1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2011:
Boa tarde
Junto trabalho sobre a região norte de Lisboa (Loures e Odivelas) sugerindo razões para a construção de um Monumento aos Mortos na Guerra do Ultramar (1961/74) do então Concelho de Loures.
Cumprimentos
José Martins
UM NOVO MONUMENTO AOS QUE TOMBARAM PELA PÁTRIA!
Aos que construíram uma terra!
Depois da ocupação de Leiria moura e do seu castelo em 1135, da queda da fortaleza nos anos de 1137 e de novo em 1140, e reconquista definitiva da mesma praça em 1142 e da conquista de Santarém em 15 de Março 1147, Afonso Henriques, primeiro rei dos portugueses, rumou a sul com as suas hostes, sobre o vale do Tejo, a fim de conquistar para a cristandade mais uma zona, ainda na posse dos sarracenos.
Nessa mesma altura, o Papa Eugénio III (168.º Papa e com pontificado de 15/02/1145 a 08/07/1153), havia lançado as Cruzadas para libertação da Terra Santa. O rei português pediu a intervenção dos Cruzados flamengos e ingleses que se dirigiam à Terra Santa, e se encontravam em trânsito no Porto, para o auxiliarem na conquista de Santarém e Lisboa, uma vez que o Santo Padre concedia as mesmas indulgências a quem combatesse pela cristandade no Médio Oriente ou na Península Ibérica. Além das indulgências, o rei português oferecia outras benesses aos Cruzados, como a totalidade do saque da cidade, incluindo os prisioneiros de guerra e seus resgates.
Castelo de S. Jorge
(Autor desconhecido)
Desta forma, as forças portuguesas avançam por terra para o vale do Tejo, enquanto os Cruzados, transportados nos seus navios, navegaram para sul, entrando a barra do Tejo e cercando a cidade pelo rio, evitando não só a fuga mas, também, impossibilitando a chegada de reforços à cidade.
Foi posto cerco à cidade entre 1 de Julho a 25 de Outubro de 1147, tendo tomado parte nesta empresa milhares de homens de um lado e outro, havendo um número indeterminado de baixas - mortos e feridos - terminando com a capitulação da praça, de que se conta o célebre feito de Martim Moniz cuja acção foi decisiva na conquista da cidade.
Em qualquer guerra, em qualquer tempo, há sempre uma “ordem de operações” que, ao ser executada pelas forças destacadas, permite antecipar factos ou acções de forma a alcançar o objectivo - a conquista.
Lisboa, assim como outras praças-fortes, por serem detentoras de castelos devidamente guarnecidos pelas suas tropas, não era só o espaço que se confinava dentro das muralhas. Este, que era um espaço exíguo, albergava a burguesia e os militares mas, o povo, esse vivia e trabalhava fora das muralhas, só recolhendo à sua protecção em caso de crise ou guerra iminente. Estas áreas confinantes com os castelos, nalguns casos constituídos por dezenas de léguas [em Portugal, por Decreto de 2 de Maio de 1855, foi estabelecido que uma légua seria equivalente a 5000 metros], eram patrulhadas por forças empenhadas na defesa desse território e, em caso de invasão, como o que agora aqui tratamos, era também patrulhado por pequenos grupos avançados, com a missão de fazer o reconhecimento do terreno, avaliar as forças de defesa e determinar, de posse desses elementos, qual o melhor local e melhor altura de efectuar o ataque. Eram na época os exploradores-observadores ou, no nosso tempo, faziam o que agora fazem os “satélites de observação” ou seja, espionagem.
Face às tácticas militares usadas na altura, chega até ao nossos dias que, tentando evitar a todo o custo a perda de Lisboa a favor dos cristãos, Bezai Zaide, alcaide muçulmano de Sacavém, reúne uma força de cerca de 5000 combatentes, reunidos nas povoações árabes circundantes, para dar combate à força de 1500 cavaleiros e peões de Afonso de Portugal. O combate ter-se-ia travado junto da ponte romana em Sacavém, da qual existem desenhos datados do terceiro quartel do Século XVI, que existia sobre o Rio Trancão. Outro facto atribuído a esta batalha é que, depois da derrota, o alcaide Bezai Zaide se converteu à fé cristã, vindo a ser o primeiro sacristão da ermida dedicada a Nossa Senhora dos Mártires, em memória dos que tombaram no combate.
