sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11970: Convívios (525): 50 anos depois da partida para o CTIG, os camaradas da CART 494 reencontraram-se em Viana do Castelo, a 21 de Julho de 2013 (Coutinho e Lima)







1. Texto enviado pelo nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel na situação de Reforma (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 22 do corrente:

Convívio da CART 494, comemorativo dos 50 anos da partida para a Guiné

Conforme fora planeado, foi efectuado, em 21JUL13, o convívio comemorativo dos 50 anos da partida para a Guiné da CART 494.

- Às 10H30, no Castelo de Santiago da Barra, em Viana do Castelo, foi descerrada uma placa comemorativa da partida para a Guiné, em 16JUL63.

- Às 11H30 teve lugar uma missa, na Igreja Paroquial de Vila Fria, concelebrada pelos Padre Joaquim Soares (Padre do Batalhão de Caçadores 513- BCAC 513, ao qual pertencia a CART 494) e Padre Gaudêncio Gigante, Pároco da Freguesia de Vila Fria.

- Às 13H00 iniciou-se o almoço convívio, no Restaurante Camelo, em Santa Marta de Portuzelo.

Estiveram presentes cerca de 100 pessoas, incluindo os componentes da CART 494, seus familiares e amigos, bem como alguns convidados, dos quais se destacam:

- Coronel de Cavalaria, Castro Neves, que foi o Comandante (Tenente) do 1.º Pelotão de Reconhecimento Fox, que esteve de reforço à Companhia em Gadamael.

- Dr. Branquinho de Carvalho, que era o Médico do Batalhão e outros elementos do Comando do mesmo.

- Dr. Manuel Reis (era Alferes Miliciano, Comandante de Grupo de Combate da CCAV 8350 – Piratas de Guileje) e o Pinto Neves (especialista de Armas Pesadas da mesma Companhia).

- Pedro Silva, que foi o Comandante da CCAV 8352 (Caboxanque), Companhia que foi formada, tal como a CCAV 8350, no Regimento de Extremoz.

No final do almoço, na minha qualidade de Comandante da CART 494, proferi algumas palavras.
Comecei por pedir que fosse guardado um minuto de silêncio, em memória das 4 baixas da Companhia:

- Alferes Miliciano Manuel Tavares da Costa, morto em combate.

- Soldado Armando Barreiro de Amorim, que faleceu em consequência de ferimentos em combate.

- Soldado António, morto por afogamento, no rio, poucos dias depois de chegar a Gadamael.

- Caçador nativo Budi Jau, falecido em consequência de desastre em serviço.

Foi observado rigoroso silêncio, como não podia deixar de ser, contrariamente à modernice, do meu ponto de vista inadequada, de bater palmas, em situações idênticas.

As baixas da Companhia já tinham sido evocadas, durante a missa.

Depois de agradecer a presença de todos, especialmente dos convidados já indicados, li as seguintes mensagens:

- 1. Do Sr. Chefe de Gabinete do Sr. Presidente da C. M. de Viana do Castelo

Exmo. Sr. Coronel Alexandre Coutinho e Lima

Encarrega-me o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo de agradecer o amável convite em assunto e de informar que, por motivos de agenda, não poderá comparecer nem fazer-se representar.

Mais me encarrega o Sr. Presidente de felicitar V. Exª. e a CART 494 pela efeméride e desejar os maiores sucessos para o convívio.


- 2. Do Dr. Luís Graça (blog luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com)

Não vou poder aceitar o teu convite.

De qualquer modo, desde já um ótimo e fraternal encontro. Espero que depois nos mandes um textozinho e fotos do evento. 50 anos é obra...

Transmite as nossas calorosas saudações à tua rapaziada da CART 494 que, julgo, e tirando o teu nome, não temos cá nenhum representante da na tabanca Grande.

Vê se apadrinhas um “periquinho”, para engrossar as nossas fileiras!...


- 3. De José Filipe Fialho Barata (era o Oficial Sapador do BCAÇ 513)

Meu caro Coronel “Capitão” Alexandre Coutinho e Lima

Recebi e fiquei muito agradecido pela convocatória que teve a gentileza de me enviar para estar presente na vossa comemoração dos 50 anos de Guiné.

Com muita mágoa não poderei comparecer porque nessa altura estarei nos Açores onde irei passar com o meu filho os seus 45 anos.

Certamente que me dispensará dada a minha justificação.

Creia que lamento não poder ir dar-lhe pessoalmente um abraço pelo evento, mas tomo a liberdade de lhe enviar esta carta pedindo-lhe que a transmita a todos aqueles, muitos certamente, que vão estar presentes.

Tenho por certo que esse almoço será um espaço de franca, alegre e grande camaradagem que a sua presença sempre proporciona.

Renovando os meus agradecimentos abraça-o com muita amizade.

Barata (sapador)


- 4. Do Dr. Julião Soares Sousa, do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20) da Universidade de Coimbra

Mensagem
Aos amigos da CART 494 reunidos em Viana do Castelo

Prezados

Comemoram-se hoje os 50 anos de partida da CART 494 para a Guiné. 50 anos é muito tempo na vida de um ser humano, mas na história dos países e das nações e pela importância que os acontecimentos por vezes assumem na vida desses mesmos países e nações meio século é uma gota de água no oceano do tempo. Na altura do tal sucesso estavam ainda na flor da idade, como sói dizer-se. Na idade dos sonhos e das utopias. Contudo, por força das circunstâncias quis o destino que deixassem as vossas famílias e o vosso torrão natal, arriscando esses melhores anos das vossas vidas e da vossa juventude em busca de outros sonhos, de outras esperanças e de outras utopias.
Neste momento em que rememoram esses anos problemáticos e já longínquos queria (se acaso me permitirem) lembrar-vos simplesmente que a Guiné-Bissau continua à espera dos seus amigos, do vosso apoio, da vossa solidariedade e da vossa amizade para sair da situação em que se encontra. Estou convencido de que enquanto tiverem forças para isso não deixarão de colocar o vosso coração aberto e grande amor que sei muitos de vós nutrem por aquela terra ao serviço do bem-estar, progresso e felicidade dos vossos irmãos guineenses. Esta é talvez a mensagem que gostaria de partilhar convosco neste dia se eventualmente pudesse estar fisicamente nesse encontro de Viana do Castelo. Saúdo a todos e a cada um de vós com um abraço de profunda amizade e cheio de esperança de que este dia sirva também como um dia de reflexão sobre a melhor maneira de continuarem a manter estreitas ligações com a Guiné. Ao Coronel Coutinho e Lima o abraço de sempre, pela amizade que me tem dispensado desde que nos cruzamos em Bissau, aquando do Colóquio Internacional sobre Guiledje, já lá vão cinco anos. Ainda hoje a forma como a população de Guiledje o recebeu e homenageou, quando visitamos o aquartelamento em ruínas, continua a interpelar a minha consciência, numa demonstração inequívoca de que a guerra também tem, por vezes, surpreendentemente, uma componente humana e de reconhecimento que ultrapassa a compreensão humana. Fui, felizmente, testemunha deste grande acontecimento que muito me comoveu e ainda comove. A todos as minhas saudações tropicais.

Coimbra, 21 de Julho de 2013 
 Julião Soares Sousa


Foi também feita referência a outros convites enviados aos quais responderam, lamentando não poder comparecer. Alguns, poucos, nem sequer se dignaram responder, o que se regista.

 Relativamente à Comunicação Social, importa realçar, pela positiva, a única colaboração do jornal AURORA DO LIMA, de Viana do Castelo que, na sua edição de 11de Julho de 2013, publicou o programa que lhe tinha sido enviado, bem como um artigo do Sr. Brito Felgueiras, correspondente do jornal em Vila Fria. Na pessoa do seu Director, aqui fica o nosso agradecimento.

No final, foram recordados vários aspectos da vida da CART 494, a começar pela “má notícia”, recebida no Castelo de Santiago da Barra, após a cerimónia de entrega do guião e subsequente desfile. Por informação telefónica, foi-me comunicado que o nosso destino era a Guiné e não Moçambique, como me tinha sido indicado anteriormente.

Também o desembarque em Bissau, em 24JUL63, tendo sido postos à nossa disposição, como alojamento, para Oficiais, Sargentos e Praças, 2 barracões da Alfândega, junto ao Rio Geba; para dormir, foram-nos fornecidos uns colchões de espuma e nada mais. Acrescenta-se que embarcamos sem armas e em Bissau não existia armamento para nos ser distribuído; só viemos a receber as armas individuais de uma Companhia que regressou no barco que nos levara. Ironizando um pouco, parecia que éramos protagonistas de “uma guerra do Solnado”, só que esta guerra não era fictícia, mas sim verdadeira, como tivemos a confirmação, pouco tempo depois.

Foi também recordada a viagem, de barco, para Ganjola (norte de Catió), nosso primeiro destino, o baptismo de fogo em 17SET63, dia de chegada, (às 16h30), a nossa permanência até DEZ desse ano de 1963, viagem para Gadamael, estadia nesta localidade, ida para Bissau em MAI65 e regresso em Agosto de 1965

Tudo isso será relatado num livro que já comecei a escrever e que terá como título AS MINHAS 3 COMISSÕES, POR IMPOSIÇÂO, NA GUINÈ. Oferecerei um exemplar deste livro, a cada elemento da CART 494.

