1. Mensagem do nosso camarada Álvaro Vasconcelos (ex-1.º Cabo Transmissões do STM, Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72), com data de 2 de Maio de 2014:
Boa noite.
Amigo Vinhal,
Espero que estejas bem, na companhia da Dina.
Já anotei que o próximo Encontro Nacional (IX) será a 14 de Junho, em Monte Real. A seu tempo informarei se posso estar presente, assim como a Lourdes.
Entretanto, queria pedir se é possível publicar no Blogue da "Tabanca Grande" o Convite para a concentração da rapaziada do AGRTMS do CTIG, o qual tomo a liberdade de anexar.
No ano passado o encontro foi na Lagoa Santo André, Santiago do Cacém. Este ano será em Arêgos, nas Caldas com o mesmo nome, Concelho de Resende.
Em 2013, não havendo quem assumisse a organização, para a trazer ao norte, fiz-lo eu!...
Desta forma e para que os Camaradas da Tertúlia, do STM e/ou do AGRTMS do CTIG sejam informados, faço a solicitação devida.
Um abraço,
Álvaro Vasconcelos
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13063: Convívios (588): XXIII Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Caç Nat 52 e 54 e Morteiro 81, dia 10 de Maio de 2014 em Almeirim (José António Viegas)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 3 de maio de 2014
Guiné 63/74 - P13088: Bom ou mau tempo na bolanha (54): Caravelas, Bolanhas, Índios & Cowboys! Hoover Dam (Tony Borié)
Quinquagésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Há mais de uma dezena de anos, como delegado do sindicato da “United Steelworkers of America”, assisti a uma convenção na cidade de Las Vegas. Era uma daquelas convenções, onde as pessoas se reúnem com tempo para falar de tudo, menos daquilo para que foram delegadas, onde existe comida e bebida, que dá para quatro ou cinco vezes mais do que as pessoas presentes, todas aquelas facilidades e mordomias, que alguém tinha que pagar, onde existem sempre encontros de ocasião, pessoas que só se vêm uma vez na vida e, alguns tinham vindo da Califórnia ou de South Dakota, tal como nós que viemos de New Jersey, mas depois de falar cinco segundos, logo se diz que se lembra muito bem de ter ouvido falar dele.
Num dia em que o programa da convenção designava “viagem de estudo”, fizemos uma visita à barragem de “Hoover Dam”, num pequeno autocarro, com um bar improvisado, acompanhados por umas gentis meninas, que devido ao calor do deserto do estado do Nevada, iam com roupas reduzidas e, por mais que elas gentilmente quisessem que a nossa atenção fossem para as suas palavras, quase ninguém ligava nada ao que diziam, pois a atenção era para os seus esbeltos corpos, com que o Criador as contemplou! Diziam-nos elas, entre outras coisas, que o cimento que foi colocado no fundo da estrutura da barragem, por volta do ano de 1931, portanto no século passado, ainda continua “fresco”, ainda está a “curar-se” e, que neste momento estão a nascer uns “fungos”, no fundo da bacia da barragem, que daqui a três mil anos farão com que a barragem fique “seca”!
Eu não fiquei no mínimo incomodado com a notícia, pois daqui a três mil anos, já cá devem estar outros, mas pensei que um dia devia de visitar este lugar com mais vagar, pois quem vê cá de cima parece um “mar”, toda aquela zona que se situa a norte e, pensando naquelas rochas, naquele deserto de terras áridas e secas, como deveriam de ser antes desta gigante barragem ser construída.
Pois bem, esse dia veio agora, com todo aquele tempo que nós nesta idade vamos tendo. Na noite anterior, dormimos num “Rancho”, no deserto do Arizona, pela manhã, seguindo pela estrada número 93, no sentido norte, eis-nos próximo da fronteira com o estado do Nevada, descendo por um labirinto de estrada que vai passar sobre a barragem “Hoover Dam”, que cruza a fronteira entre estes dois estados.
Na altura uma grandiosa ponte estava em construção sobre a barragem que faz fronteira com o estado de Nevada, portanto seguindo pela estrada número 93, temos que passar por cima da barragem, portanto, a estrada desce, com algumas curvas apertadas, onde existem alguns locais com vista privilegiada, podendo-se apreciar uma imensidão de água, entre as rochas, e depois da barragem, o precipício onde o rio continua a sua jornada.
A barragem “Hoover Dam”, está localizada entre os estados de Arizona e Nevada, no rio Colorado, ficando mais ou menos a 50 quilómetros da cidade de Las Vegas, o seu nome é uma homenagem a Herbert Hoover, que foi o 31.º Presidente dos USA, e que foi muito importante no processo da sua construção.
Esta barragem, além da energia eléctrica, forma uma albufeira que funciona como reservatório, a que dão o nome de “Lago Mead”, que presta uma homenagem a Elwood Mead, é o maior projeto dos Estados Unidos da América, sendo considerada como um “Marco Histórico Nacional”.
Uma curiosidade, muito próximo existe a cidade de Boulder City, que foi construída pelo Gabinete de Reclamações dos USA, para abrigar os trabalhadores que operaram na construção da barragem. Uma lembrança dos tempos da construção da barragem é a proibição dos jogos de azar no território da cidade, sendo que somente Panaca, um município próximo, onde existe uma colónia “Mormon”, que também proíbe o jogo no estado de Nevada. Outra lei que havia na cidade era a proibição das bebidas alcoólicas, que entretanto foi derrubada em 1969.
A construção foi iniciada em 1931 e terminada em 1936, dois anos antes do prazo estipulado, custou naquele tempo 48 milhões de dólares e morreram 96 operários durante todo o processo de construção. A barragem mede 221 metros de altura e 379 de largura, a sua base tem 200 metros de espessura e 15 no topo, onde passa uma estrada que faz a ligação entre os dois estados.
Por aqui nos demorámos algumas horas, tirando fotos, fazendo o “tour”, vendo as “turbinas” e a água revoltosa lá no fundo logo a seguir à barragem, onde de vez em quando existe alguma descarga.
Seguimos a nossa rota em direcção a Las Vegas, parando umas milhas antes da cidade, no centro de informação, procurando hotel de acordo com a nossa condição financeira, pois como já sabem, já não era a primeira vez que por aqui andávamos e, para quem não sabe, em Las Vegas qualquer pessoa pode gastar milhares de dólares para dormir uma noite, dependendo das mordomias, até pode dormir pelos típicos $29.99 por uma noite, pode até simplesmente não pagar nada, (sendo delegado de qualquer coisa e, sendo convocado para ir às tais convenções), ou naquelas promoções de certos hotéis/ casinos, onde estamos a dormir, ouvindo e pensando no “tilintar” das moedas nas máquinas de jogo.
Las Vegas é famosa pelos seus casinos, a Las Vegas Boulevard, mais conhecida por “Strip”, é onde se encontram os mais imponentes casinos do mundo, como o Bellagio, Caesars Palace, Excalibur, Luxor, Mandaly Bay, MGM Grand, Monte Carlo, New York, Treasure Island, entre muitos outros.
Dormimos num hotel/casino umas milhas antes, por um preço irrisório e ainda com cupões para a comida.
No próximo episódio, se vocês concordarem, falaremos então de Las Vegas.
Tony Borie, Abril de 2014.
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Nota do editor
Último poste da série de 26 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13048: Bom ou mau tempo na bolanha (53): "Cristo", o Carpinteiro (Tony Borié)
Há mais de uma dezena de anos, como delegado do sindicato da “United Steelworkers of America”, assisti a uma convenção na cidade de Las Vegas. Era uma daquelas convenções, onde as pessoas se reúnem com tempo para falar de tudo, menos daquilo para que foram delegadas, onde existe comida e bebida, que dá para quatro ou cinco vezes mais do que as pessoas presentes, todas aquelas facilidades e mordomias, que alguém tinha que pagar, onde existem sempre encontros de ocasião, pessoas que só se vêm uma vez na vida e, alguns tinham vindo da Califórnia ou de South Dakota, tal como nós que viemos de New Jersey, mas depois de falar cinco segundos, logo se diz que se lembra muito bem de ter ouvido falar dele.