A Batalha de Sacavém, travada entre D. Afonso Henriques e os Mouros (1147).
© Foto: Wikipédia, com a devida vénia
Algumas teorias e falta de prova documental, atribuem a este episódio os contornos de lenda, enquanto outros aceitam a existência deste combate, embora com uma “grandiosidade menor”, mas também pelos factos de se poder ter tratado do recontro entre duas patrulhas em missão de observação e defesa.
O certo é que, a actual cidade de Sacavém, pertence ao concelho de Loures, pelo que, estando estes locais dentro dos Termos de Lisboa, também foram palco dos combates havidos em 1147, não só no assalto ao castelo, actualmente denominado de S. Jorge, mas em todo o território envolvente, de forma a estabelecer o comando e as ordens da nova entidade ocupante - o Reino de Portugal -, como aconteceu em Odivelas, de que João Ramires foi o primeiro prelado da Igreja de Odivelas, cargo que lhe foi entregue pelo próprio rei. Este prelado e combatente, provavelmente ligado a alguma das Antigas Ordens Militares, veio a falecer em 13 de Fevereiro de 1183, tendo sido enterrado na Igreja de Odivelas.
Os Termos de Lisboa, dos quais só no referiremos aos que pertencem, actualmente aos concelhos de Loures e Odivelas, apesar de nem sempre estarem ligados administrativamente entre si, têm ligações muito mais vastas, começando por serem ligados pelo Rio da Costa que, além de ligar, qual cordão umbilical as duas cidades, era uma via de navegação, desde o Porto da Paiã, na Pontinha, até ao Rio Trancão e, deste ao Rio Tejo até Lisboa.
No que respeita à grande parte da população que não fugiu, e como é hábito dos portugueses desde longa data, e mesmo até na actualidade, existe uma característica bem portuguesa que “quase que força” à aculturação com outros povos.
Se os “Termos” estavam ligados à grande cidade, que se tornou capital do reino em 1256, passou também a viver os sobressaltos que, ao longo dos anos atormentaram Lisboa.
Padrões que assinalam os Termos de Lisboa, da época de D. Maria I
Foto: © José Martins - 8 de Agosto de 2011
Após a morte de Fernando I, último rei da 1.ª Dinastia, por causa da sucessão ao trono de Portugal, Lisboa foi alvo de um cerco pelas forças de D. João I de Castela, que durou 4 meses e 27 dias. Este período que ficou conhecido na história como a Crise de 1383/1385, acabou por levar a um levantamento popular que culminou com a aclamação de Regedor e Defensor do Reino o Mestre da Ordem de Avis.
Após várias escaramuças levadas a efeito por forças comandadas por Nuno Álvares Pereira, Fronteiro Mor do Alentejo, e da Peste Negra que assolou as tropas invasoras, o rei de Castela levantou o cerco em 3 de Setembro de 1384, não deixando de massacrar as populações durante a retirada.
Temos vindo a utilizar a expressão Termo de Lisboa, mas este conceito só foi criado durante os dias seis, sete e oito de Setembro de 1385, com as cartas de doação à cidade de Lisboa, assinadas por D. João I, como reconhecimento pelo auxílio dado na luta contra Castela e da sua elevação a rei. Para que nos possamos aperceber da extensão dos Termos de Lisboa, referiremos algumas das localidades, e seus termos, que passaram a fazer parte deste território: Sintra, Torres Vedras, Vila Verde, Colares Ericeira e Mafra.
Podemos aqui referir dois factos curiosos:
a) Em 20 de Outubro de 1809, Sir Arthur Wellesley, duque de Welington e comandante das forças luso-britânicas, encarregou o Coronel de Engenharia Richard Fletcher, de proceder ao levantamento de pequenos fortins, ao entregar-lhe um memorando em que era especificada a estrutura das futuras Linhas de Torres. Essa linha tinha, sensivelmente, o recorte que se conhece para os Termos de Lisboa.
b) Em 1943, durante a II Guerra Mundial, prevenindo a invasão de Portugal por tropas do Eixo, apesar da neutralidade anunciada, veio a estabelecer-se, no plano de defesa, uma linha que tentaria obstar ao avanço do invasor até à chegada de reforças ingleses, com as guarnições dos regimentos disponíveis (recorde-se que tinha havido mobilizações massivas para os Açores, Cabo Verde, além do reforço das guarnições dos outros territórios), que abrangia, também, o “desenho” dos Termos de Lisboa e das Linhas de Torres.
