terça-feira, 4 de setembro de 2012

Guiné 63/774 - P10330: Ser solidário (134): A Humanitarius (Associação Humanitária de Apoio Internacional) prepara a sua IV Expedição solidária à Guiné-Bissau e necessita de apoios financeiros (António Bernardo)

1. Mensagem do nosso camarada António Bernardo* (CCS/BART 2920, Bafatá, 1970/72), com data de 18 de Agosto de 2012:

Companheiros de Luta
Obrigado pela publicação da informação e também, pelo convite para integrar a Tabanca Grande, o que farei em tempo próximo.

Após ler a notícia no "DN", disponibilizei à ONGD "Afectos com Letras", os livros de que disponho para que em Bafatá, seja criado o idêntico a Bissau. De facto, o BART 2920 (CCS,CART(S) 2741/2/3), é referenciado no blogue, pelo trágico acontecimento, ocorrido na CART 2742, sediada em Fajonquito, no domingo de Páscoa de 1972, e por vós publicada em 06/03/2010 (P5938**).

Aproveito para informar, de que a HUMANITARIUS (Associação Humanitária de Apoio Internacional) sediada em Portimão, prepara a sua IV expedição solidária à Guiné-Bissau, e necessita de apoios financeiros, para a sua realização.

Agradecendo uma vez mais, a vossa colaboração, envio-vos um
Abraço de Fraterna Camaradagem.

António Bernardo
CCS/BART 2920

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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10273: O Nosso Livro de Visitas (144): Nasce Biblioteca Pública em Bissau, graças ao trabalho da ONGD 'Afectos com Letras' (António Bernardo, CCS/BART 2920, Bafatá, 1970/72)

(**) Vd. poste de 6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)

Vd. último poste da série de 10 de Julho de 2012 > Guiné 63/774 - P10139: Ser solidário (133): Conversas - Guiné-Bissau, dia 13 de Julho de 2012, das 21 às 23 horas, na Fundação Nortecoope em S. Mamede de Infesta - Matosinhos (José Teixeira / Tiago Teixeira)

Guiné 63/74 - P10329: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte V: Atividade operacional, de agosto a setembro de 1971 (Orlando Silva)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Fotos do +álbum do Orlando Silva > Foto nº 19 - Junto a uma das três Peças 11,4 – O Alf Acácio (Médico), o Alf  Rodrigues, o Alf Cristina (Comandante do Pelotão de Artilharia), o Alf Tavares (CPC/BCP 12), eu e o Cap Parracho. 




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Fotos do álbum do Orlando Silva > 
Foto nº (?) - Vista aérea do aquartelamento, tabanca e pista de aviação.

Fotos (e legendas): © Orlando Silva (2009). Todos os direitos reservados. (Editadas por L.G.)


A. Continuação da publicação da hsitória da CCAÇ 3325 - Cobras de Guilje (1971/73).
Esta unidade, a que pertencia o alf mil Orlando Silva, hoje residente em Aveiro, esteve em Guileje de janeiro a dezembro de 1971. Reprodução de fotos e texto com a devida autorização do autor:

(....) Atividade operacional > De 01 a 31 de Agosto de 1971:

Realizámos mais 22 operações.

Neste período as Bases de fogos do IN,  devido às chuvas, só podiam ser utilizadas para flagelações com Canhão S/R.

Continuaram a realizar-se operações a todas as Zonas de Acção da Companhia, embora nalguns locais a água já atingisse o metro e meio de altura.

Não de confirmaram as notícias de um incremento da actividade do IN. Continuaram isso sim a implantar Minas A/P embora já com menos intensidade, por medo das nossas tropas, pois aparecíamos a qualquer hora de qualquer dia.~

Numa das reacções a flagelações o IN teve muitas baixas. Na Base de fogos do IN foram encontrados vários rebentamentos da nossa Artilharia e Morteiros Pesados.

A actividade operacional das nossas tropas, esteve orientada para o levantamento de algumas Minas e Armadilhas colocadas pelo IN nos acessos às suas Bases de Fogos e locais de passagem, na montagem de minas nos itinerários do IN, e em patrulhar com intensidade a ZA na região Este, para tentar detectar novas Bases de Fogos do IN e criar-lhes insegurança aos seus movimentos.

Levantaram-se neste período 3 Minas A/P e implantaram-se 7 Minas A/P. Causámos várias baixas ao IN numa reacção a uma flagelação.

Devido ao cansaço e às doenças, o pessoal operacional está reduzido a 71%, não sendo a alimentação (em virtude da situação isolada da Unidade), compatível com o esforço operacional exigido e com o trabalho em melhoramentos no Quartel, tanto na parte da defesa, como no do bem estar das tropas.
Em consequência da maneira deficiente com que se processa o reabastecimento de Guileje, apareciam várias deteriorações, violações e faltas de toda a espécie, tendo o Comando problemas administrativos extremamente graves. Como consequência da situação, foi o assunto exposto ao Comandante do Batalhão 2930 sito em Catió, de que dependíamos.

Em resumo podemos dizer que, apesar de tudo, continuámos a manter o total controle da Z.A. e que a actividade do IN, devido à pertinácia das NT em não se deixarem fechar no Quartel, conjugada com a implantação de Minas e com as baixas causadas ao IN no período, devem ter contribuído para que não se confirmasse o aumento da sua actividade, e ainda que, tal como no período anterior, a falta de pessoal e a alimentação estivessem a afectar o rendimento da actividade operacional.


De 01 a 30 de Setembro de 1971:

Realizámos 17 operações de patrulhamento.

As bases de fogos do IN continuam a ser só utilizáveis por Canhão S/R. Continuámos a efectuar regularmente patrulhas a toda a Zona de Acção, apesar das chuvas intensas. O IN continuou a implantar minas A/P furtando-se totalmente ao contacto com as nossas tropas. O único itinerário que o IN utilizava frequentemente era o “Corredor de Guileje”, local onde, num outro reencontro inesperado com as nossas tropas, sofreram assinaláveis baixas.

A actividade operacional das NT neste período, esteve orientada para:

-Levantamento de minas colocadas pelo IN nos acessos às suas bases de fogos e vias de infiltração;
-Colocação de minas nos locais de passagem do IN;
-Patrulhar com intensidade a zona das bases de fogos do IN afim de criar mais insegurança aos seus movimentos no “Corredor de Guileje”, 
- implantar minas e montar emboscadas ao mesmo.

Nesta área tornava-se muito difícil a nossa acção, não só por estar muito bem defendida, mas também por ser intensamente percorrida pelo IN. Daí, termos de procurar sempre itinerários diferentes, para evitar possíveis emboscadas. Acontecia que, por vezes, surpreendíamos o IN pelas costas, e isso tornava-se muito perigoso.

Toda esta actividade causava grande desgaste físico e psicológico na tropa. No entanto procurámos manter o ritmo destas acções, dado o seu extraordinário interesse.

Concluimos mesmo, que a seguir à defesa de Guileje, eram as acções sobre o “Corredor de Guileje” a missão prioritária da Companhia, embora para isso, fosse manifestamente insuficiente uma única Companhia para manter certa continuidade nas investidas sobre o “Corredor”.

Levantámos neste período 01 mina A/P M3 de fragmentação de fabrico português implantada pelo IN. As NT implantaram 05 minas A/P numa base de fogos do IN e 04 minas A/P no “Corredor de Guileje”.

