gente trabalhadora, que escreve assim:
Foi esta manhã, que quando caminhava por um pequeno bosque, quando o sol arrefece e as esperança desespera, onde a angústia se esquece e se agarra aos ramos mortos para ainda viver, que tive a sensação de me mover no fundo do mar como um velho tubarão solitário em busca de um refúgio para descansar e morrer... Talvez por causa desta luz de Outono, luz doente e branda, e também doce envolvido por folhas caídas pelas árvores sacudidas pelo vento, como tu e como eu....

Acabei Ladrões de Raparigas, por Mickey Spillane [Lisboa: Livros do Brasil, s/d. Col. Vamprtio, 190. Capa de Limna de Freitas]. O cavaleiro andante Mike Hammer, o mais truculento anticomunista de que há memória, depois de ter caído na degradação alcoólica, regressa para procurar Velda, essa eterna heroína que aguarda ser pedida em casamento por Mike, o seu patrão. Velda, veio do bloco oriental e anda à procura do chefe da espionagem comunista que procura por os EUA de rastos. Confirmo esta poderosa capacidade literária que tornou Spillane um dos autores incontestados do policial negro:
Encontraram-na na sarjeta. A noite fora a única coisa que eu deixara e mesmo assim já pouco dela restava. Ouvira o carro parar, o ruído das portas abrindo-se e fechando-se e de duas vozes. Dois braços levantaram-no e mantiveram-no de pé.
Há intriga e mistério, tiroteio e mortes, a surpresa de quem é o criminoso hediondo fica para o grande final, Mike Hammer dobra mais uma página do justiceiro da América pelas suas próprias mãos.

O Crime do Escaravelho, por S.S. Van Dine [Lisboa: Livros do Brasil, s/d. Col. Vampiro, 91. Capa de Cândido Costa Pinto], traz o fleumático e superintelectual Philo Vance no apogeu das suas faculdades dedutivas. Desta vez, o assassínio aparece ligado à egiptologia. Um mecenas aparece morto em casa de um arqueólogo de renome e todos os indícios apontam contra ele. Virá a saber-se que um criminoso diabólico urdiu um esquema de provas que iriam levar à cadeira eléctrica um rival amoroso. Como é muito peculiar em S.S. Van Dine, acabará por se fazer justiça do algoz que morrerá na teia que ele próprio criou.

Tem piada, tenho aqui para ler O Caso Benson, de SS. Van Dine [Lisboa: Livros do Brasil, s/d. Col. Vampiro, 11. Capa de Cândido Costa Pinto], o primeiro livro que fala de Philo Vance. Espero lê-lo mal chegue a Bambadinca.

É Ussumane Baldé, o meu guarda costas interino, quem me ajuda a arrumar os livros espalhados e a limpar o pó aos discos. Estou cercado das minhas economias, a partir de Abril. O que as cinzas levaram a vontade indómita acaba por refazer. É bem verdade que tudo se remedeia, bens de valor só os nossos valores, a nossa cultura e o amor de Deus passado aos homens. Dentro de dias, estes meus bens partirão comigo, quando eu me despedir do Cuor.

______________

Nota de L.G.:

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2348: Convite (1): sessão de lançamento em DVD do filme As Duas Faces da Guerra, 4ª F, 19 Dez 07, na A25A (Diana Andringa)

Convite que nos chega por via da Diana Andringa, co-realizadora de As Duas Faces da Guerra, e membro da nossa Tabanca Grande, e também através da Marta Lisboa, da Midas Filmes (1):











Midas Filmes, LX Filmes e Filmes do Tejo têm o prazer de o (a) convidar para a sessão de lançamento em DVD dos filmes:

- AS DUAS FACES DA GUERRA, de Diana Andringa e Flora Gomes

- NATAL 71, de Margarida Cardoso (1)

4ª feira, 19 Dezembro, 18h30, Associação 25 de Abril (Rua da Misericórdia, 95, Lisboa)

Apresentação: COR CARLOS MATOS GOMES

2. Comentário de L.G.:

Quem quiser e puder aparecer - e esperemos que sejam muitos dos nossos amigos e camaradas - deve mandar um mail para marta.lisboa@midas-filmes.pt. Vou fazer um esforço por lá aparecer... LG

___________

Notas de L.G.:

(1) Contactos:

Marta Lisboa
Midas Filmes
Pç São Paulo, 19-2º Esq.
1200-425 Lisboa
PORTUGAL
tel+fax: +351 21 347 90 88

e-mail: marta.lisboa@midas-filmes.pt
webpage: http://www.midas-filmes.pt/

(2) “Natal 71” de Margarida Cardoso, Documentário, Portugal, 52’

"Natal 71” é o nome de um disco oferecido aos militares do Ultramar Português nesse mesmo ano. CANCIONEIRO DO NIASSA é o nome que foi dado a uma cassete audio, gravada clandestinamente por militares ao longo dos anos de guerra, em Moçambique. São memórias de um país fechado do resto do mundo, pobre e ignorante, adormecido por uma propaganda melosa e primária que nos tentava esconder todos os conflitos, e que nos impedia de pensar e de reconhecer a natureza repressiva do regime em que vivíamos. Produção: Filmes do Tejo [1999].

Fonte: Excerto de Videoteca Municipal de Lisboa
__________

À venda na FNAC e no Corte Inglês. Ou pedindo directamente à MIDAS, www.midas-filmes.pt , telefone/fax 213479088, Praça de S.Paulo, 19 - 2º Esq. 1200-425 Lisboa.

Guiné 63/74 - P2347: Blufo, orgão dos pioneiros do PAIGC, fundado por Luís Cabral (Francisco Palma/FMS)

Por iniciativa do Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares, em 23 de Outubro de 2003, foi lançado um CD ROM sobre o Blufo, orgão dos pioneiros do PAIGC, fundado por Luís Cabral.


Local:
Apoios: POSI - Programa Operacional Sociedade da Informação
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Apresentação

A Escola-Piloto, localizada em Conakry, foi criada na sequência do I Congresso do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), realizado no interior da Guiné-Bissau, em Cassacá, de 13 a 17 de Fevereiro de 1964.

Os seus primeiros alunos foram, precisamente, muitas das crianças que aí tinham acorrido, acompanhando os dirigentes das diferentes regiões e que, de acordo com as orientações de Amílcar Cabral, foram levadas para Conakry, a fim de aí poderem receber instrução.

A partir deste momento, começou a funcionar a Escola-Piloto, cujo ensino veio a estender-se até ao 6.º ano, quase sempre ministrado em português, por professores guineenses, cabo-verdeanos e, pelo menos, também um português.

Em 1966, foi também editado pelo PAIGC O Nosso Primeiro Livro de Leitura (1).

Luís Cabral foi o principal impulsionador da criação do Blufo, orgão dos pioneiros do PAIGC – o que lhe advinha das suas responsabilidades no Secretariado Permanente do Conselho Executivo da Luta em matéria de informação e propaganda.

O CD-ROM que o Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares agora publica permite o acesso à série completa do Jornal Blufo, disponibilizada por Luís Cabral, e ainda a alguns sons e imagens.

O Blufo

A saída mesmo irregular e em pequenas tiragens do Blufo – que se publicou ao longo de cinco anos (Janeiro de 1966 a Dezembro de 1970) – constituíu, sem dúvida, um marco assinalável na vida da Escola-Piloto, ao mesmo tempo que a sua influência se fazia sentir em muitas regiões do interior da Guiné onde chegava.

A própria designação do pequeno jornal decorreu de uma escolha criteriosa: Blufo significa o jovem balanta ainda não circunsisado, a quem, no fundo, tudo é permitido e de quem se espera rebeldia e coragem.

Um outro traço marcante do Blufo é a presença nas suas páginas de fotografias de jovens guineenses, como sinal de esperança no futuro, quando o país vivia uma guerra difícil e mortífera. Ora, muitos desses jovens são hoje médicos, engenheiros, advogados, políticos – o que contrasta severamente com a herança colonial em matéria de educação.

Texto e imagem, retirados da Página da Fundação Mário Soares, com a devida vénia

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Nota de CV:

(1) - Vd. Post de 29 de Junho de 2007> Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação

Guiné 63/74 - P2345: Tabanca Grande (45): António José Pereira da Costa, hoje Coronel, antigo capitão da CART 3494 (Sousa de Castro)

Vila Nova de Gaia > Quartel do ex-RAP2 > Convívio da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74)> O ex-Cap Art Pereira da Costa (hoje, Coronel), ladeado à sua direita pelo ex-sold Costa, de Vila do Conde, e à sua esquerda pelo ex-Alferes Gomes, a residir na zona de Lisboa.