Mapa das Linhas de Torres - © Foto: Wikipédia, com a devida vénia
Em meados do século XV, ainda nos Termos de Lisboa, nas terras até onde vai a freguesia de Vialonga, deu-se uma batalha entre portugueses, por, mais uma vez e que não seria a última, pelo poder de governar Portugal.
D. Duarte (n. 31 de Outubro de 1391 † 09 de Setembro de 1438) quando morreu, o seu sucessor tinha, apenas, 6 anos de idade. O rei deixa instruções para que a regência, até à maioridade do futuro D. Afonso V (cognominado
O Africano, pelas suas campanhas em África, nomeadamente Alcácer Seguer, Anafe, Arzila, Tânger e Larache), a regência, dizíamos, fosse exercida por D. Filipa de Lencastre. Reunidas as Cortes, foi decidido que seria D. Pedro, irmão de D. Duarte e tio de Afonso, a assegurar a regência. Porém, uma facção da nobreza encabeçada pelo Duque de Aveiro, o Conde de Ourém e o Arcebispo de Lisboa que, face a intrigas palacianas, D. Pedro viu-se afastado da corte, refugiando-se no seu Ducado em Coimbra.
Com a subida ao trono de D. Afonso, D. Pedro resolve avançar sobre Lisboa, tendo parte do seu exército deixado Coimbra em 5 de Maio de 1449, vindo a reforçar as suas forças nas imediações da actual Vila da Batalha, chegando à Castanheira em 17, acampando junto ao ribeiro de Alfarrobeira, em Vialonga, a 18 desse mês. Sabedor de que o povo de Lisboa não estava a seu favor, resolve não continuar a marcha sobre Lisboa.
Entretanto, D. Afonso, no dia 16, parte de Santarém para travar o avanço das forças do seu tio e ex-regente. O recontro entre os dois exércitos dá-se em Vialonga no dia 20 de Maio de 1449, no que ficou conhecido como a Batalha de Alfarrobeira.
Mais tarde, em Agosto de 1580, e por causa de nova crise de sucessão com a morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir, novo sobressalto assolou a capital, com a chegada das tropas fiéis a D. Filipe I de Portugal, comandadas pelo Duque de Alba. Tendo entrado pelo Alentejo dirigira as suas tropas para Lisboa, provocando a fuga de muitos populares, que procuraram refúgio nas imediações da cidade. Quis a sorte das armas que pendesse para o lado dos espanhóis a vitória, depois de um breve combate, na zona da ribeira de Alcântara, que causou cerca de 4000 baixas, entre mortos, feridos e prisioneiros. Era o dia 25 de Agosto de 1580.
Devido ao facto de Portugal manter uma aliança com a Inglaterra desde 1294, confirmada em 9 de Maio de 1386 pelo Tratado de Windsor e, confirmado várias vezes ao longo dos tempos, originou que, sempre que houvesse algum conflito que envolvesse esse reino, Portugal estaria envolvido, directa ou indirectamente, como a história haveria de confirmar.
A Restauração da Independência proclamada em 1 de Dezembro de 1640, assim como todos os acontecimentos que lhe estão associados, também abrangeram as gentes dos termos, no sentido de que, os castelhanos instalados em Portugal e, nomeadamente nos seus arredores, influenciaram a actividade e o pensamento dos habitantes dos arrabaldes.
Tendo como pano de fundo a Campanha do Rossilhão, que durou entre 1793-1795, que foi movida pela Inglaterra, com o apoio de tropas portugueses e espanholas, uma guerra contra a Revolução Francesa, período que durou desde 5 de Maio de 1789 a 9 de Novembro de 1799. Foi nesta altura que Napoleão Bonaparte, quando ascende ao poder em França e pretende atingir os interesses comerciais da Inglaterra, lança o Bloqueio Continental, pelo qual seriam fechados todos os portos àquele país. Como de imediato Portugal não adere a esta iniciativa, Napoleão, com os acordos secretos de Tilsti realizado entre a França e a Rússia, datada de 7 de Julho de 1807, iria tentar colocar uma nova ordem mundial a favor destas potências.
De acordo com o Tratado de Fontenebleau, de 27 de Outubro de 1807, o nosso território seria dividido da seguinte forma:
• Lusitânia Setentrional - território entre o rio Minho e o rio Douro, um principado a ser governado pelo soberano do extinto reino da Etrúria (então Maria Luísa, filha de Carlos IV de Espanha);
• Algarves - região compreendida ao sul do Tejo, a ser governada por Manuel de Godoy, o Príncipe da Paz, primeiro-ministro de Carlos IV, com o título de rei; e
• Resto de Portugal - território circunscrito entre o rio Douro e o rio Tejo, região estratégica pelos seus portos, a ser administrada directamente pela França até à paz geral.
Se por um lado a França e a Espanha, através dos seus representantes diplomáticos forçam Portugal a aderir ao bloqueio, e, na iminência da invasão, o Príncipe Regente D. João informa Napoleão que adere ao mesmo, declarando, a 30 de Outubro, guerra à Inglaterra e procedendo à prisão de súbditos ingleses, residentes no país. Paralelamente, por convenção secreta assinada no mesmo dia (30 de Outubro), os signatários da aliança Luso-Britânica, acordam numa manobra para pôr a salvo, no Brasil, a Família Real e a Corte de Portugal.
Quando o país é invadido por tropas franco-espanholas sob o comando de Jean-Andoche Junot, Coronel-General dos Hussardos, que entra no país em 20 de Novembro, as forças ocupantes não encontram resistência militar, atingindo Abrantes no dia 24 e Santarém no dia 28. A vanguarda, das forças ocupantes, composta por dois regimentos, não puderam aprisionar a Coroa Portuguesa de acordo com o decreto de Napoleão datada de 30 de Outubro anterior, que bania a Casa de Bragança do trono de Portugal.
Já se encontrava ao largo, tendo zarpado no dia anterior, a esquadra portuguesa, protegida por navios ingleses que, levavam para o Brasil, alem da Família Real, cerca de 15.000 pessoas, tendo sido deixado ao governo a ordem de “não resistir”.
Com a ocupação de Portugal dão-se escaramuças por todo o país, até que chega o auxilio inglês, cujas forças estão sob o comando do General Arthur Wellesley - mais tarde Duque de Wellington - que desembarca no Porto, onde se inteira da situação e é decidido que o desembarque das forças se fará na foz do Mondego, marchando para sul em direcção a Leiria, onde se lhe juntarão as forças às ordens de Bernardino Freire. Num total de 14.000 britânicos e 6000 portugueses, iriam confrontar o invasor e provocar a Convenção de Sintra, que se realizou em 30 de Agosto de 1808, em cujos termos se previa e aceitava a retirada das forças invasoras, que transportariam consigo, não só o armamento e bagagens mas, também, todo o saque que tinham cometido aos bens portugueses, do estado e/ou particulares. Os protestos portugueses não foram tomados em conta e, ainda hoje, passados 200 anos, se pode verificar nalguns lugares, as atrocidades cometidas contra o património.
Quinta da Carrafoucha – A das Lebres – Santo Antão do Tojal – Loures
Foto: © José Martins - 29 de Julho de 2011
Mais uma vez, as gentes dos Termos de Lisboa, na área percorrida pelos invasores franceses durante a sua permanência na zona, já que o General Junot instalou a sua residência, pelo menos temporariamente, nas Quinta das Carrafouchas, nos campos de A-das-Lebres, em Santo Antão do Tojal - Loures, foram humilhadas e vilipendiadas, mesmo antes da retirada ao abrigo da Convenção anteriormente assinada.
No ano de 1809, há nova invasão francesa contra Portugal, esta sob o comando do Marechal Nicolas Jean de Dieu Soult, restringiu-se ao Norte do País, não lhes sendo possível avançar para sul do Rio Douro.
A terceira invasão francesa, comandada pelo Marechal André Masséna, não atingiu directamente a região norte de Lisboa, nomeadamente o que entende hoje pelos concelhos de Loures e Odivelas.
Nesta campanha foi utilizada outra estratégia, já que uma estratégia que deu êxito não se deve repetir. Nos arredores da capital, entre a actual localidade de Vialonga (junto ao Rio Tejo) e numa linha que se estendia até ao Oceano Atlântico junto à foz do Rio Safarujo, passando pela Serra de Serves, Cabeço de Montachique e Mafra, foi erguida uma “muralha defensiva” construída pela engenharia militar, que seria o principal reduto de defesa nessa invasão - as célebres Linhas de Torres (Vedras).