Terminou em ambiente de festa mais este salutar convívio, este ano devidamente assinalado, por terem passado 50 anos da nossa partida para a Guiné.

Em 2015, faremos uma comemoração semelhante, por altura dos 50 anos de chegada da CART 494, no antigo Regimento de Artilharia Pesada nº. 2, na Serra do Pilar, nossa Unidade mobilizadora.

Coronel Alexandre Coutinho e Lima
(Comandante da CART 494 – Guiné 63/65)
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Nota do editor:

Último poste da série de 12 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11932: Convívios (524): 5.º Encontro dos Ex-Combatentes do Seixal, Lourinhã, participantes na Guerra Colonial: 18 de agosto de 2013 > Programa e convite

Guiné 63/74 - P11969: Notas de leitura (513): "Misiones en Conflicto, La Habana, Washington y África, 1959-1976", por Piero Gleijeses (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Maio de 2013:

Queridos amigos,
Trata-se de uma obra fundamental para conhecer o que foi a participação dos cubanos ao lado do PAIGC.
O encontro entre Che Guevara e Cabral, em Conacri, terá sido determinante, numa primeira fase. Depois, quando Cabral participou na Conferência Tricontinental, em Havana, Fidel ficou impressionado pela sua ideologia e determinação. 1966 é o ano que marca a presença de cubanos a formar artilheiros, como médicos, como consultores. Será assim até à independência efetiva.
Para os cubanos, foi o seu maior êxito em África. E os comandantes do PAIGC nunca esqueceram esta colaboração.

Um abraço do
Mário


Os cubanos na Guiné (1)

Beja Santos

“Misiones en Conflicto, La Habana, Washington y África, 1959-1976”, por Piero Gleijeses, Editorial de Ciencias Sociales, La Habana, 2007, é o livro indispensável para conhecer a natureza da participação dos cubanos na luta armada da Guiné. Piero Gleijeses é um prestigiado investigador de origem italiana, professor nos Estados Unidos, que durante anos procedeu a uma minuciosa pesquisa nos arquivos e entrevistou pessoalmente centenas de participantes em diversos conflitos africanos onde houve intervenção cubana. Em Janeiro de 1967, Fidalgo Castro não escondia o seu pessimismo sobre as questões africanas. A única exceção era o PAIGC, e este ponto de vista coincidia com as informações que a diplomacia norte-americana transmitia para Washington (que o PAIGC era o movimento de libertação nacional mais bem-sucedido de África). Para um movimento revolucionário cubano, a Guiné tornara-se na sua prioridade estratégica em África.

O professor Gleijeses procura caraterizar Cabral. O líder do PAIGC era admirado pela maneira como tinha desenvolvido a mobilização política e sabido estabelecer novas estruturas políticas nas zonas libertadas. Era respeitado por toda a gente. Os seus estudiosos mais próximos não ignoravam a sua influência marxista, mas reconheciam que ele não era marxista. E cita-se um dos seus principais biógrafos, Patrick Chabal: “Chegou a ver o marxismo como uma metodologia e não como uma ideologia. Se considerava útil para analisar a sociedade guineense, servia-se dele. Quando o método era insatisfatório, abandonava-o sem hesitação”. De igual modo, os cubanos sabiam que ele não era comunista, definiam-no como um líder progressista com ideias muito avançadas e uma grande clareza sobre os problemas africanos. Além disso, era considerado um grande comandante e tático militar, as suas decisões eram acatadas e ele sentia-se diretamente responsável pela coordenação das operações. Aprendeu muito com o desaire de Novembro de 1966, os líderes do PAIGC julgavam que iam tomar Madina do Boé e tiveram um enorme fracasso, Cabral aprendeu a lição, adotando a técnica do desgaste e do confinamento das unidades militares portuguesas dentro do arame farpado.

Os primeiros contactos do PAIGC com Cuba datam de 1963, cinco membros do PAIGC receberam bolsas e foram Cuba em 1964. Che Guevara esteve em África três meses, em 1964, foi então que se consolidou o vínculo com o PAIGC. Che reuniu-se em Conacri com Cabral, em 12 de Janeiro de 1965. Começaram a chegar armas e medicamentos a partir de Maio. Em Julho desse ano, um punhado de cabo-verdianos que havia estudado na Europa, partiu de Argel para Havana para receber treino militar. Em Janeiro de 1966, Cabral fez a sua primeira viagem a Cuba, participou na Conferência Tricontinental. Os serviços secretos norte-americanos consideraram que foi o mais influente dos participantes africanos e que tinha causado uma boa impressão nos anfitriões. Fidel e Cabral encontraram-se em privado, acompanhados de Oscar Oramas. Cabral pediu insistentemente artilharia e instrutores, Fidel compreendeu que também necessitavam de médicos e meios de transporte mais eficazes. Após estas conversações, Fidel convidou Cabral para uma viagem que durou três dias em Cuba. Cabral pediu igualmente que fosse nomeado um novo embaixador para Conacri que servisse de ligação com o PAIGC, e Fidel nomeou Oscar Oramas.

É partir daí que começa o fornecimento de bens muito apreciados: tabaco, peças de algodão, açúcar, uniformes, camiões com peças de substituição, munições. Em Março de 1966, Oramas entrega a Sékou Touré uma mensagem de Fidel informando-o que Cuba tinha decidido dar uma ajuda ao PAIGC importante e pedia a melhor colaboração de Conacri.

Dois artilheiros e três médicos chegam a Conacri em 8 de Maio, a seguir vieram os técnicos cubanos. As promessas de Fidel a Amílcar começavam a ser cumpridas. Em pouco tempo, estavam 31 voluntários (11 especialistas em artilharia, 8 motoristas, 1 mecânico, 10 médicos) ao serviço do PAIGC coordenados por um oficial dos serviços secretos, o tenente Aurelio Ricard. Fidel tinha pedido voluntários de cor escura, para não dar nas vistas, data dessa altura a determinação de Cabral no uso da maior discrição na participação militar cubana, que será sempre omitida, mesmo quando, em 1969, o capitão Peralta for preso. Mas rapidamente os cubanos se tornaram notados em Conacri, a fumar os seus charutos.

A missão militar cubana destinada ao PAIGC tinha o seu quartel-general em Conacri. O relacionamento entre o PAIGC e Aurelio Ricard foi muito mau. Será substituído por Dreke, que tinha regressado do Zaire. Dreke virá a ser muito apreciado pelos comandantes do PAIGC.

Em Abril de 1967, havia quase 60 cubanos na Guiné. No ano seguinte, Schulz será substituído por Spínola, numa altura em que a situação militar se debilitava do lado português. O embaixador norte-americano em Dakar escrevia para os seus superiores: “Resta saber se a ajuda cubana será suficiente para conter a ofensiva portuguesa". Depois do insucesso parcial da invasão de Conacri, quando se agravou o isolamento diplomático português, Cabral pediu novas armas para os seus cerca de 7 mil soldados bem armados e treinados. Entretanto, o PAIGC ia-se convertendo num símbolo de orgulho que chegava aos afro-americanos, o partido das Panteras Negras quis mandar voluntários para a Guiné, o seu dirigente Stokely Carmichael viajou para Conacri, Cabral recebeu a proposta de apoio com imensa prudência. Depois Carmichael casou-se com Miriam Makeba e nunca mais se falou em apoios ao PAIGC.

Em que consistia a assistência militar cubana? É preciso ir atrás e recordar que o PAIGC não aceitava voluntários estrangeiros, ou melhor, e dito por Cabral em várias entrevistas, só aceitariam assessores militares, e nada mais, considerava que os voluntários iam roubar aos guerrilheiros a grande oportunidade de se afirmarem perante a história. Ora os cubanos chegaram a Conacri a pedido de Cabral. A luta armada, na ótica de Cabral, era o melhor remédio para ultrapassar as questões étnicas, mas cedo reconheceu que necessitava de especialistas sobretudo para as armas de longo alcance. Cabral limitou a participação estrangeira de duas maneiras: primeiro, só aceitou os cubanos, eles foram os únicos estrangeiros que combateram na Guiné, com a exceção de médicos, um vietnamita e um outro panamiano; segundo, reduziu a intervenção cubana a questões essenciais, recusou sempre a vinda de centenas de militares cubanos para os ajudar a atacar os quartéis portugueses.