Vila Nova de Gaia > Quartel do ex-RAP2 > Convívio da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) > O antigo comandante Pereira da Costa a cortar o bolo.


Fotos: © Sousa de Castro (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso amigo e camarada Sousa de Castro, membro nº 2 (em termos de antiguidade...) da nossa tertúlia:


É com enorme satisfação que vejo entrar na Tabanca Grande (e que aproveito desde já para o cumprimentar) um dos três Comandantes da CART 3494 (Xime e Mansambo, Jan 72/ Abr 74). O Cap Pereira da Costa foi o segundo. Rendeu o já falecido Cap Art Victor Manuel da Ponte da Silva Marques, em Agosto de 1972, tendo sido substituído em Novembro de 1972, por razões que desconheço, pelo Cap Art Luciano Carvalho da Costa, a residir em Setúbal.

Envio duas fotos tiradas em Vila Nova de Gaia, no quartel do ex-RAP2, aquando da realização do XXI convívio da CART 3494, em 10 de Junho de 2006.

Cumprimentos para todos os tertulianos. Um feliz Natal.

Sousa de Castro,

ex-1º cabo radiotelegrafista

CART 3494 (1972/74)

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Nota de L.G.:

(1) vd. post de 11 de Dezembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2341: Siga a Marinha que o Exército já lá está (Coronel Pereira da Costa)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2344: Bibliografia de uma guerra (26): Fala-me de África, novo livro do Cor Matos Gomes (Virgínio Briote)

Luís Graça, o Coronel Matos Gomes e o José Martins, na Culturgest, na apresentação do filme-documentário "As duas faces da Guerra" de Diana Andringa e Flora Gomes (1). Foto de Luís Graça.

Capa do livro Fala-me de África, o novo romance de Carlos Vaz Ferraz, pseudónimo literário do nosso Camarada Coronel Matos Gomes. A obra é apresentada amanhã, 5ª feira, às 18h30, na FNAC do Colombo, em Lisboa..
A história dos afectos e rivalidades de uma família com uma causa comum: o amor a África! Um romance perturbante sobre os que lutaram por uma nova África.

Em 1968 Armando Rodrigues foi a Angola chamado pela tia Helena. O que lhe aconteceu nos meses em que permaneceu na Fazenda Sizalinda, perto de Benguela, enquanto os jovens da sua geração combatiam nas florestas dos Dembos e nas planícies do Leste, durante a guerra colonial, é um segredo que o atormentou durante toda a vida.

Passados quarenta anos decidiu acertar contas com o passado e revelar à sua família essa viagem a África. As respostas que Armando Rodrigues e Leonor Brandão, filha de Helena, procuravam sobre o passado, conduziram-nos num mundo de ressentimentos dos que saíram de África, deixando para trás os bens e, principalmente, os sonhos. Daqueles a quem chamaram retornados, embora nunca tenham vivido na terra aonde a guerra os fez retornar. Mas descobrem um outro mundo muito mais perturbante: o dos que lutaram por uma nova África e sentem a tristeza da realidade. Dos que foram inimigos por uma causa comum: o amor a África!

Carlos Vale Ferraz, pseudónimo literário de Carlos Matos Gomes, nasceu a 24 de Julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha. Fez os estudos secundários no Colégio Nun’Alvares Pereira, em Tomar. Foi oficial do Exército, cumpriu comissões durante a guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné nas tropas especiais Comandos.

Publicou os romances Nó Cego, ASP, de Passo Trocado, Os Lobos Não Usam Coleira, O Livro das Maravilhas, Flamingos Dourados e a novela Soldadó.

O romance Os Lobos Não Usam Coleira foi adaptado ao cinema por António-Pedro de Vasconcelos com o título Os Imortais. É autor do argumento do filme Portugal SA, de Ruy Guerra.

Colaborou com Maria de Medeiros no argumento do filme Capitães de Abril. É autor do guião da série de televisão Regresso a Sizalinda, com base no romance Fala-me de África.
Texto de Vasco Horta
Comunicação e Imagem
Oficina do Livro
Casa das Letras
Sebenta
Rua Bento de Jesus Caraça, 17
1495-686 Cruz Quebrada
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Nota de vb:

Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)




Guiné > PAIGC > Manual escolar, O Nosso Livro - 2ª Classe, editado em 1970 (Upsala, Suécia). Exemplar cedido pelo Paulo Santiago, Águeda (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72). Lição nº 23: Um grande patriota...