Tenente-Coronel Sir Richard Fletcher. Engenheiro que dirigiu a construção das Linhas de Torres.
© Foto: Wikipédia, com a devida vénia
Dando combate às tropas invasoras mas, mesmo que em caso de vitória as forças defensivas recuavam, os franceses foram avançando tendo de lutar num combate que hoje seria apelidado de “guerrilha”, esgotando as resistências dos invasores e não lhes permitindo, no “avanço” que iam adquirindo, encontrar alimentos para saciar as suas necessidades, uma vez que as povoações eram incitadas a transportar os seus bens para trás da linha defensiva, ou queimarem o que não fosse possível transportar.
A 14 de Outubro de 1810, o exército francês atingiu as Linhas de Torres, onde as tropas Luso-Britânicas os aguardavam desde o dia 10 e, dando-lhes batalha, os venceram e forçaram a retirar.
Foi mais uma vez a arraia-miúda que “pagou os custos da guerra”, não só no “fornecimento de soldados e/ou simplesmente resistentes”, mas também dando os seus bens para alimentar a tropa e os civis que, face à estratégia traçada pelos generais, teve que sustentar o povo que, “fugindo a barbárie do invasor”, abandonava os seus bens para salvar a vida.
Na sequência da independência do Brasil, proclamada em 7 de Setembro de 1822, mas só reconhecida em 29 de Agosto de 1825, assim como a morte do Rei D. João VI, em 10 de Março de 1826, levanta o problema da sucessão, à qual se apresentam dois dos filhos do monarca falecido: D. Pedro (rei de Portugal como D. Pedro IV de 10 de Março a 28 de Maio de 1826, tendo abdicado a favor de sua filha D. Maria II que governou o país de 2 de Maio de 1826,
de jure e a partir de 26 de Maio de 1834, de facto, até 15 Novembro de 1853) e D. Miguel (rei entre 11 de Julho de 1828 e 26 de Maio de1934).
Foi a problemática em volta da sucessão de D. João VI que deu origem às denominadas Lutas Liberais, das quais a mais destacada é o Cerco do Porto (18 de Julho de 1832 a 20 de Agosto de 1833), mas vários combates e escaramuças houve por todo o país, uma vez que as opiniões se dividiam entre os portugueses. Um desses combates deu-se nos campos de Loures, no dia 10 de Outubro de 1833, em que os liberais, apoiantes de D. Pedro, venceram os absolutistas que apoiavam D. Miguel.
Com o país pacificado e consolidado “do Minho a Timor”, depois da perda da importância da coroa portuguesa na Ásia e da independência do Brasil, Portugal vira-se para África.
Entre 19 de Dezembro de 1884 e 26 de Fevereiro do 1885, na Alemanha, sob proposta de Portugal e organizado pelo Chanceler Otto Bismark participam além do país anfitrião e do país proponente, a Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos da América, Suécia, Áustria-Hungria, Império Otomano, que acabam por fazer vingar a tese de que o direito a possessões em África terá de advir não do direito de descoberta, mas do direito de ocupação. Foi a conferência de Berlim.
Estamos no último quartel do século XIX e não é só Portugal, mas também outros países, iniciam a corrida a África. Portugal reivindica para si uma faixa que liga Angola a Moçambique, além de outras possessões que foi descobrindo e mantendo ao longo dos séculos. Muitos territórios, com novos senhores, foram “desenhados a régua e esquadro”, acabando por dividir nações, povos, etnias e até famílias.
Foi nesta altura que os Oficias de Marinha e exploradores africanos realizam a exploração do território que viria a ficar conhecido pelo Mapa Cor-de-Rosa, cor com que foi assinalado no mapa apresentado por Portugal na Conferência de Berlim.
A Inglaterra disputando com o nosso país essa faixa de território, que contraria a ideia inglesa de unir o Cabo ao Cairo, lança um ultimato exigindo a retirada de toda e qualquer presença portuguesa na área. Estávamos a 11 de Janeiro de 1890.
A partir desta altura, Portugal, na defesa dos seus interesses ultramarinos, lança campanhas sucessivas nos seus territórios africanos, que continuam muito para além do Armistício da I Grande Guerra, em 11 de Novembro de 1918.
Entretanto, em Portugal, assiste-se ao assassinato do Rei D. Carlos e do Príncipe Herdeiro D. Luís Filipe, em 1 de Fevereiro de 1908, à implantação do Regime Republicano em 5 de Outubro de 1910.