Com o evoluir da guerra, o armamento sofisticado requeria artilheiros que soubessem fazer cálculos. Os cubanos eram também especialistas na colocação de minas e no uso de armas de infantaria mais sofisticadas. Os cubanos estiveram preparados para fazer rebentar a ponte de Ensalmá, Cabral reconsiderou e disse que não, não queria ver destruída uma ponte que viesse a exigir novas construções, ele queria no futuro uma cooperação para outras áreas e por isso recuou quanto à destruição de infraestruturas essenciais.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11954: Notas de leitura (512): Uma Breve História de África, por Gordon Kerr (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11968: Conversas à mesa com camaradas ausentes - Estórias da História da Guerra Colonial – Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (4): Da adaptação ao Xitole, até ao baptismo de fogo

1. Quarto episódio da série "Conversas à mesa com camaradas ausentes", pelo nosso camarada José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72:

A todos os ex-combatentes da Guiné
Só peço ao meu futuro que respeite o meu passado

No baú das memórias de cada um de nós existem inúmeras “Estórias da Guerra” por contar.
O convívio semanal na Tabanca de Matosinhos e o nascimento da ONG Tabanca Pequena-Amigos da Guiné a que me honro pertencer, despertaram-me para o desafio de retirar do baú as minhas “estórias da guerra”. Para ultrapassar a minha manifesta falta de jeito para a escrita, socorro-me de um método narrativo baseado na descrição cronológica de episódios, a que chamarei “Conversas à mesa com camaradas ausentes”. Do outro lado da mesa estará sentada a esperança de encontrar alguém que se reveja nas “estórias” relatadas e sinta a emoção do reencontro com realidades da nossa vivência na Guiné.


CONVERSAS À MESA COM CAMARADAS AUSENTES

ESTÓRIAS DA HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL - GUINÉ-BISSAU

4 - DA ADAPTAÇÃO AO XITOLE ATÉ AO BAPTISMO DE FOGO

Ainda mal refeitos das primeiras impressões, fomos literalmente “abafados” pelos velhinhos que íamos render, na ânsia de encontrarem entre nós alguém conhecido. Uns e outros, por diferentes razões, tínhamos rajadas de perguntas prontas a disparar.
Como é isto aqui? Quantas baixas tiveram? Quantas vezes foram atacados... e tantas e tantas perguntas para conseguirmos obter alguma acalmia na nossa inquietude.

E os velhinhos disparavam.
- Queres que te arranje uma “lavadeira”?
- De onde vens tu?
- É pá és de Matosinhos? Eu sou de lá perto, sou da Maia e conheço bem a tua terra.

Impelidos por emoções e sentimentos que as circunstâncias ditaram, formamos uma massa humana cuja convivência diária se repartia entre a carinhosa ajuda vinda dos velhinhos e o respeito, e quase admiração, com que os tratávamos. Singular era a forma como os velhinhos se referiam ao tempo que ainda lhes faltava cumprir para acabarem a comissão. Seriam uns quantos dias, horas e minutos e, como estavam felizes por estarem tão perto do fim dos cerca de dois anos de pesadelos.

Vasculhamos o aquartelamento para conhecermos os cantos da casa.
- Olha, ali é a cozinha, olha ali um abrigo e mais outro e outro, olha ali è o depósito de géneros e ali o paiol das munições.
- Olha ali a messe dos Sargentos, o Posto das Transmissões e do outro lado a casa do Chefe de Posto.
- Olha a pista para aviões ligeiros, a placa para os helicópteros e o indispensável campo de futebol,
- Olha aqui é a messe dos oficiais e o quarto do Comandante da Companhia e olha ali ao centro a nossa Capelinha de costas para o bar dos Soldados, e mais para ali fica o Posto de Socorros e a Oficina Mecânica.

Se a tudo isto, juntarmos as valas e os abrigos das armas pesadas, ficamos com um cenário digno de um qualquer Apocalypse Now.

A partilha do mesmo espaço físico por duas companhias implicou o desconforto na acomodação em tendas, alimentação a ração de combate e, por outro lado, saídas conjuntas às tabancas e aos patrulhamentos às zonas envolventes.

Quantos de nós sabiam o que era a Coca-Cola, a Fanta, a Seven-Up? E quantos teriam tido acesso a Whisky, Gin, Vodka, etc.?
Era um mundo de coisas novas, quase irreais, e a guerra ainda não tinha chegado.
Ainda na companhia dos velhinhos fomos iniciados no relacionamento com as populações locais, nomeadamente nas tabancas de Cambessê, Sinchã Madiu, Tangali e Gunti, em que começamos a privar com os Homens e Mulheres Grandes dessas aldeias e em particular na aproximação às “bajudas”.

Até que o dia da partida dos velhinhos chegou.
Uma agitação febril, em que viaturas se misturavam com civis e militares. Com o aproximar da hora, choviam os abraços e os votos sentidos de boa sorte que novos e velhinhos mutuamente trocavam. Ficamos sós, entregues à nossa sorte e aos imponderáveis do nosso futuro próximo.

Os postes que suportavam e garantiam a iluminação dos contornos físicos do aquartelamento, limitavam a área da nossa “Casa”. Tínhamos agora uma percepção do nosso refúgio de segurança. Marcante para um novato que vem duma cidade é a sensação de que, à noite, para além das luzes do quartel, só existe o domínio do escuro profundo da África, tão escuro como nenhum outro até aí sentido.

Aos sons do “silêncio” da noite juntam-se amiúde, tão longe e tão perto, os estouros do despejar de armas pesadas. É a noite sedenta de morte e o afugentar dos nossos fantasmas.

Estávamos por estas alturas no início da época das chuvas.
Eram, a imensa quantidade daqueles enormes morcegos, quase nuvens, que ao fim da tarde toldavam a luz do dia, eram os insectos que rodopiavam numa incessante dança em volta das lâmpadas da iluminação do quartel, eram os pequenos tornados que, levantando poeira e folhagens, anunciavam a proximidade das bátegas de chuva, eram as violentas e assustadoras trovoadas que “rachavam” o horizonte numa demonstração de beleza e poder da Natureza, eram os mangueiros e cajueiros carregados de fruta madura mas que ainda não haviam conquistado o nosso paladar, eram as terríveis formigas e abelhas de tão má memória, era enfim a lenta descoberta dos segredos que a África nos escondia.

Como foi chocante e dolorosa a noite em que tombou o nosso camarada no seu posto de sentinela. Enquanto a maioria do pessoal se divertia, assistindo a um filme projectado no grande depósito de géneros e protagonizado pela actriz espanhola Sarita Montiel, o Sargento de dia na sua ronda pelos postos, apercebeu-se de que algo de anormal se passaria com a sentinela junto da Casa do Chefe de Posto.

Dado o alarme, a equipa de Enfermagem tentou, até à exaustão, todas as manobras de reanimação ao camarada prostrado no chão e que não dava sinais de vida. Foram infrutíferas todas as tentativas realizadas. Perdemos o nosso primeiro camarada, e não conseguimos evitar um sentimento de sofrida impotência por não lhe podermos valer. Era a primeira lição da vida para esta dura e amarga realidade que nos cerca, que é a brutalidade da morte. Havendo dúvidas sobre a causa do falecimento, foi destacado de Bissau um médico para se proceder à autópsia do cadáver do nosso camarada.

Lembram-se camaradas? Foi no topo da pista, resguardados dos olhares pela colocação de viaturas e, seguindo as indicações do médico, executamos pela primeira vez na vida essa difícil e arrepiante tarefa.

Após termos terminado o nosso trabalho, o médico concluiu que o nosso camarada caíra fulminado por um ataque cardíaco e, teve o cuidado de nos mostrar a lesão causadora da morte. Este era o enredo do filme que estávamos a viver, porque o outro já não foi projectado até ao FIM.
Assim se ia adquirindo a carapaça que nos tornaria mais experientes e capazes de enfrentarmos as dificuldades que iríamos inevitavelmente encontrar.

E a vida continuava, cada um carregando o fardo onde continuavam a caber todos os sonhos e esperanças. A malária atingia já um número significativo de camaradas e constituía uma grande preocupação para o pessoal do Serviço de Saúde e para o Comando da Companhia.
Segundo informações que nos chegaram de Bissau, a percentagem de pessoal com baixa devido à malária era, naquela época, a mais elevada em toda a Guiné. O apoio na assistência sanitária às populações das tabancas mais afastadas era, para o pessoal de Enfermagem, uma oportunidade de conhecimento das realidades culturais e humanas daquelas gentes simples e acolhedoras, a quem nos ligamos irremediavelmente para toda a vida.

Continuaram os patrulhamentos no mato circundante para se garantir o domínio da zona. As idas às proximidades de Seco Braima, zona de confluência do rio Pulon com o rio Corubal, apesar de regulares, eram motivo de muita preocupação, porque não raras vezes se assistiam a movimentos de agricultores do PAIGC nas bolanhas para além das margens do Pulon. As repetidas sortidas a essa zona, sem registo de qualquer confronto, criaram uma falsa e perigosa sensação de segurança. Até que o inevitável aconteceu.

No regresso de mais uma patrulha às proximidades de Seco Braima e, quando 1.º GRCOMB, por se encontrar muito próximo do Xitole aligeirou os procedimentos de segurança, surgiu uma gazela que em fuga se cruzou com o pelotão.
Um dos camaradas, dando-se ares de caçador, levanta a arma e faz um disparo. Foi uma atitude que, pelos insondáveis percursos do destino, salvaria alguns dos nossos.
Os nossos camaradas, ao disparo, procuraram protecção nas árvores e nos baga-baga.

Nas proximidades estava emboscado um grupo do PAIGC que interpretou o disparo como um sinal de que haviam sido detectados e, mesmo reagindo de imediato e intensamente, encontraram os nossos camaradas fora da zona de morte e protegidos.