Destaque: "Ele gostava muito dos seus soldados e não gostava de maltratar os prisioneiros".

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Continuação da série PAIGC - Quem foi quem (1)



Guiné > Bissau > 1959 > Os 1ºs Cabos Milicianos Mário Dias (português, nascido na Metrópole, o primeiro, de pé, do lado direito, assinalado com um círculo a verde) e Domingos Ramos (natural da Guiné, o primeiro da frente, do lado esquerdo, assinalado a vermelho).

Foto: © Mário Dias (2006). Direitos reservados.

Domingos Ramos é um dos nomes míticos da fase inicial da guerrilha do PAIGC. Infelizmente, poucos jovens guineenses deverão saber, hoje em dia, quem ele foi... Domingos Ramos era filho de um quadro local da administração colonial portuguesa, com o estatuto de assimilado, expressão cínica usada na época pelas autoridades portuguesas, para distinguir os guineenses civilizados e não-civilizados.

O Domingos e o Mário (que foi para a Guiné no início dos anos 50, tendo assistido à modernização e crescimento de Bissau, capital da Província desde 1943) fizeram juntos a recruta e depois o 1º Curso de Sargentos Milicianos (CMS) que se realizou em Bissau, em 1959, e no qual participaram os os primeiros filhos da Guiné. Este curso foi um alfobre de quadros...para o PAIGC (2).

1959

8 de Maio > Início da recruta de Domingos Ramos e Mário Dias, no quartel da Bateria de Artilharia de Campanha em Bissau, Santa Luzia, defronte ao que viria a ser mais tarde o Quartel General.

Neste quartel funcionou pela primeira vez uma escola de recrutas seguida de um Curso de Sargentos Milicianos (CSM) para europeus e guineenses considerados civilizados ou assimilados, já com formação escolar de, pelo menos, o 2º ano do liceu, na época chamado 1º ciclo liceal.

A unídade designava-se por Centro de Instrução de Civilizados (CIC) por se destinar a africanos considerados civilizados. O comandante era o capitão Teixeira, pai do conhecido historiador Severiano Teixeira. Nos anos seguintes, passou a chamar-se Centro de Instrução Militar (CIM) e foi transferido para Bolama.

Segundo o depoimento de Mário Dias, "o Domingos Ramos era um indivíduo bem constituído fisicamente e, sobretudo, moralmente. Aquilo que se pode chamar, um bondoso gigante. Desde o início da nossa vivência comum que por ele tive uma especial estima. Tornámo-nos bons amigos em todas as situações e na caserna, nas horas de descanso, trocávamos opiniões sobre os mais variados assuntos, com especial interesse da minha parte por tudo relacionado com os usos e costumes dos guineenses. Muito aprendi com ele. Recordo ainda com saudade e emoção as paródias, próprias da irreverência da nossa juventude. E da célebre água pú que ele me ensinou e a que aderi com entusiasmo" (...) (2)

10 de Agosto > Juramento de bandeira, uma semana depois dos célebres acontecimentos do Pijiguiti (Local do porto de Bissau onde, a 3 de Agosto de 1959, foi duramente reprimida uma greve dos marinheiros, estivadores e outros trabalhadores portuários, reivindicando aumentos salariais e melhores condições de trabalho. Esta data (histórica) passou a ser considerada pelo PAIGC como o início (oficial ou oficioso) da luta de libertação da Guiné.

14 de Agosto > Início do 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM) que houve na Guiné. Este curso foi uma alfobre de quadros para o PAIGC. De entre os camaradas do Mário Dias, destacam-se, além do Domingos Ramos, o Constantino Teixeira, mais conhecido por Chucho ou Axon, que foi igualmente figura importante do PAIGC ("Chegou a ser ministro da segurança interna, salvo erro, no tempo imediatamente a seguir à independência.Apareceu, algum tempo depois, morto dentro do carro numa rua de Bissau"...).





Guiné > Bissau > 1959 > 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM)> O Domingos Ramos na Semana de Campo...

Comentário do M.D.: "Aqui, como se pode ver pelos apetrechos que levam nas mãos (cantil e marmita) iam a caminho do carro que nos trazia o almoço durante a semana de campo. O Domingos Ramos é o segundo da direita"

Foto: © Mário Dias(2006). Direitos reservados.