Os transportes são outro grande problema, devido ao isolamento da Companhia. Apesar da deficiente alimentação e do cansaço das nossas tropas, conseguimos evitar que o IN circulasse livremente nas vias de infiltração situadas na nossa Zona de Acção, o que ajudava a manter elevado o moral da tropa.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10315: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte IV: Atividade operacional, de maio a julho de 1971 (Orlando Silva)

Guiné 63/74 - P10328: Convívios (469): IV Encontro anual dos ex-Combatentes do Concelho de Gondomar, dia 29 de Setembro de 2012 em Valbom

4.º CONVÍVIO ANUAL DOS EX-COMBATENTES DO ULTRAMAR (1961/1974) 
DO CONCELHO DE GONDOMAR

VALBOM - DIA 29 DE SETEMBRO DE 2012

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10323: Convívios (468): Almoço de confraternização do pessoal da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72 - 29 de Setembro de 2012 -, Lagoa (Jorge Canhão)

Guiné 63/74 - P10327: O nosso blogue em números (31): Jorge Teixeira da CART 2412, o nosso visitante 4 milhões !!!


Cópia da página principal do blogue, ao ser atingido o nº 4 milhões de visitas, esta madrugada por volta da 1h e tal.. O Jorge Teixeira estava de pé, ao computador, e registou o momento...




1. Ontem três de setembro, pelas 22h41, mandámos pelo correio interno da Tabanca Grande a seguinte mensagem:
 

Amigos e camaradas, grã-tabanqueiros:

Dia 4, 3ª feira, atingiremos as 4 milhões de visitas... 

Quem for o felizardo do leitor ou visitante 4 milhões, que nos contacte... e nos mande uma imagem comprovativa da página principal do blogue...

Para tal, deves usar a tecla "print screen", e fazer "copy & paste" para o programa "Paint" (ver acessórios)... Guardas em formato jpg e mandas para os editores a imagem com o contador nos 4 milhões...

Temos que celebrar!... E ganhar forças para chegar aos 5 milhões...

Os editores



2.  Mensagem com data de hoje, dia 4, 1h29 assinada pelo nosso amigo e camarada Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Barro, 1968/70:

 Aí vai [, imagem acima,] a visita 4 milhões, no €uromilhões não acerto eu.

Essa estória do "print screen"... coisa e tal e "copy & paste", (até parece um pedido de "piza"), não é para mim. Vai um recorte e já não é mau. 

Dispenso o certificado.
PARABÉNS.
 

Um abraço e até aos 5 000 000.
cumprim/jteix






3. Outros camaradas, como o José Martins, também quiseram entrar na brincadeira e deram-nos notícia da evolução dos acontecimentos:

Mensagem de 3 de setembro, 23h37:


A 40 minutos da meia.noite..., faltam 400 entradas. [, Imagem supra].


4. O Mário Tito, aliás Mário Serra de Oliveirapor sua vez, escreveu-nos, dos EUA,  já hoje de manhã, a seguinte mensagem de parabéns:

Amigos e camaradas!

Parabéns pelo excelente trabalho. Sou adepto do blogue embora contribuinte de forma limitada por falta de oportunidade. Talvez um dia destes faça algum comentário sobre a Guiné. 

Neste momento estou a lutar com a revisão do meu 1º livro. A verdade é que, quando vejo e-mail de Luís Graça, nem sempre associava ao blogue do mesmo porque, normalmente, o contacto mais directo era e é o Carlos Vinhal. Como me parece que ele está de férias e vi a referência aos 4 milhões, decidi carregar. Concluindo que deve tratar-se mesmo do Luís Graça.

Foi um prazer e mais uma vez parabéns.

O meu nome é Mário Oliveira. Estive na Guiné desde maio de 67 - messe de oficiais da FAP em Bissau e fiquei lá depois de missão cumprida. Só vim de lá em Agosto de 1981. Passei lá de tudo, incluindo os melhores e piores momentos da minha vida. Sobrevivi e cá ando ainda p´ras curvas.

Abraço, Mário.



5. Comentário de L.G.:

Até ao final de dezembro de 2011, estávamos com um total de 3158400 visitas. Ao fim de oito meses, mais exatamente ao início do dia 4 de setembro, atingimos os 4 milhões, o que dá uma média diária de 3500 visitas neste período de tempo (jan/ago 2012). 
Recorde absoluto de visitas diárias (5042) continua a ser o dia 16 de abril de 2012...

Resumo mensal do total de visitas (jan / ago 2012):

Janeiro: 110 mil. 
Fevereiro: 100 mil. 
Março: 120 mil
Abril: 117 mil
Maio: 115 mil
Junho: 96 mil
Julho: 86 mil
Agosto: 91 mil

Os dois piores meses são, como já sabemos dos anos anteriores, aos correspondentes às férias de verão (julho e agosto). E o melhor o março...

Já que estamos numa de números, recorde-se:

(i) atingimos os 3 milhões de visitas na 1ª quinzena de novembro de 2011;
(ii)  os 2 milhões de visitas foram  atingidos em meados de setembro de 2010;
(iii) e o primeiro milhão em fevereiro de 2009.

Quanto a membros inscritos na Tabanca Grande, estamos neste momento com 574... Faltam 26 para os 600, meta que queremos atingir até ao final do ano. 

Em meados de março de 2012, éramos 542. Em outubro de 2011, 520. Em abril de 2011, 500. Em final de 2009, éramos 390, em maio de 2010 andávamos pelos 410 e em meados de Setembro de 2010 estávamos a caminhos dos 450. 

A média de entrada de novos membros desde Setembro de 2010 até agora anda à volta dos 5 por mês, mais ou menos 1 por semana...

Quanto ao número médio de postes diários publicados nestes primeiros 8 meses do ano de 2012 é ligeiramente inferior à média ao ano passado: 4,2 (em 2012), contra 4,8 (em 2011), e 5,4 (em 2010, o ano em que batemos o recorde com um total de 1955 postes publicados).

Num histórico de mais de 35  mil comentários, temos 62 755 referentes aos primeiros 8 meses do ano de 2012, o que dá em média 26,1 comentários por dia / 784 por mês...

Quanto à origem geográfica das visitas, o perfil já aqui há tempos traçado (com base apenas nas estatísticas do Blogger) está-se a alterar substancialmente:

(i) 70,5% das visitas são oriundas de Portugal;
(ii) segue-se, em segundo lugar, o Brasil (13,5%);
(iii) vem depois os Estados Unidos (4%) e a França (2,3%), totalizando estes 4 países mais de 90%;
(iv) entre os dez mais contam-se ainda, por ordem decrescente, a Alemanha, o Canadá, o Reino Unido, a Rússia, a Espanha e Cabo Verde...

A Rússia aparece, pela primeira vez, neste "top ten"; o número de visitantes do Brasil e dos EUA aumentaram em detrimento de Portugal que perdeu mais de 3 pontos percentuais em relação à situação em abril de 2011.

Neste dia, que é de discretíssimo júbilo, o nosso Alfa Bravo mais afetuoso vai para:

(i) os nossos queridos co-editores, com especial destaque para o Carlos Vinhal, que está 24 horas por dia ao serviço do blogue;
(ii) os nossos discretos mas sempre prestáveis colaboradores permanentes;
(iii) os autores (já publicámos mais de 10 mil e 300 postes!);
(iv) os novos e aos velhos membros da Tabanca Grande (n=574);
(v) os comentadores (mais de 35 comentários!.desde que temos estatísticas...);
(vi) os leitores dos quatro cantos do mundo...

Vamos ver se, a este ritmo (3500 visitas / dia), e com os esforços concertados de todos, conseguiremos chegar aos 5 milhões de visitas, daqui a dez meses (Junho de 2013).

6. Mais comentários que foram chegando no dia de hoje:

(i) António Nobre:

Olá, Luís.
Cheguei atrasado. Anteciparam-se 903 camarigos porquanto a minha visualização situou-se nos " 4.000.903"lll Pelo menos arranja lá uma menção honrosa.