A resposta pronta ao fogo do inimigo e o apoio do pelotão dos morteiros do Xitole que bateu a zona, obrigaram o PAIGC a retirar, deixando no local rastos de sangue.

Foi o nosso BAPTISMO de fogo... felizmente sem qualquer consequência para o nosso pessoal, para além das bocas secas provocadas pela elevada tensão do momento.

E como num conto infantil, “A gazelinha salvou os meninos”.

O PAIGC veio testar a nossa capacidade de resposta e, se possível, marcar negativamente o inicio da nossa Comissão com as consequências que traria ao moral da Companhia.
E assim, tivemos a primeira aula prática do curso “VAIS VER COMO ELAS TE MORDEM”


Apoio sanitário às tabancas

Com Galé Djaló, auxiliar da equipa de saúde

Vista da zona central do Xitole

Chegada do helicóptero com o correio ou algo mais

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11945: Conversas à mesa com camaradas ausentes - Estórias da História da Guerra Colonial – Guiné Bissau (José Martins Rodrigues) (3): Da chegada a Bissau ao aquartelamento no Xitole

Guiné 63/74 - P11967: Parabéns a você (615): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil do CIC (Angola, 1969/71) e J.L. Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11961: Parabéns a você (614): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11966: Memórias de um passado (Joaquim Cardoso) (1): O começo foi assim

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Cardoso (ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74), com data de 12 de Agosto de 2013:

Camaradas e Amigos
Envio este texto que considero ser a primeira parte das memórias que guardo da passagem pela vida militar, do Continente à Guiné.
A sua publicação dependerá dos meus amigos em considerar ter ou não algum interesse para a causa da Tabanca, na certeza de que, ao escrevê-lo, para me envaidecer ou a alguém influenciar, haja posto aqui mais do que vi, senti e imaginei.
Joaquim Cardoso


MEMÓRIAS DE UM PASSADO

1 - O COMEÇO FOI ASSIM: 

Antes de seguir para o Ultramar, no Continente passei pelas seguintes Unidades:
- GACA 3 em Espinho: Recruta - Outubro de 1971.
- BC 5 em Campolide: Especialidade de Transmissões - Janeiro de 1972.

Terminada a Especialidade, em Março desse ano, segui para o CIOE em Lamego onde fiquei colocado, passando a desempenhar serviço na Secretaria de Mobilização.

O tempo foi decorrendo com normalidade, até que em princípio do mês de Agosto chegou o momento esperado, mas jamais desejado.
Estando afeto ao citado serviço, ao abrir-se o correio, um dos envelopes continha um dossiê que me dizia respeito!
Tratava-se da minha mobilização para o Ultramar que, não sendo agradável, tinha a agravante de ser para a Guiné, de onde tão más notícias chegavam a respeito da guerra.

Foi um choque!
Depois de receber algum conforto dos companheiros mais próximos, cerca de três ou quatro dias depois segui para o R15 em Tomar, (U. Mobilizadora) e à chegada, deu-se um caso para mim bastante insólito.
Entreguei a guia de marcha na Secretaria e, quando esperava orientações para me juntar aos companheiros que faziam parte do Pelotão de Morteiros 4574/72, o militar que me atendeu, após consultar pastas no arquivo e trocar algumas impressões com outros militares ali em serviço, informou-me sem mais explicações, que o dito Pelotão,  de que eu iria fazer parte, já estava na Guiné há quase um mês, tendo, por esse motivo, de seguir "sozinho".

Fiquei desolado.
Perante esta situação, imaginei desde logo o que iria sentir sem a presença dos meus companheiros com quem pudesse aliviar a pressão do momento, e interrogava-me:
- Será que chegando ao destino, encontrarei alguém conhecido?
Seria bom, mas era uma incógnita.

Um dia depois de ter chegado ao RI 15 em Tomar, recolhi à minha residência paragozar os 10 dias de licença para a despedida, findos os quais segui para um Quartel na Calçada da Ajuda em Lisboa, (se a memória não me atraiçoa, era da PM), para dali seguir para o Aeroporto .
Porém, como o avião atrasou, fui de novo mais três dias para casa havendo, por esse motivo, nova despedida, desta vez de menor intensidade emocional, (a segunda nunca é como a primeira!).

Regressado ao Quartel e transportado bem cedo ao Aeroporto, num dia de sábado, 26 de Agosto de 1972, o 727 dos TAM desta vez não falhou.
Sem bater asas levantou voo, tomou a devida altura e passadas que foram algumas 3 horas, aterrou no Aeroporto de Bissau por volta do meio dia.
Sendo para mim a primeira viagem de avião, não gostei! À passagem pelos chamados "poços de ar" o avião perdia altura e causava-me desagradável sensação. Ficou-me essa ideia, que ainda hoje é meio de transporte que procuro evitar.

Começava então a pisar chão Guineense, bem diferente do que estava habituado.
Este "queimava" devido ao tórrido calor que se fazia sentir, ficando em poucos minutos encharcado com suor.
Um militar "velhinho", ao ver-me naquele estado, disse para me pôr à vontade, que ali não havia grande rigor com o modo de trajar. (Em Nova Lamego não fora bem assim, como mais tarde constatei). Esteve lá um tal "Hitler"!).

O militar o disse, e eu melhor o fiz.
De camisa bem arregaçada, sem gravata, e com a ajuda do ar, embora quente, provocado pelo movimento da viatura que me transportou ao Depósito Geral de Adidos em Brá, senti-me menos acalorado.
Após a chegada, fiz a minha apresentação, sendo-me dito que iria aguardar transporte, barco ou avião, para Nova Lamego, indicando-me de seguida o refeitório e a caserna onde comer e pernoitar.
Chegada a hora do almoço, lá fui para a fila. Nunca tinha visto um Quartel com tantos militares mas, sendo um Depósito de Adidos por onde passavam praticamente todos os militares que chegavam e partiam, era compreensível.

No interior do refeitório sentia-se um calor sufocante e o cheiro à comida era tão intenso, que quase nada comi.
Aquando da tomada da refeição, através dos orifícios na parede que permitiam o arejamento do refeitório, pude ver o que infelizmente outros já tinham visto.No exterior permaneciam ali algumas crianças, umas nuas outras seminuas, que espreitando pelos ditos orifícios, fixavam os olhitos em quem comia, à espera que lhes dessem alguma coisa para comer e, na latita que uma delas possuía, lá pus um pouco do muito fraco que me haviam servido.
Notava-se a fome daquelas crianças que não "olhavam" a cheiros ou gostos, e se nada mais houvesse, até os restos comiam!

Este e outros episódios que mais tarde presenciei nos tabancais, onde pessoas com ferimentos horríveis e ausência total de tratamento, foram suficientes para perceber até que ponto ia a miséria daquele povo!

Após o período de refeição, deambulei pelo interior do Quartel na expectativa de, como disse, encontrar alguém conhecido. No primeiro dia o resultado foi negativo. No segundo, exatamente o mesmo. Porém, ao terceiro dia "se fez luz"!

A cerca de 200 metros, passava em sentido transversal um militar que pelo seu aspeto físico e forma de movimentos, despertou-me desde logo a atenção.
Dirigi-me de imediato em sua direção e, quanto menor era o espaço que nos separava, maior era a minha convicção.
Já próximos, estavam desfeitas todas as dúvidas: Ali, na minha frente, e surpreendentemente, estava o Graça, companheiro de Pelotão na Especialidade de Transmissões no BC 5 em Lisboa!
Abraçámo-nos e pergunta-me ele:
- Para onde vais?

Respondi-lhe:
- Vou para guerra em Nova Lamego - e perguntei - já ouviste falar desse local?

Resposta pronta:
- Eu também estou em Nova Lamego! - Estou aqui em Bissau para uma consulta externa.

De seguida fez outra pergunta:
- Qual o Batalhão ou Companhia que integras?

Disse-lhe que não se tratando de uma rendição individual, desconhecia o porquê de ir sozinho para fazer parte do Pelotão de Morteiros 4574/72 e, segundo me haviam dito, já estava na Guiné há cerca de um mês.
Admirado, retorquiu que também ele pertencia a esse Pelotão, incluindo o Santos e o Vasco! (éramos todos do mesmo Pelotão e Especialidade no BC5 em Lisboa), e sendo assim, por ironia do destino, nos iríamos juntar de novo!

Confesso que na altura duvidei do que acabava de ouvir. Não por pôr em causa a honestidade do Graça, mas por considerar ser bom demais para ser verdade. Para tirar dúvidas, dirigi-me de imediato à secretaria, onde me confirmaram o que eu há pouco havia duvidado. Nesse momento, o sentimento de tristeza e melancolia que estava vivendo, se modificou, pois estava convicto que, estando junto dos meus ex-companheiros, estaria certamente entre família, o que mais tarde realmente se provou.

Passando mais de uma semana a dormir numa caserna cujo ambiente deixava muito desejar, fui avisado para que na manhã do dia seguinte, presumo que era quarta-feira(?), pelas 5 horas da manhã, estar pronto a fim de ser transportado ao cais e prosseguir a viagem de barco.
Sendo também a minha primeira viagem neste tipo de transporte, não imaginava ser transportado numa LDG (Barco de Guerra), mas como não tinha contrato de viagem aceitei sem reclamações.