Guiné > Bissau > 1959 > 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM)> O Domingos Ramos montando a tendaAqui está o Domingos Ramos nos exercícios finais do CSM (semana de campo), atarefado na montagem da barraca que era feita com 3 panos de tenda ligados entre si por botões metálicos. Certamente que alguns tertulianos se recordam deste primitivo sistema. A fotografia não tem grande qualidade mas não deixo de mostrá-la, por se tratar de uma pessoa que muito estimei.

Foto: © Mário Dias(2006). Direitos reservados.


Guiné > Bissau > 1959 > 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM) > Em baixo, a partir da esquerda: O Mário Dias e a seguir o Domingos Ramos apontando a velha Mauser (assinalado por um círculo a amarelo).

Foto: © Mário Dias(2006). Direitos reservados

28 de Novembro > Terminou o 1º CSM


29 de Novembro > Domingos Ramos e Mário Dias são promovidos a 1ºs cabos milicianos ("Fazíamos sargentos de dia, frequentávamos a messe e tínhamos as responsabilidades inerentes mas… ganhavamos como cabos"). A seguir, o Domingos Ramos é colocado em Bolama, a fim de ir ministrar uma recruta. O Mário Dias fica em Bissau. Presume-se que tenha sido em Bolama que o Domingos Ramos tomou a decisão de aderir ao PAIGC (2).

Comentário de M.D.:

"Na verdade, enquanto com ele convivi em Bissau, nem o mais leve indício de descontentamento, nem o mais pequeno sinal de revolta ou discordância com o status quo existente demonstrou. Se algo havia na sua mente, disfarçava muito bem, o que não creio, dada a sua rectidão de carácter.

"O mesmo já não se passava com outros como, por exemplo, o Rui Demba Jassi, que tinha atitudes incorrectas para com os europeus sem que houvesse razões para tal e não conseguia disfarçar animosidade contra nós".

Foto: © rio Dias (20006).Direitos reservados

1960

Ao que sugere o Mário, o Domingos ter-se-á alistado nas fileiras do PAIGC, em Novembro de 1960, depois de ter sido vítima de uma grave injustiça enquanto 1º cabo miliciano, por parte de um oficial português (2).

Juntamente com o Rui Jassi, Constantino Teixeira (que também era do 1º CSM, de 1959) e outros, Domingos Rampos partiu para Pequim, Praga, Moscovo e demais escolas de guerrilha tornando-se um dos primeiros e mais importantes dirigentes político-militares do PAIGC.

Guiné-Bissau > A efígie de Domingos Ramos numa nota de 100 pesos. Emissão de 1975.

Fonte: © Kristian CHIDUCH > Billetes del moundo / Wordbanknotes > Guinea-Bissau (2003) (com a devida vénia...)


1964

Cria, na Zona Leste, a primeira base da guerrilha.


1965

O Domingos haveria de encontrar-se com o seu amigo e ex-camarada de armas Mário Dias, pela última vez, em 1965... Em circunstâncias insólitas... É uma das estórias mais fantásticas que já li sobre a guerra e a grandeza humana que pode haver mesmo numa situação de guerra....

Foi na região do Xitole, na zona entre Amedalai e os rápidos de Cussilinta, perto da estrada Xitole-Aldeia Formosa-Mampatá... Vale a pena reler o segredo que o Mário guardou estes todos e revelou, em primeira mão, aos seus amigos e camaradas de tertúlia (4). Foi um dos momentos altos do nosso blogue (5).


1966

Morreu prematuramente em combate, em 10 de Novembro de 1966, em Madina do Boé, tendo-se tornado num dos heróis da luta de libertação nacional. Está sepultado no Boé.

2006

O Mário Dias tem palavras de grande apreço e admiração pelo Domingos Ramos, reveladoras da sua grandeza como homem e como português e que a mim muito me orgulham, na minha qualidade de fundador e editor deste blogue (Estou certo que os demais amigos e camaradas da Guiné me acompanham neste sentimento). Diz ele:

"Se um dia tiver a oportunidade de regressar à Guiné, é meu firme propósito ir visitar a sua campa e prestar-lhe merecida homenagem. Não é pelo facto de termos combatido em campos opostos que deixei de ser seu amigo e de o admirar"(sic).

São palavras sinceras., de grande humanidade e grandeza, que nos tocam a todos, e reforçam a ideia de que esta tertúlia é muito mais do que um simples rede virtual de veteranos de guerra, de ex-combatentes, de velhos saudosistas...

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postas anteriores:

30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)


30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)

18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC - Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)


(2) Vd. posts de:

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando