1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Junho de 2010, com mais uma das suas recensões:
Um pouco da história do Leste da Guiné, 1965 - 1967
por Beja Santos
Quando peguei no livro “Uma Campanha na Guiné, 1965/67, história de uma guerra, relatos e memórias dos intervenientes”, por Manuel Domingues, edição de autor, em 2003, pertença da biblioteca da Associação 25 de Abril, julguei que ia ler mais um relato convencional de uma história de batalhão, feita à medida de relatos lisonjeiros, tão ao agrado de quem quer consultar memórias com o menor índice de perturbação. Equivoquei-me. Manuel Domingues, um dos oficiais do BCaç 1856, redigiu um dos mais conscienciosos documentos que até hoje me foi dado ler, não descura os dados convencionais, não ilude ou procura adoçar considerações do seu próprio punho, desce ao rigor de nos dar diferentes caracterizações tanto da actividade do inimigo, da região do Gabu e do evoluir da guerra com tal impressividade que seguramente os historiadores da guerra colonial encontrarão aqui filão para investigações mais detalhadas. E é igualmente de leitura absorvente o conjunto de memórias de guerra que Manuel Domingues recolheu junto de diferentes protagonistas, e que constituem a segunda parte do volume.
O autor afoitou-se a esta empreitada no intuito de deixar um testemunho às novas gerações sobre o esforço do que foi a intervenção daqueles militares que assistiram à degradação do esforço de guerra, à crescente capacidade ofensiva do PAIGC, designadamente na região do Boé, ressalvando as vivências de quem lá combateu e recordando os 12 camaradas que pagaram com a vida o cumprimento da missão na Guiné.
Formado na Amadora, o BCaç 1856 deslocou-se em Junho de 1965 para a Guarda onde realizou a instrução de aperfeiçoamento operacional. Teve uma formação acidentada esta fase constitutiva, com várias e importantes ausências, a improvisação impôs-se, houve falhas importantes de material e equipamento (penso que é uma história que qualquer um de nós podia contar) e lá embarcaram no final de Julho no Niassa, foram recolher mais elementos ao Funchal e instalaram-se em Brá em 6 de Agosto. Acabaram por render o BCav 490 no Leste, ficaram à ordem do Comando-chefe, as três companhias receberam treino operacional até marcharem para o sector L3, com a sede no Gabu.
Surpreende os cuidados de Manuel Domingues na apresentação de detalhes, a minúcia como caracteriza o contexto guineense e o teatro de operações do Leste. Uma das companhias seguiu para Madina do Boé, com um destacamento em Béli, outra foi para Bajocunda, com destacamento em Copá e a outra para Buruntuma com destacamento em Ponte Caiúm. Manuel Domingues refere o caso de Madina do Boé em que o local escolhido fora o menos indicado para estacionar uma unidade militar: situado a uma distância relativamente longa do Gabu, isolado na época das chuvas, em que só podia ser abastecido por via aérea. Todas as operações de reabastecimento eram um esforço desmedido com elevado desgaste do pessoal e da inutilização de material. E observa: “Merece referência o estrangulamento constituído pela travessia do rio Corubal no Che Che, no itinerário Nova Lamego-Boé, que é assegurada por uma jangada rudimentar, apenas com capacidade para duas viaturas fazendo com que a travessia do rio, numa operação de reabastecimento, possa demorar um dia, denunciando os intentos ao inimigo, que se movimenta facilmente na margem sul”. Medina do Boé e Béli eram o caso mais crítico de abastecimentos, não dispunham de condições locais de armazenamento e conservação. Já nessa altura os guerrilheiros se deslocavam com grande facilidade no Boé, armadilhando e minando os itinerários, não existiam populações fora dos destacamentos militares. O BCaç 1856 respondia por 13 estacionamentos, uns fronteiriços (Bajocunda, Canquelifá, Buruntuma, Cabuca, Madina do Boé e Béli), outros com interesse para a manutenção da segurança dos itinerários (caso de Piche, Ponte Caiúm, Canjadude e Che Che), impulsionava actividade operacional, assistência sanitárias às populações, dando-lhes apoio na defesa e transporte das colheitas, acções de patrulhamento, nomadizações, etc. Segundo Manuel Domingues, neste período o inimigo reforçou a sua presença na região, inclusivamente mudou de tácticas, como escreve: “Ao reforço do apoio aéreo por parte das nossas tropas, respondeu o inimigo com a alteração do horário dos ataques que passou a efectuar fundamentalmente ao fim da tarde ou durante a madrugada, períodos em que a aviação não podia actuar, passando a usar metralhadoras anti-aéreas e, já em 1967, foguetões. Notou-se uma melhoria da eficiência de utilização do morteiro 82, com tiro ajustado sobre os alvos pretendidos, nomeadamente instalações eléctricas, depósitos de combustíveis e viaturas, completando esta acção demolidora com canhões sem recuo. Verificou-se um quase total despovoamento do Boé, cujas populações se refugiaram em Nova Lamego e a restante nos países vizinhos”. O PAIGC pretendia apresentar à comunidade internacional uma “zona libertada”. O BCaç 1856 passou o testemunho em 14 de Abril de 1967.
Manuel Domingues conta as peripécias da sua incorporação, os seus estudos e as duas viagens subsequentes que fez à Guiné, em 1969 e 1981. Nesta última viagem assistimos a uma completa degradação das forças armadas, sobrevivendo graças a expedientes e corrupção. Depois publica um interessante “diário de um combatente”, de autor desconhecido. Começa em 21 de Abril de 1965 e vai até 27 de Janeiro de 1967. Retêm-se aqui algumas transcrições:
14/09/65 – Operação Ligação. Primeiro contacto com o inimigo. Um grupo de cubatas abandonadas recentemente pela aproximação dos soldados foi cuidadosamente inspeccionado. Inesperadamente todos iniciam uma louca correria. É o inimigo? Não, apenas algumas abelhas, os pequenos monstros alados, num zumbido aterrador atacam as vítimas apavoradas. Começa o fogo. Os projécteis ao sair do cano das armas provocam um estremecimento embriagador. O cheiro a pólvora altera os espíritos.
28/09/65 – Os corpos frios e encharcados; os pés martirizados; os olhos cansados... Calor, moscas e mosquitos, procuram penetrar nos olhos, boca e ouvidos. Do solo escaldante elevam-se nuvens de vapor de água. Os pés penetram no fundo fofo e lamacento das bolanhas. As bolhas produzidas pelas botas de borracha, fazem contorcer num rito doloroso o fácies dos eternos caminhantes. Uma grande extensão de terreno cultivado é indício da presença de seres humanos. Monta-se a segurança... duas cubatas ocultas pelo terreno... risos e conversas... os olhos brilhantes... o peito a arfar da excitação; passos felinos; corpos curvados.
(Continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de5 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6537: Notas de leitura (117): Álvaro Cunhal Sete Fôlegos do Combatente, de Carlos Brito e, Ombro Arma!, de José Manuel Mendes (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 6 de junho de 2010
Guiné 63/74 - P6541: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (II Parte)
O Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva é professor do ensino superior universitário, foi docente da Academia Militar, do Instituto Superior de Gestão e da Universidade Autónoma de Lisboa, sendo especialista em Investigação Operacional. Também passou pelo TO da Guiné como oficial do QP.
O Morais da Silva teve a gentileza de nos facultar, em pdf e em word, um exemplar do seu estudo, de 30 pp., sobre a "Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate" (Março de 2010), que circulou internamente, na nossa Tabanca Grande, através da nossa rede de emails. Queremos agora que chegue a um público mais vasto, através do nosso blogue (*).
A existência de um elevado número de gráficos e quadros obrigou-nos a digitalizar todo o relatório que está a ser publicado, no nosso blogue, sob a forma de imagens, em três ou quatro partes. O nosso camarada Jorge Canhão (ex-Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74) encarregou-se dessa diligente tarefa. Não é demais agradecer-lhe o empenho e a competência com que levou a cabo a digitalização do documento.
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(*) Vd. poste anterior da série: 31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6507: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (I Parte)
Guiné 63/74 - P6540: Parabéns a você (118): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM, Guiné, 1972/74 (Editores)
1. Hoje, 6 de Junho de 2010, é um domingo especial para o nosso camarada Belarmino Sardinha. Neste dia de descanso tem mais tempo para comemorar o seu niversário, coincidente com a sua entrada no grupo mais importante da nossa Tabanca, o dos SEXA. Parabéns a duplicar camarigo.
Caro Belarmino, como a tertúlia está de serviço permanente, estamos, no dealbar desta madrugada a desejar-te um feliz dia de aniversário junto de tua esposa e filha, outros familiares e amigos.
Esta data vai ser comemorada ainda por por muitos e bons anos, é a forte convicção dos teus amigos e camaradas desta Tabanca, onde em boa hora entraste.
Faz bem as contas e verás que percorreste pouco mais de metade da vida que te está destinada. Aproveita-a bem, gozando o prazer da família, do amor, da amizade, da boa mesa e de tudo o que te proporcione bem estar.
Por falar em mesa, deixo aqui um postal que já deves ter recebido, de autoria do par mais famoso do mundo (nem era preciso dizer o nome, mas para os mais distraídos aqui fica), Giselda e Miguel, feito especialmente para o teu aniversário.
Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, o Manuel Reis está a ser um verdadeiro amigo do nosso aniversariante, porque se por um lado está a deliciar-se com o bolo do seu aniversário, por outro, ao comer a parte do Belarmino, está contribuir para o não aumento do açucar no sangue, colesterol e outras maleitas próprias dos sexagenários.
2. Belarmino, outro camarada quis fazer-te uma pequena surpresa, dedicando umas palavras, que não se podem classificar como simpáticas ou de ocasião, porque são sentidas, verdadeiras e vêm do Vasco, do nosso Vasco da Gama.
Camarada da Guiné, Companheiro do “Grupo do Cadaval”, Amigo Belarmino
Soube há pouco que ficavas mais velho, hoje dia 6 do mês de S. João e dei conta de uma pequena nota do nosso querido editor Carlos Vinhal a informar os interessados de que poderiam escrever umas linhas aos aniversariantes mais “chegados.”