Junta Revolucionária de Loures - Em pé (da esquerda para a direita): Jacinto Duarte, José Joaquim Veiga, Manuel Marques Raso, Joaquim Augusto Dias. Sentados (da esquerda para a direita): António Rodrigues Ascenso, Augusto Herculano Moreira Feio, José Paulo d’Oliveira. Na foto não se encontra o oitavo elemento da Junta Revolucionária: José Ferreira Cleto.
© Foto cedida pelo Arquivo da Quinta do Conventinho
Porém, nesta altura, Loures já se encontrava sob o regime republicano, visto que, quando no dia 4 de Outubro se ouviu o troar dos canhões no Tejo, Augusto Moreira Feio (farmacêutico), Manuel Marques Raso (padeiro), Jacinto Duarte (operário da Câmara Municipal), José Joaquim Veiga (escrivão das Finanças), Joaquim Augusto Dias (comerciante), António Rodrigues Ascenso (ourives e relojoeiro), José Paulo Oliveira (comerciante e regedor) e José Ferreira Cleto, constituídos como Junta Revolucionária, cerca das 15 horas, dos Paços do Concelho situados na Rua Azevedo Coutinho (hoje Rua da República, n.º 70), proclamam a Republica. Destes cidadãos viriam a desempenhar o cargo de Presidente da Câmara, Augusto Moreira Feio (entre 07/10 e 23/11/1910) e Manuel Marques Raso (entre 02/07/1919 e 21/01/1920).
Note-se que, durante o período que se inicia cerca da última década do século XIX, se desenvolvia uma Campanha de Ocupação em África, que duraria até aos anos trinta do Século XX, tendo sido enviadas para África várias expedições que envolveram mais de 35.000 homens oriundos da metrópole, tendo originado, num calculo estimado, mais de 5600 mortos e 2300 feridos e incapacitados.
Houve uma guerra mundial que, mais uma vez e para defesa dos territórios de além-mar, foi formado o Corpo Expedicionário Português, que mobilizou cerca de 57.000 homens, originando 2287 mortos e 12.508 feridos ou incapacitados, que estiveram em campanha desde Janeiro de 1917 até à desmobilização geral que ocorreu já no ano de 1919.
Em 1941, já durante o decurso da II Guerra Mundial, e perante a hipótese de invasão de tropas, e apesar da neutralidade portuguesa, foram mobilizados para os Açores e para Cabo Verde, mais uns milhares de homens, além dos que ficaram em estado de prontidão no território nacional, para fazer face à defesa de Lisboa.
No final dos anos 50 do século passado, novos ventos sopram sobre África, iniciando-se, ou continuando, o aparecimento de movimentos independentistas que, pouco a pouco foram conseguindo a sua emancipação face aos países administrantes, sendo Portugal um dos últimos a reconhecer tal direito, o que levou ao envolvimento de cerca de um milhão de homens nas três frentes de combate, além da retaguarda constituída pelas famílias e amigos dos que partiam, originando cerca de 10.000 mortos e um número, até hoje ainda não quantificado, de feridos e incapacitados.
Todo este esforço, repartido por todo o território nacional, não passou ao lado das gentes que, durante esses períodos, habitavam os termos de Lisboa que, no nosso sentido restrito, são os actuais concelhos de Loures e Odivelas.
Muitos dos militares anónimos, que daqui partiram, deixando os campos e as fábricas ou os escritórios e as escolas, e que, tomando uma farda e uma arma, abalaram à sombra da Bandeira das Quinas oferecendo, se necessário, a sua própria vida.
É ao esforço da Raça Portuguesa e, muito especialmente, aos que tombaram para além do mar, mas também àqueles que, voltando ao solo natal, consigo trouxeram as amarguras e as penas duma estadia em teatro de guerra, que se pretende louvar, erigindo um MONUMENTO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR, inscrevendo nele o nome dos que tombaram, mas que inclua, ainda que não explicitamente, aqueles que, por razões várias, a História não registou o seu nome: O Combatente Desconhecido!
Estandarte Nacional da Ligas dos Combatentes
Foto: © José Martins – 14 de Novembro de 2009.
(Continua)
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 11 de Novembro de 2011 >
Guiné 63/74 - P9023: Patronos e Padroeiros (José Martins) (24): São Martinho de Tours, militar que se tornou santo