A sério. Mais uma vez as minhas felicitações pela "excelência" do vosso trabalho. Eu sou um pouco "cota" informático e como tal tenho apreciado vivamente aquilo que diariamente visualizo no nosso site. Muito bem e mais uma vez os meus parabéns.
Um abraço para toda a equipa
António Nobre

(ii) José Carvalho:

O Facebook tirou algum protagonismo [ao blogue], devido à rápida interação...

(iii) Filomena Sampaio:

Boa tarde: Já existe premiado?
Abraços
Filomena


Parabéns, parabéns,  bravô!

Guiné 63/74 - P10326: Em busca de... (202): Memórias de uma infância perdida .... (Paulo Mendonça, nascido em 1961, em Có, Bula, Cacheu, trazido para Matosinhos em finais de 1967, criado na Casa do Gaiato até aos 14 anos, e a viver há 20 em França)

1. Resposta do Paulo Mendonça (*)


De: jason39 wash [ pmendonca@hotmail.fr]
Data: 3 de Setembro de 2012 22:55


Bonsoir,  Luis Graça

Obrigado pela tua ajuda,  visitei os dois posts do blogue  e são  interessantes.

Nasci no dia três de junho de 1961,  fui baptizado em Bissau no dia 23 de novembro 1967 e o padrinho foi Manuel Lourenço Lopes.

Lembro-me ter passador o Natal na casa do Capitão Anacoreta Soares em Matosinhos,  antes de ir para o Gaiato.

Tenho ainda uma fotografia,  jà no Gaiato,  ao lado de uma rapariga, mas não sei se é a sua filha.

Como deve saber,  Luis Graça, é muito importante para mim encontrar o Capitão. Todo tempo que estive no Gaiato (7 anos) ele veio ver-me duas vezes. Nunca deu noticias e eu não soube mais nada da minha família. Tenho unicamente lembranças dos meus Pais e talvez um irmão quando pequeno...

A minha questão : PORQUÊ?

Merci pela sua ajuda.

Paulo Mendonça


2. Comentário de L.G.:


O Paulo Mendonça nasceu em Có, Bula, Cacheu, foi batizado como cristão em 23 de novembro de 1967, e tem hoje 51 anos... Deve ter vindo com o cap mil art Anacoreta Soares,  no final de 1967. lembra-se de ter passado o Natal desse ano em Matosinhos... 

Em 14 de janeiro de 1968, com seis anos, foi levado para a Casa do Gaiato, em Paço de Sousa, Penafiel.  Saíu de lá aos 14 anos. Vive em França há mais de 20 anos. 

Há uma infância perdida,  possivelmente por causa da guerra, e ele quer recuperar as memórias desse tempo. Algum camarada ou amigo o pode ajudar, levando-o até ao ex- cap Anacoreta Soares e/ou alguém da sua família ? 

Luís Filipe Anacoreta Soares vivia em Matosinhos em 1967/68. Foi comandante da CCAÇ 798 (Gadamel Porto, 1965/67) e da CCAÇ 1498 (Có, Binar, Bissau, 1966/67).

Guiné 63/74 - P10325: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (37): Guerra de titãs, o Almeida Comando contra o Vilar Pára

1. Mensagem do nosso amigo e irmão Cherno Baldé, com data de 29 de agosto último:
  

Caros amigos Luís e Carlos Vinhal,
Junto envio uma crónica na linha do habitual, algumas imagens e poemas da minha colecção da juventude que podem utilizar de acordo com os habituais critérios de utilidade e bom gosto bloguistico.

Um grande abraço,

Cherno Baldé



2. Guerra de Titãs > Almeida contra Vilar / Comando contra Pára

por Cherno Baldé (*)

Hoje vou contar uma pequena estória sobre uma disputa física entre dois militares muito especiais e que, não fosse o ambiente tenso da guerra subversiva que transformava misteriosamente o destino das pessoas envolvidas, poderiam ter cumprido a sua missão normalmente, regressar a sua terra natal, casar-se e ter um destino feliz, como aconteceu com a maioria dos seus companheiros de armas que passaram no TO da Guiné, dita portuguesa.

Estou a referir-me ao duelo entre o Almeida-Comando e o Pára-Villar que ficou gravado na memória de todos os que se sentiam, de uma forma ou outra, atraidos ou ligados à vida dos soldados do quartel local.

Como habitualmente acontecia na época, havia pouca gente que estava informada das suas verdadeiras identidades, nao pertenciam ao corpo original da companhia, tinham vindo de parte incerta para integrar e conviver no meio de soldados milicianos numa localidade meio esquecida do nordeste guineense de Fajonquito, que o soldado Inácio M. Gois tão bem descreveu no seu Diário da Guiné (1964/66).

Dos dois contendores, o Almeida-Comando tinha sido o primeiro a chegar à Fajonquito na coluna que todas as semanas ia à cidade de Bafatá, sede do Batalhão, com a sua G3 numa mão e uma bolsa contendo os seus pertences, noutra. Soldado robusto, estatura media e boca de lâmina (lábios miudinhos), olhar decidido, europeu típico da raça dos Victor Tavares, José Dinis, Antonio Dâmaso ou Silvio Abrantes, cedo mostrou a sua preferência pela solitude, não tinha amigos e os companheiros de caserna não tardaram a desertar, procurando locais mais seguros. Nas suas costas falavam que era maluco ou que estava apanhado, mas ninguém se atrevia a repeti-lo a sua frente. 

Militarmente aguerrido, oferecia-se para todas as saídas ao mato e quando havia ataques nas localidades mais próximas, enquanto os outros ficavam a espera de ordens superiores, ele seguia correndo, sozinho. Era sempre o primeiro a chegar ao local do ataque e, quando os outros chegavam, já ele estava de regresso ao quartel, exausto.

O boato que circulava a seu respeito era que ele teria cometido violações graves que tinham provocado a sua expulsão de uma companhia de comandos para o cumprimento de um castigo que o condenava a ficar na Guiné durante muito tempo. De qualquer modo o que era certo e sabido é que não apreciava muito os seus companheiros brancos, preferindo a companhia das crianças nativas e que não estava programado o seu regresso com aquela companhia de metropolitanos. Quanto tempo teria da Guiné? Ninguém sabia ao certo.

O Pára, Villar,  chegaria mais tarde e, ao contário do primeiro, ele era alto e direito como uma palmeira das bolanhas, mãos largas e fortes, olhar insolente e brincalhão, mas também ele marcado pelo destino e pela carreira que escolhera como militar, pois quando abria a boca viam-se alguns espaços vazios entre os seus dentes da frente e no maxilar esquerdo.

No meio da soldadesca macaca, minado por intrigas e pequenas quezílias de rancho do quartel, não tardou a circular de boca em boca entre criancas e auxiliares nativos da messe e do refeitório que entre os Páras havia uma norma ou lei que se designava "regra da dentadura",  segundo a qual os candidatos à  entrada para a mais exigente de todas as especialidades militares deviam possuir uma dentadura completa e bem saudável e ainda ter que mantê-la durante o periodo de serviço militar sob pena de serem expulsos deste corpo de elite.

Verdadeiro ou falso, para os miúdos que faziam do quartel a sua primeira escola de vida, não era muito importante, o certo-certo mesmo era que dai em diante o ambiente habitual do quartel seria necessariamente alterado com a presença de duas espécies raras da paisagem militar portuguesa com garras bem afiadas. Um soldado comando corajoso e psicologicamente desequilibrado, que no seu estilo de lobo solitário, qual cowboy saído de um Western americano e que fazia das crianças nativas seus instruendos e um Paraquedista durão e provocador, aparentemente normal, amigo da farra, das bajudas e do jogo de cartas.

A chegada do Villar também trazia de volta um debate muito frequente, no começo dos anos 70, no seio da miudagem dos aquartelamentos, que era a questão de saber quem,  entre Comandos e Páras,  é que tinha a melhor preparação militar. Cada um argumentava com as suas armas sem que tivessem, na realidade, noção clara sobre o que os distinguia na prática, suas forças e fraquezas. O facto de os Páras fazerem-se ejectar de um avião em pleno voo, embrulhados num simples pedaço de tecido, parecia conferir-lhes uma nitida vantagem, mas os adeptos dos comandos levavam sempre melhor, pelo menos a luz dos acontecimentos no terreno e o respeito que impunham no mato e, também, nas ruas de Bissau, claro.

O Almeida tinha como "hobby" preferido a caça às pombas na orla da bolanha. Homem de poucas palavras, quando estava de acordo em que o seguissemos,  não dizia nada e ia a nossa frente. Quando não estava no seu melhor dia, com o cano da G3 apontada ao chão, mostrava a direcção da porta de armas com a mão livre, não a descendo enquanto os "djubis" não tivessem transposto o limite dos arames farpados, depois seguia cabisbaixo no seu trote rápido de homem que sabia ter o destino nas suas próprias mãos. 

Inocentes e impertinentes, sempre que as crianças tinham a sorte de o poder acompanhar, não se cansavam de admirar o fisico compacto deste homem, os seus reflexos rápidos e o tiro certeiro da G3. Nunca se precipitava nem perdia muito tempo em pontarias de inclinar cabeça e fechar olhos como faziam os outros, era "tau-rau", isto é, por cada tiro dado era uma ave que caia com uma mancha negra à volta do buraco da morte. Custava acreditar, por atrás dele, movendo-se ligeiros, num silêncio de arrepiar, esperávamos pelo sinal da mão para ir buscar o animal que se esbatia com o corpinho ainda quente. 

Todavia, acompanhar o Almeida era entrar num jogo atractivo, mas sem fim a vista, pois as suas mudanças de humor eram frequentes e imprevisiveis e,  quando isso acontecia, o divertimento inicial podia ultrapassar os limites do suportável, transformando-se num calvário para adultos. Os sinais de tal mudança manifestavam-se no súbito desinteresse pela caça habitual, na raridade dos tiros e na aceleração da marcha. 

Os menores, como eu, não podiam passar dos limites da bolanha de Sunkudjuma e, depois desta, começava a grande floresta de Oio e Cola-Caresse, região povoada de "Djinnés", prenhe de perigos vários e dominada pela guerrilha. O segundo grupo de temerários continuava a marcha, com o Almeida sempre à frente. Percorriam uma zona remota, semeada de centenárias Baga-bagas gigantes, habitat dos lendários "Kankurans" mandingas que coloriam o imaginário da nossa infância mestiça e, quando começavam a escassear os sinais da presença humana, as crianças, impelidas por um instinto natural de defesa, começavam a desertar, uma a uma, deixando o Almeida-comando no meio de intrincados trilhos de gazelas e de porco-espinhos, entregue a si mesmo, a sua inseparável G3 e a granada expansivel na cintura. E, estafados de tanto caminhar, quando voltavam à aldeia e iam ao quartel, encontravam o homem tranquilamente sentado à porta da sua caserna, limpando a sua arma. 

Num certo dia em que vínhamos de uma jornada de caça normal, dei uma fugida rápida e imprevista entrando de rompante numa das moranças da aldeia com a intenção de impressionar os aldeões com as dezenas de pombas que trazia em cima dos ombros. O resultado foi receber uma valente reprimenda também ela inesperada. Os mais velhos não teriam gostado de ver tantos animais mortos com arma de fogo numa só tarde. Descobri assim que o africano,  mesmo levando uma vida miserável,  é, por princípio, avesso ao desperdício de vidas e de recursos. Era muito pouca, de facto, a carne que se aproveitava nos pássaros com o estoiro dos projécteis.

O Almeida, no interior do seu silêncio, parece que fazia tudo para provocar a ira das hierarquias militares e estes, por sua vez, armados de bom senso e instinto de conservação, parece que faziam tudo para não entrar em rota de colisão com um subordinado de modos estranhos e psicologicamente instável. Esta postura oficial, mais tarde, revelar-se-á muito negativa e com consequências bem drásticas e que afectará toda a companhia, a escassos meses de fim de comissão.

Tanto assim que, uma vez por semana, o Almeida ao comando do seu pequeno e barulhento pelotão de "djubis", crianças caídas na órbita do quartel, dirigia os treinos físicos e de preparação militar, seguidos de uma faxina no interior do aquartelamento, tal como apanhar o lixo, capinar e limpar os sanitários. Após estas tarefas que habitualmente terminavam à hora do almoço, todo o grupo se dirigia ao refeitório-geral para servir-se dos restos do almoço do dia, servido em cima das mesas pelos cozinheiros nativos, utilizando os pratos e talheres disponiveis na cozinha da companhia e ainda com direito a sobremesa.  Enquanto isso, o Almeida-comando punha-se a passear de um canto a outro do refeitório, ao som das batidas ritmadas do chicote na parte mais alta das suas botas de cabedal reluzente, peito inchado e olhos vermelhos no rosto inexpressivo de ferra indomada.

Os "djubis", indiferentes ao ambiente tenso que reinava devido a contrariedade que provocava a sua presença indesejada no refeitório, comiam com a sua habitual gula e, ao mesmo tempo, estavam atentos aos movimentos de vaivém do seu Comandante-chefe. Quando este se afastava um pouco e os talheres começavam a atrapalhar, metiam rapidamente as mãos dentro das terrinas metálicas para dai retirar pedaços de carne ou restos de comida. Se a refeição era feita com pedaços de batatas ou arroz, tudo bem, mas às vezes era massa de esparguetes compridos e delgadinhos, que nem com as mãos se seguravam e constituíam tarefa complicada metê-los dentro da boca. Nestes casos a melhor solução era absorvê-los directamente com a boca, "tchúúph". Os brancos não gostavam desta forma muito prática de comer animal, o Almeida também. A ameaça do chicote era real.

Foi o Vilar que acabou com o nosso reinado no refeitório. Para todos os efeitos, era uma situação anormal e que não podia perdurar, pois não agradava a ala mais conservadora da tropa e não era muito apreciado pelos miúdos que, habituados à liberdade natural de comer à mão, sentiam-se bastante constrangidos com o espectáculo de comer com facas e garfos em cima de uma mesa e diante de olhares curiosos, coisas de brancos.

No dia em que se deu a briga, estávamos na cozinha do refeitório a preparar, em fogo brando, as pombas que o Almeida tinha trazido na tarde do dia anterior. O refeitório ainda estava quase vazio, estando numa das mesas o Vilar, sozinho, a entreter-se com a sua faca de mato, de cara para a porta do quarto onde residia o Almeida, facto que, pela sua ousadia, não augurava nada de bom. De vez em quando mandava uns palavrões ao ar, sem se dirigir a ninguém em especial. Caso estivesse a tentar provocar a fera, decerto que não perdia nada por esperar, pensávamos com os nossos botões.

Ninguém viu como  nem quando aconteceu, mas parece que o Almeida teria saído do seu quarto a vomitar impropérios e num salto teria voado em cima do Vilar com os pés em riste. Da violência do choque dos dois corpos, a faca do Villar tinha caído das suas mãos e os dois, entrelaçados, tinham rolado ao chão num grande estrondo, derrubando mesas e cadeiras. Durante alguns segundos, que pareceu um longo espaço de tempo, lutaram no chão cada um tentando dominar o outro e, de repente puseram-se de pé. Ofegantes e punhos cerrados, mediram-se novamente com os olhos e, quando se preparavam para um novo embate,  ouviu-se uma potente voz de comando que gritava "alto ai!!!". Era a voz do Capitão da companhia, Carlos Borges de Figueiredo, também ele com volume e estatura respeitável.

Não ficamos para saber como terminou a briga e, na confusão do momento, aproveitamos para sair dos arames farpados e regressar as nossas casas, na certeza, porém, de que se tratava apenas do começo de uma história que, qualquer dia, poderia terminar muito mal.

Depois, para a posteridade, de aldeia em aldeia, de bantabá em bantabá, como a notícia não pesa nem tem custos de transporte, cada um encarregar-se-ia de descrever o sucedido à sua maneira, acrescentando alguns pormenores ou dando vantagem ao herói da sua preferência. Comando contra Pára, Almeida contra Vilar e, de tanto tocar e retocar no assunto tornou-se dificil distinguir, ao certo, quem conta do que assistiu e viu com os seus olhos de quem conta do que ouviu alguém contar. 

Nasceu assim esta crónica que se inspira da vivência de um imaginário real, de tal modo que qualquer semelhança com a vida real de alguém só pode ser uma coincidencia fortuita e irreal.

Com abraços amigos de

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)
Bissau, 27 de Agosto de 2012.


Na imagem: os meus dois filhos Luís e Domingos numa esplanada da Praça do Império rebaptizada Praça dos Heróis Nacionais em Bissau, 2011. Teria eu a mesma idade quando acompanhava o Almeida-Comando nas aventuras da Bolanha de Sunkudjuma, em Fajonquito, nos anos de 1971/72. Sinais dos tempos.

Cherno Baldé (direita) e o seu colega de infância Saido Candé (esquerda), conhecidos no quartel com os nomes de Chico e Barbosa, antigos alunos e adeptos do Almeida-Comando. O Barbosa realizou o seu sonho de infância e é hoje um graduado do Ministério do interior.

Bissau, Setembro de 2011. Cherno Baldé com os filhos Domingos Ali e Luís Bubacar.


O Duelo entre Almeida-Comando e o Para-Villar, visto por um cartoonista/ humorista da época. Imagem de um desenho mural no bar de um Bairro da periferia de Bissau (Antula, Agosto de 2012)


Sunkudjuma - Eu nasci aqui, / É Sunkudjuma, / É rio dormindo, / É bolanha, fossas e lianas, / São leitos secando, / Peixes escuros e lama, / Aqui lavramos o arroz e / A tristeza dos olhos

Extrato de um poema da minha colecção de juventude com data de 1985.


O Kankuran é um elemento cultural da etnia mandinga, hoje largamente adoptado por muitos grupos de confissão muçulmana na Guiné, associado ao ritual de iniciação e de mudança de estatuto social entre os homens (sexo masculino). O mito fundador quer que as pessoas acreditem que o Kankuran tem poderes mágicos de desmistificar e neutralizar os maus espíritos, proteger, unificar e reforçar a coesão social da comunidade (ver Nhinte Camatchol entre os nalus). Portanto, é um instrumento unificador e propiciador da harmonia social, especialmente direcionado contra o malefício da divisão social associado aos excessos do poder feminino no seio das comunidades. O kankuran emerge das baga-bagas gigantes de onde tira a sua cor vermelha como o próprio chão da Guiné. 

Na imagem, Kankurans da nova geração nas ruas de Bissau (Bairro Militar, 2011).  
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de julho de 2012 >  Guiné 63/74 - P10146: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (36): Recordando o inesquecível amigo João, ex-1.º Cabo Mecânico da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4514/72

Guiné 63/74 - P10324: Parabéns a você (468): José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 (Guiné, 1971/73) e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 (Guiné, 1968/69)


Para aceder aos postes dos nossos camaradas José Câmara e Torcato Mendonça, clicar nos seus nomes
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10312: Parabéns a você (467): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10323: Convívios (468): Almoço de confraternização do pessoal da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72 - 29 de Setembro de 2012 -, Lagoa (Jorge Canhão)



1. O nosso Camarada Jorge Canhão, (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem, com pedido de divulgação do programa da festa da 2ª CCAÇ do seu BCAÇ 4612/72.

Camaradas, 

Recebi o convite da 2ª Companhia (Jugudul, Uaque, Rossum e Bindoro), do nosso BCAÇ 4612/72, para mais um belo encontro entre camaradas de armas.

Desta vez é em Lagoa-Algarve.

Seguem-se o programa e a indicação para as marcações. 

(Em principio lá estarei)






Abraços 
Jorge Canhão
Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72

Mini-guião e emblema de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P10322: Em busca de ... (201): Luís Filipe Anacoreta Soares, ex-cap mil art, CCAÇ 1498 (Có, Binar, Bissau, 1966/67), que me trouxe de Có, e me pôs na Casa do Gaiato em 14 de janeiro de 1968... Vivo em França há mais de 20 anos (Paulo Mendonça)


1. Mensagem do nosso leitor Paulo Mendonça, natural da Guiné, atualmente a viver em França, e antigo aluno da Casa do Gaiato, Paço de Sousa, Penafiel [, à esquerda, foto da entrada principal do estabelecimento]:

De: jason39 wash [ pmendonca@hotmail.fr]

Data: 2 de Setembro de 2012 22:27


Bonjour!

Estou à procura desta pessoa, Luís Filipe de Anacoreta Soares, Capitão Miliciano da Companhia de Caçadores 1498.

Chamo-me Paulo Mendonça, nasci em Có, Bula, Cacheu, fui criado na Casa do Gaiato de Paço de Sousa onde este Capitão me levou, em 14 de janeiro de 1968.

Saí da Casa do Gaiato aos 14 anos,  e vivo aqui em França há mais de 20 anos... 

Queria saber alguma coisa desta pessoa ou sua família

Obrigado pela sua ajuda

À bientôt

Paulo Mendonça


Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CCAÇ 798 (1965/67) >  Em baixo, da esquerda para a direita, em segundo lugar o Cap mil  Anacoreta Soares, seguida do Alf mil  Assunção e e do alf mil Manuel Vaz.

Foto (e legenda) Manuel Vaz (2012). Todos os direitos reservados.

2. Comentário de L.G.:


O Paulo Mendonça teve a gentileza de me telefonar, tinha eu acabado de chegar de férias. Pedi-lhe que passasse o seu pedido a escrito e que me mandasse um mail. Eis a minha resposta, de ontem:

OK, PaulO. Cá recebi a mensagem.. Amanhã vou publicar no blogue... Para já não tenho ninguém da CCAÇ 1498, registado no blogue... Mas tenho notícias do batalhão a que pertencia a CCAÇ 1498, o BCAÇ 1876 (Bissau e Bula, 1966/67)...

Não sei se a tua história é parecida com a do menino Adilan... Mas lê aqui:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search?q=Adilan



Acrescento agora mais o seguinte:

Segundo os dados de que dispomos, a CCAÇ 1498 foi mobilizada pelo Regimento de Infantaria nº  2,  em Abrantes, embarcou para o TO da Guiné em 20/1/1966 e regressou à metrópole em 4/11/1967. Esteve em Có, Binar e Bissau. 

A CCAÇ 1498 teve 3 comandantes: (i) Ten inf Manuel Joaquim Fernandes Vaz; (ii) Cap cav Miguel António Carvalho Santos Melo e Castro; e (iii) Cap mil art Luis Filipe Anacoreta Soares.

Sabemos que o cap mil Anacoreta Soares também comandou, temporariamente, a CCAÇ 798 (Gadamel Porto, 1965/67), segundo relato alf mil Manuel Vaz (vd. foto acima):

(...) A Companhia estava condenada a não ter Capitão. Passado algum tempo, depois do Cap Vieira dos Santos sair, foi nomeado Comandante, o Cap Mil Anacoreta Soares que não se manteve até ao fim, acabando por ser transferido para o Norte. Quando faltavam três meses para a Companhia regressar à metrópole foi atribuído o Comando da mesma ao Cap Vilas Boas a quem faltava sensivelmente o mesmo tempo para ser promovido a Major. A situação diminuiu a capacidade operacional da Companhia que só actuava como tal, quando tinha Comandante efectivo" (...)
Paulo, aqui fica registado o teu pedido. Se for vivo, como esperamos, o teu "padrinho" deve ter mais de 75 anos: sendo capitão miliciano em 1966, devia já ter perto dos 30 anos quando te conheceu.

 Pode ser que algum camarada da CCAÇ 1498 leia esta mensagem, e entre em contacto contigo ( pmendonca@hotmail.fr) ou com o nosso blogue (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com) e nos traga as notícias (boas) que tu desejas ouvir (e nós também).

Sobre Casa do Gaiato, tens o respetivo sítio na Internet. Um dos nossos camaradas, membros da nossa Tabanca Grande, Joaquim Peixoto, de Penafiel, foi lá professor durante alguns anos. Pode ser que ele te possa ajudar também a localizar o paradeiro do teu benfeitor.

Um abraço. Bonne nuit! Luís Graça

PS - Estás à vontade para escrever, ao nosso blogue,  a contar a tua história de vida, as circunstâncias em que vieste para Portugal, a tua idade, a terra do teu benfeitor, etc. Essas pistas podem ajudar-nos a chegar mais depressa ao nosso camarada Luís Filipe Anacoreta Soares ou alguém da sua família.

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10290: Em busca de... (200): Camaradas da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (K3 e Lamel, 1969/71) (Ricardo Almeida)

Guiné 63/74 - P10321: Memórias de Joaquim Cruz (2): Chegada à Guiné, deslocação para Farim e os dias trágicos vividos em Guidaje

1. Continuação da publicação das Memórias do nosso camarada Joaquim Cruz* (ex-Soldado Condutor Auto-Rodas da CCS/BCAÇ 4512, Farim, 1972/74), desta feita lembrando os acontecimentos de 1973 em Guidaje que ele também viveu de perto:


MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO CONSEGUE APAGAR (2)

Foi durante a viagem no Uíge que o nosso Alferes do Pelotão Auto começou a distribuir por cada um de nós as viaturas que já sabia existirem em Farim, local para onde seguimos, depois da passagem pelo Cumeré e ai nos terem ministrado um pequeno estágio no que à condução e versatilidade das Berliet dizia respeito. Tínhamos portanto à nossa espera em Farim cinco Berliet e eu fui um dos cinco elementos escolhidos para a condução das mesmas.

Os restantes camaradas e bons amigos foram o Ribeiro, o Bombeiro, o Pontes (que veio a ser evacuado para o continente na sequência dos ferimentos que sofreu em Guidaje) e o malogrado Ludgero que aí viria a perder a vida como adiante explicarei; além destas viaturas tínhamos ainda destinadas ao serviço exterior ao quartel três Unimog que nos acompanhavam nas constantes colunas e que eram conduzidos pelos camaradas Milheiro, Vieira e Carrasqueira. Esta era a composição da equipa que no primeiro ano circulou pelas picadas do setor de Farim, no interior do quartel com outras atribuições tínhamos os restantes elementos que faziam parte do Pelotão Auto.

Aqui nesta foto com os camaradas Milheiro ao centro, e o Ribeiro.

Nesta foto dando a minha ajuda aos camaradas mecânicos. Reconhecem-se ao meu lado o estofador, no chão à direita: o Milheiro, Piedade e o Carrasqueira, à esquerda o Oliveira e o nosso camarada guineense de quem não recordo o nome.

O trabalho a que estávamos sujeitos nunca tinha fim, todos os dias estávamos em movimento, eram o transporte do Pelotão de Sapadores, ou dos grupos de combate para patrulhamentos, colunas de reabastecimento de víveres e munições, ao K3 (onde havia que atravessar na antiga jangada onde era preciso ter alguma perícia para não cair ao rio, que mais tarde, durante a nossa comissão veio a ser substituída por outra mais moderna e essa sim não havia que manobrar entrava-se por um lado e saía-se pelo outro)

Esta foi a velha jangada que encontramos em Farim 

Imagem daquela que foi a segunda jangada 

Colunas a Binta, Jumbembém ou Cuntima, estas quase sempre premiadas no regresso com o transporte de vacas para Farim com o inconveniente da sempre obrigatória lavagem da viatura no final da viagens, quase sempre compensadas com cinquenta pesos dados pelo proprietário das vacas e que sempre ajudavam a refrescar a garganta.

Fazíamos ainda o transporte de cibes da mata para o cais junto ao rio, para depois seguirem nos batelões para outros destinos, (a psícola como lhes chamávamos), onde com a segurança de um pequeno grupo de milícias nos embrenhávamos pelas matas onde creio que o PAIGC só não nos apanhava porque simplesmente não estavam interessados em tal.

Depois de mais um transporte de cibes uma pequena pausa 

Antes da partida para mais uma coluna. Um camarada Alf Mil que não estava previsto ficar na foto, cujo nome não consigo lembrar.

Isto para além da prevenção para transporte de reforços aos postos avançados na periferia do quartel de Farim, serviço esse que fazíamos sempre que o mesmo era flagelado com foguetões e não havia que hesitar, quem estava de serviço avançava com a sua viatura em plena chuva dos ditos, conduzindo e olhando para o céu pensando que talvez não nos acertassem, era tudo uma questão de sorte e lá procedíamos à distribuição dos camaradas pelos sucessivos postos.

A propósito desses postos avançados, acrescento aqui que apenas me tocou em todo o tempo de tropa fazer dois reforços de arma na mão, uma vez que aos condutores estavam confiadas outras missões e foi logo na primeira ou segunda semana de sobreposição com a camaradagem que fomos render, foram os dois no posto conhecido pelo da bolanha do lado da saída para Binta, tinha junto a ele uma árvore de grande porte, que estava infestada de morcegos e durante a noite era um chilrear que incomodava bastante quem não estava habituado a tal festim.

O posto era considerado o mais perigoso, onde de vez em quando lá suavam umas rajadas, mas normalmente o que lá surgia não era o IN já que este flagelava-nos sempre à distancia com os célebres foguetões que sentíamos o som logo que eram disparados para de seguida voltar a infiltrar-se no Senegal, eram antes as vacas que a população levava a pastorear durante o dia para fora do arame farpado e depois ao recolher ficava uma ou outra para trás e em plena noite quando tocavam nos arames não havia que perguntar quem vinha lá, e nos dias seguintes sempre havia uns estilhaços para misturar ao arroz que nos era servido diariamente meses a fio, com exceção das messes de oficiais e sargentos onde o tratamento era normalmente diferente para melhor.

Fui despejado no dito posto e tocou-me fazer a vigilância com dois camaradas em fim de comissão, os chamados velhinhos que trataram de me colocar nas piores horas avisando-me dos perigos que poderíamos correr, eu como podem imaginar passei ali um mau bocado, mas quando foi a vez de eles estarem de vigília eu continuei sem pregar olho e apercebi-me que pela sua descontração e até pelo seu ressonar não deveria haver ali tanto perigo como me quiseram fazer crer, enfim eram as partidas que de boa-fé pregávamos uns aos outros.

Desde o início que sempre ouve um excelente relacionamento entre nós condutores, estabelecemos com a anuência dos nossos superiores desde o início, que faríamos uma rotação em todas as circunstâncias, nas colunas da nossa Companhia, cada vez tocava a um de nós ir e regressar na frente, em Farim não utilizávamos rebenta minas ou seja o estrado da cabine da viatura repleta de sacos de areia, se a coluna era de uma das outras Companhias do Batalhão e se na mesma era incorporada uma nossa viatura para reforço desta, como o regresso só se fazia quando houvesse nova coluna, o processo era idêntico de cada vez tocava a um a permanência nesses destacamentos.

Passei alguns desses períodos em Jumbembém sede da 2.ª Companhia onde fiz algumas colunas a Canjambari integrado nas colunas dessa Unidade, guardo até na memória um pequeno episódio que se passou na pequena caserna dos condutores onde eu estava hospedado, a camaradagem e a boa amizade arranjavam sempre espaço para mais um amigo.

Com a porta aberta aparece-nos por ali um solitário cabrito, depois de darmos as boas vindas ao intruso, nas quais eu também colaborei, os preparativos para o banquete correram bem, o petisco ainda melhor, o problema surgiu quando pelo facto de a terra estar muito dura, alguém teve a ideia de pedir ao padeiro que de madrugada ao acender o forno queimasse o que sobrava do bicharoco e entre os despojos estavam uns chifres já bem grandotes, devem imaginar o cheiro que ficou a pairar por todo o destacamento e o receio com que ficamos que se viesse a descobrir a origem deste, mas felizmente tudo acabou em bem.

Um momento de descontração com os camaradas Condutores. Ao meu lado o Vieira, Simão e o Espite.

A viatura pesada Berliet

Do mesmo modo passei algumas semanas intercaladas em Cuntima sede da 3.ª Companhia, é numa dessas estadias que me encontro quando rebenta o conflito de Guidaje.

Não posso precisar a data certa mas terá sido nos últimos dias de Abril de 73 que ao chegar a Farim com mais uma carga de cibes, estava nesse dia uma coluna da 3.ª Companhia quase pronta para partir e nela uma Berliet da CCS que era nada menos que a do nosso amigo Bombeiro, só que acontece que por rotação era eu que devia seguir nessa coluna e assim foi, trocamos de viatura e eu segui para Cuntima com a viatura dele e o amigo Bombeiro, ficou com a minha.

Em Farim no transporte de um GComb da CCaç 14 

Farim com um exemplar que se deixou apanhar

Tenho que aqui reconhecer que ele estava sempre pronto para seguir no lugar de um de nós, facto que eu nunca aceitei, é a minha vez sou eu que vou, da mesma forma que também nunca pretendi ir no lugar de ninguém.

No dia 8 de Maio é formada a 1ª coluna com destino a Guidaje e nesta vão duas Berliet da CCS conduzidas uma pelo Ribeiro e a outra pelo Bombeiro esta a que me estava distribuída, a terceira Berliet assim como o Unimog que compunham a coluna pertenciam à 1.ª CCAÇ Nema/Binta (estas foram as viaturas que acabaram destruídas pela nossa força aérea) os acontecimentos vividos nessa coluna tem sido aqui variadíssimas vezes descritos e eu não estive lá portanto apenas acrescento que os meus camaradas Ribeiro e o Bombeiro ficaram bastante afetados, o Bombeiro chegou mesmo a ser evacuado para Bissau, mas felizmente não tinha nada de grave, ambos na sequência dessa emboscada, do que ai sofreram estiveram vários dias sem voltar à atividade.

No dia 9 estava eu em Cuntima como já tinha referido e mesmo à distância que estávamos em relação ao local onde se deu a emboscada conseguimos ouvir o imenso estrondo que foi o bombardeamento das viaturas feito pela nossa aviação, não sabíamos o que se passava mas umas horas depois somos informados que íamos seguir de imediato para Nema.

Partimos de Cuntima, já escurecia, até Jumbembem não ouve picagem o então capitão da 3.ª CCAÇ deve ter pensado que o melhor seria preservar a sua viatura e então fui colocado na frente da pequena coluna que era composta apenas por duas Berliet, a que eu conduzia e uma pertencente à 3.ª CCAÇ cujo nome do condutor que a conduziu já não consigo recordar. Como não houve picagens avisei o pessoal para se segurarem e prego a fundo, haja sorte, eu já tinha alguma experiência de circular nas picadas não me fiz rogado sempre que possível os rodados não iam dentro das rodeiras, iam por fora o que se conseguia fazer na época seca com alguma facilidade, passamos por Jumbembém sem paragem dai já tinham seguido também reforços com o mesmo destino, Ponte Lamel, uns minutos em Farim que deu para receber o correio que o meu amigo Simão me guardava nas minhas ausências e fomos pernoitar a Nema. No dia 10 quinta-feira ainda era madrugada dirigimo-nos para Binta e ai demos inicio aquela que viria a ser a 2.ª coluna de apoio a Guidaje e a primeira a romper o cerco.

Na cabeça da coluna ia a Berliet conduzida pelo malogrado Ludgero um pouco mais atrás seguia o Pontes e salvo erro em 5-º ou 6-º ia eu conduzindo a Berliet na qual ia instalada a Secção do Pelotão de Morteiros 4274, já tenho lido alguns excertos de camaradas que pertenceram a esta Unidade, pois para que se recordem fui eu que conduzi a viatura que os transportou naquela difícil viagem ao inferno de Guidaje e que felizmente para mim e para eles teve regresso, o que desafortunadamente não sucedeu com outros nossos camaradas. A descrição do que vivemos durante a viagem também já tem sido vastas vezes relatada daí que apenas foco algumas passagens tais como a nossa passagem muito próxima do que restava das viaturas semidestruídas da 1.ª coluna, os corpos dos camaradas que ali perderam a vida, os abatizes atravessados na picada, o saltarmos constantemente para o chão para que os Fiat procedessem ao bombardeamento na nossa frente.

O infortunado 1.º Cabo Comando que saltou do Unimog para o chão, acionando a mina que lhe decepou o pé, o que sucedeu na minha frente e que infelizmente presenciei, é mais um dos tristes episódios que nunca mais esquecerei, o malogrado camarada da 3.ª Companhia que aciona a mina já no Cufeu e que perde ali a vida, o matraquear dos confrontos entre as CCAÇ 3 e CCAÇ 19 com os elementos do PAIGC, o passarmos junto aos vários corpos tombados junto à picada e finalmente a chegada a Guidaje.

Na minha primeira noite sem me aperceber do perigo que corria não me lembrei de outro local para tentar descansar que não fosse o estrado da Berliet, nessa noite fomos bombardeados e entre o rebentamento das granadas do IN e o som das nossa respostas quer pelos obuses quer pelos morteiros que se confundiam, eu lá sobrevivi sem pregar olho mas sem me aperceber do verdadeiro perigo a que tinha estado exposto, o que vim aperceber-me na manhã seguinte as granadas tinha caído perto, havia até algumas viaturas com estragos, uma delas com o radiador furado pelos estilhaços, durante o dia sexta-feira 11 e depois de sabermos que não podíamos regressar sem que chegassem reforços para assegurar que a população não abandonava a povoação, havia que procurar outro local para passar a noite.

Então juntei-me ao pessoal dos morteiros e por ali fiquei. Mais fogachal durante a noite com a nossa resposta sempre pronta e lá chegamos a sábado. Nos dias em que lá permanecemos não comi qualquer alimento confecionado no interior do quartel, penso até que a cozinha nem funcionou, mas se lá cozinharam algo nesse período a mim não me tocou nada, enfim fomos mordiscando alguma coisa das rações que tínhamos levado, o desânimo era tal, nuns mais que noutros, que muitos de nós comentavam que não sairíamos dali vivos e um deles eu nunca mais vou esquecer, foram talvez das últimas palavras que ouvi prenunciar ao nosso infeliz camarada Ludgero, que teve a fatalidade de encontrar ali a morte, recordo-me de lhe ter dito para não pensar nisso e que haveria de aparecer uma solução, e finalmente ela surgiu, quando vimos aparecer no sábado à tarde uma coluna com duas viaturas, uma Berliet da 1.ª Companhia conduzida pelo camarada Chaves e um Unimog da CCS pelo camarada Milheiro, ladeadas pelos Fuzileiros que conseguiram fazer essa coluna sem terem qualquer contacto com o IN.

Aproximou-se a noite e começamos cada um a instalar-se para passar mais uma noite de tormento agora um pouco mais animados porque no dia seguinte partiríamos de regresso. O quartel estava circundado por valas em ziguezague, o pessoal instalou-se por ali como pôde, mas eu já havia detectado que por trás do edifício salvo erro do refeitório, havia uma pequena trincheira que não teria mais que uns 50 a 60 centímetros de largura que deu em tempos acesso a um abrigo já desativado, a vala estava repleta de ervas, houve que amassá-las com as botas e ao mesmo tempo também eliminar algumas das muitas formigas que ali estavam instaladas. Chamei para junto de mim o camarada recém-chegado, o amigo Milheiro, que de início pensou em juntar-se na vala principal aos nossos camaradas condutores Pontes e Ludgero que tinham a seu lado o Soldado Comando José Raimundo e o Soldado Condutor do CAOP, David Viegas, que infelizmente ali viriam a encontrar a morte e muitos outros de outras Unidades já que a densidade era tal que pouco espaço sobrava.

O local onde os camaradas estavam não distava em linha reta do nosso mais que uns 3 a 4 metros, depois de já estarmos instalados ainda com a ajuda do meu companheiro de quarto, fomos buscar um capô de uma GMC que por ali estava abandonado e que nos iria proteger do cacimbo da noite.

Foi quando já todos estávamos quase em silêncio, por volta das nove da noite, que o IN inicia mais um bombardeamento, por fatalidade a primeira granada de morteiro acerta no bordo da vala, precisamente onde estavam os nossos camaradas condutores, após o primeiro rebentamento ouvem-se gemidos de dor, de imediato salto da vala e vou em auxilio dos feridos juntamente com o Milheiro logo seguido por outros camaradas, o primeiro que ajudo a retirar é o Pontes que chora e geme com as dores provocadas pela quantidade de estilhaços que lhe penetraram no corpo e que infelizmente viverá com alguns deles o resto da vida, de seguida tento levantar o Ludgero mas este já não tem reação, o mesmo se passa com os outros dois camaradas o José Raimundo e o David Viegas que tiveram morte imediata.

Ajudei a transportar o Pontes para a enfermaria, outros camaradas transportaram os restantes feridos, incluindo o Ludgero que vim a saber depois que chegou à enfermaria ainda com vida mas veio a falecer na madrugada do dia 13, domingo, dia do nosso regresso.

Finalmente havia condições para sairmos dali para fora, ao organizarmos a coluna para a partida surgiu um problema a viatura da cabeça da coluna, não tinha condutor pois infelizmente o mesmo tinha falecido

A ânsia de sair dali para fora era enorme havia que resolver o problema da viatura que não tinha condutor, fui eu que tomei a iniciativa uma vez que o condutor pertencia à CCS portanto à minha Companhia, fui falar com o nosso Oficial de Operações, o Capitão Beato, e a pergunta foi: Quem é que vês que pode conduzir essa viatura? Então lembrei-me que na coluna de Cuntima tinha vindo connosco um Mecânico da 3.ª Companhia e dei essa informação ao Capitão e este incumbiu-me de transmitir essa ordem, o que fiz.

Fui procurar esse camarada que não me recordo o nome e transmiti-lhe a ordem: Levas a viatura do falecido Ludgero. Foi um choque tremendo para alguém que não estava habituado, e logo na frente da coluna. O tempo passava e eu insistia com o improvisado condutor para que alinhasse a viatura para que se formasse a coluna seguindo as ordens do Capitão Beato, mas o nosso camarada nunca mais se dispunha a alinhar a viatura junto a porta de saída.

É então que eu tomo uma decisão, salto para cima da viatura e arranco com ela em direção à saída, ao mesmo tempo sem me aperceber começamos a receber mais umas morteiradas. Vi de facto gente a correr por todo o lado mas não parei, a pressa de sair daquele inferno para fora era mais forte que tudo o mais, confesso que não o fiz por valentia ou com alguma ideia de heroísmo, tal como por espontaneidade socorri os camaradas nas véspera em pleno ataque sem me lembrar de mais nada, assim o fiz só com uma ideia vamos tentar sair daqui para fora, ato esse que acabou por ser reconhecido pelo Capitão Beato e pelo Comandante do Batalhão como consta na Ordem de Serviço n.º 257 de 23 de Novembro de 1973.

Finalmente lá saímos, mais um dia penoso debaixo de um sol ardente sem alimentos nem água, a viatura que seguia na frente parava frequentemente e para arrancar era a que a precedia que a empurrava, tal era o nervosismo do nosso camarada que a conduzia. Novamente a passagem juntos aos corpos ali tombados no dia 10 e mais à frente o que restava dos caídos no dia 9 com as imagens dos abutres que quem presenciou nunca mais consegue esquecer, e mais não acrescento pois a descrição da viagem de regresso também já aqui tem sido vastas vezes retratada e não me quero que tornar repetitivo.

Não consigo esquecer o quanto sofreram para além de nós os que vínhamos ativos, os camaradas que feridos suportaram essa viagem deitados nos estrados das Berliet, alguns deles ao lado dos companheiros já mortos, debaixo de um sol abrasador sem água para beber. Ao chegar a Binta, saltei da viatura e corri junto a uma das viaturas que transportavam os feridos e ao perguntar ao Pontes como é que ele estava, este bastante desidratado apenas prenunciava a palavra água, algo que eu também não tinha, são tristes passagens que nunca mais se esquecem.

Depois de três noites sem dormir e praticamente sem comer tenho por fim uma noite de descanso, dia 14, segunda-feira, pela meia tarde o nosso 1.º Sarg Carvalho do Pelotão Auto informa-me que no dia seguinte vou partir novamente para Guidaje. Nunca mais esquecerei as palavras que lhe dirigi, assim como lhe fiquei eternamente grato por ter compreendido a minha mais que justa razão para as ter proferido. Ao receber a notícia que voltava novamente para Guidaje eu pronunciei as seguintes palavras: Meu sargento, será possível não existir aqui em Farim mais ninguém que consiga conduzir uma Berliet a não ser eu? E o bom homem olhou para mim, compreendeu e disse-me: Vou ver o que posso fazer. Verdade é que no meu lugar foi um condutor africano pertencente à CCAÇ 14 que felizmente regressou são e salvo.

E foi com este pequeno episódio que durante 1973 eu não voltei a Guidaje, é verdade que trabalhei imenso nesse período porque a azáfama no sector era grande, ainda me tocou transportar elementos da 38.ª CComandos para Mansoa onde pernoitei uma ou duas noites. Não houve descanso, foi um período terrível para todos os que ali estivemos envolvidos, pois dos cinco Condutores das Berliet da CCS, durante o conflito de Guidaje cheguei a estar operacional apenas eu, o trabalho redobrou mas eu nunca virei a cara à luta e assim prossegui até aos princípios de Dezembro quando me acontece algo de inesperado.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. primeiro poste da série de 15 DE AGOSTO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10267: Tabanca Grande (354): Joaquim Cruz, ex-Soldado Condutor-Auto da CCS/BCAÇ 4512 (Farim, 1972/74)