Eis-me a cumprir tal desígnio, não porque “parabéns com parabéns se pagam”, mas sim porque sinto ser meu dever expressar publicamente o respeito e a amizade que te dedico.
Estivemos, melhor, ter–nos-íamos cruzado em Aldeia Formosa nos finais do já longínquo 1972, era então a minha CCav 8351, um conjunto de periquitos a fazer o treino operacional, aprendendo, ora com a CCaç 18, ora com os velhinhos da "99" do Batalhão a que tu pertencerias na altura.
Depois, o espaço temporal foi preenchido pelo vazio, até que o nosso Blog, a nossa querida Tabanca Grande, nos juntou. Juntou e ainda bem.
Formámos, a partir de uns primeiros encontros incipientes um grupo coeso de amigos que teve como primeira missão “impossível” a publicação da História de Portugal em Sextilhas, do nosso camarada Manuel Maia, tendo-se seguido outras iniciativas que não vêm agora ao caso.
A primeira reunião alargada foi em tua casa…
O tempo passa rápido Belarmino.
Temos muitas outras coisas a realizar e eu conto contigo. Conto com um amigo dedicado, sério, cumpridor e solidário.
Embora militando do outro lado da segunda circular, agradeço-te a tua amizade e desejo-te um dia bem passado com muita saúde junto da tua filha e da tua mulher Antonieta.
Conta sempre comigo, Belarmino, como eu contarei contigo.
Um abraço sincero de amizade ao menino Belarmino
Vasco Augusto Rodrigues da Gama
Grupo do Cadaval, no sentido dos ponteiros do relógio: José Manuel Dinis, Belarmino Sardinha, Vasco da Gama, Jorge Rosales, Hélder Sousa e José Brás.
Nesta foto podemos ver o casal Antonieta e Belarmino aquando da sua presença na Tabanca de Matosinhos, em Dezembro de 2009, no lançamento da História de Portugal em Sextilhas do nosso camarada Manuel Maia.
3. Embora, mesmo no fecho do jornal, o nosso JERO não quis deixar de saudar o nosso camarada Belarmino.
Caros Editores
Em cima da hora e à boa maneira portuguesa aqui estou a enviar a minha mensagem de parabéns para o nosso amigo Belarmino Sardinha, que vai cumprir mais um aniversário daqui a poucas horas.
Conheci o Belarmino em Alcobaça na versão dos “Doces Conventuais” de 2009.
Foi uma visita muito agradável e depois disso várias vezes tive oportunidade de estreitar relações com o homem do Cadaval. Aprecio particularmente no Belarmino o seu bom senso. O Belarmino não fala à toa e tem ideias bem arrumadas na sua cabeça, que demonstra aliás nos seus comentários que, com frequência faz no nosso blog.
Estivemos envolvidos num “simulacro” de organização do V Encontro Nacional da nossa Tabanca e, novamente, encontrei no Belarmino um “sócio” leal, com experiência de vida, carregado de siso e prudência.
Por tudo isto – e o que não digo está nas entrelinhas - o Belarmino Sardinha é um camarada que muito estimo e aprecio e quem desejo as maiores felicidades.
Muitos parabéns e um grande abraço de Alcobaça,
JERO
Em tempo: - Um agradecimento especial por ter tido a paciência de fazer a recensão do meu livro ”Golpes de Mão's” a pedido do nosso Comandante Luís Graça.
__________
(*) Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4467: Parabéns a você (8): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo do STM (Editores)
Vd. poste do marcador Belarmino Sardinha
Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6503: Parabéns a você (117): Mário, para ti, neste dia, aqui vai uma doce lembrança da tua menina, da tua Glorinha (Os Editores)
Caro Belarmino, como a tertúlia está de serviço permanente, estamos, no dealbar desta madrugada a desejar-te um feliz dia de aniversário junto de tua esposa e filha, outros familiares e amigos.
Esta data vai ser comemorada ainda por por muitos e bons anos, é a forte convicção dos teus amigos e camaradas desta Tabanca, onde em boa hora entraste.
Faz bem as contas e verás que percorreste pouco mais de metade da vida que te está destinada. Aproveita-a bem, gozando o prazer da família, do amor, da amizade, da boa mesa e de tudo o que te proporcione bem estar.
Por falar em mesa, deixo aqui um postal que já deves ter recebido, de autoria do par mais famoso do mundo (nem era preciso dizer o nome, mas para os mais distraídos aqui fica), Giselda e Miguel, feito especialmente para o teu aniversário.
Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, o Manuel Reis está a ser um verdadeiro amigo do nosso aniversariante, porque se por um lado está a deliciar-se com o bolo do seu aniversário, por outro, ao comer a parte do Belarmino, está contribuir para o não aumento do açucar no sangue, colesterol e outras maleitas próprias dos sexagenários.
2. Belarmino, outro camarada quis fazer-te uma pequena surpresa, dedicando umas palavras, que não se podem classificar como simpáticas ou de ocasião, porque são sentidas, verdadeiras e vêm do Vasco, do nosso Vasco da Gama.
Camarada da Guiné, Companheiro do “Grupo do Cadaval”, Amigo Belarmino
Soube há pouco que ficavas mais velho, hoje dia 6 do mês de S. João e dei conta de uma pequena nota do nosso querido editor Carlos Vinhal a informar os interessados de que poderiam escrever umas linhas aos aniversariantes mais “chegados.”
Eis-me a cumprir tal desígnio, não porque “parabéns com parabéns se pagam”, mas sim porque sinto ser meu dever expressar publicamente o respeito e a amizade que te dedico.
Estivemos, melhor, ter–nos-íamos cruzado em Aldeia Formosa nos finais do já longínquo 1972, era então a minha CCav 8351, um conjunto de periquitos a fazer o treino operacional, aprendendo, ora com a CCaç 18, ora com os velhinhos da "99" do Batalhão a que tu pertencerias na altura.
Depois, o espaço temporal foi preenchido pelo vazio, até que o nosso Blog, a nossa querida Tabanca Grande, nos juntou. Juntou e ainda bem.
Formámos, a partir de uns primeiros encontros incipientes um grupo coeso de amigos que teve como primeira missão “impossível” a publicação da História de Portugal em Sextilhas, do nosso camarada Manuel Maia, tendo-se seguido outras iniciativas que não vêm agora ao caso.
A primeira reunião alargada foi em tua casa…
O tempo passa rápido Belarmino.
Temos muitas outras coisas a realizar e eu conto contigo. Conto com um amigo dedicado, sério, cumpridor e solidário.
Embora militando do outro lado da segunda circular, agradeço-te a tua amizade e desejo-te um dia bem passado com muita saúde junto da tua filha e da tua mulher Antonieta.
Conta sempre comigo, Belarmino, como eu contarei contigo.
Um abraço sincero de amizade ao menino Belarmino
Vasco Augusto Rodrigues da Gama
Grupo do Cadaval, no sentido dos ponteiros do relógio: José Manuel Dinis, Belarmino Sardinha, Vasco da Gama, Jorge Rosales, Hélder Sousa e José Brás.
Nesta foto podemos ver o casal Antonieta e Belarmino aquando da sua presença na Tabanca de Matosinhos, em Dezembro de 2009, no lançamento da História de Portugal em Sextilhas do nosso camarada Manuel Maia.
3. Embora, mesmo no fecho do jornal, o nosso JERO não quis deixar de saudar o nosso camarada Belarmino.
Caros Editores
Em cima da hora e à boa maneira portuguesa aqui estou a enviar a minha mensagem de parabéns para o nosso amigo Belarmino Sardinha, que vai cumprir mais um aniversário daqui a poucas horas.
Conheci o Belarmino em Alcobaça na versão dos “Doces Conventuais” de 2009.
Foi uma visita muito agradável e depois disso várias vezes tive oportunidade de estreitar relações com o homem do Cadaval. Aprecio particularmente no Belarmino o seu bom senso. O Belarmino não fala à toa e tem ideias bem arrumadas na sua cabeça, que demonstra aliás nos seus comentários que, com frequência faz no nosso blog.
Estivemos envolvidos num “simulacro” de organização do V Encontro Nacional da nossa Tabanca e, novamente, encontrei no Belarmino um “sócio” leal, com experiência de vida, carregado de siso e prudência.
Por tudo isto – e o que não digo está nas entrelinhas - o Belarmino Sardinha é um camarada que muito estimo e aprecio e quem desejo as maiores felicidades.
Muitos parabéns e um grande abraço de Alcobaça,
JERO
Em tempo: - Um agradecimento especial por ter tido a paciência de fazer a recensão do meu livro ”Golpes de Mão's” a pedido do nosso Comandante Luís Graça.
__________
(*) Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4467: Parabéns a você (8): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo do STM (Editores)
Vd. poste do marcador Belarmino Sardinha
Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6503: Parabéns a você (117): Mário, para ti, neste dia, aqui vai uma doce lembrança da tua menina, da tua Glorinha (Os Editores)
sábado, 5 de junho de 2010
Guiné 63/74 - P6539: Convívios (247): Almoço convívio CCaç 2381 e 2382, 1 de Maio de 2010 em Mira Daire (Arménio Estorninho)
1. O nosso Camarada Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos, com data de 3 de Junho de 2010, a seguinte mensagem:
Almoço convívio C.Caç.2381 e 2382 em 01 de Maio de 2010
Camaradas, como sempre cordiais saudações tabanquenhas.
A C.Caç. 2381 “Os Maiorais de Empada,” que desde 1990 (e anualmente) têm vindo a efectuar convívios, por conseguinte no passado dia 01 de Maio, em conjugação com a C.Caç.2382 “Os Picas” e com estes efectuou o seu segundo encontro de confraternização, sendo em almoço no Restaurante Rosa, sito em Grutas de Santo António - Mira Daire. Desta feita, a organização pertenceu aos camaradas da C.Caç.2382.