Num dia em que o programa da convenção designava “viagem de estudo”, fizemos uma visita à barragem de “Hoover Dam”, num pequeno autocarro, com um bar improvisado, acompanhados por umas gentis meninas, que devido ao calor do deserto do estado do Nevada, iam com roupas reduzidas e, por mais que elas gentilmente quisessem que a nossa atenção fossem para as suas palavras, quase ninguém ligava nada ao que diziam, pois a atenção era para os seus esbeltos corpos, com que o Criador as contemplou! Diziam-nos elas, entre outras coisas, que o cimento que foi colocado no fundo da estrutura da barragem, por volta do ano de 1931, portanto no século passado, ainda continua “fresco”, ainda está a “curar-se” e, que neste momento estão a nascer uns “fungos”, no fundo da bacia da barragem, que daqui a três mil anos farão com que a barragem fique “seca”!
Eu não fiquei no mínimo incomodado com a notícia, pois daqui a três mil anos, já cá devem estar outros, mas pensei que um dia devia de visitar este lugar com mais vagar, pois quem vê cá de cima parece um “mar”, toda aquela zona que se situa a norte e, pensando naquelas rochas, naquele deserto de terras áridas e secas, como deveriam de ser antes desta gigante barragem ser construída.
Pois bem, esse dia veio agora, com todo aquele tempo que nós nesta idade vamos tendo. Na noite anterior, dormimos num “Rancho”, no deserto do Arizona, pela manhã, seguindo pela estrada número 93, no sentido norte, eis-nos próximo da fronteira com o estado do Nevada, descendo por um labirinto de estrada que vai passar sobre a barragem “Hoover Dam”, que cruza a fronteira entre estes dois estados.
Na altura uma grandiosa ponte estava em construção sobre a barragem que faz fronteira com o estado de Nevada, portanto seguindo pela estrada número 93, temos que passar por cima da barragem, portanto, a estrada desce, com algumas curvas apertadas, onde existem alguns locais com vista privilegiada, podendo-se apreciar uma imensidão de água, entre as rochas, e depois da barragem, o precipício onde o rio continua a sua jornada.
A barragem “Hoover Dam”, está localizada entre os estados de Arizona e Nevada, no rio Colorado, ficando mais ou menos a 50 quilómetros da cidade de Las Vegas, o seu nome é uma homenagem a Herbert Hoover, que foi o 31.º Presidente dos USA, e que foi muito importante no processo da sua construção.
Esta barragem, além da energia eléctrica, forma uma albufeira que funciona como reservatório, a que dão o nome de “Lago Mead”, que presta uma homenagem a Elwood Mead, é o maior projeto dos Estados Unidos da América, sendo considerada como um “Marco Histórico Nacional”.
Uma curiosidade, muito próximo existe a cidade de Boulder City, que foi construída pelo Gabinete de Reclamações dos USA, para abrigar os trabalhadores que operaram na construção da barragem. Uma lembrança dos tempos da construção da barragem é a proibição dos jogos de azar no território da cidade, sendo que somente Panaca, um município próximo, onde existe uma colónia “Mormon”, que também proíbe o jogo no estado de Nevada. Outra lei que havia na cidade era a proibição das bebidas alcoólicas, que entretanto foi derrubada em 1969.
A construção foi iniciada em 1931 e terminada em 1936, dois anos antes do prazo estipulado, custou naquele tempo 48 milhões de dólares e morreram 96 operários durante todo o processo de construção. A barragem mede 221 metros de altura e 379 de largura, a sua base tem 200 metros de espessura e 15 no topo, onde passa uma estrada que faz a ligação entre os dois estados.
Por aqui nos demorámos algumas horas, tirando fotos, fazendo o “tour”, vendo as “turbinas” e a água revoltosa lá no fundo logo a seguir à barragem, onde de vez em quando existe alguma descarga.
Seguimos a nossa rota em direcção a Las Vegas, parando umas milhas antes da cidade, no centro de informação, procurando hotel de acordo com a nossa condição financeira, pois como já sabem, já não era a primeira vez que por aqui andávamos e, para quem não sabe, em Las Vegas qualquer pessoa pode gastar milhares de dólares para dormir uma noite, dependendo das mordomias, até pode dormir pelos típicos $29.99 por uma noite, pode até simplesmente não pagar nada, (sendo delegado de qualquer coisa e, sendo convocado para ir às tais convenções), ou naquelas promoções de certos hotéis/ casinos, onde estamos a dormir, ouvindo e pensando no “tilintar” das moedas nas máquinas de jogo.
Las Vegas é famosa pelos seus casinos, a Las Vegas Boulevard, mais conhecida por “Strip”, é onde se encontram os mais imponentes casinos do mundo, como o Bellagio, Caesars Palace, Excalibur, Luxor, Mandaly Bay, MGM Grand, Monte Carlo, New York, Treasure Island, entre muitos outros.
Dormimos num hotel/casino umas milhas antes, por um preço irrisório e ainda com cupões para a comida.
No próximo episódio, se vocês concordarem, falaremos então de Las Vegas.
Tony Borie, Abril de 2014.
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Nota do editor
Último poste da série de 26 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13048: Bom ou mau tempo na bolanha (53): "Cristo", o Carpinteiro (Tony Borié)
Guiné 63/74 - P13087: Em busca de... (243): Anselmo Soares Moreira, ex-sold, CCAÇ 1419 (Bissorã, 1965/67), a viver em França... Próximo convívio da companhia: 10 de Maio, Rio Tinto, Gondomar (Manuuel Joaquim)
1. Mensagem, com data de 30 de abril último, do nosso leitor (e camarada) Anselmo Soares Moreira, residente em França:
Olá, um abraço a todos!... Venho por este email se caso seja possível me informarem:
Eu, Anselmo Soares Moreira, soldado da companhia de caçadores 1419 que estive na Guiné em 65/67 em Bissorã, gostava de saber se este ano, 2014, fazem convívio, pois como me encontro em França não recebo notícias, nem sei qual o motivo porque que não me enviam correio para cá...
Pois se algum colega me pudesse informar, eu agradecia. Obrigado.
2. Mensagem do Manuel Joaquim, a quem pedi que respondesse ao seu camarada de companhia:
Olá, Luís, muito boa tarde.
Irei contactar o meu camarada Anselmo Moreira mas não sei se ainda há tempo para ele poder comparecer na confraternização anual da CCaç 1419, a realizar no próximo dia 10 de maio no "Choupal dos Melros", Quinta dos Choupos, Fânzeres, Rio Tinto, Gondomar. As inscrições fecharam a 30 de Abril mas este facto não impede que o camarada Moreira compareça, caso o deseje fazer. Terá de falar com o organizador, o camarada Joaquim Silva e penso que alguma coisa se há de arranjar. Anexo o anúncio do acontecimento.
Votos de óptima e rápida recuperação. Espero que não te apaixones pelas canadianas e que as mandes dar uma volta o mais depressa possível! Até lá, aproveita bem esse convívio, trata-as bem que elas bem te querem também. Abraço amigo do
Manuel Joaquim
Nota do editor.
Último poste da série > 30 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13072: Em busca de... (242): José Santos Nogueira Augusto, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2636, procura o seu camarada Eduardo Pires de Oliveira, ex-Soldado Radiotelegrafista, natural de Chaves
Último poste da série > 30 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13072: Em busca de... (242): José Santos Nogueira Augusto, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2636, procura o seu camarada Eduardo Pires de Oliveira, ex-Soldado Radiotelegrafista, natural de Chaves
Guiné 63/74 - P13086: Parabéns a você (728): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 1 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13075: Parabéns a você (727): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS do STM (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13075: Parabéns a você (727): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS do STM (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)
sexta-feira, 2 de maio de 2014
Guiné 63/74 - P13085: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (12): ainda a propósito da última sondagem, pergunto: "afinal, o que é que os ex-combatentes querem, devem querer ou será justo que o País lhes dê ? "
1. Texto enviado a 18 de abril último, pelo nosso camarada António J. Pereira da Costa, autor da série "A minha guerra a petróleo":
[alf art na CART 1692/BART 1914,Cacine, 1968/69;
Reporto-me ao inquérito que lançaste para “ocupar” o blog, nesta altura em que as férias começam a fazer rarear as nossas intervenções. Desta vez (vá lá...) concordo contigo e considero muito pertinentes as perguntas. Essencialmente, põe-se a questão de saber se conseguiremos transmitir aos vindouros o que foi o fenómeno sociológico em que fomos obrigados a participar. Seria lógico que começássemos pelos nossos filhos, mas, como viste, há uma grande dificuldade em passar testemunho a alguém que nos seria – ou é – muito próximo, mas que, todavia, parece pouco receptivo a captar a nossa mensagem.