Embarcadas as cerca de 40 ou 50 pessoas, a maior parte nativas, foram retiradas as amarras, e o barco começou a afastar-se do cais para seguir rio Geba acima.
À saída, imaginei ali no Cais o Velho do Restelo, maneando três vezes a cabeça descontente e, com o saber só de experiência feito, estas e outras palavras tirar do esperto peito: (Ó glória de mandar, ó vã cobiça Desta vaidade a quem chamamos Fama!).

Estaria-se a navegar talvez a meio do percurso, quando no céu se formaram escuras nuvens de enorme dimensão, dando origem pouco tempo depois, a assustadores relâmpagos e trovões e, de seguida, a uma intensa chuvada que me deixou "ensopado".
Com esta situação, também aqui me lembrou o Canto Sexto dos Lusíadas, com a descrição da Tempestade, (ressalvando naturalmente as devidas proporções), considerei ter sido aquela o meu batismo das tempestades tropicais.
Como normalmente, a seguir à tempestade chega a "Bonança", também ali se cumpriu o ditado e, passado que foi cerca de meia hora, o sol voltou a brilhar e forte como de costume, alterando rapidamente o meu estado de molhado a seco e assim se continuou a navegar.

Pouco tempo depois, alguém avisava que por questões de segurança, todas as pessoas que ocupavam as partes cimeiras do barco, se deviam deslocar para as partes mais baixas. No momento que se cumpria tal ordem, as anti-aéreas que o barco dispunha, começaram a fazer movimentos, prontas a disparar se preciso fosse, ao mesmo tempo que dois aviões Fiat faziam voos por cima do barco a baixa altitude, com ruídos ensurdecedores, e no sentido circular, visionando a envolvência nas duas margens do rio.

Surpreendido com os aparatosos movimentos, pensei que certamente se estaria a chegar ao verdadeiro "Teatro de Guerra"!
Soube depois que este cenário se repetia e justificava, sempre que barco passasse naquele local que, por ser dos mais estreitos do rio, se tornava estratégico para o IN praticar as suas ações de guerrilha, o que já tinha acontecido.
Felizmente nada de especial aconteceu e, passado o perigo, tudo voltou à normalidade.

A viagem prosseguia mas, aproximava-se do fim.
Pouco tempo depois, seriam 11horas(?)  chegou-se ao Xime, local indicado para o desembarque.
À chegada, encontravam-se ali vários militares e diversas viaturas para dar continuidade à viagem, mas desta vez por terra.
Como durante a viagem de barco não tinha sido dado qualquer alimento, pouco tempo depois da coluna iniciar a viagem, fez uma paragem no Quartel de Bambadinca, onde foi distribuída meia ração de combate que constava de: uma lata de atum, um pacotinho de leite e umas bolachas de água e sal.

Após este almoço de compreensível brevidade, a coluna fez-se de novo à estrada que não sendo nenhuma Via-Rápida, era considerada um luxo por aquelas bandas por ser asfaltada, e assim se rolava em direção ao Leste.

Atravessaram-se pequenas pontes de madeira, de segurança bastante duvidosa. Passou-se à Cidade de Bafatá e, percorridas que foram as cerca de 5 dezenas e meia de quilómetros sem sobressaltos de maior, pelas 2 horas da tarde mais ou menos, eis-me chegado finalmente ao destino, o Gabu-Sára em Nova Lamego.

À chegada estavam para me receber, (e que bem recebido fui!), os ex-companheiros: o Santos, o Graça e o Vasco.

No momento dos abraços, fui como que praxado com alguns "piu... pius", oferecendo-me mancarra, (palavra nova para mim que significava amendoim), e o Santos, que foi sempre o primeiro entre nós nos momentos de descontração, cantarolava "piriquito vai no mato que a velhice está cansada".

Foi um momento de alegria e também de bom humor, porque ao terem somente um mês de Guiné, a sua velhice era muito infantil.

Terminada a viagem, estava no local de guerra que me foi destinado.
Felizmente, durante os cerca de 21 meses de permanência, não feri nem fui ferido, simplesmente adoeci, que não sendo coisa pouca, deu para sobreviver.

Passadas que foram mais de 4 dezenas de anos sobre estas histórias, aqui as vou deixando escritas para que constem, certo não só, das naturais imprecisões que o tempo já passado lhes provoca, mas também pela reconhecida falta de conforto académico do autor para as melhor compor e contar.

"Desgastado" da viagem, é altura de fazer um interregno para descanso.
Não será certamente como o de 1383/85 porque, o assunto aqui tratado, além de ser incomparável, é de muito menor importância relativamente àquele, e assim pouco tempo bastará para recuperar forças e regressar ao mesmo local para as continuar.

Despeço-me com um grande Alfa Bravo a todos os Tertulianos e até breve.

Castelões-Penafiel.
Neste dia de domingo, aos 11 dias do mês de Agosto de 2013
Joaquim M. Cardoso
Ex-Soldado de Transmissões
NM 19453071

Guiné 63/74 - P11965: Memória dos lugares (244): Hospital Militar de Bissau: não há duas memórias iguais (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Maio de 2013:

Queridos amigos,
Mais uma fotografia descoberta na Feira da Ladra, uma imagem de todos conhecida.
Primeiro entretive-me com a singularidade do que a câmara registou, uma autêntica câmara clara, seguramente ainda anos 1950. E recordei-me de uma peripécia ali vivida, algures em Novembro de 1991, um médico colérico que fez um aranzel para me explicar que trabalhava em condições muito deficientes (o que saltava à vista, nem era preciso ter entrado no bloco operatório) e que depois serenou, acabámos por jantar juntos, tivesse havido mais tempo e teríamos ficado amigos.
Quando vemos uma fotografia, há sempre duas histórias diferentes, a minha foi esta.

Um abraço do
Mário




Hospital de Bissau: não há duas memórias iguais

Beja Santos

Encontrei esta fotografia num dos meus mais prestáveis fornecedores, o Eduardo Martinho, comerciante da Feira da Ladra. Sei muito bem que no blogue este hospital aparece repetidas vezes, mas tenho razões fundadas para a distinguir por uma razão estética e por uma razão ética. A estética prende-se com a luminosidade, aquele recorte de alvura que se espraia pela varandas do primeiro andar. Terá sido tirada ainda nos anos 50, veja-se um pouco da carripana, um modelo que nenhum de nós encontrou a circular. Um piso arranjado, canteiros ajardinados, não há um papel no chão, tudo cheira a novo, um hospital assim era um antro de respeitabilidade. É uma luz tão convincente que o olhar, numa segunda mirada, reconhece as janelas desenhadas a branco.

A razão ética tem a ver com uma experiência que ali vivi, salvo erro em Novembro de 1991. Andava afobado a preparar guiões para os programas que eram emitidos regularmente uma vez por semana “Um milhão de consumidores”. O programa em causa que me levara ao Hospital Simão Mendes era preparar com um médico que seria entrevistado sobre a importância da lavagem das mãos e dos espaços de confeção de alimentos para evitar doenças. Fora-me indicado um médico, comparecia ao encontro, vi animais a cirandar no adro, a refocilar no lixo, vi pessoas com colchões às costas, e seguramente familiares doentes que traziam fogareiros para cozinhar refeições, o hospital já estava na penúria, dava assistência médica e enfermagem, o resto estava por conta do doente e família. Esperei pelo menos duas horas, foi tempo que deu para examinar o sofrimento, a indignidade, a total ausência de direitos dos doentes. O médico recebeu-me numa sala vazia, reduzida a um arremedo de secretária e duas cadeiras partidas, lá nos equilibrámos. O médico estava muito crispado, falei-lhe do programa televisivo e do que se pretendia do seu depoimento, a ser registado ou ali ou nos estúdios da RTP Bissau. Abruptamente, o rosto ficou contorcionado e fez-me um discurso apoplético, parecia impossível não ter percebido que estava há mais de 24 horas no banco operatório onde praticamente faltava tudo, os colegas tinham-se raspado, estava esgotado, era uma imprevidência deixar um profissional de saúde entregue a si próprio, à fome e ensonado. Só acalmou quando lhe procurei fazer compreender que nada sabia da situação, o seu nome fora-me indicado por um colega, seguiu-se um longo queixume sobre as carências da vida de médico, a falta de dinheiro, a falta de estímulos, trabalhar naquelas condições degradantes, ver morrer pela ausência de meios, etc. E acordou-se dar-me o apontamento para a televisão, no dia seguinte, o que aconteceu.

E aceitou jantar comigo, na Pensão Central. Estudara e diplomara-se na RDA, já perdera as esperanças de exercer clínica, não tinha incentivos para a formação contínua, e não passava fome porque colaborava em vários projetos da Organização Mundial de Saúde. Tenho impressão que já falava meio a dormir, felizmente alguém tinha ali um transporte e fomos levá-lo a casa, ali em Santa Luzia.

Juro que foi o que me ocorreu quando comecei a olhar esta fotografia com um conteúdo aparentemente banal, e depois das razões ética e estética fiquei a pensar como sofrem os doentes que ali entram, que nada sabem de sistemas de saúde como o nosso, nem de taxas moderadoras nem de listas de espera, nem de medicamentos genéricos.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11908: Memória dos lugares (243): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte II (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)

Guiné 63/74 - P11964: Fotos à procura... de uma legenda (23): A pretexto do Dia Mundial da Fotografia, três fotos notáveis do Amílcar Ventura, residente em Silves e ex-Fur Mil Mec Auto, 1ª CCAV / BCAV 8323 (Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74)


Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Foto 3 - Crianças procurando comida depois do ataque [, a18 de] Dezembro de 1973,] a Amedalai [que ficava a sul de Bajocunda]



Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Foto 4 >  Viatura [, Berliet,] minada na emboscada de 7 de Janeiro de 1974.



Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Foto 5 - Evacuação do Capitão Ângelo Cruz [, que accionou uma mina antipessoal, e ficou sem uma perna no Natal de 1973].

Foptos do álbum dfe Amílcar Ventura, ex-Fur Mil Mec Auto, 1ª CCAV / BCAV 8323 (Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74), natural de (e residente em) Silves.

Fotos (e legendas): © Amilcar Ventura (2009). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]


1. Comemorou-se, no passado dia 19 do corrente, o Dia Mundial da Fotografia. O nosso blogue tem publicado notáveis fotos da guerra colonial da Guiné, cobrindo o período de 1961/74, mas também da época pós-independência. Aliás, não há pesquisa nenhuma, no Google Imagens, sobre topónimos (nomes de lugares) da Guiné-Bissau em que não apareçam fotos publicadas no nosso blogue. Dezenas, centenas, milhares... É um espóilio riquissimo que está ao alcance de todos, a começar por todos aqueles que continuam a amar aquela terra e o seu povo. E tudo isso é possível graças ao trabalho de formiguinha de todos nós:  autores, editores, colaboradores...

No Dia Mundial da Fotografia, com um atraso de dosi dias, fazemos um apelo a todos os camaradas e amigos que tenham estado na Guiné, e em particular no período da guerra colonial 81961/74), para que  façam chegar até nós  imagens digilitalizadas das fotografias dos seus álbuns... De preferência com legendas: local, data, unidade ou subunidade, etc.

Hoje (re)publicamos, editadas e melhoradas, três notáveis fotos do Amílcar Ventura, um camarada de quem não temos tido notícias nos últimos tempos...São imagens, dramáticas,  já do fim da guerra, na zona leste... Talvez os nosso leitores queiram comentá-las e acrescentar algo mais à sua legenda (**)...

Por outro lado, recordo aqui o recente apelo do fotojornalista português Daniel Rodrigues, prémio World Press Photo 2013 (*)

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

~es fotos mnotáveios do Amícláveios do Am,ílcar ventruia (
30 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11888: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (13): Fotojornalista famoso, Daniel Rodrigues, prémio 'World Press Photo 2013', quer fotografar alguns de nós, antigos combatentes, nos sítios originais onde tirámos as nossas melhores fotos no tempo da guerra


31 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11891: De regresso, com o fotojornalista Daniel Rodrigues... As fotos que eu gostaria de poder voltar a tirar (1): Os putos de Candamã, regulado do Corubal (Torcato Mendonça, Fundão, ex-alf mil, Cart 2339, Mansambo, 1968/69)


(**) Último poste da série > 11 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11928: Fotos à procura... de uma legenda (22): Os régulos felupes de Djufunco e os seus banquinhos onde mais ninguém se pode sentar (sob pena de morte!) (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P11963: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (5): Os movimentos subversivos

1. Quinto episódio das "Memórias da Guiné" do nosso camarada Fernando Valente (Magro) (ex-Cap Mil Art.ª do BENG 447, Bissau, 1970/72), que foram publicadas em livro no ano de 2005:


MEMÓRIAS DA GUINÉ

5 - Os Movimentos subversivos

Fernando de Pinho Valente (Magro)
ex-Cap. Mil de Artilharia

De acordo com algumas fontes, Nkrumah (Presidente da Nigéria) e Sekou Touré (Presidente da República da Guiné), pouco tempo depois da independência da Guiné Conacry (Novembro de 1958), teriam tido a ideia de criar uma Federação de Estados Unidos da África Ocidental que englobaria a Libéria, a Serra Leoa, a Gâmbia, a Costa do Marfim, o Gana, a Nigéria e a República da Guiné, alargando-se, se possível, à Guiné-Bissau.
Existia, por isso, anteriormente a 1960, interesse dos chefes políticos dos países vizinhos da Guiné Portuguesa que este território se tornasse independente de Portugal. Em Conacry as emissões de rádio incentivavam, já em 1959, a população da Guiné-Bissau a sublevar-se e a não aceitar mais o domínio dos portugueses. Possivelmente em resultado dessa campanha, deu-se em 3 de Agosto de 1959, o primeiro incidente grave no território com uma greve no Porto de Pijiguiti (Bissau) de que resultaram alguns mortos e feridos.

Depois deste acontecimento e a partir de Março de 1960 as notícias sobre a Guiné Portuguesa proliferaram, revelando existir por detrás dos acontecimentos uma organização subversiva com alguma amplitude.

Em Londres, um indivíduo que mais tarde foi identificado como sendo o engenheiro agrónomo Amílcar Cabral, natural da Guiné mas filho de pai cabo-verdiano, distribuiu à imprensa um comunicado da "Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas" que teve alguma divulgação.
O referido Amílcar Cabral aparecia como representante de um agrupamento político que tinha em vista a independência da Guiné e Cabo Verde e que se intitulava "Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde" (PAIGC).

Os dirigentes do PAIGC estavam radicados em Conacry, onde beneficiavam de um bom acolhimento do Governo da República da Guiné e da concessão de todas as facilidades necessárias para a sua actividade subversiva.

Outros movimentos surgiram, de menor dimensão, visando também a independência do território sob administração portuguesa, como foi o caso do Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde (MLGC) e a União Popular para Libertação da Guiné (UPLG), ambos com sede em Dakar (Senegal).

O Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde acabou mais tarde por ser dissolvido e deu origem à União das Populações da Guiné (UPG). A certa altura ganhou alguma notoriedade o movimento "União dos Naturais da Guiné Portuguesa", com sede também em Dakar, cujo chefe, Benjamim Pinto Bull, era professor de português no Liceu da capital Senegalesa.
Este movimento era reformista mas partidário do diálogo.

Mas o principal movimento subversivo foi, sem dúvida, o PAIGC, que em 1962 apresentou por intermédio de Amílcar Cabral, na Comissão de Curadorias da ONU, uma petição onde, além de pedir a independência da Guiné, declarou que os militantes do PAIGC deveriam ser considerados soldados da ONU pois desempenhavam funções semelhantes às dos "capacetes azuis" que nessa altura se encontravam no Congo.

A partir de 1963 os ataques às forças armadas portuguesas e aos chefes tradicionais que maior dedicação demonstravam a Portugal tornam-se cada vez mais frequentes.
No sul da província, segundo afirmou o Ministro da Defesa Nacional na altura, "grupos numerosos e bem armados, possuidores de certa preparação de guerra subversiva, feita no Norte de África e em países comunistas, penetravam no território nacional numa zona correspondente a 15 por cento da superfície da província".
Segundo o mesmo ministro português, numa entrevista a um jornal de Lisboa, "os grupos provinham e tinham base na República da Guiné". Tendo por apoio um estudo de João Baptista Pereira Neto, no mesmo se refere que "de acordo com numerosos artigos que apareceram na imprensa estrangeira e em especial por algumas entrevistas com Amílcar Cabral, ficou a saber-se que o PAIGC fora fundado em 1956 pelo próprio entrevistado e por Rafael Barbosa, que a paralisação de trabalho verificada em 3 de Agosto de 1959 no Porto de Bissau havia sido decretada por aquele partido e que a passagem da luta política para a acção directa tinha sido decidida durante uma reunião clandestina do partido, realizada em Bissau em 19 de Setembro de 1959".

Na fase inicial o PAIGC seria constituído, de acordo com as palavras de Amílcar Cabral, por pequenos burgueses radicais e membros de organizações operárias e profissionais. Depois de ter mudado radicalmente, a massa de guerrilheiros passou a ser recrutada entre operários e camponeses, na sua maior parte balantas, que eram os que emigravam mais para a República da Guiné e que, devido à sua educação, se tornavam ladrões exímios e que apenas encaram o roubo como desonroso quando o autor é apanhado. Eles conheciam perfeitamente os terrenos pantanosos e rodeados de canais, onde tinham as suas plantações de arroz.

A enquadrar essa massa operária e camponesa estavam principalmente indivíduos jovens que abandonaram a Guiné durante ou após a frequência dos Cursos Liceal ou Técnico, e que depois de prestarem provas durante alguns meses em escolas de guerrilha, eram mandados para os países situados para além da cortina de ferro para aproveitarem das bolsas de estudo postas à disposição do PAIGC para frequência de cursos médios.
Deste modo o PAIGC conseguiu quadros jovens altamente qualificados à escala africana.
Parece que, enquanto a massa era principalmente guineense, os quadros eram essencialmente compostos por jovens cabo-verdianos.

O seu chefe incontestado, Amílcar Cabral, embora nascido em Bafatá era também, como já referi, filho de cabo-verdiano.
Era Engenheiro agrónomo, formado em Lisboa e casado com uma senhora natural da Metrópole, de raça europeia.

De acordo com as pessoas que com ele privavam, tratava-se de um indivíduo de fino trato, vestindo com sobriedade e que falava várias línguas tais como o português, o francês e o inglês.
Estas suas qualidades eram-lhe muito vantajosas nas demoradas viagens que, frequentemente, fazia às capitais de diversos países africanos comunistas e ocidentais.
E devido à sua actividade política e perspicácia, o PAIGC foi ganhando o reconhecimento de muitos países e recebendo auxílio de alguns deles e da O.U.A. (Organização de Unidade Africana).

Segundo Pereira Neto, o PAIGC parece ter sido um movimento firmemente suportado pelos países de leste, em especial pela Rússia e pelos países africanos com especial relevo para a República da Guiné, a Argélia, o Gana, Marrocos e, evidentemente, a O.U.A..
Amílcar Cabral numa viagem ao Norte de África e à Europa Ocidental, em 1965, viagem que teve uma primeira etapa em Argel, afirmou numa conferência de imprensa nesta cidade que: "as forças revolucionárias tinham cerca de 10.000 homens, treinados em Conacry, que recebiam auxílio militar directamente de Sekou Touré, que já dispunham de armas pesadas e que dominavam quase metade (40%) do território da Guiné-Bissau".

Em Abril de 1965, em Londres, pediu à Inglaterra não armas, para que aquele país se não comprometesse, mas abastecimentos, remédios, material escolar e artigos afins e afirmou que poderiam abrir oitenta a cem escolas com três mil alunos.
Não foi todavia em Inglaterra que foi impresso o Novo Livro - 1ª classe, editado pelo Comissão Social e Cultural do PAIGC, mas em Uppsala na Suécia.
Possuo um exemplar desse livro que me foi oferecido por um pára-quedista que, numa das operações militares de que fez parte, ocupou uma escola do PAIGC tendo recolhido diversos documentos dessa escola, incluindo livros.
O livro que possuo era pertença da menina Teixeira e é elaborado totalmente em língua portuguesa.
Transcrevo a seguir a página 24, onde consta o texto intitulado "O Combate".


"O combate"

Fogo! Fogo!
O inimigo foge
Que combate fácil
Em fila, os combatentes voltam à base
Todos os camaradas estão contentes

Vamos copiar: Todos os camaradas estão contentes

Do livro se depreende que Amílcar Cabral e o PAIGC prezavam a língua portuguesa e sabiam que ela seria um óptimo instrumento aglutinador do povo da Guiné e um excelente veículo cultural.
Também no seu apelo aos Portugueses Cabral afirma:
"Os nossos Povos fazem a distinção entre Governo Colonial fascista e o Povo de Portugal. Não lutamos contra o povo português.
Repetimos o que muitas vezes temos afirmado: nós queremos libertar a nossa terra para criar uma vida nova de trabalho, justiça, paz e progresso, em colaboração com todos os povos do Mundo e muito particularmente com o povo português."

Em Março de 1972 elaborou um documento secreto que distribuiu aos quadros do PAIGC, no qual, segundo o seu pensamento, sintetiza o plano português para destruir o seu partido e vencer a luta armada na Guiné. Nele faz referência à invasão da Guiné-Conacry em 22 de Novembro de 1970, de que darei notícias no próximo capítulo.
No mesmo documento parece prever também a proximidade do seu fim.
Transcrevo na íntegra, seguidamente, o referido documento:

As três fases do plano Português

"O objectivo principal do inimigo é a destruição do nosso Partido, porque em África e no Mundo inteiro o seu prestígio e o prestígio dos seus principais dirigentes estão no seu apogeu.
Ele está convencido de que a prisão ou a morte do principal dirigente significaria o fim do Partido e da nossa luta.
Por isso mesmo, o objectivo real dos portugueses na sua tentativa de invasão da República da Guiné (Conacry), em 22 de Novembro de 1970, era o assassinato do Secretário Geral do Partido e a destruição da base na rectaguarda da revolução constituída pelo regime de Sekou Touré.
Numa palavra, destruir o Partido agindo no seu interior.
O plano inimigo far-se-à em três fases:

Primeira fase

Actualmente, muitos compatriotas abandonaram Bissau e outros centros urbanos para se juntarem às nossas fileiras. Nesta ocasião, o General Spínola espera poder introduzir agentes (antigos ou novos membros do Partido) nas nossas fileiras.
A sua tarefa: estudar as fraquezas do nosso Partido e tentar provocações apoiando-se no racismo, no tribalismo, opondo muçulmanos aos não muçulmanos, etc.

Segunda fase

1. Criar uma rede clandestina (penetrando, por exemplo, no Partido e nas Forças Armadas).
2. Criar uma direcção paralela, se possível com um ou dois agentes e alguns dirigentes actuais do Partido (de entre os descontentes).
3. Desacreditar o Secretário Geral, para preparar a sua eliminação no quadro do Partido ou, se a necessidade se impuser, pela sua liquidação física.
4. Preparar a nova direcção clandestina para fazer dela o verdadeiro organismo dirigente do PAIGC.
5. Paralelamente, lançar uma grande ofensiva para aterrorizar as populações dos territórios libertados.

Terceira fase

a) No caso de falhar a segunda fase, tentar um golpe contra a direcção do Partido, fazendo assassinar o seu Secretário Geral.
b) Formar uma nova direcção baseada no racismo e opondo guineenses e cabo-verdianos, utilizando o tribalismo e a religião (muçulmanos contra não muçulmanos).
c) Impedir a luta no interior do País, liquidar os que permanecem fieis à linha do Partido.
d) Entrar em contacto com o Governo Português. Falsa negociação, autonomia interna, criação de um governo fantoche na Guiné-Bissau que seria designado por "Estado da Guiné" e faria parte da Comunidade Portuguesa.
e) Postos importantes estão prometidos pelo General Spínola a todos os que executarem o plano.

Conclusão

O inimigo tentou corromper os nossos homens, mas a esmagadora maioria dos responsáveis contactados não aceitou vender-se, comportando-se como dignos militantes do nosso Partido e contribuíram mesmo para castigar severamente os portugueses que tentaram comprá-los, como foi o caso dos quatro oficiais, próximos colaboradores de Spínola, liquidados no norte do País."

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11939: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (4): O valor estratégico da Guiné e Cabo Verde

Guiné 63/74 - P11962: Bom ou mau tempo na bolanha (28): O José que já foi "Arroz com pão" (Tony Borié)

Vigésimo oitavo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.




A vida de emigrante, nos anos sessenta e setenta do século passado, era uma vida de aventura, de coragem, de sobrevivência e de uma força interior, um pouco fora do normal.

Talvez já tivesse sido dito, mas nunca é demais lembrar, que nesses tempos, o emigrante, salvo raras excepções, era uma pessoa com o mínimo de escola, com alguma visão de prosperidade, espírito aventureiro, geralmente novo e com alguma saude física e moral, e desejoso de ter algo a que pudesse chamar seu.

Quando um emigrante abandonava o seu País, o seu lugarejo, deixava de ver as pessoas que lhe eram queridas, e com quem tinha convivido, deixava de beber a água da sua fonte, deixava de ver a paisagem, que só, com a ausência da mesma, é que começava a notar, o maravilhoso, que tinha deixado para trás. Nessa altura, começava a sangrar por dentro. Ficava triste e chorava perante qualquer contacto, com algo que lhe mostrasse a sua Pátria. A palavra saudade, começava a ter um significado muito importante. Nessa altura tinha que ser muito forte, moral e fisicamente.

Os primeiros anos eram terríveis. A língua, os costumes, o clima e alguma discriminação, eram quase insuportáveis. Demorava alguns anos até tornar-se um natural habitante do País, que escolhia para emigrar. Nesse período de tempo, se não tinha algum suporte humano, motivação interior e alguma sorte nos seus contactos, o emigrante não resistia, e a sua maior alegria era arranjar dinheiro para comprar um bilhete de passagem, e regressar definitivamente ao seu País.

Dada a sua pouca instrução escolar, tinha que se sujeitar aos trabalhos mais pesados e sujos. Enfim, tinham que fazer aquilo que os naturais não queriam fazer. Se a fase dos três ou quatro anos passasse, iríamos ter um emigrante com algum sucesso. Os filhos iriam estudar, pois queriam dar-lhes aquilo que eles próprios não tiveram. Geralmente construíam casa no seu País de origem, iriam ver essa casa nas férias, mas definitivamente, nunca regressariam, pelo menos os que tivessem atravessado o Atlântico.
Isto, salvo raras excepções.

Como por exemplo, o José, cujo nome de guerra era “Arroz com Pão”, o tal cabo do rancho, que conviveu com o Cifra, em cenário de guerra por quase dois anos, a quem o Cifra roubava pão quase todos os dias, e que era oriundo das terras da beira-mar, duma aldeia que pertencia à vila da Murtosa, e que quando regressou a Portugal, casou, e como tinha parentes nos Estados Unidos, na procura de melhor vida, deixou a sua bateira, onde andava às enguias, que vendia, e que o ajudava a sobreviver e a pôr alguma comida na mesa de sua casa.

Era muito trabalhador, sabia controlar todas as suas economias, pois tinha aprendido muito como cabo do rancho, na sua estadia em cenário de guerra. Tinha alguma ambição e veio para os Estados Unidos, sozinho, à frente, a esposa veio ter com ele mais tarde. Veio na altura em que também veio o Cifra, que agora se chamava única e simplesmente Tony. Viviam na mesma cidade, junto ao rio Passaic, conviviam e continuaram com a sua amizade. O “Arroz com Pão”, cujo verdadeiro nome era José, com a chegada de sua esposa, trabalhando os dois, assim que puderam, compraram uma casa de quatro famílias, já velha, repararam-na, alugaram as quatro famílias, construíram uns aposentos na cave, onde sempre viveram e onde criaram dois filhos.
Em Portugal, nuns terrenos que herdaram dos pais, construíram uma vivenda, último modelo, mobílias novas e lindas, garagem, jardim, com o nome deles na frente em azulejo, sobre a bandeira de Portugal e dos Estados Unidos, para que quem não soubesse, vendo a legenda e as bandeiras nos azulejos, ficassem a saber que eram emigrantes lá nos Estados Unidos, mas o seu coração e a sua casa estava cá no seu Portugal. Nos terrenos atrás da casa, fizeram uns anexos, que no futuro seriam uns currais para algum gado, ou qualquer outra coisa.

Quando vinham de férias a Portugal, pouco usavam a vivenda, pois estava tudo tão arrumadinho e limpo, que entendiam que não deviam sujar, nem usar. Ocupavam-se em pintar, ou reparar qualquer parte do muro que circundava a vivenda, que estivesse menos bonito com a chuva e o vento que durante a sua ausência tivesse sofrido algumas mazelas, ou em limparem e plantar novas flores no jardim, e lá se arranjavam como podiam nos anexos, usando a vivenda o menos possível. Quando regressavam de férias, e o Tony, lhe perguntava como correram, diziam:
- Não tivemos tempo para nada, há lá tanto trabalho para fazer, a casa está tão linda, que até temos pena de a sujar, só queria que vocês vissem, como temos lá, uma casa tão linda, e o jardim, é mesmo um sonho!

Entretanto os filhos foram estudar, casaram, constituíram família, têm os seus empregos, estão bem na vida, e com um futuro prometedor nos Estados Unidos. Eles decidem, e muito bem, regressar a Portugal. Levam um “contentor” dos grandes, com muitas coisas que achavam que seriam úteis, como por exemplo a mobília do quarto e da cozinha, que lhe tinham custado uma fortuna há trinta anos, uns sofás, muito bons, do melhor, que estiveram sempre cobertos com um plástico, para não se sujar, uma mesa e umas cadeiras, que tinham trazido de uma casa que ajudou a remodelar, de uns senhores muito ricos, numa cidade das montanhas, alguns garrafões de vinho vazios, que guardaram por toda a vida, e entendiam que depois de beber o vinho não se devia pôr fora o garrafão vazio, pois também os tinham pago.

A vivenda nova, último modelo, está completa, mobília e tudo, já não há lugar para mais nada. Então, decidem pôr todo o recheio do “contentor” nos anexos. Arranjar as paredes, pôr azulejos, luz eléctrica, cimento no chão e na frente, tudo muito arranjadinho, e vão viver para lá. A vivenda nova, último modelo, era boa demais para lá viver. Fica lá tudo, arrumadinho, limpinho e fechado, só para mostrar aos amigos, ou alguma visita, que tenha vindo dos Estados Unidos. Pois tinham orgulho em mostrar que tinham uma casa linda em Portugal.
Vivem nos anexos.

Com o tempo, vão fazendo mais arranjos, já têm um bom quarto de banho, com chuveiro, frigorífico dos bons, com duas portas, a televisão que levaram não trabalha, compraram outra nova, e um móvel, que também servia de bar, para pôr a televisão por cima, puseram ladrilhos dos grandes no chão da cozinha, ladrilhos dos pequenos nos anexos, excepto no quarto, onde mandaram pôr uma carpete, daquelas fofinhas, como se via na televisão. Na frente dos anexos, uma cobertura ondulada, em plástico, azul, que dava um certo conforto, e mais ao lado um limoeiro onde penduraram uma gaiola com um melro, onde até vinham comer outros pássaros, fazendo-lhe lembrar o periquito que tinha tido na então província da Guiné, onde tinha passado dois anos em cenário de guerra, que assobiava que era um assombro, já os conhecia, quando lhe davam algumas minhocas, pois nos seus tempos livres, andavam às minhocas para o melro, nas terras vizinhas. Tudo isto era bom, mas andavam um pouco tristes, não era bem tristeza, era qualquer coisa, que os fazia sentir menos felizes.

- Que raio, sempre que regresso de apanhar minhocas, tenho que sacudir e limpar os pés, antes de entrar nos anexos, pois está tudo tão limpinho e arrumadinho! - Dizia o José, inconformado com esta nova situação.
Às vezes tinham mesmo que se descalçarem, quando regressavam de apanhar minhocas para o melro. Dentro de casa havia sempre aquela sensação que não deviam ir para o quarto sem primeiro lavarem e limparem os pés, pois a carpete era nova, podiam ter mandado pôr um plástico por cima, mas custava mais dinheiro, e o homem que instalou a carpete disse que não se usava.

Depois de muito pensarem, chegaram à conclusão de que os anexos estavam bons demais para lá viverem. Vão viver a maior parte do tempo na bateira velha, que tinham antes de emigrar, onde puseram uns paus a segurar a antiga vela, onde se recolhem, nos dias em que há chuva, e ao lado, nos dias em que não chove, fazem uma fogueira com caruma dos pinheiros e assam umas sardinhas ou uns carapaus, que comem com um naco de pão, igual ao que o Cifra, que agora se chama Tony, ia roubar, na cozinha do aquartelamento, na então província da Guiné, ao Arroz com Pão, que agora ainda se deve de chamar José, bebendo uns goles de vinho pela mesma garrafa, e limpando de seguida a boca nas costas da mão, tal qual como faziam antes de emigrarem, sendo totalmente felizes neste humilde ambiente.

Esta é a homenagem do Cifra, que agora se chama Tony, ao Arroz com Pão, que agora ainda se deve de chamar José.
Oxalá que sim!.

Tony Borie,
Agosto de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11948: Bom ou mau tempo na bolanha (27): A velha diligência (Toni Borié)

Guiné 63/74 - P11961: Parabéns a você (614): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11958: Parabéns a você (613): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11960: O nosso blogue como fonte de infiormação e conhecimento (14): Estou interessado em projetos conjuntos na área da arqueologia da guerra colonial (Jaisson Lino, Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Santa Catarina, Brasil)



Página institucional do arqueólogo Jaisson Lino, Universidade Federal da Fronteira Sul  (UFFS),  Campus de Chapecó, Santa Catarina (SC), Brasil.

1. Mensagem do nosso leitor, brasileiro, Jaisson Teixeira Lino

De: Jaisson Teixeira Lino

Data: 1 de Agosto de 2013 às 01:08

Assunto: arqueologia da guerra


Prezado Luís Graça,

Parabéns pelo excelente blog.

Trabalho com arqueologia das guerras e conflitos, fazendo parte de um grupo de arqueólogos que vem tratando do tema no que se refere à arqueologia do período português nas ex-colônias.

Lhe escrevo solicitando, caso seja possível, informações sobre este tema em Guiné-Bissau. O objetivo é estabelecer diálogos além fronteiras e estabelecer bases para projetos em conjunto no mundo lusófono.

Desde já muito obrigado pela atenção.

Cordialmente,

Prof. Jaisson Teixeira Lino

Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS

Campus de Chapecó-SC-Brasil

http://uffs.academia.edu/JaissonLino

2. Comentário de L.G.:

Meu caro colega (, sou também professor universitário e investigador, embora na área das ciêcnias da saúde): 

Muito agradeço o seu contacto e as palavras de apreço que dirige ao blogue, coletivo, Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Sobre o seu pedido (ao qual respondendo com o atraso desculpável pelas férias escolares), o que posso fazer, desde já, é remetê-lo para um dos nossos parceiros na Guiné-Bissau, a ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento que tem trabalho feito na área da arqueologia militar. Tome boa nota do endereço de email: adbissau.ad@gmail.com. Pode contactar, em meu nome pessoal, o seu diretor executivo, eng agr Carlos Schwarz Silva (Pepito).

Esta ONGD, guineense, tem experiência concreta na pesquisa arqueológica do antigo quartel de Guileje, região de Tombali, sul da Guiné-Bissau. Na sequência desse trabalho, foi criado o Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Caro Jaisson, disponha sempre. E vá-nos pondo ao corrente dos seus projetos para a Guiné-Bissau ou outros territórios lusófonos (como é o caso de Angola, aonde temos contactos). Saudações académicas e bloguísticas. Luís Graça.

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11888: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (13): Fotojornalista famoso, Daniel Rodrigues, prémio 'World Press Photo 2013', quer fotografar alguns de nós, antigos combatentes, nos sítios originais onde tirámos as nossas melhores fotos no tempo da guerra