Recomenda-se a quem por lá passar e/ou para eventos. Pelo que me foi dado a observar trata-se de um Restaurante-Bar, com amplas salas, de modelares instalações e com o apoio de uma graciosa esplanada ajardinada. Quanto aos empregados apresentavam-se com vestuário adequado a cada serviço, eram solícitos de forma simpática e com um bom serviço de mesa.
A C.Caç. 2381 “Os Maiorais de Empada,” que desde 1990 (e anualmente) têm vindo a efectuar convívios, por conseguinte no passado dia 01 de Maio, em conjugação com a C.Caç.2382 “Os Picas” e com estes efectuou o seu segundo encontro de confraternização, sendo em almoço no Restaurante Rosa, sito em Grutas de Santo António - Mira Daire. Desta feita, a organização pertenceu aos camaradas da C.Caç.2382.
Recomenda-se a quem por lá passar e/ou para eventos. Pelo que me foi dado a observar trata-se de um Restaurante-Bar, com amplas salas, de modelares instalações e com o apoio de uma graciosa esplanada ajardinada. Quanto aos empregados apresentavam-se com vestuário adequado a cada serviço, eram solícitos de forma simpática e com um bom serviço de mesa.
Parte 1 - Quando da chegada e recepção no Largo do Terreiro das Grutas de Santo António, dei uma saudação aos da C.Caç 2382 que ali já se encontravam e os abraços com palmadas aos da C.Caç. 2381, dos que me vêm à memória são o Tertuliano ex - Fur. Mil. José Manuel Samouco e o Sold. Nuno Santos “O Peniche” (que apoiava-se em duas canadianas, esperamos as suas melhoras e a recuperação), quase simultaneamente chegou o Sold. Trms. Nelson Tomé e por conseguinte seguiu-se a chegada de outros.
Os mais próximos agrupavam-se e iam confraternizando, falando dos mais diversos assuntos de ocasião e tiravam-se algumas fotos para recordar.
Foto 1> Mira Daire> Terreiro das Grutas de Santo António> 01/Maio/2010 > Grupo da C.Caç.2381, da esq. os ex-Furriéis. Mil. José Manuel Silva, António Lemos e António Esteves, o Sold. António Lagrante, o Tertuliano ex-1º Cabo Enf. Zé Teixeira, o Sold. Atir. do mort. 60mm, João Canadas Ribeiro e o ex-1º Cabo Enf. Jorge Catarino.
Foto 2> Mira Daire> Terreiro das Grutas de Santo António> 01/Maio/2010 > Grupo de Camaradas da C.Caç. 2382 e Familiares, não conseguindo motivá-los para o interesse da fotografia.
Quando eram cerca das 12.15 horas, foram dadas indicações para o pessoal deslocar-se para o Restaurante Rosa, que se localiza em zona contígua e na base comum da encosta.
Ali chegados na esplanada ajardinada, antecedendo ao almoço fomos ofertados com um beberete e em franco convívio dos camaradas, familiares e amigos.
Foto 3> Mira Daire> Grutas de Santo António> Esplanada do Rest. Rosa> 01/Maio/10 > Grupo da C.Caç.2381, da esq. e de frente o Sold. Carvalho de Azevedo “O Condeixa”, a esposa do Sold. José da Silva, um Sold. que não relacione com o nome, o Sold. Arlindo dos Santos, o ex-1º Cabo José Runa, o Sold. Dário da Silva e o Sold. José da Silva.
Segue-se o convidar a entrar para a Sala do Restaurante, para o tão desejado almoço porque as barriguinhas já pediam mais. Na acomodação procuraram-se agrupar os de relacionamento mais próximo, o que dava lugar para mais dois e tudo se resolvera na melhor.
Os principais promotores destes eventos o ex-Fur. Mil. Manuel Traquina e o ex-1ºCabo Enf. Zé Teixeira, fizeram uma pequena resenha respectivamente de cada companhia, de que estivemos juntos em Buba, Nhala, Mampatá, Chamarra e Aldeia Formosa, trilhando comummente as mesmas picadas, bolanhas, na abertura da estrada de Nhala e na protecção a colunas - auto de reabastecimento entre essas localidades. Enfrentamos as mesmas dificuldades e com os perigos inerentes de cada situação. Saudaram os presentes, comentando os ausentes e dos que já nos deixaram em sua memória fora feito um minuto de silêncio.
Os principais promotores destes eventos o ex-Fur. Mil. Manuel Traquina e o ex-1ºCabo Enf. Zé Teixeira, fizeram uma pequena resenha respectivamente de cada companhia, de que estivemos juntos em Buba, Nhala, Mampatá, Chamarra e Aldeia Formosa, trilhando comummente as mesmas picadas, bolanhas, na abertura da estrada de Nhala e na protecção a colunas - auto de reabastecimento entre essas localidades. Enfrentamos as mesmas dificuldades e com os perigos inerentes de cada situação. Saudaram os presentes, comentando os ausentes e dos que já nos deixaram em sua memória fora feito um minuto de silêncio.
Foto 4> Mira Daire> Grutas de Santo António> Restaurante Rosa> 01/Maio/2010 > Em plena cavaqueira, da esq. o ex-1º Cabo José Runa, o Sold. Arlindo dos Santos “O Turra,”seguindo-se o seu cunhado Artur, sortudo que não foi à guerra e por fim sou eu.
Para desanuviar fora visualizado um filme sobre a C.Caç 2381, em que muitos militares apareceram (onde me inclui) e também enviaram mensagens de Natal em 1968, ao tempo estávamos em Aldeia Formosa - Guiné. Tendo em conta o tempo distante deste facto, esta oportunidade deve-se ao trabalho e persistência, do Genro do nosso Camarada e Tertuliano o Sold. Cond. Auto, Raul Brás.
Foto 5> Mira Daire> Grutas de Santo António> Restaurante Rosa> 01/Maio/2010 > Da esq. o Tertuliano Sold. Cond. Auto Raul Brás e o Sold. João Canadas Ribeiro.
Sendo habitual entre nós de trocarmos ofertas, desta vez foram fotografias e laranjas algarvias, tendo recebido lembranças, presunto e enchidos da marca “Eusébio” propriedade do Industrial, camarada e amigo ex-1º Cabo Enf. Jorge Catarino.
Como é da tradição ao aproximar-se o final, foi repartido o bolo comemorativo do evento entre a C.Caç.2381 “Os Maiorais e da C.Caç. 2382 “Os Picas”.
Por parte da C.Caç. 2381, notaram-se várias ausências de Camaradas entre os quais as do Coronel Jacinto Aidos e do ex - Capitão Mil. Grd. Eduardo Moutinho, que foram respectivamente Comandantes da Companhia.
Como é da tradição ao aproximar-se o final, foi repartido o bolo comemorativo do evento entre a C.Caç.2381 “Os Maiorais e da C.Caç. 2382 “Os Picas”.
Por parte da C.Caç. 2381, notaram-se várias ausências de Camaradas entre os quais as do Coronel Jacinto Aidos e do ex - Capitão Mil. Grd. Eduardo Moutinho, que foram respectivamente Comandantes da Companhia.
Quanto aos presentes pela primeira vez presenciei, o ex - Furriel Hernâni Ferreira, o ex – Furriel António Esteves e o Soldado do Depósito de Géneros, João Pinheiro.
Terminado o repasto e “muitos estavam alegrotes porque não conduziam,” procederam-se às tradicionais despedidas e com um até pró ano.
Parte 2 - Conquanto após ponderar, decidi narrar a minha “estória sobre a odisseia” para chegar a um almoço no Restaurante Rosa, em Grutas de Santo António, bem como o que deixara transparecer por vários camaradas da insuficiência de detalhes e de incorrecções, sobre o itinerário e sua localização. Também ajuntando-se a uma deficiente sinalização pública de placas para o caso e que os organizadores poderiam melhorar
O Mário Mata executara uma canção, em que na letra exprime a sua “estória” aquando fora de férias para o meu Algarve. Tirando as relativas ilações da mesma e irei narrar a minha “estória.” Assim, carreguei o carro, com malas cheias de roupas, algo também para uma primeira emergência pessoal e da viatura, sacos com comidas e bebidas, dois garrafões de água para o que for necessário e como é habitual também dez sacos com laranjas algarvias para ofertar. E, a pensar no cão e no gato. “É dé, queres lá ver, atã esta gente tá toda doida e nã dá prápanhar cangreijos na praia mã...!” Pondo-me à estrada conduzindo na defensiva, ponderando alguns percalços e tudo seguirá nos conformes.
Tentando identificar o local via internet (O Planeta visto por Satélite e Google Maps) pouco se me oferecera. Assim, nas indicadas saídas da Auto-estrada A1, provavelmente com GPS poderia orientar-me mas, e, ainda não possui tal instrumento de navegação.
Pretendendo efectuar uma primeira sondagem ao local em referência, decidi pela saída de Torres Novas, mas onde está a facilidade de ver a placa com a indicação de Mira Daire e/ou Grutas de Santo António. Depois de obter algumas indicações para prosseguir no itinerário, mas havendo um pressentimento das dificuldades e por isso efectuara uma inversão de marcha reentrando na A1. Prosseguindo voltei a sair da A1 agora pelo desvio para Fátima, sendo eu um razoável conhecedor desta localidade e não encontrando em qualquer das rotundas ali existentes pelo menos uma placa indicando Mira Daire.
Contudo ainda estávamos no dia 30 de Abril/10, ficando hospedado em Fátima fui providente em obter as necessárias informações e não se viam quaisquer autoridades policiais “fardadas” (devido à proximidade da visita do Papal). Por isso dirigiu-me ao Quartel dos Bombeiros, aí fui informado que na rotunda Sul existem várias placas e que deveria prosseguir na direcção de Minde.
Na manhã seguinte fiz-me à estrada de Minde, quando ali chegara numa das saídas desta localidade deparei com uma placa indicando Mira Daire e para onde me dirigira. Sendo acometido de outro pesadelo, dado que ia observando placas e que somente indicavam Grutas. Pelo percurso na dúvida por duas vezes solicitei orientações do pretendido, indo encontrar a certa distância desta localidade uma placa com a indicação e agora sim Grutas de Santo António. Logo a seguir num pequeno jardim, estava colocada uma minúscula placa “Grutas.” Seguindo sempre na incerteza até chegar ao local de referência e no meio de uma Serra, eram cerca das 10.30 horas, com tantas dificuldades havidas e não será minha intenção repetir outra proeza, ufa..!
Pois claro que será fácil o itinerário para quem organizou o evento e para os camaradas ali vizinhos. Precavendo-me fui com tempo para atenuar possíveis inconvenientes, conseguindo chegar a horas e “cadê”os outros que não foram ousados para lá chegar.
Na informação recebida não constava um croqui e indicava que o almoço era em Grutas de Santo António – Fátima, “ora esta é no Concelho de Ourém” e afinal as Grutas distam a mais de 25 quilómetros, na Freguesia de Mira Daire “Concelho de Porto de Mós.” Sendo de igual distância entre a Cidade de Lagoa e a Vila de Monchique, no Algarve, esta localidade situada na serra que lhe dá o nome.
Pois é camaradas, eu agora já lá chegava com menor dificuldade, mas ponham-se no meu lugar fazendo 450 km, deparar com contrariedades do desenrasca-te e digam como o fizeram.
Tudo isto não será mais que um alerta para que de futuro, no que for possível se preparar a forma que sirva a todos e não só a alguns. Dá muito trabalho, mas outros já o fizeram, quando se corre por prazer não cansa, não pedindo muito aos camaradas das localidades onde se realizam os eventos de terem a sensibilidade e a arte organizativa para facilitar como tem sido apanágio.
Grato pela atenção dispensada, porque quem diz o que sente é filho de boa gente e com um abraço a todos os tertulianos.
Arménio Estorninho
1º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
1 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6508: Convívios (161): Convívio Anual do Batalhão de Cavalaria 490, realizado em 29 de Maio de 2010, Coimbra (Valentim Oliveira)
Terminado o repasto e “muitos estavam alegrotes porque não conduziam,” procederam-se às tradicionais despedidas e com um até pró ano.
Parte 2 - Conquanto após ponderar, decidi narrar a minha “estória sobre a odisseia” para chegar a um almoço no Restaurante Rosa, em Grutas de Santo António, bem como o que deixara transparecer por vários camaradas da insuficiência de detalhes e de incorrecções, sobre o itinerário e sua localização. Também ajuntando-se a uma deficiente sinalização pública de placas para o caso e que os organizadores poderiam melhorar
O Mário Mata executara uma canção, em que na letra exprime a sua “estória” aquando fora de férias para o meu Algarve. Tirando as relativas ilações da mesma e irei narrar a minha “estória.” Assim, carreguei o carro, com malas cheias de roupas, algo também para uma primeira emergência pessoal e da viatura, sacos com comidas e bebidas, dois garrafões de água para o que for necessário e como é habitual também dez sacos com laranjas algarvias para ofertar. E, a pensar no cão e no gato. “É dé, queres lá ver, atã esta gente tá toda doida e nã dá prápanhar cangreijos na praia mã...!” Pondo-me à estrada conduzindo na defensiva, ponderando alguns percalços e tudo seguirá nos conformes.
Tentando identificar o local via internet (O Planeta visto por Satélite e Google Maps) pouco se me oferecera. Assim, nas indicadas saídas da Auto-estrada A1, provavelmente com GPS poderia orientar-me mas, e, ainda não possui tal instrumento de navegação.
Pretendendo efectuar uma primeira sondagem ao local em referência, decidi pela saída de Torres Novas, mas onde está a facilidade de ver a placa com a indicação de Mira Daire e/ou Grutas de Santo António. Depois de obter algumas indicações para prosseguir no itinerário, mas havendo um pressentimento das dificuldades e por isso efectuara uma inversão de marcha reentrando na A1. Prosseguindo voltei a sair da A1 agora pelo desvio para Fátima, sendo eu um razoável conhecedor desta localidade e não encontrando em qualquer das rotundas ali existentes pelo menos uma placa indicando Mira Daire.
Contudo ainda estávamos no dia 30 de Abril/10, ficando hospedado em Fátima fui providente em obter as necessárias informações e não se viam quaisquer autoridades policiais “fardadas” (devido à proximidade da visita do Papal). Por isso dirigiu-me ao Quartel dos Bombeiros, aí fui informado que na rotunda Sul existem várias placas e que deveria prosseguir na direcção de Minde.
Na manhã seguinte fiz-me à estrada de Minde, quando ali chegara numa das saídas desta localidade deparei com uma placa indicando Mira Daire e para onde me dirigira. Sendo acometido de outro pesadelo, dado que ia observando placas e que somente indicavam Grutas. Pelo percurso na dúvida por duas vezes solicitei orientações do pretendido, indo encontrar a certa distância desta localidade uma placa com a indicação e agora sim Grutas de Santo António. Logo a seguir num pequeno jardim, estava colocada uma minúscula placa “Grutas.” Seguindo sempre na incerteza até chegar ao local de referência e no meio de uma Serra, eram cerca das 10.30 horas, com tantas dificuldades havidas e não será minha intenção repetir outra proeza, ufa..!
Pois claro que será fácil o itinerário para quem organizou o evento e para os camaradas ali vizinhos. Precavendo-me fui com tempo para atenuar possíveis inconvenientes, conseguindo chegar a horas e “cadê”os outros que não foram ousados para lá chegar.
Na informação recebida não constava um croqui e indicava que o almoço era em Grutas de Santo António – Fátima, “ora esta é no Concelho de Ourém” e afinal as Grutas distam a mais de 25 quilómetros, na Freguesia de Mira Daire “Concelho de Porto de Mós.” Sendo de igual distância entre a Cidade de Lagoa e a Vila de Monchique, no Algarve, esta localidade situada na serra que lhe dá o nome.
Pois é camaradas, eu agora já lá chegava com menor dificuldade, mas ponham-se no meu lugar fazendo 450 km, deparar com contrariedades do desenrasca-te e digam como o fizeram.
Tudo isto não será mais que um alerta para que de futuro, no que for possível se preparar a forma que sirva a todos e não só a alguns. Dá muito trabalho, mas outros já o fizeram, quando se corre por prazer não cansa, não pedindo muito aos camaradas das localidades onde se realizam os eventos de terem a sensibilidade e a arte organizativa para facilitar como tem sido apanágio.
Grato pela atenção dispensada, porque quem diz o que sente é filho de boa gente e com um abraço a todos os tertulianos.
Arménio Estorninho
1º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
1 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6508: Convívios (161): Convívio Anual do Batalhão de Cavalaria 490, realizado em 29 de Maio de 2010, Coimbra (Valentim Oliveira)
Guiné 63/74 - P6538: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (13): Três acontecimentos com impacto na Guiné - Março/Abril de 1970
1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 3 de Junho de 2010:
São passados quarenta anos sobre três acontecimentos de grande significado para as chefias militares e para a sociedade civil da Guiné, os quais se deram nos meses de Março e Abril de 1970.
Presenciei parte e também tive conhecimento de algo à surdina.
Assim rebuscando na memória, irei narrar os meus comentários, apresentando extractos de uma ímpar reportagem fotográfica, puxando ao pormenor a ordem cronológica das situações.
Concluiu-se o que eram preparativos para a paz na Guiné.
Arménio Estorninho
Três acontecimentos com impacto na Guiné - Março/Abril de 1970
Parte 1
Cidade de Bissau, a 16 de Março, de 1970
Tendo eu conhecimento de que um Homem Grande de Lisboa e Ministro do Ultramar, Dr. Silva Cunha, estava prestes a chegar a fim de efectuar uma visita Ministerial à Guiné, para “in loco” contactar o Povo Guinéu e inteirar-se da situação politica e militar, preparei o meu equipamento fotográfico, para ir presenciar e captar imagens de um grande ronco.
Havia vasta informação para a população estar presente e manifestar-se ao longo do percurso desde o Aeroporto de Bissalanca, Estrada de Brá, Sacor e Praça do Império.
Haveria concentração a partir da rotunda da Sacor / Mãe d’Àgua (foto 1), Av. Teixeira Pinto e em frente ao Palácio do Governador. Dentro da cidade o percurso estava engalanado e embandeirado, a população indígena estava disposta ao longo, trajando as suas vestes domingueiras e festivas, dançando e cantando ao som de batucadas.
Duvidando da forte presença humana, dando o meu palpite se devido a ofertas de sacos de bianda” e/ou por indicação dos Chefes Tradicionais (foto 2 a 6). Não sei de onde me vem esta ideia, será por detrás de cada memória há sempre um sopro de curiosidade.
Foto 1 – Guiné> Bissau> Rotunda da Mãe d,Água/Sacor> Março de 1970. Zona para início da concentração e recepção do Homem Grande de Lisboa. No centro dois polícias sinaleiros e no perímetro a presença de vários outros polícias.
Encontrei uma certa alegria dos indígenas embora estivessem em situação de guerra, sendo eu um dos poucos brancos que circulavam por entre a multidão, conforme se comprova pelas fotos, a fazer a reportagem que considerei interessante.
Foto 2 –Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)>Março de 1970. Artéria engalanada a propósito, com muito povo a aguardar a passagem do ministro do Ultramar. Fiquei surpreso em ver um indivíduo indígena (que segue pela direita), arrastando um tronco de árvore, amedrontando e marcando posicionamento.
Foto 3-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Batucada, com dança nativa, foi uma boa forma de divertimento, preenchendo o tempo de espera. O africano que se apresenta em primeiro plano, pareceu-me que seria um dos filhos do Chefe Religioso Cherno Rachid, de Aldeia Formosa, e simular não perdendo por isso a oportunidade de tirar a foto.
Foto 4-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Enquanto aguardam, há batucada e dança nativa para alegrar o povo.
Foto 5- Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Batucada e dança nativa. Pormenor, a diversidade da cor das vestes das bajudas.
Foto 6-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Em fundo o Parque Teixeira Pinto (Praça dos Combatentes) e o povo colocado ordeiramente.
Quando da passagem dos Homens Grandes de Lisboa e de Bissau, deu-se um alarido e em forma de algaraviada. Nunca tinha presenciado uma manifestação com tanta expressão popular.
Depois, ficando na embrulhada, no meio do povo, aproximei-me da Polícia Metropolitana (foto 7), não fosse o diabo tecê-las, cometendo alguma imprudência naquele mar de gente.
Foto 7 – Guiné> Bissau> Em fundo o Parque Teixeira Pinto> Março de 1970. O povo aguardando a iminente passagem dos Homens Grandes, os civis brancos aparentemente seriam Polícias/Seguranças e o militar, Operador de Fotocine.
Chegados à Praça do Império, estava toda engalanada, já com imenso Povo a aguardar, enchendo-se literalmente com os que vinham no cortejo, sempre com os manifestantes a cantar e a dançar ao som dos batuques (foto 8 a 11). Nas zonas frontais ao Palácio viam-se dísticos de ocasião e faziam-se alegorias com aclamações.
Foto 8 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. “Mindjeres garandis, firma junti di Palácio,” cantando e batendo as tabuínhas. Esta foto foi tirada com consentimento, “nha mim mist leva metrópole,” veja-se a pose.
Cada etnia agrupava-se e dando um certo colorido e forma carnavalesca, que só as gentes africanas é que têm a arte e o saber do que lhes traz na alma.
Tudo se conjugava para uma grande concentração e manifestação, via-se no Pátio de entrada do Palácio muitos Homens Grandes, demonstrando apoio e confiança.
Foto 9 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. Chegada do séquito que se aglomerou defronte do Palácio do Governador.
Foto 10 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. Concentração do Povo defronte do Palácio do Governador. Recordo-me muito bem do africano que me olha defronte, desconfiado. Fiz de conta que não me apercebi simulando tirar outras fotos.
Foto 11 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Vista obtida do lado da Associação Industrial e Comercial. À varanda, a elite de Bissau aguardando a vinda das Entidades Oficiais “Homens Grandes Tugas.”
“O Homem Grande”, General António de Spínola, com a voz bem arrastada como era seu timbre, ainda me ficou na memória excertos do seu discurso, agradecendo a presença do Ministro do Ultramar e focando como era seu apanágio que queria para o Povo da Guiné melhores condições de vida, de bem estar (APSICO) e a paz.
Que o chão da Guiné era dos Guinéus e eram eles que tinham que o defender (auto defesa), os militares só ali estavam para os apoiar enquanto fizessem a comissão e depois iam-se embora para suas terras (foto 12). Foram palavras bem aceites pelo Ministro Silva Cunha e esfuziantes para o povo que se manifestava.
Por sua vez o Ministro do Ultramar Dr. Silva Cunha, fez a explanação dos motivos da sua vinda à Guiné. Vinha trazer mais apoio do Governo de Lisboa ao Governador General António de Spínola, para uma Guiné Melhor e dar mais condições (foto 13).
Em cada discurso, os manifestantes a mostravam exuberantemente o seu apoio, enquanto da varanda do Palácio retribuíam com agradecimentos através da aparelhagem sonora e com acenos.
Seguindo-se o descer ao Pátio de entrada do Palácio, para os cumprimentos aos Homens Grandes dominantes da Sociedade Tradicional, “Religiões e Chefes de Tabancas” (foto 14 e 15).
Foto 12 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março 1970. Na varanda, momento de discurso perante a expectativa dos manifestantes.
Foto 13 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Na varanda, momento de discurso. O militar Fotocine não dava descanso à máquina (está posicionado entre a primeira e a segunda porta).
Foto 14 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Na varanda, fim do discurso, que agrada ao Povo que se manifesta. O Ministro Dr. Silva Cunha correspondeu elevando o chapéu.
Foto 15 – Guiné> Bissau> Átrio da entrada do Palácio do Governador> Março de 1970. As altas individualidades desceram ao Pátio a fim de cumprimentarem os Homens Grandes dominantes da Sociedade Tradicional; “há mesmo manga di ronco.”
Terminada a manifestação, “outro péssoal bai nha gosse gosse,” para a baixa da cidade velha, palco de “Manga di ronco,” pensando eu o que iria nas cabeças daquele povo indígena, sendo sabido que estávamos em guerra com a outra parte oculta.
Parte 2
Irei comentar resumidamente do que tive conhecimento em Bissau (entre Março e Abril de 1970) e outros dados que ao tempo foram decorrendo e contados em primeira mão. Entre os militares havia a suspeição de que algo estava para acontecer, interrogavam-se sobre determinados rumores e só havia palpites.
Era sabido que o General António de Spínola, já tinha convocado vários Comandantes das Unidades do CTIG para uma reunião em Bissau. O boato correra célere, pairava uma ansiedade para se saber da verdade, mas nada transparecia.
Assim, em dia e hora aprazada, deu-se a reunião com os Comandantes de todas as Unidades Militares do CTIG. Em surdina foram passando comentários de boca em boca, a pedir segredo, mas isso existe quando somente uma pessoa sabe de algo.
O COMCHEF General António de Spínola agradeceu a presença de todos e depois de uma breve dissertação de que já havia contactos entre Oficiais Portugueses e de grupos rebeldes, em que estes pretendiam entregar-se desde que não tivessem problemas e fossem integrados na sociedade guineense.
Mais comunicou que a guerra poderia estar prestes a acabar, mandando parar de imediato todas as acções ofensivas, operando-se somente situações meramente de caris defensivos, isto é, nunca disparavam primeiro e só o faziam se fossem atacados.
Foram dadas instruções a todas as Unidades Militares para se prever a possibilidade de grupos da guerrilha se poderem entregar.
No campo operacional estas instruções deram suspeição, perante os Alferes e os Furriéis, em que os seus comandantes, por força das circunstâncias, tiveram que se abrir e dar conta da situação deparada.
No entanto a 20 de Abril de 1970, gorou-se toda a tentativa de paz como consta devido ao assassinato dos três Majores: Pereira da Silva, Passos Ramos e Magalhães Osório, assim como do Alferes Mosca e outros acompanhantes, o trágico acontecimento em Jolmete, junto ao Rio Cacheu na Região de Teixeira Pinto (Canchungo)
Já li em qualquer lado e presenciei em imagens audiovisuais, dito pelos da facção dos intelectuais do lado do In, contrários ao acordo, “talvez por cobiça do poder”, pois tiveram o desplante de armarem uma cilada e matarem barbaramente militares desarmados em funções de paz. Ainda se deram ao descaramento de pavoneio em comentar a façanha, como heróis, da atitude e do propósito tomado. Provavelmente depois aperceberam-se do erro que cometeram e do bem que se perdeu, porque alguns quando em situações de aperto vieram acomodar-se na sombra de Portugal e em termos algarvios digo “pó diebo máquegêtos mã, tágafes, natescondas que játevite”
- E o Ministro Silva Cunha, como se veio a saber, apoiara esta tentativa de paz e até se dispôs a uma oferta monetária para eventuais despesas, mas depois de chegado a Lisboa roera a corda.
Enfim, quando houve uma boa oportunidade para uma Guiné melhor, logo o baralho se desmoronou e todos sofreram mais quatro anos. Provavelmente seria uma Guiné para melhor e sendo necessária a mudança “mas aquela exemplar descolonização.”
No acordo de Argel, pela situação politica/militar após o 25 de Abril, não foi tomado em conta aqueles que combateram a nosso lado e contudo Portugal prometeu apoiar a reintegração na vida civil desses militares.
Por parte do PAIGC, foi dito que como se acabou a guerra, para aqueles que estiveram ao lado do exército português não haviam vinganças. Pouco foi cumprido, porque depois da independência ocorreram por toda a Guiné situações inaceitáveis de julgamentos sumários, de prisões e de condenações à morte (foto 16), não se sabendo quantas mortes aconteceram e consta que provavelmente foram milhares.
Quem esteve na guerra, sabe que por vezes existem excessos e actos condenáveis por verem os seus morrerem, e de ambos os lados, mas em tempo de paz deverá haver tolerância.
Foto 16 – Guiné> Região de Quinara> Empada> 1969. Eu, com Homens Grandes das Tabancas e Milícias, estando à minha esquerda o Chefe da Milícia de Empada, Bakar Cassamá. Depois da Independência alguns foram assassinados de forma violenta e em grupo. Quanto a Bakar consta que foi desumanamente lançado ainda vivo para uma vala comum.
E assim, foram citados alguns acontecimentos do conhecimento geral e desta feita agora ilustrados com a achega de um lote de fotografias.
Com cordiais cumprimentos deste camarada e amigo.
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto
CCaç 2381 ”Os Maiorais"
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6441: (Ex)citações (59): Comentários e respostas (Arménio Estorninho)
Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6373: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (12): Algumas aventuras em Bissau
São passados quarenta anos sobre três acontecimentos de grande significado para as chefias militares e para a sociedade civil da Guiné, os quais se deram nos meses de Março e Abril de 1970.
Presenciei parte e também tive conhecimento de algo à surdina.
Assim rebuscando na memória, irei narrar os meus comentários, apresentando extractos de uma ímpar reportagem fotográfica, puxando ao pormenor a ordem cronológica das situações.
Concluiu-se o que eram preparativos para a paz na Guiné.
Arménio Estorninho
Três acontecimentos com impacto na Guiné - Março/Abril de 1970
Parte 1
Cidade de Bissau, a 16 de Março, de 1970
Tendo eu conhecimento de que um Homem Grande de Lisboa e Ministro do Ultramar, Dr. Silva Cunha, estava prestes a chegar a fim de efectuar uma visita Ministerial à Guiné, para “in loco” contactar o Povo Guinéu e inteirar-se da situação politica e militar, preparei o meu equipamento fotográfico, para ir presenciar e captar imagens de um grande ronco.
Havia vasta informação para a população estar presente e manifestar-se ao longo do percurso desde o Aeroporto de Bissalanca, Estrada de Brá, Sacor e Praça do Império.
Haveria concentração a partir da rotunda da Sacor / Mãe d’Àgua (foto 1), Av. Teixeira Pinto e em frente ao Palácio do Governador. Dentro da cidade o percurso estava engalanado e embandeirado, a população indígena estava disposta ao longo, trajando as suas vestes domingueiras e festivas, dançando e cantando ao som de batucadas.
Duvidando da forte presença humana, dando o meu palpite se devido a ofertas de sacos de bianda” e/ou por indicação dos Chefes Tradicionais (foto 2 a 6). Não sei de onde me vem esta ideia, será por detrás de cada memória há sempre um sopro de curiosidade.
Foto 1 – Guiné> Bissau> Rotunda da Mãe d,Água/Sacor> Março de 1970. Zona para início da concentração e recepção do Homem Grande de Lisboa. No centro dois polícias sinaleiros e no perímetro a presença de vários outros polícias.
Encontrei uma certa alegria dos indígenas embora estivessem em situação de guerra, sendo eu um dos poucos brancos que circulavam por entre a multidão, conforme se comprova pelas fotos, a fazer a reportagem que considerei interessante.
Foto 2 –Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)>Março de 1970. Artéria engalanada a propósito, com muito povo a aguardar a passagem do ministro do Ultramar. Fiquei surpreso em ver um indivíduo indígena (que segue pela direita), arrastando um tronco de árvore, amedrontando e marcando posicionamento.
Foto 3-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Batucada, com dança nativa, foi uma boa forma de divertimento, preenchendo o tempo de espera. O africano que se apresenta em primeiro plano, pareceu-me que seria um dos filhos do Chefe Religioso Cherno Rachid, de Aldeia Formosa, e simular não perdendo por isso a oportunidade de tirar a foto.
Foto 4-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Enquanto aguardam, há batucada e dança nativa para alegrar o povo.
Foto 5- Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Batucada e dança nativa. Pormenor, a diversidade da cor das vestes das bajudas.
Foto 6-Guiné> Bissau> Av. Teixeira Pinto (Av. Francisco J. Mendes)> Março de 1970. Em fundo o Parque Teixeira Pinto (Praça dos Combatentes) e o povo colocado ordeiramente.
Quando da passagem dos Homens Grandes de Lisboa e de Bissau, deu-se um alarido e em forma de algaraviada. Nunca tinha presenciado uma manifestação com tanta expressão popular.
Depois, ficando na embrulhada, no meio do povo, aproximei-me da Polícia Metropolitana (foto 7), não fosse o diabo tecê-las, cometendo alguma imprudência naquele mar de gente.
Foto 7 – Guiné> Bissau> Em fundo o Parque Teixeira Pinto> Março de 1970. O povo aguardando a iminente passagem dos Homens Grandes, os civis brancos aparentemente seriam Polícias/Seguranças e o militar, Operador de Fotocine.
Chegados à Praça do Império, estava toda engalanada, já com imenso Povo a aguardar, enchendo-se literalmente com os que vinham no cortejo, sempre com os manifestantes a cantar e a dançar ao som dos batuques (foto 8 a 11). Nas zonas frontais ao Palácio viam-se dísticos de ocasião e faziam-se alegorias com aclamações.
Foto 8 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. “Mindjeres garandis, firma junti di Palácio,” cantando e batendo as tabuínhas. Esta foto foi tirada com consentimento, “nha mim mist leva metrópole,” veja-se a pose.
Cada etnia agrupava-se e dando um certo colorido e forma carnavalesca, que só as gentes africanas é que têm a arte e o saber do que lhes traz na alma.
Tudo se conjugava para uma grande concentração e manifestação, via-se no Pátio de entrada do Palácio muitos Homens Grandes, demonstrando apoio e confiança.
Foto 9 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. Chegada do séquito que se aglomerou defronte do Palácio do Governador.
Foto 10 – Guiné> Bissau> Praça do Império (Praça Heróis Nacionais)> Março de 1970. Concentração do Povo defronte do Palácio do Governador. Recordo-me muito bem do africano que me olha defronte, desconfiado. Fiz de conta que não me apercebi simulando tirar outras fotos.
Foto 11 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Vista obtida do lado da Associação Industrial e Comercial. À varanda, a elite de Bissau aguardando a vinda das Entidades Oficiais “Homens Grandes Tugas.”
“O Homem Grande”, General António de Spínola, com a voz bem arrastada como era seu timbre, ainda me ficou na memória excertos do seu discurso, agradecendo a presença do Ministro do Ultramar e focando como era seu apanágio que queria para o Povo da Guiné melhores condições de vida, de bem estar (APSICO) e a paz.
Que o chão da Guiné era dos Guinéus e eram eles que tinham que o defender (auto defesa), os militares só ali estavam para os apoiar enquanto fizessem a comissão e depois iam-se embora para suas terras (foto 12). Foram palavras bem aceites pelo Ministro Silva Cunha e esfuziantes para o povo que se manifestava.
Por sua vez o Ministro do Ultramar Dr. Silva Cunha, fez a explanação dos motivos da sua vinda à Guiné. Vinha trazer mais apoio do Governo de Lisboa ao Governador General António de Spínola, para uma Guiné Melhor e dar mais condições (foto 13).
Em cada discurso, os manifestantes a mostravam exuberantemente o seu apoio, enquanto da varanda do Palácio retribuíam com agradecimentos através da aparelhagem sonora e com acenos.
Seguindo-se o descer ao Pátio de entrada do Palácio, para os cumprimentos aos Homens Grandes dominantes da Sociedade Tradicional, “Religiões e Chefes de Tabancas” (foto 14 e 15).
Foto 12 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março 1970. Na varanda, momento de discurso perante a expectativa dos manifestantes.
Foto 13 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Na varanda, momento de discurso. O militar Fotocine não dava descanso à máquina (está posicionado entre a primeira e a segunda porta).
Foto 14 – Guiné> Bissau> Palácio do Governador> Março de 1970. Na varanda, fim do discurso, que agrada ao Povo que se manifesta. O Ministro Dr. Silva Cunha correspondeu elevando o chapéu.
Foto 15 – Guiné> Bissau> Átrio da entrada do Palácio do Governador> Março de 1970. As altas individualidades desceram ao Pátio a fim de cumprimentarem os Homens Grandes dominantes da Sociedade Tradicional; “há mesmo manga di ronco.”
Terminada a manifestação, “outro péssoal bai nha gosse gosse,” para a baixa da cidade velha, palco de “Manga di ronco,” pensando eu o que iria nas cabeças daquele povo indígena, sendo sabido que estávamos em guerra com a outra parte oculta.
Parte 2
Irei comentar resumidamente do que tive conhecimento em Bissau (entre Março e Abril de 1970) e outros dados que ao tempo foram decorrendo e contados em primeira mão. Entre os militares havia a suspeição de que algo estava para acontecer, interrogavam-se sobre determinados rumores e só havia palpites.
Era sabido que o General António de Spínola, já tinha convocado vários Comandantes das Unidades do CTIG para uma reunião em Bissau. O boato correra célere, pairava uma ansiedade para se saber da verdade, mas nada transparecia.
Assim, em dia e hora aprazada, deu-se a reunião com os Comandantes de todas as Unidades Militares do CTIG. Em surdina foram passando comentários de boca em boca, a pedir segredo, mas isso existe quando somente uma pessoa sabe de algo.
O COMCHEF General António de Spínola agradeceu a presença de todos e depois de uma breve dissertação de que já havia contactos entre Oficiais Portugueses e de grupos rebeldes, em que estes pretendiam entregar-se desde que não tivessem problemas e fossem integrados na sociedade guineense.
Mais comunicou que a guerra poderia estar prestes a acabar, mandando parar de imediato todas as acções ofensivas, operando-se somente situações meramente de caris defensivos, isto é, nunca disparavam primeiro e só o faziam se fossem atacados.
Foram dadas instruções a todas as Unidades Militares para se prever a possibilidade de grupos da guerrilha se poderem entregar.
No campo operacional estas instruções deram suspeição, perante os Alferes e os Furriéis, em que os seus comandantes, por força das circunstâncias, tiveram que se abrir e dar conta da situação deparada.
No entanto a 20 de Abril de 1970, gorou-se toda a tentativa de paz como consta devido ao assassinato dos três Majores: Pereira da Silva, Passos Ramos e Magalhães Osório, assim como do Alferes Mosca e outros acompanhantes, o trágico acontecimento em Jolmete, junto ao Rio Cacheu na Região de Teixeira Pinto (Canchungo)
Já li em qualquer lado e presenciei em imagens audiovisuais, dito pelos da facção dos intelectuais do lado do In, contrários ao acordo, “talvez por cobiça do poder”, pois tiveram o desplante de armarem uma cilada e matarem barbaramente militares desarmados em funções de paz. Ainda se deram ao descaramento de pavoneio em comentar a façanha, como heróis, da atitude e do propósito tomado. Provavelmente depois aperceberam-se do erro que cometeram e do bem que se perdeu, porque alguns quando em situações de aperto vieram acomodar-se na sombra de Portugal e em termos algarvios digo “pó diebo máquegêtos mã, tágafes, natescondas que játevite”
- E o Ministro Silva Cunha, como se veio a saber, apoiara esta tentativa de paz e até se dispôs a uma oferta monetária para eventuais despesas, mas depois de chegado a Lisboa roera a corda.
Enfim, quando houve uma boa oportunidade para uma Guiné melhor, logo o baralho se desmoronou e todos sofreram mais quatro anos. Provavelmente seria uma Guiné para melhor e sendo necessária a mudança “mas aquela exemplar descolonização.”
No acordo de Argel, pela situação politica/militar após o 25 de Abril, não foi tomado em conta aqueles que combateram a nosso lado e contudo Portugal prometeu apoiar a reintegração na vida civil desses militares.
Por parte do PAIGC, foi dito que como se acabou a guerra, para aqueles que estiveram ao lado do exército português não haviam vinganças. Pouco foi cumprido, porque depois da independência ocorreram por toda a Guiné situações inaceitáveis de julgamentos sumários, de prisões e de condenações à morte (foto 16), não se sabendo quantas mortes aconteceram e consta que provavelmente foram milhares.