Nesta análise reporto-me ao meu primeiro post que, se me não engano, chamou-se “Quem Somos?”.
Nessa altura, confesso que “entrei a pés juntos” ou, se calhar dei um chuto no baga-baga e a malta que vinha atrás que se desenrascasse. Fui devidamente metralhado, mas, com o tempo, os ânimos pacificaram-se e tenho encontrado muitos camaradas que concordam comigo, o que, de certo modo, prova que eu não estava tão errado quanto parecia…
Há que partir da base de que a passagem de experiências não é possível e quem toma conhecimento de um facto só valorizará e apreciará (devidamente) os intervenientes se estiver disposto a tal e sensibilizado para uma análise (des)apaixonada do sucedido. De outro modo, o assunto cai no esquecimento e, depois, será tema para os estudiosos.
Os estudiosos que já vão surgindo vão começando a analisar o sucedido e até podemos dizer: com certo cuidado e precisão. Só daqui por mais alguns anos começarão a surgir os “verdadeiros” estudiosos que falarão de coisas que só os iniciados compreenderão e valorizarão e, mesmo assim, se puderem ser confrontados com os protagonistas ficarão na sua e recusarão o depoimento… É a lei do funcionamento da História.
Conheces certamente o exemplo da insignificante e desconhecida “Guerra Fantástica” de 1762/63 que só foi fantástica por que não a sentiste na pele (e eu também não…). De outro modo teria sido bem real.
São velhos. Estão esquecidos. Porventura toldados na memória. Enfim, o que narram “vale o que vale”.
Eles, os estudiosos, é que sabem. Eles é que leram os papéis…
No que respeita à possibilidade de transmitir a nossa experiência a quem vem a seguir, remeto para as considerações que faço no meu post para “os que vinham chegando, cumprido o dever ou a desobriga” e para a recepção que lhes era propiciada pelos(as) que cá tinham ficado e para quem o próximo jogo do “Glorioso” ou o programa de music-hall que passava na RTP (a P/B,preto e branco,,,) era mais importante do que inteirarem-se e valorizarem o que o amigo ou familiar tinha passado. Isto para não falar da reacção da “entidades oficiais” que continuavam na sua árdua tarefa de tapar o Sol com a peneira.
Contudo, o tempo passou e nunca conseguimos responder a uma pergunta simples ou complexa como são todas as perguntas simples: o que é que os ex-combatentes querem, devem querer ou será justo que o País (e os seus próximos e vindouros lhes dêem? Qual o grau de atenção que merecemos ou fazemos por merecer?
É que, para se ter qualquer coisa, neste caso: respeito, consideração e atenção para o que se fez é necessário lutarmos por isso. E, mesmo que espontaneamente no-los dessem deveríamos sempre lutar para termos um pouco mais.
Temos, contra nós, o facto de apenas termos passado dois anos da nossa vida naquela situação o que, numa vida de mais de sessenta “não tem significado especial” e… o que lá, lá vai.
Além disso – por serem verdadeiras – contamos sempre as mesmas histórias, o que não anima uma reunião de família, nem entusiasma os que nos são queridos nem os amigos e, mesmo as nossas mulheres que começam a não ter paciência para nos aturar… Algumas consideram mesmo que “aquilo são lá coisas deles” e, com uma insensibilidade digna de registo, mas imprópria de quem faz alarde da sua maior sensibilidade atávica, alheiam-se.
Por vezes penso se não teríamos mais e melhor aceitação se não tivéssemos passado o mesmo tempo, mas numa prisão ou num hospital. Julgo que, quando falássemos disso, seríamos mais ouvidos. No fim de contas seria algo mais imaginável por quem não passou pela experiência, embora talvez mais traumatizante.
Atrevo-me a transcrever o que escrevi noutro lugar:
A vida foi correndo (...). Ficámos velhos. E os velhos têm necessidade de recordar, contemplando a vida, para se sentirem gente.
Demos a nossa contribuição, modesta como é sempre é a dos homens do povo feitos soldados. Para quê? Hoje cada vez podemos menos e dentro em breve ninguém nos recordará. E nem pelo facto de termos sido muitos seremos mais recordados. Sabemos que “os povos têm má memória” e que a cultura e o conhecimento de quem fomos ou somos, como povo, é, cada vez menos, uma prioridade na formação e educação dos nossos jovens, logo, do nosso Povo.
Vejam o que sucedeu aos que foram à África nos finais do Séc. XIX e inícios do Séc. XX e ireis observar a dificuldade em invocarmos os que participaram, em Africa ou na Bélgica. Vai ser muito difícil saber os que foram e os que voltaram, mas ainda temos uns dois anos para trabalhar. A I Guerra Mundial começou há 100 anos, mas não para nós…
Sobre este tema sugeria ainda que lessem uma peça de teatro – Nápoles Milionária – que trata do modo como é recebido, no seu meio e pelos seus, um modesto guarda-freio italiano que foi à II Guerra Mundial.
Sentimo-nos orgulhosos – o que não é nada bom – e cremos que não temos hoje nada para provar a ninguém, nem podemos aceitar que nos censurem por aquilo que fizemos ou não fizemos.
Somos hoje Portugueses, com cerca de 60 anos (normalmente mais), com uma experiência traumática, de dois anos, vivida com cerca de 20, mas com reflexos (alguns bastante dramáticos) para toda a vida. Estamos ricos com uma mensagem a transmitir!
É isso que pretendi demonstrar.
No âmbito da celebração dos 10 anos do blog, experimenta organizar um questionário – mais elaborado (esta sociologia em chavetas dos “pensadores” americanos causa-me “bretoêja”) – em que ponhas a questão da comunicação com os netos(as) e com as esposas. Será importante saber a resposta para continuarmos a procurar o nosso lugar na sociedade.
Tenta estender aos colegas de trabalho, correligionários de partido, médicos que nos tratam, vizinhos e amigos. Faz a separação por sexos em vez de tratares, por junto. Tenho para mim que a aceitação junto das mulheres é ínfima e que muitas vezes atinge a repulsa, mas isto sou eu a pensar…
E pronto, amigo, aqui tens, em traços gerais, uma ideia para incendiares o blog em tempo de fogos de Verão. Põem a malta a discutir e a dizer mal, nem que seja uns dos outros, mas, por favor inquéritos em chavetas, não! Quanto melhor não será uma “redacção” sobre o tema: como consigo que as minhas recordações sejam aceites na minha família, círculo de amigos e colegas de trabalho ou reforma?
Um Ab do
António J. P. Costa
Nesta análise reporto-me ao meu primeiro post que, se me não engano, chamou-se “Quem Somos?”.
Nessa altura, confesso que “entrei a pés juntos” ou, se calhar dei um chuto no baga-baga e a malta que vinha atrás que se desenrascasse. Fui devidamente metralhado, mas, com o tempo, os ânimos pacificaram-se e tenho encontrado muitos camaradas que concordam comigo, o que, de certo modo, prova que eu não estava tão errado quanto parecia…
Há que partir da base de que a passagem de experiências não é possível e quem toma conhecimento de um facto só valorizará e apreciará (devidamente) os intervenientes se estiver disposto a tal e sensibilizado para uma análise (des)apaixonada do sucedido. De outro modo, o assunto cai no esquecimento e, depois, será tema para os estudiosos.
Os estudiosos que já vão surgindo vão começando a analisar o sucedido e até podemos dizer: com certo cuidado e precisão. Só daqui por mais alguns anos começarão a surgir os “verdadeiros” estudiosos que falarão de coisas que só os iniciados compreenderão e valorizarão e, mesmo assim, se puderem ser confrontados com os protagonistas ficarão na sua e recusarão o depoimento… É a lei do funcionamento da História.
Conheces certamente o exemplo da insignificante e desconhecida “Guerra Fantástica” de 1762/63 que só foi fantástica por que não a sentiste na pele (e eu também não…). De outro modo teria sido bem real.
São velhos. Estão esquecidos. Porventura toldados na memória. Enfim, o que narram “vale o que vale”.
Eles, os estudiosos, é que sabem. Eles é que leram os papéis…
No que respeita à possibilidade de transmitir a nossa experiência a quem vem a seguir, remeto para as considerações que faço no meu post para “os que vinham chegando, cumprido o dever ou a desobriga” e para a recepção que lhes era propiciada pelos(as) que cá tinham ficado e para quem o próximo jogo do “Glorioso” ou o programa de music-hall que passava na RTP (a P/B,preto e branco,,,) era mais importante do que inteirarem-se e valorizarem o que o amigo ou familiar tinha passado. Isto para não falar da reacção da “entidades oficiais” que continuavam na sua árdua tarefa de tapar o Sol com a peneira.
Contudo, o tempo passou e nunca conseguimos responder a uma pergunta simples ou complexa como são todas as perguntas simples: o que é que os ex-combatentes querem, devem querer ou será justo que o País (e os seus próximos e vindouros lhes dêem? Qual o grau de atenção que merecemos ou fazemos por merecer?
É que, para se ter qualquer coisa, neste caso: respeito, consideração e atenção para o que se fez é necessário lutarmos por isso. E, mesmo que espontaneamente no-los dessem deveríamos sempre lutar para termos um pouco mais.
Temos, contra nós, o facto de apenas termos passado dois anos da nossa vida naquela situação o que, numa vida de mais de sessenta “não tem significado especial” e… o que lá, lá vai.
Além disso – por serem verdadeiras – contamos sempre as mesmas histórias, o que não anima uma reunião de família, nem entusiasma os que nos são queridos nem os amigos e, mesmo as nossas mulheres que começam a não ter paciência para nos aturar… Algumas consideram mesmo que “aquilo são lá coisas deles” e, com uma insensibilidade digna de registo, mas imprópria de quem faz alarde da sua maior sensibilidade atávica, alheiam-se.
Por vezes penso se não teríamos mais e melhor aceitação se não tivéssemos passado o mesmo tempo, mas numa prisão ou num hospital. Julgo que, quando falássemos disso, seríamos mais ouvidos. No fim de contas seria algo mais imaginável por quem não passou pela experiência, embora talvez mais traumatizante.
Atrevo-me a transcrever o que escrevi noutro lugar:
A vida foi correndo (...). Ficámos velhos. E os velhos têm necessidade de recordar, contemplando a vida, para se sentirem gente.
Demos a nossa contribuição, modesta como é sempre é a dos homens do povo feitos soldados. Para quê? Hoje cada vez podemos menos e dentro em breve ninguém nos recordará. E nem pelo facto de termos sido muitos seremos mais recordados. Sabemos que “os povos têm má memória” e que a cultura e o conhecimento de quem fomos ou somos, como povo, é, cada vez menos, uma prioridade na formação e educação dos nossos jovens, logo, do nosso Povo.
Vejam o que sucedeu aos que foram à África nos finais do Séc. XIX e inícios do Séc. XX e ireis observar a dificuldade em invocarmos os que participaram, em Africa ou na Bélgica. Vai ser muito difícil saber os que foram e os que voltaram, mas ainda temos uns dois anos para trabalhar. A I Guerra Mundial começou há 100 anos, mas não para nós…
Sobre este tema sugeria ainda que lessem uma peça de teatro – Nápoles Milionária – que trata do modo como é recebido, no seu meio e pelos seus, um modesto guarda-freio italiano que foi à II Guerra Mundial.
Sentimo-nos orgulhosos – o que não é nada bom – e cremos que não temos hoje nada para provar a ninguém, nem podemos aceitar que nos censurem por aquilo que fizemos ou não fizemos.
Somos hoje Portugueses, com cerca de 60 anos (normalmente mais), com uma experiência traumática, de dois anos, vivida com cerca de 20, mas com reflexos (alguns bastante dramáticos) para toda a vida. Estamos ricos com uma mensagem a transmitir!
É isso que pretendi demonstrar.
No âmbito da celebração dos 10 anos do blog, experimenta organizar um questionário – mais elaborado (esta sociologia em chavetas dos “pensadores” americanos causa-me “bretoêja”) – em que ponhas a questão da comunicação com os netos(as) e com as esposas. Será importante saber a resposta para continuarmos a procurar o nosso lugar na sociedade.
Tenta estender aos colegas de trabalho, correligionários de partido, médicos que nos tratam, vizinhos e amigos. Faz a separação por sexos em vez de tratares, por junto. Tenho para mim que a aceitação junto das mulheres é ínfima e que muitas vezes atinge a repulsa, mas isto sou eu a pensar…
E pronto, amigo, aqui tens, em traços gerais, uma ideia para incendiares o blog em tempo de fogos de Verão. Põem a malta a discutir e a dizer mal, nem que seja uns dos outros, mas, por favor inquéritos em chavetas, não! Quanto melhor não será uma “redacção” sobre o tema: como consigo que as minhas recordações sejam aceites na minha família, círculo de amigos e colegas de trabalho ou reforma?
Um Ab do
António J. P. Costa
e CART 3567, Mansabá, 1972/74;
hoje cor art reformado, foto á esquerda, acima]:
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Nota do editor:
Último poste da série > 6 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11810: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (11): Ainda o poste do Cherno Baldé e outros
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Guiné 63/74 - P13084: Efemérides (151): Inauguração do Memorial aos Combatentes da Guerra do Ultramar - 1961-1974 do Concelho de Matosinhos (1) (Carlos Vinhal)
INAUGURAÇÃO DO MEMORIAL AOS COMBATENTES DA GUERRA DO ULTRAMAR - 1961-1974 DO CONCELHO DE MATOSINHOS
DIA 25 DE ABRIL DE 2014
1 - INAUGURAÇÃO E BÊNÇÃO DO MONUMENTO
Quando em 2 de Maio de 2007, numa iniciativa individual, escrevi uma carta ao Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto, então no seu primeiro mandato, sensibilizando-o para a necessidade de o nosso Concelho, a exemplo de outros, prestar homenagem aos seus ex-combatentes da Guerra do Ultramar, estava longe de imaginar que em 2014 esta homenagem teria corpo.
No passado dia 25 de Abril, graças à perseverança de quatro ex-combatentes da Guiné, aos quais se foram juntando combatentes de outros TO's, e mais recentemente o recém-instalado Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, que trabalharam de perto com o Dr. Guilherme Pinto e a sua equipa de Vereadores, engenheiros e arquitectos, foi inaugurado um Memorial em honra dos ex-combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos, que ficou localizado no gaveto da Rua Alfredo Cunha, uma das artérias de entrada e saída na cidade, com a Rua Augusto Gomes, muito próximo da Escola Secundária com o mesmo nome, do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Leixões e da recém-inaugurada Rua dos Combatentes do Ultramar - 1961-1974.
Memorial aos Combatentes da Guerra do Ultramar 1961-1974, do Concelho de Matosinhos
Pormenor da base do Memorial
Fotos: © Abel Santos (2014)O Memorial de traça muito simples é uma peça em chapa de aço cortén, com 2 metros de altura, 90 centímetros de largura e 23 de profundidade, gravada e recortada a laser. Na parte frontal da peça podemos apreciar uma gravação a negro da Península Ibérica e do Continente Africano, onde, recortado na chapa se encontram Portugal, ponto de partida dos combatentes e os três Teatros de Operações, Guiné, Angola e Moçambique. Pode-se ler a quem se destina a homenagem “Aos Combatentes do Ultramar 1961-1974” e ainda, a frase “Honrar os mortos e dignificar os vivos”. Entre a chapa frontal e traseira, foram colocados dois pontos de luz, sendo um vermelho e outro verde, que simbolizam a chama da Pátria, ou seja Portugal no Mundo. O Monumento é ainda constituído por um percurso, executado em lajetas de granito, desde o passeio atá à base do monumento. A última dessas lajetas, no encontro com a chapa de aço cortén, tem a inscrição de 70 cruzes que simbolizam os 70 combatentes matosinhenses que faleceram nos Teatros de Operações.
De notar que neste dia tivemos a honra de contar com a presença do Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, Ten-General Chito Rodrigues, que se deslocou a Matosinhos para o efeito, a tempo de ainda almoçar com os órgãos sociais do Núcleo de Matosinhos da Liga, no Centro de Apoio Social do Porto do Instituto de Acção Social das Forças Armadas.
O Ten-General Chito Rodrigues ladeado, à sua direita pelo Cor Barbosa Pinto e à sua esquerda pelo TCor Armando Costa.
Participantes no almoço.
Foto de família dos participantes no almoço de recepção ao Ten-General Chito Rodrigues
Fotos: © Abel Santos (2014)
As cerimónias começaram às 15 horas sob uma chuva miudinha e persistente, que não constava do programa, e que obrigou a alterações de ordem logística.
Uma primeira parte da cerimónia, no terreno, com uma afluência de público bastante numerosa, não obstante o relativo frio e chuva, foi dedicada à inauguração e evocação religiosa do monumento, Homenagem aos Mortos com deposição de uma coroa de flores seguida de um minuto de silêncio.
A inauguração ficou a cargo do Presidente da Câmara de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto, e do Presidente da Direcção Central do Liga dos Combatentes, Ten-General Chito Rodrigues. Ao Pároco de Leça da Palmeira, Padre Francisco Andrade, coube a evocação religiosa e bênção.
Estiveram presentes: a Fanfarra do Regimento de Artilharia 5, um Pelotão do Polo Permanente do Regimento de Transmissões do Porto e os estandartes dos Núcleos da Liga dos Combatentes da Lixa, Penafiel e, como não podia deixar de ser, de Matosinhos.
Um aspecto da assistência momentos antes do início da cerimónia.
Força em Parada presta continência ao senhor Ten-General Chito Rodrigues
Momento da inauguração do Memorial
Momentos após a inauguração. Na foto: Ribeiro Agostinho, Presidente da Assembleia Geral do Núcleo de Matosinhos da LC; TCor Armando Costa, Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC; Palmira Macedo, Presidente da Assembleia Municipal; Dr. Guilherme Pinto, Presidenta da Câmara Municipal de Matosinhos e Ten-General Chito Rodrigues, Presidente da Direcção Central da LC.
Momento em que o senhor Padre Francisco Andrade presidia à cerimónia religiosa.
Momento em que alguns familiares dos nossos camaradas caídos em campanha, depositam uma coroa de flores na base do Memorial.
Momento da Homenagem aos Mortos. Pelotão Permanente do Regimento de Transmissões do Porto em Apresentar Armas
Fanfarra do Regimento de Artilharia 5
O nosso muito obrigado aos Núcleos da LC da Lixa e de Penafiel que se fizeram representar pelos seus porta-guiões. À esquerda, lamentavelmente cortado, o Guião do Núcleo de Matosinhos.
Fotos: © Abel Santos (2014)
Se o tempo permitisse, o alinhamento do programa continuaria com a evocação dos nomes dos 70 militares do Concelho de Matosinhos caídos em combate, com a actuação do Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC, com a imposição de Medalhas Comemorativas das Campanhas a 23 ex-combatentes e com as alocuções do Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC, Presidente da Direcção Central da LC e Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, mas não havia condições.
Como se pode verificar, algumas fotos estão manchadas pelas gotas da água da chuva depositadas na objectiva da máquina fotográfica. O tempo não colaborava, e para grandes males, grandes remédios. Por sugestão do Dr. Guilherme Pinto, a sessão continuaria no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos, que distava dali pouco mais de uma centena de metros.
(Continua)
Carlos Vinhal
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Guiné 63/74 - P13083: Agenda cultural (313): 1ª Conferência Internacional de Arquitetura e Urbanismo na Guiné-Bissau, Bissau, 26-29 de novembro de 2014: resumos de comunicações até 15 de maio (Naldo Nogueira, NUGAU, Odivelas)
1. Mensagem de Naldo Nogueira
Data: 28 de Abril de 2014 às 13:03
Assunto: Conferência Internacional de Arquitetura e Urbanismo na Guiné-Bissau
Núcleo Guineense de Arquitetura e Urbanismo, NUGAU
Rua dos Bombeiros Voluntários 23, Cv Dta
2675-305 Odivelas
email: ciau.gb2014@gmail.com
http://ciau2014gb.blogspot.pt/
Tlm.: 920 318 402; Tel.: 218 271 971
REF.: AP 015/04.2014
Caríssimos,
Finalmente, ganho a oportunidade para diretamente elogiar o vosso magnifico trabalho: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Um enorme obrigado pelo que estão a fazer pela nossa Guiné.
De qualquer das formas, tomei a liberdade para vos escrever em nome do Núcleo Guineense de Arquitetura e Urbanismo, NUGAU, e assim para vos informar que, em parceria com a Câmara Municipal de Bissau, estamos a organizar a Iª Conferência Internacional de Arquitetura e Urbanismo na Guiné-Bissau, a realizar-se de 26 a 29 de Novembro do presente ano, em Bissau.
Vamos ter presenças de Especialistas e Empresas internacionais, Investigadores e Profissionais guineenses, onde abordarão estes 5 capítulos temáticos:
-Arquitetura Vernacular, Materiais e Técnicas Construtivas;
-Salvaguarda Patrimonial e Cultura Construtiva;
-Urbanismo, Ecologia Urbana e Legislações;
-Autossuficiência Energética e Projeto Sustentável;
-Perspetivas de Investigação & Desenvolvimento.
Sendo um dos objetivos do congresso, prende-se com as componentes da eficiência e sustentabilidade Económica e Empresarial, que naturalmente, vão ser foco de debate em busca da definição integral de estratégias e soluções à curto e médio prazos
Contudo, gostaríamos de poder contar com a vossa colaboração neste evento, ajudando na divulgação do mesmo junto dos vossos parceiros e comunidade profissional e académica, empresas e potenciais investidores neste prometedor mercado guineense, pelo que agradecemos antecipadamente e aguardamos pela resposta.
Gratos pelo tempo e disponibilidade.
Cumprimentos associativos, sou
Naldo Monteiro
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Nota do editor:
Último poste da série > 1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13077: Agenda cultural (312): Convite para o lançamento do livro “O Corredor da Morte”, de Mário Vitorino Gaspar, no próximo dia 22 de Maio, 4ª feira, pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, com a presença, entre outros, do ten gen Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, e do psiquiatra Afonso de Albuquerque, autor do prefácio
Guiné 63/74 - P13082: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (47): CCAÇ 675, "A Gloriosa": "Uma ilha isolada"
1. Em mensagem do dia 26 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), fala-nos da sua Unidade como sendo "Uma ilha isolada", pelo que fez enquanto força de intervenção e quadrícula no sector de Farim e pelo que faz na actualidade em prol dos seus ex-militares vivos, não esquecendo honrar os camaradas mortos.
HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES
Resposta a:
47 - “Uma ilha isolada”
Com muito agrado, acabo de ler (desta vez fora de horas por motivos que não cabem aqui) o editorial do “Jornal de Famalicão” da pretérita sexta-feira, dia 21 de Fevereiro. Entendi não dever calar-me, não para contrariar a Exma. Diretora de tão prestigiado semanário, a minha amiga muito cara, Drª Teresa Mesquita, mas para corroborar a sua opinião, trazendo a lume uma exceção – seguindo o velho ditado em que a “dita” confirma a regra.
Peço mil desculpas aos muitos e mui dignos leitores do referido jornal por voltar a falar dum tema que já aqui foi, em parte, largamente escalpelizado, quer por mim quer pelo amigo JERO, o meu querido companheiro de armas – “hermano de sables”, como se diz do outro lado da paliçada -; eu lutei de espingarda na mão e ele usou, quase sempre apenas, a seringa. Ele sabe o que isto significa! Hoje aproveito a oportunidade que surgiu, a talho de foice – como soe dizer-se – para expor uma não menos heróica faceta da nossa CCaç 675, a Gloriosa.
A esta unidade que combateu incansavelmente, na Guiné Bissau, de 1964 a 1966, pertenceu um brioso famalicense, Álvaro Manuel Vilhena Mesquita, que lá faleceu, a 28 de Dezembro de 1964; era irmão da Exma. Diretora do J.F. Por ele por todos nós a CCaç 675 portou-se digna e heroicamente, durante os dois anos de dura luta; no após guerra, a gloriosa tem vindo a provar que, sem espingardas na mão, continua a ser uma unidade de elite, exemplar e diferente de todas as outras unidades, sem desprimor para ninguém. Não é essa, juro, a nossa intenção.
Há tempos, escrevendo para ex-alunos do Colégio de Oliveira de Azeméis (estabelecimento de ensino que frequentei) eu defendi que a minha “ida à guerra” foi uma das coisas boas que me aconteceram na vida e apresentei as seguintes razões:
1º Lá aprendi muito e, como ser humano, cresci bastante – no respeito pelo próximo, na disciplina, na camaradagem, etc.
2º Como consegui sobreviver tenho matéria quase infinda para transmitir e o bom Deus deu-me vida para levar a cabo esta complicada tarefa;
3º Naqueles dois anos intermináveis vividos à sombra de tremendas intempéries e no meio de desmedidos perigos constantes – 60 minutos por hora e todos os dias – entre inimagináveis dificuldades e carências de toda a sorte, tivemos oportunidade (e aproveitámo-la da maneira mais conveniente) de edificar um numeroso agregado familiar de mais de 160 membros, amigos de todas as horas (antes quebrar que torcer) e sempre prontos a enfrentar os maiores sacrifícios para safar o companheiro do lado de qualquer situação calamitosa em que se encontre.
Isto só foi possível porque fomos superiormente comandados e ensinados por um oficial (capitão) rico em qualidades sublimes. Não uso mais adjetivos porque, mesmo que citasse todos os qualificativos do mais completo dicionário da nossa língua, todos não seriam suficientes para classificar com rigor tão destacada figura de homem e de militar. Alguém já disse que nós “endeusamos” aquele capitão (há anos que é general) mas fazemo-lo em plena consciência de que ele merece todo o nosso carinho e reconhecimento e que ele sente o mesmo por nós. A CCaç 675 foi célebre na Guiné, fomos a unidade mais badalada de todas durante aqueles dois anos porque:
- “Limpámos” completamente a nossa zona;
- Conseguimos trazer do Senegal largas centenas de portugueses que ali se refugiaram para escapar às represálias dos “independentistas” que os espoliaram de seus bens. Passada a fronteira, no regresso, eles diziam: “não temos nada a não ser a fiança do capitão”!
- Por solicitação, devidamente fundamentada, do célebre “capitão do quadrado” (como os adversários o apelidaram) o Governador-geral, Sr. General Arnaldo Shulz forneceu toneladas de arroz e amendoim para semear, toneladas de arroz para comer e 100.000$00 para adquirir alimentos para aquela gente;
- Beneficiámos estradas e reconstruímos pontes que haviam sido queimadas para impedir a nossa passagem;
- Construímos duas pistas de aterragem;
- Edificámos uma escola onde umas dezenas de crianças nativas aprendiam a ler e a escrever na língua de Camões e contratámos, a expensas nossas, um “professor” para as alfabetizar.
Um belo domingo, cerca de 30 crianças, alinhados por alturas, compareceram junto à sede da Companhia para assistir respeitosamente ao hastear da Bandeira; enquanto Ela subia garbosa ao longo daquela haste tosca e informe, as crianças cantaram jubilosamente o Hino Nacional – uma agradável surpresa para todos nós.
- Construímos um posto de enfermagem e a nossa equipa médica preparou um eficiente grupo de “enfermeiros” que ali tratavam com desvelo assinalável os seus familiares e amigos;
- À volta da nova aldeia construímos CREB (circular regional exterior de Binta) entre o arame farpado e o casario; militarizámos uma série de jovens que, sob a nossa supervisão, faziam a defesa da tabanca;
- Custeámos a transladação dos nossos mortos para que as famílias pudessem fazer o funeral condigno;
- A cereja no topo do bolo – pusemos a funcionar as aulas regimentais (certamente caso único) e 32 militares que tinham apenas a 3ª classe de adultos, fizeram, em Farim, o exame da 4ª classe;
- O indomável capitão de Binta pretendia que os seus rapazes estivessem permanentemente ocupados com tarefas válidas e úteis para que não pensassem em coisas tristes, o que os desencorajaria. Regressámos da Guiné, em Maio de 1966, e a nossa obra continuou, agora em moldes diferentes:
- Conseguimos os endereços completos de toda a gente; foi a primeira tarefa bastante complicada… mas conseguiu-se;
- Todos os anos, no primeiro ou no 2º domingo de Maio, a companhia reúne-se; no 1º ano éramos 24 elementos, mas chegámos a reunir 150 pessoas. É um encargo complicado juntar tanta gente, tendo em conta que temos militares em todas as províncias e na Madeira, apenas não tínhamos representação nos Açores. Se um companheiro não tem condições para pagar o almoço, pouco importa e alguém há-de pagar:
- todos os presentes o fazem sem regatear. Antes do almoço rezamos missa pelos nossos já 43 mortos;
- Temos vindo a colocar lápides nas sepulturas de todos os que já partiram;
- Os familiares de alguns dos nossos falecidos reúnem connosco;
-Conseguimos alguns empregos para companheiros ou familiares em dificuldades;
- No meio disto surgiu uma briga (uma boa briga) na nossa companhia; como todos somos adultos e pessoas de bem a contenda foi resolvida a contento. É caso para dizer: entre nós não há casos insanáveis; se surgem… ultrapassam-se sem molestar ninguém.
Um dos nossos “colocadores” de lápides alegava ter celebrado um contrato válido com o S. Pedro, segundo o qual ele ficava autorizado a viver até aos 120 anos, para colocar as lápides nas sepulturas de todos os companheiros; logo surgiu um desmancha-prazeres a “puxar a brasa à sua sardinha”: Não! Não! O último sou eu! Vimos a cara dele e todos concordámos, pois o seu nome é nem mais nem menos, este: Firmino António Carola Padre Eterno! Vejam só o que nós temos na CCaç 675!
- Surge agora a última obra de longo alcance que continuará a fazer-nos diferentes; vai ser agora divulgada para confirmar o editorial do Jornal de Famalicão da passada semana, sendo a exceção que confirma a regra. A CCaç 675 é agora também uma Associação se Socorros Mútuos.
Tivemos conhecimento que um dos nossos elos estava em dificuldades com o fisco; foi aconselhado a aceitar a divisão da dívida em parcelas suaves e temos vindo a colaborar no seu pagamento para que não vão “sobre a sua casa” o seu único bem material.
“Vejam agora os sábios da escritura / que segredos são estes da natura!”
Parece que não restam dúvidas que a CCaç 675… É realmente diferente de todas as outras.
Lisboa, 26 de Fevereiro de 2014
BT
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Nota do editor
Último poste da série de 9 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12700: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (46): Ocupação dos tempos livres
Guiné 63/74 - P13081: Notas de leitura (585): "O Pano Artesanal na República da Guiné-Bissau", por Isabel Borges Pereira Mesquitela (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Novembro de 2013:
Queridos amigos,
A autora lançou-se na criação de uma empresa original de recuperação da lendária panaria guineense, viu com orgulho ressurgir a criatividade dos artesãos que reabilitaram panos maravilhosos na grande tradição Manjaca e Fula, sobretudo. Mas foram tantas e tais as barreiras que teve de desistir.
Este livro é uma obra de grande afetividade por um projeto derrubado pela ignorância e a mesquinhez. A panaria guineense é um profundo enlace cultural da Guiné, de Cabo Verde e de Portugal. É uma arte que não se pode apagar e que merecia chegar aos mercados internacionais mais exigentes.
Um abraço do
Mário
O pano artesanal na Guiné-Bissau
Beja Santos
Isabel Borges Pereira Mesquitela foi para a Guiné-Bissau em 1986, descobriu que a panaria guineense tinha praticamente desaparecido. Deslocou-se ao interior da Guiné, contactou velhos artesãos e manifestou-lhes o desejo de recuperar essa panaria prodigiosa, uma das dimensões do talento guineense. Contratou um etnólogo, fez investigações e criou uma estrutura empresarial destinada à produção, divulgação e comercialização do pano guineense: “M’Banyala” que funcionou de 1988 até 1994, dedicou-se inteiramente à recuperação dos antigos padrões, à introdução de novos designs e cores adaptados ao quotidiano. Escreveu este livro com o objetivo de contribuir para uma maior sensibilização quanto à necessidade de preservar a arte da panaria da Guiné-Bissau.
A autora confessa o seu desalento quando, a partir de 1994, não pôde prosseguir com o seu projeto empresarial, tais e tantos foram os condicionalismos impostos que desviaram de forma drástica os índices de qualidade e beleza que sempre caraterizaram a tecelagem guineense. E adicionou alguns desses condicionalismos: fio de inferior qualidade que entra pelas fronteiras dos países vizinhos a preços muito mais acessíveis que o “100 % algodão” que importava de Portugal, os tecelões passaram a adquirir fio contendo maior percentagem de acrílico do que de algodão; também a crescente falta de poder de compra e carência de postos de venda desmotivaram os tecelões.
Esta panaria é o expoente de um património de várias culturas onde se entrelaçam a Guiné, Cabo Verde e Portugal. Neste livro carregado de afetos e onde a autora descreve minuciosamente a recuperação que procurou pôr em marcha nos anos 1980, conta de modo sugestivo o breve historial desta panaria e os principais centros de produção, socorrendo-se de um importante clássico de António Carreira “Panaria Cabo-verdiana-Guineense” (Aspetos históricos e socioeconómicos). O declínio desta prodigiosa arte da tecelagem acentuou-se nos anos 1960, segundo Carreira o pano manjaco ficava muito mais caro do que o importado da Europa. Para além do preço, a moda internacional desincentivava as mulheres mais jovens que se sentiam fascinadas pelos modelos europeus, enfim, a produção do pano artesanal acabou por colapsar por falta de matéria-prima. A autora contactou diferentes artesãos, comerciantes portugueses, pediu cotações para tintas adequadas a têxteis e fio de algodão em meadas. Alguns tecelões Manjacos e Papéis, bem como Fulas e Mandingas acabaram por aceitar o desafio que a autora lhes propôs.
Para interessar o leitor, Isabel Mesquitela descreve minuciosamente o tear Manjaco/Papel e o que o distingue do tear Fula. E procede a considerações técnicas sobre o pano de tear. Tinha-se deslocado a Portugal onde fizera a primeira encomenda de uma tonelada de fio. Para os primeiros trabalhos, a empresa contava com três tecelões Manjacos e dois Fulas. Como se sabe, estes panos são feitos em peças chamadas bandas. Um pano de banda estreita mede aproximadamente 1,20mx180m. É constituído por seis bandas de aproximadamente 0,20mx1,80m. Às barras transversais das pontas chamam “boca” e o padrão em si, entre duas “docas”, é denominado “corpo”. O pano é portanto constituído por bocas e corpo. Os jovens, inicialmente relutantes na arte da tecelagem, com o tempo entusiasmaram-se. A introdução de cores verificou-se naturalmente.
De seguida, elenca padrões recuperados e a sua evolução, é material gráfico muito sugestivo que permite ao leitor ser confrontado com a nomenclatura dos principais padrões de panos que a empresa comercializou na Guiné e no estrangeiro. Dá igualmente atenção ao pano tingido que tem longa história nesta região de África. Segundo Carreira, os povos Mandingas eram bastante entendidos na arte de tingidura de panos. E a autora dá os seus aportes técnicos: “As bandas são reduzidas da forma tradicional, sem sobreposição, formando o pano que, no caso de se desejar de cor única, é mergulhado e tinto integralmente. A tingidura integral ou com desenhos toma em crioulo a designação de moda ou maneira. Quando tingem com anilina, os “dégradés”, desde o tom azul muito escuro a que chamam preto até ao azul claro, dependem do tempo do banho de tinta. Panos havia que estavam mergulhados na tinta durante sete dias. Caso pretendam uma moda com desenho, praticam duas modalidades: a técnica de “Tritik”, e técnica “Plangi”, conhecidas em Java desde o século XII (…). O sistema de atadura permite fazer desenhos de batik sem isolar o tecido com cera. Marcam-se com um lápis as áreas, linhas ou pontos que devem ficar dobrados ou enrolado, ata-se e liga-se bem o desenho nestes pontos onde a tinta não deve penetrar; dentro das dobras, por vezes, metem pedras redondas, sementes ou contas. Depois de mergulhado na tinta previamente preparada é mexido com paus em tambores aquecidos a lenha, controlando por instinto o tempo de banho necessário. Posteriormente é enxaguado, desfeitas todas as ataduras, passado o pano por água com sal e depois de seco ao sol é distendido”. E ficamos por aqui, são aspetos técnicos que por si só não despertam o interesse para ver ou querer adquirir um destes maravilhosos panos artesanais.
Por último, a autora tece algumas observações sobre o uso do pano em decoração e moda. O pano corrido é um pano utilitário, pode servir de toalha, colcha ou como invólucro para transportar a roupa que lavam no rio. Esta secção está profusamente ilustrada com as exposições em que a autora colaborou na Galeria de Arte Ícaro (Lisboa), na Altamira e no Chapitô. Exemplifica também com panos que podem ser utilizados em cerimónias nupciais, trajes de grandes cerimónias, trajes de trabalho, etc.
Ao despedir-se, sente-se que a autora guarda melancolia profunda pelo que fez e pelo que não pôde fazer, devido a muitas incompreensões. Resta-lhe a esperança de que os artesãos, entretanto formados, continuem a tecer apesar da matéria-prima não ser a ideal e de terem que se defender tecendo padrões mais simples e de rápida confeção.
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Nota do editor
Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13057: Notas de leitura (584): "PAIGC - Sobre a Situação em Cabo-Verde", por Sá da Costa (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A autora lançou-se na criação de uma empresa original de recuperação da lendária panaria guineense, viu com orgulho ressurgir a criatividade dos artesãos que reabilitaram panos maravilhosos na grande tradição Manjaca e Fula, sobretudo. Mas foram tantas e tais as barreiras que teve de desistir.
Este livro é uma obra de grande afetividade por um projeto derrubado pela ignorância e a mesquinhez. A panaria guineense é um profundo enlace cultural da Guiné, de Cabo Verde e de Portugal. É uma arte que não se pode apagar e que merecia chegar aos mercados internacionais mais exigentes.
Um abraço do
Mário
O pano artesanal na Guiné-Bissau
Beja Santos
Isabel Borges Pereira Mesquitela foi para a Guiné-Bissau em 1986, descobriu que a panaria guineense tinha praticamente desaparecido. Deslocou-se ao interior da Guiné, contactou velhos artesãos e manifestou-lhes o desejo de recuperar essa panaria prodigiosa, uma das dimensões do talento guineense. Contratou um etnólogo, fez investigações e criou uma estrutura empresarial destinada à produção, divulgação e comercialização do pano guineense: “M’Banyala” que funcionou de 1988 até 1994, dedicou-se inteiramente à recuperação dos antigos padrões, à introdução de novos designs e cores adaptados ao quotidiano. Escreveu este livro com o objetivo de contribuir para uma maior sensibilização quanto à necessidade de preservar a arte da panaria da Guiné-Bissau.
A autora confessa o seu desalento quando, a partir de 1994, não pôde prosseguir com o seu projeto empresarial, tais e tantos foram os condicionalismos impostos que desviaram de forma drástica os índices de qualidade e beleza que sempre caraterizaram a tecelagem guineense. E adicionou alguns desses condicionalismos: fio de inferior qualidade que entra pelas fronteiras dos países vizinhos a preços muito mais acessíveis que o “100 % algodão” que importava de Portugal, os tecelões passaram a adquirir fio contendo maior percentagem de acrílico do que de algodão; também a crescente falta de poder de compra e carência de postos de venda desmotivaram os tecelões.
Esta panaria é o expoente de um património de várias culturas onde se entrelaçam a Guiné, Cabo Verde e Portugal. Neste livro carregado de afetos e onde a autora descreve minuciosamente a recuperação que procurou pôr em marcha nos anos 1980, conta de modo sugestivo o breve historial desta panaria e os principais centros de produção, socorrendo-se de um importante clássico de António Carreira “Panaria Cabo-verdiana-Guineense” (Aspetos históricos e socioeconómicos). O declínio desta prodigiosa arte da tecelagem acentuou-se nos anos 1960, segundo Carreira o pano manjaco ficava muito mais caro do que o importado da Europa. Para além do preço, a moda internacional desincentivava as mulheres mais jovens que se sentiam fascinadas pelos modelos europeus, enfim, a produção do pano artesanal acabou por colapsar por falta de matéria-prima. A autora contactou diferentes artesãos, comerciantes portugueses, pediu cotações para tintas adequadas a têxteis e fio de algodão em meadas. Alguns tecelões Manjacos e Papéis, bem como Fulas e Mandingas acabaram por aceitar o desafio que a autora lhes propôs.
Para interessar o leitor, Isabel Mesquitela descreve minuciosamente o tear Manjaco/Papel e o que o distingue do tear Fula. E procede a considerações técnicas sobre o pano de tear. Tinha-se deslocado a Portugal onde fizera a primeira encomenda de uma tonelada de fio. Para os primeiros trabalhos, a empresa contava com três tecelões Manjacos e dois Fulas. Como se sabe, estes panos são feitos em peças chamadas bandas. Um pano de banda estreita mede aproximadamente 1,20mx180m. É constituído por seis bandas de aproximadamente 0,20mx1,80m. Às barras transversais das pontas chamam “boca” e o padrão em si, entre duas “docas”, é denominado “corpo”. O pano é portanto constituído por bocas e corpo. Os jovens, inicialmente relutantes na arte da tecelagem, com o tempo entusiasmaram-se. A introdução de cores verificou-se naturalmente.
De seguida, elenca padrões recuperados e a sua evolução, é material gráfico muito sugestivo que permite ao leitor ser confrontado com a nomenclatura dos principais padrões de panos que a empresa comercializou na Guiné e no estrangeiro. Dá igualmente atenção ao pano tingido que tem longa história nesta região de África. Segundo Carreira, os povos Mandingas eram bastante entendidos na arte de tingidura de panos. E a autora dá os seus aportes técnicos: “As bandas são reduzidas da forma tradicional, sem sobreposição, formando o pano que, no caso de se desejar de cor única, é mergulhado e tinto integralmente. A tingidura integral ou com desenhos toma em crioulo a designação de moda ou maneira. Quando tingem com anilina, os “dégradés”, desde o tom azul muito escuro a que chamam preto até ao azul claro, dependem do tempo do banho de tinta. Panos havia que estavam mergulhados na tinta durante sete dias. Caso pretendam uma moda com desenho, praticam duas modalidades: a técnica de “Tritik”, e técnica “Plangi”, conhecidas em Java desde o século XII (…). O sistema de atadura permite fazer desenhos de batik sem isolar o tecido com cera. Marcam-se com um lápis as áreas, linhas ou pontos que devem ficar dobrados ou enrolado, ata-se e liga-se bem o desenho nestes pontos onde a tinta não deve penetrar; dentro das dobras, por vezes, metem pedras redondas, sementes ou contas. Depois de mergulhado na tinta previamente preparada é mexido com paus em tambores aquecidos a lenha, controlando por instinto o tempo de banho necessário. Posteriormente é enxaguado, desfeitas todas as ataduras, passado o pano por água com sal e depois de seco ao sol é distendido”. E ficamos por aqui, são aspetos técnicos que por si só não despertam o interesse para ver ou querer adquirir um destes maravilhosos panos artesanais.
Por último, a autora tece algumas observações sobre o uso do pano em decoração e moda. O pano corrido é um pano utilitário, pode servir de toalha, colcha ou como invólucro para transportar a roupa que lavam no rio. Esta secção está profusamente ilustrada com as exposições em que a autora colaborou na Galeria de Arte Ícaro (Lisboa), na Altamira e no Chapitô. Exemplifica também com panos que podem ser utilizados em cerimónias nupciais, trajes de grandes cerimónias, trajes de trabalho, etc.
Ao despedir-se, sente-se que a autora guarda melancolia profunda pelo que fez e pelo que não pôde fazer, devido a muitas incompreensões. Resta-lhe a esperança de que os artesãos, entretanto formados, continuem a tecer apesar da matéria-prima não ser a ideal e de terem que se defender tecendo padrões mais simples e de rápida confeção.
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Nota do editor
Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13057: Notas de leitura (584): "PAIGC - Sobre a Situação em Cabo-Verde", por Sá da Costa (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13080: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): III (e última) Parte
Guiné > Bissau > 1973 > No canto esquerdo o comandante Ricou, o oficial do lado direito de óculos é o Coronel CEM/CTIG Henrique Vaz (oficiais presentes na reunião relatada no manuscrito do sr. Coronel Vaz Antunes), e ao centro, também de óculos, o general Bethencourt Rodrigues (destituído em 26 de Abril de 1974), numa cerimónia oficial, em Bissau, no ano de 1973. Fotografia do arquivo pessoal do coronel Henrique Gonçalves Vaz.
O QG/CTIG era o Quartel General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau).
O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após este Golpe Militar.,
Foto (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014). Direitos reservados
Guiné > Bissau > 1974 > O Coronel António Vaz Antunes (à esquerda da fotografia) com o General Bethencourt Rodrigues, e outros oficiais numa visita do Comandante-Chefe a uma unidade em Bissau, no ano de 1974. Fotografia do arquivo pessoal do Coronel António Vaz Antunes.
Foto: © Fernando Vaz Antunes (2014). Direitos reservados
Lisboa > Base Naval do Alfeite > 30 de abril de 1974 > Da esquerda para a direita: Coronel António Vaz Antunes, Brigadeiro Leitão Marques, General Bethencourt Rodrigues e Coronel Hugo Rodrigues, todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau. Fotografia obtida já no Alfeite, em Lisboa no dia 30 de Abril de 1974.
Foto: © Fernando Vaz Antunes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
Restantes folhas, de 5 a 9, do documento manuscrito, da autoria do cor inf António Vaz Antunes, de 9 folhas, "Memorando dos acontecimentos de Bissau", datado de Lisboa, 30 de abril de 1974. Transcrição da responsabilidade do seu filho Fernando Vaz Antunes que digitalizou e facultou o documento ao Luís Gonçalves Vaz, para divulgação no nosso blogue (*).
Comentário do editor L.G.:
O nosso especial agradecimento a ambos, ao Fernando Vaz Antunes (que não conheço pessoalmente, mas sei que passou pela Academia Militar, e vive em Mafra, de acordo com a sua página no Facebook) e ao Luís Gonçalves Vaz pelo seu contributo para a preservação e divulgação de documentos relevantes, como este, para a historiografia da presença portuguesa na Guiné, e em particular para a nossa historiografia militar, relativa ao período de 1961 a 1974.
Sendo ambos filhos de militares que serviram a Pátria no TO da Guiné, querem também, e com toda a legitimidade, honrar a memória dos seus pais. É para isso que o nosso blogue também serve. E nessa medida envio, desde já,. um convite ao Fernando Vaz Antunes para se juntar aos camaradas e amigos da Guiné, que se senta à sombra do poilão da Tabanca Grande. Basta expressar a sua vontade, mandar-nos uma foto atual e aceitar as nossas regras de convívio.
Quanto ao Luís Gonçalves Vaz [, foto atual à esquerda,] recorde-se que é membro da nossa Tabanca Grande (nº 530), é professor do 2º/3º ciclos do ensino básico em Vila Verde, vive em Braga, e é filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), já falecido.
O Luís, como aqui já ele próprio recordou, tinha 13 anos e vivia em Bissau, com a família, quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo.
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Lisboa > Base Naval do Alfeite > 30 de abril de 1974 > Da esquerda para a direita: Coronel António Vaz Antunes, Brigadeiro Leitão Marques, General Bethencourt Rodrigues e Coronel Hugo Rodrigues, todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau. Fotografia obtida já no Alfeite, em Lisboa no dia 30 de Abril de 1974.
Foto: © Fernando Vaz Antunes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
Folha nº 5
Folha nº 6
Folha nº 7
Folha nº 8
Folha nº 9
Fonte: © Fernando Vaz Antunes (2014). Direitos reservados
Restantes folhas, de 5 a 9, do documento manuscrito, da autoria do cor inf António Vaz Antunes, de 9 folhas, "Memorando dos acontecimentos de Bissau", datado de Lisboa, 30 de abril de 1974. Transcrição da responsabilidade do seu filho Fernando Vaz Antunes que digitalizou e facultou o documento ao Luís Gonçalves Vaz, para divulgação no nosso blogue (*).
Comentário do editor L.G.:
O nosso especial agradecimento a ambos, ao Fernando Vaz Antunes (que não conheço pessoalmente, mas sei que passou pela Academia Militar, e vive em Mafra, de acordo com a sua página no Facebook) e ao Luís Gonçalves Vaz pelo seu contributo para a preservação e divulgação de documentos relevantes, como este, para a historiografia da presença portuguesa na Guiné, e em particular para a nossa historiografia militar, relativa ao período de 1961 a 1974.
Sendo ambos filhos de militares que serviram a Pátria no TO da Guiné, querem também, e com toda a legitimidade, honrar a memória dos seus pais. É para isso que o nosso blogue também serve. E nessa medida envio, desde já,. um convite ao Fernando Vaz Antunes para se juntar aos camaradas e amigos da Guiné, que se senta à sombra do poilão da Tabanca Grande. Basta expressar a sua vontade, mandar-nos uma foto atual e aceitar as nossas regras de convívio.
Quanto ao Luís Gonçalves Vaz [, foto atual à esquerda,] recorde-se que é membro da nossa Tabanca Grande (nº 530), é professor do 2º/3º ciclos do ensino básico em Vila Verde, vive em Braga, e é filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), já falecido.
O Luís, como aqui já ele próprio recordou, tinha 13 anos e vivia em Bissau, com a família, quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo.
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