sábado, 15 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12722: Efemérides (148): 9 de Fevereiro de 1974, chegada da CCAÇ 4152/73 ao inferno de Gadamael (Carlos Milheirão)

Vista aérea de Gadamael
Foto: © Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva


1. Mensagem de Carlos Milheirão (ex-Alf Mil da CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974), com data de 7 de Fevereiro de 2014:

Bom dia
Em primeiro lugar, um abraço a todos os camaradas.

Na passagem 40º aniversário da chegada da CCAÇ 4152 ao "inferno de Gadamael", lembrei-me de actualizar as minhas fotografias da época e actual.

Do mesmo passo e porque comemorei o meu 22º aniversário nas matas de Bolama, durante o IAO, na semana de campo, juntamente com o Comandante da Companhia, Capitão Rodrigo Bello de Serpa Pimentel, vou contar a história da "festa" que oferecemos ao pessoal da Companhia.

Tendo "adquirido" duas cabras que andavam a pastar à beira da picada que ligava o local do acampamento à aldeia vizinha, esfolámo-las e à beira de um pequeno riacho que existia no local, fizemos uma valente fogueira.

Como não havia ingredientes para temperar, demos a volta às rações de combate para juntar o que se pudesse para dar gosto à coisa. As cabras untadas/temperadas com o que havia, lá engendrámos a maneira de as pôr a rodar sobre o brazido. Uma vara a servir de espeto e outras duas, com forcada, a servir de suporte.
Em breve começámos a ficar inebriados com aquele cheirinho da carne assada. Ficaram os ossos limpos.

Que festança!

Nesta foto, como é evidente, aquele "Velhice" de 72, não me diz respeito porque só cheguei em Fevereiro de 74.

Sobre a CCAÇ 4152/73:

Digitalização da pág. 423 do 7.º Volume das Fichas das Unidades, Tomo II, Guiné, da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1774)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12305: Efemérides (147): Dia 9 de Novembro de 2013, data em que se assinalaram os seguintes aniversários: 95 Anos do Dia do Armistício da Grande Guerra, 90 Anos do Dia da Liga dos Combatentes e 39 Anos do Fim da Guerra do Ultramar (José Marcelino Martins)

Guiné 63/74 - P12721: Agenda cultural (301): Tertúlia Fim do Império, dias 18 de Fevereiro, 18 de Março, 1 de Abril e 20 de Maio de 2014, às 15h00, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras (Manuel Barão da Cunha)

1. Mensagem do Coronel Cav Ref Manuel Barão da Cunha que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66:

Caríssimos camaradas e amigos,
Anexo convite para 11.º ciclo da tertúlia "Fim do Império, Olhares sobre a Pátria e consequências do Fim do Império", a realizar na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras, nos dias 18 de Fevereiro, 18 de Março, 1 de Abril e 20 de Maio de 2014, às 15h00.

Fiquem bem,
MBC


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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12663: Agenda cultural (301): Tertúlia Fim do Império, dias 13 de Fevereiro, 13 de Março, 10 de Abril e 8 de Maio de 2014, às 15h00, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto

Guiné 63/74 - P12720: Os nossos seres, saberes e lazeres (67): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (10) (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 9 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 10.º e último episódio da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.



Companheiros, esta é a parte final da viajem.
A intenção foi que viajassem comigo, que desfrutassem os momentos, que esquecessem a guerra que vivemos lá na Guiné, quando éramos jovens e andávamos naqueles Unimog’s, GMS’s, Berliete's, ou na avioneta do Honório, sem falar no “carro dos doentes”, que vinha todas as semanas para o Hospital, na capital, onde quase todos vinham com dores. E não quero ir mais longe lembrando aquelas viagens “acagaçadas”, nas auto-metralhadoras que iam na frente das colunas de Mansoa para Bissorã ou Mansabá, e algumas até eram improvisadas! “Puta de vida”.

Vamos esquecer os tiros e tentar tirar algum benefício do tempo que nos sobra.
Portanto...



A manhã ia alta, não havia aquela humidade e os malditos mosquitos, como lá na Guiné, (lá estou outra vez lembrar a guerra, porra, não tenho emenda, agora é de vez, cá vai), tomámos o café da manhã em família, no principal compartimento da habitação, envidraçada, com o sol entrando por toda a casa. Abrimos a porta que dava para o terraço, e desfrutámos a bela paisagem sobre o lago Sacandaga, com o sol a despertar, do lado de lá das montanhas, a obrigar-nos a colocar a mão sobre os olhos para que melhor desfrutássemos da paisagem de sonho que aquele local privilegiado nos proporcionava.

Despedidas, abraços, algumas lágrimas e vieram guiar-nos até à estrada principal, já um pouco distante da aldeia de Northville, pois o GPS não tinha sinal naquela zona remota, rumámos em direcção ao sul, tomando de novo a estrada número 90, que nos haveria de levar à estrada, número 87, depois à estrada número 84, onde seguimos até à fronteira de novo com o estado de Pennsylvania, que inicialmente foi colonizada por suecos e neerlandeses, que foram posteriormente excluídos da região pelos britânicos.


Foi na Pennsylvania, que a declaração de independência e a constituição americana foram criadas, tento-se tornado no segundo estado americano, após ter sido rectificada a Constituição Americana em 1787. Foi também a Pennsylvania o palco da batalha mais sangrenta da Guerra Civil Americana, a “Batalha de Gettysburg”.


Continuando na nossa rota, seguimos na estrada número 209, que acompanha o rio Delaware na direcção de norte para sul, passando por campos de milho, áreas com frondosas árvores, devidamente assinaladas, com retiros para piqueniques com mesas e bancos, alguns “trails”, também assinalados, que nos podiam levar até às montanhas de “Poconos”, estrada esta que nos havia de largar na cidade de Stroudsburg, no estado de Pennsylvania, para lá da ponte, sobre este mesmo rio Delaware, que nesta área se alarga, formando alguns lagos, pelo menos na época do verão, na região a que chamam, “Delaware Gap”, que fica entre duas grandes montanhas, que divide o estado de Pennsylvania com o estado de Nova Jersey.

Nas montanhas de Poconos, em companhia do nosso filho, sua amável esposa e nossos netos, permanecemos por 4 maravilhosos dias, brincando e passeando com os netos, uns dias com alguma chuva de montanha, outros dias com “sol de rachar”, visitámos algumas lojas utilitárias, comprando coisas do dia a dia, mudámos de novo o óleo do jeep, e andámos por lugares, alguns nossos conhecidos, outros que eram surpresa.
Num desses dias deslocámo-nos ao vizinho estado de Nova Jersey, para ver e confraternizar com a família amiga do coração, o Jorge e a “Tesse”, (o Jorge, é o “Zarco”, o tal paraquedista que foi nosso companheiro na Guiné, de quem já falámos por diversas vezes), que também têm residência na Flórida, do lado de lá, no Golfo do México, onde se deslocam periodicamente, e sempre que o fazem, nos dão a honra da sua visita, fazendo sempre uma paragem obrigatória em Palm Coast, no estado da Flórida, claro, onde sempre revivemos alguns momentos da guerra da Guiné.

Estando em New Jersey, tínhamos que visitar a “Ferry Street”, no bairro do Ironbound, naquele Newark, que já foi mais “Português”. Aí fizemos algumas compras de géneros alimentícios, importados de Portugal, pois aquela área é muito habitada por pessoas, que em outros tempos emigraram do nosso Portugal.


Uns dias depois, houve uma festa de anos de um nosso neto, num parque infantil, nas montanhas de Pennsylvania, assistimos a essa festa, e já ia tarde, quando iniciámos a viagem de regresso à Flórida, seguindo na estrada número 476, que atravessa o estado de Pennsylvannia de norte para sul, onde chegando ao estado de Delaware, seguimos na estrada número 95, aquela que nós portugueses quando nela viajamos, dizemos na nossa linguagem, à nossa maneira sempre improvisada de nos fazermos compreender, naquele inglês/americano/português, vindo ou indo para a Flórida, conforme a direcção que tomamos:
- Não tem nada que enganar, é, “Nainiefivenorte”!

Ou se viajam na direcção do sul, dizem:
- Sempre em frente, é, “nainiefivesul”!

E quando lhe perguntam onde se encontram neste trajecto, dizem:
- Passámos no “Pedro”, às tantas horas.

Ou:
- Ainda não chegámos ao “Pedro”!


Para quem não sabe, no final do estado da Carolina do Sul e logo no início do estado da Carolina do Norte, existe uma pequena povoação a que dão o nome “South of the Border”, foi fundada em 1914, mas em 1949, durante a lei seca, como estava situada a sul do estado de Norte Carolina, abriu lá uma pequena taberna que vendia cerveja e alguns outros licores que eram proibidos a norte, claro todos passavam fronteira, e iam a sul comprar cerveja e outros licores, em pouco tempo tornou-se uma povoação famosa, e hoje é ponto de paragem e de referência tanto para as pessoas que viajam para norte, como para sul, onde existe uma enorme povoação com áreas de descanso, estações de serviço, restaurantes, hotéis, parque de diversões, grandes supermercados e outros tipos de comércio próprio de quem viaja.
A mais de 150 milhas de distância já se vêm anúncios na estrada, dizendo que no “South of the Border” está o “Pedro”, que é um típico “bandido mexicano”, que era um “fora da lei”, tal como quando nasceu a povoação, também fora da lei, vendia cerveja e outros licores às pessoas do norte.
 

Continuando, depois do estado de Delaware, atravessámos o estado de Maryland, entrando no estado de Virginia, passando sobre a ponte, “Woodrow Wilson Bridge”, de onde se avista um pouco de Washington D.C., onde comemos e pernoitámos.
Seguindo viagem ao amanhecer, sempre rumo ao sul, passando pelos estados de Carolina do Norte, a tal povoação a que chamamos “Pedro”, entrando no estado da Carolina do Sul, onde parámos antes de entrar no estado da Geórgia, para retemperar forças, e caminhar um pouco, finalmente atravessámos o estado da Geórgia, onde na berma da estrada existem cartazes anunciando a venda de “pêssegos frescos da quinta”, que no nosso entender, não são lá muito frescos, entrando finalmente no estado da Flórida, com alguma alegria, onde o termómetro do jeep marcava 102 graus de temperatura. (Cerca de 39º Celsius).

Que maravilha, é esta a nossa Flórida, (calor como na Guiné, mas por enquanto sem guerra, peixe da bolanha com arroz, arame farpado, humidade e os inseparáveis mosquitos), pois para frio, chegou mais de trinta anos limpando neve no norte.

Aqui chegámos ao fim da tarde, com algumas saudades da nossa casa.

Este é o final da nossa viagem de férias de 2013, agora vamos cortar a relva, arrumar as ideias, ir à pesca, pensar no que há-de vir no futuro, como só nós portugueses sabemos dizer, pois na nossa idade, não existe nenhum futuro, a palavra futuro é agora, já, neste momento, portanto vamos bebendo uns copos, não água da bolanha, tal como lá na Guiné, talvez cerveja, vinho ou “Vat-69”, lembram-se, só que agora é nos intervalos da medicina.

Até qualquer dia, de novo em férias!
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Nota do editor

(*) Poste anterior de 1 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12661: Os nossos seres, saberes e lazeres (65): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (9) (Tony Borié)

Último poste da série de 6 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12685: Os nossos seres, saberes e lazeres (66): O fim dos lobos em Brunhoso (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P12719: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (17): Já, em 1970, eu fiz o meu levantamento do património histórico da cidade de Tavira e, à falta de máquina fotográfica, tomei uns apontamentos a tinta da china, de que é exemplo paradigmático o da fachada do nosso querido Quartel da Atalaia (Mário Miguéis, ex-fur mil rec inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Antigo Convento de Nossa Senhora da Graça, agora pousada (Monumento de Interesse Público).  Localização: Largo Dr. Jorge Correia, Tavira. No meu tempo,era o quartel da Graça... que servia de apoio ao Quartel da Atalaia: enfermaria militar, campo de instrução física, pista de obstáculos... Foi esactivado em 1974. Diz-me o César Dias, que esteve 6 meses em Tavira (no 2º semestre de 1968, no 1º e 2º ciclos do CMS):

"Luís Graça, na Graça deves ter subido aquela corda que nunca mais terminava, quanto a esse das messes [de sragentos e oficiais, no quartel das Olarias,] também nunca la fui."


Foto: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


(...) O Convento de Nossa Senhora da Graça, de Tavira é um dos edifícios mais importantes do centro histórico da cidade, pela sua implantação na colina genética, mas também pelo enorme impacto visual na paisagem, destacando-se bem acima da muralha. O edifício religioso veio ocupar uma zona relativamente periférica do primitivo recinto muralhado, onde até ao século XV se localizou a judiaria, precisamente a área oposta à Alcáçova e à principal porta da cidade.

Em 1497, no processo de expulsão dos Judeus que levou à fuga de uns e à conversão de outros, D. Manuel I ordenou a extinção das sinagogas e sua conversão em igrejas ou em edifícios para outros fins. Daqui resultou a desocupação do espaço onde mais tarde Frei Pedro de Vila Viçosa veio a fundar o convento, em 1542, o qual resulta da trasladação de um outro convento que teve vida efémera na praça africana de Azamor.

As obras, todavia, não se iniciaram antes de 1569, dado que os primeiros anos de vida da instituição foram fortemente marcados pela figura de Fr. Valentim da Luz, intelectual que assumia algumas posições protestantes, tendo acabado por ser acusado pela Inquisição e morto num auto de fé em Lisboa.

Dessa primeira construção pouco resta à exceção do claustro, que mantém a estrutura original, de planta quadrangular e realizado a partir de uma conceção renascentista algo erudita, pelo cuidado estilístico colocado na feitura de bases, colunas e capitéis toscanos. Também a igreja, edificada segundo princípios chãos, deve a sua estrutura atual ao primitivo templo da segunda metade do século XVI, embora tenha sido adulterada ao longo dos séculos.

As obras de construção do edifício conventual foram lentas, prolongando-se até ao século XVII. No século seguinte, temos muito poucas notícias acerca da sua história, mas parece certo que o convento entrou precocemente em decadência, uma vez que logo pelos meados do século XVIII é referido em estado ruinoso, muito particularmente o seu claustro.

A campanha barroca do edifício conventual iniciou-se em 1749, precisamente no claustro. Esta intervenção, contudo, respeitou a anterior traça renascentista do espaço, resumindo-se a copiar o modelo de suporte definido pela construção quinhentista.
Diferente foi o caso das alas conventuais, integralmente remodeladas numa grandiosa campanha realizada entre 1758 e 1778. Da responsabilidade do arquiteto algarvio Diogo Tavares, figura marcante da arquitetura do tempo barroco na província, e de Mestre Bento Correia, esta campanha encarregou-se de atualizar as dependências, destacando-se a escadaria monumental e a porta de acesso à hospedaria, com o seu tímpano interrompido por frontão triangular. A qualidade e amplitude desta obra encontram-se bem patentes na grandiosa fachada principal do convento, virada a Sul e organizada simetricamente. Definida a dois registos, possui duas poderosas torres retangulares nos limites, sendo os panos intermédios compostos por grandes janelões de molduração barroca.

A partir de 1839, com a extinção das ordens religiosas, o edifício ficou afeto ao Ministério da Guerra, que aqui instalou sucessivas unidades militares.

Em 2003 o conjunto foi adquirido pela Câmara Municipal de Tavira, e posteriormente cedido à ENATUR, que aí instalou uma Pousada. Esta obra possibilitou a intervenção arqueológica no espaço, processo que permitiu já a identificação de um bairro islâmico material do século XIII. (...)


Fonte: IGESPAR.Reproduzido, com da devida vénia, do sítio da Câmara Municipal de Tavira.


1. Comentário, ao poste P12716, da do Mário Miguéis [ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau,Bambadinca e Saltinho, 1970/72; bancário reformado; talentoso cartoonista e artista gráfico; vive em Esposende) [, foto à direita,]:


Caro Luís:

Serve a presente para apresentar enérgicos protestos em relação à peregrina ideia que tiveste de desafiar o Vinhal a falar e a promover um "passatempo literário" sobre as cidades e vilas que mais amadas ou odiadas foram pela malta durante o nosso percurso militar anterior à Guiné, protestos estes igualmente extensivos a esta espécie de crónica ilustrada que dá pelo título de "Gostei de voltar a Tavira", que até já vai na sua "Parte IV". Ora, toda esta acção concertada e insensata está a contribuir para o descalabro do honesto e difícil trabalho em que estou envolvido: chama-se a isto, no mínimo, concorrência desleal.

Para ser mais directo, que é como quem diz,para maus entendedores, informo que estou, de há uns meses a esta parte, a dedicar as minhas horas de maior tranquilidade à reconstituição do percurso militar atrás referido - no que a mim diz respeito, claro está! - que, naturalmente, abarca esta passagem pelas Caldas e por Tavira. Ora, com esta vossa intromissão no tema em causa, sinto-me, com a razão que, por certo, me darás, , prejudicado com este plagiar por antecipação, já que, para além de apresentardes fotografias que há muito tenho gravadas nas minhas "pen-drive" de estimação, chegais ao cúmulo de utilizar adjectivos idênticos aos utilizados por mim mesmo nas legendas e na própria narrativa, de que destaco a palavra "ronceiro", para caracterizar o pobre comboio que, coitadito, tinha que percorrer aquelas linhas de ferro do Oeste, Alentejo e quejandas.

Pois, meu caro, olha que, quanto a vistas de Tavira, já, em 1970, eu fiz o meu levantamento do património histórico da cidade, e, à falta de máquina fotográfica, tomei uns apontamentos a tinta da china, de que é exemplo paradigmático o da fachada do nosso querido Quartel da Atalaia, ao qual me liga um episódio com uma certa graça, que me dispenso de contar, por não ser este o espaço mais adequado,nem eu estar interessado em pôr em causa o interesse futuro dos meus potenciais leitores.

E, pronto, meu caro Luís, depois deste comentário brincalhão, resta-me, agora a sério, agradecer-te a ideia que, em boa hora, te iluminou, e ao Vinhal a pronta sequência que, com o seu próprio contributo e com o contributo de vários dos nossos tabanqueiros - comentadores incluídos - muito tem contribuído para um recordar e esclarecer de pormenores que a minha débil memória já não comporta (refira-se que, tempos atrás, sugeri a inclusão de um consultório no nosso blogue, tipo consultório sentimental da "crónica feminina", onde, periodicamente (publicação quinzenal ou mensal), se pudessem colocar questões de ordem técnica e outras ("quantos recrutas estiveram presentes no 4º turno de 69?!...; a que horas era o toque de alvorada?!..."). Enfim, perguntas singelas às quais não faltariam prestáveis camarigos a dar pronta e correcta resposta - admito que a vaga não era,na altura (e aqui altura tem duplo sentido), a mais favorável.

Daqui a nada, com tanta conversa da treta, aproveito para transcrever este comentário para o meu livrinho em embrião - sempre enche mais uma paginazita!...
Como - não sei porquê - me sinto algo generoso nesta noite de gripe e muita chuva, vou remeter ao Vinhal um dos desenhos que ilustram a minha passagem pelas Caldas, pode ser que ele goste. A ti, não ofereço nada, mas felicito-te pelas belíssimas fotografias que tens vindo a publicar.

Um grande abraço,

Mário Miguéis

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12699: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (16): Não gostaria de regressar ao passado e muito menos em Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

Guiné 63/74 - P12718: Blogoterapia (248): In Memoriam: Maria da Graça (1922-2014): Foste uma boa mãe, como todas as mães do mundo... e eu, da minha parte, nunca esquecerei que, com as minhas irmãs e o meu pai, rezavas por mim, todos os dias, nos quase 700 dias em que estive lá longe, na guerra, na Guiné (Luís Graça)

Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, 1947:
eu, aos 8 meses, ao colo da minha mãe,
Maria da Graça (1922-204) e ao lado do
meu pai, Luis Henriques (1920-2012).
Foto: LG
In Memoriam: Maria da Graça (1922-2014) (*)

1. É um sentimento de vazio, de orfandade, de abandono, quando perdemos pai e mãe... 

Pode a morte ser mais ou menos  esperada...E pode até a vida, de um idoso, doente, já não ter qualquer sentido, pelo menos aos olhos da nossa racionalidade humana, quando a rede de comunicação deixa de funcionar...e uma mãe não reconhece mais o seu filho.

Tive a premonição da morte da minha mãe quando, no sábado passado, fui visitá-la pela última vez, ao Lar e Centro de Dia de Nossa Senhora da Guia, na Atalaia, Lourinhã... Eu e a Alice,  que foi para ela uma verdadeira filha... Sempre que lá íamos, quase todo os sábados, à hora do almoço, a Alice gostava de ser ela a dar-lhe a comida... Com infinita paciência e desvelo filial. No sábado, sentimos que a sua hora estava a chegar. Como chegou, às 9 e meia do dia 12.

Na despedida da minha mãe, tive o privilégio de contar com a presença física de bons amigos e camaradas da Guiné que puderam e quiseram deslocar-se à Lourinhã: o Jorge Narciso, que se deslocou do Cadaval, o Humberto Reis (que já passa uma parte da semana na Lourinhã), o Luis R. Moreira, o Miguel e a Giselda Pessoa (que vieram de Lisboa)... 

Dezenas e dezenas de camaradas deram-me, à distância, o seu apoio e espiritual,  telefonando-me, mandando-me msns ou emails, ou ainda fazendo comentários no nosso blogue e na nossa página do Facebook.

Mesmo nunca tendo conhecido (ou privado com) a minha mãe, associaram-se ao meu pesar e ajudaram-me a suportar um pouco melhor este momento difícil. Pensei também em todos, meus bons amigos e camaradas, quando na quinta-feira, dia 13, disse, no final da missa de corpo presente, a oração que a seguir reproduzo.  (**)

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2. Oração dos filhos, nora e genros, netos e bisnetos,
demais parentes bem como amigos
que vieram de mais longe ou de mais perto
(Porto, Fundão, Lisboa, Torres Vedras, Nadrupe, Atalaia, Lourinhã...),
para acompanhar a Maria da Graça,
"até à sua última morada",
e a quem eu, a Alice, o João, a Joana e o resto da família da Lourinhã
estamos  muito gratos e reconhecidos.


Minha querida mãe,
em nome de todos nós,
tua família e amigos,
e por ser o filho mais velho
deixa-me dizer-te
algumas palavras, breves, de despedida,
mas também de agradecimento e esperança.

Chegaste ao fim da autoestrada da vida,
ao km 91,
serenamente, sem dor, em paz.
E preparas-te para fazer outra viagem,
a travessia do rio Caronte,
como diziam os gregos antigos:
uma viagem de que nenhum mortal alguma vez regressou.

Estamos aqui,
na igreja onde tu me trouxeste para me batizares,
num dia frio como este, em 1947,
estamos hoje aqui
para te dizer
quanto te amamos.
Não ficarás na história com H grande,
mas ficas na nossa história,
nos nossos corações,
nas nossas memórias,
nas fotos e vídeos que fizemos,
nas palavras que sentimos,
nas palavras que te dissemos ou escrevemos,
nos gestos de amor, afeto e carinho
que trocámos…

Despedes-te da terra da alegria,
como diz o poeta Ruy Belo,
despedes-te da grande família
que, como uma verdadeira matriarca,
criaste, alimentaste, cuidaste…

Não vou dizer que foste a melhor mãe do mundo
porque estaria a fazer comparações sem sentido.
Para nós,
teus filhos, netos e bisnetos,
foste muito simplesmente
a mãe querida,
a sogra amada,
a avó babada,
a bisavó velhinha,
a boa amiga…

Não há palavras
para explicar o mistério da vida e da morte,
mas aqui, nesta oração, cabe uma palavra,
de reconhecimento,
de agradecimento
pelo amor incondicional que sempre tiveste por nós,
e pelo nosso saudoso e querido pai.
Por nós, teus filhos, nunca esqueceremos
os teus pequenos grandes gestos de amor,
desde a preciosa vida que nos deste
até ao desvelo e carinho
com que ajudaste a nascer e a a criar
e viste crescer os teus netos e bisnetos.

Foste uma boa mãe,
como todas as mães do mundo...
e eu, da minha parte, nunca esquecerei
que, com as minhas irmãs e o meu pai,
rezavas por mim, todos os dias,
nos quase 700 dias
em que estive lá longe,
na guerra, na Guiné.

Como rezavas por todos nós,
pelos teus demais filhos e netos
nas horas difíceis,
na véspera de um exame
ou na hora incerta de um parto.

Tal como pai, que tratava carinhosamente
por “Maria, minha cachopa”,
partes em paz contigo,
com o mundo,
e com Deus.
A tua vida foi um livro aberto,
a de um mulher simples e generosa
que nada ou muito pouco pedia em troca
e que tanto deu,
em serviço aos outros.

A tua vida,
a tua morte
são também um exemplo,
para todos nós,
de esperança, de tenacidade, de verdade e de bondade.
O teu exemplo e a tua doce memória
vão-nos acampanhar pelo resto das nossas das vidas.

Deixa-me, por mim, mandar-te um recado
dos teus netos e bisnetos,
estão aqui todos,
exceto o Filipe
que não pôde vir a tempo, de Inglaterra,
mas que está connosco em pensamento.

Avó linda, avó velhinha,
estamos-te gratos
por tudo o que nos deste em vida.
Falaremos de ti com saudade e ternura.
Vela por nós,
lá do alto,
onde já tens uma estrelinha com o teu nome,
Maria da Graça.

Lourinhã, Igreja de Nossa Senhora do Castelo,
13/2/2014

Luís Graça

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12717: Os nossos médicos (73): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (6): Em Bubaque, como subdelegado de saúde


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 9



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 11




Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 12



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 18



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 17



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 14



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 13


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 15



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74 > Foto nº 16



Fotos: © Rui Vieira Coelho  (2014). Todos os direitos reservado. [Edição: LG]


1. O Rui Vieira Coelho, ex-al mil médico, do BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), passou uma temporada no arquipélagos do Bijagós, na qualidade de subdelegado de saúde da região de Galomaro Cossé, a pedido do então Chefe da Saúde Pública, ten cor médico Aragão de Barros.

O Rui não nos disse em que data exata é que lá esteve. Mas deduzo que tenha sido já em 1974, na fase terminal da sua comissão de serviço. De qualquer modo, sabemos que fez serviço em diversas ilhas: Orango, Orangosinho, Caravela, Bubaque, Galinhas, etc. Mas a base era Bubaque, onde havia a casa do médico, ao lado da casa do administrador.

Estas fotos que ele acaba de nos mandar, em 12 do corrente, sem legendas, são de Bubaque.

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Guiné 63/74 - P12716: Manuscrito(s) (Luís Graça) (20): Gostei de voltar a Tavira (Parte IV): E de ter tempo para (re)descobrir a beleza e o brilho fascinantes do seu património edificado...



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1106 > Quartel da Atalaia, sito na Rua do Poeta Isidoro Pires [Seguir o percurso através dos mapas do Google]


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1107 > Igreja do antigo convento de são Francisco.  Localização: Praça Zacarias Guerreiro.


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1115 Igreja do Igreja do Hospital do Espírito Santo (ou de São José) (Monumento de Interesse Público). Localização: Praça Zacarias Guerreiro.


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1110 > Igreja do Igreja do Hospital do Espírito Santo (ou de São José)


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1123 > Torre albarrã, hexagonal, do Castelo de Tavira (que é monumento nacional; localização: Largo Abu-Otmane).

(...) "Após a construção de uma muralha fenícia entre os séculos VIII e VII a. C. passaram-se cerca de catorze séculos sem que nenhum importante aglomerado urbano se tivesse formado nas margens do Gilão. Os muçulmanos retomam a povoação de Tavira em finais do século X ou inícios do XI, bem como a vocação portuária e comercial do lugar, recebendo o topo da colina de Santa Maria a construção do castelo, destinado a proteger o vau do Gilão que permitia o trânsito entre as duas margens, supostamente, antes da construção da ponte.

"Ao longo de todo o século XI a localidade verá a aumentar a sua importância, crescendo em direção ao rio. À sombra das muralhas fixa-se uma população que aumenta naturalmente e que começa a agregar também os muçulmanos escorraçados a norte pelos reinos cristãos e que procuram refúgio nas zonas mais pacatas do sul da Península Ibérica.

"A uma primeira muralha almorávida, construída, com grande probabilidade, nos finais do século XI, ou já no século XII, seguiu-se a reforma almóada, período de que datam os seus principais elementos. "Já depois de conquistada pelas tropas cristãs, novas obras conferiram a forma levemente ovalada, pontuada por algumas torres, que ainda hoje é possível reconstituir. Na Baixa Idade Média, o perímetro amuralhado rondava os cinco hectares, o que indiciando a importância e dinâmica económica da vila.

"São consideráveis os restos dessas muralhas, originalmente construídas em taipa, especialmente na zona do atual núcleo museológico islâmico, na Praça da República, onde foi descoberta uma antiga porta, com seu arco de ferradura, que na origem estaria associada a uma torre defensiva. Na zona da atual alcáçova, caindo para a rua da Liberdade, conserva-se a poderosa torre albarrã, hexagonal, destacando-se claramente das restantes estruturas e que apesar de refeita, deve ser colocada em paralelo com outras torres poligonais ibéricas de época muçulmana.

"Depois de conquistada a cidade pelos cristãos, foram executadas obras no recinto muralhado. Existem notícias destas campanhas nos reinados de D. Afonso III e de D. Dinis, supondo-se que sejam deste período os vestígios identificados nos terrenos da Pensão Castelo, assim como a própria configuração da Porta de D. Manuel, na atual Praça da República. Na viragem para a Modernidade, esta Porta de D. Manuel tornou-se o eixo de passagem privilegiado entre o interior e o exterior das muralhas, razão do seu engrandecimento com os símbolos manuelinos." (...) (Fonte: CM Tavira).


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1219 > Calçada dos Sete Cavaleiros, que coneça no Largo Abu Otomane


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1217 > Homenagem a D.Peres Paio Correio e aos seus companheiros que deram  a vida na conquista de Tavira aos mouros...(Não sei se são sete + 1...).




Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1203 > Igreja de Santa Maria do Castelo > Monumento nacional > Data da primeira metade do séc. XIII, tendo sido construída no lugar da antiga mesquita. Apesar da reconstrução na sequência do terramoto de 1755, mantem traços do estilo gótico original,. como se pode ver aqui, na foto da porta ogival. Não entrei porque estava fechada. Nas paredes laterais da capela-mor, há inscrições medievais assinalando a presença do sepulcro de  D. Paio Peres Correia, mestre da Ordem de Santiago,  e dos seis (ou sete ?) cavaleiros cristãos que morreram na conquista de Tavira, em 1242, e considerados "mártires" pelos cristãos.


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1207 >Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1203 > Pormenor do pórtico (gótico) da Igreja de Santa Maria do Castelo






Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1195 >  Torre do relógio  da Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo, com traços mouriscos (janelas)



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1131> Calçada da Galeria  e Largo da Misericórdia > à direita, Palácio da Galaeria, onde hoje está instalado o museu municipal. É um dos edifícios mais representativis da arquitetura civil da cidade.


(...) "Situado no Alto de Santa Maria (Calçada da Galeria), local de antigo povoado fenício, observando-se aqui alguns vestígios associados a práticas religiosas deste povo. Escavações efetuadas no átrio do palácio levaram à identificação de vários poços escavados na rocha e que foram interpretados como 'Poços rituais fenícios' dos séculos VII-VI a.C., dedicados ao culto de Baal, deus das tempestades.

"O edifício de feições barrocas assinala a época em que foi adquirido e habitado pelo ilustre magistrado João Leal da Gama e Ataíde, o qual promoveu a sua reconstrução em meados do século XVIII pelas mãos do distinto construtor Diogo Tavares de Ataíde.

"É o núcleo central do Museu Municipal de Tavira, inaugurado em 2001, após obras de reabilitação." (Fonte: CM Tavira)





Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1222 > Calçada da Galeria > Janelas do 1º piso do Palácio da Galeria



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1229 > Largo Dona Ana, perpendicular à Calçada da Galeria


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1235 > Descendo a Calçada da Galeria, em direção ao rio.

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


1. Tavira é seguramente um sítio da nossa terra onde vale a pena voltar uma e mais vezes...  De preferência fora da época estival... Passei lá um fim de semana, dois dias, alojado no Convento das Bernardas, junto às salinas, aproveitando uma promoção de época baixa, e depois fui visitar o velho quartel da Atalaia onde funcionou o CISMI, e por onde passámos, muitos de nós furriéis milicianos, antes de irmos parar à Guiné... Já aqui identificámos alguns: eu, o César Dias, o Humberto Reis, o António Levezinho, o Henrique Cerqueira, o José Martins, o Veríssimo Ferreira,  o José Brás, o Manuel Carvalho, o Carlos Silva, o Josema (, o nosso poeta da Régua, o Zé Manel Lopes),  o Joaquim Fernandes, o António Branquinho, o Fernando Hipólito (estes dois últimos não são ainda grã-tabanqueiros, e o último foi para Angola)... E muitos mais. (Eu, o Reis, o Levezinho, o Branquinho e o Fernandes encontrámo-nos todos na CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12, em Santa Margarida...).

E depois, aproveitando a manhã de sábado, dia 1 de fevereiro,  com um sol envergonhado, fui (fomos, eu, a Alice, e os meus cunhados do Porto, Gusto e Nitas) à (re)descoberta da cidade, das suas famosas igrejas,  ermidas e capelas...  Que são pelo menos umas trinta e quatro, conforme excelente roteiro disponível "on line" no sítio da Câmara Municipal de Tavira... Mas a cidade (e arredores) vale pelo seu conjunto!.

Eis algumas das fotos que tirei e das notas que coligi... Talvez alguns de vós possam  reconhecer sítios por onde passeámos, ao fim de semana nos idos tempos das décadas de 1960 e 1970, ou por onde marchámos, a toque de caixa... Eu lembro-me de ter passado por alguns destes sítios, há quase meio século... Pouco eufórico, muito menos com ar de turista... Era instruendo do 2º ciclo do CSM, no CISMI, no quartel da Atalaia... E, sem o saber, já a caminho da Guiné...

Atenção ao título deste poste que pode ser enganador: por detrás do brilho e da beleza do património (civil, religioso e militar) que chegou até aos nossos dias, estão séculos e séculos de drama e de tragédia... O que me fascina também em Tavira (hoje, não em 1968, quando por lá passei, a correr...) é que a aqui podemos também contar, reviver, reconstituir, conhecer com cores e formas locais,  a história, a nossa história, de seres humanos e de portugueses... Já que por aqui passaram inúmeros povos, desde o neolítico até às invasões francesas no princípio do séc. XIX... (LG)

Guiné 63/74 - P12715: Parabéns a você (691): Senhora Dona Clara Schwarz, Grã-Tabanqueira, mãe do nosso amigo Pepito, que a partir de hoje fica a um pequeno passo do seu centenário

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12702: Parabéns a você (690): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622 (Guiné, 1969/71)

Guiné 63/74 - P12714: Notas de leitura (562): "Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné-Bissau", por Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2014:

Queridos amigos,
Artur Augusto da Silva foi um estudioso das coisas guineenses, deixou uma bela obra que merece ser visitada e até atualizada, tanto dos trabalhos jurídicos como etnográficos, antropológicos e até literários.
Esta publicação surgiu em 1958, a introdução recorda que havia o imperativo de estudar com rigor o homem africano, haviam tensões de regressar à autenticidade sem cuidar de que o europeu forjara uma imagem de África e que o assimilado pairava entre as duas culturas, impunha-se, escreve Artur Augusto da Silva, apurar e deslindar as transformações operadas e não suscitar uma imagem de desenvolvimento ao arrepio da longa trajetória do homem africano.
Mensagem premonitória, como se sabe.

Um abraço do
Mário


Usos e costumes jurídicos dos Fulas na Guiné-Bissau

Beja Santos

Artur Augusto da Silva é um nome sonante da investigação na Guiné-Bissau, ao longo de décadas o seu nome impôs-se como referência em trabalhos jurídicos e estudos associados à etnologia e etnografia guineenses. “Usos e costumes jurídicos dos Fulas na Guiné-Bissau” teve a sua primeira edição em 1958 e recebeu o prémio Frei João dos Santos; a edição a que nos reportamos é a terceira, edição DEDILD.

As surpresas começam na introdução, quando o autor, um assumido profissional de Direito, esclarece que o seu trabalho não é estritamente jurídico, visa sobretudo chamar a atenção para a necessidade de se conhecer o homem africano. Parte de um esclarecimento, os contactos culturais entre colonizadores e colonizados e aflora a criação do Estado independente do Gana. E diz algo que tem uma carga premonitória: “A independência de regiões africanas não soluciona o problema fundamental em que a África Negra moderna se debate e que consiste em encontrar uma fórmula de organização socioeconómica capaz de substituir a tradicional organização patriarcal (…) Os Estados que na África Negra se criarem, permanecerão durante muitos anos numa espécie de caos político, financeiro e cultural que os conduzirá diretamente à dependência política ou económica de outro Estado, obrigando-se os povos a passar por uma fase de anarquia, com todo o cortejo de inconvenientes”. Para obviar tais dramas, Artur Augusto da Silva entende que se deve ter um conhecimento, o mais exato possível, da realidade do homem africano, da sua organização tradicional, da sua evolução, deve atentar-se que o homem africano subordina inteiramente todos os atos da vida à sua religião, que esta comanda, com cega impiedade, as suas ações, há um abismo psíquico que separa o europeu do africano. Tece considerações pertinentes sobre os assimilados, fazendo notar que no Congresso dos Escritores e Artistas Negros, realizado em Paris em 1956, dominava a reivindicação de encontrar o verdadeiro caminho tradicional, uma recusa na assimilação, havendo mesmo quem dissesse que o assimilado é um desenraizado. O remédio, comenta sobre quem estuda a história de África, é a aprofundar a realidade africana para que se prova prever e construir o futuro de África.

Centrando-se nas questões guineenses, o autor expende considerações sobre os povos onde se movem os Fulas, enfatiza o papel da dependência familiar, as cerimónias de iniciação, o poder conferido à classe dos velhos e estabelece uma destrinça entre as atividades culturais e lúdicas dos islamizados face aos animistas. E assim se chega ao Direito Fula, que é de raiz corânica e enuncia os dados fundamentais da lei canónica islâmica.

Convém não esquecer que este estudo foi publicado em 1958, para se entender o contexto dos dados expendidos. Diz o autor que os Fulas habitam várias regiões dos territórios franceses e ingleses, receberam o islamismo através de outros povos africanos, adulterado por interpretações primárias, só recentemente é que se vieram impor normas reguladoras. A diferença fundamental entre o Direito Fula e o Direito europeu reside que, “no primeiro, a regra de conduta não é feita, pois representa uma parte da vida da coletividade enquanto, no segundo, as regras derivam de uma vontade deliberada e consciente da pessoa ou pessoas investidas de autoridade legislativa. Para o Fula o direito é anterior à pessoa enquanto para os europeus o direito é um produto dos homens”.

Os Fulas não dispõem de organização judiciária, é no topo da hierarquia que existe um conselho que dirime conflitos e profere sentenças. Ao tempo as decisões dos régulos tinham perdido força coerciva, a potência colonial, através do administrador, retirara poderes de vida e de morte aos régulos.

A autoridade do marido é absoluta; entre os Fulas, como, aliás, entre a totalidade dos negros muçulmanos, as práticas pré-islâmicas impuseram-se de tal forma que a condição da mulher e dos filhos está imensamente favorecida. O autor estuda o papel do pater famílias, a natureza dos parentescos familiares, a filiação legítima, os graus de parentesco, o pedido de casamento, o divórcio, a aceitação do concubinato.

Passando para o Direito das Obrigações, o autor fala das obrigações no sentido técnico e nas obrigações como dever moral. Apresenta os contratos de aluguer e arrendamento, de prestação de serviço, de venda e troca e de empréstimo. Com a acrescida presença colonial, muitos destes contratos ganharam efetividade. Nos centros urbanos, os Fulas arrendam casas mediante retribuição de dinheiro, o contrato de aluguer pode versar sobre diversos objetos, no passado era feito em géneros e só ultimamente o é em dinheiro. O autor fala das provas do Direito Fula, mencionando que a demonstração da verdade dos factos podia ser feita por: documentos e exames; testemunhas; juramento; ordálios.

Do maior interesse é o que o autor refere quanto aos direitos reais, assim observado: “Ainda há quarenta anos, o regime de propriedade imobiliária assemelhava-se ao do feudalismo europeu e a organização social mantinha muitos pontos de contacto com a feudal. A administração das terras pertencia ao régulo que as dava, em recompensa de serviços, aos chefes das povoações mas só em usufruto, com a obrigação de pagarem anualmente um certo tributo. As terras eram consideradas como propriedades da coletividade, essa propriedade era administrada pelo chefe que fazia suas as rendas ou tributos. O Direito Fula não chegou a criar uma teoria dos direitos reais, e o autor expende considerações sobre o conceito Fula de Direitos aplicado à propriedade, aos terrenos destinados a pascigo de gado, meios de transporte (como canoas) e distingue a propriedade pública da propriedade privada".

Os direitos de sucessão obviamente que se subordinam à lei corânica. Assim quando um individuo não deixa descendentes, a herança cabe aos ascendentes; o pai ou o avô herda a totalidade, caso não haja filhos, quando há um só filho, mas o pai ou avô está vivo, a herança defere-se ao ascendente num terço e ao descendente no restante.

E temos finalmente o Direito Penal, já ao tempo posto de parte pelo direito ocidental, só nos casos de pequena gravidade se aplicava o direito costumeiro Fula. E o autor observa: “Os Fulas, em todas as regiões onde habitam, desde cedo se aproximaram dos colonizadores europeus a quem ajudaram grandemente nas lutas de pacificação dos territórios. Os Fulas apresentaram-se perante os outros povos de África como conquistadores – colonizadores, tal como os europeus. Hostilizados pelos outros povos da raça negra por motivos políticos e religiosos, só a aliança com os novos conquistadores lhes permitiram subsistir (…) Os Fulas, dada a sua aproximação voluntária e colaboração com os colonizadores, modificaram as suas instituições e, daí, o seu abandono do sistema penal em que viveram”. E o autor passa em revista o antigo Direito Penal dos Fulas, penas que iam desde as vergastadas, torturas diversas, multas e até a morte.

Documento precioso, atendendo à data em que foi redigido e as observações políticas, lança um subtil aviso à necessidade de perceber os fundamentos socioculturais do homem africano, num tempo em que se anunciava a preparação das independências.

Para ler na integra este artigo, sugere-se a consulta do site:

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12705: Notas de leitura (561): A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas - Parte 2 de 4 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12713: Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano", falecido em 8/12/1983 (Luís Gonçalves Vaz)

1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos um apelo que passamos a publicar.

Camarigos,


"Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano", falecido em 8/12/1983. Este "pedido de contactos", surge como vontade de um dos seus filhos, com o objetivo de obter algumas informações sobre o passado militar do seu falecido pai, no TO de Moçambique e da Guiné, teatros de operações por onde passou este militar do Quadro Permanente, da arma de Cavalaria, que quis o "destino" que sobrevivesse na guerra colonial, mas que muito cedo (com apenas 41 anos e vida) sucumbisse num trágico acidente no rio Tejo, no dia 8 do mês de dezembro do ano de 1983, altura em que frequentava um curso para aceder na sua carreira militar. Como o conheci pessoalmente e porque privei com ele durante o ano de 1983 na EPC (Escola Prática de Cavalaria) em Santarém, e de ter estado pessoalmente com o "grupo de sapadores da EPC" nesse mesmo dia fatídico, nas buscas e tentativa de salvamento deste mesmo oficial, é com muito respeito e admiração pela sua memória, que dou voluntariamente visibilidade e voz ao pedido de seu filho António Caetano. Como tal agradeço a publicação deste artigo no "Nosso Blog".

Forte Abraço deste camarigo.

Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano, falecido em 8/12/1983

(1942-1983)

Major de cavalaria António Caetano (fotografia do arquivo familiar)

Seu filho António Caetano, que tinha apenas 14 anos de idade, e era aluno do Colégio Militar na altura, quando o seu pai faleceu, em oito de Dezembro de 1983, num trágico acidente no rio Tejo, em Santarém, desejava comunicar com ex-camaradas e ex-combatentes, que com ele estiveram no TO (Teatro de Operações) de Moçambique, onde foi comandante do Esquadrão de Cavalaria 2 em Mueda, ou no TO da Guiné, nos anos de 1972/74, onde foi comandante da companhia de cavalaria 8350/72, no aquartelamento de Gadamael (onde chegou pela 1ª vez , lançado de helicóptero com o então capitão Monge e coronel Durão, para tentar enquadrar os militares portugueses em situação “crítica”, naquele que foi um dos “infernos” naquele TO, segundo relatos do sr. Brigadeiro Manuel Monge, em seu testemunho numa entrevista para os “Estudos Gerais da Arrábida sobre A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA, Painel dedicado à Metrópole (1 de Setembro de 1995). Na Guiné esteve também no CMI-Cumeré e durante a tarde de 28 de Agosto de 1973, na sala de sargentos do Agrupamento de Transmissões (CTIG), foi um dos oficiais subscritores do primeiro "manifesto anti-decretos", percursor do MFA-Guiné. Seu filho António Caetano, agradecia que algum ex-camarada de seu pai, que frequentasse este Blog ou por aqui passasse, se dignasse fornecer aos Editores, os respetivos contactos, para que ele os pudesse contactar, naturalmente para saber de algumas Estórias do seu falecido pai, que com ele apenas privou 14 anos, já que o destino assim vaticinou. O mesmo agradece esses eventuais contactos desde já.

Placa de um largo com o nome do major António Caetano, homenagem a este oficial de cavalaria da Câmara Municipal de Almeirim, sua terra natal.


Major de cavalaria António Caetano (fotografia do arquivo familiar)

Brigadeiro Manuel Monge: 

“… Bem, eu tinha vindo de comandar a guarnição operacionalmente mais difícil da Guiné, que era o COP 5, portanto também me sentia com alguma autoridade moral para poder falar da Guiné. Fui colocado a comandar o COP 5, lançado de helicóptero numa tarde, por ordem do general Spínola, numa altura em que aquilo tinha sido bombardeado pelo PAIGC e, dos 400 homens da guarnição, estavam lá 40, porque entre mortos, feridos e indivíduos que entraram em pânico e que tinham fugido para a bolanha, a guarnição estava completamente dizimada. Fui lá lançado de helicóptero ao final da tarde, com o coronel Durão e com o capitão Caetano, que já morreu. E estive a comandar durante oito meses o COP 5." …”

In: Estudos Gerais da Arrábida A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA Painel dedicado à Metrópole (1 de Setembro de 1995).

NOTA: Manuel Monge (n. 1939): Oficial de Cavalaria. Fez quatro comissões de serviço em
África: duas em Angola e as duas na Guiné. Um dos braços direitos de Spínola,
quando este foi, primeiro, comandante-chefe da Guiné em 1968 e, depois,
Presidente da República. Dirigente do MFA.


Mueda 1969 - Despedida do Alferes Sousa (3.º da esquerda)


Mueda, 20 de Junho de 1969 - Despedida do Alferes Sousa
Alferes Manuel António, Alferes Sousa, Capitão Caetano, Alferes Azevedo e Alferes Sérgio

25 de Julho de 1969
Aniversário do Comandante do Esquadrão de Cavalaria 2, o Capitão Caetano
Frente: Alferes Padre Matos, Capitão Caetano, Capitão Cabral Lopes e Alferes Azevedo
Meio: Tenente André (falecido em 27/07/1969), Alferes Armindo, Capitão Sebastião e Tenente Ferreira
Atrás: Tenente Pinela, Alferes Braga e Tenente Resende

Para saber mais consulte Gadamael, o verdadeiro inferno, in: http://www.guerracolonial.org/index.php?content=413
Ali pode ler-se: "... Em 1 de Junho foram lá colocados os capitães Monge e Caetano, para enquadrar os militares ali reunidos... "
Fotografias retiradas do sítio:

Braga, 14 de Fevereiro de 2014
Luís Gonçalves Vaz (filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz, então Chefe do Estado-Maior do CTIG) Luís Beleza Vaz

(Tabanqueiro 530)