Quem esteve na guerra, sabe que por vezes existem excessos e actos condenáveis por verem os seus morrerem, e de ambos os lados, mas em tempo de paz deverá haver tolerância.
Foto 16 – Guiné> Região de Quinara> Empada> 1969. Eu, com Homens Grandes das Tabancas e Milícias, estando à minha esquerda o Chefe da Milícia de Empada, Bakar Cassamá. Depois da Independência alguns foram assassinados de forma violenta e em grupo. Quanto a Bakar consta que foi desumanamente lançado ainda vivo para uma vala comum.
E assim, foram citados alguns acontecimentos do conhecimento geral e desta feita agora ilustrados com a achega de um lote de fotografias.
Com cordiais cumprimentos deste camarada e amigo.
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto
CCaç 2381 ”Os Maiorais"
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6441: (Ex)citações (59): Comentários e respostas (Arménio Estorninho)
Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6373: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (12): Algumas aventuras em Bissau
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Guiné 63/74 - P6537: Notas de leitura (117): Álvaro Cunhal Sete Fôlegos do Combatente, de Carlos Brito e, Ombro Arma!, de José Manuel Mendes (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Maio de 2010:
Luís e Carlos,
Fiquei aparvalhado quando fui ao blogue.
Enviara a minha lembrança, o arranque do livro que tenho entre mãos, não me passava pela cabeça encontrar a mensagem da Glória, ela estava mesmo esplendorosa naquela fotografia.
Muito obrigado aos dois e a todos aqueles que, de modo tão tocante, me saudaram, dando-me ânimo para prosseguir nesta nossa sala de conversa. Como é meu hábito pedinchar, recordo, sem malícia, que a melhor prenda que me podem dar passa pelas informações de livros de inventário obrigatório.
O blogue presta inúmeros serviços, já se sabe.
Um deles, toleima minha, será o de facilitar aos historiadores a bibliografia constante da nossa guerra. É essa a ajuda que peço a todos.
Vamos continuar.
Um abraço do
Mário
A posição dos comunistas sobre a guerra colonial:
Uma obra paradigmática de José Manuel Mendes
por Beja Santos
Num livro recente de memórias sobre Álvaro Cunhal, o antigo dirigente do PCP Carlos Brito explica claramente qual o comportamento dos comunistas face à guerra colonial, as deserções e a subversão nos quartéis (Álvaro Cunhal, sete fôlegos do combatente, por Carlos Brito, Edições Nelson de Matos, 2010, a partir da página 32). Brito, como é do conhecimento de todos, foi resistente, conheceu a clandestinidade e as prisões e no dia 25 de Abril de 1974 era responsável pela organização do PCP em Lisboa; em 1975, foi eleito deputado e esteve em S. Bento até 1991, tendo desempenhado durante 15 anos as funções de presidente do grupo parlamentar do PCP. Viria, no dobrar do século, a entrar em dissidência com os órgãos de cúpula do PCP, que neste livro designa por conservadores.
Referindo-se concretamente à reunião do Comité Central de Julho de 1967, fala de importantes resoluções que tinham a ver com a filiação do PCP de portugueses residentes no estrangeiro, a obrigação de todo o militante não tomar a decisão de emigrar sem antes consultar o partido, e a intensificação do trabalho revolucionário nas Forças Armadas não havendo lugar a deserções por parte dos comunistas.
Assim, nessa reunião clandestina, definia-se como orientação geral: “Os militares comunistas devem trabalhar para estimularem e organizarem as deserções. Mas eles próprios não devem desertar senão quando tenham de acompanhar uma deserção colectiva ou corram iminente risco de serem presos em resultado da sua acção revolucionária”. E mais adiante: “Os militares comunistas devem continuar corajosamente o seu trabalho revolucionário das Forças Armadas, tanto em Portugal como nas colónias, esclarecendo os seus companheiros, organizando os militares mais decididos e combativos, estimulando e organizando deserções e outras formas de acção e protesto contra a guerra colonial, desde resistência passiva à sabotagem”.
Segundo Brito, a aprovação desta resolução foi tudo menos pacífica, havia o entendimento que a deserção era o melhor caminho para se mostrar o ideal comunista. Observa Brito que “Após o 25 de Abril esta resolução foi reconhecida como um importante contributo para a formação de uma consciência revolucionária dentro das forças armadas portuguesas. A partir dela, especialmente, e graças ao trabalho desenvolvido pelas organizações partidárias, um grande número de oficiais milicianos revolucionários (comunistas e outros) permaneceram nas fileiras e desenvolveram um intenso trabalho de esclarecimento junto dos oficiais do quadro permanente, orientando num sentido anti-fascista os sentimentos de revolta provocados por uma guerra injusta e sem saída”.
“Ombro, Arma!”, de José Manuel Mendes (Bertrand, 1978) fala da instrução em Mafra e da luta dos comunistas, já muito perto do 25 de Abril. Mendes passou alguns meses em Mafra até ser dado como inapto para todo o serviço. É um conhecido crítico literário e poeta, as narrativas de “Ombro, Arma!” tiveram o seu eco à data da publicação. Percebe-se porquê: um bom controlo da escrita, um uso bem doseado do jargão da caserna, uma atitude panfletária sacudida da luta dos comunistas na principal escola para a formação de oficiais milicianos. Vejamos: “Mandando nova bruta palada”, “ – Companhia! Firme! Sé... up!”. “Que o Viegas aceitasse o jugo (que não é jugo para ele) compreendia-se. Fascista convicto, fura-greves, delator, a tropa era a sua vaza, a possibilidade única, a curto prazo, de realizar os seus sonhos prepotentes. Comandar homens, sem a menor concessão, compensava-o da mediocridade de estudante”, são expressões que enfatizam o ambiente, que referenciam, em água-forte, o colaborador do regime, neste caso o Viegas.
Depois, temos o desenho seguro do local e dos requisitos da instrução. Como se pode ler: “Manhã gelada, de vento golpeando os poros. A malta faz movimentos com o corpo para aquecer. Esfregar as mãos é produzir um pequeno sol pessoal. Vem o aspirante, manda formar. É o terceiro dia de instrução. Mafra, o abjecto exílio. O cabo Jerónimo ajuda a perfilar pela direita. Estende o braço, alonga a mirada. Rogério, na ponte da segunda fila, lado esquerdo, forma, inconvicto, desatento. Ainda não conseguiu farda que lhe assentasse. Nem botas que não lhe ferissem os pés. Camisa clara, gravata vermelha, fato preto, é uma presença insólita naquela floresta de verde desmaiado.
– Descan-‘ar.”
Rogério anda ali como carta fora do baralho. Depois passou a ser mais um feijão verde. Aqui o instruendo escreve uma tirada panfletária: “Vestir a farda era, naquele momento, entrar no sujo mundo da guerra. Que éramos nós? A carne com que o colonialismo jogava os seus milhões de dólares. Era preciso resistir”. Rogério é asmático. Aparece como maltratado pelos médicos na tropa. Depois vai à consulta externa. Nos primeiros dias de Mafra não sente sintomas. E vai aderindo, contrafeito, à instrução: “Amanhã, a instrução nocturna. De acordo com o cabo Jerónimo, bem dura por sinal. Quilómetros a pé, sobre taludes e ravinas, pequenos caminhos, córregos barrentos, sem outra luz que é duma pilha, a bússola norteando os andarilhos. Os tipos criam, nestas alturas, uns prémios para as primeiras equipas a concluir o percurso, correctamente, com todos os controlos assinalados pelo gatafunho de um furriel. É o espírito de rivalidade que, não bastando para dividir, já tem provocado tensões”. Naquele Janeiro a parada de Mafra apareceu cheia de papéis com palavras clandestinas e, claro está “O Viegas, lívido de indignação, palestrava com dois comparsas. Ascoroso como um rato ao sair de um fosso”. As tiradas panfletárias sobem de tom, os discursos do oficialato são apresentados como histriónicos, a resistência dos instruendos torna-se mais densa. Rogério faz exames no hospital, encontra-se com outros camaradas, a resistência anda no ar. Por vezes, percebe-se que o panfleto é excessivo, rebuscado, que o autor se sobrepõe a todas as medidas do plausível para pôr a denúncia em movimento, como se houvesse uma monstruosidade generalizada, na instrução, na definição de inimigo, nas marchas finais. A cerimónia do juramento de bandeira aparece transformada como o grande momento da resistência. E depois Mafra chegou ao fim. O próprio edifício se transforma no grande teatro do sofrimento e da ignomínia da guerra colonial: “Mafra chegou ao fim, o escuro exílio. Mafra e o frio de Janeiro tiritando no corpo, a humidade viscosa nas paredes, os corredores soturnos onde moram presságios e maldições. Tudo ali é fugaz, mas a pedra secular, a alta abóbada dos tectos, o negrume dos claustros repassam os dias dum torpor longevo”. Acabara-se o pesadelo de Rogério que vai lutar noutros terrenos, ao lado de outros progressistas.
A narrativa de José Manuel Mendes, escusado é sublinhar, aparece hoje datada, um panfleto óbvio, um grito fora do tempo, uma catarse com pouco sentido, seja para quem combateu, seja para as novas gerações. Mas foi assim que os comunistas quiseram fazer passar a sua mensagem, a sua subversão.
Para que conste.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6526: Notas de leitura (116): Guiné-Bissau Três Vezes Vinte Cinco, de TCor Luís Ataíde Banazol (Mário Beja Santos)
Luís e Carlos,
Fiquei aparvalhado quando fui ao blogue.
Enviara a minha lembrança, o arranque do livro que tenho entre mãos, não me passava pela cabeça encontrar a mensagem da Glória, ela estava mesmo esplendorosa naquela fotografia.
Muito obrigado aos dois e a todos aqueles que, de modo tão tocante, me saudaram, dando-me ânimo para prosseguir nesta nossa sala de conversa. Como é meu hábito pedinchar, recordo, sem malícia, que a melhor prenda que me podem dar passa pelas informações de livros de inventário obrigatório.
O blogue presta inúmeros serviços, já se sabe.
Um deles, toleima minha, será o de facilitar aos historiadores a bibliografia constante da nossa guerra. É essa a ajuda que peço a todos.
Vamos continuar.
Um abraço do
Mário
A posição dos comunistas sobre a guerra colonial:
Uma obra paradigmática de José Manuel Mendes
por Beja Santos
Num livro recente de memórias sobre Álvaro Cunhal, o antigo dirigente do PCP Carlos Brito explica claramente qual o comportamento dos comunistas face à guerra colonial, as deserções e a subversão nos quartéis (Álvaro Cunhal, sete fôlegos do combatente, por Carlos Brito, Edições Nelson de Matos, 2010, a partir da página 32). Brito, como é do conhecimento de todos, foi resistente, conheceu a clandestinidade e as prisões e no dia 25 de Abril de 1974 era responsável pela organização do PCP em Lisboa; em 1975, foi eleito deputado e esteve em S. Bento até 1991, tendo desempenhado durante 15 anos as funções de presidente do grupo parlamentar do PCP. Viria, no dobrar do século, a entrar em dissidência com os órgãos de cúpula do PCP, que neste livro designa por conservadores.
Referindo-se concretamente à reunião do Comité Central de Julho de 1967, fala de importantes resoluções que tinham a ver com a filiação do PCP de portugueses residentes no estrangeiro, a obrigação de todo o militante não tomar a decisão de emigrar sem antes consultar o partido, e a intensificação do trabalho revolucionário nas Forças Armadas não havendo lugar a deserções por parte dos comunistas.
Assim, nessa reunião clandestina, definia-se como orientação geral: “Os militares comunistas devem trabalhar para estimularem e organizarem as deserções. Mas eles próprios não devem desertar senão quando tenham de acompanhar uma deserção colectiva ou corram iminente risco de serem presos em resultado da sua acção revolucionária”. E mais adiante: “Os militares comunistas devem continuar corajosamente o seu trabalho revolucionário das Forças Armadas, tanto em Portugal como nas colónias, esclarecendo os seus companheiros, organizando os militares mais decididos e combativos, estimulando e organizando deserções e outras formas de acção e protesto contra a guerra colonial, desde resistência passiva à sabotagem”.
Segundo Brito, a aprovação desta resolução foi tudo menos pacífica, havia o entendimento que a deserção era o melhor caminho para se mostrar o ideal comunista. Observa Brito que “Após o 25 de Abril esta resolução foi reconhecida como um importante contributo para a formação de uma consciência revolucionária dentro das forças armadas portuguesas. A partir dela, especialmente, e graças ao trabalho desenvolvido pelas organizações partidárias, um grande número de oficiais milicianos revolucionários (comunistas e outros) permaneceram nas fileiras e desenvolveram um intenso trabalho de esclarecimento junto dos oficiais do quadro permanente, orientando num sentido anti-fascista os sentimentos de revolta provocados por uma guerra injusta e sem saída”.
“Ombro, Arma!”, de José Manuel Mendes (Bertrand, 1978) fala da instrução em Mafra e da luta dos comunistas, já muito perto do 25 de Abril. Mendes passou alguns meses em Mafra até ser dado como inapto para todo o serviço. É um conhecido crítico literário e poeta, as narrativas de “Ombro, Arma!” tiveram o seu eco à data da publicação. Percebe-se porquê: um bom controlo da escrita, um uso bem doseado do jargão da caserna, uma atitude panfletária sacudida da luta dos comunistas na principal escola para a formação de oficiais milicianos. Vejamos: “Mandando nova bruta palada”, “ – Companhia! Firme! Sé... up!”. “Que o Viegas aceitasse o jugo (que não é jugo para ele) compreendia-se. Fascista convicto, fura-greves, delator, a tropa era a sua vaza, a possibilidade única, a curto prazo, de realizar os seus sonhos prepotentes. Comandar homens, sem a menor concessão, compensava-o da mediocridade de estudante”, são expressões que enfatizam o ambiente, que referenciam, em água-forte, o colaborador do regime, neste caso o Viegas.
Depois, temos o desenho seguro do local e dos requisitos da instrução. Como se pode ler: “Manhã gelada, de vento golpeando os poros. A malta faz movimentos com o corpo para aquecer. Esfregar as mãos é produzir um pequeno sol pessoal. Vem o aspirante, manda formar. É o terceiro dia de instrução. Mafra, o abjecto exílio. O cabo Jerónimo ajuda a perfilar pela direita. Estende o braço, alonga a mirada. Rogério, na ponte da segunda fila, lado esquerdo, forma, inconvicto, desatento. Ainda não conseguiu farda que lhe assentasse. Nem botas que não lhe ferissem os pés. Camisa clara, gravata vermelha, fato preto, é uma presença insólita naquela floresta de verde desmaiado.
– Descan-‘ar.”
Rogério anda ali como carta fora do baralho. Depois passou a ser mais um feijão verde. Aqui o instruendo escreve uma tirada panfletária: “Vestir a farda era, naquele momento, entrar no sujo mundo da guerra. Que éramos nós? A carne com que o colonialismo jogava os seus milhões de dólares. Era preciso resistir”. Rogério é asmático. Aparece como maltratado pelos médicos na tropa. Depois vai à consulta externa. Nos primeiros dias de Mafra não sente sintomas. E vai aderindo, contrafeito, à instrução: “Amanhã, a instrução nocturna. De acordo com o cabo Jerónimo, bem dura por sinal. Quilómetros a pé, sobre taludes e ravinas, pequenos caminhos, córregos barrentos, sem outra luz que é duma pilha, a bússola norteando os andarilhos. Os tipos criam, nestas alturas, uns prémios para as primeiras equipas a concluir o percurso, correctamente, com todos os controlos assinalados pelo gatafunho de um furriel. É o espírito de rivalidade que, não bastando para dividir, já tem provocado tensões”. Naquele Janeiro a parada de Mafra apareceu cheia de papéis com palavras clandestinas e, claro está “O Viegas, lívido de indignação, palestrava com dois comparsas. Ascoroso como um rato ao sair de um fosso”. As tiradas panfletárias sobem de tom, os discursos do oficialato são apresentados como histriónicos, a resistência dos instruendos torna-se mais densa. Rogério faz exames no hospital, encontra-se com outros camaradas, a resistência anda no ar. Por vezes, percebe-se que o panfleto é excessivo, rebuscado, que o autor se sobrepõe a todas as medidas do plausível para pôr a denúncia em movimento, como se houvesse uma monstruosidade generalizada, na instrução, na definição de inimigo, nas marchas finais. A cerimónia do juramento de bandeira aparece transformada como o grande momento da resistência. E depois Mafra chegou ao fim. O próprio edifício se transforma no grande teatro do sofrimento e da ignomínia da guerra colonial: “Mafra chegou ao fim, o escuro exílio. Mafra e o frio de Janeiro tiritando no corpo, a humidade viscosa nas paredes, os corredores soturnos onde moram presságios e maldições. Tudo ali é fugaz, mas a pedra secular, a alta abóbada dos tectos, o negrume dos claustros repassam os dias dum torpor longevo”. Acabara-se o pesadelo de Rogério que vai lutar noutros terrenos, ao lado de outros progressistas.
A narrativa de José Manuel Mendes, escusado é sublinhar, aparece hoje datada, um panfleto óbvio, um grito fora do tempo, uma catarse com pouco sentido, seja para quem combateu, seja para as novas gerações. Mas foi assim que os comunistas quiseram fazer passar a sua mensagem, a sua subversão.
Para que conste.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6526: Notas de leitura (116): Guiné-Bissau Três Vezes Vinte Cinco, de TCor Luís Ataíde Banazol (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P6536: Em busca de... (136): O nome desta ave e identificação desta estrada (Armando Pires)
1. Mensagem de Armando Pires, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70, com data de 31 de Maio de 2010:
Camarada Vinhal
Se fosse possível, muito agradecia que colocasses estas duas fotos no circuito na expectativa que alguém me possa dizer o nome da ave e que estrada é aquela asfaltada que parece terminar numa localidade com vários rios à sua volta.
Ambas as fotos são de 1969.
A razão do pedido de ajuda é que estou a organizar o meu arquivo em digital e gostaria que elas lá fizessem sentido.
Um muito obrigado a ti e a todos.
Armando Pires
2. Sobre o BCAÇ 2861 retirei do 7.º Volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, Fichas das Unidades Tomo II - Guiné:
O Batalhão, além da CCS, tinha como unidades operacionais as CCAÇ 2464, 2465 e 2466.
A CCAÇ 2464 esteve em Biambe e Nhala.
A CCAÇ 2465 esteve em Có e Bissum
A CCAÇ 2466 esteve em Bula e Encheia
Seguem-se as fotos para identificação da ave e da estrada.
CV
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)
Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6521: Em busca de... (135): Carlos Miguel (O Fininho), ex-Fur Mil da CCAÇ 5, procura fotos suas do tempo de Guiné (José Corceiro)
Camarada Vinhal
Se fosse possível, muito agradecia que colocasses estas duas fotos no circuito na expectativa que alguém me possa dizer o nome da ave e que estrada é aquela asfaltada que parece terminar numa localidade com vários rios à sua volta.
Ambas as fotos são de 1969.
A razão do pedido de ajuda é que estou a organizar o meu arquivo em digital e gostaria que elas lá fizessem sentido.
Um muito obrigado a ti e a todos.
Armando Pires
2. Sobre o BCAÇ 2861 retirei do 7.º Volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, Fichas das Unidades Tomo II - Guiné:
O Batalhão, além da CCS, tinha como unidades operacionais as CCAÇ 2464, 2465 e 2466.
A CCAÇ 2464 esteve em Biambe e Nhala.
A CCAÇ 2465 esteve em Có e Bissum
A CCAÇ 2466 esteve em Bula e Encheia
Seguem-se as fotos para identificação da ave e da estrada.
CV
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)
Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6521: Em busca de... (135): Carlos Miguel (O Fininho), ex-Fur Mil da CCAÇ 5, procura fotos suas do tempo de Guiné (José Corceiro)
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